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P. ee 1 Winnicote e Lacan: a importancia do conceito de objeto transicional na formulacio do objeto a! Perla Keautan* ~~ objeto transicional[..],jé que foi a partir dele que formula- ‘mos inicialmente o objeto a. (Lacan, 1968, p. 376) Duere DA MULTIPLICIDADE dos caminh ‘os abertos por Freud, coube a cada 4, um des psicanalistas pés-freudianos a escolha do aspecto a ser privilegiado na— teorizago de suas preocupacées clinicas. Como resultado, diversas orienta- siestedricas emengiram privilegiando um registro distinto da heranca freudiana, aponto de hoje em dia Gio )termos de modo estruturado uma tinica teoria ue. ‘kina a psicandlise. Falamos sobre psicandlises, sobre a pluralidade de orienta. §0tS que constituem seu campo. Por muito 1po, esta diversidade foi consi- expresso de uma desordem que devia)ser combatida pela filiagdo a ima escola que garantiria a legitimidade e a existéncia da psicandlise. A meu 's éjustamente esta diversidade que confere vida e fornece a maior de todas Sriquezas encontradas na psicandlise: ‘Sasibildade de convesan, a partir de dres0s olhares, em torno de um objeto comum. % Neste capitulo, tenho como objetivo promover um didlogo enue) e do conceito de objeto. Ao contrdrio do que " Lacan em tot sninado, a objeto im conceito original inspirado, no méximo, no ‘ested en lets dos gene Hinde A eto te ebiane FFs 2 ez interlocucs eltabelece com Winnicott. Basta acom- ce Seminétios para constatar que Winnicott é uma referéncia constan- $e sen atiano. De acordo com Miller (1999), talvez tena sido no seu a Saito, Proferido durante os anos de 1956-57 ¢ intitulado oon en primeira vez que Lacan estabelece um didlogo com Winnicott: lg ate far artigo “Objetos transicionais ¢ fendmenos transicionais”, Lacan Re objeto como fault) ~ inovasao tedrica seminal que insere a Douto, FoR sorsourto! "2 €m Psicologia Clinica pela PUC-Rio. Digitalizada com CamScanner a ___" ~— | PERLA Kura, mo central na sua concepea0 da teoria analitica, Fy; nogéo da fide bie” gue, em 1969, Lacan elaborou 0 objeto 4. Porn, innico ote rugdo do conceito de objeto na teoria lacaniana: a nog y a jee, soa laboracdo posterior, objeto 4, que consiste no nome fe falta do objeto ¢, oo dado a esta falta. 270 3 LACAN E O USO DO OBJETO TRANSICIONAL Basta ler o sr. Winnicott para de alguma forma traduzi-l (..), Hé uma tradugio deste objeto transicional de Winnicott. Leiam isso. Nada de mais fatigante que uma leitura, e de menos pro- picio a prender a atengéo. Mas, se alguém, da préxima vez quiser fazé-lo, entenderd tudo aquilo para dizer o que é esse pequeno objeto a (...) (Lacan, oe i) 4__Aorigem do conceito de objetos e fendmenos transicionais est articulada de ~~ maneira direta com a pritica pedidtrica de Winnicott. O contato da clinica pedidtrica permitiu a esse psicanalista voltar sua atencdo para o desenvolvi- mento emocional infantil ¢ investigé-lo a partir de uma ética propria, tecida na fronteira entre a pediatria ¢ a psicandlise. Basta nos remetermos ao artigo de 94), “A observasio de bebés numa situacéo padronizada”, para encon- ‘Sprmos as primera elaboTaybes dos obetose fendmenos transicionas. _ — Ae utilizar como instrumento diagnéstico a situacdo padronizada que ficou conhecida como - analisa 0 compo de bebes como jogo da espétula, Winnicott analisa 0 comportamento cate cinco ¢ treze meses de idade em uma situagéo criada por ee: uma espécula reluzente € calocada no cam ja 20 aleance do bebt, quer den ee anc da mesa de forma que et , posse! sem a jue de ae © bebé desejar pegar a espdtula isto pode set tee elatres ‘Winnicott eferua uma divisio artificial da sequncia é esperado haver um corpeamemto normal da ctianca. No primero & que 0 bebé encont "to indicado pelo chamado pertodo de hesitapdo, &™ mabe dilema: “Ou ele pousa sua mao sobre a eps ‘os, olha para mim e para a sua mde, observa ¢ ¢sP&™ v2 completamente o seu interesse ¢ enterra 2 0 : situagao 114). A passagem do primeito para 0 segunde SNS possuidor da espdecty ne & Bradual e marcante: “Nele, 0 be como uma extemge sio de sua pe Podendo domind-la a sua vontade ou u# Foan to sovee “rsonalidade” (ibid, p, 129-30). Fato que © Digitalizada com CamScanner E LACAN: A IMPORTANCIA Do CONCEITO DE OBETO.., 271 i le onipotente definido, qssociado\ao contro onip ‘ inido, em 1945, como o m ilu. 4 si, Ainda nese estégio, Winnicott nos indica que o . par acvito pela crianga quando acontece uma mudanca da expectativa do perfodo de hesitagto para a autoconfianca, anunciada Pelo interior da boca de onde a joge-a no cho obtendo uma grande satisfacdo com este ato. “Se ela é devolvi. dace fica contente, brinca com ela novamente e a deixa cait mais urna ves a) Quando ela lhe ¢ devolvida de novo, ele a joga propositalmente e fica carge siasmadissimo por conseguir livrar-se dela dessa forma agressiva (...)” (ibid, p. 115). Finalmente o bebé pede para brincar com a espatula no cho, ou perde o interesse por ela, Numa leitura da descricéo winnicottiana dos eventos esperados no com: 2 portamento normal da crianca diante da espétula Khas (1958) salienta a abservacao do perfodo de Késitacao como algo que contém a esséncia do conspi | ceito de objets e fendmenos transicionais. Ao analisar o caso de uit bel sere meses de idade que sofria de ataques de asma, Winnicott afirma que du- tante a situagazpadrao foi possivel observar 0 momento em que aconteceu 0 aque: “Este aconteceu, nas duas ocasides, durante o periodo em que a crian- s&Gity quanto a pegar a espétula” (Winnicott, 1941, p. 119). A partir de tatao, Winnicott deduz que os ataques de asma estavam associados ao perfo- do de hesitagao, o que implicaria um conflito diante do impulso de pegar a Spitula que teria surgido e sido controlado nas duas ocasides. O autor atribui 4 hesitacéo “um claro sinal de ansiedade”, significando que “o bebé espera um - -- {met aparecer” algo (ibid, p. 120). ope to ce 1945, no artigo “Desenvolvimento emocional primitivo”, Winnicott") ‘re como momento de ilusdo 0 controle onipotente que, em 1941, estava ree 30 perlado de-testtagao. Na expectativa de fazer eal abe a as necessidades, o beb& concebe como uma criagao sua 0 4 Mant? do seio mo exato lugar em que o esperava. Na logica winnicoriana, éa item fornece ao bebé a ilusio de que foi ele que criou o seio: Tentarei descrever nos termos mais simples de que modo vejo esse fen6- 4 eto. No contexto do relacionamento do bebé com o seio materno 1 (.) 0 bebe tem impulsos instintivos e idéias predatérias. A mies ° wo 0 poder de produzir leite, ¢ a idéia de que ela gostaria de ser Por um bebé faminto. Esses dois fendmenos nao Seana ‘ 1& que mie e beb& vivam juntos wma experiéncia © Digitalizada com CamScanner Pera Kuna 272 uma mde suficientemente boa? € capaz de identificar-se oom a 2 ae bebé a ponto de apresenar 0 slo no moments proplca = > necessidades lo palavras, 0 bebé vem a0 sei0, quando Faminto, pronts on cet coisa que pode ser atacada. Nesse momento apatece o para alucinar algumé do sentir que esse bico era exatamente 0 que ele estaya bico real, el « eee p. 227). Desse modo, enquanto a mie atesta sua aa enced veeio co seu desejo de alimentar um bebe famint, » bebé é capaz de fazer aparecer algo, ou seja, de conceber a idéia de que algo ing satisfazer sua necessidade; encontramos aqui uma area de ¢ superposicio deno- nada momento de iluséo. Este momento pode ser entendido como “uma particula de experiéncia que o bebé pode considerar ou como uma alucinagéo sua, o# como um objeto pertencente & realidade externa” (idem, ibidem, p. 227). Vejamos o que Lacan comenta a este respeito: O st. Winnicott observa, com muita justeza, sob que condigdes tudo \L come bem (...). Winnicott observa que, em suma, para que as coisas corram bem, ou seja, para que a crianga nio seja traumatizada, € preciso que a mie opere estando sempre ali no momento necessétio, isto é, precisamente vindo colocar, no momento da ilusdo delirante da crian- $4 0 objeto real que a satisfaz. Portanto, nao existe inicialmente, na + Telagéo ideal mae-crianca, nenhuma espécie de distingdo entre a aluci- aagio do scio materno, que surge por principio do processo primatio, segundo a nogio que temos, e 0 encantro do objeto real de que se trata. __ Se tudo correr bem, a crianga no tem, pois, nenhum meio de dis- 1z___{ingult entre o que é da ordem da satisfagio fundada na alucinagio do —~ _ Brincipio,ligada ao funcionamento do processo primario, e a apreensio do real que a preenche ¢ satisfaz efetivamente. Logo, trata-se de que a crianca a submeter-se as frustragbes ¢ sob a forma de uma certa tensio inaugu- re a realidade e a ilusio. Esta diferenga 86 0s, a realidade ver oe Um desilusio, quando, de tempos em tem- (2956.57, p34) alucinacio surgida do desejo (Lacam» 13, Peeasd mae ensine, progressivamente, 20 mesmo tempo a perceber, ral, a diferer Digitalizada com CamScanner yoaC0PT# LACAN: A IMPORTANCIA DO CONcEITO DE oBjeTo, 273 mie ¢ no bebs, j& que no comeco da vida 0 , wot ends Un see cn duo. H vidio. : Sen St ene de cited: mace vee vers i cio, a mae funciona, tanto em termos bioldgicos quanto 'L pscoldgicos, como o primeiro ambiente para o bebé que, por sua ver, €com- eermente dependente do cuidado materno para sobreviver, a ponto de néo fediferencia de tais cuidados. Diante de tal dependéncia, Winnicott postula um estado inicial de indiferenciagao entre eu-ndo-ew cuja unidade néo é 0 hebé, mas sim 0 conjunto ambiente-individuo. Para denominar este periodo em que 0 lactente s6 existe devido aos cuidados maternos, Winnicott utiliza 0 termo dependéncia absoluta.> Neste primeiro momento cabe 4 mae estar dis- gosta a atender 3s necessidades da crianca e, posteriormente, ir frustrando-a gadativamente de acordo com o seu ritmo de tolerncia. Sendo assim, falhas graduais a esta adaptago passam a existir, promovendo assim uma desadaptagao arientada para a tealidade. Este € 0 momento de dependéncia relativa e s6 acontece quando a crianca jé é capaz de relacionar-se com objetos através de ecanismos projetivos, ou seja, de viver 0 momento de iluséo. O uso feito deste momento fornece 0 alicerce para o desenvolvimento da percepcéo obje- tiva da realidade, Uma vez que estas coisas tenham se estabelecido € possivel | fazer referencia ao rumo a independéncia, momento do desenvolvimento que ih nunca se dé por completo e no qual a crianga jé ¢ capaz de perceber a realidade como externa e diferente do eu. O reconhecimento objetivo da realidade ¢ estabelecido ao longo do pro- 1s tansicionais. Estes S80 Constituldos quando h4 uma ameaca de ruprura na cantimaidade dos cuidados maternos provocada pelo nao-atendimento das lip necessidades infantis. Nesse momento, o objeto transicional permite & crianca ! Swportar a separacao, restabelecendo a continuidade ameagada de ruprura ¢ ‘usando, assim, um efeito’de passagem. Sendo assim, podemos considerar Sbieto wansicional como 0 veleulo que, 20 lado da mie suficientemente boa, Mp Possibilita o transporte da ilusao 4 desilusao. dode VO 162 1971, no livro O brincar e a realidade, Winnicor pats do estudo de To. 51, “Objetos transicionais e fendmenos transicionais”, que consiste nh Same da dea intermedidria situada entre os fendmenos auto cree ™ 0 durante os primeiros meses de vida do bebé — € 0 que acon cei ° 7 do os bebés comesam a brincar com Pe als aca a a deixar claro que a questéo s- Winnicott esfor nti ‘ga-se no sel Be bs : nao deve ser entendida como um estudo do primeiro objeto nao objeto. Mest Digitalizada com CamScanner PERLA Kunutyy . jmeira possessao: “Essa primeira , eu, mas sim do uso ie eee fendmenos auto-eréticos € eae: esté relacionas f » soo ambél im, para frente, 20 primeiro animal ou bonecg punho © Polen Fotos” (Winnicott, 1971, p. 29). Winnicot descr en nae a eqéncia deses eventos € na adocio de objeto ran. ~ mpaisresaltando uma certa preocupagso de sua parte em fornecer exem- plos de objetos € fenémenos transicionais por causa do fato de que tais exemplos possam fixar modelos ¢ cristalizar processos que, apesar de serem universais, iabilidade incalculdvel. Em sintonia com isto, Lacan destaca possuem uma vari Em sin ‘a natureza dos objetos e fendmenos transicionais como 0 que deve ser levado fem conta na descrigio feita por Winnicott: 274 ‘Todos os objetos dos jogos da crianca sdo objetos transicionais. Os brin- 5s quedos, falando propriamente, a crianga nao precisa que lhe sejam da- dos, j& que os cria a partir de tudo o que lhe cai nas maos. Séo objetos transicionais. A propésito destes, na¢ precise-pergunmtar se sio mais subjetivos ou mais objetivos — eles sio de outra natureza (Lacan, 1956- 57, p. 34). YA oO \& Do auto-erotismo ao primeiro brinquedo, Winnicott esclarece a natu- teza ea localizagao do objeto de seu estudo: “O objeto transicional nao ¢ um obi iene (que ¢ um conceito mental) ~ & uma possessio. Tampouco ‘ae o oe De acordo com o autor, um objeto tran- eee 7 quando um objeto interno — subjetivo — é real, 08 oes jd € capaz de crié-lo, mas isto depende da existéncia 4o ino” (idem, idem, p. 24. Esta desehog ee dono . scti¢ao revela 0 paradoxo contido ™ conceito de objeto transici a eh ansicio: ser distinto do eu, nal, justamente por este nao fazer parte € ne 14 €m torno des ta questi F : —fendmenos transicionsis ore ot St do espago ocupado pelos objet ¢ ji ta Tome "Mos um, B w» excelente auto, r : BD qual devern ot. Winnicort. E notdvel que este auto ‘os uma d¢ Sscoberta das mais finas, ex me recordo e jams Digitalizada com CamScanner E LACAN: A IMPORTANCIA DO CONCEITO DE OBETo, = 275 deixarci de voltar a isso, em homenagem, o objeto transicional, como ele apresent (Lacan, 1967). A minha lembranga d a do quanto tou, péde me trazer de socorro Para atestar a forte presenga de Winnicott nas investigagGes de Lacan, 24 basta voltar alguns anos ¢ Nos remetermos as cartas trocadas pelos autores em {960, ino em que 0 conceito de objeto a é elaborado. Essas cartas, se adicio- ‘aos comentérios tecidos por Lacan no semindrio “A relagio de objeto”, demonstram que 0 conccito de objeto transicional estd presente nos momen- tos centrais da construco do conceito de objeto na teoria lacaniana: a concep- ¢éo de objeto como falta ~ desenvolvida no seminério dos anos de 1956-57 ~ co seu desdobramento, o conceito de objeto a — postulado em 1960. No semindrio “A relacdo de objeto”, o estabelecimento dos primeiros vin- 22 cals afetivos do bebé com sua mae funcionam como elemento central para as investigagées sobre a relacéo de objeto. Nesse semindrio, Lacan coloca em reque o que ele considera um desvirtuamento dos textos originais freudianos empreendido pelos teéricos da relagéo de objeto. De acordo com Lacan, a concepcao de relagio de objeto vigente encontra-se baseada, principalmente, nos moldes narcisicos. Ao criticar esta relagao de reciprocidade entre sujeito € abjeto estabelecida de maneira direta e sem hiancia, Lacan instala a falta no interior desta. Para tal, recorre a Winnicott ¢ ao seu conceito de objeto € fendmenos transicionais, ressaltando que este ‘no leva em consideragio 2 no siada falta do objeto: que esquecido (...) - esquecimento que obriga a ess formas de 23 suplementagéo que enfatizo, a propésito do artigo de Winnicor ist ue um dos pontos mais essenciis da experiéncia anaitica,¢ 's. de © comeco, é a nogao da falta do objeto (Lacan, 1956-57, p- 35). sr Lacan & © que fundamentalmente parece novo no wat eee ec ay snide i 4o afetiva pri ¢ jeto & 0 uso feito da relagdo aftiva priméria cnt oval emperor da nog de fala para o desenvolvimento do PTT. i enficando essa nogdo no texto winnicottiano que Lavan i 9 te objeto «.4 Vejamos o que dizem as cartas trocadas pelos volume de LaPychanaiiee 25, uma tradugao do meu en- alguém tre um aber Estou muito contente em possuir 0 quinto Sxcevo para lhe agradecer por ter publicado ‘io sobre objetos transicionais. Parece-me 44° Digitalizada com CamScanner PERLA Kuuny 276 Si alguém foi o senhor. De F detalhes da tradusao, ¢ esse algt r Baie nage senhor 0 fato de esse artigo agora estar dispo- q nivel em francés (Winnicott, 1960a, p. 112). finnicott, escrita em 11 de fevereiro de 1960, agradece a Zs han ite aedenia ‘0 extremo cuidado do psicanalista francés com 6 artigo “Objeto ¢ fenémenos transicionais”. Em 5 de agosto de 1960, Lacan envia uma resposta a esta carta referindo-se, entre outras coisas, ao lugar ocu- pado pelo objeto transicional que em sua teoria consiste no lugar da falta. (...) Esse “objeto transicional”, cujos méritos eu tenho mostrado aos 2 meus, nio indicaria 0 /ugar* onde se marca precocemente essa distingéo do desejo em relagio & necessidade? (Lacan, 1960a, p. 9).§ 2h Esse “lugar? referido por Lacan recebe, em sua teoria, o nome de objeto a ©, a0 mesmo tempo, prenuncia o conceito de espa¢o potencial, num momento €m que este ainda no havia sido nomeado como tal por Winnicott — que sé 0 faria em 1967, no artigo “A localizacao da experiéncia cultural”. Winnicott labora 0 conceito de espaco potencial a partir da tentativa de situar no tempo € no espaco o lugar ocupado pelo brincar: “(...) a0 observarmos o uso, pela ctianca, de um objeto transicional, a primeira possessdo nao-eu, estamos assis- tindo tanto ao primeiro uso de um sinbolo ely sane quanto a primeira experiéncia da brincadeira.” A brincadeira e os objetos e fendmenos transicio- nais localizam-se num mesmo espaco — que nio fica no interior, tampouco no a Ou scja, nao pertence & realidade ps{quica nem faz do mundo ndo-el- J Dane dessa constatacéo, Winnicott questiona-se: “(...) se a brincadeira nfo se nem dentro nem fora, onde : E Newas totes onde é que ela se acha?” (Winnicott, 1967, p. 134) ncia: “Isso significa oscilar entre equ ae oe (ou parte dela) se acha num permanente te) ser ela i capacidade de encont [ternativamen- mae é ope dese Ser encontrada” (Wieone 7 p. 70). $e €l garam 20 bebé a opormac a unsio durante um certo perfodo de temp da realidade externa, ee de expetimentar um controle onipotente estado de confianeaeseshel rn een permite o desenvolvimento de U PO une e separa og dois, lecido num €spago potencial que, ao mesmo tem Digitalizada com CamScanner . LACAN: A IMPORTANCIA DO CONCEITO DE OByETO. z sinsico™ ae 77 \ Ouespaco potencial vai senda constituide-na medida em que 4 csian pen vai experimentando a falta dos cuidados m sa 2D com a capacidade adquitida pelo bebé de suportara sus austec, forma, em virtude da falta materna marcada pelo jogo de pretenpa-au- pia dimensio incersubjetiva vai sendo instalada ao mesmo tempo que os oy icionais vio sendo produzidos num espaco potencial de intersegéo crea mie ¢ 0 bebé, que passa a exstra partir de entéo, Winnicoreconcebe sea de intersegao que ee ee oe na eos = 4 dus dreas de brincadcira” (idem, ibidem, p. 71). Tal intersegio surge a parr do process de separagio mie-bebé, que envolve uma dupla perda quando rparagio € constatada: a mae perde uma parte de si que ela alimentava ¢ 0 febé perde uma parte dele, passando a alimentar-se num seio que ndo faz mais | | G06@ | anbionteindviduo O proceso de separacao possibilita a emergéncia de um espazo potencial. | Arepresentagdo do espaco potencial pode ser aproximada do conceite de ob- jzoa, quando este & definido a partir da Area de intersegio estabeecida entre Omijeito eo Outro. Sujeito . ] a a ; igo 32 . Nosemindrio de 1964, Lacan utiliza as operagées conhecidas ome Cintetsers a c . claborar formalizar os *SesZ0 na teoriaimatemética dos conjuntos pare s consti- “Onceitos de ali : +s consistem em operagoe 4 alienagdo separacao, os quais CO ma, a drea de wits do sujeitore a no campo do Outro.” Na figura nee a0 coe € formada nao pelo isolamento as a as eshte mas LE ica. ed wher sujeizo edo Ouro — tal como postula 21661 ET a syito Digitalizada com CamScanner PERLA Kiauy 278 1a enconttada do lado do Outro. Uma breve incur ‘ vera po uma il ee entender come fn as o| ‘tufda tanto do lado do sujeito quanto do lado do Outro. oa tn operacio de alienacdo 0 sujeito em constituigao nao tem ainda uma 2 sentidade, tal fat forga a identficagao da crianga com 0 Outro. Isto significa gue no principio 36 hd sala; alienar-se no Outro, ou melhor, alienar-se num jenificante mestre obtido no camy jutro.® Se consideramos princesa 9 See ve representa a menina em relaga0 20 ideal materno, 0 significante q\ : : term princesinba da mamde fancionar4 para a crianga como uma linha mestra du- ive toda a sua vida. Dessa forma, a menina escolhe a forga o signifi nee ignificante mestre, identifica-se com ele ¢ perde, portanto, uma parte do seu set. A parte perdida, distinta da identificagéo com o significante mestre, encontra-ses- tuada na intersecao dos dois conjuntos, ilustrada pelo objeto a. Desse modoa letra 4, 20 nomear a parte do sujeito deixada de fora da operacio de alienagéo, possbilita 0 outro tempo da constituicéo do sujeito, a separacio. AA separacdo consiste em um segundo tempo do advento do sujeito que cai © confronto da crianga alienada com o desejo materno. Ao contrério ienaco que consiste em uma escolha forcada e requer uma atitude pass vado sujeto diante do Outro, a separagao exige uma postura ativa do suet: par sparse éo desejo materno & preciso se parir. No seminario de 1964 Lacan faz uso de um trocadilho, “se parare, se parer’”, elaborado a partir da nie francesa “separare”, que traduzida para o portugués significa separar € ee 10 significa se parir. Este jogo de palavras exprime o cerne da oper eae a ae advento do sujeito desejante, alienado oe dida: qual ele se descola. Deste descolamento, uma parte Per 4. Deste modo a letra a, além de nome: erdida do sujeitom pects dee sear as guint ceeee acer ter hea eeete re) Ua br Be fea a inconiténcia do Outro, colocando sobre Ita no Outro, Dessa forma, o obj ; representa uma ica gue ns aparece na intersegio destes carne P. 202). A fal _ Surge do recobrimento de duas faltas” (Lacan sguifcnte mag retetente do lado do sujeito, parte nfo identifica sph Stor reer abet# Por uma falta enconcrada do lado do OM, 7 proceso de separagie ait inetsegéo definida pela falta reulane disjungées referente a fore tins tOMna-se posstvel estabelecet JH entre 9 ‘forma como os doi; se ra pa £0 outro: Winnicos s dois autores concebem 0 que te de dus dreasde bine os 8 intersego formads PA A + enquanto que Lacan postula wine 8 i \y ela sobreposicg dua fi Digitalizada com CamScanner spnascort F LACAN: A IMPORTANCIA DO CONCEITO DE OBjETO, 279 Wy i primeiro como esparo potencial, lugar onde o objeto transici | wy postlada pelo segundo como objet a ‘pct tanscionlé produ. feintersecao, Winnicott e Lacan a concebem de tularem a mesma to Winnicott refere-se a um es; maneiras diferentes: jotencial | Fo eng! ‘ido como €SPAGO> Lacan enfatiza a presen $e ercpario do espago iameneditta penis sat oain permite o estabelecimento de um didlogo ene o ebjew sence. Peo objeto a. Na tltima parte deste capitulo, pretend fazer dope exes dois conceitos, destacando suas convergéncias ¢ divergéncias. A da etn dd proceso de separario — realnada em diferentes momentos da constituigéo psiquica — ¢ o destino dado a esta perda, servirio como fio con- dur de um didlogo atravessado pelo vies da continuidade e da falta, que ‘daze como 0s autores em questio elaboram suas teorias a respeito da consti- nuigo da subjetividade. r OBjETO TRANSICIONAL E OBJETO A: UM DIALOGO SOBRE e A CONSTITUIGAO DA SUBJETIVIDADE a Entio, toda esta descrio téo preciosa quanto fina do objeto, 3 | i sé the falta uma coisa, é que se veja que tudo o que se disse dele : s no quer dizer nada seno 0 broto, a ponta, a primeira sada da ee terra de qué? Disso que objeto a comanda, a saber, 0 Sujeito. | of Sujeito como tal, que funciona inicialmente no nivel deste objeto transicional (Lacan, 1967). Nateotia winnicottiana, 0 nascimento do eu? € fruro do processo de separe- 34 yl a J igh | SM proceso eferuarse de mancira gradual, introduzindo uma perda do [ de fusao eu-objeto. A separaga vel exigencias SE riddle comparibaa, ou uando a mie pasa a fbat J sido wie ccemadedes do Bebé num espectfico momentos Pas | @atendé-las somente depois de algum tempo; Nesta situagéo 0 faror | “pot desempenina um importante papel na inctodusio da sust9e% mae Ye, undo bem doseds, permite a adaptagao 2 ralidade © 108% | <0 Elmo eu. © coroldrio disto & a concretizagio, mesmo de oe 8.10 Pfocesso de separac4o ave ddupla perda na uunidade for- Go | de si-0 nro era parte dele os, 0 bebe perde © | Digitalizada com CamScanner p 280 mA Kany 4 Pe mde, Para remediar tal perda e para que a falta || pon onsieg Pe a ls ago & encontrado e criado pela ctianea ty Jee ae gem eabertor, o som de uma misica, ou até mesmo besa vpempeato respiratrio, podem ser destacados © constituidos um io, pod (_Libjero ou fndmeno tansicional § ; 0 objeto constitui um simbolo da unio do bebé ¢ da se (ou pate 4L, feaa}. Esse simbolo pode set localiaador-ERCoRtia-se no lugsr, no espaco ¢ no tempo, onde ¢ quando a mie se acha em transigao de (na tramve do bebé) ser fundida 20 bebl e, alternativamente, ser exper. mentada como objeto a ser percebido, de preferéncia a concebido (Winnicott, 1967, p. 135). a + Um ung. © ruldo de Como um 42, Portanto, os objetos e fenémenos transicionais podem ser entendidos como algo que produzido para que o espaco entre o bebé e a mie petmaner: Permanentementepoienial, isto é, para que este espago nunca se constitua \ jente como uma falta, néo estabelecendo, assim, uma descontinuidade . ( na experiéncia de dependéncia primitiva. Lacan, contudo, parte exatamente da instauragdo desta falta que, sob sua Stica, é estabelecida entre o eu eo outro no momento inaugural da constitu $40 do psiquismo, pressupondo, assim, que 0 sujeito j4 surge separado do outro. Desse modo, as experiéncias primordiais do sujeito com o outto jé so mediadas por alguma forma de representacio, na medida em que o sujeit0 © constitui pela via da negacao, 1 web n°2. ee ume ngage es extern 20 suite Ino ake de algo que vai fundar a ealidade bees que€ expulso, passa a ena ee aquilo que era interior, no ae disc tir este texto freudiano de 1925, © como estranho, Lacan (195 a mac? » “A negativa”,!! ressalta que a afitm’ (Bejabung) — consid it So da ode simben ore como primordial ~ et lid OM, : t ; 3 ©xpulsio de alguma oa odo como opositora a negacdo que ©! ruin? “sim o real, na medida ph, nfo fora integrada a esta ordem, cons’ nio da simbolizacéo, We este consiste naquilo que existe fora © ean fleuns anos mai 15. (A Bhi de Pricandice Teudiano em _ » Lacan ret 7 2 2 i ‘i - eitulad? wer tif BO Semindsio dos anos de 1959-60 inti, : o =Das Ds , isto & do a © comentario de uma Pee sujal? ein, Ding. Podemos destars © ‘le™€Mt© originalmente expulso pel? 5. " @PUlsH0: 26 mesmo sr 4 Perda no momento em que ° FemPO que Das Ding constitui-se como © Digitalizada com CamScanner qqonac0TT £ LACAN: A IMPORTANCIA DO CoNcerTO pp onero . 281 40 sujito, ele deixa de ser parte do m além da constituicio de um objeto que pe oP mbito da simbolizacio ~, passa a exists unt wren, um furo deixado pela expulso de Das Ding dene” v2" . a ite entender que, na teoria lacaniana, a falta i : Me rele seo ca diate tie cs oes desde de 0 inicio, funcionando como uma mola que impulsiona a constitui. cio do sujeito. : Desse modo, a énfase ¢ 0 destino dados & perda sofrida pelo sujeito em 44 | constitui¢ao estabelecem um distanciamento entre os conceitos de objeto tran- sional e de objeto a. O objeto transicional produzido como uma metéfora | dafalta materna, isto é, como algo concreto construdo para saben io dobebé com a mie, que passa a faltar, a falhar, quando néo atende mais a todas as necessidades do bebé. Sendo assim, a fungio do objeto transicional consiste em simbolizar a falta materna, permitindo que a crianga suporte-a, ¢, mais importante ainda, que est falta nunca se constitua efetivamente como tal. Justamente o contrério estd em questéo quando abordamos a constituiga0 do objeto 2, posto que este objeto nomeia a falta propriamente dita, falta esta constituida como tal a partir de uma perda que nao pode ser reparada nem | tampouco obrurada, por ser, ela mesma, a propulsora da constituiglo subjeti- | va Assim, para nomeac algo quetdpode spree Lacan coloca uma ) 6 lata a, no lugar de uma fala, fazendo desta letra a prdptia falta, Neste enti 40 o.objeto a, diferentemente do objeto transicional que é produzido como uma metdfora da falta, pode ser entendido como a falta em si i. 7 Ftuacdo winnicottiana d Sendo assim, a distancia existente entre a conceituagao eee ade — e a conceituagio ‘eto transicional ~ realizada pelo viés da consinui . ae * odo como jana do objeto « — realizada pelo viés da falta — reflere 0 rm ical da [PO innicott ¢ Lacan concebem a dimensio alcertdria no momen — | ‘onstituicéo do psiquismo. = medida em.quest De acordo com Winnicott, 0 outro esté presente na WY De aL contr fundida com o bebe, Este momento inicial € ee rnd :rindria, que deve ser entendida como uma Nc age ee oe comum estabelecido entre a dupla mie-bebé, 4) nna primeira rela | = We no hé distingao e-ndo-eu. Dito em licagdo desta ©om'o seio materno, 0 Bebé ¢ 0 s¢i0. “uso decorrente da xP “so, Winnicott (1945) descreve o moment? de oa io do bebbe este | ia da primeina mamada tebrica: neste ™momen?> ca lacaniana, @ é ? , Sob a oti Pte dela, formando, assim, uma unidade dupla Dessa forma, quando hi assa a existir no real — fora q Digitalizada com CamScanner PERLA Kinny 282 éconcebida inicialmente por Winnicott, estry, go mae-bebé, tal como ¢ CO sem espago para afta de obj tu a dit 0 6S P860Fa de objere qbjeto materno chegue na hora cxata para stisfinr ‘dade. Mal a crianga comega a reagir para ter 0 seio, que a mie 9 are Vico detém-se, com justa razdo, € levanta o seguinte roblema: 0 que permite & crianga, nessas condigoes, estabelecer uma ings vmtre a stisfagdo alucinatdria de seu desejo ¢ a realidade? Em coutras palavras, com esse ponto de partida, chegamos estritamente & saguinte equacio: na origem, a alucinacdo é absolutamente impossve ds distinguir do desejo completo, O paradoxo dessa confusio nio tem como deixar de impressionar (Lacan, 1957-58, p. 225). ee 44). Suponbamos que © ei _Deacordo com Lacan, o relacionamento inicial da crianga com a realida = de nio estaria fundamentado no atendimento ou ndo-atendimento das neces- sidades, tl como Winnicott concebe, visto que: 2, Aaui encontramos uma coisa que se pode chamar de necessidade, mas que logo chamo de desejo, porque naa existe estado origindrio de neces- t \ sidade pura. Desde a origem, a necessidade tem sua motivacao no plano do desejo, isto é, de alguma coisa que se destina, no homem, a ter uma certa relagao com o significante (idem, ibidem, p. 227). SE, gino asim, nio€ dificil perceber que para ele, desde 0 infcio da apes vor ee a dimensio simbélica esté em jogo e que a relagao mae-bedé depen ns termos da ligica do significance, no inci a lass » tals como so enfatizadas por Winnicott, nem, consequen” meats y obj ox el C0 melas: as necesidades do bebé e as quali & 3 Portanto, o relaciona meine (Souza, 2002), — Por Lacan a partir ee inicial da crianga com a realidade € dost consid, Tal mage inersubjetvo sob o qual oestédio do e? seminétio dos anos cae enta a construcéo do esquema R, ut izado contido no momento de ee Como uma outraconcepeéo face 2° pared SH paige t® MiB “De uma quega a tado por Winnicott b Psicose”, west limi . se", baseado nas Princpain Preliminar a todo o tratamento post : ni . seming ais quest F Cuja estru Ho de 1955.56, n tuestOes abordadas nos primeiros oak .rutura & con, constréj seer 5 ue Siar come seca Ptr do xd de ies 0 TWA a apreensio d = lio do espelho com 0 a realidade,!2 Digitalizada com CamScanner -wanmicorT E LACAN: A IMPORTANCIA DO CoN _ © DE OBJETO... Bsa figura? ilusra 0 quadningulo da realidad cujaeuturaconcebida $5 | a partir de dois triangulos, um imagindrio ¢ um simbélico, e por um trapezio situado entte os dois triangulos. O eixo imagindtio mi é constituldo a partir daimagem especular, a qual fornece a base do triangulo imagindrio, m-i-, que éhoméloga & base do triangulo simbélico M--P, constituida pelo eixo simbé- lic IM. O eixo imagindrio ¢ formado pelo eu, m, ¢ pela sua imagem especu- la i, enquanto que o eixo simbélico é formado pela letra I, a qual deve ser eatendida como ideal do eu, letra que situa o lugar da crianga como produto do ideal paterno; enfim, a letra M deve ser entendida como o significante do objeto primordial — 0 outro materno. Ens ezos consistem, respectivamente, na parte superior ena parte infer S& tiot do trapézio onde Lacan situa a realidade. Portanto, a realidade é situada caatamente na margem, isto é, entre 0 imagindtio ¢ 0 simbélico, Para exami | narmos como se efetua a apreensao da realidade, partiremos da experiéncia | imagindtia, ou seja, do que acontece no nivel do estddio do espelho: Otstidio do espelho é 0 encontro do sujeito com aquilo que é pro- priamente uma realidade e, a0 mesmo tempo, néo 0 6 ou s¢ja, = 32 uma imagem virtual, que desempenha um papel decisive numa ert ctsalizgao do sujeito & qual dou o nome de Urbild. Coloco n= aralelo‘com a relacéo que se produz entre a cianga ¢ # mae , 1957-58, p. 233). ; ‘ 7 Diante do espelho, é a mae quem sustenta a idence = 5 | Rem especular de si mesmo, @ qual possbilita a formardo £9 Or | Ponto ibrar que 0 cixo simbélico IM, base do ee ae | a ‘situada, é homdlogo a0 eixo expeculat - Pa 4 ica mae-crianga - que consiste FI mPa oma e "Pela fi idade — é constitulda de mane!ra aus : ce “ especular. Dessa forma, S¢ nos remeté Digitalizada com CamScanner PERta Ki 284 campo da experitnca da reaidae g a lo: 0 ovimento duplo: . aum m por um lado, no eixo imagi formado por um trapézio que Se apéia, no exo simbélico. ae smo Winnicot, Lacan ressalta um momento paradoxal referente 3 SI consticuiggo da realidade: no nivel do no do espelho o encontro primerg dh soe com 2 vealed scomtece strates Oe Gs “ages virtual: Ap suai no espelho, o bebé, através de uma imagem virtual, obtém po: aes a sensagio de unificacéo corporal, constituindo, assim, 0 préprio ar raltaneamente, rornando-se objeto a0 identficar-se com a imagem vi tual de si mesmo. Isto faz com que a realidade, ao mesmo tempo, seja e nao seg realidade — jd que num primeiro momento é apreendida virtualmente. Go Lacan (1957-58), comentando o paradoxo contido no momento de ilusio — postulado por Winnicott, enfatiza que entre a satisfac4o alucinatéria da reali- dade e o que a mae oferece hé uma hidncia que permite & crianga reconhecer 0 objeto. Tal hiancia estabelecida é postulada na relacao especular: a imagem especular de si mesmo assume caractertsticas de objeto cativante, sendo consi- derada como outro. Desta forma, o modelo do estddio do espelho demonstra a ‘ re eo bebé encontram-se separados por uma hiancia que comportaa Ita de objeto. Feito esse percurso, é possivel constatar que os autores em questio reco- e tiem a importincia da presenca do outro no momento inilal da cons ae _ de noe diferentes. Ao partir do conjunto ambiente- culada sco e nen la que a Presenca do outro estd diretamente arti- aay © de identificagao primdria — 0 outro est presente m8 “04 €m que se encontra fundido com o bebé Lacan - Partindo do espaco intermedidrio pee ey reels inicio da expetitncia pslquica que comporta a falta de objeto — con C2 reece Haast €m termos intersubjetivos. , » € importante ressaltar que com Winnicott e Lacan dialo- gam as vertentes j Por caminhos eee francesa da psicandlise. Trabalham freqiienteme™ ‘ossincrasias 5) com defasagens temporais que acencuam 5M tedricas ~ a higncs. : rhagio mae bel it ~ #hidnca lacaniana postulada desde o prinepio & Winnicott, mais propenso @ assistimos : iNdtio¢, por Tenovacg, * Portanto, que a presenga desse é la teoria pes; P 135 sim a bifune, 4 Psicanaitica jd que no nos 44 49° A Balsoiene Digitalizada com CamScanner LACAN: A IMPORTAN powscorT E ‘CIA DO CONCEITO De oByETO, . 285 Brstiocraria (ON, M. 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E utilizado para denominar uma mae que desempenha a fungio de forne- cet cuidados para o bebé de forma comum; aquela que nao possui a qualidade de ser boa nem mé, sendo suficiente em seus cuidados com o propésito de fornecer elementos para o desenvolvimento satisfatério da crianga. 3 No perfodo de dependéncia absoluta nao faz sentido falar em satisfagéo ou frustracio, pois o bebé ainda nao possui a capacidade de atribuir 4 mae a autoria de suas fungées, ov seja, o bebé nao € capaz de saber se é bem ou mal cuidado pela mde ¢ nem se esas ‘experiéncias possuem qualidade boa ou md. Neste momento, o que importa para o bebt se suas necessidades so ou néo atendidas, “ Esta € uma das fontes que remontam & origem da elaboracdo do conceito de objeto ‘Um estudo detalhado sobre a génese do objeto @ pode set encontrado em um anterior (ver KLAUTAU, 2002). 5 Grifos meus. “Em francés: “(..) Cet ‘objet transitionnel’ Pate ‘objet transitionnel’ ial dont j'ai montré aux miens tous les métie> aa ae Pasa place ob se marque pré cocement cette distinction du désr par #PP™ 6 razio pela qual Lacan utiliza « 1 Da mesma forma, deve sere ip ra o maiiscula: Outro. Este f referencia altertdria pertenceMte in. MO Pequeno outro € pertence 2° “ lp designar alteridade, __ Outro” escrita co; wi cna ee oe nba * 4: Outro, deve ser lido co, ® Na alien i trade Por ho “Henasdo 86 existe uma o © seguinte exemplo: “A bolsa. a Se cca fread, ude Pe - tenho a vida sem a bolea, inno * Vida! Se escolho a bolsa erco as duas. Se ° Na obta de Winnicott no ¢, eer ee we Sujeito © ey, es inc : pi consiwudea? in nal enfatiza ¢ que saline distingdo esquematica entre >, | © bebe vai relacie e O8 CONCEitos no so dados 4 ‘stacionando-se com 0 ambiente. Digitalizada com CamScanner wi pynicoTT E LACAN: A IMPORTANCIA DO CoNcHTo De of; ETO... 287 10 De acordo com a teoria winnicottiana, t: . Lene do mesmo nunca é realizada de Pane oe ambience Pi ue denomina oiltimo estigio de dependéncin eon 0 at idéia de que © sujeito jamais chega a ale ambiente. 110 titulo deste artigo, assim como toda a obra freudiana, nao foi na du emo para 0 portugues, mas sim a partir da waduo ingen, ong rama en alemio “Die Verneinung” para o portugués seria, portant, “A Denegasio” Ne wy qutfarei aqui deste artigo, ndo necesito diferencia oato de denega do ato de nar, por iso irei utilizar 0 termo negago para facilitar a compreensio do leitor, Para ober tea andlise detalhada deste artigo freudiano, ver HYPPOLITE (1954) e LACAN (1954). No momento nos deteremos na primeira versio claborada por Lacan no artigo em questéo € retomada no semindrio dos anos de 1957-58. Para maiores informagées sobre a reno posterior dada ao esquema R que o estrutura em termos topol6gicos, identifican- de-020 plano projetivo, consultar a nota de rodapé acrescentada em 1966 no artigo em questo, asim como os comentadores: DARMON (1994) e GRANON-LAFONT (1996). Para a obtencao da figura original, cf. LACAN, 1958, p. 559. quanto a inde- a ‘mo tt independin- 0s cuidados maternos, ae ‘angar uma completa independéncia dp Digitalizada com CamScanner

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