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Carlos Skliar (Org.) 3. Identidades surdas Gladis T. T. Perlin Ao iniciar este trabalho, quero falar um pouco da minha vida. A minha identidade, em poucas palavras, pode ser dita assim: mulher, sorda nfo nativa, tedloga, militante pela causa surda, residente em pats istino-americano. Para me iniciar na escrita de minha visdo do sujeito surdo, tive de lutar ara desaprender grande parte das suposicdes que me ensinaram a acreditar = respeito do ser surdo. Particularmente os conceitos referentes a surdez no campo da audiologia e da medicina. Nesse ponto, durante minha pesquisa de mestrado, aprendi inclusive que, mesmo sendo surda, nao poderia falar sobre os surdos, tinha de deixd-los falar de si mesmos. Eles, os surdos — © nfo eu ~ irdo falar deles durante essa delineagio de identidade surda. Os surdos, que escolhi para estudar suas afirmagées de identidade surda, so parceiros ¢ parceiras de muitos impasses, sonhos e realizagGes na busca do direito de ser surdo. O foco desse tema é a identidade surda mesma, com suas redundancias, consequéncias, diversificagdes ¢ implicagées. ‘Numa posigdo dessas, lango-me a escrever sobre as identidades surdas tazendo um empréstimo de minha pessoa a experigncia das experiéncias da comunidade surda com embasamento tedrico pés-estruturalista. Usar a eoria pés-estruturalista, para mim, significa uma aproximactio do “ser sur- do", uma vez que os Estudos Culturais negam 0 universalismo e permitem uma aproximacdo do sujeito nativo sem mitos e suposigdes ja construfdos acerca do sujeito surdo. O uso de minha pessoa significa ver o surdo do ponto vista de dentro, © que implica usar éculos diferentes dos ouvintes. Isso em diversas oca- sides foi de modo duro, chegando a contestar teorias escritas ou faladas Dor sujeitos ouvintes, pelo simples fato de olhar as coisas como os “éculos 51 Editora Mediacao 52. ASURDEZ surdos” me permitem ver. Para esses estudos, identidade e alteridade sao, assim, processos inseparaveis. Muitos tém se ocupado em escrever o surdo tendo como ponto de partida a deficiéncia, propondo a corregdo da fala, a oralizagdo. Questées como essa nfio remetem a tematica da diferenga, do sujeito ¢ do poder. Fujo delas, elas, por si, revelam o poder ouvinte sobre 0 surdo. Esse poder ¢ rotulado por Wrigley (1996) como poder administrative sobre os surdos. Nesse caso, os surdos encontram, inclusive hoje, o jogo de uma politica educacional em cena tentando garantir maior proximidade com a identidade cultural surda. Eles esto perdendo com vistas a uma possibilidade de falhar a sua identidade pela presenga de hegemonia ouvinte. © meu objetivo é fornecer uma ideia de que a educagao, no he- geménico paradigma ouvinte, produziu “verdades” prejudiciais aos estudantes surdos pertencentes a minorias. Nesse ponto assumo uma posi¢ao critica diante do ouvintismo que é uma forma atual de continuar o colonialismo. O que entendo por identidade Entre os autores aos quais me concentrei para conceituar identidade, destaca-se Hall (1997). Hall ndo da um conceito de identidade, mas pro- pde uma aproximagiio do conceito de identidade tal qual a histéria ensina a ver sob diferentes interpretagdes. Hall (1997, p. 10) cita trés diferentes conceitos de identidade presentes na histéria: 0 iluminista que tendia paraa perfeigéio do ser humano; o sociolégico pelo qual as identidades se moldam nas representages sociais; e o da modemidade tardia em que identidades sao fragmentadas. Minha intengao, aqui, é usar essa tiltima concepgdio de identidade para situar 0 sujeito surdo. Entendo 0 conceito de identidades plurais, miltiplas; que se transformam que nio sio fixas, iméveis, estdticas ou permanentes, que podem até mesmo ser contraditérias, que ndo so algo pronto. A identidade ¢ algo em questo, em construgdo, uma construg&o mé- vel que pode frequentemente ser transformada ou estar em movimento, ¢ que empurra o sujeito em diferentes posigdes. Cito alguns elementos que, Editora Mediacao na concey (HALL, 1 ~as it as ¢ indivi — nen! uma j -aer Dep Culturais Identida¢ A ide surda. Ao turais, ten uma repre identidad Nao © passamc cultural. ( identidads A id em vista ¢ étnicos. P junto dess grupos: a sdo, daqu' Oconceito significa tra -ridade sto, vero surdo co da fala, a renga, do sate sobre 0 ninistrativo =a politica eadentidade de de falhar Zo. no he- diciais aos sumo uma © continuar identidade, =. mas pro- ora ensina diferentes adia para a semoldam entidades Carlos Skliar (Org.) 53 na concep¢do do autor, assumem formas de identidade p6s-estruturalista (HALL, 1997, p. 21): as identidades so contradit6rias, se cruzam, se deslocam continuamente; ~as contradigdes cruzam grupos politicos ou mesmo esto na cabega de cada individuo; —nenhuma identidade social pode alinhar todas as diferentes identidades como uma identidade mestra; a erosio da identidade mestra faz.emergir novas identidades sociais pertencentes, a uma base politica definida pelos novos movimentos; —a identidade muda de acordo como o sujeito ¢ interpelado; ~a identidade cultural é formada por meio do pertencimento a uma cultura De posse desses elementos da identidade em formulagdes de Estudos Culturais passo as identidades surdas propriamente ditas. Identidades surdas A identidade particular com a qual vou me preocupar é a identidade surda. Ao focalizar a representagiio da identidade surda em Estudos Cul- turais, tenho de me afastar do conceito de corpo danificado! para chegar a uma representagiio da alteridade cultural que simplesmente vai indicar a identidade surda. Nao consigo assumir a légica de que as culturas pelas quais nascemos © passamos a viver parte de nossas vidas se constitui na fonte da identidade cultural. O caso dos surdos dentro da cultura ouvinte é um caso em que a identidade é reprimida, se rebela e se afirma em questio da original. A identidade original estabelece uma identidade de subordinagao em vista da alteridade cultural, a mesma que se da entre os outros grupos étnicos. Para Silva, (1998, p. 58), “a identidade cultural ou social é 0 con- junto dessas caracteristicas pelas quais os grupos sociais se definem como grupos: aquilo que eles sao, entretanto ¢ inseparavel daquilo que eles nao so, daquelas caracteristicas que os fazem diferentes de outros grupos”. TO conceito de corpo danificado remete a questdes de necessidade de normalizagao, o que significa trabalhar 0 sujeito surdo do ponto de vista do sujeito normal ouvinte. Editora Mediacao 54 asuRpez A identidade surda sempre esta em proximidade, em situagao de necessidade com 0 outro igual, O sujeito surdo nas suas miltiplas identidades sempre estd em situacdo de necessidade diante da identidade surda. E uma identidade subordinada com o semelhante surdo, como mui- tos surdos narram. Ela se parece a um ima para a questio de identidades cruzadas. Esse fato ¢ citado pelos surdos ¢ particularmente sinalizado por uma mulher surda de 25 anos: “Aquilo no momento do meu encontro com 0s outros surdos era o igual que eu queria, tinha a comunicacio que eu queria, aquilo que identificava eles identificava a mim também, e fazia ser eu mesma, igual”. O encontro surdo-surdo é essencial para a construcio da identidade surda, é como um abrir o batt que guarda os adomos que faltam ao personagem. Para identificar a marca “surdo” que apresentamos, preciso aproxi- mar o que é facil entender por sujeito surdo. E uma marca que identifica ands, os surdos, em crescente posicao de termos préprios no interesse de gerar poder “para si e para os outros”. Os surdos sao surdos em relagao a experiéncia visual e longe da experiéncia auditiva. Essa diferenga que separa a identidade surda e a identidade ouvinte também ¢ relatada noutro depoimento da mesma mulher surda: “Um dia descobri que nunca iria falar como os ouvintes, seria mesmo impossivel. Era preciso pegar o meu jeito préprio de ser surda, de ter minha comunicagao visual”. As identidades surdas estio ai, nao se diluem totalmente no encontro ou na vivéneia em meios socioculturais ouvintes. Eevidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentagdes a que esto sujeitas face a presenca do poder ouvintista que Ihe impde regras, inclusive, encontrando no esteredtipo surdo uma resposta para a negagdo da representagdo da identidade surda ao sujeito surdo. Esteredtipo A nogtio de surdo esté diretamente ligada a esteredtipos em muitas formas, Cito o esteredtipo por ele interferir muitas vezes como um im- pedimento para a aceitago da identidade surda, Ele leva a considerar a Editora Mediagéo identidade incompati' é uma ide: nagdo, da tereotipad: O esteredt uma repre: uma politi as vezes d representa Oind: comportar dentro de ‘0 que Rogi esteredtipo: de sua prod ‘econtrola « Se cite iparidade de vistos ¢ como tipos tmautilados, Meoeréncia ‘plano de pr sada. A idei distracgiio dc produtivide mo campo ¢ que as pess nacio ou gs Michael Ro, Mais-valia si vidade se tor & significad Em nosso | campos em g dade opre Carlos Skliar (Org) 55 identidade surda ao lado da representacao da identidade ouvinte como incompativel. No dizer de Silva (1998, p. 62), “o esteredtipo como tal é uma ideologia, um esforco de contemplagdo da fluidez, da indetermi- nagio, da incerteza da linguagem, do social”. Nunca a representagao es- tereotipada vai dar a representac&io da identidade surda um lugar social. O esteredtipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois o imobiliza em uma representacdo contraditoria, em uma representacéio que nao conduz a uma politica de identidade. O esterestipo faz com que as pessoas se oponham, as vezes disfarcadamente, e evitem construgao da identidade surda, cuja representacdo é 0 esteredtipo da sua composicao distorcida ¢ inadequada. O individuo surdo faz parte dos movimentos marginalizados. Qualquer comportamento negativo de sua parte provoca distorgdes ¢ esterestipos dentro de uma situag&o de dominagio. Essa imagem negativa constitui © que Rogin? chama de “mais-valia simbélica”. O surdo foi acumulando estereétipos que tem reforgado cada vez mais a hegemonia discriminatéria de sua produgio cultural. discurso de poder do ouvinte mantém-se firme © controla esses esterestipos. Se citarmos, como exemplo, 0 campo do trabalho, logo teremos dis- paridade de esteredtipos. Exprimidos pela participagao ouvinte, os surdos so vistos como figuras frias desprovidas de definigo cultural. Admitidos como tipos incapazes, continuam a carregar a marca de seus corpos ditos mutilados, de sua inteligéncia dita fracassada, arrastando-se pela sombria incoeréncia de nossos dias. Tais priticas tém representagdio até mesmo no plano de produgao em que uma lista de profissdes* de menor porte foi elabo- rada. A ideia de o surdo concentrar-se facilmente em suas atividades sem a distragao do barulho leva a uma imagem do surdo como produtor bragal de produtividade. Isso torna presente a ideologia de que vale a pena contraté-lo no campo de trabalho pelo que ele produz nao pelo que aparenta. A ideia de que as pessoas surdas dificilmente possam ascender em escala de coorde- nacdo ou geréncia faz com que sempre continuem sob trabalhos designados fchael Rogin € citado por STAM (Estere6tipos, realismo e representagio racial, p. 72). Mais-valia simbolica quando cada imagem negativa de um grupo de pouea representati- vidade se torna dentro das hermenéuticas da dominagao, dolorosamente sobrecarregada de significado alegérico. “Em nosso Estado existe uma lista com profiss6es para o surdo claborada ¢ usada nos campos em que se visa ao emprego aos surdos. Editora Mediagao 56 ASURDEZ pelo poder ouvinte. Tampouco esses trabalhos oferecem possibilidades de ascensiio visto que as estratégias de poder continuam centradas. Serd que 2 cultura surda niio ofereceu possibilidades de ascensiio, ou o poder ouvinte nao é suficientemente fiexivel? Curiosamente no campo do esteredtipo a diferenga assume um lugar. faz-se de conta que nao devem existir diferengas. A figura do surdo pode ser visualizada como estereotipada no momento de um discurso colonizador. Porém, um discurso mais flexivel possibilita ver transformag6es praticas que produziriam se efetivamente estivessem ausentes jogos de esteredtipos. Diferenga e diversidade surdas surdo tem diferenga e, nfo, deficiéncia, e a preocupagio que pre- tendo explorar aqui, antes de tudo, trata da diferenga e diversidade. O que importa € como assumimos 0 sujeito surdo. Fala-se, hoje, frequentemente. de biculturalismo entre surdos ou entao se usa o termo bilinguismo. Minha posigao ¢ de que o biculturalismo eo bilinguismo mascaram normas, pois mantém a diferenca cultural surda como se ela fosse incémoda. As posigdes bicultural e bilingual mantém o surdo pelo meio. E como se dissesse: vocé €um, mas tem de ser dois ao mesmo tempo. Essa é uma exigéncia da “di- versidade” imposta pela sociedade anfitria ao surdo, uma definigao sujeita ainda a manter cambaleante a comunidade surda. A estratégia ¢ visivel: “o universalismo que permite paradoxalmente a diversidade, mascara normas etnocéntricas” (BHABHA, 1994, p. 208). Isso deixa claro a tentativa de impor uma lingua tnica para todos, o que nunca serd possivel. Entra aqui o esforgo de universalizar 0 surdo, inclusive usando-se como artificio a integracdo pela qual se admite a diversidade, nao, porém, a diferenca. Acultura surda como diferenga se constitui numa atividade criadora. Simbolos e praticas jamais conseguidos, jamais aproximados da cultura ouvinte. Ela é disciplinada por uma forma de agfio e atuacao visual. J& afirmei que ser surdo é pertencer a um mundo de experiéncia visual e nao auditiva. Sugiro a afirmagao positiva de que a cultura surda nfo se mistura 4 ouvinte. Isso rompe o velho status social representado para 0 surdo: 0 surdo tem de ser um ouvinte, afirmagao que é crescente, porém Rditora Mediagao E tao d despend é minha usando wata de por um com pal traduzic quando siléncio fazé-las no t no mon parece nilo sei nao faz esorita dizer Portan natural com Por ou nante no r nilidades de Sera que a der ouvinte = um lugar, do pode ser plonizador. es priticas seredtipos. io que pre- ade. O que eatemente, =o. Minha mas, pois ts posicdes sesse: voc’ cia da “di- edo sujeita visivel: “o a normas catativa de Entra aqui attificio a Carlos Skliar Org.) 57 oculta socialmente. Rompe igualmente a afirmagio de que o surdo seja um usuario da cultura ouvinte. A cultura ouvinte, no momento, existe como constituida de signos essencialmente auditivos. No que tem de visual, como a escrita, igualmente é constituida de signos audiveis. Um surdo no vai conseguir utilizar-se de signos ouvintes como, por exemplo, a epistemologia de uma palavra. Ele somente pode entendé-la até certo ponto, pois a entende dentro de signos visuais. O mesmo acontece coma promincia do som de palavras. Nao adianta insistir nesse ponto. Se dis- sermos que a escrita é do ouvinte e o surdo aprende a escrita, estarfamos cometendo equivocos. O pensamento visual da escrita é um dos aspectos de que o surdo se serve constantemente, muito embora, hoje, os surdos evidenciem esforgos demasiados em ler e escrever. A escrita do surdo nao vai se aproximar da escrita ouvinte. Vejamos, sobre a escrita surda, 0 fato narrado por L. de 40 anos: E tao dificil escrever. Para fazé-lo meu esforgo tem de set num clima de despender energias 0 suficiente demasiadas. Escrevo numa lingua que nao & minha. Na escola fiz todo esforeo para entender o significado das palavras usando 0 dicionario, Sao palavras soltas elas continuam soltas. Quando se trata de pd-las no papel, de escrever meus pensamentos, eles sio marcados por um siléncio profundo. Eu preciso decodificar 0 meu pensamento visual com palavras em portugués que tém signos falados. Muito ha que é dificil ser traduzido, pode ser apenas uma sintese aproximada. Tudo parece um siléncio quando se trata da escrita em portugués, uma tarefa dificil, dificilima. Esse siléncio é a mudanga? Sim é, Fazer frases em portugués ndo é 0 mesmo que fazé-las em Libras. Eu penso em Libras, na hora de escrever em portugués eu niio treinei o suficiente para juntar numa frase todas as palavras soltas. Agora no momento de escrever, eu escrevo diferente. Quando eu Ieio 0 que escrevo, parece que nao tem uma coisa normal como a escrita ouvinte, falta uma coisa, no sei o qué. Nao sei se 0 que escrevo séo palavras minhas, elas sfio exteriores, nao fazem parte de meu contexto. Parecem nao cair bem na frase, parece que a escrita do pensamento nao ditar o que quero dizer. Vezes sem conta parece-me dizer coisas sem sentido. Portanto, nao ha que se exigir do surdo uma construgao simbélica tio natural como a do ouvinte. Por outro lado, é preciso manter estratégias para que a cultura domi- nante nao reforce as posicdes do poder e privilégio. E necessario manter Editora Mediagao 58 ASURDEZ uma posigdo intercultural mesmo que seja de riscos. A identidade surda se consiréi dentro de uma cultura visual. Essa diferenga precisa ser entendida néio como uma construgao isolada, mas como constru¢éio multicultural. McLaren (1997) cita a ideologia dominante como referente a padrdes de crengas ¢ valores compartilhados pela maioria dos individuos. Essa existente ideologia da diversidade na sociedade atual a respeito do surdo cambaleia as posigdes essenciais da cultura surda. Nota-se que a cultura surda nao esta definida, dificilmente consegue definir-se. Ela é assim, dispersa, com varias rachaduras que o tempo vai se encarregar de reparar. As relag6es de poder continuam presentes no que Foucault refere como discurso ou familia de conceitos. Os discursos ouvintes so feitos de praticas discursivas marcadas por esterestipos. Os tedricos ouvintistas ditam regras que regulam 0 que deve ser dito e 0 que deve permanecer em siléncio. O discurso surdo inverte a ordem ouvintista, tem 0 peso da resisténcia. Rompe e contesta as praticas historicamente impostas pelo ouvintismo. Eo discurso surdo continua na busca de poder e autonomia. ouvintismo, a forma mais presente do poder Alguns ouvintes podem ficar ofendidos com a afirmagiio de que con- tribuem para ouvintizar 0 surdo, ou que se fale do vicio de referit-se a0 surdo como portador de anomalias e se reportem a exibicao da experiéncia auditiva como superior em frente ao surdo. Na verdade, esse comportamento da maioria ouvinte somente admite ambientes ouvintes com autoridades e regras sociais. A tendéncia em im- por representagdes de identidade, ou em construir identidades purificadas para se restaurar a coesfio continua sobre o surdo. A afirmativa se baseia no fato de constatar-se uma diferenga cultural no meio social ouvinte e surdo. Os surdos reclamam seguidamente desses ambientes. Prova disso ¢ 0 de- poimento de R., surda de 30 anos. E neste sentir-se rejeitado em comunicagtio que nos faz sentir-nos mal em familia. Nao ha um sentir-se igual. E impossivel ser feliz num clima desses. Fo exilio Editora Mediacao inven olhar as O qu Oou intes —etnocent superior 2 Nao ‘ouvintism ‘0 precone! prejul recon ocorr ideolé ssurdo caltura assim, -parar. como sos de ntistas enecer ‘=nilia. exilio Carlos Skliar (Org) 59 do siléncio a que estamos sujeitos. Sujeitos a sermos devotados aos ouvintes € sem esperanga... Eu percebo, é claro que a minha vida deve ser feita em outro grupo, com os surdos. Angustia ¢ esse sentimento. E preciso reconquistar 0 espago que nos tiraram, Na verdade é uma perda angustiante, Nossa presenga entre ouvintes nao ¢ legal. Diante da derincia de R. seria um erro ignorar a existéncia de condi- cionamentos e formas de ouvintismo. Ele nao é uma ideia ou essencialmente uma invengéio por acaso. Assume uma postura importante quando se trata de olhar as relagdes do sujeito surdo. O que é e como se constitui o ouvintismo? O ouvintismo deriva de uma proximidade particular que se dé entre ouvintes e surdos, na qual o ouvinte sempre est em posi¢do de superiori- dade. Uma segunda ideia é a de que nao se pode entender 0 ouvintismo sem que esse seja entendido como uma configuragao do poder ouvinte. Em sua forma oposicional ao surdo, 0 ouvinte estabelece uma relag&o de poder, de dominagao em graus variados, em que predomina a hegemonia por meio do discurso e do saber. Academicamente essa palavra — ouvintismo — designa 0 estudo do surdo do ponto de vista da deficiéncia, da clinicalizagao ¢ da necessidade de normalizacao. “ Acconstrugao ouvintista nunca esta longe daquilo que a ideia de ouvin- te significa: uma nogao que identifica a “nés ouvintes” em contraste com “aqueles surdos”. O principal componente é 0 que torna a cultura ouvinte —etnocentrismo—como hegeménica, uma ideia da identidade ouvinte como superior a tudo que se refere aos surdos. Nao vou ligar ouvintismo e preconceito. Nao quero dizer que viver 0 ouvintismo ¢ ter preconceito contra o surdo. McLaren (1997b, p. 213) vé 0 preconceito como prejulgamento negativo de individuos e grupos com bases em evidéncias no reconhecidas, no pesquisadas e inadequadas. Como essas atitudes negativas ocorrem com muita frequéncia, elas assumem um carter de consenso ou cunho ideolégico que é, muitas vezes, usado para justificar a discriminagiio. O ouvintismo também nao é 0 mesmo que oralismo. Como ideologia dominante, 0 oralismo, na descrigdo de Skliar (1997, p. 256), significa que Editora Mediagao 60 A SURDEZ 0 oralismo foi e segue sendo hoje, em boa parte do mundo, uma ideologia do- minante dentro da educagiio do surdo. A concepsio do sujeito surdo ali presente refere exclusivamente uma dimensio clinica ~ a surdez como deficiéncia, os surdos como sujeitos patolégicos — em uma perspectiva terapéutica. A conjungao de ideias clinicas e terapéuticas levou em primeiro lugar a uma transformago hist6rica do espaco escolar e de suas discussdes e enunciados em contextos médico-hospitalares para surdos. Num primeiro momento, nas leituras das narracées de vida-surda, tento delinear aqui os discursos constantes que surgem diferengas entre formas de ouvintismo presentes em nosso meio: 1. Ouvintismo tradicional*: nesse discurso, os ouvintes condicionam as representacdes sobre os surdos de modo a nfo Ihes dar safdas para outros modelos que nao seja o modelo de identidade ouvinte. Esse oralismo ¢ uma das formas mais fortes do poder ouvinte sobre os surdos. Os surdos dessa cena vivem na ideologia servil ao ouvinte, uma resisténcia radical a qual- quer mudanga e diferenga, uma desnecesséria elitizacao da cultura ouvinte e consequente rechago ¢ subalternizagao da cultura surda. Prosseguindo as filmagens do cotidiano dos surdos, F., um surdo, reclama do ouvintismo. De maneira bastante enfitica ele sublinha: A ideologia do ouvintismo, diante do problema do surdo estabelece logo que 0 melhor para o surdo ¢ ser como o ouvinte; assim, Ihe propde em primeiro mo- mento a aprendizagem da fala, o uso de aparelhos sofisticados para a audic&o, © estudo somente em portugués, tiram qualquer acesso aos sinais, sem sentir 0 que nés surdos sentimos no profundo de nés mesmos. Surdo j conhece muito por sinais, sabe por sinais. Se 0 ouvinte tirar tudo isso, o surdo comecard apenas a colocar as coisas na mente, sentir-se engolindo, fechando, guardando muitas ameagas contra sua identidade surda e esforgando-se ao méximo para ser como © ouvinte. Um trauma suportado diante do tio ouvinte. * Chela Sandoval, citada por Harawai (1991), considerando o surgimento histérico no meio do feminismo de uma voz politica chamada mulheres de cor, teoriza sobre um mo- delo interessante de identidade politica chamado “consciéncia oposicional”. Essa cons- cigneia oposicional ao meu ver se aplica ao surdo no que ele tem a trazer: uma cultura diferente e visual face cultura predominantemente ouvinte. Também encontramos em McLaren referéncias a Richard Dyer (1988) que eita 0 termo “cultura de withness” como fonte do poder branco diante do negro. Assim também entendemos o termo cultura ouvin- te e cultura surda com forma e significados. Editora Mediagao m ideologia do- so ali presente eficisncia, os == A conjuncao s=asformagiio =m contextos =-surda, tento catre formas condicionam S para outros alismo ¢ uma sezdos dessa decal a qual- sara ouvinte sseguindo as Sevintismo. = logo que o pemeiro mo- mma audigao, sem sentir 0 emhece muito mecard apenas mado muitas ouvin- Carlos Sklar (Org) 61 Analisando as colocacdes de F., essa ideologia ouvintista é forte de- mais, nao permite ao surdo desenvolver sua identidade, nem desenvolver uma consciéneia oposicional. 2. Ouvintismo natural: é outra cena do discurso ouvintista que de- fende uma igualdade natural entre surdos e ouvintes, porém continua com o encapsulamento do surdo na cultura ouvinte. Admite que os surdos tém de ser bilinguistas ¢ biculturalistas. Nao esquece a questo de que o surdo precisa integrar-se numa sociedade da cultura ouvinte. Reconhece em parte a cultura surda. Ela se move entre o reconhecimento da diferenga cultural e sua negagao. O bilinguismo nao reconhece ainda o status total da lingua de sinais, oscilando entre a aceitagao e 0 medo. Isso prova a histéria de'F., transcrita novamente: Me deixavam contato com Libras, mas eu e minha irma também surda fomos oralizadas. Tinhamos pouquissimos sinais, nos comunicavamos através de mi- mica, Era uma comunicacdo pobre. Sentia que eu e minha irma falivamos com ‘0s ouvintes e nfo éramos entendidas. F. mostra um ouvintismo que admite 0 uso de comunicagao em sinais. Mas ainda ha situagdes em que nfo se admite sinais e toda e qualquer ma- nifestagio por sinais é reprimida. 3. Ouvintismo critico: que se aproxima de uma posigao solidéri admite a possibilidade de alteridade, do diferente “surdo”, identidade e au- tonomia linguistica. Essa é uma posigao livre do ouvintismo, é a enfatizagao das diferengas culturais; uma posigdo radical. A distingaio que se da entre surdos ¢ ouvintes é inevitayel. Em qualquer sociedade predominam formas multiculturais, sendo umas culturas mais poderosas que outras. Nesse tipo de ouvintismo, a lideranga cultural continua produzindo um conceito com. hegemonia para qualquer entendimento da vida cultural. De maneira bastante constante, 0 ouvintismo critico aceita a diferenca surda ¢ batalha em fung’o da mesma, mas depende, para a sua estratégia, dessa superioridade posicional em relagao ao saber. Foucault acentua que as relagdes de poder e saber sao sempre uma resposta estratégica para uma necessidade urgente. Pareceu-me que nesse tipo de ouvintismo, em certas Editora Mediacao 62 AsURDEZ formas de saber empirico, se assume melhor a forca do ouvintismo, que incide negativamente sobre a comunidade surda. Ele se torna senhor de uma lingua majoritaria; as profissées de médico, professor, fonoaudidlo- 20, psicdlogo, gerente, etc., que sio mais acessiveis ao ouvinte Ihe dio aparente superioridade. Além disso, um exame do imaginario ouvinte est exclusivamente baseado numa consciéncia soberana, segundo uma légica detalhada pela realidade empirica. E uma situacéio de acomodagao diante do eu superior. E uma situagdo em que Scott (1995, p. 5) diz existirem cédigos disciplinares que punem, (...) justificam as proibigdes em termos de pro- tegiio do individuo do abuso por outros individuos, nfo em termos de protegéo de membros dos grupos historicamente maltratados pela discriminago, nem em termos das formas como a linguagem é usada para construir e reproduzir as assimetrias do poder. Diante disso, pergunto-me repetidamente se o que importa no ouvintis- mo é um grupo de ideias que esta permeado por doutrinas de superioridade, racismo, estereétipo, fantasia, etc.? Ouvintismo ndio é 0 mesmo que racismo? O racismo existe entre os surdos, um exemplo ¢ citado por Garefa (1997). Aexisténcia do racismo entre os surdos é claramente sobre a existéncia de discriminagao racial das criancas surdas norte-americanas em relagdo as criangas surdas mexicanas. Ela afirma que as criangas surdas mexicanas sofrem ao serem admitidas em escolas de surdos em vista de a Lingua Americana de Sinais ser diferente da Lingua Mexicana de Sinais. Isso ¢ inevitavel, pois a lingua de sinais nao é universal, e como as linguas orais, também apresenta variagées na sinalizagao, jamais se repetindo. Dai resulta © fato de que, se a crianga surda nao sabe a ASL, é considerada pobre, ig- norante, menos dotada em relaciio a capacidade de adquirir conhecimentos. Miultiplas identidades surdas Ha categorias de identidades surdas que identifico nos sujeitos surdos. Cito algumas para mostrar a presenca heterogénea das identidades surdas. Todas as identidades surdas apresentam facetas diferentes que podem ser facilmente classificadas. Editora Mediagao 1.1 os surdos nesses su No entani ocentro ¢ do surdo As cultur necessari: Ente: visual der surda reer ressaltar e Se ha festa 1 surdo. melho que se profiun manté tudo q irmios Nossa valoriz O adu movimento surdos, ele “a identida: na militanc’ mente difer visuais. Tal uma realida de pais owvi * Deafness is cultures, as we with each gene ewintis- midade, cism0? 1997). mcia de acdo as wicanas Lingua Isso 6 S orais, resulta bre. ig- mentos. Carlos Skliar (Org.) 63 1, Identidades surdas: est’o presentes no grupo pelo qual entram os surdos que fazem uso com experiéncia visual propriamente dita, Noto nesses surdos formas muito diversificadas de usar a comunicagio visual. No entanto, o uso de comunicago visual caracteriza o grupo levando para © centro do especifico surdo. Wrigley (1996, p. 25), tenta descrever o mun- do surdo como “um pais cuja historia é reescrita de geragdo a gerac’o... As culturas dos sinais bem como 0 ‘conhecimento’ social da surdez, sio necessariamente ressuscitadas ¢ refeitas dentro de cada geracdo””. Entendo que esse tipo de identidade surda cria um espaco cultural visual dentro de um espago cultural diverso. Praticamente essa identidade surda recria a cultura visual, reclamando 4 historia a alteridade surda. Para ressaltar esse tipo de identidade cito 0 depoimento de G. de 20 anos: Se hé festas de familia, é natural o surdo procurar o semelhante surdo. Se na festa nao hd um semelhante surdo, a tendéncia é fugir para ir ao encontro do surdo onde quer que ele esteja. Somos assim. Algo atrai por ser melhor. Juntos € melhor. A maioria surda sempre esta junto. Estar com os amigos surdos € sentir que se tem este parentesco. E um parentesco virtual. Isso porque chegamos na profundidade de nossas relagdes de semethantes. Uma semelhanga forte que nos mantém vivos, unidos. Se acontecer visitas entre nés ficamos horas falando de tudo que é possivel. Na familia o ouvinte intervém, geralmente o pai, a mile, 0s, inmaos. Ficam ansiosos em relago ao tempo gasto nessa forma de comunicagao. Nossa comunicago ¢ uma forma de transmitir fatos, de compreendé-los, de valorizi-los na semelhanca, no descompasso. O adulto surdo, nos encontros com outros surdos, ou melhor, nos movimentos surdos, ¢ levado a agir intensamente e, em contato com outros surdos, ele vai construir sua identidade fortemente centrada no ser surdo, “a identidade politica surda”, Trata-se de uma identidade que se sobressai na militancia pelo especifico surdo. E a consciéncia surda do ser definitiva- mente diferente e de necessitar de implicagdes e recursos completamente visuais. Talvez eu devesse abrir espago aqui aos surdos sem que isso seja uma realidade particularmente perturbadora como 0 € para os filhos surdos de pais ouvintes. 5 Deafness is a country whose history is rewritten from generation to generation... Sign cultures, as well as the social “knowledge” of deafness, are necessarly reborn and remade with each generation. Editora Mediacao 64 ASURDEZ 2. Identidades surdas hibridas: um outro tipo de identificagao. Sio os surdos que nasceram ouyintes, ¢ que com o tempo se tornaram surdos. E uma espécie de uso de identidades diferentes em diferentes momentos, ou seja, como diz Wrigley (p. 14), “conhecem uma forma ontolégica de existir através da experiéncia da audiga0”. Esses surdos conhecem a estru- tura do portugués falado e usam-no como lingua. Eles captam do exterior a comunicagao de forma visual, passam-na para a lingua que adquiriram por primeiro e depois para os sinais. Como esse ¢ 0 meu caso, em particular, narro assim minha experiéncia: Isso nd € tdo facil de ser entendido, surge a implicagdo entre ser surdo, depender de sinais, ¢ o pensar em portugués, coisas bem diferentes que sempre estariio em choque. Assim, vocé sente que perdeu aquela parte de todos os ouvintes € vocé tem pelo meio a parte surda. Vocé no é um, vocé é duas metades. Nascer ouvinte ¢ posteriormente ser surdo € ter sempre presente duas linguas, mas a sua identidade vai ao encontro das identidades surdas. 3. Identidades surdas de transi¢iio: estdo presentes na situagao dos surdos que foram mantidos sob o cativeiro da hegeménica experiéncia ouvinte que passam para a comunidade surda, como geralmente acontece. Transigdo é 0 aspecto do momento de passagem do mundo ouvinte com representacao da identidade ouvinte para a identidade surda de experiéncia mais visual. Normalmente, a maioria dos surdos passa por esse momento de transicdo, visto que é composta por filhos de pais ouvintes. No momen- to em que esses surdos conseguem contato com a comunidade surda, a situag’o muda ¢ eles passam pela “desouvintizagio” da representacdo da identidade. Embora passando por essa “desouvintizagdo” os surdos ficam com sequelas da representagdo que so evidenciadas em sua identidade em reconstrucao nas diferentes etapas da vida. 4, Identidade surda incompleta: é o nome que dou a identidade surda representada por aqueles surdos que vivem sob uma ideologia ouvintista latente que trabalha para socializar os surdos de maneira compativel com a cultura dominante. A hegemonia dos ouyintes exerce uma rede de poderes dificil de ser quebrada pelos surdos, que ndo conseguem se organizar ou Editora Mediacao foi dific 5. Iden jo. So axdos. scatos, Carlos Skliar (Org.) 65 mesmo ir as comunidades para resistirem ao poder. Ai pode dar inicio a0 que chamo de situagdes dominantes de tentativa de reproducao da iden- tidade ouvinte, com atitudes ainda necessaria para sustentar as relages dominantes. O depoimento abaixo foi dado por uma estudante surda de 25 anos com ensino médio completo: Tenho uma amiga quendo procuro muito. Tem alguns restos auditivos. Usa aparelho de audig&o, Ela nao se aceita como surda, Ela ndio quer estar no mundo dos surdos e tudo faz para ser oralizada. Tem poucos amigos. Quando ela foi para o ensino médio no gostava de minha Libras, me pedia para falar, o que jamais consenti. Notei que jé nos primeiros dias fez amizade com uma colega. Elas ficaram juntas ¢ conversaram, mas isso no durou muito, pois a colega ouvinte deixou-a por outra. Dessa vez sentiu-se desanimada com a experiéncia. A colega nfo entendia bem a fala e ela ndo conseguia compreender bem a colega. Na verdade minha amiga no tem boa voz, ¢ uma voz muito mal articulada porque a colega ouve mal. Ela também néio conhece sinais. A sua vida parece oscilar como um péndulo entre surdos e ouvintes, nao consegue ter amigos. Além dessa identidade que nega a representagao surda, suponho uma outra identidade: quando o surdo nega a identidade surda, Igualmente a enquadro nessa categoria por existir uma a representagdo da identidade ouvinte como superior. Esse caso preconiza uma identidade surda incompleta seja porque evi- tada, porque ridicularizada, ou porque premida pelo esteredtipo. Ha casos de surdos cujas identidades foram escondidas, nunca puderam encontrar-se com outros surdos, conseguiram adentrar-se no saber junto aos ouvintes € ha casos de surdos mantidos em cativeiros pela familia onde se tornaram incapacitados de chegar ao saber ou de se decidirem por si mesmos. Exis- tem casos de aprisionamento de surdos a essa situacao, cuja experiéncia nao foi dificil de acessar. 5, Identidades surdas flutuantes*: elas estao presentes onde os surdos vivem e se manifestam a partir da hegemonia dos ouvintes. Essa identidade ® Flutuante é o termo proposto por McLaren (1997a, p.137) que, comentando em re- lagdo a branquidade, diz: “a habilidade do sujeito falante de mover-se para dentro da posigao dele sem parecer ter deixado a posigao do eu ou tu (os quais sao significamtes vazios ou “flutuantes” que ndo possuem referente fora da situagao imediata)”. Editora Mediagao 66 ASURDEZ é interessante porque permite ver um surdo “consciente” ou nao de ser surdo, porém vitima da ideologia ouvintista que segue determinando seus comportamentos e aprendizados. Existem alguns surdos que querem ser ouvintizados a todo custo, Desprezam a cultura surda, no tém compromisso com a comunidade surda. Outros so forcados a viverem a situacdo como que conformados a ela. Sdo muitos casos ¢ muitas historias de surdos profissionalizados que vivem as identidades flutuantes, pois ndo conseguiram estar a ser- vigo da comunidade ouvinte por falta de comunicagao e nem a servico da comunidade surda por falta da lingua de sinais. E 0 sujeito surdo construindo sua identidade com fragmentos das miltiplas identidades de nosso tempo, nao centradas, fragmentadas. Quando a identidade par- te da comunidade surda, sem esquecer as identidades ouvintes que Ihe emprestam fragmentos, constituem-se novas visées. A identidade surda da sua continuidade. Isso significa que os surdos tém de construir suas identidades diversificadas como membros de um grupo cultural. Vejamos © depoimento de experiéncia e vivéncia de J. de 30 anos, que aborda a questo da diferenga dentro da familia: Quando acabei a quinta série fui para uma escola de ouvintes. Nao havia nada que pudesse fazer. Meus pais moravam no interior ¢ eu precisava continuar a estudar, Na escola os ouvintes vinham até mim e falam. Eu sentia apenas raiva e vergonha. Tudo era ditado pelos professores. Os colegas escreviam, nada ia a0 quadro. Como escrever? Eu como surda aguentava minha diferenga. Chegando em casa chorava todos os dias, chorava desabafando minha raiva. Por que eu era surda? O que tinha que eu nao era como os outros? Eu dava o maximo de mim, Mamie me acalmava e eu percebia que as vezes chorava junto. Vezes houve em que cla ia & escola ¢ falava para os professores ficarem de frente, para mim poder ler os labios, usar o quadro, providenciava um colega, para sentar junto para que cu pudesse copiar tudo, Havia fofocas e risinhos. Eu precisava de pa- ciéncia, achava terrivel. Mame sempre incentivando, apesar de tudo, Fu queria Jargar, sempre, queria largar a escola, Nesse tempo fui para outro colégio. Houve interesse ¢ os colegas comegaram a aprender comunicagdo em Libras. Foi mais calmo... De meu ponto de vista a escola de ouvintes é ruim para fazer amizades, para estabelecer relagdo. Um surdo com ouvintes ¢ duro, dificil, softido, Muito eu chorei, Falava a minha mae por que eu sou surda? $é Deus sabe. Finalmente retomei a escola de surdos. Editora Mediacao Nessa pode ser vi fidade surd: ‘diferenciad ouvinte des pode ser vi como: integ identifica a para a esco ios pela es fala, o ditar ostensiva d Segun identidades surdos, suré filhos de pe aproximam se construit Identidade As rel surda, slo re sempre est2 poder com: interessante disfargadas Exem) zat os surd 7 Bhabha (1! a questo pr tra essa dife discursivas ¢ significar 0 de ser do seus mem ser momisso como lizados ra ser- servigo » surdo tdades de par- gac Ihe e surda ar suas cjamos borda a via nada einuar a ms raiva ui ia a0 negando ecu era de mim. s houve a= junto ade pa- s queria ave < mais des, Muito simente Carlos Sklar (Org) 67 Nessa experiéncia de vida, J. diz que quer ser ouvinte. Esse trago pode ser visto por diversos 4ngulos, mas tentarei fazé-lo acerca da iden- tidade surda flutuante. Escolhi esse exemplo para mostrar os referenciais diferenciados nos quais J. esti mergulhada. E surda, mas quer ser uma ouvinte devido as imposigdes que a sociedade coloca. Esse depoimento pode ser visto também com a finalidade de se perceber outros assuntos como: integraco, oralismo, ouvintismo, normalizagao, identidade surda. J. identifica as relagdes de poder mantidas pela familia ouvinte ao mandé-la para a escola de ouvintes, bem como os mecanismos de poderes coloca- dos pela escola para domesticar as pessoas surdas, como, por exemplo: a fala, o ditar o contedido. Como se justifica essa presenga intitil, invisivel e ostensiva do poder? Segundo Wrigley, podia-se também categorizar de outra forma as identidades, por exemplo: surdos que nascem surdos, surdos que ficaram surdos, surdos filhos de pais ouvintes, surdos filhos de pais surdos, ouvintes filhos de pais surdos, intérpretes de surdos, As duas tiltimas categorias se aproximam das identidades surdas, no entanto so um outro campo para se construir na pesquisa das identidades ouvintes. Identidades surdas e relacées de poder As relaces sociais, em que se realizam as representacOes da alteridade surda, so relages nas quais imperam poderes. No interior das relagGes sociais, sempre estio presentes relagdes de poder. Foucault ensinou a ver relagdes de poder como internas, comuns, misturadas na praticidade dos encontros. E interessante notar como os ouvintes tecem redes de poderes e como elas vém disfarcadas sobre 0 discurso da fala, da integragao e do colonialismo’. Exemplos de poderes criados pelos ouvintes para disciplinar e coloni- zar os surdos podem ser Vistos em muitos lugares. Por exemplo, no Estado, 7 Bhabha (1994, p. 176) diz que colocar a questio colonial significa ter em conta a questio problemética da diferenga cultural e racial. Para ele, posicionar-se con- tra essa diferenca significa colocar na pritica a autoridade, por meio de estratégias, discursivas e fisicas, 0 poder discriminatério. Aqui uso a palavra colonialismo para significar 0 que o ouvintismo tem dentro dessa pratica. Editora Mediagéo 68 ASURDEZ que recentemente implantou a politica da integragdo. Ele transfere para a politica educacional o patriménio, os recursos ptiblicos. De certa forma, isso pode ser interpretado como relagdes de poder sobre os surdos, poder que divide, distingue, reprime, explora e que forma uma grade de controle sobre uma cultura nativa. Outro exemplo é a escola onde se sobressaem certas filosofias* de ensino — como a oralista, a bimodal, a comunicagaio total, a bilinguista. A pratica da ouvintizagao assume diferentes modelos de escolarizagaio do surdo. Na familia, a desinformagao sobre o surdo € total ¢ geralmente predomina a opiniao do médico, eas clinicas de fonoaudiologia reproduzem uma ideologia contra a diferenga. Esses so todos mecanismos de poder construfdos pelos ouvintes sob representagdes clinicas da surdez. O mito de que a norma para os seres humanos consiste em falar ¢ ouvir levaa olhar para o surdo e dizer que ele ¢ um selvagem. O pressuposto nor- malmente aceito é a normalizacdo do corpo. E essa normalizagao do corpo evoca o softimento do surdo e esta registrada na historia. A partir da andlise da politica da integrac4o, Lopes (1997, p. 33) fala sobre a normalizacao. Anormalizagiio de comportamentos sociais, de acordo com a ideologia dominante, ‘corre na educagio de surdos desde seu inicio. A formagio ideoldgica oralista imposta aos surdos que esto integrados no sistema comum de ensino esté funda ‘mentada, entre outros aspectos, no tratamento reabilitatério da deficiéncia. Todos 0s esforgos dos ouvintes esto voltados para o treinamento oral do surdo, ou seja, o meio social ou escolar, conforme essa ideologia, deve propiciar ambientes ricos * As filosofias de ensino mais comuns so: 0 oralismo, que ¢ 0 holocausto linguis- tico da lingua de sinais. A sua implantago, como diz Skliar (1997b, p. 257), “foi feita com 0 consentimento ¢ a cumplicidade da medicina e dos médicos, os pro- fissionais paramédicos, os pais ¢ familiares dos surdos, os professores ouvintes, ¢, inclusive, com alguns surdos que representavam entdo e representam, agora, os progressos inevitaveis da terapéutica, vale dizer, o surdo que fala, e da tecnolo- gia, 0 surdo que escuta”. O bimodal ¢ 0 método de uso da lingua de sinais para ensinar portugués. Ele cria um novo sistema linguistico que no o usado pe- los surdos: portugués sinalizado que em parte foi o responsivel pela atual situa- do cambaleante de muitos signos ¢ sinais que interferem na estrutura da Libras, O método de comunicagao total admite oralismo, bimodalismo, arte, teatro, (...) em resumo, traz os mesmos efeitos da posigio anterior. © bilinguismo, de recente im- plantag&o na América Latina e no Brasil, aproxima-se ao uso normal da lingua de sinais, No entanto, no que tem de filosofia implantada pelo ouvinte, conserva em suas bases poderes ouvintes. Editora Mediagéo eme: dizac de in clinic Og meio do | Movime: Esto indiferen’ O oralism nuamente A resistéi inclusive constant Assi processos direto pe sentir-se entre pod da identi: forca na | tal. Por q ouvinte d uma desc Pode possi para a forma, = poder ontrole essaem micagio delos de total e Sologia isos surdez, © ouvir sto nor- pcorpo Carlos Sklar (Org) 69 emestimulos orais para que os surdos sintam a necessidade “imperiosa” do apren- dizado da fala. Em minha opinio, o comportamento ouvinte em relagtio ao surdo de imposigdo cultural, pois ignora o conceito de surdo e apega-se em diagndsticos clinicos de surdez que dizem ser 0 surdo um deficiente que necessita ser curado. O que mais esta em jogo de poder hoje é a interpretagiio de poder por meio do disfarce da integrago. Movimento surdo: lugar de resisténcia para a cidadania surda Estou entrando na tematica da resisténcia surda, que nao poderia ficar indiferente a um problema bem visivel em que entram identidade e historia. O oralismo educacional e 0 ouvintismo a que o surdo foi submetido e conti- nuamente é submetido deu inicio ao movimento das associagGes de surdos. A resisténcia surda contra a ideologia ouvinte deu inicio a movimentos inclusive como ONGs. Podemos identificar as relagdes surdo-ouvintes constantes como interpreta Veiga-Neto (1995, p. 32): O poder se manifesta em todas as relagdes, como uma aco sobre outras agdes possiveis, as resisténcias tém de se dar dentro da prépria trama social e nio a partir de algum lugar extemo: simplesmente por que nio ha exterioridades. A trama se constr6i, se altera, se rompe em alguns pontos, se religa depois, ali ou em outros pontos, a partir desse jogo de relagdes de forsa. Assim sendo, essas forgas de resisténcias so construidas no interior de processos de representagao da alteridade. © movimento surdo ¢ responsavel direto pelo novo impasse na vida do surdo contra a coesio ouvinte, pelo sentir-se surdo: em resumo, ¢ 0 local de gestagao da politica da identidade entre poder surdo e poder ouvinte, em que surge uma proximidade dinamica da identidade surda que denominamos politica de identidade, que tem sua forca na alteridade e que guarda as fronteiras da identidade surda como tal. Por que surge essa referéncia surda? Ela é uma fora contra o poder ouvinte de ideologia dominante ouvintista. Em Foucault (1990, p. 24) ha uma descrig&o desse poder: Poder ¢ gerir a vida dos homens, controli-los em suas agdes para que seja possivel e vidvel utilizi-los ao maximo, aproveitando ao maximo suas poten- Editora Mediagao 70 ASURDEZ cialidades e utilizando um sistema de aperfeigoamento gradual e constituido de suas capacidades, Esse tipo de poder, descrito por Foucault, revela o distanciamento que existe nas instituigdes que mantém praticas discursivas incorporadas a processos técnicos de atuacio hegeménica; as resisténcias dos surdos diante do ouvintismo; a quebra de esteredtipos para a legitimidade da ex- periéncia surda na luta contra teorias que operam como forma de controle social; a aquisigo da lingua de sinais como primeira lingua, a exclusio da participaco no movimento tecnoldgico que aborde o especifico surdo, particularmente ao que se refere aos meios de comunicacao; a existéncia de uma politica da identidade surda tem feito com que 0 movimento surdo seja uma realidade hoje. As relagdes existentes no movimento surdo tém sua central na Fede- ragdo Mundial de Surdos’ (FMS), e dessa passa aos organismos filiados. Mas, nem sempre as resisténcias surdas sao necessariamente nesse centro. Elas assumem posigdes locais e podem se dar entre surdos e ouvintes ou em grupos nos quais militam surdos e ouvintes. O objetivo do movimento surdo é revelar as forgas subjacentes nos esteredtipos encontrados nas diversas instituigdes sociais, bem como, as in- terpretagdes de surdos ou ouvintes isolados nao constantes da cultura surda; questionar a natureza ideoldgica de suas experiéncias, ajudar os surdos a descobrirem interconexdes entre a comunidade cultural ¢ o contexto social em geral; em suma, engajar-se na dialética do sujeito surdo. © movimento surdo no visa desencadear lutas apenas. As lutas so os efeitos do poder, como tal, existente na sociedade e que busca novo poder. As lutas sempre propdem novas movimentagdes que giram em torno da questo: por que o poder ouvinte faz, determina e impée tal coisa presente? Tenho que, com o movimento surdo, a comunidade surda transforma sua identidade de grupo estigmatizado para grupo valorizado contra a injustiga presente. * A FMS tem sua atual sede na Finlndia, Seus objetivos sfo a favor de uma politica de identidade surda, Ela tem se posicionado objetivamente, pedindo as nacdes 0 res- peito pelo direito de ser surdo, inclusive, propondo a adogao desses direitos em todos ‘os campos de atividades sociais. Editora Mediagao Oo ao trab das mz com qu N se une O suce movim assume voltada em sua M sa den comun tudo é pouco | as posi raciona que no: Al na pers surdos | resistén Es: pelo sur abrir 0 ¢ Par do direi econém bem-est ao invés sonstituido de anciamento scorporadas dos surdos dade da ex- de controle _2 exclusio “fico surdo, 2 existéncia mento surdo ral na Fede- nas filiados. esse centro. ouvintes ou acentes nos como, as in- itera surda; as surdos a mexto social ss. As lutas = que busca - gue giram = impoe tal dade surda alorizado sem todos Carlos Sidiar (Org) 71 O direito a vida, 4 cultura, a arte, A histéria, 4 participagao politica, ao trabalho, ao bem-estar leva a pensar uma esfera publica de luta central, das mais simples para as mais amplas e mais descentralizadas. Isso faz com que as lutas surjam imediatas ou nao apés a constatagao do problema. No movimento estéo presentes surdos e ouvintes solidarios que se unem numa oposi¢&o aos efeitos das forgas tradicionais ouvintes. O sucesso dessa uniao se deve aos objetivos gerais preestabelecidos do movimento. Como todos os movimentos sociais, 0 movimento surdo assume uma caminhada politica. Mas, mesmo que busque uma politica voltada exclusivamente aos surdos, nem sempre o movimento se apresenta em sua totalidade ¢ pureza. Muitos surdos discordam de algumas medidas. Novamente a cau- sa de muitas lutas inacabadas, a tendéncia aparentemente insegura da comunidade surda com respeito ao movimento, a sensag&o de que nem tudo é pelo surdo, o perigo de deslizar por locais cujas instituigdes pouco vio avangar. Isso, conforme Foucault, nos coloca em alerta para as posi¢Ges na quais necessitamos colocar sob suspeita os fundamentos racionalistas ¢ humanistas que sustentam nossos discursos e praticas e que nos promete utopias. A formulacao comum de uma série de objetivos e estratégias de ago, na perspectiva surda, focaliza a perspectiva de uma sociedade na qual os surdos so cidadaos normais e em que a justiga social se concretiza na resisténcia a todas as formas de discriminagao e exclusdes sociais. Esse é 0 fator fundamental na existéncia do movimento que, lutando pelo surdo, resiste 4 complexidade da cultura vigente, mas no sentido de abrir 0 acesso a ela de uma forma em que se sobressaia a diferenca. Para o movimento surdo, contam as instancias que afirmam a busca do direito do individuo surdo ser diferente nas questdes sociais, politicas e econdmicas que envolvem 0 mundo do trabalho, da satide, da educagiio, do bem-estar social. E um desafio contra todas as formas que tendem a limitar, ao invés e prosseguir aprimorando o projeto de emancipagao humana. O conceito epistemolégico surdo se presta a qualquer teoria ¢ politica surda. Existem os surdos? Sim. E preciso definir os surdos por suas ativida- des e discursos que acontecem a partir dos limites da participacdo politica. Editora Mediagao 72 ASURDEZ Consideragées finais Quero enfatizar, nesta conclusao, a importancia da identidade surda. Os surdos e os ouvintes que simpatizam com a identidade surda precisam tornar-se lutadores contra a certeza. F preciso comegar desde logo a pensar a identidade politica do surdo. Como ele pode defender-se ¢ ndo perder sua capacidade de ser sujeito surdo. Como ele vai entrar em contato com a representacdo da politica de sua identidade. Quem sabe os ouvintistas se comprometam junto aos surdos por um multiculturalismo atento 4 especificidade da diferenga, afrouxando suas po- sigdes que mantém a estratégia de reverter o surdo a sua mancira dominante em respeito aos direitos universais para as condigdes de desenvolvimento cultural e de justica. Os ouvintistas nZio podem ficar apenas na linha de pequenas concessées, tém que ajudar nessa construg4o do mundo surdo. Importa salientar a diferenga das pessoas. Respeité-las como surdas, indias, nomades, negras, brancas... Importa deixar os surdos construirem sua identidade, assinalarem suas fronteiras em posicdio mais solidaria que critica. ‘A educacao, ainda que j4 esteja saindo do dominio do oralismo, tem que desaprender um grande nimero de preconceitos, entre eles 0 de querer “fazer do surdo um ouvinte”. A educagiio tem que caminhar no sentido da identidade do surdo, permitindo também a presenca do professor surdo. Novas hipéteses podem ser levantadas, novos achados sao necessitios. Entre eles sobressai a urgéncia de dizer que 0 surdo é sujeito surdo. Referéncias BHABHA, H. A questo do “outro”: diferenca, discriminagao ¢ 0 discurso do colonialismo. In; HOLANDA, H. B. de (Org.). Pés-modernismo e cultura. Traducao: The location of culture. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. FOUCAULT, M. 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