You are on page 1of 5

Álvaro de campos

Primeira fase:

Designação: decadentista

Poemas ilustrativos: “Opiário”

Características:

 Tédio 2ºfase

 Enfado
1ºfase
 Cansaço

 Necessidade de novas sensações 3ºfase

 Falta de sentido para a vida

 Necessidade de fuga à monotonia

Segunda fase:

Designação: futurista e sensacionista

Poemas ilustrativos: “Ode Triunfal”

Características:

 Afasta-se do passado para exaltar a necessidade de uma vida futura

 Poesia repleta de vitalidade

 Preferência pelo ar livre

 Nova conceção de belo

 Verso livre e longo

 Estilo enérgico

 Anáforas, exclamações, interjeições, apóstrofes, enumerações

 Celebração e triunfo da máquina

 Canta os escândalos e corrupções dessa época

 Intelectualização das sensações


Terceira fase:

Designação: intimista/pessimista/abúlica

Poemas ilustrativos: “Tabacaria”, “Esta velha angústia”

Características:

 Rodeado pelo cansaço

 Sensação de desânimo e frustração

 Incapacidade de realização

O poeta da modernidade (fingimento artístico):

Campos, como adepto do vanguardismo modernista, espelha um sentir cosmopolita, urbano,


extrovertido, mas muitas vezes mergulhado no tédio quotidiano e no anonimato da cidade.
Revela uma postura provocatória e transgressora da moral, com objetivo de escandalizar e
chocar.

Espelha a influência do futurismo, na apologia que faz da civilização contemporânea moderna,


industrial e tecnológica, e também do sensacionismo, através da exacerbação das sensações,
querendo vivê-las até à exaustão. Assim, deseja “sentir tudo de todas as maneiras”, vivendo o
momento presente como a fusão de todos os tempos (o passado, o presente e o futuro).

O imaginário épico: a exaltação do modernismo (matéria épica) e o


arrebatamento do canto:

A exaltação da vida moderna é a verdadeira matéria épica deste heterónimo. Neste sentido,
elogia/canta o cosmopolitismo e exalta euforicamente a máquina, a força, a velocidade, a
agressividade e o excesso, entregando-se numa histeria de sensações. Assim, o arrebatamento
(êxtase) do canto faz-se através de poemas extensos, com versos livres e longos, num estilo
esfuziante e torrencial, num ritmo alucinante, como forma de cantar a grandiosidade da
matéria épica.

Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância:

Caeiro é o seu mestre, mas Campos é “o filho indisciplina das sensações “. Ora, depois de se
entregar à histeria das sensações, parecendo esgotar-se e cai numa apatia melancólica e
abulia, numa profundo reflexão existencial. Neste sentido, revela uma acentuada consciência
de si mesmo. A solidão, a abulia e o cansaço tomam conta do heterónimo, aproximando-o do
seu criador (Pessoa) na dor de pensar e na nostalgia da infância perdida.

Linguagem, estilo e estrutura:

 Verso livre e, normalmente, logo


 Irregularidade estrófica, métrica e rítmica
 Versos soltos e vocabulário concreto
“Esta vElha angústia” - fase intimista e abúlica

Esta velha angústia,


Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,


Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!


Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!


Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!


“QuE noitE sErEna!”

Que noite serena!

Que lindo luar!

Que linda barquinha

Bailando no mar!

Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge...

O terceiro-andar das tias, o sossego de outrora,

Sossego de várias espécies,

A infância sem o futuro pensado,

O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,

E tudo bom e a horas,

De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.

Meu Deus, que fiz eu da vida?

Que noite serena, etc.

Quem é que cantava isso?

Isso estava lá.

Lembro-me mas esqueço.

E dói, dói, dói...

Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.


O poema analisado remete-nos para a fase mais intimista de Álvaro de Campos, fase em que
este se encontra rodeado pelo cansaço e pelo desânimo.

De facto, a linguagem do sujeito poético com o decorrer do poema vai perdendo o fôlego, pois
inicia-o com lembranças da sua infância, mas efetivamente muda a sua postura passando para
o presente. Assim, os quatro primeiros versos transportam o sujeito poético para o passado, a
sua infância, onde acaba por se recordar das suas lembranças. Contudo, no verso 13 o “eu” faz
a mesma citação, mas com um significado distinto, despertando a sua dor resultante da
consciência da irrecuperabilidade do passado.

A partir do verso 11 o “eu” entra numa fase metafísica, ou seja, entra numa fase em que
começa efetivamente a pensar. Porém, o verso 12 (“Meu Deus, que fiz eu da vida?”) tem
presente uma interrogação, que desperta no sujeito poético um momento de reflexão, sendo
através desta questionação que Álvaro de Campos se aproxima dos seus leitores. Esta
insistência constante dele traduz-se numa forte dor, o que nos distancia da fase futurista
presente nos grandes poemas cheios de vida e vitalidade.

Em suma, o heterónimo de Fernando Pessoa divide a sua poesia em 3 fases, estando presente
neste poema a fase abúlica.

Correção:

O poema “Que noite serena!” ilustra claramente uma fase poética de Álvaro de Campos (que se
afasta do amplo fôlego) que se afasta da “Ode Triunfal”, exemplo do cantar laudatório do
triunfo da máquina, numa perspetiva futurista e sensacionista.

Agora, distanciado da vivência exacerbada das sensações, regressa a si mesmo e ao ato de


pensar. Assim, depois de constatar que o tempo “matou” a sua “infância sem o futuro
pensado” (v.8) e o “sossego” e a serenidade conferidos pela harmonia familiar, questiona o
absurdo da sua existência (“Que fiz eu da vida?”, v.12). Ainda assim, o passado não é
totalmente anulado, mas sim presentificado através da memória de uma cantiga que o
atormenta, pois essa ligação a um tempo irrecuperável causa-lhe dor (“E dói, dói, dói…”, v.17)

Concluindo, Campos, doente do vício de pensar, como o seu criador Fernando Pessoa,
intelectualiza as vivências experimentadas e revela, então, um profundo abatimento,
desencanto e cansaço em relação à vida.

You might also like