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CADERNO SUSTENTAR Gestao de Sistemas de Esgotamento Sanitario em Areas Rurais
CADERNO SUSTENTAR Gestao de Sistemas de Esgotamento Sanitario em Areas Rurais
Caderno
Didático/Técnico
para Curso de Gestão de
Sistemas de Esgotamento
Sanitário em áreas rurais do Brasil
Programa
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Saneamento e Sustentabilidade em Áreas Rurais IT
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FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
Caderno
Didático/Técnico
para Curso de Gestão de
Sistemas de Esgotamento
Sanitário em áreas rurais do Brasil
Funasa
Brasília, 2020
2020. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde.
Essa obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Com-
partilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra,
desde que citada a fonte. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens dessa obra é da área
técnica. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da
Saúde: <http://www.saude.gov.br/bvs>; e na Biblioteca Virtual do Departamento de Engenharia de Saúde Pública, no Portal da Fundação
Nacional de Saúde: <http://www.funasa.gov.br/site/publicacoes/>
Ficha Catalográfica
Brasil. Fundação Nacional de Saúde.
Caderno didático técnico para curso de gestão de sistemas de esgotamento sanitário em áreas rurais do Brasil / Fundação Nacional
de Saúde. – Brasília : Funasa, 2020.
53 p.
ISBN 978-65-5603-004-3
Caderno
Didático/Técnico
para Curso de Gestão de
Sistemas de Esgotamento
Sanitário em áreas rurais do Brasil
IÇÃ
IBU O
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IT
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Brasília – DF
2020
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
MS – Ministério da Saúde
Apresentação 6
Referências 52
Apresentação
Com base nesse contexto, a Funasa instituiu, na Portaria nº 3.069, de 21 de maio de 2018,
o Programa Sustentar, fundamentado nas seguintes diretrizes orientadoras:
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 7
CAPÍTULO
01 Introdução
Objetivos do capítulo
• Realizar abordagem inicial sobre a contribuição
da atividade de gestão no saneamento básico.
• Discutir sobre a finalidade e as consequências
da construção de sistemas e soluções de
tratamento de esgotos.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 9
de oficinas de educação em saúde ambien- tas metodológicas para sensibilizar e capaci-
tal, de capacitação dos gestores municipais, tar os gestores municipais em sua tarefa de
técnicos e representantes das comunidades orientar a população rural.
atendidas em gestão e nas atividades de ope-
ração e manutenção dos sistemas de sanea- A composição e os tipos
mento básico.
de esgotos
A finalidade da capacitação de técnicos mu- Os esgotos ou águas residuárias são o volu-
nicipais e da comunidade rural na gestão me de água remanescente de atividades do-
das suas soluções de esgotamento sanitário mésticas ou industriais, como o banho, des-
é a formação de um grupo de trabalho local carga do vaso sanitário, limpeza de roupas
responsável por assegurar a prestação dos e louças, processos produtivos, etc. Dessa
serviços implementados de modo sustentá- forma, os esgotos podem ser classificados
vel. O processo deve envolver a comunidade como esgotos domésticos ou esgotos indus-
nas ações educativas em saúde ambiental, triais, de acordo com a sua origem.
integrando-os nas fases de planejamento,
execução, manutenção e avaliação das inter- Além da água, o esgoto reúne numerosas
venções de esgotamento sanitário propos- substâncias e micro-organismos que alte-
tas. Além disso, as intervenções propostas ram suas características físico-químicas e
devem assegurar o acesso ao esgotamento biológicas, como matéria orgânica, sólidos
para toda a comunidade atendida, sem discri- em solução ou suspensão, micro-organismos
minação, soluções física e economicamente patogênicos e não patogênicos, resíduos tó-
acessíveis, de forma segura, higiênica, social xicos e nutrientes que podem contaminar o
e culturalmente aceitável, promovendo priva- meio ambiente e oferecer risco à saúde da
cidade e dignidade (BRASIL, 2018c). população (Figura 1). Devido ao seu potencial
poluidor, é imprescindível que o esgoto seja
Portanto, este caderno tem como objetivo coletado e tratado antes de ser lançado no
apresentar aos técnicos da Funasa ferramen- meio ambiente.
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Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 11
(efluente) tratada, em conformidade com os a profundidade do lençol freático e as carac-
padrões prescritos pela legislação ambiental. terísticas do solo em locais utilizados para o
fim de disposição. Desse modo, o conjunto
Por que tratar os esgotos? de soluções individuais de uma comunidade
rural se comporta como um sistema descen-
Remoção de matéria orgânica
Remoção de nutrientes tralizado de esgotos, reduzindo custos com
Remoção de organismos patogênicos o transporte dos esgotos gerados (SENS;
Remoção de sólidos em suspensão ou SEZERINO; CAPANEMA, 2014).
dissolvidos
Remoção de compostos não biodegradá- Após passar pelo tratamento de esgotos nos
veis
Remoção de metais pesados sistemas e soluções individuais, os efluen-
tes do processo devem atender aos padrões
de lançamento no ambiente previstos na le-
Os sistemas e as soluções gislação ambiental (para regulamentação e
limitação do lançamento de impurezas nos
individuais de tratamento corpos d’água). Além disso, a legislação es-
de esgotos tabelece também os padrões de classifica-
ção dos corpos d’água para determinação da
O tratamento de esgotos pode ocorrer em sis- qualidade ambiental a ser mantida no curso
temas coletivos de tratamento ou soluções d’água em função do seu uso estabelecido.
individuais (geralmente para um único domi- Esses padrões são importantes para garantir
cílio). Um sistema coletivo de esgotamento os usos previstos nos corpos d’água e evita
sanitário convencional é constituído de redes a ocorrência de conflitos pelo direito de usos
coletoras dos esgotos gerados nos domicílios da água.
(ou outras instalações prediais), canalizações
interceptoras, estações elevatórias e Estação Em nível nacional, esses padrões estão es-
de Tratamento de Esgotos – ETE (Figura 3). tabelecidos por resoluções do Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama):
Enquanto, uma solução individual (comumen-
te empregada nas áreas rurais) é caracteriza- • Resolução Conama nº 357/2005, que dis-
da pela realização da etapa do tratamento no põe sobre a classificação dos corpos de
próprio domicílio, de modo que os esgotos água e diretrizes para o seu enquadramen-
coletados na residência são conduzidos para to, bem como estabelece as condições e
uma unidade de tratamento ou várias (Figura padrões de lançamento de efluentes.
4). A disposição final também poderá ser rea- • Resolução Conama nº 396/2008, que dis-
lizada no próprio domicílio, considerando-se põe sobre a classificação e diretrizes am-
bientais para o enquadramento das águas quais serão abordados a partir da página 23
subterrâneas. do Capítulo 3).
• Resolução Conama nº 430/2011, que dis-
põe sobre condições e padrões de lança-
Tratamento preliminar
mento de efluentes, complementa e altera No início do tratamento em estações de tra-
a Resolução Conama nº 357/2005. tamento de esgotos, o esgoto é submetido a
processos físicos de remoção de sólidos de
maiores dimensões (sólidos suspensos) e
Níveis de tratamento de sólidos decantáveis (areia e gordura), como
esgotos o gradeamento que pode ser composto por
grades finas, grosseiras e/ou peneiras meca-
O tratamento de esgotos nos sistemas cole- nizadas; as caixas de areia que têm a função
tivos pode ser classificado em diferentes fa- de remoção da areia presente no efluente; e, a
ses ou níveis, como: preliminar, primário, se- calha Parshall para a medição da vazão que
cundário e terciário. Essa classificação se dá entra na estação de tratamento.
conforme o processo unitário utilizado para
remoção de poluentes e pelo tipo de poluen- Além das unidades de tratamento preliminar,
tes que se pretende remover. comuns na entrada de estações de tratamen-
to, nas saídas das redes de esgoto dos domi-
Nas soluções individuais as fases de trata- cílios ou indústrias as denominadas caixas
mento podem ser conjugadas em uma ou de gordura são utilizadas para retenção de
várias unidades de tratamento. Entretanto, cargas poluentes de gorduras e óleos.
ressalta-se que a simplificação de operação
do tratamento nas soluções individuais não Resumidamente, a gestão da prestação dos
deve implicar o descumprimento dos padrões serviços públicos e soluções de esgotamen-
de lançamento no meio ambiente. to deve coordenar os trabalhos de limpeza
e manutenção da integridade física das
Durante a discussão desse tópico, é impor- unidades de tratamento preliminar, além de
tante que o instrutor demonstre que os diver- realizar a destinação final dos resíduos do
sos níveis de tratamento de esgotos têm di- tratamento.
ferentes requisitos de gestão operacional (os
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 13
Tratamento primário tipo lagoas de estabilização, filtros biológicos,
reatores anaeróbios de fluxo ascendente e lo-
Nessa etapa os sólidos em suspensão no dos ativados. Dependendo da configuração
efluente (e, em decorrência, parte da maté- do tratamento, a matéria orgânica ainda pre-
ria orgânica), não removidos pelo tratamen- sente no efluente, após os reatores biológicos,
to preliminar, são separados do efluente por pode sofrer um processo de sedimentação
sedimentação, em unidades denominadas nos designados decantadores secundários.
como decantadores primários. A eficiência A eficiência do tratamento secundário pode
desssa etapa de tratamento pode atingir 60% chegar a 95% ou mais dependendo da ope-
de remoção ou mais, de acordo com o tipo de ração e da tecnologia utilizada (INSTITUTO
tratamento e a operação da estação de tra- TRATA BRASIL, 2012).
tamento (por exemplo, a adição de produtos
químicos permite a formação e remoção de
Tratamento terciário
flocos maiores de poluentes) (MINISTÉRIO Após o tratamento secundário, os efluentes
DAS CIDADES, 2008). ainda contêm uma quantidade muito redu-
zida de matéria orgânica remanescente, po-
Resumidamente, destaca-se que, a partir do dendo, na maioria dos casos, serem lançados
nível primário de tratamento, a gestão da no meio ambiente receptor caso estejam de
prestação dos serviços públicos e soluções acordo com o padrão de lançamento, mesmo
de esgotamento deve monitorar rotineira- com uma quantidade de micro-organismos e
mente a eficiência das tecnologias de trata- nutrientes ainda presentes (MINISTÉRIO DAS
mento, além de realizar a limpeza e manuten- CIDADES, 2008).
ção da integridade estrutural das unidades de
tratamento e a destinação final dos resíduos Desse modo, nos casos que se fizer necessá-
do tratamento (lodo, escuma e resíduos de rio, antes do lançamento final do efluente tra-
meios filtrantes). tado no corpo receptor, é comum submeter
as águas residuais a um nível mais elevado
Tratamento secundário de tratamento, por meio de processos como
O tratamento secundário é usualmente um desinfecção, filtração, aeração, precipitação
processo biológico no qual a matéria orgâ- química ou troca iônica, para a remoção de
nica é consumida, por micro-organismos micro-organismos patogênicos, determina-
aeróbios, anaeróbios e/ou facultativos, em dos nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo,
tanques denominados como reatores bioló- e remoção de metais pesados e outros po-
gicos. Os principais reatores utilizados são do luentes específicos.
02
Gestão do
esgotamento sanitário
em áreas rurais
Objetivos do capítulo
• Descrever as funções de gestão dos serviços
públicos de esgotamento sanitário.
• Propor o modelo de gestão compartilhada
dos serviços e soluções de esgotamento do
Programa Sustentar.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 15
ações, públicas e privadas, por meio das cepção de gestão compartilhada e integrada
quais o serviço público deve ser prestado coletivamente com a comunidade. Salienta-
ou colocado à disposição de forma ade- se que o suporte à gestão preconizado pelo
quada. Programa Sustentar abrange as atividades de
• Regulação: todo e qualquer ato que dis- gestão da prestação dos serviços públicos e
cipline ou organize determinado serviço soluções de saneamento.
público, incluindo suas características,
padrões de qualidade, impacto socioam- As outras funções da gestão devem ser tra-
biental, direitos e obrigações dos usuários balhadas em articulação com outros pro-
e dos responsáveis por sua oferta ou pres- gramas da instituição e de outros órgãos
tação e fixação e revisão do valor de tari- governamentais.
fas e outros preços públicos.
• Fiscalização: atividades de acompanha- Desse modo, o Programa Sustentar pro-
mento, monitoramento, controle ou avalia- põe que os técnicos das Superintendências
ção, no sentido de garantir o cumprimento Estaduais da Funasa estejam capacitados
de normas e regulamentos editados pelo para apoiar os municípios de seu estado no
poder público e a utilização, efetiva ou po- desenvolvimento de ações de gestão da pres-
tencial, do serviço público. tação dos serviços de esgotamento sanitário
• Prestação de serviço público de sanea- nas áreas rurais e comunidades tradicionais,
mento básico: atividade, acompanhada de forma integral e articulada com a gestão
ou não de execução de obra, com objetivo municipal.
de permitir aos usuários acesso a serviço
público de saneamento básico com carac- Gestão compartilhada dos
terísticas e padrões de qualidade determi-
nados pela legislação, planejamento ou
serviços e soluções de
regulação. esgotamento
Com relação à gestão da prestação do servi- Com relação à gestão dos serviços e solu-
ço público de saneamento, é importante res- ções de saneamento, o Programa Nacional
saltar que a Lei nº 11.445/2007 considera no de Saneamento Rural – PNSR propõe a ges-
Art. 5º que “não constitui como serviço público tão multiescalar. Na visão proposta, “cada se-
a ação de saneamento executada por meio de tor da sociedade, do usuário ao Poder Público
soluções individuais, desde que o usuário não Federal, detém responsabilidades sobre
dependa de terceiros para operar os serviços, ações e políticas desenvolvidas” para a pres-
bem como as ações e serviços de saneamento tação adequada dos serviços e soluções de
básico de responsabilidade privada, incluindo o saneamento (BRASIL, 2018b).
manejo de resíduos de responsabilidade do ge-
rador” (BRASIL, 2007). O documento orientador do Programa
Sustentar propõe, por sua vez, que os mode-
Com base nesse contexto, conforme o do- los de gestão da prestação dos serviços e so-
cumento orientador do Programa Sustentar luções: i) sejam compatíveis à realidade dos
(BRASIL, 2018c), a proposta do programa “in- municípios e das comunidades rurais; ii) pro-
corpora a compreensão da gestão dos servi- piciem o compartilhamento de responsabili-
ços de saneamento, com todos os aspectos dades entre os usuários e os entes públicos;
inter-relacionados – social, econômico, am- e, iii) oportunizem o fortalecimento da capaci-
biental, educativo e participativo”. Além disso, dade dos municípios em atuar em saneamen-
procura-se no programa atuar de forma sis- to e saúde ambiental nas áreas rurais. Desse
têmica, fortalecendo os municípios na con- modo, o Programa Sustentar aponta que:
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 17
que se torna protagonista de sua própria his- Como demonstrado na Tabela 1 essa cola-
tória e assume aquilo que é seu, se envolve boração deve ocorrer em diversos proces-
na implementação e continuidade das ações sos e atividades. Assim, para materialização
(BRASIL, 2018c). desse nível de participação e apropriação, o
Programa Sustentar deve fomentar a cons-
O PNSR estabeleceu de modo semelhante a trução conjunta de valores, saberes, conhe-
figura do “operador domiciliar”, o qual terá cimentos técnicos e práticas cotidianas,
como responsabilidade “colaborar nas ativida- que estão estabelecidas na proposta peda-
des de operação e manutenção rotineira das so- gógica das oficinas de educação em saúde
luções no nível do domicílio” (BRASIL, 2018b). ambiental.
Isso posto, é importante aqui ressaltar que Nesse sentido, o Programa Sustentar prevê
tanto o Sustentar como o PNSR estabelecem que “em relação às comunidades onde serão
que é responsabilidade das instituições pú- implantados os serviços e ações, a Funasa es-
blicas e prestadores de serviços o papel de timulará a formação de associações ou organi-
apoio dessas ações, particularmente onde se zações sociais legitimadas onde não houver, e
faz necessário um “conhecimento técnico, tais o fortalecimento das que existirem, quando se
como o monitoramento do funcionamento e das fizer necessário” (BRASIL, 2018c). Ressalta-se
condições físicas e estruturais das instalações aqui a compreensão de que os projetos de es-
e o controle da qualidade da água” (BRASIL, gotamento sanitário precisam considerar os
2018b). aspectos de organização e participação co-
munitária localmente desde o início das ações,
Nível local construindo assim as bases de sustentação
para a apropriação dos futuros usuários.
A possibilidade de articulação entre os
principais atores dos serviços, principal- O envolvimento da comunidade é fundamental
mente dos gestores municipais com os para garantir que as soluções dos projetos de
cidadãos, por meio de suas estruturas or- esgotamento adotadas sejam adaptadas às
ganizacionais (associações comunitárias, necessidades e características locais. Assim,
comissões, sindicatos, comitês, etc.), con- após o nível domiciliar, o PNSR estabelece a
tribui para a democratização na gestão e figura do “operador local”, o qual é peça chave
na busca da sustentabilidade dos serviços para o sucesso de qualquer ação na comuni-
de esgotamento sanitário. A gestão com- dade. A escolha de um operador local, devida-
partilhada oferece a oportunidade para mente instruído e apoiado pelo nível municipal
que o poder de decisão das comunidades de gestão, contribui para a continuidade das
seja manifestado nas assembleias das as- ações mesmo frente as constantes mudanças
sociações comunitárias. de gestão dos municípios (BRASIL, 2018b).
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 19
Órgão da
Centralizada administração
direta
Empresa pública
Descentralizada
Sociedade de
economia mista
Fundação
Indireta Licitação
Contrato de
(delegação) concessão
Consórcio
público
Gestão Contrato de
associada programa
Convênio
cooperação
1 O consórcio instituído para prestação de serviços públicos não pode realizar as funções anteriores (planejamento)
e posteriores à prestação dos serviços (fiscalização e regulação).
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 21
CAPÍTULO
Alternativas
03 tecnológicas para o
tratamento de esgotos
em áreas rurais
Objetivos do capítulo
• Auxiliar o processo de escolha das alternativas
tecnológicas a serem utilizadas nas
comunidades rurais.
• Apresentar uma compilação das soluções
tecnológicas para o esgotamento sanitário.
• Discutir sobre a gestão operacional das
soluções e sistemas de esgotamento.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 23
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Excretas Fossa seca
Lençol profundo
Círculo de bananeira
Fertirrigação
Águas cinzas subsuperficial
Wetland
Corpo d’água
Sem disponibilidade
hídrica
Uso agrícola
Excretas Fossa seca(1) Higienização(2)
Aterramento
Lençol raso Círculo de bananeira
Fertirrigação
Águas cinzas subsuperficial
Wetland
Unidade de
gerenciamento
de lodo
Vala de infiltração
Individual
Sumidouro
Fertirrigação
Infiltração rápida
Rampa de
escoamento
Tanque séptico
Wetland
Reator anaeróbico
compartimentado Lagoa de Fertirrigação
polimento
Filtro anaeróbico
Filtro biológico
percolador
Rede Fertirrigação
Com convencional
Tratamento Wetland vertical
Lagoa
anaeróbica
Lagoa de
Lagoa maturação
Facultativa Fertirrigação
Corpo d’água
Tomada de decisão
OBS:
Fase líquida
- Para pequenos sistemas coletivos, que irão atender um número reduzido de domicílios, verificar as alternativas
tecnológicas da matriz de soluções individuais. Fase sólida
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil
25
ACUMULAÇÃO DE ESCUMA (FRAÇÃO EMPRESA)
ACUMULAÇÃO DE ESCUMA (FRAÇÃO SUBMERSA)
LIQUÍDO EM
SEDIMENTAÇÃO
PARTÍCULAS
LEVES FLUTUAM PARTÍCULAS
PESADAS
SEDIMENTAM
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
Operação e • Limpeza da área no entorno da unidade. Operador
manutenção rotineira • Desobstrução de caixas e tubulações. domiciliar
2 Apesar de outras tentativas de nomenclatura como RAFA, DAFA, RALF, RAFAAL, RAFAMAL e outras.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 27
QUEIMADOR
CAIXA DE DE GASES
ENTRADA
CAIXAS
DISTRIBUIDORAS
CANALETAS DE COLETA DA VAZÃO TUBULAÇÃO COLETOR
AFLUENTE TUBOS DE GASES
DO EFLUENTE ALIMENTADORES
CORTINAS
TUBO DE
DESCARGA
DO LODO
MANTA DE LODO
(FLOCOS)
COLCHÃODE LODO
(GRÂNULOS)
de secagem para retirada do excesso de água lizados de forma isolada. Essa associação
e posterior encaminhamento a um aterro sa- ocorre para atendimento aos padrões da
nitário (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008). legislação ambiental de lançamento de es-
gotos, de modo a aumentar a eficiência de
Os UASB são considerados reatores de alta remoção de matéria orgânica (usualmente
taxa, pois operam com elevadas taxas de entre 60% e 70% no UASB para valores supe-
carregamentos orgânicos aplicados por dia riores a 90% de remoção de DBO com o pós-
(DBO/dia) e reduzidos tempos de detenção -tratamento), além de possibilitar a remoção
hidráulica, em comparação a outras tecnolo- de micro-organismos patogênicos e de nu-
gias. Essa característica permite que ocupem trientes. As unidades de tratamento mais
áreas reduzidas comparativamente a outros comuns nessas associações são as lagoas
sistemas de tratamento. de polimento (ou lagoas de maturação),
wetlands construídos, filtros anaeróbios e fil-
Os critérios de dimensionamento dos reato- tros biológicos percoladores.
res UASB observam principalmente a norma
técnica NBR 12209:2011 (Elaboração de pro- A Tabela 6 lista os requisitos de gestão da
jetos hidráulico-sanitários de estações de tra- operação e manutenção dos reatores UASB,
tamento de esgotos sanitários) da ABNT. os quais devido a sua complexidade opera-
cional e requisitos mínimos de projetos de-
Os reatores UASB geralmente são utiliza- vem ser adotados somente como solução
dos em conjunto com outras unidades de coletiva.
pós-tratamento, apesar de poderem ser uti-
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
• Limpar a área de entorno das unidades.
• Desobstruir as caixas e tubulações.
Operação e
• Monitorar e garantir a eficiência das unidades. Operador local /
manutenção
• Inspecionar a integridade física e estrutural municipal
rotineira
das unidades.
Coletiva • Monitorar e reparar o cercamento da ETE.
• Remover, tratar e destinar a escuma.
Operação e
• Remover, secar, tratar e destinar o excesso de Operador local /
manutenção não
lodo. municipal
rotineira
• Tratar e destinar os resíduos removidos.
Fonte: Adaptado de Brasil (2018b).
CORPO
RECEPTOR
GRADE CAIXA MEDIÇÃO LAGOA ANAERÓBICA LAGOA FACULTATIVA
DE AREIA DE VAZÃO
fase fase
sólida sólida
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 29
Entretanto, uma grande dificuldade é o requisi- bilização, os quais devido a sua complexidade
to de grandes áreas para sua construção. operacional e requisitos mínimos de projetos
devem ser adotadas somente como solução
A Tabela 7 lista os requisitos de gestão da coletiva.
operação e manutenção das lagoas de esta-
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
3 Padronizou-se neste caderno a utilização do termo mais amplamente difundido “wetland construído”, mas ressalta-
-se que também é adotado no Brasil os termos: sistema alagado construído, filtro plantado com macrófitas, zona
de raízes, terras úmidas construídas, leitos cultivados, biofiltros com macrófitas, entre outros.
4 Ao analisar trabalhos brasileiros publicados entre 1998 e 2011, Sezerino et al. (2015) aponta que a Typha spp (ta-
boa) se destaca como sendo a macrófita mais empregada, seguida de Eleocharis spp (junco) e Zizaniopsis spp.
afluente
impermeabilização
efluente tratado
Como apontado por Sezerino et al. (2015), necessária para a prevenção da eutrofização
devido à diversidade de variações e combi- causada pelo excesso de despejo de nitrogê-
nações de utilização aplicáveis aos wetlands nio nos mananciais hídricos receptores e para
construídos, não há ainda no país uma ten- a redução do impacto sobre a biota aquática,
dência de padronização de uso, critérios de devido à toxicidade de alguns compostos
dimensionamento e operação, assim como nitrogenados, como a amônia. O oxigênio
da composição do material filtrante e das demandado no processo de tratamento é for-
plantas a serem utilizadas. Apesar dessa necido pelas macrófitas e por trocas efetua-
dificuldade, o autor classifica os wetlands das com a atmosfera (convecção e difusão
construídos em dois grandes agrupamentos, atmosférica) (PHILIPPI et al., 2007).
que são: (1) wetlands de escoamento super-
ficial (com plantas emergentes, submersas, Os wetlands são mais utilizados no Brasil
flutuantes ou com folhas flutuantes) e (2) associados a outras unidades de tratamen-
wetlands de escoamento subsuperficial (ver- to de esgotos sanitários (funcionando como
tical ascendente, descendente, com ciclos de unidades de tratamento secundário ou ter-
inundação e esvaziamento; horizontal; híbri- ciário), em periferias de centros urbanos e
do horizontal e vertical). áreas rurais. A associação de fossas sépticas
(tratamento primário) seguida por wetlands
Os princípios básicos do tratamento nos construídos (tratamento secundário), têm
wetlands construídos abrangem a (1) fil- mostrado adaptabilidade à diferentes situa-
tração de partículas sólidas do efluente e ções e arranjos, apresentando elevado de-
(2) a depuração da matéria orgânica e re- sempenho de tratamento e viabilidade para
moção biológica do nitrogênio, nitrificação utilização em áreas rurais do país (PHILIPPI
e desnitrificação, que ocorrem no interior et al., 1999 apud BELLI FILHO et al., 2007).
do biofilme formado por microrganismos
anaeróbios, aeróbios e anóxicos, aderido a A Tabela 8 lista os requisitos de gestão da
um meio suporte e aos rizomas das plantas operação e manutenção dos wetlands cons-
(SEZERINO et al., 2015). truídos adotados como solução individual e/
ou coletiva.
A remoção do nitrogênio do efluente, com en-
vio da forma gasosa para a atmosfera, faz-se
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 31
Tabela 8 – Requisitos de gestão operacional de wetlands construídos
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
Operação e
• Limpeza da área no entorno da unidade.
manutenção
• Desobstrução de caixas e tubulações.
rotineira Operador
domiciliar
• Monitoramento das condições físicas e
estruturais da unidade.
Individual
• Monitoramento das condições de
Operação e funcionamento da unidade.
manutenção não • Manejo das plantas.
Operador local /
rotineira • Substituição da vegetação e meio filtrante em
municipal
caso de entupimento
• Destinação dos resíduos vegetais.
Operação e
• Manutenção dos aterros. Operador local /
manutenção não
• Corte das plantas e sua destinação adequada. municipal
rotineira
Carousel Style
Composting Toilet Tubo de ventilação Parede
vent extends above roof
Assento
Joelho 90º
Tampa
0,40
Piso
0,70
0,24
Terreno Manivela
0,70
cutaway view
0,46
0,20
A B D
Alvenaria Chaminé
Chapa ferro (preta)
Piso do banheiro
Rampa Concreto
Portas para
2,50 m Alvenaria inspeção
2,00 m
2,50 m 1,00 m
C
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 33
Tabela 9 – Requisitos de gestão operacional de banheiros com fossas secas
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
matéria orgânica, como em uma câmara de áreas dos domicílios rurais que utilizam fossas
digestão anaeróbia5; enquanto nas camadas sépticas tradicionais. Os nutrientes são mine-
intermediária e superior, ocorre a decomposi- ralizados e retirados do sistema ao serem in-
ção aeróbia, a mineralização, a absorção dos corporados na biomassa das plantas. A manu-
nutrientes e a evapotranspiração da água pe- tenção do sistema consiste basicamente em
los vegetais, como em um sistema wetlands podas, retirada do excesso de mudas e plantas
construído de fluxo subsuperficial. secas, e colheita de frutos (GALBIATI, 2009;
IPEC, [S.d.]).
Desse modo, o TEvap simplifica o processo
de tratamento de tecnologias tradicionais, Conforme Benjamin (2013) e Paulo e Bernardes
as quais necessitam de um pré-tratamento (2009), as vantagens da utilização dos tanque
para a redução de matéria orgânica e sólidos de evapotranspiração para tratamento de
e de pós-tratamento para eliminação do ex- águas residuárias são: i) a qualidade e segu-
cesso de nutrientes e patógenos, antes da rança do tratamento; ii) o pouco investimento
disposição final no solo ou em corpos d’água inicial e a dispensa de muita manutenção; iii) a
(GALBIATI, 2009). utilização de materiais descartados, como en-
tulhos e pneus, tornando-o ambientalmente e
Como não há saída de água, seja para filtros economicamente viável; iv) não contribui para
ou sumidouros, elimina-se a problemática tão a degradação visual do local; v) o tratamento
comum de contaminação do solo e dos ma- funciona sem a adição de produtos químicos;
nanciais de água, largamente encontrada nas vi) não é necessário o pré ou pós-tratamen-
5 Dessa forma, o dimensionamento da câmara de pneus na parte inferior do tanque de evapotranspiração deve
seguir as orientações da NBR 7229:1993.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 35
to do efluente, como em outros sistemas de maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana);
tratamento. lírio-do-brejo (Hedychium coronarium); caeté-
-banana (Heliconia spp.) e junco (Zizanopsis
Com relação as espécies vegetais plantadas bonariensis).
na parte superior do tanque, Galbiati (2009)
recomenda para introdução no TEvap as A Tabela 10 lista os requisitos de gestão da
seguintes plantas: bananeiras (Musa sp.); operação e manutenção dos tanques de eva-
inhames e taiobas (Colacasia sp.); mamoei- potranspiração, os quais devido aos critérios
ros (Carica papaya); plantas ornamentais máximos de projetos devem ser adotados so-
como copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica); mente como solução individual.
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
Gestão
Categoria Ações de operação e manutenção Responsáveis
operacional
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 37
CAPÍTULO
04
Experiências
de esgotamento
rural no Brasil
Objetivos do capítulo
• Apresentar referências de boas iniciativas de
gestão em esgotamento sanitário nas áreas
rurais de diversas regiões do Brasil.
6 A meta de universalização no município de São Ludgero foi alcançada no Dia Mundial da Água, em 22 de março de
2018, segundo informações da Prefeitura Municipal.
Ф100
Ф100
83
83
PEDAÇOS DE BAMBU
60
Ф
TAMPA FURADA
FOSSA FOSSA
FUNDO FALSO
DEPÓSITO DE LÍQUIDO
20
CALÇO
FILTRO
FILTRO
Ф40
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 39
des rurais de São Ludgero, iniciou-se no ano Municipal pela prefeitura de São Ludgero. A
de 2006 a implantação dos primeiros módu- Lei Municipal nº 1.749 sancionada em 29 de
los de fossas sépticas nas áreas rurais com agosto de 2011 autorizou a doação de fossas
incentivo do projeto Microbacias 2 da Epagri sépticas à população rural do município, uti-
(Figura 22), da Prefeitura Municipal, em par- lizando recursos orçamentários da Vigilância
ceria com o Samae, e que posteriormente re- Sanitária, garantindo o investimento anual
cebeu apoio financeiro da Vigilância Sanitária para a ação.
municipal (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO
LUDGERO, 2014). Peters e Comelli (2017), A lei, por sua vez, foi regulamentada pelo
por sua vez, ressaltam que essa implanta- Decreto Municipal nº 681/2011 que estabe-
ção dos sistemas individuais de tratamento leceu as normas e critérios para as doações.
de esgotos nas áreas rurais se iniciou em A análise dos documentos foi estabelecida
especialmente para proteção das nascentes como responsabilidade conjunta da Vigilância
utilizadas para abastecimento de água do Sanitária municipal e do Samae. Enquanto a
perímetro urbano de São Ludgero, além do instalação dos kits ficaria a cargo da parce-
grande número de jovens residentes nas co- ria Epagri, Prefeitura Municipal, seguindo as
munidades rurais (Figura 23). diretrizes do projeto Microbacias. Ressalta-
se que o Decreto nº 681/2011 estabeleceu
que, entre os documentos necessários para
a solicitação das fossas, deveria ser entregue
uma declaração assinada pelo morador res-
ponsabilizando-se pela manutenção da fossa
séptica.
O trabalho de instalação das fossas foi forta- Figura 24 – Logo do projeto lançado em 2015.
lecido em 2011 com a publicação de uma Lei Fonte: Volpato e Schurohff (2017).
O Projeto Sanear Amazônia com a im- tiva possibilitar para as comunidades de re-
plantação de tecnologias sociais como: o servas extrativistas da Amazônia o acesso ao
“Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso abastecimento de água e esgotamento sani-
Comunitário” e o “Sistema de Acesso à Água tário (MCM, 2015).
Pluvial Multiuso Autônomo” (Figura 25), obje-
1.000 L
5.000 L
NÍVEL DO SOLO
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 41
O sistema unifamiliar, para atendimento de (Figura 28 e Figura 29), com quatro pontos de
famílias isoladas, utilizado no Sanear con- uso (pia, chuveiro, vaso sanitário e pia de cozi-
siste em: i) uma estrutura para captação de nha) e uma fossa. Os sistemas comunitários,
água de chuva no telhado (Figura 26); ii) um com capacidade de 15 mil litros, construídos
reservatório elevado de 1.000 litros, com uma quando há proximidades de pelo menos seis
unidade de filtração lenta; iii) um reservatório residências incluem unidades de captação,
complementar de 5.000 litros (Figura 27); e tratamento e redes distribuição comunitárias
iv) uma Instalação Sanitária Domiciliar – ISD (Figura 30 e Figura 31).
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 43
Tabela 12 – Metas de atendimento do Projeto Sanear Amazônia
Famílias
UF RESEX Área (ha) Municípios
atendidas
AC Chico Mendes 931.537,14 500 Xapuri, Rio Branco, Brasileia e Assis Brasil
AP Rio Cajari 532.397,20 500 Laranjal do Jari e Mazagão
Médio Juruá 251.577,13 500 Carauari
AM
Baixo Juruá 187.980,70 170 Juruá e Uariní
Arióca Pruanã 83.445,125 260 Oeiras do Pará
Mapuá 93.746,34 300 Breves
PA
Soure 29.578,36 200 Soure
Terra Grande Pracuúba 194.867,63 370 Curralinho e São Sebastião da Boa Vista
Área total 2.305.129,63 2.800 14 municípios
Fonte: MCM (2015).
7 A proximidade justifica-se pela necessidade de proporcionar maior conforto e segurança dos usuários no uso
das instalações sanitárias. Além disso, a fonte de água dos banheiros é a água da chuva captada nos telhados e
armazenada nos reservatórios de 1000L e 5000L.
1.80
1.80
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 45
Figura 35 – Fossa construída Figura 36 – Desenho ilustrativo do
em terreno de várzea. posicionamento da fossa.
Fonte: FBB (2017). Fonte: FBB (2017).
truídas foi utilizada uma horta em mandala rial de cobertura dos dejetos (material orgâ-
ou um círculo de bananeira para destino da nico para compostagem e terra fina com cal
urina, da água da pia e do chuveiro. para desidratação). O processo de desidrata-
ção é recomendado por Cepagro (2013) para
Com relação aos processos de sanitização, regiões muito secas, onde seja complicado
os banheiros do programa Cepagro/Cedapp conseguir os materiais orgânicos ricos em
utilizaram dois métodos: compostagem ou carbono e o teor de umidade necessários
desidratação e alcalinização. De acordo com para que a pilha de compostagem funcione
o método escolhido foi selecionado o mate- adequadamente.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 47
A Tabela 13 descreve todas as etapas de trabalho do projeto em Pernambuco entre os anos de
2008 e 2013 no município de Pesqueira.
Objetivo: Compartilhar e nivelar conhecimentos sobre as atribuições e atividades da Funasa em apoio à gestão de sistemas de esgotamento sanitário
no âmbito de atuação do Programa Sustentar
Público: Técnicos do Núcleo Intersetorial de Cooperação Técnica (NICT) da Fundação Nacional de Saúde
Recurso Tempo
Objetivo Específico Conteúdo Específico Metodologia Desenvolvimento
didático sugerido
• Interagir com o grupo • Apresentação e dinâmica de • Dinâmica de • Análise do Perfil Comportamental • Papel, • 1 hora
• Estimular a iniciativa com grupo Integração • Apresentação dos participantes com caneta, lápis,
respeito as diferenças • Participativa levantamento de expectativas borracha,
• Estimular o trabalho em • Dinâmica de grupo equipamento
equipe multimídia
Almoço
Recurso Tempo
Objetivo Específico Conteúdo Específico Metodologia Desenvolvimento
didático sugerido
• Apresentação geral sobre o • Documento orientador do • Expositiva e • Apresentar estratégias para alcance da • Equipamento • 30 minutos
Programa Sustentar Sustentar e Portaria Funasa participativa sustentabilidade das ações e dos serviços multimídia
nº 3.069, de 21 de maio de de saneamento e saúde ambiental e fornecer
2018 diretrizes para atuação, no âmbito da Funasa, em
áreas rurais e comunidades tradicionais.
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil
49
50
Oficina – Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais no Programa Sustentar
• Conhecer os objetivos • Objetivos da oficina de • Expositiva e • Apresentação dos objetivos • Equipamento • 15 minutos
do curso de gestão de gestão participativa multimídia
esgotamento no Programa
• Sustentar
• Módulo I – Parte I • Os sistemas e soluções de • Expositiva e • A composição e os tipos de esgotos. • Equipamento • 1 hora
esgotamento sanitário participativa • A importância dos serviços de esgotamento. multimídia
Intervalo 15 minutos
• Módulo I – Parte II • Os sistemas e soluções de • Expositiva e • A composição e os tipos de esgotos. • Equipamento • 1 hora
esgotamento sanitário participativa • A importância dos serviços de esgotamento. multimídia
• Os sistemas e as soluções individuais de
tratamento de esgotos.
• Níveis de tratamento de esgotos.
Recurso Tempo
Objetivo Específico Conteúdo Específico Metodologia Desenvolvimento
didático sugerido
• Módulo II – Parte I • Gestão do esgotamento em • Expositiva e • Modelo de gestão compartilhada dos serviços de • Equipamento • 1 hora
áreas rurais participativa esgotamento sanitário do Programa Sustentar multimídia
(nível domiciliar e local)
Intervalo 15 minutos
• Módulo II – Parte II • Gestão do esgotamento em • Expositiva e • Modelo de gestão compartilhada dos serviços de • Equipamento • 1 hora
áreas rurais participativa esgotamento sanitário do Programa Sustentar multimídia
(nível municipal e intermunicipal)
Oficina – Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais no Programa Sustentar
Intervalo 15 minutos
• Módulo III – Parte I • Alternativas tecnológicas • Expositiva e • Apresentação e discussão sobre as soluções • Equipamento • 1 hora
para o tratamento de participativa tecnológicas para o esgotamento sanitário. multimídia
esgotos sanitários em áreas • Discussão sobre a gestão operacional das
rurais soluções e sistemas de esgotamento
Almoço
Recurso Tempo
Objetivo Específico Conteúdo Específico Metodologia Desenvolvimento
didático sugerido
• Módulo III – Parte II • Alternativas tecnológicas • Expositiva e • Apresentação e discussão sobre as soluções • Equipamento • 1 hora
para o tratamento de participativa tecnológicas para esgotamento. multimídia
esgotos sanitários em áreas • Discussão sobre a gestão operacional das
rurais soluções e sistemas de esgotamento
Intervalo 15 minutos
• Módulo IV • Experiências de • Expositiva e • Estudo de caso de boas iniciativas de gestão • Equipamento • 1 hora
esgotamento sanitário nas participativa em esgotamento sanitário nas áreas rurais de multimídia
áreas rurais do Brasil diversas regiões do Brasil
• Consolidação da oficina • Discussão sobre os • Expositiva e • Discussão dos principais pontos da oficina para • Equipamento • 1 hora
principais pontos levantados participativa melhoria do processo de capacitação e alcance multimídia
na oficina dos objetivos propostos
• Avaliação da oficina • Avaliação da oficina de • Participativa • Avaliação da oficina de capacitação pelos • Formulários • 30 minutos
gestão participantes de avaliação
Encerramento 15 minutos
Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil
51
Referências
ABNT. NBR 13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e disposição final dos
efluentes líquidos – Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, RJ: Associação Brasileira de Nor-
mas Técnicas, 1997
ABNT. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro, RJ:
Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1993.
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Caderno Didático/Técnico para Curso de Gestão de Sistemas de Esgotamento Sanitário em áreas rurais do Brasil 53
FUNASA
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
Missão
Promover a saúde pública e a inclusão
social por meio de ações de
saneamento e saúde ambiental.
Visão de Futuro
A Funasa, integrante do SUS, contribuindo
para as metas de universalização do
saneamento no Brasil, será referência
nacional e internacional nas ações de
saneamento e saúde ambinetal.
Valores
• Agimos sempre com excelência;
• Valorizamos a integração e o trabalho em equipe;
• Nossa conduta é ética e transparente;
• Pensamos e agimos de forma sustentável;
• Valorizamos todos os saberes;
• Oferecemos mais a quem menos tem.