Professional Documents
Culture Documents
ISSN: 2525-8761
RESUMO
Neste estudo, a qualidade da água de um lago urbano, formado recentemente, foi avaliada
a partir de parâmetros físico-químicos e microbiológicos, visando determinar a extensão
dos impactos gerados pelas atividades antrópicas em sua bacia. De maneira geral, foram
encontrados nas amostras analisadas, baixos níveis de oxigênio dissolvido (DO <5,0
mg/L), excesso de amônia (> 4,0 mg/L) e fósforo (> 0,3 mg/L), características essas que
apontam para a presença de matéria orgânica, de origem externa, e que favorecem a
eutrofização. A matéria orgânica é, possivelmente, resultante de esgoto não tratado, que
chega ao lago de forma pontual, através dos arroios, e de maneira difusa, através da
drenagem superficial da bacia. Outras características também indicam a impactação,
como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO)>10 mg/L, a presença de bactérias
heterotróficas, coliformes totais e coliformes termotolerantes acima dos limites
ABSTRACT
In this study, the water quality of an urban lake, recently formed, was evaluated from
physicochemical and microbiological parameters, increasing the extent of the impacts
generated by human activities in its basin. There were generally low levels of dissolved
oxygen (DO<5.0 mg/L), excess ammonia (>4.0 mg/L) and phosphorus (>0.3 mg/L),
characteristics to the presence of organic matter, of external origin, which favor
eutrophication. Organic matter, possibly resulting from untreated sewage is discharged
into the lake. Other characteristics also indicate the impact, such as Biochemical Oxygen
Demand (BOD)>10 mg/L, presence of heterotrophic bacteria, total coliforms, and
thermotolerant coliforms counts above the limits established by the legislation
(>4.000NMP/100mL), especially where the streams flow. The set of results presented in
this study intends to show the importance of environmental management actions applied
throughout the basin, when planning and building urban lakes.
1 INTRODUÇÃO
Lagos e reservatórios são sistemas abertos e parte integrante da bacia hidrográfica
onde estão localizados. A bacia exerce influência sobre esses corpos aquáticos através do
aporte de nutrientes, matéria orgânica e de outras substâncias, orgânicas e inorgânicas, de
origem natural ou antrópica, e sua qualidade está diretamente relacionada a essas
características.
O represamento de pequenos arroios e rios, para a formação de lagos artificiais,
tem sido uma tendência observada na construção de parques nos centros urbanos
brasileiros, nas últimas décadas. A necessidade de espaços coletivos de laser é cada vez
mais evidente diante do adensamento populacional e do desafio em associar urbanização
e qualidade de vida. Além de componentes da paisagem, os lagos podem ser fatores de
prevenção de enchentes. A impermeabilização do solo e a consequente dificuldade de
infiltração da água das chuvas, aumenta os riscos de alagamentos, o que pode ser
minimizado pela presença de lagos, que em alguns locais fazem parte do sistema de
contenção de cheias.
Entretanto, em áreas urbanas, a baixa qualidade da água da malha hidrográfica é
um dos graves problemas ambientais, e por que não dizer, de saúde pública. O despejo de
esgoto sem tratamento em pequenos arroios e rios vem se mostrando o fator de maior
impacto nas Bacias brasileiras. Assim, a qualidade da água bruta represada no lago é
determinada pelas atividades na bacia, expressas na qualidade da água dos rios ou arroios
e da drenagem superficial da área.
No presente estudo avaliou-se o Lago de Olarias, localizado em Ponta Grossa,
Paraná, e que embora de existência recente, já sofre as implicações dos usos do solo e da
água em sua bacia hidrográfica. Para a impactação do Lago, contribuem, diretamente o
Arroio de Olarias, seu principal formador, bem como a drenagem superficial de toda a
Bacia. A Bacia está localizada na região urbana de Ponta Grossa, possui uma área de
cerca de 2.700 ha, sendo uma das quatro responsáveis pela drenagem da região central,
onde encontra-se também o Alto curso do Arroio de Olarias.
Em áreas urbanas, o despejo de esgoto sem tratamento em pequenos arroios e rios
vem se mostrando o fator de maior impacto na qualidade da água nas Bacias brasileiras
tornando-se um problema ambiental, social e de saúde pública.
Assim como a maioria dos municípios brasileiros, a cidade de Ponta Grossa
também apresenta problemas em relação ao saneamento ambiental. Segundo o Plano
Municipal de Saneamento Básico (PSMB), a cidade tinha 90,32% das unidades
residenciais urbanas atendidas pela rede coletora de esgoto, em 2019. A cobertura é
ampla, quando comparada a realidade brasileira, entretanto em números reais, isso
significa aproximadamente 33.000 residências com seu esgoto sem coleta.
Outra característica determinante para o município de Ponta Grossa é a sua
topografia peculiar, com relevo significativamente acidentado, e 170 km de arroios na
área urbana. A cidade se desenvolveu a partir de um espigão central, o que de certa forma
influencia a ocupação urbana e traz problemas quanto à infraestrutura, especialmente o
saneamento básico (ROGALSKI E CARVALHO, 2010; MEDEIROS E MELO, 2001).
Em 2008, através da Agência Reguladora de Águas e Saneamento Básico de Ponta
Grossa - ARAS, foi iniciado na Bacia de Olarias, o Programa de Despoluição Ambiental
– PDA (PONTA GROSSA, 2008). Este programa, por meio de uma abordagem
socioambiental, buscava o diagnóstico do sistema sanitário nas bacias hidrográficas
urbanas, identificando as ligações irregulares de esgoto, bem como, subsidiando a
regularização para gestão municipal. Na época constatou-se que 48% dos 7.062 imóveis
visitados, tinha o esgoto ligado na rede coletora, 31% em fossa séptica, 14% diretamente
no Arroio, e ainda 6,5% nas galerias de águas pluviais. Ou seja, cerca de 1.500 fontes de
esgoto sem tratamento gerando impacto na Bacia. Ainda que avanços possam ter ocorrido
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Foram obtidos dados sobre as características físico-químicas e microbiológicas da
água, em 4 pontos de coleta, durante o ano de 2018. Os locais de coleta (Figura 1) foram
escolhidos buscando determinar o impacto dos arroios que chegam até o Lago, como
também a influência da drenagem superficial e as condições de saída após a permanência
da água no Lago, determinada pela vazão.
Figura 1. Locais de coleta no Lago de Olarias. Foto aérea com drone. Data: abril de 2018.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 AVALIAÇÃO VISUAL DO LAGO
O Lago apresenta crescimento de vegetação aquática em toda sua extensão, sendo
essa proliferação sugestiva da presença de nutrientes, que aportam no lago principalmente
através dos Arroios. O nível de água nos Pontos 3 e 4 (entrada dos Arroios) é mais baixo
que no restante do lago que possui profundidade média de 1,5 metros. Esses locais
recebem o arraste de material sólido a partir dos Arroios de Olarias e da Vila Belém,
intensificando o assoreamento do Lago. Nesses pontos a água apresenta alta concentração
de algas, visualmente identificadas pela coloração verde, mostrando a eutrofização.
Em toda a Bacia, há indicações de impacto por esgoto doméstico. Através de
imagens obtidas por drone e in loco, verificam-se áreas de ocupação às margens dos
5
4
3
2
1
0
1 2 3 4
Pontos de Coleta
Figura 2. Gráfico trazendo o conjunto de dados sobre a concentração de OD (mg/L) para os 4 pontos nas 8
coletas realizadas.
Fonte: O Autor
partículas presentes na água, pois as menores permanecem em suspensão por mais tempo,
intensificando a cor da água.
Figura 3: Gráfico trazendo valores médios dos parâmetros: Turbidez, Sólidos Totais e Cor para os 4 pontos
do Lago nas 8 coletas realizadas.
Fonte: O Autor
Tabela 3. Valores médios dos parâmetros: Turbidez, Sólidos Totais e Cor para os 4 pontos de coleta,
comparados à legislação
Valores Médios
Pontos de Coleta
Turbidez (UNT) Sólidos Totais (mg/L) Cor (mg Pt/L)
Ponto 1 106,0 (±30) 111,0 (±14) 80,0 (±30)
Ponto 2 84,0 (±24) 113,0 (±11) 78,0 (±20)
Ponto 3 82,0 (±13) 112,0 (±12) 107,0 (±20)
Ponto 4 87,0(±20) 132,0 (±12) 77,0 (±17)
Valores Legislação Até 100 UNT Valor máximo 500 mg L-1 Até 75 mg Pt/L
Fonte: O Autor
Legislação ambiental, apenas um valor estimado pela CETESB, considerando que valores
acima de 1500 µS/cm podem indicar ambientes impactados (CETESB, 2016).
Quanto às temperaturas observadas, a temperatura ambiente apresentou média de
24,3C sendo a mínima registrada de 18,0C e a máxima de 32,4C. Lembrando que todas
as coletas foram realizadas no período da tarde, a partir das 13:30 h, e que o período
corresponde às estações de outono, inverno e primavera de 2018.
A temperatura da água, medida in situ, foi em média igual a 22C, ou seja, um
pouco inferior ao ambiente, com mínima de 17,2C e máxima de 28,8C. Em ambientes
não impactados, a temperatura exerce importante influência sobre as concentrações de
oxigênio dissolvido na água, como também sobre a condutividade. Entretanto, no Lago
de Olarias, as condições de oxigenação do ambiente e a condutividade sofrem maior
influência da presença de matéria orgânica, que nesse caso, se sobrepõe à temperatura.
Tabela 4. Valores médios obtidos para pH, alcalinidade total e cloreto dissolvido nos 4 pontos, durante as
8 coletas
Valores Médios Obtidos
Pontos de
Cloreto dissolvido
Coleta pH Alcalinidade Total (mgCaCO3/L)
(mg/L)
Ponto 1 8,0 (±0,7) 115,0 (±40) 34,5 (±10)
Ponto 2 8,1 (±0,7) 112,5 (±40) 34,0 (±12)
Ponto 3 7,9 (±0,7) 114,5 (±45) 31,0 (±10)
Ponto 4 7,5 (±0,4) 122,5 (±44) 36,0(±16)
Valores até 250 mg/L*
6,0 – 9,0 Classe 1 a 4 sem legislação específica
Legislação Classe 1 a 3
*CONAMA 357 (2005) valores para Cloreto total.
Fonte: O Autor
Quanto ao pH, este pode ser resultado de fatores naturais e antrópicos. Valores de
pH acima de 7,0 (pH alcalino) em sistemas hídricos, como é o caso do lago em estudo,
podem estar associados à proliferação de plantas aquáticas. O pH é diretamente
influenciado pelas taxas de fotossíntese do ecossistema. Quando o processo de
3.3.6 Fósforo
Naturalmente o fósforo tem sua origem nos sistemas aquáticos através da
dissolução de rochas e da decomposição da matéria orgânica, por outro lado, as fontes
artificiais incluem esgotos domésticos, esgotos industriais e fertilizantes agrícolas. A
principal origem do fósforo em águas superficiais urbanas são as descargas de esgotos
sanitários contendo detergentes.
Tabela 5. Valores médios obtidos para fósforo nos 4 pontos, durante as 8 coletas
*Fósforo (mg/L)
Pontos de Coleta valores médios
Tabela 6. Valores médios obtidos para nitrogênio amoniacal, nitrato e nitrito nos 4 pontos, durante as 8
coletas
Valores Médios Obtidos
Pontos de Coleta
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) Nitrato (mg/L) Nitrito (mg/L)
Ponto 1 4,1 (±2,0) 4,6 (±2,5) 0,5 (±0,2)
Ponto 2 4,3 (±2,0) 3,8 (±3,0) 0,5 (±0,3)
Ponto 3 4,8 (±2,5) 3,6 (±2,0) 0,6 (±0,3)
Ponto 4 6,9 (±2,2) 5,7 (±3,0) 0,8 (±0,4)
Valores Legislação* 5,6 mg/L até 10 mg/L até 1 mg/L
7,5 ≤ pH ≤ 8,0 Classe 3 Classes 1 a 3 Classes 1 a 3
*CONAMA 357/2005
Fonte: O Autor
4 CONCLUSÕES
A construção do Lago de Olarias, e do espaço de lazer projetado para aquela
região, trouxe grandes expectativas, especialmente aos moradores do entorno. A
comunidade se apropriou do espaço, e mesmo antes das obras de paisagismo, apenas a
presença do Lago já atraiu inúmeras pessoas. As atividades de pesca e qualquer outra de
contato com a água, ainda que durante a construção fossem bastante comuns, atualmente
são proibidas e há fiscalização permanente no local.
Quanto à qualidade da água, as análises físico-químicas e microbiológicas trazem
indicação de ambiente impactado, principalmente, por esgoto doméstico. Os valores
numéricos obtidos para os parâmetros físico-químicos, conforme nossa interpretação,
indicam a classificação do Lago de Olarias como um corpo aquático Classe 3. Do ponto
de vista microbiológico, a água não possibilita atividades de contato primário, não é
adequada para banho, pesca, ou qualquer atividade desportiva aquática. Nesse caso, os
AGRADECIMENTOS
Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa, Fundação Araucária, CNPq.
REFERÊNCIAS
APHA - American Public Health Association. Standard Methods for the Examination
of Water and Wastewater, 23rd Edition, 2017.