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Brazilian Journal of Development 19889

ISSN: 2525-8761

Influência das atividades antrópicas sobre a qualidade da água em


lagos urbanos: um estudo de caso

Influence of anthropogenic activities on water quality in urban lakes: a


case study
DOI:10.34117/bjdv7n2-569

Recebimento dos originais: 25/01/2021


Aceitação para publicação: 25 /02/2021

Karine Andrea Costa


Mestre em Química, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ)
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná

Amábile Dal Col


Acadêmica Curso de Farmácia, vinculada ao Programa de Iniciação Científica (PIBIC)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa, Paraná

Ana Carolina Terso Ventura


Acadêmica Curso de Farmácia, vinculada ao Programa de Iniciação Científica (PIBIC)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ponta Grossa, Paraná

Marcela Novak Gumy


Acadêmica Curso de Farmácia, vinculada ao Programa de Iniciação Científica (PIBIC)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa, Paraná

Patrícia Los Weinert


Doutora em Química, Departamento de Química, Programa de Pós-Graduação em
Química (PPGQ)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa, Paraná

Elizabeth Weinhardt de Oliveira Scheffer


Doutora em Química, Departamento de Química, Programa de Pós-Graduação em
Química (PPGQ)
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Avenida Carlos Cavalcanti, 4748,
Campus Uvaranas, Ponta Grossa, Paraná

RESUMO
Neste estudo, a qualidade da água de um lago urbano, formado recentemente, foi avaliada
a partir de parâmetros físico-químicos e microbiológicos, visando determinar a extensão
dos impactos gerados pelas atividades antrópicas em sua bacia. De maneira geral, foram
encontrados nas amostras analisadas, baixos níveis de oxigênio dissolvido (DO <5,0
mg/L), excesso de amônia (> 4,0 mg/L) e fósforo (> 0,3 mg/L), características essas que
apontam para a presença de matéria orgânica, de origem externa, e que favorecem a
eutrofização. A matéria orgânica é, possivelmente, resultante de esgoto não tratado, que
chega ao lago de forma pontual, através dos arroios, e de maneira difusa, através da
drenagem superficial da bacia. Outras características também indicam a impactação,
como a demanda bioquímica de oxigênio (DBO)>10 mg/L, a presença de bactérias
heterotróficas, coliformes totais e coliformes termotolerantes acima dos limites

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estabelecidos pela legislação (> 4.000NMP/100mL), principalmente na entrada dos


arroios no lago. O conjunto de resultados apresentado neste estudo pretende mostrar a
importância de ações de gestão ambiental, aplicadas em toda a bacia, no planejamento e
construção de lagos urbanos.

Palavras-chave: águas superficiais, bacia hidrográfica, qualidade da água

ABSTRACT
In this study, the water quality of an urban lake, recently formed, was evaluated from
physicochemical and microbiological parameters, increasing the extent of the impacts
generated by human activities in its basin. There were generally low levels of dissolved
oxygen (DO<5.0 mg/L), excess ammonia (>4.0 mg/L) and phosphorus (>0.3 mg/L),
characteristics to the presence of organic matter, of external origin, which favor
eutrophication. Organic matter, possibly resulting from untreated sewage is discharged
into the lake. Other characteristics also indicate the impact, such as Biochemical Oxygen
Demand (BOD)>10 mg/L, presence of heterotrophic bacteria, total coliforms, and
thermotolerant coliforms counts above the limits established by the legislation
(>4.000NMP/100mL), especially where the streams flow. The set of results presented in
this study intends to show the importance of environmental management actions applied
throughout the basin, when planning and building urban lakes.

Keyword: surface waters, watershed, water quality

1 INTRODUÇÃO
Lagos e reservatórios são sistemas abertos e parte integrante da bacia hidrográfica
onde estão localizados. A bacia exerce influência sobre esses corpos aquáticos através do
aporte de nutrientes, matéria orgânica e de outras substâncias, orgânicas e inorgânicas, de
origem natural ou antrópica, e sua qualidade está diretamente relacionada a essas
características.
O represamento de pequenos arroios e rios, para a formação de lagos artificiais,
tem sido uma tendência observada na construção de parques nos centros urbanos
brasileiros, nas últimas décadas. A necessidade de espaços coletivos de laser é cada vez
mais evidente diante do adensamento populacional e do desafio em associar urbanização
e qualidade de vida. Além de componentes da paisagem, os lagos podem ser fatores de
prevenção de enchentes. A impermeabilização do solo e a consequente dificuldade de
infiltração da água das chuvas, aumenta os riscos de alagamentos, o que pode ser
minimizado pela presença de lagos, que em alguns locais fazem parte do sistema de
contenção de cheias.
Entretanto, em áreas urbanas, a baixa qualidade da água da malha hidrográfica é
um dos graves problemas ambientais, e por que não dizer, de saúde pública. O despejo de

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esgoto sem tratamento em pequenos arroios e rios vem se mostrando o fator de maior
impacto nas Bacias brasileiras. Assim, a qualidade da água bruta represada no lago é
determinada pelas atividades na bacia, expressas na qualidade da água dos rios ou arroios
e da drenagem superficial da área.
No presente estudo avaliou-se o Lago de Olarias, localizado em Ponta Grossa,
Paraná, e que embora de existência recente, já sofre as implicações dos usos do solo e da
água em sua bacia hidrográfica. Para a impactação do Lago, contribuem, diretamente o
Arroio de Olarias, seu principal formador, bem como a drenagem superficial de toda a
Bacia. A Bacia está localizada na região urbana de Ponta Grossa, possui uma área de
cerca de 2.700 ha, sendo uma das quatro responsáveis pela drenagem da região central,
onde encontra-se também o Alto curso do Arroio de Olarias.
Em áreas urbanas, o despejo de esgoto sem tratamento em pequenos arroios e rios
vem se mostrando o fator de maior impacto na qualidade da água nas Bacias brasileiras
tornando-se um problema ambiental, social e de saúde pública.
Assim como a maioria dos municípios brasileiros, a cidade de Ponta Grossa
também apresenta problemas em relação ao saneamento ambiental. Segundo o Plano
Municipal de Saneamento Básico (PSMB), a cidade tinha 90,32% das unidades
residenciais urbanas atendidas pela rede coletora de esgoto, em 2019. A cobertura é
ampla, quando comparada a realidade brasileira, entretanto em números reais, isso
significa aproximadamente 33.000 residências com seu esgoto sem coleta.
Outra característica determinante para o município de Ponta Grossa é a sua
topografia peculiar, com relevo significativamente acidentado, e 170 km de arroios na
área urbana. A cidade se desenvolveu a partir de um espigão central, o que de certa forma
influencia a ocupação urbana e traz problemas quanto à infraestrutura, especialmente o
saneamento básico (ROGALSKI E CARVALHO, 2010; MEDEIROS E MELO, 2001).
Em 2008, através da Agência Reguladora de Águas e Saneamento Básico de Ponta
Grossa - ARAS, foi iniciado na Bacia de Olarias, o Programa de Despoluição Ambiental
– PDA (PONTA GROSSA, 2008). Este programa, por meio de uma abordagem
socioambiental, buscava o diagnóstico do sistema sanitário nas bacias hidrográficas
urbanas, identificando as ligações irregulares de esgoto, bem como, subsidiando a
regularização para gestão municipal. Na época constatou-se que 48% dos 7.062 imóveis
visitados, tinha o esgoto ligado na rede coletora, 31% em fossa séptica, 14% diretamente
no Arroio, e ainda 6,5% nas galerias de águas pluviais. Ou seja, cerca de 1.500 fontes de
esgoto sem tratamento gerando impacto na Bacia. Ainda que avanços possam ter ocorrido

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a partir do PDA, a ocupação desordenada sobre a bacia continuou nestes 10 anos, e o


problema da contaminação por esgoto permanece.
Na presente pesquisa buscou-se conhecer a qualidade da água represada no Lago
de Olarias e avaliar o grau de impactação daquele ambiente aquático, em período anterior
às obras de paisagismo e da construção do parque em seu entorno, finalizado em 2020.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Foram obtidos dados sobre as características físico-químicas e microbiológicas da
água, em 4 pontos de coleta, durante o ano de 2018. Os locais de coleta (Figura 1) foram
escolhidos buscando determinar o impacto dos arroios que chegam até o Lago, como
também a influência da drenagem superficial e as condições de saída após a permanência
da água no Lago, determinada pela vazão.

Figura 1. Locais de coleta no Lago de Olarias. Foto aérea com drone. Data: abril de 2018.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores

As coletas realizadas no Ponto 1 (centro do lago) e no Ponto 2 (vertedouro) foram


realizadas com barco através da colaboração do Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa.
Para o Ponto 3 (entrada do Arroio da Vila Belém) e o Ponto 4 (entrada do Arroio de
Olarias), as coletas foram realizadas a partir da margem com lançamento de balde de
polietileno.
Foram realizadas 8 coletas durante o ano de 2018, todas no período da tarde, com
início a partir das 13:30 h, sendo que após a 8ª coleta, o lago foi esvaziado para realização
de obras de paisagismo, antecipando, assim, a finalização do ciclo de coletas. A inundação
só ocorreu novamente em março de 2019.

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As amostras foram caracterizadas in situ, diretamente no Lago, empregando


analisadores de água portáteis para os seguintes parâmetros aquáticos: oxigênio
dissolvido (OD) e temperatura com Analisador LT Lutron DO-5519, condutividade com
um Condutivímetro CD-860, cor com analisador da marca Hanna, pH e turbidez com
equipamento WQC20A TOA Eletronics.
Foram coletadas amostras de água em frascos de polietileno com capacidade de 1
L, identificados e colocados individualmente em sacos plásticos, sendo acondicionados
em caixa térmica com gelo. Os frascos empregados na coleta, foram anteriormente
preparados, passando por processo de banho ácido (HNO3 5 mol L-1), e posterior lavagem
com água destilada em abundância. Para as análises microbiológicas foram empregados
frascos estéreis.
Os frascos contendo as amostras e acondicionados em caixa térmica foram
transportados ao laboratório, onde alíquotas foram filtradas em membranas de acetato de
celulose com 0,45µm de porosidade, iniciando-se as análises das amostras filtradas e in
natura. Foram realizadas as determinações de alcalinidade total, cloreto dissolvido,
sólidos totais e fósforo total através de técnicas descritas no Standard Methods (APHA,
2017); e ainda, nitrogênio (amoniacal, nitrato e nitrito) e fosfato total empregando-se Kits
de Análise da marca Hanna.
Também foram coletadas, separadamente, amostras para análises dos parâmetros:
Demanda química de oxigênio (DQO) e Demanda bioquímica de oxigênio (DBO), cujas
análises foram realizadas em laboratório da Companhia de Saneamento do Paraná
(SANEPAR), em Ponta Grossa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 AVALIAÇÃO VISUAL DO LAGO
O Lago apresenta crescimento de vegetação aquática em toda sua extensão, sendo
essa proliferação sugestiva da presença de nutrientes, que aportam no lago principalmente
através dos Arroios. O nível de água nos Pontos 3 e 4 (entrada dos Arroios) é mais baixo
que no restante do lago que possui profundidade média de 1,5 metros. Esses locais
recebem o arraste de material sólido a partir dos Arroios de Olarias e da Vila Belém,
intensificando o assoreamento do Lago. Nesses pontos a água apresenta alta concentração
de algas, visualmente identificadas pela coloração verde, mostrando a eutrofização.
Em toda a Bacia, há indicações de impacto por esgoto doméstico. Através de
imagens obtidas por drone e in loco, verificam-se áreas de ocupação às margens dos

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arroios, ligações irregulares de esgoto diretamente nos arroios e em valetas, e mesmo em


áreas de moradias regulares, há indicações de ligações na rede pluvial.

3.2 PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS


Os coliformes termotolerantes, mais especificamente a E. coli, são usados
frequentemente para avaliar a qualidade da água e indicar a contaminação por esgoto.
Essa avaliação é importante, pois permite a prevenção de doenças que são transmitidas
pelas fezes, como algumas verminoses, infecções gastrointestinais, entre outras.
A análise dos resultados obtidos para Coliformes Termotolerantes para as
amostras do Lago de Olarias foi realizada considerando a função paisagística. Caso o lago
fosse usado para recreação de contato primário, deveriam ser obedecidos os padrões de
qualidade de balneabilidade, previstos na Resolução CONAMA nº 274, de 2000, que
estabelece padrões mais rígidos.
Entretanto, dada a sua função apenas de contemplação, buscamos a classificação
da água do Lago de Olarias através da Resolução CONAMA 357 (Brasil, 2005),
considerando a Classe 3, em que não se prevê recreação nem mesmo de contato
secundário. Nesse caso, segundo a legislação, não deverá ser excedido um limite de 4.000
coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras
coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral.
Verificamos que os Pontos 3 e 4 onde aportam os arroios são os mais impactados,
com concentração mínima de coliformes termotolerantes de 1.500 NMP/100mL no Ponto
3 e mínima de 57.000 NMP/100mL para as amostras do Ponto 4, ou seja, em 100% das
amostras há altos níveis de contaminação fecal. A contaminação é também alta no centro
do Lago com concentração mínima de 1.200 NMP/100mL, mas se reduz à medida que a
coleta se torna afastada da entrada dos arroios apresentando valores inferiores a 1.000
NMP/100mL em 75% das coletas para as amostras do Ponto 2, próximo ao vertedouro,
na saída do lago.
Ainda, complementando as discussões quanto ao aspecto microbiológico, foram
realizadas análises para Coliformes Totais e Bactérias Heterotróficas que, embora não
tenham valores fixados pela Resolução Ambiental, tem importância para a apreciação do
ambiente aquático. Apenas a presença de coliformes totais já descarta a água do ponto de
vista de potabilidade, dispensando análises de outras bactérias. A legislação de
potabilidade que determina que haja a ausência de Coliformes Totais na água se for para
consumo humano, é a Portaria do Ministério da Saúde nº 2914/2011 (BRASIL, 2011).

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Entretanto, para o Lago, as concentrações mínimas ocorreram na coleta realizada


em junho/2018 para o Ponto 1 (centro do lago) na qual tivemos 11.900 NMP/100mL de
coliformes totais. Vale citar que a concentração máxima chegou a 1.300.000
NMP/100mL na coleta de julho no Ponto 4, que corresponde a entrada do Arroio de
Olarias. Assim, ainda que a potabilidade não seja o foco para o Lago de Olarias, chama a
atenção a quantidade expressiva de coliformes na água coletada, chegando a ser superior
a 1 milhão em 100 mL.
A contagem de bactérias heterotróficas, também permite avaliar a qualidade da
água para consumo humano, sendo que a sua contagem não deve exceder a 500 UFC/mL
(Unidades Formadoras de Colônia por mililitro), de acordo com Portaria do Ministério da
Saúde nº 2914/2011 (Brasil, 2011). Também nesse caso, as amostras analisadas, tem
resultados que revelam a impactação daquele corpo aquático. Em 100% dos resultados,
para os 4 pontos de amostragem, temos valores superiores a 16.000 UFC/mL.
Outro fato que chamou a atenção, ocorreu durante a 6ª coleta, em 25/07, quando
ao coletar água no Ponto 4, que é o local de entrada do Arroio de Olarias, verificamos a
presença de pequenas larvas vermelhas no balde, e que apresentavam intenso movimento.
Verificamos, conforme dados encontrados na literatura, que se tratava de larvas de um
inseto da Ordem Diptera que pertence à maior família de insetos aquáticos, a
Chironomidae, cuja principal característica é a sua coloração vermelha devido apresentar
pigmento de hemoglobina, e que originou o seu nome popular, em inglês, de bloodworm.
Quanto maior o déficit de oxigênio no ambiente aquático, mais intensa a sua coloração.
Geralmente estas larvas mexem-se contínua e rapidamente buscando a absorção de O2
dissolvido na água, por difusão, para seu corpo. Elas são geralmente encontradas em
ambientes aquáticos urbanos com constantes descargas de esgoto, e, em lagoas de
piscicultura e lagos eutrofizados, nos quais há acúmulo de nutrientes disponíveis,
principalmente fosfato e nitrogênio.
As larvas bloodworms são capazes de resistir por horas em ambientes totalmente
anóxicos, e, desta forma, a sua presença indica que um lago pode estar “doente” com
pouco oxigênio e/ou excesso de matéria orgânica disponível (MACHADO, 2015). Tal
fato corrobora o que vem sendo discutido sobre a impactação do Lago de Olarias.

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3.3 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS


3.3.1 Oxigênio Dissolvido (OD)
Embora haja influência sazonal sobre a concentração de OD em meio aquático,
relacionada de forma inversa ao aumento da temperatura, isso não prevaleceu para o Lago
de Olarias, no qual a redução das concentrações do OD está diretamente ligada ao
aumento na concentração de matéria orgânica. Se a concentração de OD é baixa, isso
pode indicar que o oxigênio está sendo consumido no próprio ambiente aquático através
da intensa atividade bacteriana realizada para decompor a matéria orgânica.

Oxigênio Dissolvido (OD)


10
9
8
7
6
mg/L

5
4
3
2
1
0
1 2 3 4
Pontos de Coleta

Figura 2. Gráfico trazendo o conjunto de dados sobre a concentração de OD (mg/L) para os 4 pontos nas 8
coletas realizadas.
Fonte: O Autor

Com base na Resolução CONAMA 357(2005), que estabelece as concentrações


limites de OD, consideramos que o Lago de Olarias pode ser enquadrado como Classe 3,
na qual OD não deve ser inferior a 4 mg/L (Figura 2). É verdade, que para o Ponto de
entrada do Arroio da Vila Belém (Ponto 3), as concentrações de OD estiveram abaixo
desse limite em algumas coletas, e esse comentário se aplica em partes, também para o
Ponto 4 (entrada do Arroio de Olarias). Por outro lado, verifica-se, níveis acima de 5 mg/L
(Classe 2) no Ponto 2 que corresponde a área do vertedouro, e que tem oxigenação
aumentada a partir da movimentação da água no fosso de saída, como também no Ponto
1 (centro do Lago). Entretanto, a avaliação global do corpo aquático, nos permite indicar
a Classe 3, quanto aos parâmetros físico-químicos.

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3.3.2 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda Química de Oxigênio


(DQO)
A quantidade de oxigênio utilizada na oxidação bioquímica da matéria orgânica,
num determinado período, e expressa geralmente em miligramas de oxigênio por litro, é
denominada pela sigla DBO. De acordo com a Legislação CONAMA 357 (2005), para
águas Classe 3, o limite é de até 10 mg/L O2.
A DBO é um dos parâmetros mais empregados para avaliar o impacto do
lançamento de um efluente em um corpo aquático, onde a determinação de DBO é
importante para verificar a quantidade de oxigênio necessária para estabilizar a matéria
orgânica: grandes quantidades de matéria orgânica utilizam grandes quantidades de
oxigênio e maior é a DBO.
A disponibilidade de oxigênio no Ponto 2 (vertedouro) favorece a oxidação da
matéria orgânica presente no Lago, pois a DBO corresponde à quantidade de oxigênio
necessária para ocorrer a oxidação da matéria orgânica biodegradável sob condições
aeróbicas. Nesse caso, verificam-se valores (Tabela 1) frequentemente superiores ou
próximos do limite para Classe 3.

Tabela 1. Resultado DBO (mg/L) para o Lago de Olarias.


Coletas Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
1 NR NR NR NR
2 15,0 <5,0 <5,0 11,0
3 13,0 10,00 12,00 7,0
4 8,0 12,00 7,00 8,0
5 6,0 18,00 5,00 5,0
6 9,0 10,00 12,0 10,0
7 NR NR NR NR
8 8,0 9,0 9,0 12,0
NR=não realizada
Fonte: O Autor

Complementando as discussões quanto às concentrações de OD na água e a


oxidação da matéria orgânica, a SANEPAR, responsável pela análise da DBO, incluiu a
análise de DQO (Demanda Química de Oxigênio), que embora não tenha valores fixados
pela Resolução Ambiental, amplia a abordagem. A DQO é utilizada juntamente com a
DBO (Tabela 2) para observar a biodegradabilidade de efluentes. Trata-se de um método
químico, com algumas vantagens experimentais quando comparado à DBO. Não existem
valores na Legislação federal para a medida de DQO em águas superficiais.

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Tabela 2. Resultado DQO (mg/L) para o Lago de Olarias.


Coletas Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
1 22,0 20,0 19,0 13,0
2 32,0 9,5 9,4 23,5
3 34,0 24,0 28,0 18,0
4 20,0 31,0 19,0 20,0
5 14,0 42,0 12,0 11,0
6 27,0 31,0 35,0 30,0
7 NR NR NR NR
8 18,0 20,0 20,0 12,0
NR=não realizada
Fonte: O Autor

De acordo com a literatura, a relação DQO/DBO, permite definir qual o processo


de tratamento a ser utilizado, no caso de efluentes, e assim, quando a relação DQO/DBO
é baixa, significa que a fração biodegradável é elevada, o que indica a utilização de
tratamento biológico; por outro lado se a relação DQO/DBO é elevada, indica-se o
tratamento físico-químico. No caso de águas superficiais, o cálculo não é realizado, mas
observados os resultados de DBO e DQO para o lago, a relação fica em média em torno
de 2,5 para os 4 pontos de amostragem, valor sugestivo da biodegradabilidade do material
ali existente.

3.3.3 Cor, Turbidez e Sólidos Totais


Os parâmetros: cor, turbidez e sólidos totais (ST) serão abordados em conjunto
devido à estreita relação e influência entre eles. Destaque-se que os três parâmetros estão
incluídos na Legislação CONAMA 357 (2005), e assim, possuem limites máximos
estabelecidos para as classes de água doce.
Ao tratar de tais parâmetros, surge a indagação sobre qual o tipo de poluição que
sofre o Lago de Olarias, quais as características do material que aporta através dos Arroios
e a partir da drenagem da Bacia? A origem das partículas que compõem o material sólido
(sólidos totais) e suas características como tamanho da partícula, solubilidade e tempo de
permanência em suspensão na água, influenciam diretamente a cor da água e a sua
turbidez.
O Lago de Olarias, como mencionado anteriormente, tem o nível de água, nos
Pontos 3 e 4, extremamente baixo. Esses locais recebem o arraste de material sólido a
partir dos Arroios, intensificando o assoreamento. Entretanto, comparando os Pontos 3 e
4, observa-se que a concentração de ST é maior para o Ponto 4, mas a cor é mais intensa
no Ponto 3 (Figura 3). Um fator determinante para essa característica é o tamanho das

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partículas presentes na água, pois as menores permanecem em suspensão por mais tempo,
intensificando a cor da água.

Médias obtidas para Turbidez, Sólidos Totais e Cor


160
140
120
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4

Turbidez (UNT) Sólidos Totais (mg/L) Cor (PCU)

Figura 3: Gráfico trazendo valores médios dos parâmetros: Turbidez, Sólidos Totais e Cor para os 4 pontos
do Lago nas 8 coletas realizadas.
Fonte: O Autor

A distinção do tamanho das partículas pode estar relacionada ao tipo de impacto.


Assim, um material mais grosseiro pode ser, por exemplo, decorrente da erosão das
margens ou mesmo do solo das áreas de entorno devido à declividade da Bacia. É um
impacto que aumenta a concentração do parâmetro Sólidos Totais, mas como são
partículas mais grosseiras, sedimentam-se com maior facilidade, reduzindo a influência
sobre a cor e a turbidez. Por outro lado, um material mais coloidal (partículas < 1µm), e
que não se sedimenta com facilidade, pode estar associado à composição do esgoto ou
outros efluentes lançados no corpo aquático, ocasionando a cor e a turbidez.
No caso do Lago de Olarias, o volume de água proveniente do Arroio de Olarias
(Ponto 4) é maior que do Arroio da Vila Belém (Ponto 3), gerando maior fluxo de entrada
e, portanto, ainda que em ambos estejam impactados por esgoto, o maior volume de água
permite uma maior diluição para o Arroio de Olarias (cor menos intensa) (Tabela 3). Esse
fluxo maior de água também traz maior quantidade de material com partículas maiores
(maior concentração de sólidos totais), pelos motivos já mencionados e mesmo por
ressuspensão do sedimento daquele arroio. A turbidez no Ponto 1 (centro do Lago) se
deve, principalmente, ao movimento do barco e uso do remo durante a coleta.

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Tabela 3. Valores médios dos parâmetros: Turbidez, Sólidos Totais e Cor para os 4 pontos de coleta,
comparados à legislação
Valores Médios
Pontos de Coleta
Turbidez (UNT) Sólidos Totais (mg/L) Cor (mg Pt/L)
Ponto 1 106,0 (±30) 111,0 (±14) 80,0 (±30)
Ponto 2 84,0 (±24) 113,0 (±11) 78,0 (±20)
Ponto 3 82,0 (±13) 112,0 (±12) 107,0 (±20)
Ponto 4 87,0(±20) 132,0 (±12) 77,0 (±17)
Valores Legislação Até 100 UNT Valor máximo 500 mg L-1 Até 75 mg Pt/L
Fonte: O Autor

Comparando-se os valores médios obtidos (Tabela 3) com a Legislação


CONAMA 357 (2005), verifica-se que: (i) a Turbidez permite classificar o Lago como
Classe 2, pois 100 UNT é o limite para essa classe; (ii) para Sólidos Totais o valor máximo
de 500 mg/L apenas diferencia a Classe 4 das demais, ou seja, se estiver acima desse valor
é considerado Classe 4; (ii) a cor encontra-se acima de 75 mg Pt/L que é o limite comum
às Classes 2 e 3, e acima do qual considera-se a água Classe 4. A essas considerações
associam-se todas as outras realizadas sobre os parâmetros, buscando classificar as águas
do lago.

3.3.4 Condutividade e Temperatura


De maneira complementar, passamos a discutir a seguir, os valores de
Condutividade e as Temperaturas encontradas durante o período de coletas.
A medida da condutividade de um líquido é uma maneira indireta e simples de
inferir a presença de íons provenientes, geralmente, de sais inorgânicos dissolvidos na
água, como cloretos, sulfetos, carbonatos, fosfatos (CETESB, 2016). As águas doces são
as que apresentam um espectro mais amplo de valores para a condutividade elétrica, pois
dependem fortemente da geologia do local onde está o corpo d'água. Entretanto, o corpo
d'água mantém um valor aproximadamente constante de condutividade e assim,
flutuações podem indicar perturbação do sistema, seja por causas naturais, como
inundações e secas, seja por interferência humana, como, por exemplo, através do despejo
de efluentes, ou outros impactos (ALVES, 2018).
Os valores de condutividade não tiveram variação significativa entre as coletas
realizadas, ou seja, a concentração de íons nas águas do Lago de Olarias manteve-se
relativamente constante, independente da pluviosidade ou temperaturas. O Ponto 1 com
valores entre 190 a 260 µS/cm; os Pontos 2 e 3 entre 210 a 260 µS/cm, e o Ponto 4 com
maior flutuação, entre 170 a 350 µS/cm e os maiores valores na maioria das coletas,
quando comparado aos outros pontos. Entretanto, não existem especificações na

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Legislação ambiental, apenas um valor estimado pela CETESB, considerando que valores
acima de 1500 µS/cm podem indicar ambientes impactados (CETESB, 2016).
Quanto às temperaturas observadas, a temperatura ambiente apresentou média de
24,3C sendo a mínima registrada de 18,0C e a máxima de 32,4C. Lembrando que todas
as coletas foram realizadas no período da tarde, a partir das 13:30 h, e que o período
corresponde às estações de outono, inverno e primavera de 2018.
A temperatura da água, medida in situ, foi em média igual a 22C, ou seja, um
pouco inferior ao ambiente, com mínima de 17,2C e máxima de 28,8C. Em ambientes
não impactados, a temperatura exerce importante influência sobre as concentrações de
oxigênio dissolvido na água, como também sobre a condutividade. Entretanto, no Lago
de Olarias, as condições de oxigenação do ambiente e a condutividade sofrem maior
influência da presença de matéria orgânica, que nesse caso, se sobrepõe à temperatura.

3.3.5 pH, Alcalinidade e Cloreto


No Lago de Olarias os níveis de alcalinidade total, cloreto dissolvido e valores de
pH foram semelhantes nos quatro locais de coleta (Tabela 4). Níveis elevados para esses
parâmetros podem ser atribuídos a inúmeras fontes, dentre elas o descarte de águas
residuais tratadas e/ou não tratadas para corpos aquáticos. Além disso, valores mais
elevados de alcalinidade também decorrem da decomposição de nutrientes e substratos
orgânicos, sob condições anaeróbias (ABRIL E FRANKIGNOULLE, 2001).

Tabela 4. Valores médios obtidos para pH, alcalinidade total e cloreto dissolvido nos 4 pontos, durante as
8 coletas
Valores Médios Obtidos
Pontos de
Cloreto dissolvido
Coleta pH Alcalinidade Total (mgCaCO3/L)
(mg/L)
Ponto 1 8,0 (±0,7) 115,0 (±40) 34,5 (±10)
Ponto 2 8,1 (±0,7) 112,5 (±40) 34,0 (±12)
Ponto 3 7,9 (±0,7) 114,5 (±45) 31,0 (±10)
Ponto 4 7,5 (±0,4) 122,5 (±44) 36,0(±16)
Valores até 250 mg/L*
6,0 – 9,0 Classe 1 a 4 sem legislação específica
Legislação Classe 1 a 3
*CONAMA 357 (2005) valores para Cloreto total.
Fonte: O Autor

Quanto ao pH, este pode ser resultado de fatores naturais e antrópicos. Valores de
pH acima de 7,0 (pH alcalino) em sistemas hídricos, como é o caso do lago em estudo,
podem estar associados à proliferação de plantas aquáticas. O pH é diretamente
influenciado pelas taxas de fotossíntese do ecossistema. Quando o processo de

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fotossíntese se intensifica, favorecido pelo enriquecimento da água por nitrogênio e


fósforo (em ambientes impactados), o pH da água tende a aumentar, ou seja, tornar-se
mais alcalino em decorrência da diminuição das concentrações de gás carbônico na água
(WETZEL, 2001). A presença de plantas aquáticas no Lago de Olarias favorece o
processo de fotossíntese naquele ecossistema.

3.3.6 Fósforo
Naturalmente o fósforo tem sua origem nos sistemas aquáticos através da
dissolução de rochas e da decomposição da matéria orgânica, por outro lado, as fontes
artificiais incluem esgotos domésticos, esgotos industriais e fertilizantes agrícolas. A
principal origem do fósforo em águas superficiais urbanas são as descargas de esgotos
sanitários contendo detergentes.

Tabela 5. Valores médios obtidos para fósforo nos 4 pontos, durante as 8 coletas
*Fósforo (mg/L)
Pontos de Coleta valores médios

Ponto 1 0,5 (±0,1)


Ponto 2 0,3 (±0,1)
Ponto 3 0,5 (±0,2)
Ponto 4 0,8 (±0,2)
0,05 mg/L P (ambiente lêntico)
Valores Legislação
CONAMA 357/2005 - Classe 3
*Medido como Fosfato Total.
Fonte: O Autor

Os teores de nutrientes inorgânicos dissolvidos como fósforo e nitrogênio


representam o suprimento necessário à produção primária em ecossistemas aquáticos. O
aumento da disponibilidade desses nutrientes, principalmente através do lançamento de
esgotos domésticos e efluentes industriais, tem como consequência direta, o incremento
da biomassa de certos tipos de algas e de macrófitas aquáticas, o que contribui com a
degradação da qualidade da água pela redução do oxigênio dissolvido (LIMA et al.,
2015).
No caso do Lago de Olarias (Tabela 5), concentrações de fósforo, medido como
fosfato, estiveram até 16 vezes acima do nível de fósforo para a Classe 3 (CONAMA 357,
2005), sobretudo na entrada do Arroio de Olarias, principal formador do lago.

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3.3.7 Série do Nitrogênio: Nitrogênio Amoniacal, Nitrato e Nitrito


Assim como o fósforo, o nitrogênio provoca o enriquecimento do meio aquático,
tornando-o mais fértil e permitindo maior desenvolvimento dos organismos que o
utilizam, especialmente as algas, fato que acelera o processo de eutrofização.
Para as amostras do Lago de Olarias, o Ponto 4 apresenta as maiores
concentrações em toda a série do Nitrogênio (Tabela 6), inclusive concentrações de
amônia superiores ao limite da Classe 3.

Tabela 6. Valores médios obtidos para nitrogênio amoniacal, nitrato e nitrito nos 4 pontos, durante as 8
coletas
Valores Médios Obtidos
Pontos de Coleta
Nitrogênio Amoniacal (mg/L) Nitrato (mg/L) Nitrito (mg/L)
Ponto 1 4,1 (±2,0) 4,6 (±2,5) 0,5 (±0,2)
Ponto 2 4,3 (±2,0) 3,8 (±3,0) 0,5 (±0,3)
Ponto 3 4,8 (±2,5) 3,6 (±2,0) 0,6 (±0,3)
Ponto 4 6,9 (±2,2) 5,7 (±3,0) 0,8 (±0,4)
Valores Legislação* 5,6 mg/L até 10 mg/L até 1 mg/L
7,5 ≤ pH ≤ 8,0 Classe 3 Classes 1 a 3 Classes 1 a 3
*CONAMA 357/2005
Fonte: O Autor

Resultados que mostram, assim como para outros parâmetros estudados, a


transferência de carga poluente, a partir da bacia, em especial do Arroio de Olarias para
o lago.

4 CONCLUSÕES
A construção do Lago de Olarias, e do espaço de lazer projetado para aquela
região, trouxe grandes expectativas, especialmente aos moradores do entorno. A
comunidade se apropriou do espaço, e mesmo antes das obras de paisagismo, apenas a
presença do Lago já atraiu inúmeras pessoas. As atividades de pesca e qualquer outra de
contato com a água, ainda que durante a construção fossem bastante comuns, atualmente
são proibidas e há fiscalização permanente no local.
Quanto à qualidade da água, as análises físico-químicas e microbiológicas trazem
indicação de ambiente impactado, principalmente, por esgoto doméstico. Os valores
numéricos obtidos para os parâmetros físico-químicos, conforme nossa interpretação,
indicam a classificação do Lago de Olarias como um corpo aquático Classe 3. Do ponto
de vista microbiológico, a água não possibilita atividades de contato primário, não é
adequada para banho, pesca, ou qualquer atividade desportiva aquática. Nesse caso, os

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valores obtidos para coliformes termotolerantes estão, majoritariamente, superiores ao


recomendado para águas Classe 3. Há possibilidade real de contaminação tanto pelo
contato direto com a água, como pela eventual ingestão dos peixes presentes no local.
Os níveis de coliformes termotolerantes encontrados, estão associados à
contaminação por esgoto e, por conseguinte, indicam a presença de matéria orgânica de
origem antrópica, tendo também como consequência, a redução da concentração de OD.
Destaca-se que os níveis de OD são extremamente importantes para a manutenção da vida
aquática, mas que a sua ausência ou níveis muito baixos dão espaço para o
desenvolvimento de espécies anaeróbias que decompõe a matéria orgânica em compostos
como aminas, amônia e sulfeto de hidrogênio (H2S), podendo resultar em odor ruim no
ambiente, prejudicando inclusive o aspecto paisagístico.
Havendo matéria orgânica, há também nutrientes como nitrogênio e fósforo, como
foi verificado, e esses são fatores que aliados ao nível de água do lago, com baixa
profundidade, podem trazer problemas de eutrofização e crescimento massivo de plantas
aquáticas. A limpeza da vegetação que algumas vezes presenciamos naquele lago,
realizada através de um pequeno barco, elimina momentaneamente apenas a
consequência. Se os nutrientes continuam chegando ao lago através dos arroios
contaminados por esgoto doméstico, o crescimento das plantas é uma consequência
inevitável. Plantas aquáticas e eutrofização também trazem danos à função paisagística.
Mesmo após o esvaziamento do Lago, que foi uma medida tomada visando obras de
paisagismo, os problemas com a qualidade de água permanecerão, caso os Arroios que
formam o lago continuem impactados, assim como toda a Bacia que precisa de ações
efetivas de reparação ambiental.
Algumas ações visando reverter esse cenário já foram iniciadas, principalmente
quanto ao Arroio de Olarias. As obras de paisagismo, da construção de um parque e
relacionadas ao setor viário em torno do lago, foram concluídas. A Prefeitura pretende
formar um Complexo com cinco lagos, e apresentou um Projeto de Planejamento
Ecológico do Arroio de Olarias, desencadeando ações iniciais de vistorias nos domicílios
quantos às ligações de esgoto, orientação domiciliar quanto à destinação correta de
resíduos e de esgoto, e desocupação de áreas de invasão no entorno do lago, realocando
as famílias. Foi também criado o Grupo Gestor da Bacia de Olarias. À medida que
avançarem as ações de recuperação na Bacia, o monitoramento poderá acompanhar as
prováveis mudanças na qualidade da água, principalmente, no que se refere às análises
microbiológicas.

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O paisagismo do entorno e a área de lazer, tornaram a área um ambiente de


destaque na cidade, e trouxeram muitas pessoas diariamente ao local. Assim, mesmo que
o Lago de Olarias seja apenas para contemplação, manter a qualidade da água, além de
benefícios ao ecossistema local, faz parte da responsabilidade com um ambiente seguro
para a população.

AGRADECIMENTOS
Corpo de Bombeiros de Ponta Grossa, Fundação Araucária, CNPq.

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