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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt. osb
(in memariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LINE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no-'a
pedir (1 Pedro 3.15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hOfe é mais premente do que outrora,
''; " visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé cat6l1ca. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste sl19 Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristão a fim de que as dúvidas se
..:.J • dissipem e a vivência católica. se fortaleça
... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Ventatis Splendor que se
encarrega do respectivo sita.
Rio de Janeiro. 30 de Julho de 2003.
Pe. EstevID Settencourt. OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATlS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencoutl e


passamos a disponibilizar nesta área, o excetente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica ·Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicaçAo.
A d. Estêvão Benencoun agradecemos a eon'iaça
depositada em nosso trabalho. bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
T
• '

O. ""901 no NOyo OI...lco ca,~n;IJ

"Ho.sa Ft . .I' Mudando?"


,
Quem pollSe celetl,.r a Eu.c:.riSli.?

.Aa D'-poslç6n pal1l Comunfar


Dignamente

"Um. Igre}<l RG Povo. pelo Po.o'

Para Tenta' D"trulc' a F6

JANEIA04FEVEREIRO - 198
PlRGUNTE E REIIPONDERIMOS JANEIRO-FEVEREIRO - 1984
Pubtlçt~ IIlmntraJ N9272

Df......~:
SUMARIO
D. fall\'ao Bet1e~rt osa
AVIM • fIIoda,tor da lode a ma"rll! - N.lO TENHAIS MEDO'" •. .. ,...... . 1
publicada " ..te pflr)Odlco
D"---" Ainda WNI yU o C6d1tO:
.0 . Hlldebtancto P. Marlln. OSB OS LEIGOS NO NOVO D IREfTO CANO-
NICO . .
,
~~ o· '.trlbuIQlo: au.,lio que aforme,...:
" NOSSA FE ESTA. MUDANDO?" ..•• . • 15
Edlçe. Lume" Chriali
Dom G,,.rdo, «) • 59 andar. S/501 Um doe_lo de Aoma:
Tel.: (021) 291 ·7122 QUeM PODE CELEBRAR A EUCARIS·
CaIu postal 2MB TIA? .. . .... ................ ... . .. "28
20001 - Rio de Janeiro • RJ
NOVDS Alpt<:Cos da Teolog" di Ubef-
taçio:
Papmento em cheque nornlnal viU.do ou " LITURGIA E LlBERTAÇ.l.O" •.•.•..•• -49
Vali PeItai _:
.u.,.pdo (pln Atlnela CenItllI/RIo).
Um problema patoflll:
AS DISPOSlçoES PARA COMUNGAR
EdlçOa lurn.n Chrl. U
DIGNAMENTE • . •• .• . . . . ..... . .. . •. .59
c.tu Poela' 2eM
20001 - Rio d, Janeiro· RJ I!dnIOloa" ..... 1Oc:o:
· UMO IGREJA NO POVO E PELO POVO" 66

Do
....
. ,,,h<> •
ASSINATURA

d. janeiro
1IU:

30
Um documento ........... :
PARA TENTAR DESTRUIR A FE ••.•• 76

d. ..... . . C., 6. 000,00


M"DRE TERESA DE CALCUTA
LIVROS EM ESTANTE
•.•.. .
•.•....••• • •••
12
as

.. ...... ..••.
De •• de junho a 31
dezembro CoS 8 .000.00
C.,
AMario,.. •, ...
N6m.,. lmlteo.. d, 191.
. .... C.,
1.000.00
450.00 NO PROXIMO NOMERO
RENOVE QUANTO ANTES 273 - Março-Abril - 1984
A aUA A881NATURA
Oeelaraçlo ecum6nlu sobre Maria.
E a conluio dos peudos? - O H nlldo
COMU...aUe-Noa QUALQUER da Eucar lsUa. - O cláma de El Palma r de
MUDANÇA DE ENDEREÇO T,ora e • " Uonlllnn. Se"I.". - A. ~c ur •• "
do Dr. Edson de Queiroz. - I Chlng. -
Halha Yo~ . - ".A. Glorllleaç.o ~.
CoMpoeIva. • 118"...100:
"Marques Saraiva-
SUltoe RodfllllMl, Z4Q
Alo ct. Janeiro Com aprovaçlo eclesiAstica
"NÃO TENHAIS MEDO!"
Estas palavras, tão repetidas pelo S. Padre João Paulo n,
encontram-se de ponta-a-ponta na mensagem bíblica; cf. Jz
6,23; Sl 3,14.16; .TI 2,215; Lc 1,30 ...
E por que caracterizam. desta maneira. os livros sagra-
dos! - Por lrre:alismo ou ignorância assintosa dos males que
ameaçam a vida do homem sobre a terra? Não haveria motI-
vos para temer. espedalmente numa época como a nossa, em
que a bomba at6mica ameaça destruir a humanidade?
A Escritura não é irreaJlsta. Muito ao contrário; exorta·
.nos a calcular bem dificuldades e perigos antes de empreen-
dermos qualquer façanha ; cf. Lc 14,28-33. Os cristãos são
enviados como cordeiros em meio a lobos; cf. Lc 10,3. Toda·
via a Escritura sabe que a obra de Deus no mundo rematará
a história e que o Senhor dirá a palavra final de todos os
tempos (cf. Me 10,325); por isto ela incita os di.scipulos do
Senhor a não temer; quem Lhe for fiel, perceberá que a sua
lula não terá sido vã. Todas as labutas e angústias serão
transfiguradas, como transfigurada foi a Paixão de Cristo.
Apenas uma desgrat'8 é realmente má: o afastar·se de
Dew ou o pecado; na verdade, Deus é o único Bem que a
criatura em hipótese alguma pode perder; a proprla vida do
corpo é valor a que o cristão pode e deve ren~clar desde que
lhe seja empecilho de fldeJldade a Deus. Com efeito, diz o
Senhor Jesus: .. Não tenhais medo daqueles que matam o
corpo, mas não podem matar a alma. Temei, antes. Aquele que
pode destruir a alma e o corpo na geena" (Mt 10.28). Aquilo
que causa a ruína total do cristão, é o Não a Deus ou o
pecado. OS valores morais, portanto, estãa adma dos valores
tisicos. como, aliAs, percebia nruito bem o filósofo pré·cristão
Platão, ao dizer que mais desgracado do que o condenado à
morte injustamente é aquele que o condena injustamente (d.
0MgIu I 469).
~ precisamente no limiar de novo ano, pelos prognósticos
apresentado como sombrio, que nos recordamos da mensagem
blbllea: «Não temals". O perigo de bombas e destruição fislca
ainda será &uperável se o eristáo souber guarda incólume a
sua adesão 80 Senhor Deus; isto pode exigir heroismo, mas o
heroIsmo não deve espantar o dJscIpulo de Cristo. Neste
mundo em que se multlpUcam os engenheiros e os engenhos,
o que se requer é :santidade e santos; é este o valor que falta e
sem o qual o mundo não pode senão estar agitado; é este o
valor gole ~e garantir aos d1scIpulos de Cristo paz em melo
às grandes. tórmentas. Cf. Rm 8,35-39.
E.B.
-1-
.PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXV _ Nf 272 - Janeiro-fevereiro de 1984

Ainda uma vez o Código :

Os Leigos no novo Direito Canônico


Em eml... : V.rllica.... que aos leigos toca o dlrelto-de .... r de anun-
ciar o Evangelho. Por Islo 110 delegados par. atividades apolt611cII em
virtude da l ua plrllclpaçlo na minto da Igreja decorrente do Batismo li
da Crlama . Além disto, os leigos 110 chamados a Impregnar a ordem teJTto
poral com o "p/rito evangélico, dando o testemunho c::rl.tlo no exerelelo
das suai funções seculares.

o. leigos caudos edillcam, pela 8U' vivência matrimonial • 'Po'a


educaçlo dos !IIho., o povo da Deus a, de moelo geral, a sociedade Cllvll.

Além disto, Os leigo. - hOmens fi mulheres - podem ser chamados


• exercer DI; Igreja tunçon e minl$térloa par. os quais estejam aptos.
Somente OI homens alo Incumbidos do leitorado e do acolltado es.....I.
e Institucionais, ao pano que as mulheres podem ser confiados mInistérIos
tomporirlos • exlr.ordInArloa.
&tes dados manifestam o papel relevante que o leigo deeempenha
na Igrela, lazendo parte da mesma eomunhlo eeleslbüea em que esllo
Inseridos os clérigos.

• • •
o novo Código de DIreito Canônico, cuja EcIesiologia está
fundada sobre a ConstituIção Lumen Genüwn (LG) do Con.
cilio do Vaticano n.
deu grande ênfase aos leigos na Igreja.
Estes são consIderados no livro n, intitulado cDo Povo de
Deus •.
o n
livro se divide em três partes; 1) Dos Fiéis em geral ;
2) Da Constituição Hlerãrqulca da Igreja; 3) Dos Imtltuto.
de Vida Consagrada e SocIedades de Vida Apostólica..
As funções dos leigos são analisadas na Parte I (Dos
Fiéis). Esta consta de quatro cânones introdutórios (cânones
204-207) e de cinco títulos: tt) Deveres e Direitos de todos os
?-
os LEIGOS NO NOVO DIREITO CANôNICO 3

Fiéis (cãn. 208-223): b) DeVI:!I.'eS e Direitos dos FIeis Leigos


(cAn. 224·231); o) Ministros Sagrados ou Clérigos (cãnones
232.293) ; d) Prelazlas Pessoais (cãn. 294·297); e) Associações
de Fiéis (oãn. 298·329).
Interessa-nos, nas páginas seguintes. apresentar o conteúdo
dos cânones introdutórios da Parte I e o dos doLs primeIros
Utulos referentes respectivamente aos fiéis em geral e aos leigos
em particular.

1. A Igreia, comunhão ele membros iguais e desiguais


1,6n. 204-20n
Eis o teor do cãnon 204, § 1':
«Fiéis são OI que, incorporados o Crislo pelo bOlismo, foram
conslltuidos como povo de Deus e assim. feitos Dorticipontes, o seu
modo da função locerdotal, profética e régio de Cristo, são chamados
a exercer, le",unda a condição pr6pria de cada um, a !I'Iluão q1l0 Ceul
connou para a Igreja cumprIr no mundo:..

Note·se que nestes dizeres é afinnada a igualdade bâsica


de todos os membros d a Igreja entre 51, Igualdade decorrente
do fato de que foram Incorporados a Cristo pelo sacramento do
Batismo. a fim de fonnar um único povo de Deus. Dentro dessa
Igualdade fundamental, porém, registra... uma desigualdade
de funções; cada qual, a seu modo e segundo a
sua vocacão
pessoal, participa das funções sacerdotal, profética e régia de
CrIsto; hã, pois, diversos modos de colaborar para a implan·
tacão e a c::onsumaçAo do Reino de Cristo na. terra.
Esta verdade é repetida pelo cAnon 208, o primeIro que
trata dos deveres e direitos de todos os fiéis:
cEntro todos: os fiéis, pera lua r&.generacão em Cristo, vigora,
na quo se refere 6 dignidade e atividade, uma verdadeira igualdade,
pela qual todOl, .egundo G condlc60 e os oficios próprio. d. cada
um, cooperam na constNçeio do Corpo de Cristo:..

I!: sobre O fato de Que hA desl«Ualdade de funções na Igreja


que se fundamenta a êXistêncla de uma hierarquia ou de um
grupo de fiéis aos quais Deus quis confiar, de modo especial, o
ministério sacerdotal de Cristo. Assbn a Igreja é uma
comunhão hler6rqulca.
-3-
••4 ,PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/1984

Os cânones 204 § l' e 208 têm enorme importância pelo


fato de que indicam os critérios para se avaliarem as diferenças
de funções na Igreja. Dizem.nos, sim, que estas são encargos,
tarefas e responsablUdades para o serviço dos Irmãos, e não
titulos de vã glória. Muito a propósito vêm as palavras de
Santo Agostinho citadas em Lwnen GenthOll (Constituição
Las: dos Povos) nO32:

cAtemorizo-me o ~e sou poro v6s1 consolo-me o que sou con-


vosco. Pois poro v6s sou bispo; convosco sou cristão. Aquilo é um
dever; isto, uma groço. O primeiro ê um per~o; o segundo, salvação»
Iserm. 340,11.

o cAnon 207, o último dos introdutórios, explicita a estru-


tura fundamental da Igreja. O primeiro parágrafo afirma que,
por instituição divina, existem na Igreja ministros sagrados
ou clérigos e lelgos_ O § 20 acrescenta que em ambos os
estados - O clerical e o laical - se encontram pessoas eon-
sagradas a Deus pelOS votos ou outros vinculos reconhecidos
pela Igreja; esta observacão realca. ao lado do aspecto juridJco,
hierárquico e institucional da Igreja, o aspecto carismático da
mesma, pois a vida consagrada pelos votos religiosos é um dos
frutos mais belos da imprevislvel ação do Espirlto. Dado que
o oarlsma da Vida Religi-osa se exerce tanto e.o tre os clérigos
como entre os leigos, verifica-se que não há tensão entre
clérigos e leigos ; uma comunhão de vida e um relacionamento
fraterno se estabelecem entre aqueles e estes independente.
mente da sua posIção hierárquIca_ A própria hierarquia da
Igreja, com seu cariter institucional e estável, é fruto do Espi-
rito Santo, O direito não tem outra missão que não • de re-
conbecer a riqueza dos dons do Esplrito e detennlnar as
condlções para que se possam exercer em vista do bem comwo.

Após 8 leitura destes cinones introdutórios. passemos ao


Ululo 'I do Uvro IL

2, Do. devere. e direi'.. de todo. os fi", (dln. 208-2231


1; de notar que tal seção se refere tanto a clérigos como a
leigos na medida em que são todos membl'O$ do povo de Deus,
Iguais entre si pelo Batismo e e ~ocação à santidade. Tenha-se
em vista o cAnon 208. inicial deste titulo:

-4-
OS LEIGOS NO NOVO DIRErro CANÔNICO S

Cânon 208: c Entre todos os fiéis, pelo suo re.generoçâo em


Cristo, vigor.o, no que se ref.re à dignidade e GtiYidode, uma ver-
dadeira Igualdade, pela qual todos, segundo a condiçáa e os deveres
próprios de cada . um, cooperam na construção do torpo de Cristo».

Dito isto, são enumerados os deveres, os deveres-dlre1tos


e os direitos de todos.

2.1 . Deveres d. todos os fiils


O Código cnWlcia cinco tipos de dever:
1) conservar sempre, no seu modo de agir, a comunhão
com a IgrC!ja e cumprir. com grande diligência, os deveres a que
estão obrigados segundo as prescrições do' Direito (cânon 2(9) ;
2) levar uma vida santa e promover o incremento e a
santificação da Igreja (cAnon 210) i
3) obedecer, com senso de responsabilidade, ao que os
Pastores, como mestres, declaram e, como ~as da Igreja,
estabelecem (cinon 212, § 19 ) j
4) atender às necessidades da Igreja de modo que esta
possa dispor de tudo que seja preciso para o culto divino, para
as obras de apostolado e caridade e para o sustento dos mlnls.
tros (cânon 222, § 1' ) ;
5) promover a justiça soclal e socorrer aos pobres com
as suas rendas (cAnon 222, § 2V).
Passemos agora ao enunciado dos

São em numero de dois:


. 1) Empenhar-se para que o anúncio da salvação chegue
a todos os homens (cânon 211) j
2) marúfestar O seu modo de pensar aos pastores sobre o
. que diz respeito ao bem da Igreja, e d.lvulgã-lo, levando sempre
em conta a integridade da fé e dos costumes e o respeito pal1l
com os pastores, assim como li utilidade comum e a dignidade
das pessoas (cAnon 212, § 39 ).
Há também
-5-
6 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272/1984

2.3. Dlreitol de todol OI fiéll

o Código enumera os seguintes direitos:


1) manifestar aos pastores as suas necessidades. especial-
mente as de ordem espiritual, assim como os seus anseios
(cAnon 212, § 2');
2) receber dos seus pastores ajuda espiritual (cãnon 213);
3) dar culto a Deus segundo as prescrlcões do seu rito
aprovado pelos legftimos past(lres da Igreja, e desenvolver a
sua vida espiritual de maneira consentânea cem a doutrina da
Igreja (cãnon 214);

4) fundar e dirigir associações para fins de caridade, de


piedade é de ntissão (cânon 215);
5) promover e sustentar atividades apostólicas (cãn. 216) ;

6) receber educação cristã (cánon 217);


7) exercer a liberdade de pesquisa e de prudente ex·
pl'eSSáo nas ciências sagradas, salvaguardado o obséquio devido
ao magistério da Igreja. (cinon 218);
8) não ser coagido a abraQQr algum estado de vida coiitra
a vontade própria (cãnon 219);
9 guardar a boa fama e defender a próprla "1ntlmidade
(cãnon 220);
10) reivindicar e defender direitos próprios no respectivo
(oro eclesiãstlco (cânon 221, § 1');

11) ser julgado de acordo com as prescrições do Direito


a serem aplicadas com eqüidade (cAnon 221, I 2'); .
12) não ser punido com penas canônicas a não ser em
conformidade com a lei (c4non 221, § 3').
O cànon 223, que encerra o tItulo I (dos deveres e d1reitos
dos fiéis em geral) dá a chave de interpretação dos anteriores.
Eis o :respectivo texto:

-6-
OS LEIGOS NO NOVO DIREITO CANONlCO '7

tanon 223 - I l' «No exerddo dos próprios direitos, os fiéis,


individualmente ou unidos em assodocões, devem levar em conla o
bem comum da Igreja, 05 direitos dos oulros e 05 pr6prios deveres pero
(om OI oulros.

I 2' Compele à Gutoridade eclesiástica, em vista do bem


comum, regular o exerddo dos direitos que sõo próprios dos fiéis :..

o cAnon quer dizer que no uso dos seus direitos os fiéis


devem observar o princIpio da responsabilidade pessoal e ~Ial,
isto é. não devem apenas exigir que os seus direitos sejam re-
conhecidos, mas devem levar em conta que tais direitos são
exercidos dentro da comunidade da Igreja. Estejam, pois,
at entos ao bem comum da Igreja, aos direitos d06 outroB fiéis
e aos deveres que de tais direitos resultam para cada. um. A
fim de assegurar a boa ordem, as autoridades eclesiásticas
moderam o exercicio dos direitos. -
Com outras palavras: o eãnon signlftca que OS direitos
individuais na Igreja não são algo de absoluto. Sejam exercidos
de maneira êtica ou moral. Donde se segue que, se o exerclcl0
de algwn dlreito pessoal acarreta dano a outra pessoa ou iI.
comunidade, o fiel católico deve abster-se de tal exerc1clo. Tal
nonna, enunciada pelo cànon 223, encontra aplicaçiO, por
exemplo, no caso enunciado pelo cànon 212, § 3 ' ; cada fiel tem
o direito de exprimir suas opiniões em matéria de fé dentro dos
ltmltes da integridade da fê e dos costumes, levando. em conta
o respeito aos pastores, a utilidade comwn e a dignidade da
"pessoa humana. Outra aplicação ocorre no cAnon 218, quando
se reconhece a lIberdade de pesquisa nas ciênclaa sagradas, mns
com a limitação Imposta pelo respeito ao magistério. "
Importa agora considerar o titulo n do livro IT, o qual
aborda diretamente os leigos na Igreja.

3. Deveres e direitos ~s leigos (can. 224-231»


Este titulo do Código, como aliás o anterior e os cânones
introdutórios, são algo de novo em re1a.cão ao C6dlgo dê 1917.
Este era muito parco no tocante 80s leigos: o respectivo
cinon 682 reconhecia-lhes o direito de receber dos clérigos os
bens espirituais e os auxUlos necessârios à salvação - o que
também ê reconhecido pelo cinon 213 do novo CódIgo; o
cinon 683 de 1917 dizia cutrossim que aos leigos não é licito
-7-
8 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 27211984

usar O hábito clerical a não ser em circunstâncias especlais; era


também proibido aos leigos pregar na igreja, conforme o
cânon 1.342, § 2'. Como se vê, aos leigos não se atrlbuiam
especiais funções na Igreja. - Ora o Conc1llo do Vaticano D
desenvolveu reflexóes sobre o laicato, que se tornaram base
para a fonnulação de nova disciplina dos !eigos.
Vejamos, porém, antes do mais:

3 . 1. Quem é um leigo?
O Código de Direito canOnlco não oferece definição de
clelgo. na IgreJa, pois tal não é a sua tarefa. ~ preciso.' por-
tanto, pedir aos textos conciliares tal definição.
A Constituição Lumen Gentlum no;l 31a chama cleigos.
aqueles que, incorporados a Cristo pelo Batismo, fazem parte
do povo de Deus e participam, do seu modo, na mIssão sacer-
dotal, profética e régia de Cristo. O n9 31b acrescenta que a
dndole seçular (isto é, a inserção no século ou no mWldo) é
própria e peculiar dos leigos.; aos leigos toca a vocação de
procurar o Reino de Deus mediante o trato honesto dos ela-
zeres temporais; é na famUia, nas profissões seculares, no
campo da cultura, das artes, da economia, da politica, das reta.
cões internaclonais que compete ao laicato exercer sua ação
conforme OS ditames do Evangelho. Cf. Lumea. GeIltium
n' 36.38; ApostoIicam A.etuosltatem. n· 7.
Verdade é que também aos clérigos e aos Religiosos é Delta
wna certa atuação nos ambientes da cultura e nas profissões
seculares, como também aos leigos podem tocar diversos tipos
de missão dentro da Igreja. Como quer que seja, o laicato se
define pór seus afazeres tempore.ls, que lhe são próprios. embora
não exclusivos.

3.2. Os c6nones retpKtlvos


O cAnon 224, Introdutório como é, afinna que dizem reg.
peito aos leigos não somente as disposições enunciadas sob o
titulo n d<>Uvro D, mas também as normas esparsas pelo Có-
digo referentes a todos os fiéis em geral ou aos leigos em
particular; tenha·se em vista o que concerne à recepção e à
adm1n1straçio dos sacramentos. às funções eclesiAstlcas. li.
jurlsdicão, aos processos e aos recursos administrativos.
Passemos agora em revista os eãnones do titulo lI.
-0-
OS LEIGOS NO NOVO DIREITO CANONICO 9

3.2 . 1. Atividades apostólkas (tônon 225)

Eis o texto do elnon 225:


C8non 225 - I l' "OI leigos, enquanto delnnodOI por Deus,
como todos 0' fiéis. poro o apollolado por meio do Bati,mo e do
Conflrmacõo, têm obrigaciio geral e gozam do direito de trabolhor,
quor fndlvldualmente, quer reunidos em ouociações, o fim de que o
divino anúncio do solwoção seja çonhecido e aceito por todo$ os
homens em todo o mundo j essa obrigação é mais premente no, ciro
cundândo. em que OI 110menl, o não ler por meio delel, não podem
ouvir o Evongelho e conhecer a Crillo.

I 2t Têm também o dewe r especial, cada um legundo a própria


condição, de animar e aperfeicoar com o esplrito ewangélico o ordem
da. realidades temporoit, e o,sim dor teslemun"o de Crilio, e,pedol-
mente na gestão denas realidades e no exercício deu atividades
seculareS).

o direito-dever de reali:ulr atividades apostólicas já foi


enuncl.ad" no cã.non 210, que diz respeito a todos os fiéis (clé·
rlgos e leigos) em geral. l!: de novo mencionado no cânon 225,
porque os leigos têm seu modo próprio de anunciar o Evangelho,
modo diferente do dos clérigos e do dos membros de Institutos
secWan!S.
No toeante ao I 1', nota·ge que o eânon incute o dever~
-direIto.. dos leigos, de evangeIi2ar sem distinguir a fonnalldade
respectiva. Com efeito; existe um tipo de apostolado que reeebe
um mandato explicito da hierarquia e que se chama cAcão
católlca. (cf. Decreto ApoolIOlIcam Actuosllarem, sobre o Apos·
tolado dos Leigos, n' 20; Constltulç.li.o Lumeo Clenllum, n' 33);
esta. constitui uma forma de Intima cooperação com a hierar~
qula da Igreja. Além da Ação Católica. conhecem-se vãrlas
outras maneiras de exercer o apostolado (cf. I.umeu OeDtiam,
n t 31). Ora todas estas modalldades são consideradas global·
mente pelo cinon 225, t I'; na. verdade, qualquer atividade dos
fiéis leigos que vise ao anúncio do Evangelho, náo pode deixar
de se coUgar ao apostolado da hierarquia e BUbmeter-se a esta.

O cAnon prevê o exercido individual ou associado da aç.li.o


apostóllca do. leJgm. - Ora a respeito de associacões de lelgm,
oCcldIgo volta a falar no clnon 327, .. tIm de esUmulá-las; po.
derio ter finalidades diversas como a de favorecer uma vida
-9-
10 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 272/ 1984

cristã mais perfeita, a de- promover o culto públlco, a doutrIna


cristã ou outras obras de apostolado ou Rinda a de fazer que
o espirlto cristão penetre mais a fundo a ordem temporal.
O § 2t do cânon 225 menciona e incentiva determinada
fonna de evangelizacão própria dos leigos, a saber: a de animar
cristãmente e.s estuturas e atividades seculares.

3.2.2 . Matrimônio ~ fomilio (canon 226)

Aos fiéis que vivem a vocação conjugal, toca o dever de


edificar O povo de Dew mediante o matrimônio e a famUia;
elo cânon 226, § 1'. _ Este parágrafo há de ser explicitado à
luz do decreto ApostoUcam ActucJsltatem n~ llc, onde se lê que
os mais importantes deveres apostólicos dos esposos são o de
manifestar, pela sua vida, a lndissolubilidade e a santidade do
matrimônio, o de afirmar o direito e O dever de educar crlstã-
mente os filhos , o de defender n dignidade e a autonomia da
tanúlia. Empenhem.se, portanto, os fiéis leigos para que ale·
gislação clvll de cada pais reconheça e defenda tais aspirações.
Além disto, o texto conciliar enumera as seguintes obras de
apostolado familiar: oradotar como filhos as crianças abandona.
das, acolher com benevolência os hóspedes., contribuir para n
boa orientacão das escolas, assistir aos adolescentes COm seus
conselhos e com recursos econõmioos, ajudar os noivos a S{'
prepararem para o casamento, colaborar na catequese, apoiar
os casais e as f8IJÚUas postos em perigo material ou · moral,
a.tender às necessidades dos anciãos, (n' llc).
O cAnon 226, § ~ trata da educação dos fUbos. Compete
primeiramente aos genitores o dever-direlto de educá.-Ios, e
educl-los cristãmente SégUIldo a doutrina da Igreja. A famflla,
na verdade, é uma igreja dom~tica, na qual os pais são para
OS fllhos OS primeiros mestres da fé e as primelras testemunhas
do amor de Cristo (cf. Lameo ~Uum Ub; 350) . - O Código
volta a tratar do assunto no cânon 793, mencionando o direito·
-dever, dos genitores. de escolher os meios e as Instituições que
melhor contribuam para a educação católica de seus filhos.

3.2 . 3. Autonomia lcânon 227.


Ao tratarem de assuntos e afazeres seculares, os fiéis leigos
têm direito à liberdade frente à "hIerarquia da Igreja, desde que
suas atividades sejam impregnadas do espírito evangélico c
-10-
OS LEIGOS NO NOVO DIREITO CANONICO 11

atendam à doutrina proposta pelo magistério da Igreja. Mais


ainda: ao professarem suas opiniões pessoais, não o façam como
se fossem doutrina da Igreja - o Que vale especialmente em
matéria de poUtica.

3 . 2 .4 . FonnaSão aoufnn6r1a (c6non 229,11 1'.2"


Aos leigos toca o direito-dever de adquirir sólida fonnar;ão
doutrinárIa, a fim de Que possam viver cristã mente e anunciat'
ou mesmo defender as verdades da fé no exercido das SU8'S
atividades apostólicas. - Tal nonna é de enorme valor numA.
época em que a doutrina da fé é freqUentemente ignorada ou
Insuficientemente ou mesmo erroneamente conhecida pelos
fiéis: as seitas, com suas mensagens e proposições, como também
as correntes teoIÕftiC8s, deixam freqüentemente OS fiéis em
estado perplexo, sujeitos a professar como artigos de fé sen-
tenças falsas ou dlscutlveJs.
OS lelltos, no seu afã de penetrar melhor as verdades dp
fé, lit"ozam outrossim do direito de adaulrir graus acadêmicos em
Universidades e FaculdadeS Eclesiãsticas ou em Instltutos de
Ciências 'Religiosas.

3.2 .5. Funções iudiciária., aãnünistrativa. e docentes


(cân. 228 • 229, t 3"
O cinon 228, § l' reconhece aos leim>s o direito de desem-
penhar oficios e en~ eclesiásticos, desde que sejam idôneos
a isto e se observem as prescrições do Direito.
Tais funções, facu1tadas tanto B homens como a mu1heres,
vêm a ser, segundo o Código:
- a de juiz; cf. clncn 1421., § 2';
- a auditor ou ouvinte; cf. cãnon 1428 I 2';
de
- a de
chanceler; cf. cAncn 483 I 2';
- a notário; cf. cAnon 483, I 20;
de
- a assessor de juiz em tribunal; cf. cAnon 1424;
de
- a de promotor de ,ustlça; cf. cânon 1435;
- a de defensor do vinculo; cf. cAnon 1435;
- a de legado papal jWlto a Estados, Autot1dades públl·
cu, Conferências, Ccngressos lntemacIonalsj cf. cln. 363, f 1.;
-11-
, . 12 ,PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272/ 1984

- a de peritos e oonselheiros dos pastores, Integrando


Conselhos paroquiais ou diocesanos; cf. cinon 228, § 2';
- a de ~nsinar as ciências sagradas, desde que, devida-
mente capacitados, recebam o mandato da legitima autoridade
ecIesibtica; cf. cãnon 229, § a',
A habilitação dos leigos ao exercicio de tais funções fun-
da-se sobre o fato de que participam da missão de Cristo em
virtude dos sacramentos do Batismo e da Crisma. Tal partici-
pação não deverá ser confundida com aquela que toca aos
clérigos em virtude do sacramento da Ordem; este habilita o
cristlo à função de pâroco. bispo, etc. Na verdade, o sacerdócio
comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial diferem entre 51 de
maneira essencial e nAo apenas segundo graus (cf. Lumen
GeoUum n' 10b) ,

3.2.6 . Minj,férios lI,úrgico •• extra-litúrgicos (canon 2301

O Código distingue três tipos de ministérIos: os estáveis e


lnstItuIdos. os temporârIos e os extraordinários.
a} HinJstérlos estáveis e InstItaldos são o de leitor e o de
flCÓl1tO. conferidos mediante rito litúrgico próprio; cf. cAnon 230.
I 1'. Ficam reservados aos homens, pois estão na linha do sa-
cramento da Ordem.
O ministério de leitor compreende o anúncio da Palavra de
Deus, a animação da Liturgia e a preparação dos fiéis aos sacra.
mentos (donde a catequese).
O ministério de ecóUto compreende o serviço do altar e a
dlsbibuIçio da Comunhão EucarlsUca não só nas igrejas, mas
tam~m nas casas dos- enfermos (cf. cinon 910. § 2t). Em
clrcUnstAncias especla1s. O acólito é também o ministro extra-
ord1n!rlo da exposição e da reposlcio do ss. Sacramento. sem
que dê a bênção eucarfst1ca (d, cAnon 943),
A colação do leltorado e do acolltado não confere direito

_ria
a remuneração por parte da Igreja, embora se trate de minis-
térios estAvels; d. cAnon 230, I 1' .
O Molu proprlo qll .....am. de 15/08/72, permite
às Conferências Episcopais, com a aprovação da Santa Sé, ins·
tituir outros ministér1os, tidos como úteis na l'e$pectlva região,
como o de ostiário, exorcista, catequista... .
-12-
OS LEIGOS NO NOVO DIREITO CANONICO 13

b) MInistérios temporários. Podem ser provisoriamente


confiados a leigos - homens e mulheres - os encargos de
leitor, comentador, cantor, ... nas funções litúrgicas. Em 1als
casos, não hé. instituição por meio de wn rito litúrgico.
c) MInlstérios extnuordiaários, ocorrem quando, na falta
de ministros instituidos, os leigos (homens e mulheres) são
assumidos para preencher funcÕeS dos leitores e acólitos. Entre
estas, sejam enumerados o anúncio da Pa1avra, o presidir às
orações litúrgicas, o ministério do Batismo, a dlstribuicão da
S. Eucaristia 1, a assistência, como testemunhas qualificadas,
a um matrlrnõnio (o que implica a fonnação catequética dos
noivos e a orientação litúrgica do rito; elo cãnon 1112) • ..
Mais duas funções sejam arroladas entre os possíveis mlnls·
térios extraordinários:
- a de administrar pastoralme nte uma paróquia, na falta
de pároco, todavia sob a responsabilidade de um presbitero
moderador (cf. cânon 517, § 2' ) ;
- a de prega r numa igreja ou capela em caso de neces-
sidade ou de especial utilidade (cf. cAnon 766); tal pregação,
porem. nãe. seja a homilia, que se segue à leitura do Evange·
lho da Missa e. como parte da Liturgia. fica reservada ao
presbitero e ao diácono. Á Conferência Nacional dos Bispos
toca baixar nonnas referentes à pregação realizada por leigos;
cf. cãnones 766 e 767. § 1 9• A fundamentacão teológica de tal
prática é !ilrmulada pelo cânon 759:
a:Em virtude do Botisma e do Confirmação, o. fiéis leigos sôo
testemunhos da mensagem evangélico, mediante o palovro a o
exemplo do vida aistâ; podem tomb6m ser chamados o cooperor com
o. Blspol • os presbUeros no exerddo do mtrnlfério da palavra, .

lObs.rva o Pe. Jesús S. Hortal S .J . no seu comont6rlo .. tr.duçlo


blllngüe do C6dlgo de Olrello Can6nlco, p. -409 (1. edlçlo);
"A dnlgnaçAo dOtl ministros exlr.ordlnArlo. d. Sagrada Comunhlo
esI! regulamentada pela InalruçAo da Sagrada Congr~çIo para a Dllcl-
pllna dos Sacramenlos 1rNn..... Clrttatla, de 29 da Janeiro da 1073
(MS 65, 1973, pp. 284-2711 . Nao .. deve esquecer o cariler elttraord5-
n6rio d..... mlnllltros . ... esse r.pelto. a cl"cta lnatruçAo adverte: 'Dado
que 8Ita laeuldada. fora .. eoneedldel Ul'lleamenl6 em visla cio bem ..p&-
ritual doa: fl6. a pala OI çaaos em quo 10 verlllca verdaderra necessidade,
tenham OI . acerdotes prnenle Que, em virtude das meamu, nIo ficam
eJIIlmldos do dever de distribuir a SanU..lma EucarlllUa aos fl61. que I.gI.
lImam.nl. 8. desejam receber; e, de modo particular. do dever da • levar
e ministrar aol doentu' ".

-13 -
14 . PERGUNTE E RESPONDEREMOS. Z12Jl9S4

Por fim, o cánon 231 observa que os leigos chamados, a


tltu10 permanente ou provisório, a prestar especial serviço na
Igreja devem adquirir a fonnat;;ão adequada à função que hão
de desenvolver. Em conseqüência, toca-lhes o direito de rece-
ber uma honesta remuneração, esslm como as garantias de
previdência, seguros sociais e assistência à saúde i tal direIto
à remuneração 000 decorre da instituição de um leigo como
ministro, mas do serviço específico prestado fl Igreja.

4. Conc:lus'ão
Em slntese, verific:a.-~ que aos l~igos toca o direito-dever
de anunciar o Evangelho. Por isto são delegados para ativi·
dades apostólicas em virtude da sua particIpação na missão
da Igreja decorrente do Batismo e da Crisma. - Além disto,
OS leIgos são chamados a Impregnar a ordem temporal com o
esplrito evangélico, dando o testemunho cristão no exerclc10
das suas funções seculares.
Os leigos casados edlficaJn, pela sua vivência matrimonial
e pela educação dos filhos, o povo de Deus -e, de modo geral,
a sociedade civil.
Além disto, os leigos podem ser chamados e. exercer na
Igreja funções • ministérIos para os quais estejam aptos. So·
mente os homens são incumbidos do leitorado e do acolitado
estáveis e institucionais, ao passo Que às mulheres podem ser
confiados m1nlstérios temporários e extraordInários.
Estes dados manifestam o papel relevante que o leigo
desempenha na Igreja, fazendo parte da mesma comunhão
eclesiAst1ea em que estão inseridos os clérigos.

Na confecçlo d..te artlllO multo nos vaiamos da expotlçla feita por


Glanfranco Ghlrtenda S .J . eob o titulo I lalel neDa Chl... MCOnclo 11 nuovo
COdIce di DlrttIo CIInonlco, em La CIvUÜI CattollCa n~ 3192, 18/06/83.
pp. 531-543.

-14-
Questio que atormenta :

"Nossa Fê está Mudando 1"


por AltrO<l Uipple

Em .Inln" AI verd.del da fé .10 reveladas pelo próprio Deu. alra·


v6I da Tradlçlo oral (que começa com Abraio ~ .6culo XIX a.C.) •
escrita (. S. Escrl\ura); lal Revelaçlo ae encerra com a geraçlo aposlÔ-
IIcI (dc. I d .C. l. Por 1$10 nlo compele nam ê Igm!a como lal nem 801
teólogos a11erar o Credo de acordO com 18 correnles de pensame nto de
cada 6poca da hlslórla. A lntraRlIg6ncla da Igreja em pontos de fé alra.
dOI séculos' precisamente o testemunho de que Ela taba nlo aer potta·
dora de mensagem meramenle humana, mas, sim, responsával por um
patrtmônlo sagrado de verdades a Ela confiadas pelO Senhor Deus p.r. a
vida doa homens.
Eltl firme", porim, nlo exclui (lO conlr6rlo, exige) a procura de
.p,..entaçlo das verdades da lé em f6rmulas 8casslvels ao mundo ~
OOJe. A pragaçlo " falia ao homem e para o homem, tal como ele 6 em
cada lase da hlst6ria, com as suas capacidades pr6prlas de ser interpelado.
Ele, em poucas palavras, o que o livro de A. Lãpple quer dizer, per·
correndo as diversas proposlç6es d. f6 ho}e em dia controvertidas.

• • •
o autor do livro «Nossa Fé está mudando h 1 é muito
conhecido no Brasil por D.Utras obras traduzidas para o portu·
guês. Professor e presidente do Instituto de Catequese e Peda-
gogia da Universidade de Sal2burg (Áustria), tem-se dedicado
L transmIss!.o das verdades da fé • das conclusões da boa
exegese moderna a professores e catequistas.
O livro em foco atende, com sabedoria e lucidez. a uma
questão multo freqUente, mostrando que nenhuma movacão
houve (nem pode haver) no essencial do Credo, mas que a
linguagem teológica. pode mudar a fhn de se tomar inteligtve1
aos homens de épocas sucessivas. À p. 41, o autor cita Walter

l-'lfred Llpple, "'NOMe F' estA mudendo -, EcI . Paullnes, 510 Paulo
1983, 160 x 2M mm, 210 pp.

-15-
16 cPERGUNTE E RFSPONDEREMOS:t 272/1984

Knsper, que diz: .A Igreja não pode anunciar hoje wn Evan·


g\illlo diferente do que anunciou no passado. Mas isto não
exclui que anuncle este mesmo e único Evangtlho, hoje, de
modo diferente. llrectsamente para que seja compreendido
como IdênUco:t. Visto o interesse da obra, exporemos, a seguir,
alguns de seus traços salientes acompanhados de breve comen-
tluio.

1. A Fé hol_
Alfred Lãpple passa em revista todos os artigos do Credo,
sem tencionar escrever um oompêndio ou manual da doutrina
cat6Uca. Apenas procura pOr em relevo o questionamento ou
8. problemática que a mentalldade moderna levanta a respeito
de cada proposição da fé e expõe o modo correto de pensar a
propósito da mesma. A leitura do livro toma.se muito útil
porque ajuda o leitOr a confrontar o certo e o errado, numa
época em que muitos mal·entendidos vão deixando perplexo e
inseguro o pov~ de Deus.

cEste livra quer logar salva-vidas lobre as ondas cgitadas da fé


hoie. Não viso, de' forma alguma, a expor uma dautrina completa
d-a fé, mas quer fornecer pontos de orientação e ... respostas .•. a
problemal e dificu ldade, que hoje são objeto de acalorado, discussõe.,
aiudando assim no fortalecimento da fé, na renovaçõo do seguimento
do Cristo c no aprofundamento do fideHdade à Igreja. Ip. .5).

Deter-nos·emos sobre alguns pontos da obra que parecem


merecer especial realce.

1.1. H
O autor faz wn balanco das contestações que a fê sofre
hoje em dia: «Chama·nos a atenção o fato de que não só a
Sagrada Escritura é utUizada contra a tradição da fê, mas
também se questionam a pré-existêncla do F11ho de Deus, a
concepção de Jesus operada pelo Esptrito Santo, os milagres
de Cristo, as aparições do Senhor Ressuscitado, a existêncla
dos anjo, e dos demônios. (~. 34).
LApple julga que esses questionamentos podem ter seu
sentido provldenclal; contribuem, sim, para que o cristão com-
preenda melhor o que protessa no Credo e o distinga de lnter-

-~6-
cNOSSA Ft ESTÁ MUDANDO?» 17

pretações espúrias; de modo semelhante, as heresias tiveram


a função, na história da Igreja, de obrigar os teólogos a apro·
fundar as verdades da fé e escla.recer o seu conteúdo. Cf.
pp. 4042.

A seguir. são indicados alguns meios de crescer na fé:


- a oração e uma vida de acordo com a vontade de Deus;
- a procura da verdade e o desejo de Deus;
- a aceitaçã'O e a superação das diversas situações da
vida, B exemplo de Jesus;
- a. constância nas crises de fé;
- a pregação da Igreja e o testemunho de pessoas fiéis;
- uma vida no âmbito da comunidade que se reune sem·
pre. cperseverando no ensinamento dos Apóstolos, na união,
na fração do pão e na ora~ão.. Cf. p. 43.

Doutro lado, o crlstAo sofre dano na fé


- se ele cessa de rezar;
- se pãra na fé da sua Infância e não> continua a se
Instruir na mensa~em revelada, particulannente se está sob
constante influência atéia;
- se abandona a Missa domInical e a vida da comunl.
dade;
- se se adapta ao esplrito contemporâneo e às opinIões
da moda, de sorte que 8 fé jâ não lhe oriente 8 vida;
- se pouco ou nada se importa (!()m a religião e enche
a vida cem futilidades;
- se se deixa seduzir pela tentaçio do bem-estar e se
entrega 80 poder do pecado;

- Sé «usa dois pesos e duas medidas. e recotTe à prâtlca


da mentira.;
..;... se se furta às exigências da nossa época e se retira
para a esfera meramente privada. Cf. p. 44.

-17-
18 cPERGUNrE E RESPONDEREMOS» 272/1984

A propósito do atelsmo de nossos dias, observa Lãpple:

"Nflo' raro ouvir dizer que a gerocõo atual nCio tem sensibilidade
paro problemas religiosol, qu~ Deus lhe é indiferente, que não se
Interena por Igreja, liturgia e sacramentos. Tais afirmacões Qenfrical
não condh:;em com a realidade, m.,mo quando proferidas com
freqüência e em alto vaI: .. .

Muitos que em público levantam o voz: e falam com segurança


de leU$ atofl mo, sentem· se inquietos no segredo do seu coração, com
o receio de que, opesor d. tudo, Deus pano exis,i,. 'À meio-noite o
homem vai furtivamente 00 túmulo de n u Deus; ali, onde ninguém o
vê, derramo lágrima$, pois 5110 olmo $ohe o que perdeu' (Friedrich
Nleb,che) :t (p_ 47).

cPor delrós de um Nõo a um Deus ',ude' e inaeteditóvel, elCOR·


de-,e frequentemente um secreto e muito autêntico Sim o um Deus
maior, mClh divino, ainda não enconlrCldo e que no enfonto se deseja
eneentror. A geração atual não vive debaixo de um ç6u 'vazio', mOI
parece ter dado inldo o uma purificcu;ão considerável, eSpiritual-reli-
giola do templo» (P . ..cS) .

1.2. Criação ou Evolução?

o texto bibllco (Gn 1.1-2,25) parece insJnuar que as crIa-


turas salre.m das mãos de Deus em condições acabadas. Com
outras palavras: parece favorecer o criaclonismo. com exclu·
são do evoluclonlsmo. - Ora estudos literários e paleográficos
recentes têm mostrado que os dois primeiros capitulos do Gê·
nes1s têm seu gênero Uterário próprio, de modo a não se lhes
poder atrIbuir alguma teoria de ordem cientifica. Os autores
bibllcos, que a Inspiração divina respeitou, não tencionavam
entrar nas questões hoje discutidas pelas ciências naturais ; a
sua finalldade era estritamente religiosa; dai a conclusio de
que seria errôneo pedir o patroclnJo dos mesmas para alguma
tese de geologia ou antropologia. ~ o que Lãpple sabiamente
observa:
co. escritores btblicos, pertenc:em'" ao ombiente arlturol da
antigo Oriente, não conhedam o conceito evolutivo do mundo. Nóo
podiam. portanto, escrever contra uma teONO d. ovolllcão álsmka.
A narrativG blblica do criação .erviu-.e certamente, como 'formo
literóno de exposiç60, de \Imo imagem do mundo hoJe obsoleta, .em,

-18-
cNOSSA FÊ ESTA MUDANDO?

no entanto, fo:r:er delta imagem da mundo obj.ta d. fé. A narrativo


blbllcu da aiac;ão néo é nem pró nem contra a tele- da evolucão da
mundo. Ao invés, é absolutamente aberta a uma evolução do mundo.

Criação e evolução nõo se opõem quais altemativas redpraca.


mente incompaU...eís. Antes poder-s.-ó di!.!!r: a ....olução do mundo
lupõe a c:riClçãO do mundo. A criação do mundo por Deul pode-.e
ter realil.Cldo, tendo ele chamodo à existência um 'átonto original', no
qual j6 estavam planeiodos todol OI desen ...ol ...imentos e evoluCÕes.
Ao onlpotincio e or'lidêm;iCl de Deus oparecem onim verdad.iromente
sob no ...o luz, ,e o uni.... rso foi organil.Cldo de Clcordo com o conceilo
de .yoluçiio ~ (pp. 74$1.

1. 3 . Anlos. demônios

Os anjos são classicamente entendidos como criaturas espI-


rituais, sem corpo, que Deus criou para sua glória e que, na
história da sa1vação, $ão mensageiros (áogeloi) do senhor
Deus aos homens. Criaturas llvres, os anjos foram submeti-
dos a uma prova de fideUdade (à semelhança do que ocorreu
ao homem no estado original) i parte dos anjos pecou então
por soberba, sendo, por Isto, chamados canjos maus» ou
cdemônios..
Que diz • propósito A1fred Upple?

1. 3 . 1. An los bons
cO onlo. assim se ou .... dizer hoje, pertence certamente ao c4u
• lt 16 das crlonça.. No Dicionório d. um cristão adulto poderil faltor
o palavra 'anjo'. •• No e nlanto, Michae l s'emonn, no 2' volume da
obra Mysterlum $alulll lEinai.deln·Zvrlch·K6In 19671 escreve que negar
a .xlltlnela dos on10s .eria negar a autoridade de JesuI. Esta palavra
d.veria fazer pensar e ebrir caminho à r.flexão d. que o doutrina dOI
anios nem pode ler, nem "6 de ser, considerada um adorno sup6rfluo
da Ui eridã. Ip. 64) •
• 0 IV Conálio do Lotrlio 112151 enunciou com toda a doreza
o m1l16r10 do Wbordode decaldal ' D.", atou bons, por nature!.o, o
dem6nlo e o. outrOI o,plritos InClUI, todavia eles ,. tomaram maus por
si mesmo'. Ip. 651 .
-19-
20 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/1984

cNõo 'e pode deduzir nem proyor peto SClgrodo Esaituto que
QS cnjQ, nãQ existam e que seiam apenas um clichê lilerórlo da pre·
sença .. autoridade de Oefllls. ' . Â 81blia não proporciona argumentos
paro prodomar CI 'demiuão' da. onjo.;? Cpp, 66s),

cDesde os prlm6rdios, a veneracão dos anjos faz pane da fé


da IgreJa. Um resumo da doutrino da Igreta acerca do. on{os encon-
Ira-'e na CaTecismo Romano publicado em 1566 de acordo com
decreto do Concilio de Trenlo "545-15631 . Diz:

'Oeus criou do nada inúmeros on10s para que sirvam o Deus e


estejam diante da sua fac=e; além disto, distinguiu-as <li! adornOU-OI com
O dom maravilhoso de suo graI;O., . Pelo Providência de Deus foi
confiado aos anjos a missão de proteger o gênero humano e anistir
o cada homem, o fim de não sofrerem maior dono'.

Certamente houve aqui e acolá alguém .q ue. animodo por curio-


sidade não pio, desejasse sober moi I a rel~ito do número, dos tltu-
los. dos hierarquia. dos onlos . Sanlo Agostinho 1354.430) disse o
seguinte sobre o aSlunto : 'Quanto o mim, devo confessar qille nado
solo r.speito', "'o reformo 011,101 do liturgia, CI !,gr.io ccmfi,mou lUa
f6 no existénda e atividade dos an jos. Na colendé~o titúrgico foram
mantidas expreuomente os feslas dos arconíos Miguel. Gobriel e
Ralael {29 de selembrol 8 CI falia dos anjos do guardo (2 de oulu·
bto). I:m muitas oratões, como por exemplo no fim do Pref6do da
MIISa, a Igreja repete incansavelmente suo fé nos anjos e arcanjos,
no. que rubins • serafins. A 'greja mentirio o si mosma e aos oulro"
se falasse acerca dos anjos sem crer no exi.tlncia deles:t (pp. 67.),

1. 3 , 2 . Anfos MaUS OU dem&rios

Eis eomo A. Lãpple enmra a questão:


cAindo recentemenle 119781 o 1e6logo catÓlico Herbert Hoog
pronunciou·.e em favor da abolição da treno;a do demônio e dedo-
rou lIteralmente r 'Protesto contra o fato de que, em nome do Sa-
grado Escritura, os aistãos selam obrigados o acreditar no diabo'»
I • . 701.
Comenta o Prof. Lãpple:
cTalvez hola mais do que um grão de verdade no expren.fio de
ChOlles Boudelair. (18:21-1867): 'A a.túcia mais refinada do diabo
, fo ..er-nos aer que ele não elllilite' lO Ip, 69) .

-20_
cNOSSA Ft! ESTA. MUDANOO ?.. 21

cNo Novo Testamenlo, sobretudo o evangelho de Marcos, narro


qu, Jelus agia também como exordslo. Atacaríamos a veracidade
do texto do Noyo Testamento ., de modo particular, Jesul; de Na:r.aré.
se qtriséssemos reduzjr O diabo o figura folclórioo e lhe concedine.
mos, no melhor dos casos, existindo lomente no papelJl {p.711.

ce comtrm ... escarar-.e na BFblio para conlrapor-.e li IgrejQ.


Sem o Isreio o Bíblia f, por certo, trma interessante coreÇao literário,
por'm noda mais. O problema da reolidade penool do demônio
não pode ler abOfdodo e respondido com bos, apeno. na Blblio.
Seria violar Q Irodicão do fé e tombém a consciência do fé do
comunidade neolellomentário . . . querer ... de.mitizor o diabo a
ponto de fozer dele um simples sinônimo do PQlovra 'pecado'. Con-
vém lembrar que o IV Concilio do Latrôo {121 SI definiu claro e
ineqtrivocamente: 'Cremos firmemente e confeuomos de coração ,in-
cera . .• qtre Deus é o origem de lodal OI criaturas vislveil e invid·
veil. doi espirituais e corporoÍl ... O diabo e os oulrOI espiritos
mous fOfom por Deus criados bons em sua noture:r.a. mos 'ornaram-I.
moul por li mesmos' .. .

Também o Concilio Vaticano 11 falou do diobo como ser pes-


soal; lenho-.e em vista a Constituição sobre o Liturgia n t 6; o 0.-
creia ,obre a Atividade Miuionl.,io n." 3 e 9. .. Preclsamenle hoje
_ quer sejo oportuno, quer importunai - o cristão deve CIO mundo o
servico de •. . desmascolá-Io, pois o anonimalo sempre foi o elemento
preferido das demôniol. (pp. 711).

1 . 4. O p~do 4liglnal

No começo de sua explanação verifica Lãpple:


cDesde que Herb,rt Hoap prodClmou 'o demissão do diClbQ',
clama-se cada vez mols 0110 por uma revisão da doutrino sobre o
pecado original.. I p. 791 .

A fé da Igreja ensina que os primeiros homens (dois ou


mais. ... Isto nio importa no caso) foram por Deus elevados
ao estado de justiça original ou de ftllação divina, e convida-
dos, mediante a apresentação de um modelo de vida (a fruta
cio paralsol, a se conflnnar ou não nesse estado. Todavia dls-
seram Nio a Deus, movtdo& pela soberba; dessa fnfracâo resul-
tou a perda dos dons orisinals; o homem ê vitima da desor-
dem dentro de si oe fora de si. Todavia.Jesus Cristo, o ae.

-21-
22 . PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272Il~

dentor, assumiu a sorte do homem pecador, e, mediante a dor


e a morte mesmas induzidas pelo pecado, apresentou ao homem
um caminho de volta ao Pai.
Tal doutrina se baseia estritamente nos dados da fêj 8
filosofia não a atinge. Por isto os critérios para confmnã-Ia
ou não hoje em dia não são critérios de filosofIa nem de
paleontologia ou ciências naturais, mas decorrerão de um re·
exame das fontes da fé: será que estas realmente ensinam a
doutrina do pecado original? Desde já, pode-se adiantar que
não hA. oposição entre a proposição da fé bem entendida e as
conclusões das ciências naturais.
A propósito escreve Lãpple às pp. 81·83:
. Seria posição mesquinha . . , I.tllar comprovor o doulrina do
pecado original apenas com lexlos velerolestomenlório, CGn 3,1- 12;
5,5; 8,21 elc,}. Deve·se recorrer lambém o trecho. do Novo re.ta·
menta (enlre outros Rm 5,12· 211 1Cor 15,20·2:2). A16m db.o, o
doutrina do culpo heredil6rio h", de ser considerada no conlunto do
história do fé e do inletpreloção da Igreja •.•

o Concilio de Trento 11545-15631. no decrelo sobre o pecado


originai (promulgado em 17 de junho de 15"'6), r.jeitou en.rgica.
mente doufrinos errados, tania sobre o pecado original quanlo ,obre
a culpa hereditário;

'$e olguém não confeuclt que Adão l O primeiro homem, le.. do


infringido o mondamenlo de Deus no paralJO, perd.u imediatamente
° Ml nlidode e a justiça em ,q ue foro criado •.. • e com i.to incorreu na
morle, com a qual Deus o omeoçaro anle5. e com o morte incorreu no
cativeiro lob o poder daquele que delde entêio teve o domfnlo da
morle, Isto it, do diabo. e Adão, por COUIO delta ofenlO do ~codo.
foi mudado lotai mente no COrpo e na alma, para pior! seio IInólemll,
Se alguém afirmar que 11 prevaricoção de Adõo prejudicou
somenle o ele e não a lUa descend'ndo, e que p.rdeu a sontidGde
e o jUlfic;a recebido. d. o.u. lomente para .i e nóo poro nós lambém
e que, manchado pelo pecado do desobediência, transmitiu o todo o
gênoro huinono OpOflOS o morte e o. cosligo. corporal., mOI n50 o
pecado. que é o morte do olmo: leia an6toma .
Se alguém afirmar Aue e.lo pecado de Adão, quo é em .uo
origem um .ó, e é tranlmitido por propogocõo o não por ImitociSo,
inerente e pr6prio o c.odo um l pode ser opogodo pela. forca. da

-22_
noturno humana ou por oulros femédios que os méritos tio únic:o
Mediador, nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nOI reconciliou em seu
longuo çom Deus.,.j ou negaI que precisamente este mérito d.
Jesus Cristo' comunicado tonto aos adultos (orno (15 crianças, atra-
vés do saCTamento do b<ltismo, quando minislrado devidamente na
forma do Igrejo, seja a"ótema',
Numa imponente perspectiva hisfóric:a, o Condlio Vaticano 11,
em sua 'Constituição fostorol sobre o Igreja no Mundo de Hoje'
Ide 7 de dezembro de 1965), ,e pronu"ciou sobre o origem e sobre
o poder do mal na história:
'Constituído por Deus em eslodo de justko, o homem, contudo,
instigado pelo Maligno, desde a início da história abusou do pró-
pría liberdade. Levantou-se contra Deus desejando otingir .eu fim
foro dele. 'Apesar de conhecerem a Deus, nõo o glorificaram como
Deus, Os seus corações insensotos se obs<ur«erom e eles serviram à
criatura 00 invés do Criador!' IRm 1.2151). Isto, que nos é conhe-
cido pelo revelaçõo divina, concorda. com o próprio experiência. Pois
° homem, olhando ,eu próprio coroçSo, descobre-se tClmbém incli-
nado poro o mClI e mergulhado em mülliplos moles que não podem
provir de seu Criador, que , bom, Recusando muitos vezes c:onhecer
a Deu~ como seu princípio, a homem destruiu a devido ordem em
relac:ão 00 fim último, e. 00 mesmo tempo, toda o harmo"jg conl~o
mesmo. com os outros homens e com as coisas criados.
Por isto, o homem está dividido em si mesmo. Por esta razão,
todo a vida humano, individual e coletivCl. apresenta-se como uma luta
dramátioa entre o bem e o mal, enlre a luz e as lrevClS_ Bem mais
ainda. O homem se. encontra incapaz por si mesmo de debelar efi-
cazmente os ataques do mal, e assim cada um 'e sente como que
carregado de cadeios. Mos o práprio Senhor veio pora libertar •
confortar o homem, renovand04o in'etlarmente. Ekpulsou o 'p,rncipe
deste mundo' (Jo 12.311, .que retinha ó homem na escravidéio do
pecado, O pecado. porém, diminuiu o própria homem, impedindo-o
d. conseguir o plenitude,
À luz. desta revelacéio, a voc:.açõo sublime e 00 mesmo tempo a
profundo miséria que OI homens sentem, encOntram o sua razão
última lart. 13).
Uma lula árduo conlra o poder dos trevos perpasso a hbl6ria
universal da ftumonidade= iniciada de,de o origem do mllndo, vai
durar 01' o último dia, .eaundo as palavra). do Senhor. Inserido
nesto balalha, o homem deve lutor sempre poro aderir 00 bem; não
canscgue alcançar o unidade interior lenão cem grande' lobvlas •
o aUkllio .to graça de Deus' lart. 371_.

-23-
24 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 272/1984

1 .5 . Ao motemldad..... r.inal d. Maria

Eis D.u tro tema que provém exclusivamente das fontes da


fé e não pode ser discutido com critérios de ordem filosófica
ou biológica. Pergunta-se, pois: a doutrina da virgindade de
Maria pertence aos ensinamentos da fé?
À pp, 96-8 da obra de LApple, lê-se o seguinte:
cO texto de Mt 1,18-25 propositodamente tendono ler uma
nota explicativa poro MI 1,16 e excluir todo e qualquer interpretação
que defenda umo concepção naturol da parte d. Maricl.

Além disto, verifiCfUe-se que, desde os princípiol, foi inclulda nal


confissiSes de f@ da Igreia a ofirmoção (também nOI fórmulas bre....es
mais çonc:iscuJ: . • . concebido do Espírito Santo, nascido da Virgem
Maria. O primeiro Condlio de Constantinopla (381) formulou em
seu 51mbolo: Creio . .. num só Senhor JesuJo Cristo ..• ,q ue se encaro
nau pelo Etpírito Santo, no seio do Virgem Mario, e se fez homem,
O Concilio de Calcedônio t -451) confessou suo fê : Antcs de lodos
os tempos tnosso Senhor Jesus Crislol foi gerado do Pai segunda (I
dtvindade, nos últimos dias, porém, nasceu par nós e poro no"a sal-
vação, do Virgem Mario, Mãe de Deus, scgundo Cl natureza humano,
O Concilie ROmano do Latrão, sob o papa Mortinho I (649), doclo·
rou numa formulação propositademenle v1,9orosa, sem deixar lugar
para dúvida alguma: Quem não confessar com o. Sanlo, Podro •• el
Mã. de Deus, fiO sentido próprio e verdadeiro, a santa, imaculada e
sempre Virgem Moria, que concebeu do Esplrito Santo, lem .6men,
o pr6prio Verba divino, gerado pelo Pai ante. de todol o. léculos, e
Incorrupta o deu à luz, conservando·se ileso a virgindade mesmo
depois do porto, seja anÓtema.

De foto, é grande Qudócia atacar o testemuntlo da E.crituro e do


Tradlcão do '"rejo , . , Pertence b fé da Igreja que MoriCl, enquanto
Virgem. totalmente à ê:lisposi(Óo de tleus, e par ole totalmente aaita
pora seu sorvica, deu à luz o Filho:'.

1.6. A -<60 .......1 de .Ieous


A ressurreição corporal de Jesus é tida por alguns exe·
getas liberais (da escola buItmanniana) como um mito, pois
ressurreiçãO de mortos é algo que não costuma ocorrer, nem
pode ler existência aos olhos da ciência. Parece, pois, que a
-24-
.. NOSSA F1: ESTA MUDANDO?, 25

proposição eJesus ressuscitou dos mort0.9 significa que 8 Pa-


lavra de Jesus, ameaçada de ser sufocada por seus adversA·
rios, superou os antagonismos e se propagou surpreendente-
mente por todo o Império greco-romano.

Diante desta interpretação, posiciona-se Llipple:

cEm visto das narrativas pescais n~ot~slamenlárlaJ, ~ dlfTcJl


defender .a opinião de que os Apóslolos nao tiveuem vislo O Cristo
renuscitado com seus olhos, nem ouvido com seus ouvidos, nem locodo
com SUClS mõos (AI 1,3; 2,23 . 32; IO,.41); é diflc:il crer que se Irotou
simplesmente de fenómenos íntimos da olmo que sil posteriormen'e
Itolvelt poro ilustrar o pregoCõo) foram tradultido. em narrativos
'palpóveis' escrit05 segundo o maneira mllico de enlender o mundo
°
e e.istência daquela época» Ip. 1181.

eAs narrotivClS neoleslomenl6rias do reuurreu:;ao e dos opori-


eMs d. Jesus dOcumentam a fé, do Igreia nascent., de que o açÕo
salvadora de- Deul foi eficaz:. As experiências e vivência. <Ia. te.te-
munhos da ressurreieõo CICor 15,.4·8; Mt 28,9s; Lc 24,13·49, Jo
20,11'291 têm uma margem hist6rica, qUe atesta de maneira fide·
digna: 'e verdaClel o Senhor ressuscitou I' (Le 2-4,3-4l:t (P. 1201.

1. 7 . Igreja: ponte ou bcmelra?

Multo oportunamente o livro em foco considera outrossim


a Igreja e sua face humana. Fata não raro constitui ocasião
de problemas e objeções para quem a observa:

eUm problema cenlral que não apenCls arranha a pele, mo.


fere O coracao, está na all,rna!lYQ: Jesus, sim - O ""rejo, nãol.
(p. 12"'.
eFola· .. de modo depreóalivo da insliluieão ecleslol e da Igreja
inllitudonol. ....carida· •• a idtia de que a IgreJa do Direito Mio
subltlluldo pelo Ivreia da caridade, .e o Igreja qU.r mesmo ter digno
d. conflanÇlO atualmente. Sonha· .. com uma Igrela ideal no futuro,
porque ,,60 se lob. o que four com a fislonomio concreta do Igr'io»
Ip. 1251.

Sabiamente escreve Upple:

-25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/ 1984

cA Igreja será apeno~ o seu lodo exterior, hisI6rico-human6,


alocado e muito ne«ssilado de reformas?

Quem diz Sim à Igreia, e muilo mais quem diz Nóo à Igreja,

I.
deve per«bor o que enlende sob O nome de 'Igreio' e o que, por.
tonta, reJello sob o citacão dg palavra-chave 'Igreja', Não e'c;opCl
do falO de que o Igreja relaciona com Crislo. Ase levianamente
demais 06 excluir desde 6 início Jesus Crill6 dos disc;ussões sobre o
Igreja. A Igrejo apoio'le em Jesus Crislo seu fundador. Jesus Crillo
não é .6 fundador terreno de uma religião, nem ""er6 fundador de
uma a,saeiac56 piedosa, do qual OI membr6s posteriormente 'o lem-
bram apenas em virtude d. uma antigo lópide sepulcral.

Quem di%. Igreja há de tomar posição diante das s,nfencos de


Jesus Cristo, Uma des:as importantes propa5icões diz: 'Eis que estou
convosco todos os dias olé a <onSUfllação dos ,éculos' IMt 28,20).
Pod.·se jogor Jes\ls Cristo contra o Igreja, se 6 próprio Jesus Oislo
.,tá presente e operanl. em lua comunidade de Fiéis? . .. A Igreja
não ~ Igreja se comiderodo apenas sob o ângul6 visual de uma
instiluiçêio dentro do mundo. , . 'Partilhar a de1erminacão fundamen-
101 de Jesus Cri.sto é partilhar a determinac:ão fundamental do IgreJa'
UOlepb Rat:r.ingerl. A Igreia, como comunidade de fé, recebe da
presenCG do Sentior JeSus Cristo crucificad6 e renuldlodo vida e mis-
s80, mos simuJtomenle também G consciéncia de sua precariedade e
de seu en<orgo de constont. correcão ~ Ipp. 125sl.

2. Conclusão
Era necesslrio se publlaasse uma obra como a que aca-
bamos de percorrer. O leitor encontrará. na mesma a expIa·
nação de outros temas hoje controvertidos. E podem perce-
ber o modo de pensar da Igreja e de seu magistério em nossos
dias: as verdades da fé não são a mera expressão da sabe-
doria humana, mas sáo reveladas pelo próprio Deus através
da Tradição oral (que começa com Abraão no séc. XIX a .C.)
e escrita (a S. EscrItura). Tal Revelação se encerra com a
geração dos ApóstolOS (séc. I d.C.). Por isto não compete
nem à Igreja como tal nem 80s teólogos alterar O Credo ou
adaptar as proposições da fé às correntes do pensamento e da
ética elas diversas épocas da história. caso Isto fosse feito. o
Crlstlanismo delxa.ria de ser sal da terra. tennento na massa.
luz no mundo (cf. Mt 13,33; 5.13s) i o Cristianismo se trairia,
pois dirla ao mundo não ser senão wna projeção da inteli·
-26-
_NOSSA FE ESTA MUDANOO? 27

gência humana. A intransigência da Igreja em pontos de fé


a trav~ dos séculos é prectsamente um testemunho de que Ela
sabe não ser portadora de mensagem menlmente humana,
mas, sim, responsãvel por um patrimônio sagrado de verdades
a Ela confiadas pelo Senhor Deus para a vida dos homens.

Esta firmeza, porém. não exclui (ao contrário, exige) a


procura de apresentação das verdades da fé em fórmulas e.ces.
sívels ao mundo de hoje. A pregação é feita ao homem e para
O homem tal como ele é em cada fase da história, com suas
capacidades próprias de ser interpelado.
EIs, em sintese, o que o livro de A. Lipple quer di2er.
E o disse!

• • •
(Conllnuaçlo da plig. 88)
exemplo, algUnl lemas da pre-hlst6rla bJbllca (Gn 1-11) , aspeclllmente os
capllulos lobre Calm e Abel, o dllUvio, a lorre de Babel, nlo recebem o
tratamento devidamente eslanso: cf. p. 143.
Todavia nlo podemos deixar de reconhecer valores no livro om pauta:
assim os capltulol lobre J esul Cristo e Maria 58., os sacramentos ..•
esllo bem estruturados. InfeUunetlle, por"", nio bastam que par. se
possa reçomendar taJ obra lO USO de nOlS$8S escolas e cursos de catecismo.

• • •
o Povo •• lIbRa. Hbn6tfa &lgMa, por Paulo Tonuccl. - Ed. Pau·-
IInu, sao Paulo 1983. 1S. x 230 mm, 265 pp.
o Pe. Paulo Tonuccl , um putor que tem exerçldo Inten.. atividade
I\a Bahia, eacre ....ndo fothelos de cunho religioso e histórico para o poYO .
sImples.
A preeante obra oferece uma IntroduçAo noe elcrltos do Antigo Telta-
menta (só) em e.tllo multo .ceal".'; de cada livro enconlra-ee uma .lnleSe
do conleOdo e al~ lobre .. e[rcunstlncW do origem. Tal expl.naçlo ,
v6llc1a, dtlde que .. flça "ria rasaatva 10 comanl6rlo do autor sobre os
onze prrmelf08 capltulol do 6'; ..." (prlnclpelmente Gn 1-3). O pecaclo
dos primeIros pala , apresentado como um pecado qualquer. que ter' dado
Inicio I outros pecados; o estado de IU5tlça origInai, o convite 1 f1ll1ç~
(Continue na pég. -4e) .

-27-
Um documento de Roma:

Quem Pode Celebrar a Eu(aristia 1


Em ,Int...: i\ S. Congregaçto para a Doutrina da Fé, com d.UI de
08/08/83,pubIlCOU uma Carta em que rejeita !lorial recent., "Vumlo ••
quars a Eucarbtla poderia ser valklamenle celebrada por fiéIs crlallOll que
nIo lenham rllcebkSo o Acntmenlo da Ordem. Tal tese contradiz aOl pro-
p6sHot do Senhor Jasus formulados no Eyangelno (cf. Lc 22,191; 1Cor
11,23-25), como tamb6m .. estrutura da Igreja - Corpo de emto, no qual
hi dlvorü$ fUflçGes dellnldu por vocaçlo do próprio Deus. A panlclpaç60
no ..cerdóclo de CrlSlO cOfllarlda pelo Saoramenlo da Ordam difere em
....nel., e nlo apenas em grau, da partlclpaçao oulorgsds pelOll ..era-
menlos do Batismo e da Crisma: cf. ConstHulçlo Lumen Gentlum n' 10.
A Tradlçlo crlslA guardou ciosamente 8& noe!!es de Igreja 8 ••cramenta
r.c:obldu do Senhor JesuI; noJe talll oonoepç!ies alo real/rmedas a Ululo
d. ..rv~o prestado pelo magl. l'rlo de IgreJ' li. yerdade fllvelada li ti
unldl:da da Igreja. Nlo 18 Irata, no caso, de extinguir .. funç10 dOi mIni..
trol extraordlnlrloe d. EUCllrbU., reconhecIda pelo novo Código de DIreito
Cen6nlco, dnon 910.

• • •
Com a data de 6/08/83. a S. Congregação para a Dou.
trina. da Fé publiCOU uma Carta dirigida aos Bispos e, por
melo destes, aos presblteros e aos fiéis. a propósito do minIs·
té-rIo do sacrlftclo eucarlstlco; segundo novas correntes teoló-
gicas e pastorais, o sacramento do Batismo mesmo capacitaria
o cristão. em . detenninadas cIrcunstâncias. a celebrar valida·
mente a Euearl.stla. convertendo o pio e o vinho em Corpo e
Sangue do Senhor .Jesus.

Dada a ÚDportlncla de tal documento, publloarem08, a


.egulr, o seu texto, ao qual se segulri breve com.entArlo.
- Logo de inicio, taz-se mister obsetvar que o problema náo
versa sobre a distrlbulção da S. Eucarlstla por parte de leigos
(como inadequadamente anunciou a imprensa), mas. alm. a
pretensa oonsagracão do pão e do vinho por leigos para que
J(! tomem o corpo e o sangue de CrIsto.

-28-
o MINISTRO DA EUCARISTIA=_ _ _ _ _-'"

I. O TEXTO

«I - Infr.odu~õo

I_ Quondo o Concilio Vaticano 11 ensinou que o sacerrdócio


",iniSlerial ou hierórquico difere essencialmente, e não open~lJ em
ifau. do SoCIcerd6c;io comum dos fieis, exprimiu a certeza de fé de
que somente os Bispos e os Presbitero. podem realizar o Ministério
eucarístico. Com efeito, embora todos os fiéi, participem do único
• idêntico Sacerdócio do Cristo e concorram poro o oblac;ão do Euca-
ristia, s6 o Sacerdote mini.teriol eslá habilitado. em virtude do sacro-
menlo do Ordem, poro realizar o Sacrifício euc:arbtico in penona
Cri,ti I personificando Cristo) e poro oferecer em nome de todo o
Povo cristão I

2. Nos últimos anos, porém, come<orom a ser difundidas a,


por vezos, o ser postos em prótice opiniões que, negando estes e"li-
namentos, ferem no mais Inlimo a vida da Igreja. Tais opiniões,
divulgadas sob formos e com argumentos diversol, começam a aliciar
os simples fiéis, quer pela falo de se afirmar ,que elos pouuem uma
certa base científico, quer pelo falo de .e opresentorem como solu-
c;ão poro as neceuidades do serviço paslorol dos comunidades C(is~
tãs e da sua vida sacramental.

3. Por i"o, esta Sagrado Congregação poro a Doutrina do


fé movida pelo desejo d. p,reslor aos Paslores de alma. as pr6prla.
l

servico•• com esplrila de afelo eole,giol, propõe-H chamar Q oten-


'liCio, com o presente Carla, para olguns pontOI a.,endais da dou-
trina <Ia Igreja açerca do Ministro da Eucaristia, OI qU4is tim 'linda
a ser tranlmitidos pela Tradição vivo. a .er expressos em preceden-
te. documentos do Magistério. Supondo aqui Q visão integred do
ministério IOcerdotol, como ó apresentado pelo Condlio Vaticano li,
o Congregação con.idera urgente, na situoc;ão 011,101, uma Inlervençi50
esclarecedorG sobre esta função euencial e peculiar do Sacerdote_

11 - Opiniões .rr&nea5
1. Os foutor•• das novai opiniões ofirmaM que loda e qual_
. qllel comllnidade cristã, pelo filio de se reunir em nome de Cristo ••
portonlo, d. se beneAçlor dll SilO prescnca Icf. Mt 18,201, eslaria
datado de todos os poderes qve o Senhor qllis conceder l.I sua
-Igreja.

-29-
30 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ Z1211.984

Opinam ainda que a loreja , apostólko no sentido de que


lodos equrles que pelo santo Batismo foraM purlficodos e nela incor-
porados e lornados participantes do múnus socerdotal, prof6tico e
real d. Cristo, seriam tombém reolmuta sucessores dos Ap6stolos.
E, uma V8;t que nos mesmos Ap6stolos 8st6 prefigurado lockl a Igreja,
seguir-se-ia doi que tombem as palavras da instituição da Eucaristia,
a eles dirigida., leriam destinadas o todas.

2. DO,q ui.e seguiria iguallJllente que, por muito necessório


que seja poro a boa ordem do Igreja o ministério dos Bispos e do.
Presblteros, el. não se diferenciaria do stseerd6c10 comum por um
motivo de porticipa,ão do Sacerdócio de Cri.to no sentido est,ita,
mos somente em rozôo do exercicio. O chamado oficio de dirigir a
comunidade - o Cf'Iol inclui t(lmb'm o munus de pregar e de presidir
6 lograda 'Sinolle' - seria um simples mandato conferido lendo
em vista o bom funcionamento da mesma comunidade, mos não deve,
rio ler 'soc:ralizodo', O chomomenlo o tal ministério não acrescentaria
uma flaVO capacidade 'socerdotal' no ,enlido estrilo - e e por iuo
que o maior porle dos ve;tes se evila até o termo 'sacerd6cio' _ nem
imprimiria um carõter que conllituo alguém ontologicamenle no con-
dlCÕa d. ministro. mas tão somenll8 expreu(u'ia diante da comunidade
que G capacidade iniciell conferido no loaamento do Batismo le torno
efetiva,

3. Em virlude do apoltolicidade d. cada comunidade local,


em que Cristo eslaria presente não menos do que na estruturo eFis-
copol, qualquer comunidade, por ,mais pequena ~ua seja, se vleua
a encontrar-se privada durante muito tempo daquele seu el.menlo
constitutivo que é a Eucaristia, teria o possibilidade d. 'reapropriar-se'
do seu poder originário e te,la a .dire1ta de designar o pr6prio presi-
dente e animador, outorgando-lhe lodos os faculdades necess6rias
para ele passar o ser o guia da mesmo C6munidode, sem excluir o de
prelldir e de consagrar o Eucaristia, Ou então - afirma-u ainda -
o próprio Deus não le recusaria a cona:der, em semelhantes dreunl-
t&ndas, melmo sem o Sacramento, o poder que nQrmalment. con-
cede mediante o Ordenação sacramental,

levo também à mesma conclusão o fato de que o celebração


da Eucaristia multai ' vezes li entendida sImplesmente como um 010
da comunidade local reunido paro CQrlll*maror o última Ceio do Se-
nhor mediante Q fracão do pão. Seria, por ecn.agui"t., mais um
conviria fraterno, no qual o comunidad. se reune e se exprime, do
'lu. a renovoçga saaamontal do SocrHlcio de Cristo, cuia eficácia
salviflco le estende o todos os homens, presentes e ausentos, vivos
o defuntos.

-30-
o MINISTRO DA EUCARlSTlA 31

~ _ Por outro lado, nalgumas regiões a. opiniões errôneas


sobre a necessidade de Minishos ordenados poro a C&rebro~o da
Eu(orilfia, induiram alguns a atribuir cada vez menor volor à cale-
quese sobre 010 sacramentOl da Ordem e da Eucariltia,

111 - A doutrina da Igreja


1 . Embora sejam proposto. de formos baSlonle diversos e ma_
tizados, OI referidol opinioes converge m todos no mesma conclusão:
que o poder de realizar o sacramento do Eucaristia nõa esto neces-
sorlamenle ligado com o Ordenação scCfamentol. E .. evidente que
ello conclusão não pode coadunor- •• de maneiro nennumo com o
fá transmitida, dado qUe não s6 neQa o poder confiado 001 Sacer-
dotes, mos também deprecia todo a estrulura apost6lica da Igreja e
deformo o próprio economia saeramenlol da Salvação.

2. Segundo o ensino do Igrejo, o Palavra do Senhor e Q Vida


divina por Ele proporcionada ellõo destinados, desde o princípio, a
ser vividos e participadas num único corpo, que o pr6prio Senhor poro
.i edifico QO longo dos séculos. Este corpo, que é a ItJreja de Cristo.
dotado continuamente por Ele com o s dons dos minist6rlol, 'bem QU-
manlado e bem coeso por meio de iunluros e de ligamentol, recebe
o desenvolvimento desejado por Deul' ICol. 2, 191 . Esta estrutura
ministerial na lagrado Tradiciio concreli%a-so no. poderes outorgadol
001 Apóstolos e oos seus sucenorel, de santificar, de ensina, e de
governar em nome de Cristo.

A 0poSfolicidade do 19re;0 nao significo que lodos OI fifi,


selam Apóstolos, nem Jequer de um modo c:oletivol e nenhuma comu-
nidade tem o poder de conferir o ministério apostólico, que funda-
mentalmente é outorgado pelo próprio Senhor. Quando a Igreia se
prafelso apofló1ico nOI Símbolos do fi:, portanto, exprime, al6m do
idantidgd. doutrinai do seu ensino com o ensino dos Ap6stalos, a
realidade do conlinuaciio do múnu. dos Ap6stolos mediante o estru_
lura da sucessão, por meio da qual a missiio apostólica deyer6 per-
durar até o fim dos sblos.

Esta .ucessóo dos Apóstolos que falo com .que toda (I Igreja sela
.cf".
apostólico, constitui porta da TrodJ,ao vivo, foi, desde o prindpio,
e continuo a ser poro o mesmo Igreja a suo forma de vida. Por cuo,
afaltom-se do rato cominho aqueles que opõem o asla Trodição viva
algumas portes '.olados da Escritura. das quais prelendem dedu&ir a
direito a outras estruturas.

-31-
32 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS:. 272/1984

3 . A Igreia Cat6lica, que cresceu nG decorrer do. séculos.


continuo a crescer pelo vida que lhe doou o Senhor corri a efusão do
Esplrito Santo, manteve lempn o sua estruturo aposiólieo. sendo 'fiel
à tradição dOI Apóstolos, que nela vive e perdura. Ao impor as mêios
aOs eleitos com a invococão do Espírito Santo, ela está c6nscia de
administrar o poder do Senhor, o qual torno participantes de modo
peculiar os Bispos, sucenores dos Ap6stolos, da SUCI Irlplice missão
sacerdotal, profétiCO e real. E os Bispos, por sua vez, conferem, em
tirou diferente, o oficio do seu ministério o diversos oultos na Igreja.
Portanto, ainda q\1e todos OI btlti;u ldol possuam o mesmo digni-
dade diante de Deus, na comunidade aislã, que o seu divino Fun-
dador quis hierarquicamente estruturada, existem desde os seus
primórdios poderes apostólicos elpe-cificos, .que dimQl\.Qm do sacra-
mento da Ordem.

4 . Entre estes poderes, que Cristo confiou de maneira exclusivo


aos Apóstolos e 001 leus sucessores, figuro o de realizar a Eucorislio.
Somente aos Bispos e aos Presbítero., a quem os mesmas Bispos
tornaram participantes da própria ministério, est6 reservado o foculdo'de
paro renovor no Ministério eucorfllko aquilo mesmo qUe Cristo fez na
Ultima Ceia.

A fim di poderem exercer os próprias funcã~s, especialmente Q


tão importonle f~nçõo de reoli%or o Ministério eucar(slico, Crislo
Senhor marca espiritualmente aqueles que chama 00 Episcopado e 00
P,esbiterodo com um sigilo, chamado também, em" documentos solenes
do Ma,gidério, 'carôfer', e configllra-os de 101 modo consigo pt6prlo
que, 00 pronuncio,em as polavro$ da c:onsatlroção, não agem por man-
dato do comunidade, mal .im 'In perIOna Christi", o que quel' dizer
algo mais do ,q ue 'em nome de Cristo' ou 'fa~endo as vezel de
úblo' . . dado que o celebrante, por uma rQzão sacramental por-
ticulor, se .dentifico com o 'sumo e elerno Sacerdote', que é o aulor
e o principal Aoente do S811 próprio Sacrifício, no qUe não pode na
realidade Slr substituído por ninguém.

Uma vu que fn porte da próprIa natureza da Igrelo qve o PQd.r


de ·consagror Q Eucarislio tejo 0\1tor90do .omente aos B1spos e aOI
PresbUeros, os qual. sBo constiluldos Ministros paro isso, mediante o
receptlio do sacramento do Otdem, o mesma Igreja profeua que o
Minbtérlo eucarlsUco nlia pode ser celebrado em nenhuma comunidade
o não ser por um Sacerdole ordenado, conforme ensinou expresso·
menle a Concilio EC\lminlco Lolaranense IV.

-32 -
o MINISTRO DA EUCARISTIA 33

A cada 11m das fiéis ou às comunidades .qM por motivo de per·


seguiçao ou por falta de Sacerdotes se velam privadas da celebração
dg Sagrado Eucariltia, durante breve tempo ou mesmo durante um
perlodo longo, nóo faltar6, de alguma maneiro, o graça do Redentor.
Se estiverem animados intimamente pelo voto do Soelamenta e, unidos
no oracão com toda a Igreia, Invocorem o Senhor e erevarem poro
Ele 05 próprios coracões, tais fiéis e comunidades vivem, por virtude
do Espírito Santo, em comunhão 'Com o Igreio, corpo vivo de Cristo,
e com o mesmo Senhor. Medionle o voto do Sacramento em união
com a 'greja, aindo que edejam muito afollodos externamente, eltão
unidos a ela Intimo e realmente e, por ina, recebem os frutos do
Socramento; ao pano que aqueles qvo procuram atribuir-se indevida-
mente o direito de realizar o M1nlstério eucorfllico, ocabom por fechar
em , I mesmo a próprio comunidade.

A conscjl ndo d isto não dispensa, contudo, os Bispo . , os Sacer-


dotes e todos OI membros do Igreja do dever de pedir 00 'Senhor
da mene que monde trabalhadore l' segundo os neceuldades dos
homens e dOI lempos Id. Mt 9,37nl, e de se aplicorem com todas
ai forcal para qUe leia ouvido e acolhida, com humildade e genero-
sldClde, a yocacão do Senhor ao SClcerd6cio ministerial.

IV - Exorta~ã. à vigilância
Ao propor li atenção dos Pastores logradas da lareia estes
pontos, a Sa,grodo Congreaaçiio para a Doutrina da F6 tem o deselo
de prestar-lhes um servIço. no 'ou mInistério de apascentar a arei do
Senhor com o alimento do verdade, de guardar o dep6slto do; fê. de
conservar Integra a unidade da Igrela. e necen6rio resistir, firme. na
f', ao erro, mesmo quando este se apresenla lob os aparênclol de
piedade, poro poder obroçar com a condade do Senhor os que erram,
professando o verdade na condode I cf. Ef 4,15) . ex fiéis que
atenlam a celebração da Euca~stlo à margem da vinculo da Iucollêio
apostólico, estabelecido com o saeramento da Ordem, excluem-se o si
mesmos da participação no unidade do único corpo do Senhor e,
por conse.q06ndo, não rlutrem nem edificam a comunidade, mal
dellroem-no.

Incumbe, poia, aos Pastor•• d. almo. o múr.u, de "'gior,· para


que no catequele e no ensino da Teologia pão continuem Q sor difvn-
dldos OI opiniões err&neas adma mendonadal e e.pedolmente poro
q\le elo. não encontrem opllc:acão <onaeto na pr6t1c:a; ., se porventura
se dessem COlOS do g'nero, incumbe-lhes o sagrado dever · d. OI

-33-
34 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/1984

denunciar como lotolmenle eslronhol li celebrocao do Saaifldo


eucarlstica , afensivol da comunhão eclesiol. E 11m o mesmo dever
em relação oqueles que diminuem a importância centrol dos 10crO-
menlos da Ordem e da EucarhtiCl para a Igreia. To",b~m a eles,
efetivamente, são dirigidas estas palavra,l« 'PregCl CI palavra, insi"e
a tempo a foro de tempo, canfutCl, exorta com todo CI lon9animidade
• dele!o de instruir. . . Vigio alenIOme"fe, resiste li provClcão, pregCl
o Evangelho e cumpr. o 'eu ministério' 12 Ti", -4,2-,51.

Que a solicitude colegial encontr., pois, .nestal clrcunstâncic:II,


uma aplicação concretCl. de moda que o Igreja, monle ndo·se indivisa,
mesmo dado o suo variedade de Igrejas locais que colClborom con-
Juntamente, .guarde o depósito que lh e foi confiado por Deus através
dos Apóllolol. A fidelidade à vonlade de Ctillo e o dignidade aistã
exigem que Q fé ttcmlmitida pl!:tmoneço a melma a oili", proporcione
o todos os fi éis ti pOl no fé (cf. Rom 15, 131.

. O Sumo Pontlfice João Paulo 11, em Audiência concedido 00


obaixo-Clulnodo Cardeal Prefeito, aprovou a presante Carta decidido
no raunl60 ordinária deato S. Congregação (li! ordenou o lUa publicação.

Roma, do Sede da Sagrado Congregação poro O Doutrino do


F6. 001 6 dias do mi s d. ogosto, Festa da Transfilluracõo do Senhor
do ono d. 1983.

Josoph Ccnd. .""lng.', ,_


D. Fr. Jéram. Hamer, O.P.
Al'Cebhpo tlt. d. Lolfum., Seuet6rio»

• • •
11. COMENTÁRIO

Como se vê. o texto da Santa Sé compreende quatro par-


tes: 1) Introdução ou apresentação do documento: 2) o pro-
blema subjacente; 3) a doutrina da Igreja ; 4) convite à vlgl-
llnda. Examinemos sumarlamente o problema e a respecUva
resposta da Igreja.

-34-
o MINISTRO DA EUCARISTIA 35

1. O problema

Em lUa Ultima ceia, celebrada tão somente com os doze


apóstolos, Jesus consagrou o pão e o vinho e transmitiu aos
Apóstolos a ordem de repetir o que Ele tinha feito «em memó-
ria de Mim (Jesus)>>; cf. Lc 22,19; lCor 11,23-25. O Senhor,
desta maneira, instituiu a Eucaristia, que, segundo entendeu
a Tradlcão cristã desde as suas origens, é 8 perpetuação do
sacrfllclo da Crw:; é uma re-presentacão (no sentido etimol6-
gico de tonaar de novo presente) do sacrWcio do Calvário,
para que a Igreja, isto é. os fiéis, sob a presidêneia de wn
ministro devidamente ordenado (como os Apóstolos o foram),
possam tomar parte desse sacrifício ou desse ato de entrega
de Cristo ao Pai. No calvário, Jesus se ofereceu, a sós, ao
Pai; na Eucaristia, Ele se oferece com a sua Igreja.

Em todos OS tempos, a Igreja entendeu que a celebração


da Eucaristia é funcão própria dos Apóstolos e dos ministros
que. pelo sacramento da Ordem. participam especla1mente do
sacerdócio de Cristo. AlIás. Jesus na última ceia só tinha os
Apóstolos como convivas e só a eles deu a ordem de repetir
o seu gesto.

Nos últimos anos, porém. tem·se espalhado a concep.;ão


de que também os leigos, não ordenados presbíteros, podem
confeccionar a Eucaristia. ~ tese é 'fundamentada pelos seus
arautos em razões teológicas .assim concebidas:

1) Toda comunidade cristã, pelo fato de se reunir em


nome de Cristo, beneficia-se da presença prometida pelo pro..
prlo Senhor: cOnde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, ali estarei no meio deles.. (Mt 18,20). Por conseguinte,
acha~ dotada de todos os poderes que o senhor quis con-
ceder à sua Igreja, entre os quais está o de celebrar a S. Euca-
ristia.

2) Todos os cristãos são, pelo Batismo, feitos partlclpan·


tes das funções sacerdotal, profética e régia de Cristo, como
OI Apóstolos; slo, portanto, sucessores dos Apóstolos. "- Por
conseguinte, também a eles se dirlge a Palavra do Senhor
«Faze! isto em mem6ria de Mim».

-35-
36 c:PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/1984

3) O sacerdócio dos Bispos e dos presbíteros não se dife-


rencia dO sacerd6clo comum de todos os fiéis por diferença
essencla1, mas apenas pelo fato de que aos Bispos e presbite-
1'05 a comunidade ecleslal confere o mandato de exercer tal
aacerd6cio para o bom funcionamento da comunidade. A habi-
litação para consagrar a Eucaristia se toma efetiva, por desejo
da comunidade. nos Bispos ~ p~b!teros. ao passo que per-
manece potencial nos demais fiéis.

4) A conseqUência destas ponderações é que, desde que


a comunidade eclesial se veja privada da Eucaristia por falta
de presbltero, ela pode reapropriar-se do seu poder originãrio,
designando o seu presidente e animador, dotado de todas as
facu1dades necessárias para consagrar a Eucaristia.

5) Tais Idéias são ainda favorecidas pelo fato de que


não poucos autores ou grupos cristãos consideram a Eucaristia
um convivio fraterno (ágape) mais do que a perpetuação do
sacrtflcJo de Cristo, oferecido pela Igreja com Cristo em favor
de vivos e defuntos. Aliás, nota-se, no Brasil mesmo, Que
jovens católicos que corneQêl.m a conviver entre si (t\Or exem-
plo, como colegas da mesma tunna de Filosofia ou Teologia),
alegam não querer ou não poder celebrar a Eucaristia porque
cnão têm o que celebrar.; preferem aguardar que haja mais
entrosamento e senso fraterno entre eles para ter algo a cele-
brar, como se a Eucaristia tosse simplesmente á. celebração do
amor fraterno existente entre os homens.

6) Ainda em conseqüência de quanto foi dito, verifica·se


que na catequese se atribui cada vez menos valor aos sacra-
mentos da Eucaristia e da Ordem, a fim de dar uma dimensão
menos «ritual:. e mais social ou vIvenda! ao Cristianismo - O
que redunda num Cristianismo secularizado. que vale tanto
quanto a pram ou a ação 90Cial transtonnadora dos seus
membros.

2. Um esp"clmen brasileiro

Dentro da Uteratura teológica do Brasil, encontra-se um.


"esPéclmen representativo das concepções em pauta. Tenha·se
em vista a obra EcWogêaeeo de Frei Leonardo Boff OFM.
-36 --
o MINISTRO DA EUCARISTIA 37

Neste livro, o autor considera algumas Questões Disputadas,


entre as quais cO Leigo e o Poder de celebrar a Ceia do Se·
nhor> (cf. pp. 73-81, Ed. Vozes, Petrópolis 1977) .

1. Antes do mais, o autor expõe o proplema para o qual


procura cuma saidaJO (p. 77):

c Evidentemente lodo comunidade organizada terá .. us ministros


consagrados. Mas que far6 uma comunidade, que sem culpa e por
longo tempo se vê privado do mistério eucorlstico. sacromento de
unidade e de SOI'lOCÕOf As CEei moslrom que o leigo pode fazor tudo
o qu~, pasloralmente, um sacerdote foz. Apenas nõo pode consovrar
e Pêrdoar os pecados. '0 pOvo pergunlo , por que nós não podemos
celebrar o Eucarillia?' (Meden, C., 'O fulurc de nosso ,panado', em
Uma 19",0 que nasce do povo, op. cit., 1371 . Sobemos do existência
de grupos nos quais o chefe do comunidade, por delegacão delo
ad hoc, unido à 'oreia universal, preside ô ceia do Senhor. Que valor
pouui tal .gesto? Diz-nos um relalório dos EUA: ' Porque eles procuram
novos ministério., os cOlólicos comunitários não se sentem comple to-
mente ligados ao panado. Eles sobem que é o Senhor que renova
tudo pela sua própria Palavra (Ap 21,5). Se o gnJpo acho quo deve
le reunIr paro o partir da põo, nem sempre so preocupo em ler um
socerdole; elel fazem o que lêm qUe fazer. E, se lorem pergunladol
se o que eles fizeram era socromenlo ou mina, provovelmente respon-
derão que nõo IObem. Tomarão isso como uma pergunto lealôsico e
deix.arão assIm aos teólogos dizerem o que é que .Iel fizeram. Em
todo co,o, eles nóo se senlem compelidos o fazer nenhuma rei .... ndi-
cação nesse sentido' IR. Weslley, 'Comunidades de base nos Esladol
Unidos', em CondU"", 104, 18).

Que poderó e talvez também deveró dizer a tcolOVia? .. • As


CE8s caminham paro uma legitlma autonomia e uma exprenão laaa-
menlal cada vez lI'\Qis completo. A recepção do sacramento eucarlstica.
ande se ellpreSSa e se criCl a unidade da comunidade, " d. direito
diyino. Pode um direilo eclesiôstico obstaculizá-lo? lab. dI. pp. 7l,1.

2. A seguir, O teólogo franciscano obselVa que proporá


um tboolog(un.eaon ou uma teoria teológica, e Dio curna soluçi.o
que deva ganhar o consenso de todos. .. Nio queremos com
esta reflexão incentivar eucaristias sem OIS minlstros ordena-
dos. .. Trata-se ... de a.lulzar teologlcamente sobre aqueles
que, presidindo uma comunidade, sofrendo pela ausência da
Eucaristia e deselando-e, em comunhão com toda a Igre'a, se
sentem movidos pelo Esplrlto a celebrar a ceia do Senhor.
-37-
38 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/1984

embora sejam carentes de poder sagrado pelo sacramento da


Ordem. Que valor possui esta ceia do Senhor? Que poderá
dizer a teologia, não .. priwi, mas sobre este fato) (p. 74) .
3. Dito isto, Frei Leonardo expõe o seu modo de ver, que
ele mesmo chama chlpótese:t (p. 79):
. Cremos ~ossuir dados teol ógicos suficientemente asuilurados
para avançar a seguinte hip6tese :

- a comunidade está, pela reto doutrina, no fé e na sucessão


apostólica;

- a comunidade todo, merci dQ U, e do bati. mo, é conl lilulda


como ~mun i dode socerdolali nelo C"slo eSla presente exercendo sua
lum;õo socerdotal;
- a comunidade lodo iI Sacramento universal do salvac;:ão,
porque ê presenço lacol da Igreja univ8nol ô

- a comunidade está, por seus coordenadores, em comunhõa


com os demaIS Igrelos irmós e com o I,greio universal;

- qnr ardentemente o sDcromento da Eucaridio;

- vê·se privado por lonpo tempo, e de formo irremedióvel, do


ministro ordenado;

- nao lem culpo do falo, ne-m e xpulsou de seu seio o sacerdole.


Entõo o comunidade em função di.to tudo;

pelo votum (pelo deselo) já tem ousso à .graça eucarlstica

pela celebrac;:ão da cela, por seu coordenador não-ordenado,


tem tamb.m 'Os ,Inais sacrQmentGis (m ot sacramentuml;

- ela, assim nos parece, celebraria verdadeiro, real e sacra-


mentalmente ° Eucariltia õ Cristo presente, mas invislvel, for-se-ia, na
penoa do coordenador não-ordenodo, s.acromenta'menle vlstvel,
- embora haia preS41nc;:a saaamenlal do Sumo Saardote Jesu.
Cristo, o sacramento " Incompleto, porque falia a ordenoção ao
sagrado ministério presbitero'. Â Igreja univencll-saClomenlo·roiz do
todo. os demais sacramentos tornaria vólido, por via da 'economia'
IlUpple1 Ecdesio; cf. Congar, Y., 'Propos en vue d'une thioloaJe d.

-38-
o MIN 15TRO DA EUCARISTIA 39
I' economie dons lo trodition lotine', em lrênjkon 1972, 155-207', CI
rito eucoristico celebrado na comunidade, expreuõo 10001 da Igreja
universal;
_ o c.lobronle não-ordenado s.ria ministra extraordinário do
scaomenlo da Eucarbtia_
Talvez não se deveue chamar Q iuo d. missa, ,pois missa' uma
calegoria bem definida, teologicamente. Mell10r fwfamos denomlnó-Ia
d. allebroção do Ceio do Senhor. N(io se deveria reprodu~ir o rito
litúrnico da santo mina, que tem sou contexto litúrgico. hist6ric.o e
oficial estabelecido. Mas dever-se-io proforir um rito ortl0ni10do pela
comunidade, nascendo de suo copoddade criadora, dentro do qual
houvesse a celebração do Ceia do Senhor» Cpp. 79s).

o texto transcrlto suscita várias interrogações, entre as


quais a de saber qual a diferença entre MIssa. e (lela. do SeDhor,
no entender de Frei Leonardo, A fé sempre ensinou que a Ceie.
do Senhor celebrada na quinta-feira santa. foI a primeira Missa
da história, que Jesus mandou repetir através dos séculos. A
fé também ensina que o sacrifU:io da Cruz ê feito presente sobre
os altares dentro da moldura de uma ceia, pois Jesus se serviu
do ritual de uma ceia para entregar aos Apóstolos o sacrifício
do seu corpo e do seu saneue.
Em suma, os dizeres até aqui propostos habilitam o leitor
a perceber vivamente a problemática que a S_ Congregacão para
a Doutrina da Fé 'houve por bem considerar em sua Carta de
agosto pp. Por conseguinte, pergunta-se:

3. Que di. a IgreJa?

Jã aos 15/02/1975. a S. Congregação para a Doutrina da


Fê teve que censuru a opinião do teólogo sulCO Hans Küng
(posteriormente destltuido do tltuJo de mestre da doutrina cató-
)lea) nos seguintes termos: .
«A opinião, insinuada pelo Prof. Küng na livro Dle 10........,
legu"do a qual o Eucorlstw" pelo menol em caso de necessidade, pode
Sei' eonsoQrada va lidamenle por pessoal botiUJdos carentes do Ordem
sacerdotal. não pode ellar de Gcordo com (I doulnna dos Con..Uiol
do Latrão IV e do Vaticano 11» Id. SEOOC 7,1975. 12361-

De novo, em 1983 a S. Congresação para a Doutrina da Fé


volta ao assunto, lembrando os seguintes pont.os:
-39 -
40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS' 27211984

1) O Senhor Jesus instituiu a sua Igreja como "u m Corpo,


no qual há. diversos membros e diversas IuncÕes ou ml.n1stérios:

,,-Vós. sois o Corpo de Crislo e sois seUl membros, cado um por sua
perte:. liCor 12,27).

«Ele eoncedeu a uns ser ap6sl010s, oulros profelas, oulrol evan-


gelistas, outro, pastores e mestres, paro aperfeiçoar os sonlos em vista
d() minhté-rio, pCHO a edificação do Corpo de Cristo:. (E"f ",1 h l.

Donde se vê que, dentro da diversidade de funtóes existente


na Igreja, o ministério do presbitero e o do Bispo tém signifi-
cado próprio, que não pOde ser reduzido ao do servico de outros
fiéis.

2) A delegação para o ministério sagrado, por conse-


guinte, não é simplesmente conferida pela comunidade. mas
vem da parte do Senhor Jesus mediante o sacramento da
Ordem. ~te sacramento comunica participação no lacerdócio
de Cristo que d.1Cere do sacerdócio comum dos fiéis de modo
essenclal:

cO sacerdócio comum dos fiéis e o socerdócio ministerial ou


hi.rárquico ordenam·se um 00 outro, embora .e diferenciem no essência,
e não apenas em grau. Pois ambos participam, cada qual Q seu modo,
do IÍnico sacerdócio de Cristo. O sacerdote ministerial, pelo poder
I~rado de que goza, -formo e rege o povo sacerdotal, realiza o
lacrifido eucarístico na pessoa de Cristo e a oferece o Deus em nome
d. todo O povo:. (Constituição Lumen GentiuItI n' lO).

<ZSõa instituído. em nome d. Crillo oqueles denlret OI fiéis que


são assinalados pelo So,grada Ordem, o fim de apou:entarem ti Igrejo
pola palavra e pela gra~:. lib., n9 IIl.

" 3) :::t de notar, aliás, que a Igreja não deve ser concebida
como uma csocleclade democrática~, na qual o poder compete
ao povo e é por este delegado aos seus representantes. Tal foi,
sem dúvida, 11. tendência dos refonnadores protestantes do
século XVL _ A fé católica ensina que a Igreja é
sacramento. .• csacramento da unidade dos homens entre si
e com Deus~ (cf. Lumen GenUum n'l 1). Ora sacramento é um
sinal senslvel que significa e comunica a graça de Deus.

-40 -
o MINISTRO DA EUCARISTIA

Neste sentido a teologia professa que a santlsslma huma·


nidade de Cristo é O sacramento primordial, pois em Cristo-
-homem estava depositada a vida do próprio Deus, que trans-
parecia e se comunicava através das palavras e dos gestos do
Senhor Jesus.

Em segunda instância, 8 Igreja é Sacramento, ou seja,


uma realidade sensível, de (ace humana, que é portadora e
comunicadora da graça divina. Por ela passa a vida que vem
do Pai, se derrama na humanidade de Cristo e se destina final-
mente a cada um dos homens mediante ulteriores sacramentos
que são o Batismo, a Crisma, a Eucaristia, a Reconciliação, a
Uncão dos Entennos, a Ordem e o Matrimônio.

1:: tal fluxo da vida divina procedente do Pai para atingir


cada cristão que o grãflco anexo esquematiza (cf. p_ 42).
Nele se vê a ordem sacramental, ou seja, a grande realidade
sacramental que compreende a hwnanidade de Cristo, o corpo
de Cristo prolongado que é a Igreja, e OS sete ritos ditos «sacra-
mentos:. em sentido mais estrito.
Se, pois, a Igreja é um sacramento, verifica-se que as
funções e os ministérios não têm sua fonte nos homens ou no
c-povo de Deus~ , mas no próprio Deus. As três pessoas da
SS. Trindade, querendo doar-se aos homens, seguem 6. lei da
cencarnação:., isto é, vãG utilizando elementos senslvels e
humanos para chegar a todos os homens. l!: por Isto que não
se pode equiparar a Igreja a um. democracia; nem é Dclto
tender a transformar a Igreja em tal fonna de convtvio humano,
pois isto equivaleria a destruir fi. Igreja (lU 8 fazer dela um
aglomerado de pessoas bem intencionadas ••. e mais nada.
4) Não compete aos homenS outorgar o que só o próprio
Cristo pode oonceder. Nem ao Papa nem aos Bispos é licito
derrogar às instituições sacramentais atribuindo (por via
ordinâria OU extraordlnãt-Ia) ao cristão apenas bat:b:ado as
facu1dades que O sacramento da Ordem (lnstituido por Cristo)
confere. Por Isto não se pode dizer que, na falta de um presbi-
tero, quando .u m leigo consagra o pão e o vinho, Emlea1a supplet,
a Igreja supre, outorgando a tal leigo a faculdade de celebrar
a consagração eucarlst1caj nem a hierarquia (os Bispos) nem.
a comunidade de leigos pode conceder tal habilltação a wna.
pessoa n.lio devidamente ordenada por Cristo mediante o sacra-
mento da Ordem.. Este não é apenas o desligamento de poderes

-41-
o MINISTRO DA EUCAR.ISTIA 43

que o Batismo jã conferiu Ce que, portanto. estariam latentes


em todo cristão), mas é um novo modo de inserção do cristão
dentro do sacerdóclo de Cristo para que possa realizar o que
nenhum cristão pode efetua[" em virtude do seu Batismo.

5) A apostoUcidade da Ig-reja não quer dtz.er que cada um


dos seus membros tenha as faculdades de que dispunham os
Apóstolos. Isto seria i~rar que a Igreja ê diversificada em
seus misteres, como todo como é diversificado em seus
membros. A apostolicldade da Igreja significa Que a Igreja
está em continuidade com os Apóstolos, seja porque professa a
mesma doutrina que os Apóstolos. seja, porque, através da
sucessão apostólica. o ministério dos Apóstolos vai sendo trans-
mitido de geração a J!eração àqueles qUe recebem O sacraniento
da Ordem. Ao lado da transmissão que se faz pelo sacramento
da Ordem. há ainda aquela Que (lcorre mediante os outros
sacramentos, dando origem a fun~es diferentes daquelas do
sacerdócio ministerial.

De quanto foi dito. depreende-se que, se uma comunidade


resolve designar um de seus membros para consagrar 8
Eucaristia, não pode dizer que está em comunhão com a Igreja
universal, pois, precisamente ao proceder assim, tal comunidade
rompe com a doutrina e a praxe da Igreja universal.

6) Podem-se completar estas considerações da Carta de


06/08/83 com as ponderações do ConciUo do Vaticano n rela·
tlvas 80S diversos modos como Cristo se toma presente na sua
Igreja. Com efeito, distingue a Constituição Sacrosaactwn
c..cmum n t 7 cinco modalidades de presenoa de Cristo entre
os homens:

cC,isto edó sempre presente em suo Igreia, sobretudo na. ações


lItürgicol. Presenle está no saaifício da Mina. tanto na peu oa do
ministro. pois aquele que agora of.rece pelo ministério dos. sauldotea
f o mesmo .que oulroro se ofereceu na CnlX, quanlo sobretudo sob as
esp'C::Í1n euc::arflllcas. Presente est6 pela lua força nos sacramentol,
de tal forma que, quando algu6m balizo, f Cristo mtlmo quem boli~.
Presente est6 pela sua palavra, pois , Ele mesmo que fala quando
se 110m a.s Sagradas Escrituras na Igrela. Est6 pre.e nte finalmente
quando o Igreja ara e sa Imadlo, Ele que prometeur '{)fi de dois ou
trls ••tlverem reunidos em meu nom.., ar eslarel na melo del.s"
IM' 18,201 ••

-43 -
44 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 272/1984

Em sintese, diz. nos o Concilio que Cristo se faz presente:


- Na Eucaristia; este é o modo, por excelência, da pre-
..nca de Cristo (nwdme suB specle"" eucharisllcls);
- nos sacramentos: quem batiza, quem absolve os peca-
dos ... é Cristo;
- na pessoa do ministro sagrado;
- na Palavra consignada nas Escrituras Sagradas;
- por ocasião àa oração comunitária da Igreja; cf.
Mt 18,20.
Como se vê, o texto de Mt 18,20 é citado pelo Conc1llo,
texto Que também as novas teorias evocam. Todavia o Concilio
não deduz dessa presenca de Cristo numa comunidade oraote
a conclusão de que todos os membros dessa comunidade possuem
Indlst1ntamente o mesmo grau de participado do sacerd6clo de
Cristo. Ao contrário, a diversidade de participação do
sacerdócio de Cristo é realçada q ua odo o texto conciliar se
retere particularmente ao ministro da celebração eucarlstlea.
7) O caso das comunidades ameac;adas de ficar sem
Eucaristia por falta de presblteros não é armmento para se
Instaurarem ccelebrantes» deleitados da assembléia. Não com-
pete aos homens retocar a estrutura da Igreja instltuida pelo
Senhor Deus; qualquer tentativa de alterar a essência da Igreja
seria sacrflega e inválida. O que se pode propor no aaso, é o
seguinte:
- procurem 'OS flêis. sem Missa, trnlr-se espiritualmente à
Eucaristia celebrada em outras partes do mundo. «Não lhes
faltarA a graca do Redentor .. _ Mediante o voto do sacramento
em união com a Igreja. ainda Que estejam multo afastados
externamente, estio unidos a ela Intima e realmente, e, por
Isso, recebem os frutos do sacramento~.
- Os Sn. Bispos, em confonnidade com a Santa Sé. têm
Institufdo m1nJstros extraordlnArlos da f"..omW1hão Eucarlstlca.
Estes oodem distribuir o saCl'8lJrento da Eucaristia (embora
nlo celebrem a MIssa) após a I.Jtur:e:ia da Palavra. devidamente
realb:ada. AssIm pode tomar-se cada vez mais raro o caso de
alguma comunidade tlcar privada da Eucaristia.
't claro que estas fOrIl\as de resolver o problema nlio dis-
pensam os Bispos, 'Os saeerdotes e os fiéis de rezar para que se
multJp1lquem as vocacÕfS sacerdota:1s, e de contribuir com seus
-44-
o MINISTRO DA EUCARlSTIA 45

esforços para que o chamado do Senhor nos corações de jovens


e adultos encontre os meios necessãrios para chegar â plena
realização.

8) Na verdade, a função dos Ministros Extraordinúias


da Comunhão Eucaristlca não foi afetada pela Ce.rta da Santa
Sé em foco. Como dito. a problemâtica não versa sobre a dis-
tribuição da S. Eucaristia, mas sobre a consagração eucaristica
por parte de leigos. A figura dos Ministros Extraordinários da
Comunhão Eucarística foi confinnada pelo Novo Código de
Direito Canônico, que reza :
«canon 910 - '1t Ministro ordinário da Sagrada Comunn60
, o Bispo, o presbltero • o diócono.

t 2' Ministro e xl..oordinório do Sagrada Comunhão' O ac61ito


ou outro fiel designado d. acordo com o CÔn . 230, S 3',.

Eis O tool' do cãnon 230, § 3. mencionado:


cOnde a necessidade dCl 19rela o Clconselhar, podem também os
lelgGs, no falta de ministros, mesmo nCio sendo lcitares cu oc6litcs.
su.prir olGllns de seus oltdos, o saber, exercer o ministério do palavra.
presidir ó. orações litCtrGicas, odministrar O batismo e dist~i bulr a
Sagrado Comunhão, d. ocordo com os pre scrições do Oireito ••

Observam. os comentadores que este último cAnon não re-


serva os referidos ministérios aos homens apenas, mas, falando
de leigos (laIeI), compreende tanto homens como mulheres.

9) Nilo se pode negar que os fiéis católfcos têm o direito,


concedido por Deus, de participar da S. Eucar1stla. - Quando
a Igreja ensIna que essa particlpação só pode ocorrer mediante
o ministério de wn presbltero devidamente ordenado, Ela não
está criando um 4lreHo ee'cs'6stteo que se oponha ao direito
divino; tal não compele lt. Igreja. Está sbnplesmente transmi-
tindo aquilo que Cristo lhe entregou: o poder de consagrar a
Euearlst1a foi concedIdo apenas aos doze Apóstolos presentes à
última cela; Cristo assim instituiu o sacerdócio mInlsterIa1, pre-
cisamente para que a Euoarlstia pudesse ser celebrada através
dos sé<ulos.
Na verdade. a habllltaçio para consagrar o pão e o vinho
eucarlstlcos não é uma questão de autorização ou de direito
apenas (como o pregar em alguma Igreja pode depender de

-45-
46 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272/ 1984

autorimção do Bispo local); com efeito, não é uma questão


jurldica, mas é questão ontológica ... questão de ser ou não ser
inserido adequadamente no sacerdócio de Cristo.
Por isto não se pode dizer que a Igreja, com seu direito
ecleslâstico, se toma obstáculo ao exerciclo de direitos con-
f~rldOs aos fiéis por Deus. O assunto em pauta transcende a
esfera discuUvel do direito, pois pert~nce ao plano ontológico.
10) A Eucaristia é. como dito, a perpetuaçãe do sacMficlo
de Cristo sobre os altares para que a IgTCja dela particIpe. A
união com Cristo assim efetuada acarreta conseqüentemente a
união de cada um com os innãos. Por Isto a Eucaristia é também
fator de- união e comunhão com os homens: mas ela s6 é tal se
considerada, em primeiro plano, como elemento de unláQ com
o Senhor Jesus. Rã sempre oportunidade de celebrar a Euca-
ristia entre fiéis católit:os, quer se oonheçam, quer não se
conheçam, ou independentemente do sn-au de relaelonamento
Que os una entre si; para Que a Eucaristia seja frutuosa, basta
que os membros da assembléia tenham consciência de formar
o Corpo de Cristo unU'leado pela mesma fé, pelo mesmo Batismo,
pelo mesmo amor, pela mesma esperança . . .

3. Vigilancia
Em SUR parte final. a Carta da Santa Sé mostra que a
atitude da I~ja. no caso. é um servico. .. cservlco de apas·
centar " ~f do senhor com o alimente da verdade e de con.
servar rntetrra a unidade dA. I~,a.. Quem Inova em coisas
essenciais na Igreja. não ediftca a comunidade, mas destrol a
sua face humana. Na verdade, não é pOssivel al't\lém unir-se ao
Corpo de Cristo por uma pretensa ce1ebra""lio da Eucaristia, se
dilacera o Corpo do ~nhor que é a Igreja.
Por conseguinte, Incumbe aos Pastores o ~ve dever de
vigiar para que nlio &e difundam as eITÔneas Idéias denunciadas
na Carta, nem sejam aplicadas na prática das comunidades
cat6ucas. Toca-lhes também o dever de cuidar para que na
catequese seiam conP.n.lamente valorizados os sacramentos da
Ordem e da Eucarist1a. 1t o Apóstolo quem exorta:
cPr8ilo a palavra, insble a tempo e foro d. tempo, confuta,
exorta çom toda o longanimidade e o deselo de instruir. .. Vigia
atentamente, resiste li provação, prega o Evangelho CI cumpfe o teu
mlnist6rlo:t 12'm 4,2-51 .

- 46-
o MINISTRO DA EUCARISTIA .7

Com estas palavras, o Apóstolo incute uma mlssao que,


sem dúvida, é árdua, mas se toma inevitável ao bom pastor,
que pode chegar a ter que dar a vida por suas ovelhas.

4. Reflexão final
As novas tes6: impugnadas pela S. Congregação para e.
Doutrina da Fé têm importância a mais de um titulo: 1) afetam
o conceito da Igreja; 2) destroem a noção de Eucaristia.
Em ultima anãllse, elas se devem a duas fonles de
jnsplracão:
1) o espirilo democratizante de nossos dias, que tende a
nivelar todas as funções na sociedade: assim como, segundo
Paulo Freire, não há mais edUâldor de educandos, assim também
n ~o haveria pastores ou autoridades propriamente ditas na
sociedade e na Igreja;
2) a eclesiok>gia protestante, que reduz a Igreja a uma
Congrega~o, a Qual muito se assemelha às demais sociedades
e,
hwnanas portanto, é mutAvel como é mutãvei a opção politlca
ou a OptA0 oproflsslonaJ de cada cidadão.
O ConcllIo do Vaticano tI respondeu às tendências democrá_
tIcas do nosso tempo, utilizando a Imagem de Povo de :Dew
para designar a Igreja. Tal imagem lembra a Igualdade funda-
mentai de todos os cristãos, baseada nos sacramentos do
Batismo e da Crisma; todavia nio exclui que, sobre a mesma
base comum, se sobreponham vocetóes particulares incutidas
pelo próprio Deus para a edificacão do Corpo de Cristo; assim
o próprio Sumo Pontffice, pelo falo de ser batizado, é um crlstAo
como os demais, mas, por ter sido chamado por DeUS a especial
tcnna de pastoreio ou de construção da Igre'a, dIstlngue-se dos
demais homens, .não opor arroginda pessoal, mas por servir fiel
e humildemenbe . a Deus e aos innios dentro do seu ministério
próprio. Veja-se a Constituição Lmnen GenUam, Que apresenta
no capitulo 11 a Imagem do Povo de Deus; a seguir, explana a s
vocações particulares, QUe do a da hierarquia (e. m) , • dos
leIgos (e. IV), • dos ReUglO5OS (e. VI). O novo CódIgo de
Direlto canônico seguiu o mesmo esquema.
Em última anü1se, é Q visão de fé Que parece ressentir-soe
de osd!aç6es em nossos dias, acarretando as dolorosas con-
seqUêndas apontadas no documento em pauta. Exorta o
Senhor no ApoeaI1pse:
«Guarda o que ten" para flue nlnGu6m arrebate a ruo coroa»
1".3,191 :
- 4 7 -·
48 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272/1984

A gulA cio blbllosnftll ;

CONCIL1UM, n~ M . 1988: o.cu.Mnllme.

CONCILtUM, "9 1975: Let; CommUMut" de .....


CONGAR, Y., aUMqU" prolINm.. IoucMint _ minta.... em NouwIle
AMue TWoIo9IqM S3. UI71, pp. 785-800.
TAVARD. G. H., 111. l\lftCtIoa o, the mlnis•• r In tI'Ie EuehlttsUe CeI..
braUon, .m Jouml1 01 Ecumenal Shlcll.. 04, 1967, pp. 629-&.40.
TlLLARD. J . M. R. , Le YOI\Im Euet..rlstJ..: l'E~rit... clara le .,.1\-
coniN d.. elu'ftr... em W"cellanea Ulllrglca In onore di S. Em. n c.n:lInII~
OlKomo Lef'CllfO, Roma 1987, pp. 1043-1904.

• • •
COMUNICAÇÃO

MAIS UMA VEZ A REDAÇÃO DE PK SE V1t OBIII,


GADA A CO!IUNJOAK AOS SEUS LEITORES QUE PlI
NADA TEM QUE VER COM CERTOS IMPRESSOS SOBRE
PROTESTANTISMO E EUOARISTIA DISTRmUIDOS POR
VIA POSTAL 00)(0 SE O )IITENTE FOSSE ePERGUNTE
E RESPONDERE!(OS. , CAIXA POSTAL 2866, 20001 - RIO
DE JANEIRO (RJ). m, NO OASO, INDEVIDA USURPA-
çÃO DE NOME E ENDEREÇO.

• • •
(ConllnllAÇAo da pég, 27)
divina, a aJevaç4(l do noma"," ordem aobr8llatural .•. • tudo 1.10' allenela do:
o ·~rallO terrestre" 6 " o mundo que Ceua Idealizou par. ·OIS homens·
(p. 211); Iara. uma "..perança-, e nlo uma -"udade- .• _ Ora tal. pollç6n
nlo COIT.pondem ... doulrlna da loroja, mulu ....zos ansln.lda em ConClllot,
Inclusive no de TranlO (1504501563; cf. DS 151D-18). Ct. pp. 21 -23 delle
r..elculo.
Nota... hoje em dia a t.ndancla • atenuar ou mesmo esvu.lar o .. n--
tido de Gn 2-3, eomo .. ftIo ,.'IHIu latoa'hld6rlcs em linguagem rtea di
met6foru (COIIeII, Nrpente, fruta, Arvore da çlAnela, Arvoro da ·vlcla., ,),
mu, apen.. e.pllcuae • d esordem do mundO pelo fato de que a1llu'm
alguma vez começou. pecar e nu pecado se alastrou; a ."paraçAo del,e
I . tado de coll" deveria Ilvlr os homenl I constituir um paralso terrnlra
(Continu. na' pég. 65)

-48-
50 cPERGUNTE E RFSPONDEREMOS, 272/1984

Em seu PrefACio. escreve o autor: cObservaÇÕes criticas de


todo tipo serã-o multo úteis não apenas ao autor, mas sobretudo
aos próprIos eventuais leitores . . . » (p. 7). Eis por que pro-
poremos abaixo uma slntese do conteúdo do livro, à que1 se
seguirão breves comentArios.

1. A3 grandes linhas do livro


Aldo Vannuechl lUla-SE! à corrente da Teologia da liberta-
ção e deseja que esta venha a ser expressa e veiculada também
pelos canais da Liturgia (textos litúrgicos. homlIlas, gestos e
cerimOnlss ... ). Julga Que o povo brasileiro não tem encontrado
nas celebrações da Llturg1a, como as prescrevem os documentos
oficiais da Igreja, a expansão dos seus anseios e da sua
vida; por isto, tem-se passado, em proporção notáve.,
para assembléias protestantes e umbandlstas, onde, segundo
Vannuchl, encontra o que procura. A propÓSito o autor cita
palavras de Frei Ü!onardo Bof(:
«Notamos a seguinte dial'lica: no medida em .que a Igreja como
um todo estreito seus laços com o cenlro (Romol. reprodu:r. leUI mo-
delai pastarais, litúrgicos e disciplinarei, se for1lfic;a c;orporativamente
li fortalece lua unidade interna; mos perde o povo, fico ablfrata •
alienado dos principais questões sac;iais e deixa a campo oberla g
proliferoclio dos lell o, e dos allos Clfro.brosileirol, parque e ll., res·
pondem cancrelomenle à demanda religioso do povo. Ou então, na
medida em que o Igreia se Insere no realidade, assume a palxõo da
POVO. organizo uma paslorol adequada aos desafios conscientizadol,
.e d istando do centro e e"tão começo a temer perda do unidade,
especialmente quando se dá conta dos eonflilos da dClSse. A !en'acão
, voltar a uma visáG moi. doutrin ária e refugiar.se para dentro de .i
..esma» [p. 127, cilando L Boff, O Carinhar da Igreja com os Opri-
..retos. Codccrl, Rio de Jan.ito 1980. p. 351.

De acordo com o seu modo de pensar, A1do Vannuechl dls·


tingue entre d~ja .Poder» e cIgreja-Povo·:
cA verdade' que se cavou, no chão do experiência vi ...ldo, um
hiato doloroso enlr. (I prática litúrgica da I,greio.Poder e a pr6t1ca
litútgico do lorelo·Povo. Com ef.lto, o que a primeira tantol ....tes
propõe não reprelenla predsamente o que interessa c!I ••gunda. E
quando, por felicidade, acontece o convergindo de desejos l por
exemplo, no Batismo), cHferem consideravelmente os motlvocees .
Ip.1271.

-50-
Novos aspectos da T.ologla da Ubertaçio:

"Liturgia e liberta~ão"
4JOf Aldo Vannucchl

Em alnl... : o livro de A. Vannucehl considera a Liturgia .\ luz doa


prlnclplos da Teologia da ltbertaçlo. Em consequêncla. apregoa aeJa a
LIturgia o eco mais vivo dos ansalM do povo por um mundo mais Justo
e nlV9lado. - Quem 16 8S p6glnas de Vannucchl. tem a ImpraSJl!o de qUI
faz da liturgia um Instrumento de provocaçlo e acirramento do. 06la,
fonte de azedume e amargura. Ora esta concepçio é IncompatlYel com a
noçao da Uturgll. qUI ê o a)larelclo prolontlado do sacerdócio de Jesus
Crlslo, cuja Ilnalldade prec:lpua 6 adorar 8 glor1licar o Pai; a Liturgia nlo
6, por si, uma Ilçlo de Morat nem ti uconsclentlzaçlo" aOelo-poilltca, maa
ela exlst. precisamente para ol.recer ao homem um pouco de lazer espl·
ritual o de conlamplaçAo numa atlluda da paz e de elornldado. So OI 11él.
catOllcos nlo encontram na Liturgia tal " vlgor.mento esplrltu.I, mo em
suas Missas dominicais aO ouvem lalar dos mesmos problemas sOelo-eco-
nômlcoa que OI preocupam durante seis dias da semana, compreend.... que
debandem para cultos protestantes e umbandlstas, como lem acontecido.
Nos cultos evangélicos, que têm atraldo flúm.ro crescente de ad.ptos. o
discurso versa sobre Deus • os valores transcendentais (embora de maneira
dellclenlel, o que eorresponde aos anseIos inalos de lodo homem.

lamentamos, pois. que o livro de A. Vannucchl apregoe. Invulo do


séllmo dia dos crlstlos por parte dos .fazeres materlalizan'" doa dias da
semana. O encOtltrlO elOntemplatlvo com a SenhOf Deus, longe de ler alie-
naçlo, é lorta antldeto contra 88ta; t.nha.... em vista. vida dGl Santos
que se entregaram .. vida ativa. .

• • •
No n Encontro Nacional de Professores de Liturgia, rea·
. Iludo em São Paulo no mês de julho de 1981, sob os auspl.
cios da CNBB. Aldo Vânnucchi 8()resentoU as primeiras linhas
do livro que a Ed. Lo~la pubUeou em 1982 com o titulo
«Liturgia e Ubertacão» 1. A obra tenclona propor B dinam1zacão
da Liturgia católica. fazendo-a mais próxima da vida do povo
brasllelro e mais expressiva em relação 80s problemas sóclo-
.politlco.econOmicos que este vem enfrentando.

1 UlurJj" e U~rtlç.io. - Ed. Loyola, 510 Paulo, 1982, 138 x 2(18 mm,
1-40 pp.

-49-
cUTURGIA E UBERTACÁO,. 51

Pouco adiante, porém, o autor reconhece que a Igreja·


-Poder e a Igreja-Povo csão sempre a mesma e única Igreja
de Jesus Cristo, (p. 127) . Infelizmente, porém, toma, na
página 128, a falar de cJgreja-Poder:t em tom depreciativo. Com
base ainda nos escritos de Frei Leonardo Boft, o autor ainda
censura a d greja-instituição , numa atitude sumária e super-
ficial (cf. p. 50).

Para tomar a Liturgia mais aceita e participada, A.


Va nnucchi apregoa o recurso a sinais adequados na S. Liturgia:
as$lm, por exemplo, os cantos deveriam _encerrar melhor con-
teúdo ideológico-emocional" (p. 118); seria preciso proclamar
a Boa-Nova ca partir da condi ção humana e das relvindicacÕes
maiores daqueles com quem Cristo se identifica como innãos
seus .. (p. 138). pois _s linguagem litúrgica entre nós prevale-
cente não se ajusta nem ao mundo operário nem a'O mundo
rural. Balança num nivel pl"f!tensamente médio, nem chinês
nem vemãculo, (p. 135) . Os simbolos ou objetos sagrados da
Liturgia deveriam ser mais condizentes com os que 'O povo usa
em suas casas; é o que A. Vannucchi insinua citando palavras
de FreI Betto no livro aO que é Comunidade Ecleslal de Base»,
pp. 62·66:

«En,quanto a missa tradicional corre a risco de se r, para a fiel


anônima, uma c:elebrac<ia de ' mitos' fundadore s de suo fé, sacraliza-
dares de suo passividade social e politico, a cele bração das comuni-
dades sague a tradição bíblica de ser uma reaprapliClçõa do memÓria
hist6,ioa e uma atualização do significado evangélico das luto.
populares , Cp. 106) .

-o ••I",bolas do celebração ,(ia e .. 'raldos do vida do comunidade


e, portonla, r.cuper~", CI ClnCllogio entre simbaliz:ando e simbaliaodo,
restaurando suo funcõo sodal, suo incidência concreta sabre o prático
do comunidade . Nas comunIdades rurais, é comum ver celebrações em
q'\Ie OI vasos litúrgicos ,ao simples cuias; a toalha do altar, uma rede
ou monta sobre lasco meSa de uma cosal o oferl6rio à bas. da of.enda
d. produtos plantadas e colhidos pelos participantes.

Quontos vezes não participei de celebrações em que ' a p60


eucarlstico era esle mesmo péio que compramo. na padaria e comemos
diarlam~le. A leu lado, na mesa, viam-se ferramentas, lornol.
obabio·aul~odol, carteiros de trabalho. outros obietos que simbolizam
a vida conaeta da comunidade. Ip. 1071.

- 51-
52 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 712/1984

Pouco adiante, o autor se refere ao Pe. João Batista


LibAnio, que descreve a o:celebração da fé» das comunidades
de base no seu IV Encontro Nacional (1980):
cN\lma das ~I.broções perçorrcmos o 'via·socro do r.mm.l~o·.
A frente ia a cruz da Pia.coa do povo. Quatro estações. Na primeira,
celebrou.se a lula pela terra, dramatizando a experiincia vivida pela
com\lnldode de Alagamor IP8) . Foi a vitória do mandioca conlra a
cana . A filo da mandioca - slmbolo do pobre agrle\lltor - derrllba
. imbolicamente a f;la da cana - símbolo do dominodor - que vai
caindo ao ,010 e permanecendo onim, enquemlo que os portadores da
mandioca faziam oe.lo d. plantá. la, arran/!ó·lo jó uesdda •
obrocã.la. O /!oro repetia l Onde linho ':0"10, aOora lem mandioca!
Repelem cenas vividas de perseguicões, prisões, liberdade, un ião e
canto do vitória . Aquilo que a comunidade durante anos experimentou
no dVfC'za do luta eanlra os projetos de plantar cana li na d.,lruiçãa
de suas roÇai de subliltência de mandioca era a,gOfo celebrado diante
de nós.

A segundo eltoção foi a experiência de oulra com\lnidad. ~ue


crio seu Conselho eom\lnitório de bairro num esforço de \lnião e
organização.

Outro posso foi a vitória do óg\lo.

Numa q\larta cena, o p .. sool modro a resistênda de fayelados


às ordens do despeio. f na passagem de tlma estacão à O\llro, todol
°
cantoYCIm hino popular religioso 'Bendito do Mãe das Dores',

Em o\llra celobroção, o pfociuão torminOIl junto o uma 6,.,oro.


onde .stavam dependurodali falhos de papel com os frutos do capita-
lismo, IIara·.xlr4, salório. de· fome, miséria. ele. P.r1o havia pequeno
fogo . A medida em que o povo tO arrancando cada folha e lenda,
fodos grllovom espontaneament•• - Q\leimal Oueima! &om os
frvlos molditos q\le 10m sendo simbolicamente desfruldos p.lo fogo.
(p. 108s).

A. Vannucchl cita outrossim O testemunho de cammo


Torres, sacerdote colombiano que abandonou o mInlstério sacer-
dotal porque Julgava que não podia celebrar o culto oficial,
especIalment< a _ . dentro das estruturas da socJedade
atual, onde ex.lstem tão flagrantes diferenças de classes;
el. pp. 1035. Camilo Torres, o paclre-guerrllhelro, terá sido o
arauto de autêntica cmist1ca de solidariedade_ (p. 104).

-52_
«LITURGIA E UBERTAÇA.Ch 53

As pp. 80s, O autor profilga os cgrandes:t deste mundo, que


cem geral se postam tomo frios espectadores nas reuniões de
culto quando ai aparecem. 'Gente sem espennça, e sem Deus
neste mundo' (Ef 2,12). não lhes interessa submeterem-se ao
ju1gamento do Cristo Pasca1 e à sua lei magna - o amor•.
Em sIntese, a Intenção de A. VannucchI é claramente ex·
pressa na sentença da p. 72: «O esforço pastoral mais lúcldo
seria passar ... a uma praxis litúrgica que impulsione os leigos
à maturidade humana e cristã, praxis litúrgica literalmente
pro-vocante, ou seja, que os chame para a frente. (p.72). Essa
nova praxls não implicaria «ce1ebrar sempre 'do jeitinho que o
povo gosta', dando de ombros à Liturgia oficial, canônica. mas,
sim, assumir na Liturgia a espontaneidade popular, enquanto
esta possibilIta a nossa encarnação histórica da mensagem
libertadora das virtudes teologals da fé. da esperança e da cari.
dade. Mesmo porque. se nos furtarmos a Isso, as massas pros-
seguirão, Igualmente, seu caminho Irrefreável em busca do
DIvino, nem Que seja por expressões culturais semi-clandestinas.
oficlalmerlte desautorlzadas .... (p. 1301 .
.As afirmações de A. Vannucchi vêm a ser indubitavelmente
um desafio à reflexão e à ré do leitor. - Que dizer a propósito?

2. Refl.tindo
As nossas ponderações a respeito do livro em foco con·
centrar-se-io em clnco pontos:

2 . 1. No(áo d. Uturgia

Antes do mais, aparece que a obra de Vannucchi sugere


urna reOexAo sobre a noçio mesma de Uturgta.
Através das suas pAginas o autor considere. a S. IJturgla
preponderantemente (embora nio exclusivamente) corno cele-
bração da vida dos homens e dos seus anseios; a Liturgia seria
wua expressA0 dos fiéis católlcos pare. os homens, ou seja, para
cconscientizar;, e transfonnar os homens, fazenda.os agentes
de um mundo novo, mais justo e fratemo:

-53-
54 . PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/l984

«Sem a problemoliwc;õo radical ãe toda a Llturgia lIum mU'ndo


dividido entre oprcnore:s e oprimidos, o testemunha dos cristãos poder6
carecer de força e significaçõo. Por ocaso leria lufade.,le o empel'lho
d. libertação na Liturgia . •. ? Não leró chegado CI hora de se passar
Q explor"r, ao máximo, o dinamismo da libertatão pelo Ulurgio?:t
Ip. 101 .
Ora a exPressão . pela Liturgia. , na medida em que ex-
prime a instrumentalização da Liturgia em proveito de uma
.re-educaçáo:. dos homens e de uma mudança radical da socie·
dade, não condiz com o conceito de Liturgi a contido na Consti·
tuição Sacrosanetum Ooacllium do VatlcanG n . - Com efeito,
este ensina qUe a Liturgia é o exercido da função sacerdotal
de Jesus Cristo. que tem duas finalidades: 1) a glorificação e
adoração do Pai pelo Filho no Espirito Santo; 2} a santificação
do homem mediante os sacramentos e sacramentais; cf. Sacro-
sanctum Conciliam n9 7. Destas duas rmalldades, a glorificação
de Deus é a primaclal, pois é a que persistirá por todo o sempre,
ou seja, após as vicissitudes da história do mundo presente; na
Jerusalém celeste (da qual a Uturgia terrestre é um antegozo)
haverá tão somente o louvor a Deus; el. SaorGeanctum
Ooucillum n" 8.
Por ser g1orificação do Criador e atitude de eternidade, a
LIturgia oferece ao homem a oportunidade de Sé distanciar, de
certo modo, dos sew af.azeres terrenos. absorventes é materia-
llzantes, para se mergulhar em Deus e nos valores def'miUvos.
Tal é. alIAs. o sentido do dia do Senhor ou do sétimo dia, con-
tonne a Bíblia (cf. Gn 2,2$; Ex 20,8.11): é o dia do repouso,
dia em que o homem se afasta de sws deveres de trabalho
cotidiano para se reabastecer em Deus e assim poder voltar
revigorado às suas tarefas cotidianas.
Romano Guardini. ,em sua obra «Vom GelBt der Utargle:.
(Do espirlto da Uturgia) frisa a 1ndale da Liturgia como lados '
ou como o logo da Sabedoria diante de Deus (cf. Pr 8,30s); é
uma açio não utilltâria ou pragmática, mas o ex.erelclo de uma
certa contemplação que une ma.b intimamente os tlé1s com
Deus e lhes proporciona lncontundivel experiência daquilo que
«o olho nio viu, o ouvido não ouviu e o coração do homem
:Jamais apreendeu. mas Deus reservou para aqueles que O
amam. (lCor 2,9). São palavras .., Guardín1:

-54-
.. LITURGIA E UBERTACAO:t 55

cO motivo CClpilol pelo quol a liturgia não pode ter finalidade


",til1tório • que lO suo razão de ser é Deus e lIão o homem . .. Para a
cristilo, todo o sentido do Litl,lrgio consiste em estar diante de Deus,
eJ(pandir-se livremente em .ua presença, viver 110 mundo la,grodo dos
realidade., dos verdades, dos mistfrios e dos sinais divinol, viver ti
'lido de Deus_ que é, ao mesmo tempo, ti vida própria verdodeira e
profunda do cristão:t (cl'esprit de lo Uturgie::t. Pori. '930, pp. 2111).

1S por Isto que a Liturgia é tio pouco moralizante, continua


Guard.lni (lb. p. 212, n~ 1) ; por certo, ela é f{)rmadora em grau
excelente, não, porém, mediante ensinamentos explicitas sobre
a virtude, mas pelo l ato de que leva os cristãos a um contato
mais intimo com Aquele que é a Fonte de toda a perfeição.
O mesmo Romano Guardlni observa ainda que a eelebração
da Uturgia supõe o primado do Lagos sobre o Ethos (obra
citada, cap. VTI); ou· seja, o primado da contemplação sobre a
ação, do conhecimento da verdade sobre a praxis. A vida moral
do cristão há de ser iluminada e orientada pelo Logo& ou pela
apreensão da verdade; sem prévia contemplação, o agir cristão
toma-se cego ou febricitante e dispersivo.
Fez·se mister manter vivas tais noeões, precisamente num
mundo em que o pragmatismo e o utilitarismo tendem a invadir
cada vez mais todos os setores. Será. necessário, portanto, nã'O
lazer da Uturgia uma lição de moral individual e social, mas
deixar·lhe o caráter de repouso em Deus.. Ê de crer que o fiel
católico que durante seis dias da semana se preocupa com de·
semprego, inflação, alta dos preoos, etc., mais do que nunca
há de procurar na celebracáo dominical da Uturgla ouvir e
vIver realidades diferentes das dos dias de trabalho. Se também
no domingo, ao participar da Eucatistia. o cristão é interpelado
pela problemãtica dos outros diss, pode-se dar por frustrado.
Ora é justamente porque ta) frustração ocorre em não poucas
assembléias católicas que muitos fUhos da Igreja vão procurar
cultos protestantesj nestes O cristão ouve falar de Deus e do
Evangelho (embora em termos pietistas, sentimentais e talhos,
em nAo poucos casos); esse disCUt'So estritamente religioso cor-
responde bem ao senso religioso e à sede de Transcendental que
existem em todo homem e que se tornam tanto ~ agudos
quanto mais o homem é maltratado pelas instAnclas da vida
material. - Pode-se admitir com fundamento que o deban-
dada de multos fiéis catóUcos para os cultos protstantes e
urnbandistas se deve precisamente à secularizacãa da Uturgia
católica, que por vezes se toma lugar de aclrramento. de pro·
vocação de uns contra outros, de amargura e azedume • • ,
-55-
56 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS) 272/1984

Eis, porém, que se formula uma objeção:


2.2. Uh.rgia; Qlltna~ e distanclamenla em relaçãa à vida?
A Uturgta jamais poderá estar lon~e da realidade cotidIana
este vive, no seu dia-a.dia, a obra de re-
do fiel cat6lico, pois
denção do Cristo. Diz São Paulo: «V1vo eu, não eu; é Cristo
que vive em mim.. (Gl 2,20) ou ainda: «Completo em minha
carne o que falta à Paixão de Cristo em prol do seu corpo, que
é a Igreja. (Cl 1,24).
1: precisamente essa vida dç Cristo no cristão que a Liturgia
celebra; por isto a Liturgia há de se referir também aos pro.
blemas dos fiéis na familia, na sociedade, na profissão, na
economia ... 1; tamoom há de redundar em encorajamento para
uma vida ética mais coerente; todavia estas duas funções estão
subordinadas 'à adoração e ao louvor a Deus que constituem a
finalidade primeira da Liturgia. Não se ponha em dúvida o
valor moral da Liturgia, mas será preciso que nunca se perca
a consciência de que tal eficiência ética não é o elemento pre-
dominante da Liturgia, mas é decorrência, . .. decorrência de
wn feUz encontro com Deus em seus sinais sacramentais numa
atitude de contemplação, adoração e gratidão.
Uma Uturgta que não redunde em frutos de vida mais
coerentemente cristã, é celebração mal compreendldaj pode
tomar·se fonnBllsmo e hipocrisia.
Uma terceira observacão se impõe.
' . 3. EItII9 hlet!6tico
O fato de que a Liturgia não é simplesmente rito celebrado
para os homens. leva a ver que as eelebracÕes litúrgicas devem
guardar sempre um caráter hlerátlco; nunca poderão ser c:bana.
Uzadas» a ponto de parecer celebrações do ambiente do lar (com
utensUios usados na cela de cada dia) ou ce1ebraçães clvicas
(com di9cu.rsos e InsIgnias tão somente inspirados pelos proble-
mas do trabalho ou da economia) . Será necessário que o sim·
bolismo da Liturgia lembre 80s seus participantes que estão na
casa de Deus ou na presença do Senhor três vezes santo,
desenvolvendo uma ação inspirada por critérios de etemldade

I No Ofert6rlo da Mina alo oferecidos pio li vinho, slmbolOI do


trabalho, da lUla e da. alegrias doa oferentes.
Na. Oraç6et ComunIlA,I.. que lhe antecedem, os fiéis exprimem o
que lhes vai no InUmo do coraçlo.

-56-
cLITURCIA E UBERTACAO» 51

e tendente à eternidade. Se nada há de novo ou· distintivo na


Liturgia, esta perde a sua razão de ser; em vez de satisfB2.er
aos seus participantes, pode deixá.los famintos ... e dispostos
a procurar em outras fontes o que a Igreja Católica não lhes
oferece.

2.4. «l.ex orandi. rex crecl.ndllo)


O tema «Liturgia» é de elevada importância, porque trans-
cende questõcs de ritos e simbolos: na verdade, a Liturgia
sempre foi considerada, e é. a expressão da fé dos que a
celebram. Donde o adágio antigo: cLex ora.ndi, lex credendb
(a lei do orar é também a lei do crer, e vice.versa). Existe,
pois, sempre () perigo de que uma jnadequada expressão litúr·
gica venha a deturpar a fé do povo de Deus, insinuando pro-
posições errôneas ou, ao menos, pouco condizentes com as
verdades do Credo. AssIm uma Liturgia cujos cantos tenha
carãter ideológico, hâ de incutir aos seus participantes a noeão
de um Cristianismo ideológico, com tudo que a noção de Ideo·
logia tem de passional e acirrador. De resto, os hereges sempre
tentaram prevalecer.se da Liturgia para Impingir. através dos
hinos e das preces da mesma. ~uas sentencas heréticas; o povo
simples e desprevenido, sem o perceber, vai assimilando, me-
diante tais textos, um Credo que jã não é O de Jesus Cristo e
da Igreja; tal ocorreu no sêculo IV por efeito da astúcia dos
arianos e nos séculos xvm a XIX por obra dos jansenlstas e
galicanos.
Eis por que a autoridade da Igreja é vigilante com respeito
A Liturgia, prescrevendo o que deve ser fielmente observado e
fixando os limites da criatividade do celebrante. quando esta
é Ueita. Tal zelo da Igreja nada tem que ver com prepotência
ou com atitude de clgreja-Poder:t (em oposição à clgreja-
Povo»), mas é simplesmente o exercido da missão que Jesus
Cristo confiou aos Apóstolos e. especialmente, a Pedro e seus
sucessores: «Roguei por ti, Pedro. para que tua fé não des-
faleçaj volt&ndo·re, conttnna teus lrmãos' (Le 22.32).
. De resto, a distlnçio entre clgreja-Poder~ e cIgreja·Povo',
por mais que Vannucclú a queira atenuar, é insustentável.
Pode-se mesmo dizer que o povo de Deus se di por mais satis-
feito quando atendido por pastores que obedecem a leis objetivas
e universais, do que quando sujeito a improvisações e arbitra-
riedaÍles (nfio raro, absurdas e destoantes das linhas da fé) de
Uturgos populistas.
-57-
58 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 272/1984

2.5. Opressores e oprimidos

Está subjacente à explanação de Vannucchi a divisão da


sociedade em duas facções: ricos e pobres, aqueles tidos como
opressores e estes como oprimidos. - A divisão e o julgamento
anexo são simplórios, pois a realidade é muito mais complexa.
Não se pode voltar à mensalidade do clã, presente nos livros
mais antigos do Velho Testamento e profllgada pelos Profetas
(cf. Ez 18,2-29; Jr 31,295); estes Incutiram ao povo de Deus a
noção de responsabilidade pessoal; quem peca, é réu diante de
Deus, e quem se converte do pecado à justiça é aceito pelo
Senhor, qualquer que seja a condição econõmioa. do individuo.
Esta verdade, formuJada pelos Profetas, tem plena aplicação
também nos dias atuais. quando hA quem queira julgar o cristão
pelo simples fato de possuir ou não possuir dinheiro; pode haver
ricos honestos e benfeitores dos seus irmãos, como podem existir
pobres de coraçãO desonesto.

o fato de que a uma celebração litúrgica estejam presentes


simultaneamente ricos e pobres, patrões e operários, não quer
dizer que a assembléia esteja dividida ou em estado de conruto;
muito menos implica que não possa ser celebrada a S. Euca-
ristia, como arbitrava Camillo Torres. Se na sociedade civil
existem Inlqüidades, não se pode, por isto, dizer que em toda e
qualquer reunião de cidadãos haja pessoas lniquas, não habW-
tadas a participar da Eucaristia.

São estas as considerações que o livro de Aldo Vannucchi


nos sugere. É de lamentar que o espirtto de acirramento tente
contagiar a Uturgia e o próprio reduto do sétimo dia
(5. Agostinho diria: •. • do oitavo dia); este (o domlngo) é o
dia da eternldade em meio ao tempo, o dia do repouso do corpo
e da ahna, o dia do revigoramento do cristão longe das coisas
materlals a fim de que o discipulo de Cristo possa maia cer-
telramente reassumir os seus afazeres. temporais com todos os
dissabores e as alegrias de mais uma semana de peregrlnação.
- Que o bom semo dos leitores reflita e guarde IncandJcio-
nalmente o gáudJo do «jogo. não utilItário da S. Uturgia;
guarde o primado do Lagos, da contemplação, sobre o ethlos ou
a práxis (= vida mOral)!

-58-
Um problema pasloral:

Às Disposi~ões
para Comungar Dignamente
Em slntne: Vai publicada nas páginas seguintes parle do texlo de
uma Declaraçlo da S. Congregaflo para os Sacramentos, que, embora
ditada de 193B, conserva sua alualidade ale hoje. Tal documento rec~
menda que, 1) em consonância com a axortaçlo de S. Pio X. os léls se
aproximem freqüentemente, ou mesmo lodos os dlaa, da S. Eucaristia;
2) que o façam, porém, em estado di Qraça, evitando toda lorma de sacri-
légio ou abuso. Da I a nocessldade de se remover qualquer tipo de çoaçlo
sobre os membros de comunidades ou grupos para os quais a S. Euca-
rlslia li celebrada; dai também a necessidade da se olerlcar a todoa os
1161, a ocasllo de conllsdo sacramanlal periódica (embora nlo seja ne<:es-
,iria antes de toda e qualquer Comunhlo Eucarlstlca) . Dal tamb6rn •
obrlgaç40 da nlo se fazer da S. Eucarbtla mero s/mbalo de aolldar/ldade
Iratarna (testemunho de amlzada a quem aniversaria, a quom .e <lU. ou
a quem ast6 enlutado ... l. mas 10m6-la, antes do mais, como o ..era-
mento da unllo ao Senhor OeUl, que " tr6s vezes s.nto.

• • •
Quem acompanha as celebrações litúrgicas hoje em dia,
observa grande número de Comunhões Eucarísticas e exfgua
procura do sacramento da Reconciliação. 1; certo que não se
requer a Penitência sacramental anteS de toda e qualquer par-
ticipação na Eucaristia: parece, porém, que às vezes a Comu·
nhão jll nlo ê considerada como recepção do Corpo e do San-
gue do Senhor, que requer estado de graça ou ausência de
pecado mortal, mas, alm. como testemunho de solidariedade
aos innãos, especialmente quando há casamento, celebração
de aniversArio ou sufrágio por um fiel defunto .. _ Há mesmo
quem reconheça não estar devidamente preparado para comWl·
gar; aproxima-se, porém. da Eucaristia, propondo confessar-se
depois como se .este propósito fosse suficiente para receber a
Eucaristia em tais circunstinclas.
-59-
60 . PERGUNTE E RESPONDEREMO& Z12J1984

Ora esta prática. contradiz à doutrina da Igreja, que tem


ensinado repetidamente a necessidade do estado de graca para
que possa haver digna recepção da DIcaristia. Em PR 270/83,
pp. 395·411, foi publicado um artigo do Pe. Armando Ban-
dera O.P., que, recorrendo A palavra do S. Padre Joio Paulo II,
incute tal verdade. _ Neste número de PR segue.ge parte de
outro documento da Igreja, de teor semelhante. Trata·se da
Instrução postquam FlUA da S. Congregação para os Sacra-
mentos datada de 08/12/1938; embora não seja um escrito
recente, é portador de doutrina sempre válida nu tocante ao
ponto que nos interessa.

Eis o texto em pauta :

A INSTRUÇÃO .P05TOUAM PIU5»

cDesde que o Papa Pio X, de feliz mem6ria, estimulou os fiéis a


reçeberem a Comul1hõo freqüente e cotidiana mediante o decreto Socra
Tridentlna Synodus e depois .que o mesmo Pontífice convidou tamhéM
os crionços (I eUI:! pr6tica ot'ové, do dltaeto Qvom Singulari, o recuno
ti Comunhão freqüenle e colidiana se propagou ~uvovelm.nle, como
é nolório.

Essa prático, fonte de inúmero. bfnçãos, nao só merece todo. os


elogios, mO$ preciso de se ellender mais ainda não ClpenG~ entre os
fitis cat6licos em geral, mas tomb.m entre os iovens e as crioncas, em
conformidade com os decretos adma mendonodos e segundo OI normas
estabelecidos a propósito.

'A Comunhlo freqüente e cotidiana . . . deve ser .t1mulada o mais


poulwl "OI SemlnArlos da Igreje .. . como tamb6m em todos OI ntabel..
clmentoe católicos de eclucaçlo di. Juventude (Saen. 1'I1deftUna 8yftod...
nf 7). Todoe aquelas que" dedlClm b crla.nçu, " empenharlo com
todo o zeto por fazer que, ap61 • Primeira Comunhlo, olu ee eproxlmem
freqOentemente da Sagrada Mou ou, se posalVflt. 10<108 oa dias, como O
de..Jem Cllato • nossa Mie a Senta Igreja, .•. e que o façam com toda a
devoçlo de que do capazes em aua Idede' (Quam alngularl, n9 8J.

-00-
DISPOSIçoES PARA COMUNGAR 61

Condições exigida$ para a Comunhão freqüente


ou cotidiana

I. No proporcõo mesmo em qUe o Comunhão freqüente ou coti-


diana é digna d. elogiol, importa latom observadas os condições que
ela impõe, a lober, eslado de graça e reto intençQo. E preciso tomar
as precauções necess6rios poro que eue Põo "aO seio consumido indig-
namente. Com efeito, di;t o Apóstolo, 'Quem como deue pão ou
bebe do cálice do Se nhor indignamente, scri! réu do Corpo e do Sangue
do Senhor' (lCor 11 , 271.

Exi.te o perigo de se falerem Comunhões indignas, perigo moi.


ou menos inerente, como se compreende, b prática muito difundida da
Comunhõo freqüente- ou cotidiano, visto que a fraquo;ta humana tende
a t,otGr l.vioRam.nte o que é habitual. Tal perl,go aumento .q uando
os fi'is, em particular OI jovens, ,.ao .e aproximam da Mesa Sagrada
individualmente, mos juntol, em atitude comunitária, como OCOrre lodos
Os dias no. Seminários e nas comunidades r.ligio~l, pala não mu-
danar outras ocosiõel. Acontecerá auim que alguém, conscie-nte de
ter um pecado grave no conscilncia, não obstante vá comungar poro
"cru ir o exemplo de laus colegas, ou por receio de se tornar moliVQ
de rep,aros poro os outros, especialmente para os Superiore., e, con-
seqüentemente, cair riO suspeita de ter cometido uma falto grave.

In"N,a. para •• pregadores


11 . A fim de ofo!lar, fonlo quanto possive', todos os abusos,
part«u necossória a esto Sagrada Congr.aacão procurar os remUlos
a I.r aplicados e opr..ent6-los aos pastores de almas. Tais são eue.
rem6dlOI:

11 Quando 0$ pregadore.. ou os diretores Clpirituals, de monelro


pGbllca ou particular, estimularem os filril, espedalmente o. lovens, à
pr6t1ca da Comunhão freqü-ente e cotidiano, Mio de lhes explicar
daramenle:

al que tal prático não" obrigatório;

bl .q ue ela se tOlrla proIbIda le todas ClI condlçi5es não ••


cumprirem;

-61-
62 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/ 1984

cl que a Comunhôo freqüente e cotidiana é forlemenle re-


comendada, mas não é preceituada por lei alguma 11 é deixado à devo_
çôo e Q piedade de cada quol, Islo ~ lão verfdico qUII! mesmo a dever
da Comunhão pascal é felflperac!o por umo cláusula que autoriza o dila_
tação do prazo previsto, quando por um motivo rozoóvlI!l o Vigário ou
o confessor tiver aconselhado odi6-lo poro mais tordo 2. Disto.e se,gue
que, quando ocorre a prático dQ Comunhõo cotidiano, O falo de que
alguém de vez em quando se abstenho do mesmo não dever6 ser
ocasião de liurpreso ou de suspeito. Se tol principio for bem compreen-
dido, o receio de q\le hojo Comunhões indignas perderá todo
fundamento.

10 cAnon 663, § 29 do Código de 1983 determina que MOS membros


dos Institutos ReUglO!los dovam, quanto poselvel, participar lodos os dias
do Sacrillc;:10 Euc.rlslico, rec:eber o Sanll:sslmo Corpo de Cristo e sdorar
o prôprlo Senhor presenle no Sacramento", Todavia ,"te cAnon hA de ser
compreendido 1 luz dos dizeres dos clnon" 6, § 29 e 21.

O CinOA 6, § 29 reza que · os cAnones deste Côd1OO, enquanlo repro-


duzem o Clrelto antigo, devem ser apreciados, levando.se em conta tem-
r,." a lracllçio canOnlca".

o cAnon 21 - ainda maIS Importante - astjpula que "na dUvIda nio


sa presuma a revogaçlo de lei preexistente, mas leis posteriores d8'lem
ser comparadas com as anterior.. , e, quanto posslvol, com elas harmonl-
:Ul(fa.~.

Ora 6 corto qua na tradlçlo Jurldlca da Igreja existem normas que


exigem condlç6es da alma especiaIS par. que algu6m possa dignamente
receber a S. Eucaristia, Por conseguinte, lals dlsposlç&es canOnlcats nlo
foram alwogadas paio novo Código, mesmo quando este recomenda a
S. Comunhlo cotidiana.

V6-se, pois, qua, se, de um 18<10, a Igreja esllma e recomenda a


Comunhlo freqüenta, Ela nlo. a Imp6e cat.gorlcamente, ma., ao contrlrlo,
mas, ao c:ontr4r10, doaela haja, para todos os lIéls, liberdade de comungar
ou nlo, de acordo com os ditam" da aua consciência. (NotII do tradutor).

! O cinon 920 do C6<l190 da 1983 eatabelece que todo Uel cat6l1co,


ap6e a Primeira Comunhio, "tem o dever da comungar ao manos uma vez.
por ano. Este preceito deve ae, cumprido no tempo pascal anil) aer que,
por Justa causa, se cumpra em outra época dentro do meamo ano". Por
"tempo pucaJ" !li IgTala universal entenda-se o perlodo que vai de qulrlta-
-falra santa alf o domingo da Penteco.les (no Brasil o t~po pucal
aatencte..a do p:lmalro domingo de fevereiro alj 18/07).

"Justa causa", no caso, poda ser distAncia lIalca em rela.çlio .. Igreja


ou moamo li; necosaldade da melhor preparaçlO mediante uma conl1nlo
bem lalta. (NoIII do tradulor) .

-62-
DISPOSICOES PARA COMUNGAR 63

dI A Santo Comunhão, .q ue é vida pClrCl Os bonl, é morle


para o, maus, e, portClnlo, ontel do mais ~xigido poro a mesma o es-
tado de groço. O horror do JOcrilégio h6 de ser fortemente incutido,
Serõ preciso chamar a alencão poro o lei teCjllundo o quol nenhum cris·
tão cuia consci!ncio elteio onerado por pecado mortal, pode lidtamente
recebe, o Comunhão sem le ter confeuado onteriormen'e, .q ualquer
que sela o grau de orrepelf1dimenlo que lulgue ter 1.
Requer-se outrossilll uma intenç60 reta ou piedosa. Esla consiste
em que ninguém le aproxime do Mesa Sagrada por mera rotina ou por
voidade ou por relpeito hUlllono, mas, sim, porque o fiel desela con·
formar·se à vontade de Deul, unir-se a Ele moi . intimamente pela
caridade e us.or eue divino remédio cantlo os próprios fraqueza s ti
deficiincias (Decre to Saao Tridentino Synodus n' 2) .
Mais: 'o fim de que a pr6tico do Comunhão freqüente e cotidiana
seia orientada por maior prudêncio e produza mais copiosos méritos,
nõo ser6 adotado sem o pClrece, do confessor' (ib. n? .5).

Facilitar o acesso à Confissão


21 A Confissão frequente hél d. se, promovida auim como a
Comun"ão fre.quente. 1510 nõo que, dizer que a Confissão deva p,e·
ceder o Comunhi:io quando o aistão nõo tem consciincia de haver
cometido pecado mortal, Contudo OI memblos de comunidades reli-
giosas devem ter a possibilidade- de se confessar não lomente em diCls
determinados. mOI devem ter liVl'"e acesso 00 canfenor laprovado) que
tiverem escolhido ...

Outras cavtelas
3)
el Nal comunidades (escOlos, Institutos, ocompamenlol ... ),
por ocasião ela Comunhão, é preciso evito' tudo o que poderio tornar
dlflc:il o um lavem abster-se do Eucaristia. O modo de proceder deve
ser lal que não le levem em contCl o • .casos de ab.tenção.

I Diz o cAnon 916 do novo Código :


"Quem asli conaclenl. da pllcado gra..... nlo celebre .. MiMa nem
nlo ser que exista cautll grave e nlo h."
comungue ·0 Corpo do Senhor 18m fuer antes a ConflSdo sacramental a
oportunidade par. a .. confessar:
neale cuo. porém. 'embr..-a de que • obrigado • fazer um ato de con-
trfçlo portella. que Inclui c propósito de .. conf.... ' quanto anIM-.
(Now do tncIutor),

-63-
64 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/ 1984

d) O Superior do comunidade deve tomar cuidado para que


a So.grado Eucaristia não seio levada oos enfermos qUe n(io a tenham
explidtamente solicitado.

e) Aqueles que organizam ou diri<;Jem reuniões de jovens em


que se celebra o S. Eucaristia, não devem es.quec.r que, em toi. teu-
niões, OI perigos de Comunhõo socríl(l!ga são muito semelhant. s 001
que exillem nOI comunidades. Deverão, pOflcmto, tomor todos os lI::au-
telas pena afoltó-lol. Ngo somente dec\afClrão que <ado qual é livre
para se aproll:imor da MO ia Sagrado ou nõo e propiciarão a ocasião
d. se confenorem, mos tombêm tratarão de evitar tudo o q ue poderia
provocar o surpresa dos oulros em re lação àqueles que não receberam
o Comunhão.

Esta Sagrado Congregocõo pede insblentemente aos Ordinários


• Superiores, in~pirodos por prudênda e por rela opolt6lico, tomem
ainda outras medidal que lhes porecom oporlunos poro eliminar abulos
em relacõo à S. Eucaristia . .. Com efeifo, é necessário vigiar com
grande ptudênda a fim de que o S5. Sacramenlo do Eucaristia ... não
le torne oco.lãtl d. detrimento e ruína poro OI fiéis em conle.qülndo
da malícia humano ou de negligê ncia culpado no luprenão daI abusos .
Caso Í$to Gcantefess@, estariam anulado s a roz:ão e O I fina lidade. em
virtude das qua Is a lacramento foi instiluldo . . .

D4do e m Roma, na sede do S. CDngregoção poro os Sacramentos,


001 8 de dezembro de 1938, na festa do Imaculado Conceic:ão do
Bem-aventurada Virgem Mtlrio.

D. Ca,deal ..Iono, p,eleMo


F. lracel, Secret6r1n

• • •
Numa palavra: verifica-se que, há quarenta e mais anos,
como hoje, a S. Igreja deseja que

- os fiéis se aproximem. freqüente ou diariamente da


S. EucaristIa;
-64-
DISPOSICOFS PARA COMUNGAR G5

- recebam a Comunhão em condieões dignas ou em estado


de graça, evitando todo sacrilégio ou abuso.
Vê.se, pois, quão urgente é não fazer da S. Eucaristia mero
símbolo de solidariedade fraterna (a quem aniversaria, a quem
se casa ou a quem está enlutado .. , ) . mas tomâ.-Ia, antes do
mais, como sacramento da união ao Senhor Deus. que é três
vezes santo. Faz·se mister outrossim que as pessoas já escla-
recidas se disponham a esclarecer os fiéis católicos que, igno-
rando as condições para a digna recepçã() da Eucãristia. pro-
curam a Comunhão sem antes se preparar pela Reconciliação
sacramental. quando necessária.

• • •
(Continuaçl o da pago 48J
futuro. Tais Idéias nlo correspondem • men58gem calõllca. Visto que o
assunto - pecado originai· " l o & de ordem lIIosóflca, nem de ordem paleonlo-
lógica ou .tqueoIÓgica, mas é eslrilamenle do plano da lé, nIo ~e ser
devidamenle abordado sem que 58 levem em conta os documento. da 'é,
que no caso alo as clectara~ da Igreja. VeJa pp. 2'-23 deSle 'aacrcul0.

Ela por que nio podemos abonar o livro de TOfMJccl como manual de
calequese bibUca.

• • •

A hillOrill d. Deus em nou.I hist6fi1. Roteiro blblloo da hltt6rt. da


.alvllçio, por ClOvis Frainer, Coleç.lo CHRONOS n9 9. Coedlçlo da Unlver·
aldade de Caxias do Sul e da Escola Superior de Teologia SIo l.cKJrenço
de Brindes, 1977, 155 ): 2'30 mm, 215 pp.

D. CIÓYIs Fralner, capuchinho, é atualmente bispo de Coxim (MS) .


Obleve OI 1l1uI0lI de doutor em Teologia e Uvre-Doctncla em Teologia Blbllca
pela Ponllllela Unl.... ,.,d.de Católica do Rio Grande do Sul. A presente
obra contem um estudo da História da salvaçlo que "arte da crlaçlo do
mundo 8 do homem, passa pela Teologia da Aliança, pela figura e a mlnlo
de Jesus Cristo, apreMnl. um. sfntese de Ec!eslologla e tennlna na CO~
aumaçlo da M.t6rla QU EtcIItologla.

o livro aborda temas dlllcels e discutido., guardando a reta doutrina


no loc.anle ao pecado originai,' Infanela de Jes...... resaurreJçIo do SenhlY.,
1 Igrela ... : apel'\U no locanle • r...urrelçlo dos lustos. o aulor admite
~uma corta r,saurrelçl o · logo após a morte, que 8er. Ulmbém "um ceno

(ConllnUII na pig. 7l5)

-65-
Ecl••lologia Im foco :

"Uma Igreja no Povo e pelo Povo"


de José Galea

Em alntete: o livro de JMé Galea divide a história da Igre)a no


Brasil em dues lases, das quais a segunda começa em 1890 (separaçJo
da Igreja e do Estado) a chaga, após hesitações e incoerências, 80 sau
pOnlo culminante em 196.4, quando a Igreja começa a se opor ao Eslado.
Anteriormente havia ~e Igreja no Ealado 8 pelo Eslado" j atualmente exialll
". Igreja no povo e pelo povo~ . A fase contemporênoa li marcada por
autêntica pastoral Interessada pelos problemas sóelQ-itconOmloos do povo
e marcada pelas comunidades aelaslals de base. - Ora uma tal perspec.-
tiy, de pauado e preaenle da história da Igraja li distorcida, pois procedi!
de premisses preponderantementa sociológicas e cede a um secularismo
daninho: a mlssAo rellglola da Igrela li Insullclenlemenle valorizada, ao
passo que o seu aspecto promoclon,1 do homem li hlperlrollado.
Se ó verdade que "pelos lrulos se conhece a árvore", pode·se dller
que a nova pasto,.' da Igreja li desabonada pelos seus 1rutos: tanto as
umadu lidas como nl o pobres quanto as camadas pobres da .oclsdade
têm desertado da Ig reja: 8S primeiras porque nlo raro despreUlda. a
InJuriada. como réprob.. : uma. ti oulras, porque nlo sulldentemenle alen-
dida3 em seus anseios religiosos, vllo procurar nas seitas ocld8nlalll e
orlenlals a palavra de lê e de transcendênçla que nAo thas li olereclda
utl.latorlamenle em certos ambientes catól icos. O homem que durante $OI.
dias da .emana M preocupa com problemas de ordem temporal, quer no
domlnQO ouvir um dllcuflO dlferenle, capaz de o alentar e ele.,.r, em
vez de o mergullwr m.l. ainda em questoee tICOI'IOmlças e trabalhlslaa.
EI' por que Julgamos pouco feliz ou mesmo tendenclou a tese do livro
da J. GIlea.

• • •
o Pe. José Cal ea é Mestre em T eologia pela Pontificia
Universidade Lateranense e Doutor em Ciências Sociais pela
Unive-rsldade S. Tomás de Aquino de Roma. Atua1m(!nte exerce
as funções de pároco da paróquia de S. Pedro de Alcântara e
de professor de Sociologia no SeminMio Mator Arquidiocesano
de Brasma. Escreveu o livro cUma Igreja no Povo e pelo
Povo» com o subtitulo cRetlexão teológica sobre a Atual Ação
Pastoral da Igreja no Brasil. I , Esta obra suscita interroga-
ções importantes, que nas pêginas subseqUentes serão consi-
deradas e comentadas em tom sereno e objetivo.

I Ed. VOle., Petrópoll. 1983, 140 x 210 mm, 89 PP.

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cUMA IGREJA NO POVO E PEU) POVO ~

1. O cont.lido da obra
o titulo cUma Igreja no Povo e pelo Povo» jâ diz multo
da tese do livro; pretende significar a face da Igreja de nossos
dias, em contraposlçêo â cJgreja com o Estado e pelo Estadolt,
qUe terá sido a ~ja desde 1500 até 1964: cf. p. 24.
Para ilustrar a sua tese, o autor percorre sumariamente
a história da Igreja no Brasil desde a descoberta até 1983; a
Igreja trazida de Portugal paro o Brasil lera sido pautada pelo
modo constnntiniano-sacral, com integração entre Igreja e Es-
tado; as normas do Concilio de Trento SÓ terão sido aplicadas
ao Brasil no século xvm, por ocasião do primeiro Sinodo na
Bahia (1707) . A política do Padroado, que concedia ao mo-
narca de Portugal (c, depois, ao Imperador do Brasil) direito
de ingerência em questões internas da Igreja, terá contribuido
para. atrelar fortemente a Igreja ao Estado.

O modelo constantiniano.sacral terá permanecido inalte-


rado desde 1500 até 1889 (proclamação da República). Em
1890, feita a separação jurídica da Igreja e do Estado, ter-se-á
registrado alguma lnova~âo no sistema, embora timida e tênue
(dificultada pela falta de comunicações adequadas no Brasll) .
Em 1934, «com a politica do presidente Getúlio Vargas, o mo-
delo de infl uêncla católica retornou em grande parte às formas
arcaicas de antes. A chave dessa regressão foi n restauração
do poder do Estado ('Estado Novo') como melo de exercer
influência, o que fez cessar virtualmente toda Inovação. Isto
vai até 1950. (p. 23).
De 1950 e 1964 terá havido um cperiodo de pré·mudança_:
«a novidade essencial . . . foi a sua promoção social, através de
programas e outras iruciativas de bispos e sacerdotes, de modo
a tomar mais concreta a evangelização. Contudo esse modelo
ainda se apoiava no poder do Estado~ (p. 23).
Em 1964 constatamos o inicio de uma fundamental mu-
d~ a IÚvel pastoral para chegar também a uma mudanoa
SOCial na sociedade. Os dois grandes fatores desta nova tomada
~e posição são . • . as conclusões do Concillo Vaticano TI. que
trouxe uma geral reviravolta .no pensamento e agir da Igreja,
e. o Golpe Militar no pais, instaurando (até hoje) um regime
milltar·autoritário com uma série de conflitos com a Igreja~
,(p.23). A Igreja, diz o autor. toi-se distanciando do Estado ~

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68 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 272/ 1984

fol·se voltando para 'O povo, interessando-se pelos problemas


deste. «InstauroU--5e então um processo de não mais 'Uma
Igreja com o Estado e peja Estado', como vinha sendo antes,
mas, sim, como ensina 'O ConclUo e pede o Evangelho, 'uma
Igreja no povo e pelo povo':t (p. 24).
cA IGreja hoie tem d. faur uma opção entre o poder e a ad••ão
ClOI novOI objetivos da evangelização lem o poder, isto é, estar com
os m<ris froi!Ol • oprimidos e a 'avor dele •. E (I Igreja, na suo globali .
dada, fel. asta 6ltima opção. (p. 2.().

Neste contexto, segundo o autor, surgiram e vio tomando


importãncia crescente as Comunioades Ecl.es1ais de Base
(Ct:;Bs) . Uma nova Igreja está assim nascendo; . .. DOV& não
como se fosse «distinta daquela que &empre existiu., mas no
sentloo de que vai despontando cuma nova C<lnsclência ecle-
siaJ, teórica e pràUC&, isto é, wna nova ec1es1oiogia Uma
nova pastoral, ou meJnor, ,um novo modo de agir aa Igreja
num mundo atual e determinadG. Poaemos chamâ·lo de uma
aesCObeM.a de um novo modelo de CrIStandade, que a ígreja
estava tentando implantar dentro do povo: o mouejO das (;O.
munldades h:cleslais de l:Iase:t (p. 42).

A nova Ecl~'Ologia é caracterizada por c:deslocamento da


sumiQ8Ue para a base ~, o que quer dizer: cO novo modelo não
e mais 'O modelo dos relacionamentos 19reja·~tado, relacio·
namentos ao vertice das duas tnsUtuiçôes, entre doIS poderes.
U veUlo modelo dos re.lacionamentos entre as duas autoridades
supremas hoje é só de faebatla, .teJ.1zmente.
O baricentro do modelo não pertence mais à sumidade das
duas cidades. O desJocamento do centro pelo qual se favorece
a base e se vaJoriza o 'povo de Deus' foi movido Pelo VaU·
cano n e, no caso do Brasil, também por Medellin e Puebla,
os quais trouxeram uma nova concepção da vida e mi&sl.o da
Igreja. (pp. 66s).

o novo modelo é o cdo empenho poliUco do cristão ou do


grupO cristão. (p. 66).
O autor não deixa de apontar possíveis desvios das CEBs.
mas julga que estas coristltuem uma autêntica ecleslogênese
(gênese da Igreja). Esta nova Igreja deverá manter contato
com a c:Grande Igreja~ para poder corroborar suas reivindica·
ções. cAs CEBs conseguem resolver pequenos problemas locais

-68-
cUMA IGREJA NO POVO E PELO POVO. 69

e, às vezes, algumas infra-estruturas econômicas, porém não


têm forças suficientes para uma mudança de estruturas sociais.
Elas precisam da atuação influente da 'grande instituição'»
(p. 62) •

• A função do padre é colocar-se a serviço da CEB como


animador e não como dominador, Impedindo assim o desenvol-
vimento autônomo da Igreja populat'» (p. 84).
A propósito pergunta-se: que significa cO desenvolvimento
autônomo da Igreja popular»"
Estas poucas linhas parecem reproduzir adequadamente o
conteúdo do livro em foco. Procuremos agora refletir sobre
o mesmo.

2. Refletindo ...

2 . 1. Igrelo, Estado e povo

A obra em pauta baseia sua tese sobre a conslderacão da


história da Igreja no Brasil. Esta é percorrida em função das
relações da Igreja com o Estado. Até 1964 terão sido relações
de integração - tranQUUa até 1889, menos tranqUUa de 1890
a 1964. A partir de 1964, a Igreja terâ deixado de estar com
O Govemo para colocar-se do lado do povo em conflito com o
Governo - O que significa sofrimento, mas, 80 mesmo tempo,
autentiddade.

Ora este esboço histórico é conb!<tável. A história ê "'"


terreno muito palmilhado pelas correntes ideológicas, que que·
rem fazer dos acontecimentos passados uma justificativa para
suas reivindicações presentes. O modo como 3. Galea consl·
dera a história da Igreja no. Brasil é unila~raI e tendencioso;
di a crer que a Igreja até 1964 nio estava voltada para os
Interesses de povo e, alm. ligada aos interesses do Estado e dos
ricos opressores. A fim de voltar.se para o povo, a Igreja teré
necessitado de se dirlJrir contra o Govémo e as classes abasta-
das da JOdeilade. - Tal oecclonamenlo da sodedade é artIfi·
clal. se não fo.lso; sup!5e e atiça a luta de classes: Estado e
Igreja, de um lado. Com detrimento para o povo. de outro lado;
eu IgreJa e povo, de um lado, com antagonismo ao Enado, de
outro lado. Tal esquema, de lndole dualista ou manlquéla, sim·

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70 .PERGUNTE E R~PONDEREMOS, 272/ 19IM.

plifJca wna realidade, Que é muito mais complexa. Com efeito;


se a Igreja aceitou colaborar co m o Estado, Ela o fez porque
o Estado se dizia cristão e houve realmente entre os monarcas
antigos muitos flêis católicos sinceros, que desejavam servir a
Cristo e ao Evangelho. Igreja e Estado unidos procuravam
servir ao povo de Deus dentro das categorias de pensamento
e ação da sua época (note-se bem que não se podem exigir dos
antepassados modalidades de comportamento e de ação que só
se tornaram reconhecidas em épocas posteriores). Deve-se
mesmo dizer que o povo de Deus através dos séculos sempre
encontrou na Igreja o baluarte da reta ordem; foi o que se
deu, por exemplo, quando a ca pital do Império Romano foi
t.ransferida de Roma parn Bizâncio em 330; as populações do
Ocldente do Império, entregue nos golpes dos germanos, encon-
traram nos bispos o seu amparo c os seus defensores. Essa
tutela e o atendimento às populações pobres foram exercidos
freqüentemente por preladOS c por Ordens ou CongregaC'ÕeS
Religiosas, fundadas precisamente para atender aos entennos,
aos cativos, aos órfãos, aos anciãos, à infância e i. juventude .. .
A defesa c a civilização dos {ndlos no Brasil foram tarefa dos
missionários católicos, especialmente dos jesuitas; tenham-se
em vista os dcx..-umentos citados 'em PR 267/1983. pp. 98·132.
De resto, nfio se vê por que acusar p~oncebldamente o
Estado e condenar qualquer colaboratfio da Igreja com o Es-
tado ou vice-versa. O Estado em sI não é mau; n ão hã, na
Moral católica, nonna alguma que pro1ba "Cooperar com o Es-
tado desde que esta colaboração não seja, por clrcunstânclas
contingentes. oontrâria aos principias do Evangelho. O APÓS-
tolo São Paulo enunciava esta tese, tendo em vista as autori·
dades do Império Romano anterlGr à perseguição de N ero (64) :

. Submeta-se cada qual à s autoridades canllltuldas. Pais nao há


autoridade que .,ão lenho sido con:tituldo por Oeul, e as que existem
foram estobelecidas por Ele. De modo que aque le que se revolta
contra a autoridade, opõe.'e à ordl!m estabelecido por Deus. E os que
se opõom, atrairão sobre si o condenação. Os que go...ernam metem
medo qvonda le pratico o mal, nao quando ,. fax o bem. Queres
então n~o ter medo da autoridade? Pratica a bem e dela receber6s
ologlol, poil ela é instrumento d e Deul paro te çondu&ir 00 bem. Se,
porém, praticares o mal, teme, porque nôo é ô toa q\le elo tra~ a
e.padal elo é instrume nto de Deul para foz.er IUltica e punir que",
pratico o mal. Por isto , necessório submeter-se naa somente por
temor do castigo, mos també m por dever de conscllncioJi! (Rm 13,l -5l.

-70_
c:UMA IGREJA NO POVO E PELO POVO, 71

Verdade é que as concessões feitas pelos Papas aos reis


sob o titulo de Padroado evidenc::iaram-se mais nocivas do que
favornveis a Igreja. Todavia na época em que foram conce-
bidas, devem ter parecido algo de justo e razoé.ve1.
Hoje rio Brasil não se vê por que a Igreja deva, por prin-
cipio, entrar em conflito com o Governo a fim de cumprir a
sua missão pastoral. Em casos delicados, o diálogo será a
pista para encaminhar solucães. 1: de observar que a Igreja é
devedora de seu zelo pastoral tanto aos pobres como aos ricos
e poderosos; todos são destinatários da Boa-Nova, pois em
favor de t<ldos, sem exceção, derramou Cristo o seu sangue.
~ preciso. pois, qUe os pastores da Igreja olhem para todos
com o mesmo olhar de Cristo, que não conhecia preconceitos,
nem fazia acepção de pessoas. Compete à Igreja levar a todos
a mensagem da salvação, à semelhança do Apóstolo São Paulo:
«Fiz·me judeu com os judew para ganhar os judeus . .. Com
os que estão fora da Lei, comporto.me como se estivesse fora
da Lei para os ganhar. . . Com os fracos fIZ-me fra'Co. para os
ganhar. Fiz.me tudo para todos, para salvar alguns a todo
custo. (lCor 9.20-22). .

2.2. Preponderélnc.lo do social


O esboço de história da Igreja, no livro em foco, é inspi.
rado por excessiva valorização da ação social da Igreja, com
esquecimento do vaJor preponderante da ação catequética e
religiosa. que Cristo confiou à sua Igreja. Esta nota transpa-
rece, por exemplo. às pp. 38s, quando o autor analisa a preo-
cupaçá.o das autoridades ecleslãsticas com o catecismo nos
séculos XIX e XX, e conclui: c:Vemos ai que se estava bem
longe de enxergar wna verdadeira linha de aeio pastoral cape.z
de trazer uma real renovação da Igreja. (p. 39).
Essa ação pastoral nova tida como autêntica seria, se-
gundo o autor. a ação social da Igreja e O seu empenho poli-
tico (cf. p. 24). Tem-se a bnpressio, ao ler as péginas de
J. Galea, de que em. nossos dias, por estar desenvolvendo con-
a
nituosamente tal acão social, Igreja atingiu o seu ponto alto
na ·hlstória do Brasil.
A propósito, porém, devem-se recordar as palaV1'6S do
S. Padre em sua Carta. aos 'Bispos do Brasll datada de 10 de
dezembro de 1980:

-71-
72 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS) 272/ 1984

defiro-me à urgente necessidade da catequese, no sentido mois


abrangenle que dei a este termo na Exortacão Apostólica Catechesi
Trodendae. Refira-me especialme nte à educacão religiosa dos. aiOA-
eas, dos odol.scentes e dos jovens.

Vós me smos me dissestes, em mais de uma ocasiõo, qlle 'lima


insuficiente fannoc(io catequética lem sido, desde os mais remotos
tempos, ti locuna moior na evangelizacõo de valia genle. Acrescen-
l(ivei, que, molgrado algum progresso, o mal oinda não edó sanado
em nossas dios. Oro. frenle à ameaço da secularismo nascente, d.
um lado, e fre nle o uma religiosidade que, abandonada o si mesmo,
corte sempre o perigo de cair na superstiçõa, por oulro lado, o
futuro da Igreja nesle J)ors depende, em máxima J)arle, de uma col.-
quese sólido, seguro, Cllicercada no mois genuino ensinamento do
Igrefa.

Quero por isto repetir-vos com ênfase parlkulor o que escrevi


001 Bispos do mundo inteiro na citado Calechesi Trodondae: os esfor.
cas que um Bispo despender, o I.mpo que gosfar, as energias pasto-
rais .que consumir no catequese, longe de serem um desperdicio, .e
reve'arão bem cedo como o investimento mais pr.cialo e fecunda de
seu minist6ria. A solidez de suo Igreja parlicular, num fuluro pr6.
:lIImo, dará testemunha disso .

Pe-ça-vos que troteh uma e muitos vexes deue temo em vouas


assemblitJas nacionais, regionais e diacesancu. Inseri esle ponto em
VOSSOI planol da pastoral. Incentivai, sob vossa guia e responsabi-
lidad., a preparacão d. bons lextos catequéticol. Sobretudo pre-
paroi e enviai cateq'llislos de confianco a lodos ai satores, elperial-
mente a todas as os(olclI de todol os nlvois. 56 assim evitareis
_ , minha convic~a - que na lua simplicidade, por falia d. me-
lhor inslrucão, vossa povo vó procurar em formas menOl puros de
religião ou em sucedâneos do CriSlionismo uma resposta à. suas for·
les alpiracõ.s religiosan .

~ de notar, aliás, que a negligência da doutrina (log(lS)


em favor da ética socIal (pruIs) é uma das caracterlstlcas
da teologia da libertação, caracterlstlea que, por sua vez, se
deriva do lTllU'XIsmo. Foi Karl Marx quem estabeleceu slste-
maticamente o primado da praxls sobre o Jogos. tornando a
verdade algo de secundârio ou derivado ou fazendo da. ver-
dade uma tunção dependente da praxis OU da revolução socIal.
Marx julgava que até o século passado os íllOsofos haviam
pensado o mWldo e que chegara a hora de .transfonná-Io! __ .

-72 -
cUMA lGREJA NO POVO E PELO POVO, 73

Ademais pode-se testar a «autenticidade» da pastoral con-


flituosa da Igreja em nossos dias aplicando-se-lhe o axioma
evangélico: «Pelos frutos se conhe<:e a árvore' (cf. Mt 7,15-20).
Pergunta-se: quais os resultados da ação contestatârla da Igreja
no Brasil em nossos últimos anos?
Verilloa·se, de um lado, que as classes não reputadas po-
bres se afastam da Igreja, porque não raro injuriadas e oten-
clidas até mesmo em sua dignidade humana, como se todos os
não pobres fossem pecadores e réprobos. Doutro Jado. as clas-
ses pobres, que se deveriam sentir mais interpeladas e atraldas
pela opção preferencial, também abandonam a Igreja e se pas-
sam para as denominações protestantes e as seitas orientais e
ocidentais que invadem o Brasil. Não se sentem atendidas ou
satisfeltas na Igreja. embora esta lhes fale de seus problemas
sociais. A razão dcsta debandada de grandes c pequenos está
simplesmente no Cato de que todo homem é essencialmente
religioso e quer, ao menos no domingo (se é cristão), ouvir wn
discurso diferente daquele que ouve nos seis dias da semana;
ele procura nas assembléias de culto uma palavra de fé. de
ressonância transcendental ou de elevatã,o acima dos proble-
mas materiais. Se, porém, o ministro católico também o cbom.
bardela~ com noticias e exortações de ordem sócio-econôrruco-
_política (como se o padre fosse um super-economista ou um
. super-sociólogo ... ). o cristão - rico ou pobre - sai frus-
trado da sua igreja e vai procurar, em um templo não cató-
lIco. ouvir uma palavra que seja a explicação e o comentArio
direto de quanto está escrito no Evangelho. O progresso das
pequenas comunidades e seitas religiosas têm mais e mais cha·
mado a atencão das autoridades eclesiãstlcas; é certo que, entre
as diversas causas que o provocam. se deve enumerar e. secu1a-
rizacão ou a laicizacAo por que têm passado a pregacão, o culto
e a acfio pastoral catóUcos.

2.3 . ComunidadM ecltsiats d. ~

As comunidades eclesiais de base têm sua justificativa e


seu valor dentro da Igreja, pois permitem uma vIvência mais
fraterna e comunitária do Evangelho do que as paróquias com
seus milhares de habitantes.
Todavia a evoluçãO das comunidades ecles1als de base não
está isenta de reservas e pon tos de Interrogação. O próprio
Pe. J. Galea indica e1guns destes: radicalismo, perigo de esquer-
dismo (p. 83). distância frente às outras organl7.aÇÕeS POPu-

-73-
74 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/1984

lares (p. 83). .. Mas a imagem de comunidade eclesial de


base que Galea (e outros autores da mesma orientação) pro·
põem como positiva, deixa muito a desejar. COm efeito
segundo tais autores,

- a CEB deve ter o desenvolvimento autônomo de uma


dgreja popular» (p. 84);

- as CEBs não devem reproduzir 8S estruturas do sis-


tema eclesiástico (p. 83);
- «as CEBs constituem a forma adequada de Igreja
para as vitimas da acumu1ação capitalista, em contraposição
à Igreja tradicional 'hierarquIzada, com suas assoclacÕeS clás-
sicas (Apostolado, Vlcentinos) e modernlzan!es (CursUho,
TLC, MFC, Renova!;áo Carismática). mais adequada a umq.
soctedade de classes, integrada no projeto das classes hegemô·
nicas~ (p. 58) i

- « 8 quase absoluta maioria dos membros das CEBs


são pobres .. _ O fato de serem pobres e fracos, 80S olhos da
fé, constitui um acontecimento teológico .. _ São os pobres os
naturais portadores da utopia do Reino de Deus» (p. 57) .
Como se ve, a preocupacão classista ou a oposição entre
classes sociais (das quais uma é santa quase por si, e a outra
ê rejeJtada como tal) deturpa a nocão de Igreja. Afinal não
é o fato de alguém ter ou nAo ter dinheiro ou o fato de per-
tencer à categoria dos pobres ou à categoria dos ricos que
salva ou condena esse alguém. Há ricos animados por esplrIto
de pobre (cf. Mt 5,3), como pode haver pobres Incitados por
espírito de ganância e cobiça. :t: preciso não retomar à men-
talidade do clã, proflJgada pelos Profetas do Antigo Testamento
(cf. Ez 18,1-32; Jr 31,29s); cada um, rico ou pobre. traz a
sua responsobUldade pessoal e ser' julgado Individualmente
segundo a resposta que tiver dado aos apelos de Deus.
Ademais é de notar que a Igreja. na qual se inserem as
CEBs. &erâ sempre a Igreja Illerérqulca, Instltuida por CrIsto,
dotada de magistério,. .. Igreja que não se reduzlrá jamais
ao modelo de uma rep(lbllca democrática, na qual tudo é decl.
dldo na base de pleblscltos e votaç6es majoritir1a8. Não se
deve, pois, criar ou alimentar dlstincJa ou desoontiança da
parte das CEBs em .relação à Igreja universal e hierárquIca_

-74 -
cUMA IGREJA NO POVO E PELO POVO» 75

A Igreja contemporânea, na qual existem as CEBs, ê a


mesma Igreja de todos os tempos, com sua estrutura de ori-
gem divina. Não se deve cavar um hiato entre a Igreja ante-
rior a 1889 ou a 1964 e e. Igreja de nossos dias.

Eis o que nos parece dever dizer a propósito de um livro


que não ê dos mais radicais em suas posições, mas que se res-
sente de falhas graves por atribuir exagerado va10r a pre-
missas sociolõgicas, que dificultam ao autor ver de maneira
mais completa e cabalo significado e a atuação da Igreja no
Brasil.

• • •
(Conllnuaçlo da pág. 65)

eSlado de Individualização do aer humano, mesmo em leu elemento som6-


llco" (p. 179~. A propósito observemos : a Indlvlduatlzaçlo do ser humano
nAo 6 destrulda pela morto, visto que subsiste &empfe um núcleo de perso-
nalidade chamado "alma humana- ; todavia essa IndlvudatlzaçAo nlo exige
maté,la ou corpo, mas 6 aunclentemente garantida pela sobrevivência da
alma humana. D. Clóvis Fralner escroveu em 1977, entes que a S. Con-
gregaçao para a Doutrina da Fé publicasse o documento relativo 1 Eseato-
logla com data de 17/0S/79. Nesse documento a Sanla S6 declara: ""
Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um
elemento espiritual, dotado de comci6nc::la o da vontade, de tal modo que
o 'eu humano' subsista. Para designar esse elemento, I Igreja emprega a
palavra 'alma' consagrada. peto uso que dela flUem li Sagrada Etcrltura e a
Tradlçlo~ (art. 3~).

Como se vê, o texto proclama li sobr.vlY!ncla de um n6cleo .splrltual,


dêstlgado do corpo após .. morte do Indlvfduo, dotado de contclAncla
psicológica. AcredUam.os, pois, quo o livro de D. Clóvts poderia ..r atuall.
zado e revlslo 1 luz dessa doclaraçAo da Santa Sé.

Por cau.. do teu car'lar de IIvlO de hlatórla da aalVlçao, a obre. nlO


apmenta temas que nl.o podariam lanar num compêndio de Doutrina
Slstam'tlca, como o magistério da Igreja, a graça, os Acramentos, etc.

Quanlo ao mllft, a obra em pauta meface alançlo • mullo se recomenda


801 estudantee de Doutrina CItOUca .. de Teologlai vasado nos textos
blblleos. o livro' erudito e ao mMmO tempo .cesa ...... a leftOf8l de forma-
çio m6dla. Fazemos votos. portanto, pare que o autor possa atu.llzar aua
obfa e os leitor.. a leiam l lul. do citado documento da S. Congregaçlo
pare a Doutrina da ~6.

E .B .
-75-
.,
Um documento marxista:

Para Tentar Destruir a Fé


Em .In.... : Vai abaixo publicado, em lraduçlo portuguesa, um
documento emanado das autoridade. governamentais marxista' da Etiópia
em vllta de aulocar OU alCtlrpar • fI! do povo daquela pais. As norma_
assim baixadas nlo lomente ae r.ssentem da ódio li Rellgllo, mall tam-
116m de hipocrisia e fa lsidade - o que deg rada qualquer a utoridade ou
metmo Qualquer personalidade.

• • •
A população da Etiópia é de 29.000 .000 de habitantes,
dos quais 40% são cristãos monofisitas, 35% muçulmanos e
quase 25% anl.m.istas, sendo os restantes a mInoria judaica.
o monofisismo tem sua origem no século V. quando um
grupo de cristãos náo quis aceitar as definições do Concilio de
ca!ced.ônJa (451), que professava duas naturezas (8 divina e
a humana). mas wna só pessoa (a divina), em Jesus Cristo.
OS l'I'Ionoflsltas professam a absorção da natureza humana
pela divina em Cristo, de modo que só reconhecem uma natu
reza. (mia. physls) e uma. pessoa em Cristo. Em nossos dias, po.
rém, pode-se dizer que praticamente aceitam a crença da Igreja
universal promulgada pejo ConclUo de CalcedOnia. ExIstem
monofisitas tanto no Egito (são os coptas) quanta na Etlóplaj
até 1946 reconheciam como único Patriarca o de Alexandria
(EgIto) e integravam.se lIumB só comunhão; naquele ano, po_
rém. os da Etiópia se separaram dos captas egípcios. visto que
têm suas observâncias próprias (entre as quais, a prática da
cLrcunclsão). Os cristãos monoflSltas da Ablsslnla representam
uma força viva da nação, orientada por 75 .000 sacerdotes. A
partir de 1966, outras confissões cristãs, como a lUlérana, se
implantaram naquele peJs. Em 1974, o Governo lmperial foi
substitu1do por um regime socialista, que em 1978·1979 come·
-76-
PARA TENTAR DESTRUIR A FÊ Ti

çou a se voltar sistematicamente contra os cristãos. visando


a destruir as suas comunIdades. F()i neste intuito que o Cen·
tro de Formação de Quadros POlitlcos em Adi,s.Abeba emitiu
o seguinte prog-rama datado de 1981: 1

COMBATE À F~
c I. Convocai VOlSCU anembléias municipais nOI domingol de
manhã. Exigi que seja regislrQdQ cada habitante vivo na região.
CuldCli de que lodos participem das assembléias, Infligi penos leve-
ras Ide mullQ ou de prisãol àqueles que nõo comparecem.
2, Designai cristõo. militontes paro realb:ar O trabalho volun-
flnio que deve ser feito na comuna, Deste modo estarão tôo Otupa-
dos ,que não terõo tempo de l e dedicar o alguma obra crislÕ. Se
recus.arem. fereis ai um motivo para lonçó. lo$ no (6rcere.

3, Tentai in'roduxir em lodos OI grupol crisliioi e em todol os


auembléios religiosas camaradas do Partido cujo lealdade vos leia
conhecido. Exerçam vigilancio sobre aqueles qUe são mois crentes e
aqueles que desempenham funçõel de direção.
4 , Dizei o lodos o. habitantes de cadCl comuna que devem
decidir, uma vn. por la das, so sôo cristãos ou não, Um pouco mais
lorde, preuionareis os que se tiverem declarado cristãos, para que
reneguem a fé. Se não o quilerem, lancoi-os no cárcere, ao menos
por algl,lns dia., Quando forem libertadol, 0$ seus fomiliare. insls-
t1rõa com eles paro que reneguem o fé ou a mantenham Ol:uUO poro
não ajClrem embaraço Õ, sUas famllial.

5 , Proibi o acena li igrojo; proibi-o principalmente aos jovens.


Confiscaj os documentos de identidade de todol aquelel que parti-
cipam do culto, e vós OI delgostareis fazendo-os ,.esperClr e enlre-
letldo·os com promessas duranle muilos dias, ollt que deshtom do
la reJa. Se o medo de ler encarcerados não os delém, os seus fami·
liore., ag menos, terão receio e os impedirão de participar do I:Ulta.
6. Se o proibiçõo de Ir li igreja ficar sem efeito. aprisionar os
dirigentel dos comunidade. cri.tãs. ~ preferivel prender lodos OI diri-
gentel aa mesmo tempo, de modo que não haja mais ninliiluêm capoll:

I Ta' dacumento fal pUblicada na Alemanha pela Frankfurter AUge..


IM'- Z.nu"lj na FIV1Ç1., por c....... de "lICtUelltt ..ligle",e el aodele,
1'/04/1983; por La DocumentatIon c.thOIlque, n9 1852. 15/ 05/ 83, pp. 642a.

-77-
78 c:PERGUNTE E RESPONDEREMOS' ml1984

de lomor deo'Sões. Proibi CI todos indistintamente que lhes façam


visitol enquanto esliverem no cárcere, POf(! que ninguém saiba daro-
mente o que acolltece.

7. Quando ptenderdes alguém, nãe indiqueis nenhum litula


preciso de acusação. Quando for proferida alguma acusacão, evitai
fixar uma doia para O iulgamento. Cuidai de que os salários de lodos
os encarcerados sejam retidos. Castigai aqueles que ajudam 0$ famí-
lias dos prisioneiros dando _lhe5 dinheiro ou alimentação. Se alguma
caução for depositada, estabelecei um montante muito alto e avisai
que eltaré perdida 100 a sentença judiciária for condenatória. A. famí-
li~;n e os amigos nos serão menos molestos se tiverem constantemente
o impressão de que qualquer formo de ogilocõo da porte deles agravo
a sitlJação dos leus familiores e amigai aprisionados.

B• . Fechai os igrejas. Dai como molivo a corAndo de salas de


reunião e de escritórios para o comuna . Nels igreias queimai ou des-
Irui os aliares ou qualquer outro obiete d. dgnificado religioso.

9. Permiti os autoridades locais que 'se ocupem' com os eris-


tãos do seu território respectivo do maneiro que Julilarem moi$ ode-
qvodo. Cuidai de que os Igrelas s~iam sempre fechados por funcio-
nários locais de modesta categoria. Aulm o Governo nõo poderó ser
acusado de ser anticris1ãa.

10 . Por todos os meios apropriados (rádio, imprensa, çarta-


zes . • . ) diltel re,gularmente às pessoas que devem fidelidade exclu-
siva ao seu poli. E enfatiltai que, se derem dinheiro ou tempo à
Igreja, estarão subtraindo tais valores ao seu pais e, por conseguinte,
nao edarão sustentando 100'"/. o seu Governo.

11. No locante à promoção humana, à escolha dos estudantes


para falte rem estudas .uperlor.s, Q concessão de bolsos, etc., omiti
o. aist80s.
12. Apropriai-vos dos central de adminlstro~o, dos eserit6rlos,
dai ."olos, do. cHnical confessionais, assim como das hobitaçães dos
empregados da Igreja 11 dOI missionários e dos veiculas destes. Diltel
que o Govemo preci.a diuo tudo.

13. Congelai os contas bancário. dos Igrelas, das .scolQs con-


fe.,lonols e do. grupo, missionários, de ,orte que estel vejam o .eu
trabalho paralisado For folta de dinheiro.

-78 -
PARA TENTAR DFSTRUIR A m 79

14. Proibi qualquer ·reunião religiolo de grande importândo.


Oit.ei à s comunidades (ristõs que elas precisam de autorização para
convocar a5semb l ~io s públicas e, ql,l4ndo pedido. desse tipo vai fo·
rem apresentados, indeferi·os, ou adiai a resposta para uma data
pcuterior não definida . Permiti que algumas igrejas fiquem aberto. a
fi m de que ainda se possa di", que .xiste liberdade religiosa em
nosso pais,

15 . Profanai todos os lugares que ot cristãos co ....id.ram ccma


sagrados. Aplainai cada (emit~rjo. e fazei dele uma ' praca de me,·
cada '. As pedras dos sepulcros, que sõo grandes e que não co ... s.-
Quirdel remover ou quebrar, podereis utiliz:á· las como bolcõ., de
a(oU9ue.
, 6 , A ninguém deis autorização para seguir cursos ou fre-
qüentar conferêndos sobre questões religioKls e m nono pais ou no
estrongelro.

\7 , Nêio c;oncedols nem aos missIonários nem aos servidores


da Igreja a liberdad e d. viajar no pois. Em lais (OSOI ou recusareis
OI outOriUlÇÕl!S necessórlos ou postergor.is o resposla paro uma dolo
lndetermi"ado,
18 , Restringi por todos os meios poulveis a vendo d. livros
crlstõos_ Proibi os Gráficos oficiais que aceitem controtos para Impri-
mir bibliografia cristõ. Imponde como condi cão qUê todos os livros
pau.m pela · censura, Encontrcnel, pretextos poro que multas dos
livras crl.'éOI nõo selam aceito5,
19 . Autorizai a publicação de olguns livras c;rislõos. Caso se
verifique que .. õo populares e que o tirage m estó esgotado, não per-
mitais que sejam reeditados.
20 , Exigi que todas os traducões do Blbllio sejam submetidas li
censuro. Não autariz..is o edição do Blblia ou ele tratados em IInguo
de olgllmG tribo, se na li••a dos funcionórios . do Governo não houver
~"sor profissional .q ue conhe~ tal Itn,guo. Para o liberdad. religioso,
bosta qu. halo edições da Stblia disponlveis em algumas IIn9uas
prIncipais.

21 , exigi que em lodos as escolas, do nlvel primário ao ~(ve'


univenltórlo. halo, 00 menos uma vez por semana, tlm curso d. for-
mação polllica. boigi uma nota mlnimo d. aproYClcéio nena mot6ria
pato o promoção do aluno.) s'rle segulnle, H.ue enslnamenlo enfo-
tlz:arels que aquele. que .stimam a seu pais mal, do que tudo, nao
tim lugar poro Devs ,

-79 -
m cPERGUNTE E RESPONDEREMQSt 272/ 1984

22. Proibi a 010 Cão e o leitura do Bíblia nas escalas, mesmo


naquelos que são sloIstent<ldal pela Eslado.

23. Proibi aos cristãos que Se reunom em c:asas porticulClres


para orar ou para lor a Blblio.

2.04. Incitai os críoncas e os jovens a espreitar e denunciar


todas as atividades uistãs dos seus genitores, e recompensoi-os por
Islo. Os genilares devem ler medo de viver o suo fé, mesmo na inti-
midade do lar.

25 . No intuito de receber futuramente ajudo do estrangeiro e


em vista do turismo, autorizai alguns minionário, a ficar no paIs.
Desestimulai o maior número possível delos, tornando-lhes mais dlfídl
a obte nção do um visto e do uma aulori:z:oçgo de trabalho : eslos con-
cessões podem exigir anos de espero. Nêio receeis interditar algumas
regioes, o apropriai-vo l dOI bens das missões .q ue lá le enco"trom.
limitai todo tipo de viagem o U~r feit.a no pois. Não autorizeil OI mis-
sion6rios a faz:er reuniões dolos mos mos ou com os aulóctones. Em
lodol essOs caso., recorrei às táticos enunciadas atrás para emitir uma
recusa ou fazer Q'Je as coisas se arrostem_

26. Se vos fOf absolutamente necessário desembaraçar-vos de


um dirigente cfillao importanle, loze1·0 desaparecer. Não deis o
lober que esta mario. Auim o suo fomllio e o lareia terão espe-
ronc~ de que esteja em vida e evitarão vir à baila para não pôr o
vida dele em perigo.

27 . Desmenti todal as acusações de perseguicão religiosa, em


particular frenle c!I imprensa estrangeira. Insisti no foto de que algu-
mas eslotizocões ,õo neceu6rtclS às reformas pollticas e a Igreio não
de vo esperar um tratamento privilegiado. E, para provor que h6
liberdade roligioso, proclamai quantas igrejal estão aberta. e quon-
tal ml5$lon6rios ellão o trabalhar.

28. Censurai regulormente o correio e os ligacões telefônicas


d. todol OI crhtãos c mission6riOl ,uspeitos. Se for neceu6rio abrir
um processo contra eles, sempre encontrarei, uma lustificotivo
adequoda.

Ulllizol qualQ'Jer tótlca que vos pareça conveniente na liluação


respectivo. Par tah mi'odos a Igreja crlstã ser6 ou elimInado ou sub-
metida 00 conlrol_ do Elfodo ,.

-80
PARA TENTAR DESTRUIR A FE 81

A1J diretrizes assim concebidas estão marcadas não so·


mente pelo ódio ao Cristianismo. mas também pela hipocrisia
e a falsidade; ora estas duas atitudes desfiguram a pessoa
humana e destroem qualquer personalidade. Todo ser hwnano
que se valorize, procura ser sincero ou rultlva a autenticidade,
sem a qual ele se torna um monstro. Ê o quê ocorre com os
autores das nonnas atrás transcritas.
o Cristianismo tem conhecido várias fases de perseguIção
durante a sua história. Visto qUê a vitória pascal de Cristo o
vjviflca e impulsiona, ele pode ceder cá ou lá, mas tem a pro-
messa de dizer, com o Senhor Jesus, a Palavra final da his·
tórla. Já o Apóstolo São Paulo veruicou estar sempre na imi·
nência de perecer, mas 'haver sido, em todas as ocasiões, redi.
mldo pela graça do Senhor Jesus; veja-se 2Car 4,7-12; 11,23.33;
12,7.10. Tal é também a. sorte do Cristianismo!

Estêvão Bettencourt O. S . B.

• • ••

-81-
ECOS DE VIAGEM À IHDIA
Madre Teresa de Cal<utá
Desta vez, quem tem algo a relatar de suas viagens apos-
tólicas, é o Pe. João Maria Gardenal S ,J., conhecido pregador
de Retiros no Brasil e no estrangeiro, cuja residénçla é a cidade
de Salvador (BA). À guisa de colaboração, o Pe. Gardenal
enviou a PR a crônica abaixo. Aceitando a interessante nar-
ração, a Redação da revista agradece·a ao autor, certa de
que será de utilidade aos leitores.

IMPRE550ES DA (NDIA
cTenho pregado Exercícios Espirituois em diverSOI peias do
América Lollno, na Europa, na Ásio Menor e na India, para CII Reli-
giolcu d. Madre TeresQ de Calculá. Em muitol destes ÇUflOI Madre
Teresa eslavo presente, MoróvomOJ na mesma casa e converSQvamos
freqüentemente com muita franqueza.

Eis alguns dos ponlos que mais me impreuionoram no decorrer


denes colóquios;

1 . A olmo do alma, se assim pano dizer, do Madre Terelo f


que ela' verdadeiramente apaixonada pela pelsoa de Jesus. Eis o
mola, por ouim dizer, que impele Madre Teresa o fazer tudo. E elo
quer, em primeiro lugar, que os suas Irmã, se inflamem no mesmo
amor a Jesus que arde em seu corocao. .: esta a primeira coisa que
exige delas.

2. Madre Teresa' uma Religiosa de profunda vido interior e


de oração. Rezo, de ordlnório, pelo menos quatro horas e meia por
dia. E auim foz todo o suo Congregocão. Disse·me que, desde que,
por pedido espontâneo dOI lUaS Rell,giosos, acrescentou uma hora
Inteira de adoração diário, pela lorde, diante do $ontlssimo exposto,
arandes beneficio" puderam ser wmprovodos na Congregação inteira:
um amor 001 pobre. mois pobres, pelos quol. as Irmã. fozem um
valo especial; grande afluxo do vocações, de tal modo que s6 no
Noviciado de Calevl6 o Congregação tem cento .. ollonla noviços e
outras tanlal aspirante•.

-82-
VIAGEM À lNDIA S3

3 . A terceira coisa que mtlito em impreniona em Madre T@-


relo. é o vida oUlt@ra que ela e os suas Irmes levam. Neste ponto,
tomo no rCltonte, ela prCKvra o máximo em a.gir e o minima em
falar. Madre Teresa e suas Irmãs se esforçam seriamente por viver•
• de falo o conseguem. como viv.m OI pobres mais pobr... Geral-
ment., o. pobres, sobretudo na India, não dormem senêio num quorto
comtlm; por islo, os Religiosas vivem em dormitórios. Os pobres não
dispõ.m d. t.levisão, ,ódio ou grovador, nem de ventilador quando
faz color como na (ndia; auim também as Irmãs não têm t.le ...isor,
rádio, gra ...adot, ventilador, ape,or de sofrerem por ....ze. um calor
qlJe vai a .tO°. Os pobres mois pobres, na Indio, quando viajam,
nco costumom levar malas, mos apenas coixos de papelão; auim
também 01 Irmãs fazem a mesmo coisa. Madre Ter.so é a primeira
(I dor o exemplo.

o 'eitor pode imaginor o senlimento de contraste .qu. de .... expe-


rimentar o coração de uma jovem noviço ou recóm- professa. que,
...indo, às ...ezes, de famllia d. alta burguesia da América ou da
Europa, ...iaia na terceira daue de um trem indiano com tal enxo...al,
e, a moi., com um bald., que, depois deter chegado ao seu destino,
d..... ró servir poro la ...ar a roupa. Cama conseqüê.ncia de tudo o que
vai acima relatado, percebi .m Madre Teresa um amor para com OI
pobr.s mois pobres, maltrapilhos da rua, débeis mentais, leprolol,
crjaneas anormais, que nunca vi em lodo a minha vida.

". Eis a quarla coisa que me ;mpressionoU' em Madr. Teresa.


Um p.queno caso pode ilustror o qUe estou dizendo: est a ...a num
carlO com ela percorrendo uma dos: principais ruas de Calcutá. De
repente, ela mondou parar o carro, soltou rapidamente e tomou nos
braços com todo o carinho uma aionco estendido no meio· fio por
causa d. olo,que de epilep$ia. Os transeuntes estavam 011 olhando.
mos nln,uém se mo ...ia. Elo leyou a pequenina paro a carra • mandou
rumar toga poro o Cala. Mãe, onde a Madre entregou a crlan,a às
Irmãl para qve dela cuidauem. Depois, de cano, .eguimas paro
outro lugar onde as Irmõ. traiam de mulheres loucas, d....elhas que
ninguém deseja abrigar, d. mocinhos abandonada., de menIno. anor-
"'Gis rej.itados até pelos potentes. Observei como Madre Tet.se:.
abro cavo, acariciava, beijava lodos estaI pessoas (que às veus ins-
piravam repugnância I cama se foue uma mãe que depoh de muitos
anos se encontrasse cam seul filhos mClis queridos.

Tudo Isto pode .xpllcar. d. certa maneirQ, Q grande populari-


dade de Madre Teresa no mundo inteira e o falo d. que lhe tenham
conc.dido oPrimia Nab.1 da Paz.

-83
,
84 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/ 1984

Moi$ d. uma vez eslava eu no aeroporlo de Calculó com .Madre


Teresa csper<mdo o avião. As pessool, na maioria não crislãs, não
a deixavam um momento sozinha; cumprimentavam-na. in vezes bei·
lavam-lhe OI pés, como é c05h,me no rndia, pediam ClufÓilrafol. urno
frO le elcrilo, qUe dlt ordinório era a seguinte: 'Ama CIO leu próximo
como DeVI ama o ti',

A própria Sro. Indita Gandhi, Primeira Ministro do Sndio, disse:


'Ciont. de Madre Tereso, lodol nos devemos envergonhar d. nós
mesmos', En,quanto Modr. T.relO é rodeado de lanlo popularidade,
nolei nela tão grande avenão o aparecer em público ,q ue chega
quole a ,.r um verdadeiro sofrimento.

Condvo cilando dois testemunhos. - O Popo João Paulo 11


diue 00 Cardeal de Calcut6 esto5 textuais palavras, que o pr6pdo
Cardeal me referiu : 'Madre Teresa de Colcutõ evangelizo o mundo
inteiro'. E Chiara Lubich, .que, como Madre Teresa, receb~u a Prêmio
Templelon, di5S.: ' Encontrondo Madre Tere50, senli que é uma Bota
do Paroiso' ,..

Pe, João Maria Gardenol S .J.

• • •
A titulo de comp1em~ntação, acrescentaremos abaixo a1gu.
mas noticias sobre a Congregação das

MISSIONARIAS DA CARIDADE
1, Madre Teresa de caJcutA fundou a Congregacão das
M1ss1onârJas da caridade, que têm casa nQ Rio de Janeiro
desde 1982, à Avenida BrasU 4947, Bonsucesso, CEP 21040;
fone: 270·0619, O lema da Congregação é: cSaclar a sede de
Cristo na Cl'UZ através da alegria de dar,., As MIssIonirlas da
Caridade, além de professar pobreza. obediência e castidade.
emitem um. quarto voto: o de servir gratuitamente a Cristo,
presente principalmente· na pessoa dos aflitos mais neces-
sitados.
Em janeiro de 1983 a comunidade do Rio e.briu uma casa
para desabrigados, que contava 15 leitos e 25 pessoBB inter·
nadas (13 adultos e 12 crianças) em outubro de 1983. As

-84-
VIAGEM A lNOlA S5

Innãs. vivem da Providência Divina, não recebendo subsídios


nem da Igreja nem do Governo. Não aceitam ajuda fixa, mas
apenas o auxilio esporádico de voluntários. Os abrigados que
gozam de saúde, colaboram na assistência aos colegas enter.
mos; os casos de doenças graves sio levados 6.0 Hospital ae..
túlio Vargas, de Bonsucesso. As Irmãs também fundaram
uma ereehe par as máes que trabalham fora de casa; as que
não têm. onde ficar, podem donnir com seus filhos na casa das
MIssionárias.

Aiém disto, as Irrnfis exercem a catequese em casa e nas


favelas, onde assistem aos moradores, ministrando, entre
outras coisas, breves cursos de corte e costura. .
Uma vez por semana, à noite, saem para levar sopa, café,
sandulches. roupa e cobertores aos pobres que donnem na rua.

2 . Em São Paulo, existem os Irmãos MIssionários da


CarIdade, que constituem o ramo masculino da Congregação.
e levam vida semelhante. com sede à Rua Cotox6 316, 05021
São Paulo (SP); fone: 62-3'787.
3 . Madre Teresa de crucutá fundou também a Associa-
ção Internacional dos Cooperadores Leigos, filiada à Congre.
gação das Missionárias da caridade.

Durante as suas constantes viagens pelo mundo, B Madre


viu que a pior doença de todas é O ser rejeItado, ser despre·
zado. DIsse então: «Para os leprosos temos cura, para os tuber·
culosos temos cura, mas para o rejeitado e o desprezado não
hâ cura, a menos que existam mãos dispostas para servir. e
corações e.rdentes de amor para amar~. Madre Teresa pede
entlo aos seus Cooperadores que trabalhem. com ela na sue.
missão de amor. Disse também: .Uma vez que as Missioná·
rias da CarIdade e os Cooperadores estão unidos e trabalham
para o mesmo fim. no lugar em que não haia MIsslonãrlas da
CarIdade, os Cooperado.... deveriam Prestar o serviço aos
..
pobres que as MIsslonlu1as da Cortdade fariam ae lA est1ves·
...,.
A vida dos COoperadores é baseada na oração e no sacri·
tido ... , o sacrifIcio do tempo dIsponlvel, de conforto e dos
bens materiais . .. Para um Cooperador, é de grande valor
dar um sorriso, sentar.ae para escutar uma pessoa aflita, fazer
-85_
compras em lugar de alguém, visitar os velhinhos esquecidos
nos Centros de Geriatria, os encarcerados, os doentes nos hos-
pitais, Interessar·se pela recuperação dos alcoólicos e dos vicia·
dos em drogas, procurar oS Isolados, os deficientes fislcos, os
rejeitados, os abandonados ...• atos estes para os quais quase
ninguém tem tempo.
Existe um vinculo espiritual entre Os Cooperadores ~n­
tes e a Congregação; aqueles oferecerão ao Senhor suas ora-
ções e seus sofrimentos, e esta por sua vez, rezarA. pelos seus
Cooperadores.
Os Cooperadores são Incentivados a constituir comunida-
des lnfonnais onde haja de quatro a doze Cooperadores, a fim
de que essas comunidades se pareçam com as pequenas comu-
nidades de Irmãs e Irmãos Leigos Missionários da Caridade
que estão trabalhando no mundo inteiro. As comunidades na
mesma área podem, naturalmente, ser agrupadas. Madre Te·
resa pede que cada comunidade tenha seus encontros, ao me-
nos uma vez por mês, para uma hora de oração.
Você poderia pedir a um ou dois amigos que se juntem a
você na prãtica de vida dos Cooperadores? Você poderia for-
mar uma comunidade na wa propria vizinhança?
(Extraído de um folheto de divulgação das Missionárias
da caridade).
E .R.

• • •
CORRESPONDItNOIA DOS LElTORF.'!
Em novembro-dezembro 1983. a nossa revista lançou uma
sondagem de opinião entre os leitores a fim de avallar a sua
caminhada.
As; respostas vieram em grande- número - o que pro-
voca, da parte da. Redação, prohmda gratidão 8 quem se deu
&Q ...trabalbo de preencher o questlonârio. A RedaCêo de PR
teria prazer em escrever a cada correspondente para dlur-lhe
cordIal «Muito obrigado!:t Visto que isto nio é posslvel, regis.
traJpos nestas Unhas algumas observações sugeridas por res-
postas dos nossos emlgQS:

_86-
CORRESPONDtNCIA DOS LEITORES 87

1. FiDalidade de PRo Nossa revista tem em mira as


questões que o mundo (XIntemporâneo suscita 1) a quem tem
fé e qUPf saber mais. _. , 2) a quem vacila na fé, Impressio-
nado por criticas e objeções e 3) a quem não tem fé , mas se
interessa por assuntos religiosos. Para atingir e. sua finalidade,
os artigos têm que descer não raro a premissas remotas de filo-
sofia, de história, de antropologia ... a fim de construir sobre
elas o seu raciocínio.
Por conseguinte, PR não é Simplesmente uma sintese da
mensagem da fé, como seria um catecismo para adultos. O
seu objetivo principal é contribuir para que (l católico (c o
não católico) vejam que a f é não recusa enfrentar problemas
e objeções,. .. que ela nâo pode nem deve ignorat o progresso
das ciências como se não resistisse aos embates desta. Muito
ao contrãrio . .. A fé s6 tem a lucrar se ela se abre a tudo
que o homem de hoje descubra.
Em conseqüência, PR supõe certa curiosidade e estima
pelo estudai aliãs, sabemos que a falta de base doutrinária é
wn dos grandes flagelos do catolicismo brasiliero. A revista
utiliza por vezes linguagem técnica, não c1ata a váriQS leito-
res . .. Esta observação, feita por vârios correspondentes, será
levada em conta. TentaremoS tomar acessivels as coisas ele·
vadas e profundas, evitando tenninologia tara ou demasiado
especializada.
2. Orient&çio. PR tenciona não aderir a alas ou cor-
rentes dentro da Igreja, mas simplesmente exprimir o «sentir
com a Igreja' , que caracteriza todo fiel católico. Se, por vezes,
a revista toma posições desfavoràveis Q tal O_U tal autor, está
usanoo do direito que lhe toca desde que o faça fundamen-
tada e com equilíbriO; procura sltuar~se tão somente no plano
das Idéias, evit8qdo toda invectiva pessoal.
3 . MeIhommentos tJ6cnJeos. Doravante PR tem em mira
publicar sempre uma secção de intercâmbio com os leitores
(cartas e respostas miúdas), pois isto foi solicitado por mais
de um correspondente. Até hOje os assuntos de interesse par-
ticular foram abordados em carta pessoal dirigida ao consu-
lente; não extinguiremos este . serviço direto ao endereço de
quem o desejar. Se por vezes não consideramos na revista os
assuntos de grande monta logo que nos são apresentados por
pessoas interessadas ou pelo curso mesmo dos acontecimentos,
isto se deve ao fato de que há sempre muito material a
publicar.
-87-
88 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 272/1984

Lam~ntamos. com vários leitores. a passagem de tiragem


mensal para tiragem bimestral a partir de 1981. Mais de uma
vez tentamos amiudar a nossa perlodJcidade. mas o crescente
custo de vida não tem favorecido o nosso intento. A meta,
porém, continua a palrar antes os nossos olhos.
4. Oonclusão. Além de renovar os nossos agradecimen-
tos, pedimos aos nossos leitores queiram continuar a nos escre-
ver, apresl?ntando observacões e sugestões, visto Que só assim
poderemos servir melhor ao estimado público.
Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1983.
Estêvão BeiteDoouri 0 .8 . B.

•••
livros em estante
Na Escola da F., por Félll1 Moraeho S .J . Traduçlo d. J0s6 Americo
de Assis Coutinho e Eugênia Flévlan. Coleçlo "Por que c r.Io·, n~ 5 -
Ed. Pauflnu, Sio Paulo 1983, 135 x 210 mm, 428 pp.
o lubtltuJo do livro soa: "A Salvaçio na Hlslórla apresentada aos
Jovens e adunos à luz. da SIbila, do Uaglst6rio, do Concilio, d. Uedellln e
eM Puebl.-. O autor, Jeauit. de "ngUI espanhola, apresenta trinta temas,
como • Sibila, a h1slórla das origens, o pecado na história, a vida. a
morta d. Jesus, a Igreja, Maria $S., os sacramentos, a . . lcIa eterna . .. O
tema "55. Trindade (Pai, Filho. Eaplrllo San~o)· nlo é explleltamenl&
abordado - o que dave N r lam.ntado.
Quanto ao peeado -origInai, .. considerado As pp. 132-135; toda . . l. o
autor 010 menciona a Justiça orlglnalj conslder. -Q parafao como a "maqU1lta
do que ser' o mundo, se o homem puser mies à obra a lular contra os
mar.. da vIda· (p. 1331); em con••qD6ncla, o primeiro pecado ..... m a •• r
um pecado como OI demais que o homem Iam cometido na hiltOn. - o
que nlo conupond. l doulrlna ollclal da IgreJa, .xpreaaam.nta repeUda
por Concnles, inclUSive o de Tranto (cf. D. S. n9 1511·1516. 1523).
No Itvro veriflca-se lambem quo O conceito de pecacSo mortal 6 o de
ruplura da opçlo fundamental (algo de r.latlvamenle rero) - o que tem-
Wm nIo condiz com o pellAm.nto da Igr.ja; cf. Declaftlçlo 'enona
Hwn.... da S. Congragaylo plU'l a Doultlna da Fé, n<I 10. O au10r mul10
acentua a probleméUca social, li......zes Mm propósllo edltquedo ou d.1-
unelo de aprfllMlntar oulfOS asp.ctos Importantes da doutrina; assim, por
(Continua na p'g. 21)

-88-
AOS NOSSOS LEITORES
ASSINATURA EM 1984

Novo ano - 1884 - .xlge uma revl.lo das condlç6;ts de paoamento de


ualnalura. Para lobrevfver, apeur doa nua vinte. cinco anOl da uma
preMnça . .I....' Junto dOi MIn leitor. ., & Revista ...... obrigada I acom -
p;Mhat..... P4rte, • alta doa preços: aumento do CUlto do PlPtll, quae de
vinte em vinte dia: IlIfMnlo periódico dos u'6rios, mlo-de-obr., lerife
poIlar, 'lnballgem, ate.
Par. A rdllr ..... compromluOl, • aulnatur. pllrII o ncwo anel ... 11N
Nri:
De 19 de janeiro I 30 da junho da 11184 . _ crS 6 .000,00
De 19 de JUlhO a 31 do dezembro de 1i84 crS 8 .000,00
&perando SUl collboraçlo, t,remos estimulo par. continuar .,Ie apo ..•
lolldo que .. torna cada dia mars neceu6rlo • urglnta, dl&nl8 da con·
lualo reinante em \anlll. ço""16nclu, d.e)ous ele mlnler' lua fidelidade
aos enslnamaotoa recabldo. da ISJr'ia.
A AdmlnlslraÇaO de P. R.

Atençlo~ INDICII de P . R.:


de 1957 • 1177 - em lIerox .... .. . ••.. . ... c.. 2. 000.00
d, 1978 .. 1982 - Impreuo ....... . • .. _. .• _
C" 1.000.00
NUm.ro ,vul,o M ll1U .. . .... . .. . . .. ... . .. . C" 1. 000 ,00
Números de anos lullarlores .....• . ...•......
NÓllleros de tD13 encadarnados em percallna "'C". -450,00
12 .000,00

NO'llDADQ (par. "Miro I ......relrol:

, .. DLALOGO ICUMblCO - TMIM ~. por D. EstMo


Bettencovrt. Em · quinze capl1ul0l o Autor consIdera OI prlncl-
pala ponta- da clbllca controvérsia 8T"11re católicos I pro"'-
lanla, • procura mOltrlr que • dilc~ no plano teológico
perdeu multo d, .ua wlo d. ..r, pola nlo- rero VIIr&I mala
.obre palavru do que aobra concello$ ou proposlç6aa.

(C.p. 1. O cat.6logo blbllco. 2 . Somente a Escritura? 3 . S0-


mente I 16, HIO l i obras? -4 . O Primado de Pedro. 5. Euce-
rllUa: s..crlllclo e Sacramento. Ó . A conllulo dos pecadOl.
7. O purgatório. · S. As Indulg6nclu. 9. Maria, Vlr-gem I Mie.
10. J8Iul teve Irml0l1 11 . O culto dos SsnIM. 12 . As !magen.
algradu. 13. AII.r,cio o Dec610go? 1-4. S6bado ou Comlngo?
15. 888 (Ap 13, 18).

2. REZEM08 AO SENHOR: Oraoa- - livro de bollo, contando


uma coleta"... d. Ora9OM pare &I mil. dlVtlrIU ocul6H da
vldl colidlana, 130 p.
EDIÇCES "LUMEN CHRISTI"
MOSTEIRO DE 5.1.0 BENTO
Rua Dom Gerardo 40, - 5Q andar - Sala 501
Caixa Posl.1 2666 - Tel.: (021) 291-7122
20001 - RI.o de JaneirQ - RJ

NOVO ANO LETIVO SE APROXIMA

Que livros adotar para os Cursos de Teologia e liturgia?

A "lumen Christi" oferece as segu intes obras: ·

1. RIQUE2AS DA MENSAGEM CRISTA (2' ed.), por Dom Ci-


rilo Folch Gomes O. S .B, (Ialecido a 2/12/83). Teólogo
conceituado, autor de um tratado completo de Teologia
Oogmélica, comentando o Credo do Povo de Oeus, pro-
mulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de
700 p., best selter de nossas Edições. cuja tradução espa-
nhola está sendo preparada pela Universidade de Valên-
cia - Cr$ 4 . 000,00.

:2 . A DOUTRINA DA TRINDADE ETERNA, do mesmo Autor.


O significado da expressão "Três Pessoas", 1979. 410 p.
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3. O MISTeRIO DO DeUS VIVO, P. Patfoort O .P. o Autor foi


examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de
Doutor em Teologia no Instituto PDfltiftclo Santo Tomás
de Aqulno em Roma. Para Professores e Alunos de Teo-
logia, 111 um Trafado de "Deus Uno e Trino", de orienta-
ção tomista e de Indole didática, 230 p. - CrS 2.500,00.

NOVIDADE:
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Saleslano Don Carlo Flore. traduCão de D. Hildebrando
P. Martins 058. Edição ampliada e atualizada, apresenta
em linguagem simples toda a doutrina da Constituição
LItúrgica do VaI. 11. ~ um breve manual para uso de Se·
minérios, Noviciados, Colégios, Grupos de rellexão, Retl·
ros ate., 216 p . - Cr$ 2 . 000,00. .

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