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M.ITEO.07 – FICHAMENTO 3

Logos University International – UniLogos


Mestrado Internacional em Teologia
M.ITEO.07 - Antropologia da Religião
Waldir Dutra Junior

1 REFERÊNCIA

PECORA, A. A.; MELCHIOR, C. A. Entendendo a possessão espiritual e o transe


baseado em estudo de casos - Entrevista: Bettina E. Schmidt. REVER - Revista de
Estudos da Religião, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 185-192, jan./jun. 2011.

2 RESUMO

Entrevista com Dra. Bettina Schmidt alocada como pesquisadora em Estudos


das Religiões na Universidade de Bangor, Escola de Teologia e Estudos Religiosos.
Mestre em Antropologia e Estudos Religiosos com tese sobre a medicina tradicional
da Purhépecha, Doutora com tese sobre etnicidade e religião, com referências à
Santeria e ao Espiritismo em Porto Rico. Pós-doutora em teorias culturais e religiões
caribenhas, todos pela Universidade de Marburg. Trabalha como conferencista em
Antropologia para várias universidades alemãs. Foi professora convidada na
Universidade de Nova York e na Universidade Nacional de San Antonio Abade em
Cusco, no Peru. É membra do conselho dos editores da revista Indiana, publicação
anual do Instituto Ibero-americano em Berlim, e da revista Curare, de Antropologia
Médica e Psiquiatria Transcultural, publicada pela AG Ethnomedicine.
Recentemente, transferiu-se para a Universidade de Wales Trinity Saint David, no
país de Gales. O departamento em que atua combina Teologia, Estudos das
Religiões e Estudos Islâmicos. Em 2010, publicou o livro Spirit Possession and
Trance: New Interdisciplinary Perspectives (Continuum Advances in Religious
Studies Series) (Londres, Continuum).
Após o término do pós-doutorado foi contratada na Universidade de Oxford
para o departamento de Estudos Religiosos e Antropologia. Posteriormente
contratada pela Universidade de Bangor, afiliada à Universidade de Marburg, na
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Alemanha. Trabalha com religião afrocaribenha há 20 anos, iniciando estudos em


1990, analisando diferentes áreas e questões, mas geralmente sobre a identidade,
imigração e diáspora, posteriormente sobre possessões espirituais.
Por muito tempo, a França e a Alemanha seguiram o caminho da antropologia
cultural, enquanto a Escandinávia e o Reino Unido seguiram o caminho da
antropologia social. Hoje, essa divisão não existe mais, e o Reino Unido e outros
países europeus estão comprometidos com os dois campos da antropologia. Ambas
as correntes da antropologia agora são capazes de lidar com conceitos religiosos e
culturais, o que é diferente de antes, quando o foco era na hierarquia social e
política. Recentemente, a Europa tem se comprometido mais com a pesquisa
antropológica seguindo a rota da pesquisa norte-americana, o que eu lamento. A
França e a Grã-Bretanha têm tradições maravilhosas. E, antes, eles se orgulhavam
dessas tradições. A entrevistada aprecia materiais latinos, da Cidade do México e
das universidades brasileiras.
Quanto a interseção da Antropologia e a Ciência da Religião, não é possível
entender o que as pessoas fazem se não nos compreendermos primeiro aquilo em
que elas acreditam. Assim a antropóloga busca compreender o outro através do seu
sistema de crenças. Contudo outros profissionais, olham ainda através da
Sociologia, das dinâmicas sociais.
A perspectiva da entrevista é que a Antropologia da Religião no Brasil é é
relativamente forte. Conhecendo estudiosos em Florianópolis e Porto Alegre,
desenvolvendo uma Antropologia mais sociológica referente aos movimentos
pentecostais brasileiros, mostrando a importância desse campo nas universidades
no Brasil. Supõe que se deva à forte influência da herança francesa, de Strauss e
Bastide, o que justifica a continuação dessa tradição no Brasil.
Quanto ao tema da Possessão espiritual e transe, a antropóloga começou a
abordar o assunto há cerca de dois anos, a partir uma conferência sobre a
interpretação da possessão espiritual e do transe, reunindo pessoas que trabalham
com este tema. Depois realizou uma conferência internacional na universidade,
Bangor, e da conferência elaborou um livro. Desenvolve artigos sobre a temática,
sob um ponto de vista mais teórico, tentando unir o relato pessoal da prática com a
teoria existente sobre o assunto, busca obter informações sobre a dinâmica desse
conceito e o ponto de vista dos crentes, porque entende que a interpretação da
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possessão espiritual vem do ponto de vista ético. Tem levantado dados dos
praticantes para entender de dentro aquilo em que acreditam, e o que sentem. O
fenômeno da possessão ocorre em todo o mundo em diversas religiões, já o aspecto
do transe ocorre em todas as religiões. Às vezes essas manifestações são tidas
como uma manifestação mais demoníaca, em outras, são vistas como divinas. Mas
estão no mundo inteiro, em diferentes religiões e culturas, em muitas são o ponto
central do sistema de crenças.
A tradição da antropologia europeia sempre percorreu uma regulamentação
não oficial de que o trabalho de campo tem que ser feito em diferentes contextos,
por exemplo no exterior, para experienciar a visão do outro. Um dos debates nos
anos 1990 na Antropologia era de que somente se pode encontrar o outro fora da
nossa própria terra natal. Estudantes, para se iniciarem em Antropologia, tinham que
viver fora do seu contexto, sozinhos, fora do país. Contudo isso vem mudando nas
últimas décadas, porque agora um estudante pode fazer seu trabalho de campo em
grandes cidades. Porém também é possível a Antropologia feita dentro de casa,
como pesquisando pessoas que moram nas ruas da sua própria cidade, assim é
possível identificar o outro também.
O suporte do povo brasileiro faz com que a pesquisa de campo seja possível,
inclusive porque os brasileiros gostam de falar sobre religião. Em Nova York há um
controle maior ao se falar de religião porque muitas das práticas são ilegais, então,
normalmente, não gostam de falar com pessoas estranhas sobre suas práticas, ao
contrário, no Brasil, as pessoas são mais abertas, algo também da própria cultura do
brasileiro, o que beneficia o desenvolvimento de pesquisas. Contudo no Brasil
também é difícil obter informações iniciais sobre determinados cultos e cerimônias,
como sobre os locais e conseguir de fato realizar as entrevistas, os brasileiros se
colocam abertos a realizar, mas não cumprem com o acordado, não respondem
mensagem ou ligações, e não confirmam ou não comparecem para as entrevistas,
entende-se que o brasileiro não tem seriedade com compromissos, o que limita
bastante porque o prazo para o desenvolvimento é delimitado e curto. Já as
pesquisas desenvolvidas em especial em São Paulo, tem o dificultador do trânsito
no deslocamento. Entretanto um grande aspecto positivo é a liberdade de culto no
Brasil, o que propicia que a maioria das cerimônias sejam abertas ao público, e os
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praticantes não têm receio sobre as suas praticas por não serem ilegais, como em
outros países.
Até o momento a antropóloga tinha realizado 23 entrevistas gravadas, o que
percebe como uma quantidade representativa. Também tinha coletado material
literário em bibliotecas e sites brasileiros, contudo ainda sem ter compreensão das
possibilidades do resultado final, visto a necessidade ainda de compilar os dados e
discutir o resultado com outras pessoas da área, porém tem plano de elaborar um
livro sobre os resultados.
Sobre impactos de gênero na pesquisa a entrevistada relata que entrevistou
um ancião no Equador, que respondia a um intermediário e não a ela, por ser
mulher, as quais são ignoradas pelos homens nesta cultura, um modelo tradicional
onde é reforçado o comportamento que homem só se dirige ao homem, que
somente se confia em homens. No Brasil, ocorreu situação similar quando
entrevistava um pai de santo, que não quis ser entrevistado sozinho, e durante
algumas perguntas passou a responder ao intermediário e não a entrevistadora.
As religiões que a antropóloga estuda são a Umbanda, Candomblé e o Centro
Espírita, existe uma mistura de algumas funções, ritos e conceitos entre elas, mas
há diferenças de estrutura hierárquica, cerimonial, e até mesmo no rito da
possessão espiritual.
Sobre o perfil do aluno brasileiro, a antropóloga descreve que ministrou para
diferentes públicos no Brasil, de graduados, pós-graduados, equipes de apoio, e
profissionais de saúde, de psicologia e psiquiatria, neste último grupo o interesse era
mais sobre a percepção quanto a saúde mental e os fenômenos estudados, pelo
prisma da teorização e investigação. No Departamento de Antropologia, de
universidades de Florianópolis e Porto Alegre as experiências foram mais alinhadas
aos objetivos da pesquisa, com perguntas interessantes e até desafiadoras, com um
nível relativamente bom. A entrevistada define que o nível intelectual dos estudantes
de Antropologia no Brasil é similar ao da Europa.
A expectativa para este projeto é desenvolver uma nova forma de
entendimento sobre a possessão espiritual e o transe, não associando a doenças
mentais. Busca-se atingir o público em geral, e fazer com que esse estudo não se
restrinja ao campo acadêmico, desenvolvendo um novo modo de compreensão da
possessão. Nesta linha, a entrevistada relata que participou de conferência dirigida a
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pessoas que tratam de doenças mentais para explanar que a possessão espiritual
não está relacionada à saúde mental, e que busca seguir nessa defesa, trazendo
essa contribuição ao debate científico acadêmicos em todo o mundo. Quanto ao
material pesquisado no Brasil a primeira oportunidade de divulgação dos dados será
uma exposição de ideias na conferência da International Association for The History
of Religions (IAHR) em Toronto, em uma mesa redonda sobre o tema Mente, Corpo
e Religião. Posteriormente um capítulo de um livro sobre mediunidade, e enfim uma
monografia.

3 CITAÇÕES

Por muito tempo a França e a Alemanha seguiram uma Antropologia


Cultural, enquanto a Escandinávia e o Reino Unido seguiam mais o caminho
da Antropologia Social. Hoje, essa delimitação já não existe e tanto a
Inglaterra quanto os outros países europeus dedicam-se às duas áreas da
Antropologia. Agora, as duas correntes antropológicas são capazes de tratar
de religião e conceitos culturais, diferentemente de antes, quando o foco
estava nas hierarquias sociais e políticas. Recentemente a Europa tem se
dedicado mais aos estudos antropológicos que seguem a linha de pesquisa
norte-americana, e eu vejo isso com pesar. A França tem tradições
maravilhosas, assim como o Reino Unido (PECORA e MELCHIOR, 2011).

A entrevistada descreve resumidamente os estilos das escolas antropológicas


num passado próximo, utilizadas nos principais centros da discussão acadêmica
ocidental, do mesmo modo faz uma rápida critica ao modelo que está predominando
nestas mesmas academias, seguindo a influência de basicamente uma nação,
restringindo o ponto de vista a perspectiva norte-americana, sobre os conceitos e
discussões atuais sobre a antropologia, além dos estudos das religiões pelas
mesmas academias antropológicas.

Uma vez que a Antropologia estuda a cultura e a identidade de um povo, ou


seja, aquilo que as pessoas fazem, resolvi me dedicar tanto à Antropologia
quanto às Ciências da Religião. Isto porque acredito que não podemos
entender o que as pessoas fazem se nós não compreendermos primeiro
aquilo em que elas acreditam. Esta é minha abordagem da religião:
compreender o outro através do seu sistema de crenças (PECORA e
MELCHIOR, 2011).

Descrevendo sucintamente os fundamentos do objeto principal da pesquisa


antropológica, em descobrir, compreender as motivações e entendimentos humanos
inserido em seu contexto cultural e social determinado, limitado por espaço e tempo;
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e formatado por seus conjuntos de conhecimentos e crenças. O discorrer sobre a


religião ser uma raiz principal para compreender um ser humano, estabelece um
paralelo de muita lógica, para mentes formadas nos centros urbanos modernos, pela
premissa fluida de serem auto-remoldáveis, é difícil interpretar modelos restritos de
crenças, estilos de vida, e realidades percebidas, que são conformadas por crenças
religiosas, as quais durante muito tempo da era humana, foram, e ainda são em
muitos lugares, totalmente mescladas com todas as dinâmicas da cultura e assim do
cotidiano das pessoas ali inseridas.

Eu penso que no Brasil a Antropologia da Religião é relativamente forte.


Conheci diversas pessoas que trabalham em Antropologia da Religião em
Florianópolis e Porto Alegre, desenvolvendo uma Antropologia mais
sociológica como nos movimentos pentecostais brasileiros, mostrando a
importância desse campo nas universidades no Brasil (PECORA e
MELCHIOR, 2011).

A perspectiva de uma antropóloga europeia, que já percorreu durante sua


vida acadêmica, os centros norte-americanos, e regiões latinas da América Central,
fundamenta bem sua perspectiva crítica do corpo discente brasileiro, apontando
nuances de algumas escolas acadêmicas não antropológicas, com pontos de
conceitos formuladas antecipadamente sobre as manifestações religiosas estudas
pela entrevistada, pontuando uma percepção de problemas de saúde mental dos
praticantes dos rituais, algo que a antropóloga pontua como incorreto. Contudo faz
elogios sobre preleções realizadas nos centros acadêmicos de antropologia,
colocando estes em igualdade as experiencias e nível dos estudantes europeus.

Temos na tradição da Antropologia europeia sempre essa regulamentação


não oficial de que o trabalho de campo tem que ser feito em diferentes
contextos, no contexto exterior, para experimentar a visão do outro. Um dos
debates nos anos 1990 na Antropologia era de que não poderíamos
encontrar o outro em nossa própria terra natal. Estudantes, para se
iniciarem em Antropologia, tinham que viver fora do seu contexto, sozinhos,
fora do país. Isso vem mudando nas últimas décadas, porque agora um
estudante pode fazer seu trabalho de campo em grandes cidades (PECORA
e MELCHIOR, 2011).

Dentro dos conceitos e perspectivas humanos também existem aqueles


formados nos grupos de estudos acadêmicos de cada área de conhecimento, não
podendo desprezar ainda, sua localização espacial e temporal. Assim percebesse
que regras delimitadas do que deveria a formação de um antropólogo a poucas
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décadas, já é distinto na atualidade, o que antes tinha um foco, em povos distintos


dos modelos eurocêntricos de sociedade e desenvolvimento percebido, passasse a
reconhecer o ser humano com suas distinções de um modo muito mais próximos,
inserido na cultura principal, contudo explorando microculturas inseridas na maior.
Assim é possível buscar compreender um outro muito mais próximo, mas não
percebido até então em sua completude humana, por todo seu conjunto expressivo
direto e indireto, nas nuances do seu vizinho de bairro, que vivencia uma vida
diferente da sua, com uma fé diferente, com uma ideologia distinta e talvez
contraditória a sua.

4 QUESTIONAMENTOS E DESDOBRAMENTOS

O texto em do artigo em si, agrega pouquíssimo conhecimento útil para um


pensamento acadêmico, tanto antropológico quando de religião, visto a entrevista
desenvolver perguntas pouco aproveitáveis, e até mesmo possivelmente mal
interpretadas pela entrevistada, como a pergunta de gênero.
A perspectiva da antropóloga sobre o Brasil, o povo, costumes, modo de ser,
é interessante, contudo, não acrescenta em muito o como os brasileiros são vistos
no restante do mundo.
Tirando os poucos cruzamentos de informações sobre as escolas
antropológicas, a perspectiva da profissional do como estas estão interagindo com o
mundo acadêmicos, e seus principais alvos de pesquisa, são as poucas partes úteis
do conteúdo, que apenas reforçam a perspectiva que o meio acadêmico, seguem
influencias que o limitam em criatividade e compartilhamento do ser humano, na
busca da melhor compreensão, ainda focasse muito no que os denominados
grandes centros acadêmicos, tem a oferecer menosprezando ou ignorando os
conhecimentos elaborados fora desses grandes eixos.
Interessante pensar que o brasileiro consome grande volume do
conhecimento e cultura desses grandes centros, basta ver a quantidade de
literaturas acadêmicas que são ou americanas ou europeias, praticamente não
localizando referencias fora desse grande eixo ocidental, não localizando materiais
africanos ou mesmo latinos, e muitos dos próprios autores brasileiros são
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desprezados, por existir uma consideração de que material ou pensamento bom,


somente pode ser obtido no eixo Europa-América do Norte.
Uma grande crítica estabelecida aqui, é justamente o gigantesco abismo que
separa o modo de pensar e viver dos latino-americanos, incluindo redundantemente
aqui os brasileiros, visto que o modo de pensar, de viver, de interagir com o social,
com o urbano e com o ambiente, é totalmente distinto. Então se tenta traduzir
conceitos e ideias desses centros de conhecimento, desprezando completamente a
diferença de vivência que existe, em contraste a aqueles.

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