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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE TAUBATÉ/SP

PRIORIDADE IDOSO1

RECORRENTES: MARIA E ANA.

RECORRIDA: ZUMBI TELEFONIA.

MARIA, idosa, tradutora (documentos anexos), com endereço XXX, e sua filha, ANA, professora
de ensino fundamental (documentos anexos), ambas representadas por seu advogado inscrito
na OAB nº XXX, consoante procuração anexa, vêm respeitosamente à presença de Vossa
Excelência interpor o presente RECURSO INOMINADO, nos termos do art. 41 e seguintes da Lei
nº 9.099/95, em razão do inconformismo contra a sentença proferida neste Juizado Especial
Cível de Taubaté/SP, a fls. () dos presentes autos digitais, requerendo que seja este recebido
com as razões anexas no Colégio Recursal Cível da 47ª CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA –
TAUBATÉ.

Recolheram as partes a guia de custas processuais recursais calculadas em 2% do valor da


causa, conforme comprova o documento anexo.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, data.

_____________________________

JOSUÉ

1
1 Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências.
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e
diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, em qualquer instância.
§1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade,
requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as
providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
OAB XXXXX

RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

RECORRENTES: MARIA E ANA.

RECORRIDA: ZUMBI TELEFONIA.

ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE TAUBATÉ/SP.

Egrégia Turma do COLÉGIO RECURSAL DA COLÉGIO RECURSAL DA 47ª CIRCUNSCRIÇÃO


JUDICIÁRIA – TAUBATÉ

Trata-se o presente Recurso Inominado interposto pelas recorrentes Maria e Ana,


representadas pelo advogado que esta subscreve (§2º do art. 41 da Lei nº 9.099/95), em razão
do inconformismo contra a sentença de primeiro grau que julgou parcialmente procedente a
demanda, afastando da condenação as reparações relativas ao dano moral sofrido pelas
recorrentes por parte da empresa Zumbi Telefonia, ora recorrida.

DAS CUSTAS DO PREPARO

Recolheram as partes a guia de custas processuais recursais calculadas em 2% do valor da


causa, conforme comprova o documento anexo.

DA TEMPESTIVIDADE

O presente recurso foi interposto tempestivamente, dentro do prazo de contados da ciência


da sentença, nos moldes do art. 42 da Lei nº 9.099/95.

DOS FATOS

Conforme consta dos autos, a empresa Zumbi Telefonia causou diversas lesões aos direitos das
partes autoras em sua relação de consumo, levando ao julgado na sentença de fls. () a
confirmar a ocorrência de diversos danos materiais que serão indenizados.

Por outro lado, equivocou-se o excelentíssimo magistrado de primeiro grau ao entender


descabidos os pedidos de indenização por dano moral realizados na inicial, por julgar que eles
representam apenas mero aborrecimento às recorrentes, o que não condiz com a realidade
trazida aos autos.

Eis a decisão ora recorrida: “Por mais que a atitude da empresa ré fuja de qualquer tipo de
razoabilidade justificável e agindo com evidente má-fé e desídia por parte dela, não há
motivos para a condenação em danos morais pois que houve mero dissabor por parte das
autoras, em vista que essas coisas infelizmente acontecem diariamente com essas empresas
de telefonia”(grifos nossos).

Conforme ficou comprovado no curso do processo, a senhora Maria, de 76 anos, compareceu


a uma loja da empresa Zumbi Telefonia, uma concessionária de telefonia fixa, telefonia móvel,
internet banda larga e TV por assinatura, a única com esses serviços disponíveis em sua região,
situada na cidade e comarca de Taubaté/SP, para adquirir um pacote de serviços de internet
banda larga e televisão por assinatura.

Após serem apresentados os produtos, o vendedor informou que somente poderiam ser
contratados os serviços se fossem adquiridos, de forma conjunta, um aparelho celular pós-
pago, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), e uma linha telefônica fixa, ambos com
mensalidade de R$ 200,00 (duzentos reais), com vigência pelo prazo mínimo de 12 meses.
Além disso, foi exigido que a sua filha, Ana, professora do ensino fundamental, que a
acompanhava, assinasse o contrato em nome dela, pois foi dito que, em razão de sua idade
avançada, haveria maior risco de morte durante o contrato, inclusive por ser grupo de risco da
Covid-19, o que poderia trazer prejuízos à empresa Zumbi. Assim, apesar de o serviço ser
prestado em sua residência e Maria ser a responsável pelo pagamento, somente a sua filha
pode constar como contratante. Tendo em vista a extrema necessidade da internet para que
pudesse prestar seus serviços de tradutora, Maria aceitou as exigências da empresa.

Após a formalização do contrato, a empresa Zumbi informou haver o prazo de sete dias para
instalação e que não poderia indicar uma data e um horário corretos, devendo a contratante
aguardar em horário comercial a chegada de um funcionário credenciado. Somente após 11
dias, quatro a mais do que a data aprazada, os funcionários compareceram na residência de
Maria. Após quebrarem duas paredes e estragarem o piso de sua sala, instalaram a internet e
o telefone fixo, deixando de instalar a televisão a cabo por alegarem falta de estrutura.

Contudo, foi informado a ela que tanto o atraso na instalação como esses prejuízos não seriam
indenizados, em razão de haver no contrato uma cláusula retirando da empresa Zumbi
qualquer responsabilidade, e que essa exclusão constante do contrato de adesão havia sido
devidamente assinada pela filha contratante, Ana. Dois meses após a contratação, o serviço de
instalação ainda não foi concluído, mas as mensalidades dos serviços, no valor de R$ 500,00
(quinhentos reais), foram cobradas, bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), que foi
debitado de sua conta de forma equivocada, pelo serviço de instalação, o qual, no contrato,
constava como sendo absolutamente gratuito.

Percebe-se facilmente que o que aconteceu com as recorrentes extrapola em muito o mero
aborrecimento, causando grave lesão à esfera íntima de ambas as recorrentes e de forma
ainda mais intensa na recorrente Maria, que foi tida como incapaz em relação à sua idade e ao
maior risco de perecer em razão da Covid-19.

A necessidade de comprovação desse sofrimento, apesar de não ter sido apontada pelo
magistrado, se mostra absolutamente indevida, ocorrendo ipso facto, ou seja, do próprio
absurdo e abjeto modo de agir da empresa Zumbi.

Indenização – Dano moral – Prova – Desnecessidade. "Não há falar


em prova do dano moral, mas, sim, no provado fato que gerou a dor,
o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam”. Provado assim o
fato, impõe-se a condenação, sob pena de violação do art. 334 do
Código de Processo Civil (753811220098260224 SP0075381-
12.2009.8.26.0224, Relator: Orlando Pistoresi, Data de Julgamento:
18/01/2012, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
18/01/2012).

Percebe-se que não se trata de mero dissabor experimentado por Maria, mas, sim, de dor e
sofrimentos verdadeiros em ser tratada sem dignidade, a ser considerada incapaz em razão de
sua idade.

O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar de dano moral, mas
somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da
vida, causando fundadas aflições ou angustias no espírito de quem
ela se dirige. Recurso especial não conhecido (STJ – 4º T- Resp.
403.919 – Rel. Cesar Asfor Rocha – j. 15.05.2003 – RSTJ 171/351).

Evidente o cabimento do dano moral no presente caso, quando o causador do dano ultrapassa
a esfera do razoável e ofende a dignidade da vítima com efetiva violação de sua integridade
psíquica e moral, causando-lhe dor, sofrimento e humilhação que desborda a normalidade das
relações sociais.

Quando os limites do tolerável ou o repúdio causado pelo agir danoso extrapola os limites das
relações cotidianas, não podemos tratar o assunto como mera frustração ou dissabor. Além
disso, o fato de o magistrado admitir que empresas de telefonia causam esses sofrimentos de
forma comum e rotineira somente comprova que a empresa Zumbi, de forma reiterada,
extrapola em absoluto o limite do razoável, não havendo mero dissabor por parte das
recorrentes, mas, sim, um constante desrespeito à lei e aos consumidores por parte da
recorrida.

DO DIREITO

Fez-se necessária, portanto, a reforma da decisão recorrida quanto aos danos morais, não
havendo mero dissabor por parte das recorridas, mas verdadeira e grave lesão às suas
dignidades, tornando obrigatória a aplicação da norma jurídica prestigiada no art. 186 do
Código Civil – “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito” (BRASIL, 2002, [s. p.]) – e no inciso VI do art. 6º do Código de Defesa do
Consumidor – “VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos” (BRASIL, 1990, [s. p.]).

Além disso, é patente que a atitude da empresa recorrida feriu gravemente os direitos
fundamentais previstos no Estatuto do Idoso, como o direito ao respeito, consistente na
inviolabilidade da integridade psíquica e moral, abrangendo a preservação da identidade e da
autonomia da recorrente Maria; também, no que tange ao descumprimento do dever de zelar
pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento discriminatório,
desumano, vexatório ou constrangedor.
Como sanção ao descumprimento desse dever, além dos aspectos indenizatórios civis, a
legislação prevê a tipificação penal, apontando a prática de crime nesse tratamento
discriminatório:

Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu


acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de
contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. (BRASIL,
2003).

Ora, se o próprio legislador compreende que essa discriminação perpetrada pela empresa
recorrida é de tal maneira grave que merece ser tipificada como crime, como pode o
magistrado considerar tal atitude como mero aborrecimento? Evidentemente, a resposta é um
patente equívoco que deverá ser corrigido por Vossas Excelências, com a reforma da decisão.

DO PEDIDO

Diante do aqui exposto, requerem as autoras de Vossas Excelências que seja conhecido e
provido o presente Recurso Inominado com reforma da sentença no que se refere aos danos
morais, para que a empresa Zumbi Telefonia seja condenada a pagar indenização de anos
morais, em razão da discriminação de idade da autora Maria, a ser arbitrada por Vossas
Excelências, em valor não inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Local, data.

______________________

JOSUÉ

Número de inscrição na OAB

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