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Resumo de políticas 2
Autoras: Julie Posetti e Kalina Bontcheva
Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
O contexto
O primeiro resumo de políticas desta série oferece duas tipologias
para se entender a desinfodemia:
• Primeiramente, identifica nove temas essenciais e quatro
formatos principais associados à desinformação sobre a crise
da COVID-19. Os temas vão desde informações falsas sobre as
origens, a propagação, as taxas de infecção e mortalidade, até os
sintomas e os tratamentos, incluindo conteúdos relativos a fraudes,
a ataques políticos a jornalistas e a interpretações deturpadas do
jornalismo independente e confiável como fake news. Os formatos
utilizados para disseminar a desinformação relacionada à pandemia
incluem: construções de narrativas e memes altamente emotivos;
imagens e vídeos fabricados e alterados de forma fraudulenta
ou descontextualizados; falsos sites, bases de dados e fontes de
informação; campanhas orquestradas por pessoas que se infiltram
para gerar desinformação.
• A segunda tipologia delineia dez tipos de respostas à desinfodemia,
que são agrupados em quatro categorias abrangentes:
» respostas de monitoramento, verificação de fatos e
investigativas, destinadas a identificar, desmistificar e denunciar
a desinformação sobre a COVID-19;
» respostas de governança, que incluem respostas legislativas,
políticas e governamentais no combate à desinfodemia;
» respostas curatoriais, técnicas e econômicas, que são relevantes
para as políticas e práticas de instituições de mediação de
conteúdos; e
» respostas éticas e normativas; educativas; de empoderamento e de
credibilidade – todas destinadas aos públicos-alvo dos agentes da
desinformação, com atenção especial para cidadãos e jornalistas.
É essa segunda tipologia que se analisa de maneira mais detalhada neste
resumo de políticas. A avaliação resulta em uma lista de opções de ação
que podem ser consideradas por organizações intergovernamentais,
empresas de comunicação na internet, governos, organizações da
sociedade civil (OSCs), acadêmicos e meios de comunicação.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
direitos humanos
sociais e culturais reconhecidos pela comunidade
internacional. Eles são todos essenciais para que a
humanidade alcance o Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável da ONU 16.10 (ODS 16.10) sobre “acesso
É direito de toda pessoa buscar, receber e divulgar público à informação e às liberdades fundamentais”.
informações. A UNESCO e seus parceiros trabalham Essa meta do ODS 16 ajuda a fortalecer outros ODS,
para proteger e fortalecer esse direito e construir especialmente o ODS 3, que trata de “boa saúde e
"sociedades do conhecimento" de várias formas, in- bem-estar", que são tão importantes nesses tempos.
clusive:
Ao publicar este segundo resumo de políticas
• contrapor-se à contaminação da
sobre o tópico da desinfodemia, a UNESCO visa a
desinformação;
#CompartilharConhecimento que possa ajudar
• apoiar o jornalismo de qualidade e governos, instituições, comunidades e indivíduos a:
independente; • entender o contexto geral da
• empoderar cidadãos globais com desinformação e conhecer os tipos de
alfabetização midiática informacional (AMI); e respostas que são apresentadas;
• ajudar os Estados-membros a cumprir • tratar dos desafios/oportunidades
os padrões internacionais de liberdade dessas respostas; e
de expressão. • considerar as opções de ação que
surgem dessa avaliação.
O contexto geral
Neste resumo de políticas, os dez tipos de respostas Um exemplo é a rotulagem de respostas
à desinformação sobre a COVID-19 (conforme destinadas a receber e consumir a
identificados no primeiro resumo) são examinados desinformação. Assim como a AMI, elas também
de forma mais aprofundada. Essa análise se baseia podem ser eficazes no estágio de “reprodução”,
nas pesquisas realizadas pelas autoras para o quando o conteúdo falso é passado adiante. Em
próximo relatório da Comissão de Banda Larga para comparação, a “desplataformização” de atores da
o Desenvolvimento Sustentável UNESCO-UIT, para desinformação, devido ao seu comportamento, é
o qual uma tipologia hierárquica de respostas à uma resposta autorregulatória das empresas de
desinformação está sendo desenvolvida. Em ambos internet relevante para a filtragem no momento
os casos, as respostas são categorizadas de acordo da transmissão. Aumentar o fornecimento de
com seus objetivos, e não de acordo com seus atores conteúdo antidesinformação (contramensagens)
(por exemplo, plataformas sociais, governos, meios é uma intervenção no ponto inicial, assim como
de comunicação e cidadãos). são as medidas para apoiar a produção de
Além disso, é fornecida uma avaliação de cada jornalismo independente.
categoria de resposta em termos de suas Na análise contida tanto neste resumo de políticas,
suposições, pontos fortes e fracos em geral. A quanto no primeiro resumo , as respostas são
discussão examina a relevância de cada resposta avaliadas em termos de modalidades que têm
para a liberdade de expressão, que é tanto um implicações para todos os quatro “momentos”
direito fundamental quanto uma arma essencial na do circuito da desinformação. Essa abordagem,
luta contra a desinfodemia. portanto, não classifica as respostas pelo tipo
O circuito de desinformação pode ser avaliado em de ator que conduz a intervenção (por exemplo,
termos de sua produção, transmissão e recepção/ governos e educadores), nem pelos atores que
consumo. Em uma quarta dimensão, há a reprodução são os alvos das respostas (por exemplo, os
do conteúdo por meio do compartilhamento em impostores, de um lado, e os consumidores, de
cadeia e da amplificação além do ciclo inicial. outro). Pelo contrário, ao enfocar as modalidades
das respostas, reconhece-se que elas possuem
As respostas objetivam o tratamento desses quatro
uma relevância que atravessa os diversos grupos.
“momentos” – interromper o fornecimento e a
criação de conteúdo falso, limitar sua transmissão, Além disso, a maioria das modalidades é
inocular os destinatários contra seus efeitos e diretamente relevante para todos os quatro
impedir sua circulação. “momentos” no circuito da desinformação –
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
1. Identificação da
2. Produtores e
desinformação
distribuidores
1.1. Principais suposições
1.2. Principais desafios 2.1. Principais suposições
1.3. Principais oportunidades 2.2. Principais desafios
2.3. Principais oportunidades
4. Apoio aos
3. Produção e
públicos-alvo da
distribuição
desinformação lud-
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
Por serem os principais investigadores da Apesar de ser necessário o debate sobre o alicerce
desinformação, os jornalistas têm estado sob uma econômico do jornalismo (ver abaixo) em termos de
forma especial de estresse por conta da COVID-19. conhecimentos e habilidades, os jornalistas estão
Isso em razão da dimensão e da complexidade de continuamente atualizando suas capacidades de
realizar reportagens, das novas e crescentes quedas investigação digital para ajudar na descoberta e na
de receita que ameaçam as folhas de pagamento das denúncia de conteúdos de desinformação, juntamente
redações e a capacidade de financiar investigações, com as redes que os produzem e os distribuem. Alguns
assim como os riscos à segurança ligados à realização jornalistas também estão trabalhando em questões
de reportagens. O principal desafio dessa missão relacionadas às diversas respostas à desinfodemia,
é que, se a indústria de notícias for insustentável, bem como promovendo debates sobre políticas
a principal força para identificar e denunciar a dedicadas a essas questões. Devido a tudo isso, a crise
desinformação será perdida, deixando o campo ainda é uma oportunidade para os jornalistas fortalecerem
mais aberto para a desinfodemia se espalhar. seu ofício e sua credibilidade, e aumentarem a
visibilidade da sua contribuição indispensável para a
sociedade em tempos de emergência.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
3 Respostas na
edição, gestão e moderação) de conteúdos, que
produção e na distribuição de tem impacto na presença e na proeminência de
desinformação sobre a COVID-19 informação versus desinformação. Em alguns
casos, as pessoas que elaboram essas respostas
Esta modalidade de respostas é voltada para visam a reduzir incentivos econômicos para
ações dentro das principais instituições na pessoas que procuram ganhar dinheiro com a
esfera de comunicações – como os meios de desinformação sobre a COVID-19, o que causa
comunicação, redes sociais, serviço social de impactos na produção; em outros casos, as
mensagens e serviços de busca. A maioria dessas respostas são concentradas na redução da
respostas se relaciona à curadoria (ou seja, transmissão de tais conteúdos.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
3.1 Principais suposições O sucesso que se pretende ter com essas respostas
está condicionado à forte responsabilidade social, à
As respostas desta categoria funcionam com base no
conscientização ética e à competência de conteúdo dos
fato de que empresas de comunicação na internet e
donos e funcionários dessas empresas, assim como de
meios de comunicação em geral têm uma margem de
seus usuários e públicos. Cada vez mais, essas respostas
manobra significativa para organizar as informações
depositam confiança em medidas tecnológicas para
que seus serviços transmitem (e, em certos casos, para
organizar a desinformação). As respostas dependem implementar políticas de conteúdo com precisão; porém,
do quanto os modelos de negócios dessas empresas na prática, a automação continua sendo um instrumento
não são intrinsecamente favoráveis à desinformação, impreciso que está sendo desenvolvido durante a crise
e de quanto dinheiro seus líderes estão dispostos a sem provisão suficiente para reparações de conteúdos
gastar e que medidas tomarão para evitar a captura por removidos indevidamente por esses meios.
produtores de desinformação sobre a COVID-19. Outra suposição é que os donos dessas empresas
Essas respostas também se baseiam na disposição se encontram na melhor posição para decidir sobre
desses atores de usar seu poder econômico para suas políticas e práticas internas a respeito da
desencorajar aqueles que abusam das possibilidades desinfodemia, o que pode ocorrer às custas de sua
de transmissão de “iscas de clicks” (clickbaits) para prática de consulta a múltiplos stakeholders e de sua
promover inverdades sobre a crise. transparência sobre padrões e implementação.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
Examinar os desafios
e as oportunidades
• Prazos: algumas respostas, como novos • Outra tensão seria o ato de "aprisionar" jornalistas
regulamentos, são voltadas a resultados em redes estabelecidas para agentes da
imediatos; e outras, como o empoderamento desinformação, por meio da criminalização da
de usuários, ocorrem mais no médio prazo. publicação ou distribuição de informações falsas
Então, há medidas, como desenvolver uma visão a respeito da COVID-19, justamente quando o
crítica por meio da AMI, que levam mais tempo jornalismo é necessário no combate à desinfodemia.
para serem incorporadas, mas que podem Também pode ser observado que a contrainformação
ter consequências duradouras. Outras, como precisa coexistir, e não competir ou ser realizada às
medidas de apoio à cobertura jornalística da custas do jornalismo independente. Portanto, as
crise, são mais pontuais. É importante observar diversas intervenções precisam estar alinhadas, em
que diferentes problemas e oportunidades vez de seguir direções diferentes.
operam dentro de diferentes prazos. • Gênero: o gênero é ignorado em muitas respostas à
• Complementaridades: os dez tipos de respostas desinformação sobre a COVID-19, e coloca em risco
à desinfodemia delineados nestes resumos o fato de se ignorar as diferenças sutis em relação
de políticas complementam uns aos outros de ao conteúdo falso que, muitas vezes, tem o objetivo
diversas maneiras. Eles podem ser reconhecidos de atingir as pessoas, bem como as diversas
com um pacote holístico de intervenções. Por maneiras como as pessoas respondem ao conteúdo
exemplo, em muitos casos, os jornalistas têm em questão. Também é importante observar que
denunciado desinformação online que não foi padrões de comportamento estabelecidos por
detectada pelas empresas de comunicação na agentes da desinformação incluem ataques online
internet que possibilitaram sua transmissão. relacionados aos gêneros (com ameaças que vão
Deve-se atentar para as ações por parte dessas desde abuso à segurança digital até violações de
empresas na visão geral das respostas. Isso porque privacidade). Ademais, há o problema do acesso
o uso do poder e da política, bem como a atenção de mulheres e meninas à informação, que, com
aos públicos, são as categorias de respostas que frequência, é limitado em alguns contextos e
podem resolver o problema da desinformação fora ameaçado pela existência de violência doméstica.
das medidas tomadas pela indústria. Sem contar que também há o problema de que
a grande maioria dos rostos e das vozes de
• Contradições: há casos em que um tipo de autoridades sobre a crise da COVID-19 é de homens,
resposta pode atuar contra outro. Um exemplo e há uma clara necessidade de maior inclusão de
seria um desequilíbrio no qual há ênfase exagerada mulheres nessas respostas, tanto à desinfodemia
em um regulamento "de cima para baixo", e ao quanto à pandemia em si.
mesmo tempo, negligencia-se a necessidade de
empoderamento "de baixo para cima". • Faixas etárias: principalmente as crianças e os
idosos, em relação à desinfodemia, também são
pouco consideradas em muitas respostas.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
Avaliação geral
A desinformação prospera na ausência de valor de se ter uma abordagem holística e analítica
informações comprováveis e confiáveis. Da tanto com relação ao problema, quanto com a gama
mesma forma, ela também pode florescer em de respostas, sejam estas práticas ou de outro
meio a volumes de conteúdos, quando as pessoas tipo. Nesse contexto mais amplo, é evidente que a
têm dificuldade de distinguir entre informações liberdade de expressão, o acesso à informação e o
confiáveis e desinformação, entre aquilo que é jornalismo independente – apoiados pelo acesso
um fato comprovado e o que não é. Ela explora a aberto e de baixo custo à internet – não são apenas
necessidade que as pessoas têm de compreender direitos humanos fundamentais, mas também partes
os desenvolvimentos complexos, bem como seus essenciais do arsenal contra a desinfodemia.
medos, desejos e identidades. É por isso que é
Deve-se destacar que a luta contra a desinformação
necessária uma abordagem multifacetada – que vá
sobre a COVID-19 não é um chamado para suprimir o
além do domínio da comunicação e de conteúdos
pluralismo de informação e opinião, nem para suprimir
contestados, para incluir medidas práticas, como
um debate político intenso. É uma luta a favor dos
solidariedade social, juntamente com apoio médico e
fatos, pois, sem informações com base em evidências
financeiro efetivo para as populações vulneráveis em
para todas as pessoas, não será possível uma vitória
tempos de grandes mudanças e enormes riscos.
comum contra a pandemia da COVID-19. Ainda assim,
Uma crise como a da COVID-19, tão crítica para se a jornada for bem-sucedida, muitos dos métodos e
toda a humanidade, exige respostas em conjunto das estratégias aplicadas no combate à desinfodemia
por toda uma gama de dimensões, com diversos podem ser úteis como contramedidas em batalhas
atores trabalhando juntos pelo interesse comum para derrotar a desinformação sobre outras questões
global. Qualquer estratégia coerente de combate que estão por vir, como a mudança climática, as
ao domínio da desinfodemia deve reconhecer o eleições e outras de vital interesse público.
Opções de ação
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
Grupos da sociedade
civil poderiam:
• Reforçar o apelo por respostas à desinfodemia,
para estar em conformidade com os padrões
internacionais de direitos humanos.
• Realizar parcerias com jornalistas e organizações
de notícias em projetos de investigação e
monitoramento da desinformação sobre a COVID-19
e suas respostas.
• Fortalecer o desenvolvimento de projetos de AMI, e
de programas de apoio ao jornalismo independente.
• Trabalhar de forma colaborativa uns com
os outros para garantir que organizações
intergovernamentais respondam de forma
adequada à desinfodemia e a seus impactos. O programa do mandato da UNESCO em
• Considerar programas voltados para crianças, Comunicação e Informação é cada vez mais
bem como para idosos, que recebem atenção relevante em relação à desinfodemia. Seu
insuficiente por parte das campanhas de AMI e, trabalho atual envolve:
portanto, são mais suscetíveis à exploração por • Liberdade de expressão e segurança de
agentes da desinformação. jornalistas – promoção do jornalismo
livre, plural, independente, seguro e de
Pesquisadores poderiam: qualidade, que é um antídoto contra a
• Reorientar seus planos de pesquisas para a desinformação (e também para reações
desinfodemia, as respostas a ela e seus impactos. exageradas que possam restringir a
expressão de forma injusta).
• Estudar formatos pouco pesquisados, como jogos
interativos, por meio dos quais a desinformação • Acesso à informação – promoção da
e suas contramedidas podem atingir os jovens de transparência e da divulgação proativa
maneira efetiva. por parte dos governos, que ajudam a
• Participar de projetos de Pesquisa de Ação produzir informações legítimas de origem
Participativa que respondam a incidentes oficial como uma alternativa aos boatos e
importantes relacionados à desinfodemia, e que às mentiras.
possam fornecer suporte urgente e prático. • Inovação digital e tecnologias – análise
• Colaborar com jornalistas, organizações de notícias sobre como a tecnologia produz, prioriza,
e grupos da sociedade civil em projetos que ajudem compartilha e avalia a informação (e a
a revelar e combater a desinformação, juntamente desinformação).
com exercícios de monitoramento e avaliação • Desenvolvimento da mídia e sociedade
voltados para as respostas à desinfodemia. – promoção da resiliência por meio de
• Estudar campanhas de multiplataformas de AMI, promovendo a igualdade entre
desinformação, para obter uma perspectiva mais gêneros dentro e entre todas as mídias,
completa e holística da desinfodemia. e a mídia comunitária como fator
essencial ao pluralismo.
• Realizar uma avaliação independente quantitativa
e qualitativa, bem como o monitoramento contínuo
das respostas à COVID-19, implementadas pelas
empresas de comunicação na internet.
• Garantir que a expertise feminina seja visível, como
uma forma de abordar as desigualdades de gênero
nos debates internacionais sobre a desinfodemia.
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O que a UNESCO está
fazendo sobre a desinfodemia
Em resposta à crise, o Setor de Comunicação e Informação da UNESCO tem
reforçado seu trabalho em relação às dimensões de “oferta”, “demanda” e
“transmissão” da desinfodemia.
No “lado da oferta”, o Setor está trabalhando para mostrar que, para
combater boatos, os governos devem valorizar a transparência e aumentar
a divulgação proativa, bem como a disponibilização de dados abertos, de
acordo com a lei e a política do direito à informação. Isso porque o acesso
à informação de origem oficial é essencial para se ter credibilidade nas
comunicações durante uma crise.
Ao mesmo tempo, essa área importante da ação no “lado da oferta” não
substitui a informação que é produzida pelos meios de comunicação.
Portanto, o Setor precisa persuadir as autoridades a considerar o jornalismo
livre e profissional como um aliado na luta contra a desinformação.
Especialmente porque os meios de comunicação trabalham abertamente
no espaço público, enquanto muita desinformação ocorre "por baixo dos
panos", em aplicativos sociais de mensagens, e não é fácil responsabilizar os
envolvidos. A campanha pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em 3 de
maio de 2020, reforçou o reconhecimento de que o jornalismo imparcial sem
medo é especialmente vital durante a pandemia.
Como parte da campanha, a UNESCO – bem como outros atores da ONU – pede
aos governos que não imponham restrições sobre a liberdade de expressão que
possam prejudicar o papel essencial do jornalismo independente. Ao contrário,
os Estados são estimulados a reconhecer o jornalismo como um poder contra
a desinformação – mesmo quando ele produz informações comprovadas
e opiniões fundamentadas que irritam algumas pessoas no poder. O Setor
de Comunicação e Informação da Organização também tem compartilhado
boas práticas, como o reconhecimento oficial das mídias como um serviço
fundamental neste momento, e que – com ressalvas à independência e à
transparência – merece o apoio governamental durante esses tempos tão
turbulentos em termos econômicos.
A UNESCO também trabalha para fortalecer o profissionalismo do
jornalismo na cobertura desta crise. Um apelo à cooperação com a
Associação Internacional de Pesquisa em Mídias e Comunicações (IAMCR)
publicou 20 traduções da publicação “Jornalismo, fake news e desinformação:
manual para educação e treinamento em jornalismo”. Um curso aberto online
massivo e multilíngue está sendo desenvolvido com a Cátedra da UNESCO em
Comunicação da Universidade de Austin, no Texas (EUA).
Com relação à “transmissão” da desinformação, a UNESCO está trabalhando
para promover a universalidade da internet como uma forma de alinhar o
desenvolvimento digital com o desenvolvimento sustentável. Isso envolve
promover normas com base nos princípios ROAM acordados por seus
Estados-membros. A Organização também trabalha com empresas de
internet, governos, sociedade civil e outros atores para assegurar que a
internet respeite os direitos humanos de maneira aberta, acessível a todos
e regulada por meio de processos com muitos stakeholders. A série de
publicações sobre liberdade na internet da UNESCO fornece indicadores
sobre como redes digitais podem respeitar a liberdade de expressão e a
privacidade e, ao mesmo tempo, evitar discursos de ódio e radicalização do
extremismo violento que vêm combinados com a desinformação.
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Tratando do “lado da demanda”, a UNESCO está circulando mensagens
importantes sobre saúde pública, em parceria com agências como a OMS,
para fornecer fatos legítimos que podem contradizer inverdades com
informações verdadeiras. Essa atividade está sendo implementada por meio
de redes nas mídias, incluindo rádios comunitárias e emissoras públicas, e
por meio dos próprios canais das redes sociais da UNESCO.
São esses direitos que permitem que governos e o público tomem decisões
com base em evidências sobre a política e a prática, e para implementar e
monitorar respostas à pandemia que são fundamentadas tanto na ciência
quanto nos valores dos direitos humanos. Com base nisso, o trabalho da
UNESCO sobre informação e comunicações pode ajudar a humanidade a
superar os desafios atuais da melhor forma possível.
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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19
Metodologia
Os dados e fatos apresentados aqui são o resultado profissionais da saúde, ONGs, laboratório de ideias
de uma pesquisa documental realizada pelas ou centros de estudos (think tanks), bem como em
autoras, com contribuições fornecidas pelos publicações acadêmicas. As palavras-chave usadas
seguintes colaboradores deste estudo: Denis incluíram desinformação, informação incorreta,
Teyssou (AFP), Clara Hanot (EU Disinfo Lab), Trisha COVID-19, coronavírus, epidemia e pandemia.
Meyer (Vrije Universiteit Brussel), Sam Gregory A pesquisa buscou utilizar fontes relativas a países
(Witness) e Diana Maynard (University of Sheffield). de todos os continentes, incluindo, sempre que
A conjunto de dados sobre o qual os resultados possível (de acordo com as capacidades linguísticas
se baseiam consiste em uma amostra de mais de das pesquisadoras), materiais em outras línguas
200 artigos, resumos de políticas e relatórios de que não a inglesa. Essas fontes coletadas foram
pesquisa. Esse conjunto de dados foi identificado agora agregadas a uma base de dados que será
pelas pesquisadoras, que, sistematicamente, continuamente atualizada e com acesso público
realizaram buscas em bases de dados públicas disponível aqui . Enquanto a desinfodemia
e selecionadas pela International Fact Checking se move rapidamente e é vasta em escala, este
Network (IFCN) do Poynter Institute, pelo Índice de resumo de políticas representa os resultados
Censura, pelo Instituto Internacional de Imprensa da pesquisa feita com base em um apanhado de
(IPI), e pela First Draft News, juntamente com materiais originais contidos nessa base de dados a
os sites de meios de comunicações, governos partir de 10 de abril de 2020.
nacionais, organizações intergovernamentais,
Sobre as autoras
Resumo da políticas 1
DESINFODEMIA:
Decifrar a desinformação
sobre a COVID-19 Este resumo de políticas recebeu o apoio do Centro
Internacional de Jornalistas (ICFJ), que está ajudando
jornalistas a trabalharem na linha de frente da
desinfodemia em todo o mundo, a fim de garantir
que informações precisas, confiáveis e comprováveis
cheguem às comunidades em todos os lugares.
Publicado em 2020 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura,7, place de
Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, France© UNESCO. Este informativo de políticas está disponível em Open Access sob
a licença Attribution-ShareAlike 3.0 IGO (CC-BY-SA 3.0 IGO). Ao utilizar o conteúdo desta publicação, os usuários
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respeito da delimitação de suas fronteiras ou limites. As ideias e opiniões expressas nesta publicação pertencem
aos autores; elas não são necessariamente as da UNESCO e não comprometem à organização.
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