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DESINFODEMIA

Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Resumo de políticas 2
Autoras: Julie Posetti e Kalina Bontcheva
Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Este resumo de políticas avalia as respostas emergentes à disseminação


prolífica de desinformação associada à pandemia da COVID-19 no contexto
dos desafios da liberdade de expressão. Este resumo acompanha o título
“Desinfodemia: decifrar a desinformação sobre a COVID-19”, que descreve
os temas, formatos e tipos de respostas ao que a Organização Mundial da
Saúde (OMS) chamou de infodemia massiva.
O termo adotado nesta pesquisa para descrever as inverdades que
alimentam a pandemia e seus impactos é desinfodemia – devido à
enorme “carga viral” de desinformação possivelmente letal, que foi
descrita pelo secretário-geral da ONU como um veneno e o outro “inimigo”
da humanidade nesta crise.
Ao publicar este resumo de políticas, a UNESCO busca lançar luz sobre
os desafios e as oportunidades associados à necessidade urgente de
“achatar a curva” da desinfodemia e oferecer possíveis opções de ação.

O contexto
O primeiro resumo de políticas desta série oferece duas tipologias
para se entender a desinfodemia:
• Primeiramente, identifica nove temas essenciais e quatro
formatos principais associados à desinformação sobre a crise
da COVID-19. Os temas vão desde informações falsas sobre as
origens, a propagação, as taxas de infecção e mortalidade, até os
sintomas e os tratamentos, incluindo conteúdos relativos a fraudes,
a ataques políticos a jornalistas e a interpretações deturpadas do
jornalismo independente e confiável como fake news. Os formatos
utilizados para disseminar a desinformação relacionada à pandemia
incluem: construções de narrativas e memes altamente emotivos;
imagens e vídeos fabricados e alterados de forma fraudulenta
ou descontextualizados; falsos sites, bases de dados e fontes de
informação; campanhas orquestradas por pessoas que se infiltram
para gerar desinformação.
• A segunda tipologia delineia dez tipos de respostas à desinfodemia,
que são agrupados em quatro categorias abrangentes:
» respostas de monitoramento, verificação de fatos e
investigativas, destinadas a identificar, desmistificar e denunciar
a desinformação sobre a COVID-19;
» respostas de governança, que incluem respostas legislativas,
políticas e governamentais no combate à desinfodemia;
» respostas curatoriais, técnicas e econômicas, que são relevantes
para as políticas e práticas de instituições de mediação de
conteúdos; e
» respostas éticas e normativas; educativas; de empoderamento e de
credibilidade – todas destinadas aos públicos-alvo dos agentes da
desinformação, com atenção especial para cidadãos e jornalistas.
É essa segunda tipologia que se analisa de maneira mais detalhada neste
resumo de políticas. A avaliação resulta em uma lista de opções de ação
que podem ser consideradas por organizações intergovernamentais,
empresas de comunicação na internet, governos, organizações da
sociedade civil (OSCs), acadêmicos e meios de comunicação.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Todas as quatro linhas de ação são cruciais para o


O contexto de direito à saúde, que é um dos direitos econômicos,

direitos humanos
sociais e culturais reconhecidos pela comunidade
internacional. Eles são todos essenciais para que a
humanidade alcance o Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável da ONU 16.10 (ODS 16.10) sobre “acesso
É direito de toda pessoa buscar, receber e divulgar público à informação e às liberdades fundamentais”.
informações. A UNESCO e seus parceiros trabalham Essa meta do ODS 16 ajuda a fortalecer outros ODS,
para proteger e fortalecer esse direito e construir especialmente o ODS 3, que trata de “boa saúde e
"sociedades do conhecimento" de várias formas, in- bem-estar", que são tão importantes nesses tempos.
clusive:
Ao publicar este segundo resumo de políticas
• contrapor-se à contaminação da
sobre o tópico da desinfodemia, a UNESCO visa a
desinformação;
#CompartilharConhecimento que possa ajudar
• apoiar o jornalismo de qualidade e governos, instituições, comunidades e indivíduos a:
independente; • entender o contexto geral da
• empoderar cidadãos globais com desinformação e conhecer os tipos de
alfabetização midiática informacional (AMI); e respostas que são apresentadas;
• ajudar os Estados-membros a cumprir • tratar dos desafios/oportunidades
os padrões internacionais de liberdade dessas respostas; e
de expressão. • considerar as opções de ação que
surgem dessa avaliação.

O contexto geral
Neste resumo de políticas, os dez tipos de respostas Um exemplo é a rotulagem de respostas
à desinformação sobre a COVID-19 (conforme destinadas a receber e consumir a
identificados no primeiro resumo) são examinados desinformação. Assim como a AMI, elas também
de forma mais aprofundada. Essa análise se baseia podem ser eficazes no estágio de “reprodução”,
nas pesquisas realizadas pelas autoras para o quando o conteúdo falso é passado adiante. Em
próximo relatório da Comissão de Banda Larga para comparação, a “desplataformização” de atores da
o Desenvolvimento Sustentável UNESCO-UIT, para desinformação, devido ao seu comportamento, é
o qual uma tipologia hierárquica de respostas à uma resposta autorregulatória das empresas de
desinformação está sendo desenvolvida. Em ambos internet relevante para a filtragem no momento
os casos, as respostas são categorizadas de acordo da transmissão. Aumentar o fornecimento de
com seus objetivos, e não de acordo com seus atores conteúdo antidesinformação (contramensagens)
(por exemplo, plataformas sociais, governos, meios é uma intervenção no ponto inicial, assim como
de comunicação e cidadãos). são as medidas para apoiar a produção de
Além disso, é fornecida uma avaliação de cada jornalismo independente.
categoria de resposta em termos de suas Na análise contida tanto neste resumo de políticas,
suposições, pontos fortes e fracos em geral. A quanto no primeiro resumo , as respostas são
discussão examina a relevância de cada resposta avaliadas em termos de modalidades que têm
para a liberdade de expressão, que é tanto um implicações para todos os quatro “momentos”
direito fundamental quanto uma arma essencial na do circuito da desinformação. Essa abordagem,
luta contra a desinfodemia. portanto, não classifica as respostas pelo tipo
O circuito de desinformação pode ser avaliado em de ator que conduz a intervenção (por exemplo,
termos de sua produção, transmissão e recepção/ governos e educadores), nem pelos atores que
consumo. Em uma quarta dimensão, há a reprodução são os alvos das respostas (por exemplo, os
do conteúdo por meio do compartilhamento em impostores, de um lado, e os consumidores, de
cadeia e da amplificação além do ciclo inicial. outro). Pelo contrário, ao enfocar as modalidades
das respostas, reconhece-se que elas possuem
As respostas objetivam o tratamento desses quatro
uma relevância que atravessa os diversos grupos.
“momentos” – interromper o fornecimento e a
criação de conteúdo falso, limitar sua transmissão, Além disso, a maioria das modalidades é
inocular os destinatários contra seus efeitos e diretamente relevante para todos os quatro
impedir sua circulação. “momentos” no circuito da desinformação –

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

produção, transmissão, recepção/consumo a AMI. Porém, quando a motivação é o ganho


e reprodução. Elas também englobam várias financeiro no tráfico de medicamentos não
possibilidades em relação às forças motrizes da comprovados, então, os métodos voltados ao
desinformação. Um exemplo é quanto à motivação “ecossistema” – como no caso de respostas
de uma pessoa em disseminar desinformação jurídicas e regulatórias – ganham relevância.
sobre uma cura falsa, na tentativa de ajudar, ao Visualizar as modalidades de respostas ajuda
compartilhar informações aparentemente úteis. a contextualizar os diversos atores e alvos,
suas motivações e os diferentes “momentos” no
As respostas podem buscar lidar com isso de
circuito da desinformação que as intervenções
maneira não punitiva no estágio da reprodução,
pretendem impactar.
como, por exemplo, apresentar para a pessoa

A análise a seguir engloba as seguintes modalidades:

1. Identificação da
2. Produtores e
desinformação
distribuidores
1.1. Principais suposições
1.2. Principais desafios 2.1. Principais suposições
1.3. Principais oportunidades 2.2. Principais desafios
2.3. Principais oportunidades

4. Apoio aos
3. Produção e
públicos-alvo da
distribuição
desinformação lud-

3.1. Principais suposições


wwin

3.2. Principais desafios 4.1. Principais suposições


3.3. Principais oportunidades 4.2. Principais desafios
4.3. Principais oportunidades

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

baseiam em evidências das quais dependem outros


tipos de respostas à desinformação. A verificação
de fatos, por exemplo, é utilizada por empresas de
internet para identificar e atuar na visibilidade da
desinformação sobre a COVID-19, assim como os
governos e as organizações internacionais também a
utilizam para poderem, então, decidir o que, quando,
1 Respostas focadas na e se devem lançar iniciativas políticas ou práticas,
identificação da como campanhas de combate à desinformação.

desinformação sobre DESINFODEMIA:


Decifrar a desinformação sobre a
a COVID-19 COVID-19 (resumo de políticas 1)
Esta categoria de respostas se relaciona ao
monitoramento de informações que são disseminadas É reconhecido que as verificações de fatos tendem
rapidamente, verificando sua precisão, identificando a ser menos compartilhadas pelos usuários nas
quem a publicou e por que. Todos esses aspectos redes sociais do que a desinformação viral que
são essenciais para detectar manifestações da está sendo desmistificada. Também há uma certa
desinfodemia, algo que é crucial para quaisquer preocupação de que, ao se chamar atenção para
respostas adicionais – sejam elas jurídicas, técnicas, inverdades, pode-se ajudar a amplificá-las. Mesmo
éticas, educativas ou de outros tipos de intervenção. assim, a suposição que impera é a de que o trabalho
de verificação e desmistificação permanece
essencial como forma de trazer a verdade à tona,
1.1 Principais suposições e de responsabilizar indivíduos, figuras públicas,
As respostas de identificação fornecem insights instituições e os meios de comunicação por suas
muito necessários sobre a desinfodemia, que se afirmações incorretas.

1.2 Principais desafios 1.3 Principais oportunidades


O volume e a variedade dos tipos de desinformação A crise atual é uma oportunidade para respostas de
sobre a COVID-19 dificultam o trabalho dos grupos identificação e monitoramento independente, para
de verificação de fatos, dos jornalistas e de outros reforçar o valor dos fatos e da ciência. É, também, uma
que ocupam funções investigativas para monitorar, chance para estimular a reflexão pública sobre qual
denunciar e chamar atenção do público para todas as conteúdo é tratado como confiável, e o que as pessoas
instâncias e todas as dimensões. Isso é ainda mais decidem compartilhar. Identificar a desinformação sobre
complicado pela magnitude da tarefa relacionada à a COVID-19 e investigar as respostas ao longo do tempo
investigação aprofundada, bem como à avaliação dos são ações que também permitirão a avaliação contínua
efeitos intencionais e não intencionais da identificação da eficácia das empresas de comunicação na internet
e outros tipos de respostas. em reduzir a escalada da desinfodemia. Respostas de
Entretanto, realizar tal análise é fundamental para identificação são essenciais para o monitoramento
desenvolver ou modificar as respostas. dos impactos em mulheres, crianças, idosos, minorias,
migrantes e outros cidadãos e comunidades vulneráveis.
O desafio dos verificadores de fatos é operar de maneira
efetiva em todos os países e em todas as línguas, em A desinfodemia também é uma oportunidade para
escala e com impacto. Isso é necessário para permitir melhorar os recursos de respostas de identificação.
que as sociedades acessem as devidas informações para Apesar de as empresas WhatsApp, Facebook, Google e
garantir que as várias respostas sejam eficazes contra a Twitter terem prometido fornecer algum financiamento
desinfodemia e coerentes com os padrões internacionais para organizações de verificação de fatos e de jornalismo
de liberdade de expressão e outros direitos humanos, local, é necessário que o apoio seja contínuo durante toda
como o direito à privacidade. a pandemia e para além dela.

Por serem os principais investigadores da Apesar de ser necessário o debate sobre o alicerce
desinformação, os jornalistas têm estado sob uma econômico do jornalismo (ver abaixo) em termos de
forma especial de estresse por conta da COVID-19. conhecimentos e habilidades, os jornalistas estão
Isso em razão da dimensão e da complexidade de continuamente atualizando suas capacidades de
realizar reportagens, das novas e crescentes quedas investigação digital para ajudar na descoberta e na
de receita que ameaçam as folhas de pagamento das denúncia de conteúdos de desinformação, juntamente
redações e a capacidade de financiar investigações, com as redes que os produzem e os distribuem. Alguns
assim como os riscos à segurança ligados à realização jornalistas também estão trabalhando em questões
de reportagens. O principal desafio dessa missão relacionadas às diversas respostas à desinfodemia,
é que, se a indústria de notícias for insustentável, bem como promovendo debates sobre políticas
a principal força para identificar e denunciar a dedicadas a essas questões. Devido a tudo isso, a crise
desinformação será perdida, deixando o campo ainda é uma oportunidade para os jornalistas fortalecerem
mais aberto para a desinfodemia se espalhar. seu ofício e sua credibilidade, e aumentarem a
visibilidade da sua contribuição indispensável para a
sociedade em tempos de emergência.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

2.1 Principais suposições


Esta categoria de respostas intervém na ecologia
de informação-desinformação, ao restringir ou
recompensar os comportamentos de pessoas e
instituições envolvidas na produção, na circulação e
no consumo de conteúdos. Ao mesmo tempo, às vezes,
2 Respostas aplicáveis à também se dá atenção à produção de conteúdo oficial
na expectativa de que seja confiável.
produção e à distribuição Juntas, essas respostas pretendem afetar diretamente
de desinformação o tipo de combinação de conteúdos disponibilizados ao
público com relação às proporções e à proeminência da
sobre a COVID-19 informação versus desinformação.
Esta modalidade se refere às respostas que cobrem A expectativa subjacente é que, ao modificar o ambiente
o uso de poder político para configurar o ecossistema das comunicações de forma centralizada, pode-se
mais amplo de informações e conteúdos relacionados à minimizar o circuito da desinformação, ou ao menos
desinfodemia. Geralmente, esses esforços são voltados diminuir seu impacto, permitindo, dessa forma, que
para a produção e a transmissão de desinformação a sociedade possa enfrentar a COVID-19 com base na
(apesar de alguns também se relacionarem ao seu ciência. O alinhamento da abordagem da liberdade
consumo). As intervenções vão desde medidas que de expressão com os ODS depende do quanto os
criminalizam a desinformação sobre a COVID-19, em responsáveis pelas respostas de governança estão
um lado do espectro; até o aumento de retificações de motivados pelo interesse público, e que as medidas que
inverdades relacionadas à saúde, no outro; e, menos eles tomam sejam relativamente apolíticas em termos
frequentemente, o apoio a mídias independentes. de opção e custo-benefício, sem deixarem de respeitar os
direitos humanos.

2.2 Principais desafios


Há um grave risco de que respostas restritivas na tentativa de resolver a desinfodemia, e, assim,
para cercear a desinformação sobre a COVID-19 minem o uso mais amplo da internet ao obstruir as
também possam prejudicar o papel do jornalismo comunicações das pessoas de forma mais ampla.
livre e de qualidade, em sua capacidade de combater
Além disso, podem ocorrer danos colaterais a partir
essa mesma desinformação. Tais respostas
de restrições que nem mesmo visam às questões de
podem incluir medidas que, de forma intencional
informação e desinformação. Assim, os lockdowns
ou não, criminalizem o jornalismo crítico, como,
necessários para proteger a saúde pública têm
por exemplo, as chamadas leis das fake news.
uma gama de consequências imprevistas, inclusive
Com frequência, essas respostas podem violar os
a possiblidade de se infligir golpes que podem
padrões internacionais que requerem avaliações de
"nocautear" um número cada vez maior de redações
proporcionalidade e necessidade, a serem aplicadas
de notícias independentes em todo o mundo. Os
ao limitar a liberdade de expressão.
meios de comunicação também estão lutando para
A esse respeito, ao serem apresentadas como sobreviver aos bloqueios automáticos de propagandas
“curas”, algumas dessas medidas jurídicas e políticas acompanhadas de conteúdos que usam o termo
podem prejudicar reportagens legítimas, bem como coronavírus. Já fragilizados, os modelos tradicionais
o discurso e o debate político legítimos – que são da indústria da mídia que dependem de propagandas
essenciais para trazer a verdade à tona e garantir entraram em colapso em alguns casos, fazendo com
que ela triunfe sobre as mentiras. Respostas que várias redações parassem de funcionar. Isso
desproporcionais à desinformação, que restringem reduz ainda mais o acesso a informações confiáveis
o direito à liberdade de expressão, como as leis de interesse público e aumenta a vulnerabilidade
das fake news, na verdade, poderiam impedir o e a exposição das pessoas à desinfodemia. O atual
trabalho de jornalistas e outros envolvidos em momento foi descrito como “um evento de extinção
pesquisas, investigações e narrações sobre a da mídia”. Se isso não for mitigado, esse desafio pode
pandemia e sobre a desinfodemia, ajudando-os terminar com as empresas de mídia, com consequências
a alimentá-la. Esse trabalho inclui esforços de para as sociedades no curto e no longo prazo.
verificação e desmistificação que são essenciais
Outro desafio é que respostas restritivas e punitivas à
para o desenvolvimento de políticas esclarecidas,
desinfodemia podem ofuscar o uso do poder político e
juntamente com processos de implementação e
das políticas públicas para regular por meio de medidas
revisão necessários para enfrentar a COVID-19.
de incentivo e empoderamento, de forma que vários
Também há o risco associado de que leis e atores, inclusive os meios de comunicação, possam
regulamentos sejam colocados em vigor às pressas, fortalecer seu papel contra a desinformação.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

2.3 Principais oportunidades


As respostas políticas e de outros tipos desta falta de equipamentos etc. – com o devido respeito
categoria podem exercer um papel essencial ao às questões de privacidade individual), e com
apoiar a parte de oferta da informação, como um transparência sobre gastos públicos relacionados à
antídoto para a desinformação. pandemia e seus impactos. Tais dados podem ajudar
os verificadores de fatos (incluindo os jornalistas)
Assim como alguns governos, empresas e a a comprovar as informações que circulam sobre as
Comissão de Banda Larga para o Desenvolvimento muitas facetas da crise. Essa transparência também
Sustentável UNESCO-UIT estão fazendo, existe a é um aspecto importante na construção da confiança
oportunidade de promover a conectividade de banda do público nas comunicações oficiais sobre saúde
larga acessível. Também há a oportunidade de pública, e pode ser especialmente útil para combater
suprimir ou suspender quedas de sinal da internet a desinformação com foco em estatísticas.
onde estas ocorrerem, remover restrições arbitrárias
sobre a expressão e promover iniciativas de AMI. Empresas de comunicação na internet (assim como
governos e organizações doadoras) têm um papel a
Em particular, também existe uma oportunidade para desempenhar, ao usar seu poder privado para adotar
reconhecer que os meios de comunicação ajudam a políticas que apoiem o ecossistema de informações,
combater a desinfodemia e facilitam a transparência provendo financiamento de base para a mídia (e
pública com respeito às respostas governamentais para os esforços de verificação de fatos). Essas
e corporativas à crise. Há uma janela de impacto entidades corporativas, que contam com muitos
vital por meio de investimentos oportunos em recursos, também podem ajudar a causar impacto ao
”estímulos” e “pacotes de resgate” para o jornalismo oferecer financiamentos para projetos de jornalismo
independente e os meios de comunicação. Esse apoio independente voltados à investigação de temas da
ao jornalismo independente, inclusive o autêntico desinformação e de redes ligadas à desinfodemia da
serviço público de mídia, é essencial para garantir COVID-19. As empresas de internet também poderiam
a sustentabilidade do jornalismo como um bem expandir programas criados para compensar os
público, enquanto a pandemia atinge ainda mais editores de notícias com as receitas que obtêm
as instituições de mídia. Antes que seja tarde, as com a produção de suas reportagens. Apoios como
ações políticas são fundamentais para garantir que o oferecido pelo Facebook a dois países já são um
o jornalismo, como veículo profissional que publica começo. Financiamentos advindos dessas empresas
informações comprovadas no domínio público (e de outras), oferecidos sem contrapartidas para
(diferentemente das mensagens privadas), deva evitar a interferência e o surgimento de motivações
continuar a ser disponibilizado como um serviço de relações públicas, poderiam ajudar a subsidiar
essencial de interesse público. as empresas de notícias que estejam abrindo mão
As autoridades têm a oportunidade de promover o de seus acessos pagos para oferecer ao público
progresso para alcançar a Meta de Desenvolvimento conteúdo gratuito sobre a COVID-19.
Sustentável 16.10 – “assegurar o acesso público à A desinfodemia também é uma oportunidade para
informação e proteger as liberdades fundamentais” –, empresas de acesso à internet realizarem uma
combatendo a desinformação ao promover medidas contribuição ativa ao fornecer conexões isentas de
ativas de transparência. Isso inclui a liberação de taxas para novos sites confiáveis. Por sua vez, lojas
fontes de dados abertos (por exemplo, sobre taxas de de aplicativos poderiam reduzir a sua porcentagem
infecção, taxas de mortalidade, taxas de recuperação, sobre a venda de inscrições em novos serviços.

3 Respostas na
edição, gestão e moderação) de conteúdos, que
produção e na distribuição de tem impacto na presença e na proeminência de
desinformação sobre a COVID-19 informação versus desinformação. Em alguns
casos, as pessoas que elaboram essas respostas
Esta modalidade de respostas é voltada para visam a reduzir incentivos econômicos para
ações dentro das principais instituições na pessoas que procuram ganhar dinheiro com a
esfera de comunicações – como os meios de desinformação sobre a COVID-19, o que causa
comunicação, redes sociais, serviço social de impactos na produção; em outros casos, as
mensagens e serviços de busca. A maioria dessas respostas são concentradas na redução da
respostas se relaciona à curadoria (ou seja, transmissão de tais conteúdos.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

3.1 Principais suposições O sucesso que se pretende ter com essas respostas
está condicionado à forte responsabilidade social, à
As respostas desta categoria funcionam com base no
conscientização ética e à competência de conteúdo dos
fato de que empresas de comunicação na internet e
donos e funcionários dessas empresas, assim como de
meios de comunicação em geral têm uma margem de
seus usuários e públicos. Cada vez mais, essas respostas
manobra significativa para organizar as informações
depositam confiança em medidas tecnológicas para
que seus serviços transmitem (e, em certos casos, para
organizar a desinformação). As respostas dependem implementar políticas de conteúdo com precisão; porém,
do quanto os modelos de negócios dessas empresas na prática, a automação continua sendo um instrumento
não são intrinsecamente favoráveis à desinformação, impreciso que está sendo desenvolvido durante a crise
e de quanto dinheiro seus líderes estão dispostos a sem provisão suficiente para reparações de conteúdos
gastar e que medidas tomarão para evitar a captura por removidos indevidamente por esses meios.
produtores de desinformação sobre a COVID-19. Outra suposição é que os donos dessas empresas
Essas respostas também se baseiam na disposição se encontram na melhor posição para decidir sobre
desses atores de usar seu poder econômico para suas políticas e práticas internas a respeito da
desencorajar aqueles que abusam das possibilidades desinfodemia, o que pode ocorrer às custas de sua
de transmissão de “iscas de clicks” (clickbaits) para prática de consulta a múltiplos stakeholders e de sua
promover inverdades sobre a crise. transparência sobre padrões e implementação.

3.2 Principais desafios 3.3 Principais oportunidades


É importante tratar das dimensões da desinfodemia que Esta pandemia representa um momento adequado
ocorrem nas comunicações na internet e nas empresas e urgente para empresas de comunicação na
de mídia. No entanto, com a maioria dessas medidas internet criarem mecanismos de transparência e
curatoriais, técnicas e econômicas estão amplamente responsabilização, bem como o engajamento rápido
nas mãos de atores privados, há decisões incoerentes e de múltiplos stakeholders. Dessa forma, eles podem
opacas sendo tomadas. Um exemplo é a insuficiência de demonstrar sua boa-vontade além do básico, e
transparência das propagandas com informações sobre seu interesse sincero em melhorar as políticas e as
a COVID-19 fornecidas por empresas de comunicação práticas para apoiar informações de qualidade frente à
na internet, o que impede a análise independente por desinformação sobre a COVID-19. Isso poderia envolver
parte de jornalistas e pesquisadores. Também não políticas de curadoria para garantir a modernização dos
é claro como estão monitorando a mudança para a veículos de notícias confiáveis e outros provedores de
maior automação, em termos de seu efeito sobre a conteúdo reconhecidamente autorizados, e a rebaixar ou
desinformação e a informação sobre a COVID-19. remover conteúdos falsos e a publicidade ligada a eles.
A "colcha de retalhos" de políticas e abordagens entre as A crise atual também é uma oportunidade para
diversas empresas de internet reflete o pluralismo e a os editores de notícias e os jornalistas, que são
diversidade, mas também pode dificultar uma resposta capazes de valorizar seu serviço ao público por
geral efetiva no âmbito da indústria à desinformação meio da independência editorial fortalecida,
sobre a COVID-19. Além disso, ela pode ocultar os juntamente com a adesão aos mais altos padrões
riscos imediatos e duradouros ao direito à liberdade de ética e profissionalismo, com fortes mecanismos
de expressão e à privacidade por parte de atores autorregulatórios. Dessa forma, o jornalismo
corporativos e governamentais, com respeito à proteção pode demonstrar seu compromisso com padrões,
da privacidade pessoal e à retirada de conteúdos. distinguindo-se do tipo problemático de conteúdo
e interação que prevalece no espaço crescente de
Como instituições tradicionalmente guardiãs da produção
mensagens privadas e diretas (inclusive, aplicativos de
e da transmissão de conteúdo, as instituições da mídia
mensagens como o WhatsApp), onde a desinformação
enfrentam desafios especificamente relacionados à
e seus agentes podem prosperar fora do olhar público
desinfodemia. A diversidade dos meios de comunicação é
e continuar livres de verificação. Assim, as redações
uma contribuição valiosa para a sociedade, mas redações
podem usar a crise para aumentar sua credibilidade
de notícias têm sido aprisionadas por forças que politizam
como fonte de fatos e opiniões fundamentadas em fatos,
a crise de uma forma tão indevida que quase chegam ao
e reforçar esse papel ao expor os atores maliciosos
ponto da desinformação. Além disso, alguns jornalistas
organizados dentro da desinfodemia.
são suscetíveis a embustes, ao sensacionalismo e
à prática eticamente questionável de interpretar de Da mesma forma, as organizações de jornalismo podem
maneira incorreta o compromisso com a objetividade destacar seu importante papel em garantir respostas
por meio de uma abordagem da “equivalência falsa”, publicamente responsáveis e transparentes de todos
na qual fontes falsas são consideradas como iguais às os atores, tanto da desinfodemia quanto da crise mais
verdadeiras. Esses fenômenos podem levar à legitimação ampla da COVID-19. Ademais, os meios de comunicação
da desinformação sobre a COVID-19 pelos meios de podem ajudar a defender a necessidade de que todas
comunicação. Essas falhas no sistema atuam contra o as intervenções relativas à COVID-19 levem em conta os
papel do jornalismo como antídoto à desinformação. marcos jurídicos e normativos internacionais dos direitos
Elas reduzem o potencial da mídia de promover o debate humanos, e que quaisquer restrições impostas devem
público sobre as respostas à desinfodemia – bem como cumprir as condições de padrões internacionais sobre a
a necessidade de promover um debate com base em limitação de direitos.
evidências, em uma abordagem política mais ampla da
sociedade sobre a pandemia e seus impactos.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

4.1 Principais suposições


Este conjunto de respostas não se relaciona à
proteção “externa” dos alvos da desinformação, mas
sim a aumentar os esforços para preparar as pessoas
a serem agentes ativos na construção de sua própria
resistência à desinfodemia.
Supõe-se que os comportamentos do público são
4 Respostas voltadas a influenciados por normas, ética, conhecimentos e
habilidades, e que as intervenções irão fortalecer o
apoiar os públicos-alvo das público em relação à desinformação sobre a COVID-19
campanhas de desinformação e às respostas à crise. A expectativa quanto a isso é
que as pessoas sejam éticas, racionais e abertas, para
sobre a COVID-19 aprender como “se inocular” e se recusar a serem
enganadas como vítimas da desinfodemia. Algumas
Esta modalidade de respostas reúne as
evidências sugerem, entretanto, que muitas pessoas
intervenções que buscam tratar diretamente os
preferem se envolver com informações erradas que
alvos e destinatários da desinformação, incluindo
reforçam seus preconceitos, em vez de se envolver
comunidades online, meios de comunicação e com conteúdos precisos e confiáveis, que podem
seus públicos. A categoria engloba: desafiá-las a mudar suas opiniões.
(I) intervenções normativas, como resoluções
e declarações; (ii) desenvolvimento de AMI; e Essa modalidade de tipos de resposta também
(iii) iniciativas de indicação de credibilidade de trabalha com a ideia de que os públicos irão
conteúdos. Essas respostas visam a promover responder à indicação de conteúdos conforme
as competências de comunicação dos cidadãos, previsto por quem os indicou, ou seja, reconhecendo
que incluem o senso crítico e as habilidades sua falsidade e abstendo-se de compartilhá-los,
de verificação digital. Também há iniciativas apesar de que nem sempre seja esse o caso. Há,
de educação e capacitação em jornalismo, que também as suposições complexas de que rotular
reconhecem que os jornalistas são tanto os o conteúdo como confiável pode ser um exercício
principais responsáveis pela desinformação simples e incontroverso, e que tal indicação de
sobre a COVID-19 quanto seus alvos. “qualidade” pode coexistir com as importantes
habilidades da AMI dos consumidores de conteúdo.
A categoria também depende de quanto os
jornalistas são capazes ou estão dispostos a
aderir aos códigos de ética, e de que estejam
interessados em melhorar sua cobertura da
COVID-19 diante dos desafios da desinformação.

4.2 Principais desafios


A magnitude da crise da COVID-19 e a urgência que o público (e seus representantes no governo)
de se ter respostas à desinfodemia podem percebam que as intervenções contra a COVID-19
levar a mudanças no que é aceito como normal, e a respectiva desinformação deveriam, por
como a suspensão ou o enfraquecimento exemplo, ser necessárias, proporcionais e de
das proteções aos direitos humanos. Muitas duração limitada no que diz respeito aos padrões
respostas à desinfodemia podem se tornar internacionais. No entanto, o impacto desses
arraigadas como novas normas – para o bem cuidados depende de persuadir aqueles com
e para o mal. Portanto, é um desafio garantir poder para que sigam de perto a esses padrões.
que todas as intervenções estejam ancoradas
Outro desafio é que as reações educativas à
nos marcos de ação jurídicos e normativos dos
desinfodemia corram o risco de estar exclusivamente
direitos humanos, como os direitos à liberdade de
em foco em um curto prazo, e se perder de vista
expressão (incluindo o acesso à informação) e à
os possíveis vínculos com o empoderamento de
privacidade. Ao confrontar esse desafio, muitos
programas e políticas institucionais de longo prazo
atores têm tentado dar voz a essas questões. Eles
para a realização da AMI, inclusive para crianças, em
tentam enfrentar o desafio de um rebaixamento
relação à desinformação em geral.
dos padrões de direitos humanos, ao fazer com

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

4.3 Principais oportunidades da AMI em termos de seu relevante potencial na


construção de normas e abordagens éticas.
A principal oportunidade não é apenas reforçar
e lembrar as pessoas a respeito das normas Além disso, indicar a credibilidade – ou seja, por um
relativas ao acesso à informação e à liberdade de lado, aplicar rótulos de credibilidade para sinalizar a
expressão, bem como fornecer-lhes educação e desinformação sobre a COVID-19 e, por outro, designar
sinais para ajudá-las, mas aprofundar e reforçar determinadas instituições de mídia como fontes
tais conhecimentos, habilidades e dicas em um confiáveis – também pode beneficiar a conformidade
ambiente complexo de rápidas mudanças. aos padrões internacionais de direitos humanos.
Tal abordagem poderia ajudar a conter a censura,
Também podem ser tomadas medidas imediatas defender os direitos à liberdade de expressão e evitar
normativas, educativas e de indicação de a validação da mídia cujo desempenho seja duvidoso
credibilidade no combate à desinfodemia para em relação à promoção da desinformação.
promover os impactos normativos e institucionais
de longo prazo em termos de padrões internacionais A crise possibilita ao público aprender a abordar
de direitos humanos. O mesmo se aplica ao papel conteúdos com ceticismo, e não com cinismo, e a ter
autonomia para realizar julgamentos fundamentados
sobre a desinfodemia e as respostas a ela.

Conclusão Essas respostas, por sua vez, agrupam-se em quatro


categorias abrangentes de modalidades, conforme
discutido acima:
Recapitulação do contexto • Respostas de monitoramento e verificação de fatos
Este resumo de políticas, complementar ao primeiro (que ajudam a identificar, desmistificar e denunciar a
descreve nove temas essenciais e quatro principais desinformação sobre a COVID-19).
tipos de formatos associados à desinfodemia. Os • Respostas legislativas, pré-legislativas e políticas,
temas identificados incluem informações falsas sobre e campanhas governamentais de "combate
as origens, a propagação e os tratamentos da COVID-19, à desinfodemia" (que, juntas, representam a
juntamente com as taxas de infecção e conteúdos governança do ecossistema).
fraudulentos, além da perigosa interpretação incorreta • Respostas curatoriais, técnicas e econômicas (que
por parte de determinados líderes políticos de que são relevantes às políticas e práticas de instituições
o jornalismo independente e os jornalistas sérios que mediam conteúdos).
fornecem fake news. Os formatos adotados incluem
imagens e vídeos fabricados ou descontextualizados • Respostas éticas e normativas; educativas; de
(que frequentemente se tornam virais em aplicativos empoderamento e credibilidade (destinadas
de mensagens fechados); sites falsos e campanhas especialmente aos públicos-alvo da desinformação).
coordenadas de desinformação. Este segundo resumo de políticas aprofunda a
Para entender a variedade de respostas a esse discussão, ao examinar as suposições subjacentes, os
conteúdo, este segundo resumo de políticas se baseia desafios e as oportunidades de cada um dos dez tipos
no primeiro que o acompanha, o qual agrupa as de respostas que são cobertos pelas quatro categorias
respostas à desinfodemia em dez subcategorias. acima. Posto isso, e com o resumo recapitulando a
discussão, é possível fazer uma análise no âmbito das
questões comuns e interseccionais.

Avaliação transversal Mesmo que isso geralmente não seja elaborado, os


pontos fortes e fracos dessa teoria em particular são
Suposições: cada uma das respostas avaliadas fundamentais para a eficácia das intervenções.
neste resumo de políticas se baseia em suposições
subjacentes, algumas das quais podem ser Pressupõe-se, ainda, quanto à maioria das
questionáveis e precisam ser verificadas. Elas respostas, que é adequado basear a intervenção,
podem estar ausentes em alguns casos e, em seja de forma implícita ou explícita, no reajuste de
outros, podem servir para minar os resultados estratégias contra a desinformação pré-coronavírus
pretendidos das intervenções. associadas a assuntos como campanhas políticas,
mudança climática e vacinação. Entretanto, estas
Todas as modalidades de respostas apresentadas podem não ser adequadas à escala, aos impactos e
aqui têm uma característica em comum: elas às condições da crise atual.
buscam fortalecer e aumentar a visibilidade
das informações genuínas de interesse público As proporções da desinformação (com a produção
(como, por exemplo, o jornalismo independente deliberada e a transmissão de inverdades) e de
e informações legítimas de saúde pública) e, ao informações incorretas (com circulação "inocente",
mesmo tempo, anular (ou ao menos desvalorizar) mesmo com motivação bem-intencionada), podem
a desinformação sobre a COVID-19. Portanto, elas variar de acordo com o tópico. Por exemplo, as
implicam uma “teoria da mudança”. eleições provavelmente terão volumes maiores de

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

desinformação do que de informações incorretas, prazo, do direito à liberdade de expressão, incluindo ao


enquanto que, nas questões antivacinação, pode acesso à informação e à privacidade.
ocorrer o oposto. Para a desinfodemia, as combinações
Responsabilização: sabe-se que a maioria das
e os resultados finais podem ser diferentes de acordo
respostas não apenas são elaboradas rapidamente,
com o país e a comunidade, além do que ainda são
como também estão se desenrolando sob condições
dinâmicos e relativamente desconhecidos.
emergenciais, em uma corrida contra o relógio da
Uma suposição subjacente a muitas iniciativas de COVID-19, para lidar com um risco mundial sem
respostas à desinfodemia é que elas, de fato, funcionam precedentes à saúde pública e com enormes ramificações
com base em palpites sobre o que é necessário, e em sociais e econômicas, risco este que se torna pior com
como se espera que uma intervenção deva funcionar. a desinfodemia. Entretanto, outra questão é que a
Isso ocorre porque elas trabalham com a ausência de responsabilização por algumas respostas não é sempre
evidências empíricas. É compreensível, considerando óbvia ou transparente. Também é evidente que muitas
a rapidez com que essas respostas se desenrolam, respostas não reconhecem os padrões internacionais
que seja muito cedo para testar suas suposições em termos de limitações dos direitos à liberdade de
subjacentes no que diz respeito aos impactos expressão, particularmente com respeito à necessidade
factuais. No entanto, poucos atores parecem ter se e à proporcionalidade. Esse exagero infringe o direito
preparado para dar andamento a uma supervisão legítimo à liberdade de expressão, e especialmente a
independente ou a uma avaliação de impactos, incluindo liberdade de imprensa, que é uma condição prévia para
o monitoramento e a avaliação de efeitos imprevistos a oferta de informações que podem ajudar a superar o
como, por exemplo, qualquer enfraquecimento, no longo desafio da desinformação.

Examinar os desafios
e as oportunidades
• Prazos: algumas respostas, como novos • Outra tensão seria o ato de "aprisionar" jornalistas
regulamentos, são voltadas a resultados em redes estabelecidas para agentes da
imediatos; e outras, como o empoderamento desinformação, por meio da criminalização da
de usuários, ocorrem mais no médio prazo. publicação ou distribuição de informações falsas
Então, há medidas, como desenvolver uma visão a respeito da COVID-19, justamente quando o
crítica por meio da AMI, que levam mais tempo jornalismo é necessário no combate à desinfodemia.
para serem incorporadas, mas que podem Também pode ser observado que a contrainformação
ter consequências duradouras. Outras, como precisa coexistir, e não competir ou ser realizada às
medidas de apoio à cobertura jornalística da custas do jornalismo independente. Portanto, as
crise, são mais pontuais. É importante observar diversas intervenções precisam estar alinhadas, em
que diferentes problemas e oportunidades vez de seguir direções diferentes.
operam dentro de diferentes prazos. • Gênero: o gênero é ignorado em muitas respostas à
• Complementaridades: os dez tipos de respostas desinformação sobre a COVID-19, e coloca em risco
à desinfodemia delineados nestes resumos o fato de se ignorar as diferenças sutis em relação
de políticas complementam uns aos outros de ao conteúdo falso que, muitas vezes, tem o objetivo
diversas maneiras. Eles podem ser reconhecidos de atingir as pessoas, bem como as diversas
com um pacote holístico de intervenções. Por maneiras como as pessoas respondem ao conteúdo
exemplo, em muitos casos, os jornalistas têm em questão. Também é importante observar que
denunciado desinformação online que não foi padrões de comportamento estabelecidos por
detectada pelas empresas de comunicação na agentes da desinformação incluem ataques online
internet que possibilitaram sua transmissão. relacionados aos gêneros (com ameaças que vão
Deve-se atentar para as ações por parte dessas desde abuso à segurança digital até violações de
empresas na visão geral das respostas. Isso porque privacidade). Ademais, há o problema do acesso
o uso do poder e da política, bem como a atenção de mulheres e meninas à informação, que, com
aos públicos, são as categorias de respostas que frequência, é limitado em alguns contextos e
podem resolver o problema da desinformação fora ameaçado pela existência de violência doméstica.
das medidas tomadas pela indústria. Sem contar que também há o problema de que
a grande maioria dos rostos e das vozes de
• Contradições: há casos em que um tipo de autoridades sobre a crise da COVID-19 é de homens,
resposta pode atuar contra outro. Um exemplo e há uma clara necessidade de maior inclusão de
seria um desequilíbrio no qual há ênfase exagerada mulheres nessas respostas, tanto à desinfodemia
em um regulamento "de cima para baixo", e ao quanto à pandemia em si.
mesmo tempo, negligencia-se a necessidade de
empoderamento "de baixo para cima". • Faixas etárias: principalmente as crianças e os
idosos, em relação à desinfodemia, também são
pouco consideradas em muitas respostas.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Avaliação geral
A desinformação prospera na ausência de valor de se ter uma abordagem holística e analítica
informações comprováveis e confiáveis. Da tanto com relação ao problema, quanto com a gama
mesma forma, ela também pode florescer em de respostas, sejam estas práticas ou de outro
meio a volumes de conteúdos, quando as pessoas tipo. Nesse contexto mais amplo, é evidente que a
têm dificuldade de distinguir entre informações liberdade de expressão, o acesso à informação e o
confiáveis e desinformação, entre aquilo que é jornalismo independente – apoiados pelo acesso
um fato comprovado e o que não é. Ela explora a aberto e de baixo custo à internet – não são apenas
necessidade que as pessoas têm de compreender direitos humanos fundamentais, mas também partes
os desenvolvimentos complexos, bem como seus essenciais do arsenal contra a desinfodemia.
medos, desejos e identidades. É por isso que é
Deve-se destacar que a luta contra a desinformação
necessária uma abordagem multifacetada – que vá
sobre a COVID-19 não é um chamado para suprimir o
além do domínio da comunicação e de conteúdos
pluralismo de informação e opinião, nem para suprimir
contestados, para incluir medidas práticas, como
um debate político intenso. É uma luta a favor dos
solidariedade social, juntamente com apoio médico e
fatos, pois, sem informações com base em evidências
financeiro efetivo para as populações vulneráveis em
para todas as pessoas, não será possível uma vitória
tempos de grandes mudanças e enormes riscos.
comum contra a pandemia da COVID-19. Ainda assim,
Uma crise como a da COVID-19, tão crítica para se a jornada for bem-sucedida, muitos dos métodos e
toda a humanidade, exige respostas em conjunto das estratégias aplicadas no combate à desinfodemia
por toda uma gama de dimensões, com diversos podem ser úteis como contramedidas em batalhas
atores trabalhando juntos pelo interesse comum para derrotar a desinformação sobre outras questões
global. Qualquer estratégia coerente de combate que estão por vir, como a mudança climática, as
ao domínio da desinfodemia deve reconhecer o eleições e outras de vital interesse público.

Opções de ação

A UNESCO poderia: Outras instituições


• Aumentar sua assistência técnica aos Estados- internacionais poderiam:
-membros para que desenvolvam marcos regulatórios • Estimular o fortalecimento da ampla variedade de
e políticas para lidar com a desinfodemia, em diferentes respostas à desinfodemia, de acordo com
conformidade com padrões internacionais de os padrões internacionais de direitos humanos.
liberdade de expressão e privacidade. • Estimular doadores a investir especificamente
• Investir no monitoramento da desinfodemia, em contramedidas à desinformação sobre a
bem como mensurar e avaliar os impactos das COVID-19 e que fortaleçam a AMI, a liberdade
intervenções no âmbito dos direitos humanos. de expressão, o jornalismo independente e o
• Aumentar o apoio a instituições de mídia em desenvolvimento da mídia.
países em desenvolvimento, inclusive por meio do Os governos poderiam:
Programa Internacional para o Desenvolvimento de
Comunicações (IPDC). • Revisar e adaptar suas respostas à desinfodemia, com
vistas à conformidade com padrões internacionais de
• Considerar a realização de conferências remotas, direitos humanos (sobretudo o direito à liberdade de
compartilhamento de conhecimentos, e expressão, incluindo o direito ao acesso à informação
intervenções da AMI voltadas para a desinfodemia. e o direito à privacidade) e a tomar providências para
• Como parte de seu mandato sobre a liberdade o monitoramento e a avaliação.
de expressão, intensificar o seu trabalho sobre a • Aumentar a transparência e a divulgação proativa de
questão da desinformação em geral, em parceria informações e dados oficiais, especificamente sobre
com outras agências da ONU e a gama de atores questões relacionadas à COVID-19, e monitorar esse
envolvidos nesse espaço. desempenho alinhado com o direito à informação
• Ampliar sua atuação em AMI e na qualificação de e à Meta do ODS 16.10.2, que avalia a adoção e a
jornalistas como respostas relevantes à desinfodemia. implementação de garantias constitucionais, legais
• Apoiar respostas sensíveis a gênero, tanto para a e/ou políticas para o acesso público à informação.
pandemia quanto para a desinfodemia. • Promover conectividade acessível para
todos, alinhada com o conceito da UNESCO de
"Universalidade da Internet" e os quatro princípios:

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

direitos, abertura, acessibilidade e participação de Órgãos de aplicação da lei e do


múltiplos atores (Rights, Openness, Accessibility and
Multistakeholder participation – ROAM). sistema judiciário poderiam:
• Apoiar o investimento no fortalecimento da mídia • Garantir que as autoridades legislativas tenham
independente, bem como em órgãos públicos de conhecimento das proteções à liberdade de
comunicação social, uma vez que os impactos expressão e à privacidade concedidas a atores
econômicos da crise da COVID-19 ameaçam a jornalísticos e outros que publicam informações
sustentabilidade jornalística em todo o mundo. comprovadas de interesse público, a fim de evitar
prisões e detenções arbitrárias durante a pandemia.
• Destinar fundos e apoio à AMI voltada para o
combate à desinfodemia, especialmente por meio • Operadores jurídicos, principalmente os juízes,
de intervenções educativas voltadas para crianças, poderiam dar atenção especial à análise de
jovens e idosos. casos relacionados ao tratamento de medidas
de combate à desinformação, garantindo que os
• Garantir sensibilidade de gênero na liderança e nas
padrões internacionais de liberdade de expressão
respostas ao público, tanto em relação à pandemia
e privacidade sejam completamente respeitados
quanto à desinfodemia em muitos outros contextos.
nessas medidas.

Empresas de internet poderiam: O setor da mídia poderia:


• Intensificar a transparência e o envolvimento de • Redobrar seus esforços como profissionais de
múltiplos atores em suas respostas, bem como resposta na linha de frente da desinfodemia, por
fornecer maior suporte financeiro a redes de verificação meio do aumento de investimentos em verificação
de fatos e ao jornalismo independente (principalmente de fatos, desmistificações, investigações sobre
aquele voltado para investigações sobre redes e desinformação, linhas de questionamento contínuas
conteúdos de desinformação, e organizações locais e robustas sobre as respostas à pandemia e à
de notícias, que estão particularmente vulneráveis na desinformação, bem como do aumento da prestação
crise), e campanhas de educação em AMI. de contas e da transparência por parte de atores
• Realizar os tipos de investimentos descritos acima políticos, Estados, instituições e setor corporativo.
“sem amarras” e com transparência, para evitar o • Relatar as implicações sobre os direitos humanos
surgimento de intervenções que sirvam apenas de das respostas à pandemia, incluindo aquelas que
exercício de relações públicas. afetam os direitos à liberdade de expressão, ao
• Enfocar a curadoria para garantir que os usuários acesso à informação e à privacidade.
possam acessar facilmente o jornalismo como • Considerar as colaborações investigativas de "caça a
informação verificada e compartilhada de interesse mitos" da desinformação sobre a COVID-19 com outros
público – principalmente durante a pandemia, mas públicos e outras organizações de notícias – inclusive
também posteriormente. no âmbito internacional. Parcerias com públicos
• Trabalhar para aumentar a visibilidade de conteúdos associados também podem ter êxito.
de notícias confiáveis e compensar financeiramente • Ampliar os limites da inovação no contexto de
produtores de notícias cujos conteúdos beneficiam seus paralisações das redações e escassez de pessoal,
negócios, principalmente porque muitas organizações produzindo informações sobre saúde pública em
de notícias removeram o acesso pago e outras barreiras formatos mais amplamente acessíveis e atraentes,
de acesso a conteúdos durante a pandemia. como infográficos, podcasts e fóruns online
• Evitar a dependência excessiva quanto à automação, mediados por especialistas médicos, e aumentando
principalmente na moderação de conteúdos, a confiança em conteúdo gerado por usuários (User
atividade em que há a necessidade de expandir o Generated Content – UGC), que tenha sido submetido a
processo de revisão humana, e monitorar de forma uma rigorosa verificação dos fatos.
transparente o impacto da escassez de pessoal • Garantir que as experiências em vários países em
induzida pela pandemia, com vistas a resolver os desenvolvimento não sejam negligenciadas na
problemas de reparação. cobertura da desinfodemia.
• Aplicar as lições aprendidas durante a urgente • Garantir a preparação da equipe para os riscos de
resposta à desinfodemia da COVID-19 à desinformação segurança associados à realização de reportagens
política que ameaça a democracia internacionalmente. sobre a desinfodemia, por exemplo, aumento de
ameaças à segurança, abuso online e ataques físicos,
incluindo a ênfase na sensibilidade de gênero.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Grupos da sociedade
civil poderiam:
• Reforçar o apelo por respostas à desinfodemia,
para estar em conformidade com os padrões
internacionais de direitos humanos.
• Realizar parcerias com jornalistas e organizações
de notícias em projetos de investigação e
monitoramento da desinformação sobre a COVID-19
e suas respostas.
• Fortalecer o desenvolvimento de projetos de AMI, e
de programas de apoio ao jornalismo independente.
• Trabalhar de forma colaborativa uns com
os outros para garantir que organizações
intergovernamentais respondam de forma
adequada à desinfodemia e a seus impactos. O programa do mandato da UNESCO em
• Considerar programas voltados para crianças, Comunicação e Informação é cada vez mais
bem como para idosos, que recebem atenção relevante em relação à desinfodemia. Seu
insuficiente por parte das campanhas de AMI e, trabalho atual envolve:
portanto, são mais suscetíveis à exploração por • Liberdade de expressão e segurança de
agentes da desinformação. jornalistas – promoção do jornalismo
livre, plural, independente, seguro e de
Pesquisadores poderiam: qualidade, que é um antídoto contra a
• Reorientar seus planos de pesquisas para a desinformação (e também para reações
desinfodemia, as respostas a ela e seus impactos. exageradas que possam restringir a
expressão de forma injusta).
• Estudar formatos pouco pesquisados, como jogos
interativos, por meio dos quais a desinformação • Acesso à informação – promoção da
e suas contramedidas podem atingir os jovens de transparência e da divulgação proativa
maneira efetiva. por parte dos governos, que ajudam a
• Participar de projetos de Pesquisa de Ação produzir informações legítimas de origem
Participativa que respondam a incidentes oficial como uma alternativa aos boatos e
importantes relacionados à desinfodemia, e que às mentiras.
possam fornecer suporte urgente e prático. • Inovação digital e tecnologias – análise
• Colaborar com jornalistas, organizações de notícias sobre como a tecnologia produz, prioriza,
e grupos da sociedade civil em projetos que ajudem compartilha e avalia a informação (e a
a revelar e combater a desinformação, juntamente desinformação).
com exercícios de monitoramento e avaliação • Desenvolvimento da mídia e sociedade
voltados para as respostas à desinfodemia. – promoção da resiliência por meio de
• Estudar campanhas de multiplataformas de AMI, promovendo a igualdade entre
desinformação, para obter uma perspectiva mais gêneros dentro e entre todas as mídias,
completa e holística da desinfodemia. e a mídia comunitária como fator
essencial ao pluralismo.
• Realizar uma avaliação independente quantitativa
e qualitativa, bem como o monitoramento contínuo
das respostas à COVID-19, implementadas pelas
empresas de comunicação na internet.
• Garantir que a expertise feminina seja visível, como
uma forma de abordar as desigualdades de gênero
nos debates internacionais sobre a desinfodemia.

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O que a UNESCO está
fazendo sobre a desinfodemia
Em resposta à crise, o Setor de Comunicação e Informação da UNESCO tem
reforçado seu trabalho em relação às dimensões de “oferta”, “demanda” e
“transmissão” da desinfodemia.
No “lado da oferta”, o Setor está trabalhando para mostrar que, para
combater boatos, os governos devem valorizar a transparência e aumentar
a divulgação proativa, bem como a disponibilização de dados abertos, de
acordo com a lei e a política do direito à informação. Isso porque o acesso
à informação de origem oficial é essencial para se ter credibilidade nas
comunicações durante uma crise.
Ao mesmo tempo, essa área importante da ação no “lado da oferta” não
substitui a informação que é produzida pelos meios de comunicação.
Portanto, o Setor precisa persuadir as autoridades a considerar o jornalismo
livre e profissional como um aliado na luta contra a desinformação.
Especialmente porque os meios de comunicação trabalham abertamente
no espaço público, enquanto muita desinformação ocorre "por baixo dos
panos", em aplicativos sociais de mensagens, e não é fácil responsabilizar os
envolvidos. A campanha pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em 3 de
maio de 2020, reforçou o reconhecimento de que o jornalismo imparcial sem
medo é especialmente vital durante a pandemia.
Como parte da campanha, a UNESCO – bem como outros atores da ONU – pede
aos governos que não imponham restrições sobre a liberdade de expressão que
possam prejudicar o papel essencial do jornalismo independente. Ao contrário,
os Estados são estimulados a reconhecer o jornalismo como um poder contra
a desinformação – mesmo quando ele produz informações comprovadas
e opiniões fundamentadas que irritam algumas pessoas no poder. O Setor
de Comunicação e Informação da Organização também tem compartilhado
boas práticas, como o reconhecimento oficial das mídias como um serviço
fundamental neste momento, e que – com ressalvas à independência e à
transparência – merece o apoio governamental durante esses tempos tão
turbulentos em termos econômicos.
A UNESCO também trabalha para fortalecer o profissionalismo do
jornalismo na cobertura desta crise. Um apelo à cooperação com a
Associação Internacional de Pesquisa em Mídias e Comunicações (IAMCR)
publicou 20 traduções da publicação “Jornalismo, fake news e desinformação:
manual para educação e treinamento em jornalismo”. Um curso aberto online
massivo e multilíngue está sendo desenvolvido com a Cátedra da UNESCO em
Comunicação da Universidade de Austin, no Texas (EUA).
Com relação à “transmissão” da desinformação, a UNESCO está trabalhando
para promover a universalidade da internet como uma forma de alinhar o
desenvolvimento digital com o desenvolvimento sustentável. Isso envolve
promover normas com base nos princípios ROAM acordados por seus
Estados-membros. A Organização também trabalha com empresas de
internet, governos, sociedade civil e outros atores para assegurar que a
internet respeite os direitos humanos de maneira aberta, acessível a todos
e regulada por meio de processos com muitos stakeholders. A série de
publicações sobre liberdade na internet da UNESCO fornece indicadores
sobre como redes digitais podem respeitar a liberdade de expressão e a
privacidade e, ao mesmo tempo, evitar discursos de ódio e radicalização do
extremismo violento que vêm combinados com a desinformação.

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Tratando do “lado da demanda”, a UNESCO está circulando mensagens
importantes sobre saúde pública, em parceria com agências como a OMS,
para fornecer fatos legítimos que podem contradizer inverdades com
informações verdadeiras. Essa atividade está sendo implementada por meio
de redes nas mídias, incluindo rádios comunitárias e emissoras públicas, e
por meio dos próprios canais das redes sociais da UNESCO.

A UNESCO também está construindo resiliência no público, intensificando


suas iniciativas online de AMI. Esses passos cultivam o pensamento
crítico e a participação consciente nas comunicações. Por exemplo, por
meio de vários parceiros, a Organização está intensificando sua promoção
das hashtags #PenseAntesDeCompartilhar, #PenseAntesDeClicar, e
#CompartilheConhecimento.

Um hackathon global, CodeTheCurve, em parceria com a IBM e a SAP, recrutou


jovens de todo o mundo para propor soluções tecnológicas para ajudar
a combater a crise. Instituições do patrimônio documental estão sendo
mobilizados para fornecer perspectivas sobre como pandemias anteriores
foram tratadas e o que se aprendeu com elas. Quatro projetos especiais
foram aprovados pelo Programa Internacional para o Desenvolvimento de
Comunicações da UNESCO, para apoiar respostas jornalísticas ao coronavírus
na África Oriental, Sul da África, na Índia e em todo o Caribe. Atividades para
promover a ciência aberta e Recursos Educacionais Abertos (REA), assim
como inovação em tecnologias digitais por meio de campanhas em torno de
#DontGoViral e #ShareInformation, também fazem parte desse cenário.

O Setor também trabalha na Comissão de Banda Larga, que reconheceu a


importância do acesso à informação na resposta à crise, e está supervisionando
a pesquisa para o Grupo de Trabalho sobre Liberdade de Expressão e
Desinformação da Comissão.

De todas essas formas, a UNESCO promove a visão de que os direitos à


liberdade de expressão e acesso à informação são soluções fortes para os
perigos da desinformação.

São esses direitos que permitem que governos e o público tomem decisões
com base em evidências sobre a política e a prática, e para implementar e
monitorar respostas à pandemia que são fundamentadas tanto na ciência
quanto nos valores dos direitos humanos. Com base nisso, o trabalho da
UNESCO sobre informação e comunicações pode ajudar a humanidade a
superar os desafios atuais da melhor forma possível.

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Desinfodemia: Dissecar as respostas à desinformação sobre a COVID-19

Metodologia
Os dados e fatos apresentados aqui são o resultado profissionais da saúde, ONGs, laboratório de ideias
de uma pesquisa documental realizada pelas ou centros de estudos (think tanks), bem como em
autoras, com contribuições fornecidas pelos publicações acadêmicas. As palavras-chave usadas
seguintes colaboradores deste estudo: Denis incluíram desinformação, informação incorreta,
Teyssou (AFP), Clara Hanot (EU Disinfo Lab), Trisha COVID-19, coronavírus, epidemia e pandemia.
Meyer (Vrije Universiteit Brussel), Sam Gregory A pesquisa buscou utilizar fontes relativas a países
(Witness) e Diana Maynard (University of Sheffield). de todos os continentes, incluindo, sempre que
A conjunto de dados sobre o qual os resultados possível (de acordo com as capacidades linguísticas
se baseiam consiste em uma amostra de mais de das pesquisadoras), materiais em outras línguas
200 artigos, resumos de políticas e relatórios de que não a inglesa. Essas fontes coletadas foram
pesquisa. Esse conjunto de dados foi identificado agora agregadas a uma base de dados que será
pelas pesquisadoras, que, sistematicamente, continuamente atualizada e com acesso público
realizaram buscas em bases de dados públicas disponível aqui . Enquanto a desinfodemia
e selecionadas pela International Fact Checking se move rapidamente e é vasta em escala, este
Network (IFCN) do Poynter Institute, pelo Índice de resumo de políticas representa os resultados
Censura, pelo Instituto Internacional de Imprensa da pesquisa feita com base em um apanhado de
(IPI), e pela First Draft News, juntamente com materiais originais contidos nessa base de dados a
os sites de meios de comunicações, governos partir de 10 de abril de 2020.
nacionais, organizações intergovernamentais,

Sobre as autoras

Dra. Julie Posetti é a diretora-geral de pesquisa do


Centro Internacional de Jornalistas (ICFJ). Também é
pesquisadora sênior afiliada ao Centro de Liberdade
de Mídia (CFOM) da Universidade de Sheffield, e do
Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo na
Universidade de Oxford.

Profa. Kalina Bontcheva é professora de ciências


da computação na Universidade de Sheffield e
membro do Centro de Liberdade de Mídia (CFOM)
da mesma universidade.

Resumo da políticas 1
DESINFODEMIA:
Decifrar a desinformação
sobre a COVID-19 Este resumo de políticas recebeu o apoio do Centro
Internacional de Jornalistas (ICFJ), que está ajudando
jornalistas a trabalharem na linha de frente da
desinfodemia em todo o mundo, a fim de garantir
que informações precisas, confiáveis e comprováveis
cheguem às comunidades em todos os lugares.

Publicado em 2020 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura,7, place de
Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, France© UNESCO. Este informativo de políticas está disponível em Open Access sob
a licença Attribution-ShareAlike 3.0 IGO (CC-BY-SA 3.0 IGO). Ao utilizar o conteúdo desta publicação, os usuários
aceitam as condições dos termos de uso do repositório de Acesso Aberto da UNESCO. As denominações usadas e
a apresentação de material em toda esta publicação não implicam a expressão de qualquer opinião por parte da
UNESCO com respeito ao status jurídico de qualquer país, território, cidade ou área, ou de suas autoridades, ou a
respeito da delimitação de suas fronteiras ou limites. As ideias e opiniões expressas nesta publicação pertencem
aos autores; elas não são necessariamente as da UNESCO e não comprometem à organização.

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