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22 de Fevereiro de 2022

Viúva e meeira são a mesma coisa?

Publicado por Custódio & Goes Advogados há 2 anos  43,1K visualizações

Existe muita confusão e questionamentos com relação ao cônjuge


sobrevivente ser meeiro e/ou herdeiro de seu cônjuge falecido (de cujus).

Para findar tal questionamento é necessário informar que meação e


herança não são a mesma coisa, sendo a primeira o direito a metade dos
bens comuns do casal e a segunda é o conjunto de bens deixados pelo
falecido, os quais, com o seu falecimento, são transmitidos aos seus
herdeiros legítimos e testamentários de forma automática. Ainda, a fim de
determinar o que cabe ao cônjuge sobrevivente, é preciso analisar fatores
como o regime de bens adotado no casamento e a época de aquisição do
bem a ser partilhado.
Primeiramente, é fundamental aclarar quem são os herdeiros deste
patrimônio. Assim, preconiza o art. 1.829 do Código Civil, que são os
herdeiros legítimos do falecido (de cujus), na seguinte ordem:

I – os descendentes (filhos e netos), em concorrência com o cônjuge


sobrevivente, salvo nos casos previstos em lei;

II – os ascendentes (pai, mãe, avós e bisavós), em concorrência com


o cônjuge sobrevivente;

III – o cônjuge sobrevivente;

IV – os colaterais (irmãos, tios, sobrinhos, primos).

Num segundo momento, devemos analisar qual o regime de bens contraído


no casamento e qual tipo de bens compõem o espólio do falecido, pois são
esses pontos que determinarão se o cônjuge sobrevivente é meeiro e/ou
herdeiro.

No regime de comunhão parcial, o mais comum no Brasil, comunicam-


se os bens adquiridos na constância do casamento, isto é, o cônjuge
sobrevivente será meeiro dos bens adquiridos conjuntamente, além disso,
na comunhão parcial será herdeiro dos bens particulares (adquiridos antes
do casamento, tão somente pelo falecido), vejamos:

Exemplo 1

João e Maria se casaram sob o regime de comunhão parcial de bens e


adquiririam uma casa no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),
tiveram dois 2 (dois) filhos, Vitor e Pedro, e não possuíam bens anteriores
ao casamento.

Com a morte de João, que não deixou testamento e nem tinha outros filhos
além de Vitor e Pedro, Maria não será herdeira e terá direito a 50% do
patrimônio do casal, ou seja, é apenas meeira. Os outros 50% serão
partilhados entre os filhos do falecido, na proporção de 25% para cada um.

Exemplo 2
João e Maria se casaram sob o regime de comunhão parcial de bens e
adquiririam uma casa no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),
tiveram dois 2 (dois) filhos, Vitor e Pedro, e João possuía um terreno
avaliado em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), o qual foi adquirido antes
do casamento.

Com a morte de João, que não deixou testamento e nem tinha outros filhos
além de Vitor e Pedro, Maria terá direito a 50% do patrimônio do casal, ou
seja, será meeira, sendo metade da casa de que foi adquirida na constância
do casamento, os outros 50% será repartido entre os filhos, na proporção
de 25% para cada um. Além disso, com relação ao terreno de R$
200.000,00 (duzentos mil reais), Maria concorrerá com os seus filhos na
qualidade de herdeira, restando para cada um a proporção de 33,33% do
bem.

Nesse caso o cônjuge sobrevivente será meeiro e herdeiro do patrimônio do


cônjuge falecido.

Assim, temos que o cônjuge sobrevivente só será herdeiro se houver bens


particulares do cônjuge falecido, isto é, adquiridos apenas por esse antes do
início do matrimônio, do contrário será somente meeiro.

Já no regime de comunhão universal de bens, comunicam-se todos os


bens do casal, adquiridos antes e depois do matrimônio, formando um
único patrimônio. Nesse regime o cônjuge sobrevivente será somente
meeiro dos bens, não possuindo a qualidade de herdeiro.

Na separação obrigatória, ou seja, aquela que a lei impõe para o


casamento válido o regime de separação total de bens, os bens de cada
cônjuge não se comunicam, logo não há meação, pois não há bens em
comum. Ademais, só haverá direito à herança se o cônjuge falecido não
tiver herdeiros descentes, contudo, se houver herdeiros ascendentes
receberá uma parte da herança. Assim, só receberá a integralidade da
herança se não houver nenhum herdeiro necessário vivo.

Por fim, a separação total de bens nenhum bem se comunica, tantos os


adquiridos antes quanto na constância do casamento, salvo se adquirirem
conjuntamente um bem. Por tal fato, o cônjuge sobrevivente, não é meeiro,
uma vez que não existe patrimônio comum, porém concorrerá ao seu
quinhão na herança com os descendentes na sucessão. Não havendo
descendentes, o cônjuge sobrevivente, concorrerá com os ascendentes,
conforme determinam os artigos 1.836 e 1.837 do Código Civil, e na
ausência de descendentes ou ascendentes, herdará a totalidade da herança.

Assim, temos que o cônjuge viúvo pode ser tanto meeiro quanto herdeiro,
pode ser somente herdeiro ou somente meeiro e pode ser os dois, meeiro e
herdeiro, tudo dependerá do regime de bens adotado pelo casal.

O tema detém algumas particularidades, como em casos de testamentos,


bens oriundos de herança e/ou doação, pacto antenupcial, bem como a
existência ou não de herdeiros que surgem após findada a partilha, os quais
serão tratados em outros artigos.

_______________

Evelise Goes, advogada e sócia do Custódio & Goes Advogados

Disponível em: https://custodiogoes.jusbrasil.com.br/artigos/788976342/viuva-e-meeira-sao-a-


mesma-coisa

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