You are on page 1of 7
INCENDIO E ENSAIOS EM ne ESTRUTURAS DE CONCRETO L. A. FALCAO BAUER! R. J. FALCAO BAUER? A.1. RESUMO Este trabalho mostra os efeitos de incéndio nas estruturas de concreto, enfatizando a necessidade de melhor conhecimento, através de ensaios técnicos, dos danos causados, para a determinagao da terapia a ser utilizada na restauragdo da estrutura, As perdas com incéndios constituem uma carga crescente em todos os paises influindo diretamente na economia nacional. As mortes, familias desabrigadas ¢ desemprego produzido Por incéndlios constituem uma carga social que nao pode passar despercebida. AS perdas por incéndios custaram aos pafses europeus centenas de milhdes de délares durante o ano de 1974. As perdas mais elevadas ocorreram na Alemanha (RFA), Reino Unido e Franca, aleangando um total de 370 milhdes de délares, Na Suécia e Holanda o custo dos incén. dios foi de 25 milhées de délares em cada pats e na Noruega, Grécia e Dinamarca, 15 milhdes de dolares em cada um. Na Itélia ena Espanha, as perdas foram de 27 milhdes e 14 milhdes de délares, respectivamente. pos a ocorréncia de um incéndio, em um edificio de estrutura de concreto armado, 0 aspecto geral, principalmente para o proprietario e leigos, parece indicar que a tinica decisao a tomar € sua demolig&o e reconstrugao. © custo total pode ser realmente muito elevado, porém em sua maior parte é decorrente da perda, pela paralisagdo do negécio ou atividade, desde o incéndio até o reinicio normal de atividade, seja industrial, comercial, bancéria, seja residencial, fora a perda de estoques, equi- Pamentos ou arquivos importantes, e mudanga proviséria. Os prazos de paralisagdo sio varid. veis, em geral de seis meses a dois anos. © levantamento das perdas e a verificagdo das necessidades de reparos devem ser realizados a mais répido posstvel, porém o trabalho técnico deve ser preciso e depende de um criterioso exame da estrutura danificada, elemento por elemento, a fim de se ter uma avaliagdo dos danos, a magnitude dos mesmos, a influéncia sobre os outros elementos es. ‘ruturais e, em definitivo, a resisténcia em que se encontra a estrutura, determinado através, porter do Departamento de Tecnologia — Sindicato da Indstia da Construgdo Civil de Grandes Esiaturas no Estado de St0 Paulo: Vice-Presidente da Associagaio Paulista de Empreiteiros de Obras Pablicas-SP. Dirsior da L.A. Faleio Bauer - Centro Tecno}6gio do Controle da Qualidade e Professor da Universidade de-Tauboté-UNITAU. 466 / MATERIAIS DE CONSTRUGAO da inspegdo técnica e ensaios complementares dos materiais, com vistas a projetar a repa- ragdo e ou reforgo necessério. A primeira fase é a limpeza do entulho e da eliminagao da fuligem e fumaga que es- curecem totalmente a estrutura ¢ 0 proprio ambiente, e em geral apés esta primeira fase ja se nota que o dano estrutural, é na realidade, muito menor do que se estimava, desde que, o edificio tenha sido executado corretamente, seu projeto arquitetdnico e célculo estrutural atendendo as boas técnicas, ¢ sua execucdo adequada, seja quanto a dimensio- namento, prumadas, nivelamento, cobrimento de ferragem, qualidade dos materiais em- pregados etc. As estruturas de concreto armado sofrem com 0 incéndio, porém, é reconhecido tecnicamente, que sofrem menos do que outros tipos de estrutura que estivessem sob a mesma intensidade do fogo, seja em temperatura, ou em duragio. Na realidade, os danos causados pelo fogo, em uma estrutura de concreto, depen- dem de dois fatores bisicos: a temperatura alcangada no concreto, e 0 tempo de exposi- ¢40 ao fogo no local. Estes fatores dardo profundidade atacada, ja que o concreto, sendo mau condutor de calor, apresenta um gradiente acentuado de queda da temperatura no seu interior, conforme se pode verificar no grafico abaixo: largura da pega do menor dimensio a 1200 1.000: cobrimento minimo 800. 600} 1 1 i | Temperaturas provéveis It t i Gréfico caracteristico NOTA: Concreto com agregado de granito, cimento CP 320, a/c 0,60 INCENDIO E ENSAIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO / 467 Em geral, 0 tempo de duracdo de um incéndio € curto, quer pelas medidas de pre- venedo adotadas nas grandes concentragSes urbanas, jé regulamentadas em lei, quer pela Protege do Corpo de Bombeiros especializado, e até mesmo em algumas cidades, por ivis devidamente treinados e organizados em Defesa Civil. Isto implica em baixas temperaturas alcangadas no interior do concreto. As temperaturas alcangadas no edificio podem ser identificadas pelo exame de vé- ios materiais encontrados, e que ficaram expostos, através de seu estado quanto ao aspec- to de amolecimento, ou de fusio, conforme tabela em anexo: Fusdo ~ zinco 419°C — niquel 1455°C — lato 900°C ~ borracha 100°C — cristal (janelas) e vidro 1100°C a 1400°C (cristal amolecimento) 700°C — chumbo 327°C — aluminio 660°C — bronze 900°C — ago 1400°C = PVC temperatura maxima do servigo 65°C — plasticos Polietileno temperatura maxima do servigo 120°C Poliuretano temperatura maxima do servigo 60°C — fios elétricos (cobre) 1083°C — prata 960°C — estanho 232°C Através do exame de equipamento de uma maquina de escrever de escritério: por exemplo, composta por vérios materiais (pldstico, aluminio como virios metais), pode-se avaliar com boa aproximagdo, a temperatura alcancada, pela fusdo ou amolecimento dos mesmos. 0 tereeiro fator é © material utilizado na extingdo do incéndio, jé que muitas vezes © choque térmico produzido pelo jato de dgua da rede de hidrante, provoca maiores danos 40 concreto do que o proprio fogo, pois o choque térmico e a reidratagdo do Ca (OH),, com inchamento produzido pela égua no conereto, provoca um grande fissuramento ¢ destaca, em geral, o concreto que estd cobrindo 0 ago, deixando-o exposto. E em laboratério especializado, através de téenicos experientes, que se determina qual a profundidade do ataque a0 concreto, 0 comportamento atual das armaduras de 20, ou seja a parcela resistente dos materiais, e conseqiientemente, consultando-se os En- genheiros Estruturais, pode-se precisar a magnitude dos danos e conseqiientemente os re- paros a serem realizados, Temos realizado experiéncias em laboratério e examinado com certa freqiiéncia, a Perda de resistencia do concreto submetido a aquecimento, em fornos especiais a varias temperaturas. 468 7 MATERIAIS DE CONSTRUGAO Para o exame do efeito da queda de resisténcia em fungdo da temperatura externa e profundidade, retira-se cilindros de concreto e submetem-se a ensaio de compressio sim- ples. Desta maneira, pode-se obter dados, que para determinados agregados, cimento, rela- ¢Go dgua/cimento e temperatura externa, tempo de exposigdo tém o aspecto do grafico abaixo: 100 RESISTENCIA INICIAL 5 cere ep yal cespessura do cobrimento concrete Quanto ao concreto: TEMPERATURA | RESISTENCIA ro (9) OBSER VAQOES 0 — 100°C 100% No hd variago na qualidade 100° - 200°C 100% Perda de agua livre e capilar 200° 300°C 100% Toda agua capilar é perdida 300° — 400°C 0% Fissuras superficiais, + 10 mm 100% Interior com integral resisténcia Ca (OH), perde égua, pela reidratagio 400° — so0°c - (agua) ha inchamento, choque térmico e desagregacdo As diferencas de coeficiente de dilata- 00” — 600°C = Gio térmica entre agregado e pasta pro- voca desagregacdo: Se 0 ugregado & CaCo, (caleario), 0 600°C - CD? € liberado e se transforma em CaO com perda total de resisténcia Como se pode notar, a temperatura critica ao concreto, é de ordem de 350°C. E muito difundida em bibliografias, cuja origem ndo pudemos detectar, uma tabela relacionando cores do concreto, quando submetido ao fogo e depois de resfriado nor- INCENDIO E ENSAIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO / 469 malmente ¢, a temperatura externa a que foi submetido. Procuramos em laboratério obter variagdes de cores para verificar a veracidade dos dados, tanto em fornos elétricos, Ou a dleo, ¢ nao obtivemos, para concretos preparados em agregados de granito, em dosa. Bens comuns para estruturas com resisténcia caracteristica entre fok 15,0 a 18,0 MPa, nenhuma variaao de cor. Quanto ao aco, ocorre um aumento da resisténcia mecanica, aproximadamente 30% 4 temperatura da ordem de 250° a 400°C, a resisténcia do ago se iguala a resisténcia ini- cial, ¢ daf, a resistencia a quente cai a cerca de 20% e depois de resfriado volta a cerca de 90% da resisténcia inicial. Este ensaio é feito em fornos elétricos que envolvem a amostra de barra de ago, durante o ensaio a tragao. 150 + Aco zZ é 2 \ zi RESISTENCIA | < . | TP LEsFaiavo < \ s \ é | \ g Ps RESISTENCI, i SS. QUENTE 8 ® < — ° | 4 © 100 200 300 400 500 1000 *e TEMPERATURA Como curiosidade, até que se possa comprovar a veracidade, consta da tabela abaixo Teproduzida de livros técnicos, palestras, teses de mestrado e doutoramento, a correlagao entre temperaturas, tonalidades do concreto, e % da resisténcia. TEMPERATURAS RESISTENCIAS ic CORES E OBSERVACOES = 100% da resisténcia au cine mecanica 300 ~ 600° rosa 60% da resisténcia (bastante so) cinza com 600 — 900° Pontos 30% da resisténcia vermelhos | (friével) 900 _ sem resisténcia 470 / MATERIAIS DE CONSTRUGAO 150 —T CONCRETO < = > ze 3 =z 100 « = 3S 2 # 2 g@ 50 c w a x ROSA OU VER- — cINZA+ a ie cm pad la rs INZ A | 0 100 200 300 400 500 1000 °c TEMPERATURA Apés a ocorréncia do incéndio, se faz necessério avaliar a situago da estrutura sen- do que o primeiro e mais importante passo, é 0 exame detalhado da mesma, por uma equipe técnica, devidamente treinada e experiente, nos campos de: © concreto e seus constituintes cdlculo estrutural © reparos Esta inspegao ou exame inicial, tem como objetivo conhecer ou detectar os seguin- tes itens: Qual o problema; Quais as causas que o produziram; Que reservas de resistencia restaram; O que deve ser recuperado; Avaliagdo das quantidades a serem recuperadas; Quais os métodos de recuperagdo que poderdo ser utilizados; Escolha do método mais eficiente, tecnicamente e mais econdmico (fator custo- beneficio, durabilidade). Na inspegdo de uma obra danificada, deverdo ser utilizados os seguintes equipa- mentos: 1 — Maquina fotogréfica, equipada. com lentes especiais (tela, macro, micro) e de iluminagdo adequada; 2 — Lupa éptica com campo de ampliagao de 25 a 50 vezes; 3 — Fissurémetro, de preferéncia plastico, transparente ou nfo; INCENDIO E ENSAIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO/ 471 4 — Talhadeira, ponteiro e martelo, para escarificar e/ou golpear partes de concre- to solto ete.; Jato de ar ou gua para limpeza; 6 — Esclerometro, devidamente calibrado para avaliagdo da resisténcia superficial, a compressa do concreto; 7 — Ultra-som, para exame da homogeneidade do concreto e detectar eventuais vazios internos nos elementos estruturais; 8 — Determinagao de deformacdes, através de extensOmetros de preciso, varian- do de 0,1 20,001 mm; 9 ~ Pacdmetro, capaz de localizar barras de ago no interior da pega de concreto, informando sua direcao, bitola e cobrimento; 10 — Extensometro, para determinagéo das distensbes (encurtamentos ou alonga- mentos) das fibras através de aparelho mecdnico (Huggenberger), ou eletroni- co (strain gauges), em pecas de concreto e barras de ago: 11 — Provas de cargas realizadas de acordo com as Normas Brasileiras antes e depois dos reparos para verificagao das condigoes técnicas, aw ' Para 0 ago, os ensaios bisicos sio ainda trago e dobramento, de amostras represen. tativas, retiradas com a indicagdo ¢ aprova¢o dos Engenheiros Estruturais. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. ROSSO, T. Efeitos dos incéndios nas propriedades do aco de construco © no comportamento das estruturas, Engenharia, Sao Paulo (411): 30-38, out/nov. 1978. FERREIRA, S.G. Ago do incéndio nas estruturas de concreto armado — conseqiténcias ¢ recuperagdo. Sio Paulo, IBRACOM, 1978. PETRUCCI, E. Verificagio de estruturas submetidas a acio de incéndios. PELLEGRINO, J. C. Pericia sobre o incéndio do Edificio Joelma, Avaliagdo dos prejuizos. JAMES, M. L. & TIMPSON, D. J. Fire damaged concrete structures — rebuild or repair? Concre- te, London, 6 (6):22-27, junho de 1972. MELL, R. & TIMPSON, D. J. Fire damaged concrete structures rebuild or repair? Concrete, London, (6):22-27, junho de 1972. ALMEIDA, D. F. Patologia das estruturas de concreto armado submetidas a incéndios. lo, IBRACOM, 1978. io Pau- CANOVAS, M. F. Patology y Terapia Del Hormigon Armado, Barcelona, 1986.

You might also like