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Aula 09.09.19
2.3 Pêndulo simples
Há uma classe de osciladores harmônicos simples nos quais a força de retorno está
associada à gravitação, e não às propriedades elásticas de um fio ou de uma mola. Um
pêndulo simples é composto por uma partícula de massa 𝑚 suspensa por uma das
extremidades de um fio inextensível, de massa desprezível e comprimento 𝐿, cuja outra
extremidade está fixa, como indicado na Figura 4. A massa está livre para oscilar no
plano da figura, para a esquerda e para a direita de uma reta vertical que passa pelo
ponto fixo do fio.

Figura 4 – Um pêndulo simples.

As forças que atuam sobre a massa são a tração 𝑇 ⃗ exercida pelo fio e a força
gravitacional 𝑃⃗ = 𝑚𝑔. Decompondo a força gravitacional quando o fio faz um ângulo 𝜃
com a vertical em uma componente radial 𝑚𝑔𝑐𝑜𝑠𝜃 e uma componente tangencial
𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃, temos que a componente tangencial produz um torque restaurador em relação
ao ponto fixo do pêndulo porque sempre atua no sentido oposto ao deslocamento da
massa, tendendo a levá-la de volta ao ponto central. Este ponto (correspondendo a
𝜃 = 0) é chamado de posição de equilíbrio, porque o pêndulo ficaria em repouso neste
ponto se parasse de oscilar. Escrevendo o módulo do torque restaurador na forma:
𝜏 = −𝐿𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 (2.16)
onde o sinal negativo indica que o torque atua no sentido de reduzir 𝜃 e com 𝐿 sendo o
braço de alavanca da componente tangencial da força gravitacional em relação ao ponto
fixo do pêndulo. Como o torque é dado por 𝜏 = 𝐼𝛼, temos que:
𝐼𝛼 = −𝐿𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 (2.17)
onde 𝐼 é o momento de inércia do pêndulo em relação ao ponto fixo e 𝛼 é a aceleração
angular do pêndulo em relação a esse ponto.
Podemos simplificar a equação (2.17) supondo que o ângulo 𝜃 é pequeno (𝜃 ≤ 5°),
pois nesse caso podemos usar a aproximação 𝑠𝑒𝑛𝜃 ≅ 𝜃 (com 𝜃 expresso em radianos), de
modo que:
𝑚𝑔𝐿 (2.18)
𝛼=− 𝜃
𝐼
Esta equação nos diz que a aceleração angular é proporcional ao deslocamento angular 𝜃
com o sinal oposto, de modo que o movimento de um pêndulo simples para pequenos
ângulos de deslocamento pode ser aproximado por um 𝑀𝐻𝑆. Expressando esta restrição
de outra forma, podemos dizer que a amplitude angular 𝜃𝑚 do movimento (o ângulo
máximo de deslocamento) deve ser pequena.
Comparando (2.18) com (2.8), notamos que a frequência angular do pêndulo
simples é:
𝑚𝑔𝐿 (2.19)
𝜔=√
𝐼
2
Substituindo em 𝜔 = 2𝜋⁄𝑇, vemos que o período do pêndulo simples pode ser escrito
como:
𝐼 (2.20)
𝑇 = 2𝜋√
𝑚𝑔𝐿

Como toda massa do pêndulo simples está concentrada na massa 𝑚 (a massa do fio é
desprezível) que está a uma distância 𝐿 do ponto fixo, 𝐼 = 𝑚𝐿2 , de modo que o período
do pêndulo simples para pequenas amplitudes é:
𝐿 (2.21)
𝑇 = 2𝜋√
𝑔

Exercício 2.12
Suponha que um pêndulo simples é formado por uma massa de 60,0𝑔 pendurada
na extremidade de uma corda de massa desprezível. Se o ângulo 𝜃 entre a corda e a
vertical é dado por 𝜃 = (8,00 × 10−2 𝑟𝑎𝑑)𝑐𝑜𝑠[(4,43𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠)𝑡 + ∅], quais são (a) o
comprimento da corda e (b) a energia cinética máxima da massa suspensa?
Respostas: (a) 𝐿 ≅ 49,9𝑐𝑚; (b) 𝐾𝑚 ≅ 9,38 × 10−4 𝐽.
Solução:
(a) Lembrando que o pêndulo simples executa um 𝑀𝐻𝑆 quando está oscilando, ou
seja, 𝜃(𝑡) = 𝜃𝑚 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜙), temos que se:
𝜃 = (8,00 × 10−2 𝑟𝑎𝑑)𝑐𝑜𝑠[(4,43𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠)𝑡 + ∅]
Então 𝜔 = 4,43𝑟𝑎𝑑⁄𝑠 .
Da expressão para o período um pêndulo simples:

𝐿
𝑇 = 2𝜋√
𝑔
E, lembrando que 𝑇 = 2 𝜋⁄𝜔 , então:
𝑔𝑇 2 𝑔 2𝜋 2 𝑔
𝐿= = ( ) ⇒ 𝐿=
4𝜋 2 4𝜋 2 𝜔 𝜔2
Ou seja:
9,8𝑚⁄𝑠 2
𝐿= ≅ 0,499𝑚 ≅ 49,9𝑐𝑚
(4,43𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠)2
(b) Todo corpo que executa um MHS tem amplitude de velocidade (velocidade
máxima) dada por 𝑣𝑚 = 𝜔𝑥𝑚 que, no caso de um pêndulo simples corresponde a
𝜃𝑚 = 𝑥𝑚 ⁄𝐿, ou seja,
𝑣𝑚 = 𝜔𝜃𝑚 𝐿
Logo, a energia cinética máxima da massa suspensa é:
1 1
𝐾𝑚 = 𝑚𝑣 2 ⇒ 𝐾𝑚 = 𝑚𝜔2 𝜃𝑚
2 2
𝐿
2 𝑚 2
Substituindo os valores:
1
𝐾𝑚 = (60,0 × 10−3 𝑘𝑔)(4,43𝑟𝑎𝑑 ⁄𝑠)2 (8,00 × 10−2 𝑟𝑎𝑑)2 (0,499𝑚)2 ≅ 9,38 × 10−4 𝐽
2
3
Exercício 2.13
Uma artista de circo, sentada em um trapézio, está balançando com um período
de 8,85𝑠. Quando fica de pé, elevando assim de 35,0𝑐𝑚 o centro de massa do sistema
𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 + 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎, qual é o novo período do sistema? Trate o sistema 𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 + 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎
como um pêndulo simples. Resposta: 𝑇 ′ ≅ 8,77𝑠.
Solução:
Tratando o sistema 𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 + 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎 como um pêndulo simples, quando a artista
está sentada no trapézio o período será:

𝐿 𝑔𝑇 2
𝑇 = 2𝜋√ ⇒ 𝐿=
𝑔 4𝜋 2

Quando a artista fica de pé, o centro de massa do sistema 𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 + 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎 se


eleva de modo o novo comprimento do pêndulo simples será:
𝐿′ = 𝐿 − 𝑑
Assim, o novo período do sistema 𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 + 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎 será:


𝐿′ 𝐿−𝑑 𝐿 𝑑
𝑇 = 2𝜋√ ⇒ 𝑇 ′ = 2𝜋√ = 2𝜋√ −
𝑔 𝑔 𝑔 𝑔

𝐿 𝑑 1 𝑔𝑇 2 𝑑 𝑇2 𝑑
𝑇 ′ = 2𝜋√ − = 2𝜋√ ( 2 ) − ⇒ 𝑇 ′ = 2𝜋√ 2 −
𝑔 𝑔 𝑔 4𝜋 𝑔 4𝜋 𝑔

Substituindo os valores:


(8,85𝑠)2 35,0 × 10−2 𝑚
𝑇 = 2𝜋 √ − ≅ 8,77𝑠
4𝜋 2 9,8𝑚⁄𝑠 2
2.4 Pêndulo físico
Ao contrário do pêndulo simples, um pêndulo real, frequentemente chamado de
pêndulo físico, pode ter uma distribuição complicada de massa. Surge então a questão:
Um pêndulo físico também executa um 𝑀𝐻𝑆? Caso a resposta seja afirmativa, qual é o
seu período?
A Figura 5 mostra um pêndulo físico arbitrário deslocado de um ângulo 𝜃 em
relação à posição de equilíbrio. A força gravitacional 𝑚𝑔 está aplicada ao centro de
massa localizado em 𝐶, a uma distância ℎ do ponto fixo 𝑂. Diferente do pêndulo
simples, no pêndulo físico o braço de alavanca da componente restauradora 𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 da
força gravitacional é ℎ, e não o comprimento 𝐿 do fio. Sob todos os outros aspectos a
análise do pêndulo físico é idêntica à análise do pêndulo simples. Assim, para pequenos
valores de 𝜃𝑚 o movimento é, aproximadamente, um 𝑀𝐻𝑆.
Substituindo 𝐿 por ℎ em (2.20), podemos escrever o período do pêndulo físico
como:
𝐼 (2.22)
𝑇 = 2𝜋√
𝑚𝑔ℎ

Como no pêndulo simples, 𝐼 é o momento de inércia do pêndulo físico em relação ao


ponto fixo 𝑂. Embora 𝐼 não seja mais igual a 𝑚𝐿2 (pois depende da forma do pêndulo
físico), ainda é proporcional à massa 𝑚.
4

Figura 5 – Um pêndulo físico. A componente


𝐹𝑔 𝑠𝑒𝑛𝜃 move o pêndulo de volta para a posição
de equilíbrio. Fonte: Halliday et al, 2016, p.234.

Devemos notar que um pêndulo físico não oscila se o ponto fixo é o centro de
massa localizado no ponto 𝐶 da Figura 5. Formalmente, isso corresponde a fazer ℎ = 0
em (2.22) onde, nessa situação teríamos 𝑇 → ∞, o que significa que o pêndulo jamais
chega a completar uma oscilação.
Outro fato importante a ser considerado é o de que a todo pêndulo físico com um ponto
fixo 𝑂 que oscila com período 𝑇 corresponde um pêndulo simples de comprimento 𝐿0 e
com o mesmo período 𝑇. Podemos usar (2.21) para calcular o valor de 𝐿0 . O ponto do
pêndulo físico que fica a uma distância 𝐿0 do ponto fixo 𝑂 é chamado centro de
oscilação do pêndulo físico para o ponto de suspensão dado.

Exercício 2.14
Uma régua de um metro oscila em torno de um ponto fixo em uma das
extremidades, a uma distância ℎ do centro da régua, conforme indicado na figura a
seguir. (a) Qual é o período de oscilação, sabendo que o momento de inércia da régua
girando em torno do ponto fixo é 𝑚𝐿2 ⁄3? (b) Qual é a distância 𝐿0 entre o ponto fixo 𝑂
da régua e o centro de oscilação? Respostas: (a) 𝑇 ≅ 1,64𝑠; (b) 𝐿0 ≅ 66,7𝑐𝑚.

Solução:
(a) A régua de um metro constitui um pêndulo físico cujo período de oscilação é
dado por:

𝐼 𝑚𝐿2 ⁄3 2𝐿
𝑇 = 2𝜋√ = 2𝜋√ ⇒ 𝑇 = 2𝜋√
𝑚𝑔ℎ 𝑚𝑔(𝐿⁄2) 3𝑔

Substituindo os valores:
5

2𝐿 2(1,00𝑚)
𝑇 = 2𝜋√ = 2𝜋√ ≅ 1,64𝑠
3𝑔 3(9,8𝑚⁄𝑠 2 )

(b) Sabendo que todo pêndulo físico com um ponto fixo 𝑂 que oscila com período
𝑇 corresponde um pêndulo simples de comprimento 𝐿0 e com o mesmo período
𝑇, temos que:
𝐿0
𝑇 = 2𝜋√
𝑔
Igualando os períodos:

2𝐿 𝐿0 2𝐿 𝐿0 2
2𝜋√ = 2𝜋√ ⇒ = ⇒ 𝐿0 = 𝐿
3𝑔 𝑔 3𝑔 𝑔 3

Ou seja,
2
𝐿0 = (1,00𝑚) ≅ 66,7𝑐𝑚
3

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