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UNIVERSIDADE POLITECNICA-APOLITECNICA

Instituto Superior de Humanidade Ciência e Tecnologia

Ritos de Iniciação em Moçambique e os Grupos Étnico

Curso de Psicologia Clínica e de Aconselhamento

Cadeira de Psicologia Transcultural

Quelimane
2022
Deolinda Manuel

Firosa Emilia Candrinho

Lesley Isabel Const

Rosa da Graça Aidão Artur

Ritos de Iniciação em Moçambique e os Grupos Étnico

Trabalho escrito para apresentação e defesa


como parte de avaliação do primeiro teste da
disciplina de Psicologia Transcultural no
Instituto Superior de Humanidades Ciência
e Tecnologia.

Docente: Bastos de Morais Elías

Quelimane
2022
Índice
Capitulo I .................................................................................................................................... 4

1. Introdução ........................................................................................................................... 4

1.1. Objectivo ..................................................................................................................... 5


1.1.1 Objectivo Geral .................................................................................................... 5

1.1.2. Objectivo Especifico ............................................................................................ 5


1.3. Metodologia ..................................................................................................................... 5
Capitulo II ............................................................................................................................... 6
2. Revisao de Literatura ................................................................................................... 6
2.1. Rito de Iniciação .......................................................................................................... 6
2.2. Ritos de iniciação masculina ....................................................................................... 6
2.3. Como decorrem os ritos? ............................................................................................. 6
2.4. Ritos de iniciação feminino ......................................................................................... 7
2.5. Impacto dos ritos de iniciação no sistema educacional em Moçambique ................... 7
2.5.1. Aspectos positivos ................................................................................................ 8
2.5.2. Aspectos negativos ............................................................................................... 9
2.6. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação ................................................... 9
3. Etnia .................................................................................................................................. 10
3.1. Grupos étnicos de Moçambique ............................................................................... 11
Capitulo III ............................................................................................................................... 15
4. Conclusão .......................................................................................................................... 15
5. Referencia bibliográfica .................................................................................................... 16
Instituto Superior de Humanidades Ciências e Tecnologicas/ Psicologia
Clínica 3º Semestre

Capítulo I

1. Introdução

Este trabalho busca reflectir sobre o rito de iniciação em Moçambique em particular, de saber
que o rito de iniciação é um conjunto de cerimónias religiosas diferentemente regulados,
segundo as diversas comunhões ou em diversas sociedades. Ritos de iniciação são cerimónias
de carácter tradicional e cultural praticado nas sociedades africanas que visa preparar o
adolescente para encarar a outra fase da vida, isto é, a fase adulta

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais


específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses
grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos,
etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e
historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas entidades.

De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam


de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas
regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural
desses regimes em Moçambique.

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1.1. Objectivo

1.1.1 Objectivo Geral

 Compreender o rito de iniciação em Moçambique e os seus grupos étnicos.

1.1.2. Objectivo Especifico

 Contextualizar o rito de iniciacao;

 Mencionar os principais grupos étnicos em moçambique;

 Explicar os factores que podem interferir nos ritos de iniciação em Moçambique.

1.3. Metodologia

Para a realização do presente trabalho, usou-se a pesquisa bibliográfica que consistiu na leitura
de diversos manuais sobre o tema em alusao.

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Capítulo II

2. Revisão de Literatura

2.1. Rito de Iniciação

Rito é um conjunto de cerimónias religiosas diferentemente regulados, segundo as diversas


comunhões ou em diversas sociedades. Ritos de iniciação são cerimónias de carácter tradicional
e cultural praticado nas sociedades africanas que visa preparar o adolescente para encarar a
outra fase da vida, isto é, a fase adulta. Visam essencialmente a integração pessoal, social e
cultural do indivíduo, permite ao indivíduo reunir múltiplas influências do seu meio para em
seguida integrá-la na sua maneira de pensar, de agir e de si comportar, o indivíduo participa
activamente nas actividades e na vida do grupo que pertence.

Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira homogénica.


Eles variam de província para província, de região para região, de religião para religião, e de
sexo para sexo. O objectivo destas cerimónias é de preparar os rapazes e as raparigas para a
vida matrimonial e social e com o rito de iniciação os rapazes e as raparigas têm o acesso a
participação e ao conhecimento de certos mistérios.

2.2. Ritos de iniciação masculina

Os ritos de iniciação masculino, eles subscrevem-se em realizar a circuncisão e todas as


actividades a ela inerentes durante o período de preparação, e ensinando aos jovens tudo o que
possa a vir a encontrar na vida e que necessite conhecer para a luta. Alí, aprende-se a sofrer
com resignação todos os martírios que lhe infligirem bem como todas as durezas da vida e, até,
é-se-lhes ensinado a caçar.

2.3.Como decorrem os ritos?

No dia marcado, o jovem em companhia do seu padrinho partem para a mata, segurando uma
perna de galinha com uma shima de mapira ou milho que lhe é dado pela mãe.

Ao longo da caminhada para a mata, a marcha é interropida por um grupo de assaltantes


mascarados que gritam fortemente para assustar os garotos.

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Quando já se aproximam do local escolhido pelo chefe tradicional no meio de uma floresta o
padrinho tapa-lhes os olhos e os tambores e apitos rufam para que lhe não oiça os gritos dos
outros circuncidados.

«Metem-lhes um pauzinho entre os dentes para melhor suportar as dores.

Nisto o Namuko aproxima-se do garoto a “relampago” e corta o perpucio do circuncidado de


uma só vez mesmo que não o atinge não repete. A navalha tradicional usada nesta operação é
antes levada ao fogo para evitar infecções. Depois da operação o namuko deita-lhes um remédio
tradicional para cicatrizar a ferida.

Neste intervalo de tempo, até que a ferida cure o jovem é proibido de comer alimentos salgados,
segundo a tradição, infectária a ferida. Neste periodo não pode, tomar banho e nem tocar na
água. É raro que alguem morra por infecção mas quando alguem morre não se comunica a
família até acabar o período de incubação todo o grupo regressa a casa.

«A mãe fica a saber da notícia no de “Okuma aluka”, ressurgimento do jovem.

2.4. Ritos de iniciação feminino

Uma rapariga só é reconhecida como ser completo depois de ter passado pelos ritos de iniciação,
estes tem como objectivo a formação de mulheres para enfrentar as múltiplas tarefas do lar nos
aspectos de uma futura esposa mãe e produtora de bens materiais em benefício do marido e dos
filhos. As mestras ensinam que a menstruação nada tem de anormal, antes pelo ao contrário de
que em breve pode procriar.

2.5. Impacto dos ritos de iniciação no sistema educacional em Moçambique

A educação tradicional é uma educação não formal. Ela é dada a criança não lhe permitindo
individualizar-se do grupo, visava a formação da personalidade no sentido de dependência no
grupo através do desenvolvimento da sua consciência. Entre os 7 e os 10 anos inicia-se a
separação de sexos, o rapaz vive ao lado do pai, enquanto a rapariga ao lado da mãe. É neste
período que a criança começa progressivamente a participar nas actividades produtivas da
família. A medida que a criança, a separação conforme sexos torna-se cada vez mais nítida, o
rapaz começa a ser integrado na intimidade dos homens, enquanto a rapariga, se mergulha no
misterioso mundo das mulheres.

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Os ritos de iniciação têm lugar por volta dos 10/15 anos e são marcados por acções educativas
mais conscientes. É nessa altura que a educação dos jovens é confiada a alguns membros
designados pela comunidade, compreendendo os fundamentos da vida social, os valores
culturais, costumes e tradições.

Numa estreita ligação com os adultos, os adolescentes aprendem um ofício, são lhes
comunicado os principais segredos da família e da tribo. Assim, o adolescente forjado na
iniciação é um homem completo, ele tem da sua vida e da sua comunidade uma ideia clara e
corrente, sabre o que ou outros esperam e o que deles pode esperar. A educação tradicional dá
ao jovem, um conjunto de conhecimentos utilitários que lhe permitem enfrentar com eficácia e
sem frustrações as dificuldades da vida futura.

Actualmente em Moçambique, a educação tradicional não existe no seu no seu estado puro,
apesar de continuar presente na comunidade. Ao nível das escolas, particularmente nas zonas
rurais a sua presença é notória nas crianças, nas quais se verificam os valores tradicionais
veiculados e defendidos pela família.

Por outro lado que se observa actualmente em grande parte dos jovens nas cidades ou vilas, são
inúmeros casos casos, de má conduta nas escolas, centros internatos e lares, falta de ética, a
aderência a atitudes imorais, o consumo de álcool e drogas, a prática de criminalidade, as
infidelidades conjugais, os divórcios ou ainda as insatisfações sexuais dos casais devido a uma
educação sexual deficiente, podem ser reflexo da decadência da educação tradicional pura.

Com o reconhecimento e valorização da educação tradicional em Moçambique, o sector de


educação vem fazendo respeitar em algumas zonas, a periodização da realização dos ritos de
iniciação de acordo com as zonas, de modo a não chocar intimamente com o calendário escolar
tomando sempre em consideração e respeito que algumas crianças devem participar nos ritos
em pleno período escolar.

2.5.1. Aspectos positivos

 A circuncisão, devido a higiene pessoal que evita possíveis doenças de transmição


sexual;

 Integração social e formação da pessoalidade do indivíduo;

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 Educação cívica moral (respeito aos mais velhos, aos lugares sagrados, aos mortos);

 Educação sexual e matrimonial.

2.5.2. Aspectos negativos

 Os procedimentos para o acto de circuncisão é demasiado doloroso, aliado ao uso de


instrumentos cortantes não adequados;
 O elevado risco de vida dos iniciados ao mergulhar na água, durante o isolamento ficam
a mercê dos animais ferozes e frio;
 Preparação da mulher para total submissão ao marido, negando-lhe emancipação;
 Educação ao homem para manifestação do poder autoritário;
 Não adequação do programa dos ritos de iniciação com o calendário escolar;
 Longo período de permanência nos ritos de iniciação para os rapazes;
 Separação dos trabalhos caseiros e outros por sexo;
 Limitação da dieta alimentar (não consumo de ovos, fígado, moela, etc.).
2.6. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação

A educação tradicional em moçambique através dos ritos de iniciação é complexo e multiforme


devido essencialmente as diversas culturas, como o ilustram as diferentes línguas que abundam,
alicerçado pela vastidão do seu território e influência de culturas dos países vizinhos. Assim,
podem ser apontados alguns factores que podem concorrer negativamente para a manutenção
dos traços culturais tradicionais originais:

 Os valores culturais tradicionais são transmitidos de geração em geração através dos


mais velhos aos mais novos com base na capacidade de aprendizagem e transmissão via
oral de vido a escassez ou não existência de registos escritos. Em cada fase, cada tipo
de cultura vai se fragilizando, e a pouco e pouco a originalidade vai cedendo lugar a
inovações;

 Os interesses relativos a convicções e crenças religiosas que pululam no país, na maioria


transportadas gratuitamente do estrangeiro;

 O matrimónio conjugal entre uma pessoa que passou pelos ritos de iniciação com outra
que não passou pelo rito;

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 O impacto do desenvolvimento económico, sócio-cultural, que origina a movimentação


campo-cidade e vice-versa, devido a implantação de novos projectos de
desenvolvimento;

 A actual preocupação do governo na divulgação do programa de prevenção e combate


as DTS/HIV/SIDA a todos os níveis e os cuidados básicos a ter em consideração para
não proliferação da doença orientando, por exemplo, aos procedimentos de utilização
de objectos cortantes, até aos médicos tradicionais;

 A livre escolha de parceiro(a), para o casamento (Cristão – Muçulmano, Macua – Sena,


Maconde – Ronga, Nhungue – Machangana, Negro(a) – Branca(o), etc.).

3. Étnia

Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego ethnikos. O


adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um
conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco,
religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física

Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural, que
partilham as mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.

A sociologia Africana, considera que uma etnia ou um grupo étnico é grupo de pessoas que
têm uma herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com
a Tribo, surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias
sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto
que este último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum. Finalmente
difere de linhagem, uma vez que esta é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias


subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada
pessoa tem origens étnica, tribal, clânica e de linhagem.

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3.1. Grupos Étnicos de Moçambique

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais


específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses
grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos,
etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e
historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas entidades.

De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam


de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas
regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural
desses regimes em Moçambique.

A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja e
outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por exemplo. A sul,
encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes grupos: Shona, Tsonga, Chope
e Bitonga. Entre os povos patrilineares figura também o grupo Nguni, cujos núcleos se
encontram espalhados pelo País.

No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências
matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para além dos
grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja característica particular é
a influência patriarcal islâmica que apresentam: são os Mwani.

Os makondes

Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se igualmente


no sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam como traços culturais
particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras nas cerimónias relacionadas com os
ritos de iniciação e a execução da dança tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda,
centro dos Makonde, que em 16 de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma
manifestação política da população local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno
que passou a ser conhecido na história por Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no
posto administrativo de Chai, que em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada

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de Libertação Nacional, 47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da
submissão à ocupação militar portuguesa.

Os Yaos

Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da
província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia.
Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância,
ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de
Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim.
Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio
internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas
regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível
de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-
Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos
maiores fornecedores de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto
regular com a costa de influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros
povos do interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890,
em resposta à pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).

Makuwa

Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de
Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao
rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira
com o Malawi, a Oeste;

Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das


províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa
encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os
Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum, como comuns são
também a sua organização sócio-familiar e a língua que falam. Alguns estudos advogam ser
este o grupo bantu mais antigo desta parte da África Austral.

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Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o


território [étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que
constituem aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram as
mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e Lomues, cada qual
reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O que nos permite reconhecer que todas as
chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal um mesmo povo, embora por vezes assumindo
variações regionais (1970:106).

Maraves

A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do Niassa,


encontram-se os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja, enquanto os de
Malawi são chamados Chewa. Para além do Malawi, importantes sectores do povo Nyanja se
localizam na Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Os Marave são associados ao império do mesmo
nome que se desenvolveu nas regiões onde hoje é Zambézia e Nampula, por volta dos séculos
XVI e XVIII e que, tal como os Ajaua, se envolveu no comércio de marfim e de escravos.
Possuem uma organização matrilinear e tradições culturais particulares.

Junto ao rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e


exteriores aos grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e Nhnungwe,
designados habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.

Shonas

Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três grupos
distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados pelas províncias de
Manica, Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe. Esta etnia está associada
às ruínas do grande Zimbabwe, entre outros amuralhados de pedra da região.

Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a norte do
rio Lundi, e no sul de Moçambique. Foram notáveis por suas peças de ferro, cerâmica e música,
dentre os quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika, tonga-korekore e ndau.
Com numeração cerca de nove milhões de pessoas, que falam uma série de dialetos
relacionados cuja forma normalizada é também conhecida como Shona (Bantu). Um pequeno
grupo de imigrantes falando Shona dos anos 1800 também vivem na Zâmbia, no vale do rio

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Zambeze, na área de Chieftainess Chiawa. O Shona era tradicionalmente agrícola cultivando


feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até
o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare. Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros
da Suazilândia que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas,
barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do
Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima
à actual Hwedza. Os ndaus falam um idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.

Bitonga e Chope

Os Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da cidade
de Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os segundos que também
povoam parte de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma proximidade cultural com os
Tsonga.

Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane. Este povo viveu
tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente, alguns chopes foram
escravizados e outros tornaram-se trabalhadores migrantes na África do Sul. Os chopes são
conhecidos internacionalmente pelo instrumento musical mbila e dança associada, uma
manifestação cultural conhecida desde o tempo de Gungunhana, que foi considerada pela
Unesco, como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Os chopes identificam-se
culturalmente, como povo, com o elefante.

Os Tsongas

Os Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até ao rio
Limpopo), os Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e até ao rio
Save). Possuem uma organização patrilinear. Os Tsonga constituem o grupo que, durante os
três últimos quartéis do século XIX estiveram sob influência directa do império nguni de Gaza.

Landins ou Vátuas, era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique, a sul do rio Save.
Tinham tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador, Gungunhana o Leão de
Gaza, sido destronado pelos portugueses depois de grandes combates entre 1894 e 1895.

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Capítulo III

4. Conclusão

Em gesto de de conclusão, frisar que os ritos de iniciação têm lugar por volta dos 10/15 anos e
são marcados por acções educativas mais conscientes. É nessa altura que a educação dos jovens
é confiada a alguns membros designados pela comunidade, compreendendo os fundamentos da
vida social, os valores culturais, costumes e tradições.

Numa estreita ligação com os adultos, os adolescentes aprendem um ofício, são lhes
comunicado os principais segredos da família e da tribo. Assim, o adolescente forjado na
iniciação é um homem completo, ele tem da sua vida e da sua comunidade uma ideia clara e
corrente, sabre o que ou outros esperam e o que deles pode esperar. A educação tradicional dá
ao jovem, um conjunto de conhecimentos utilitários que lhe permitem enfrentar com eficácia e
sem frustrações as dificuldades da vida futura.

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5. Referência bibliográfica

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