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Indique de forma justificada se os seguintes contratos se encontram submetidos à Parte

II do CCP:

1. Contrato de compra de 1t de cimento pela Camara Municipal de Beja, para utilizar


nas reparações recorrentes das infraestruturas do município

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R: Primeiramente, a questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao


âmbito de aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP)

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Ora, estando em causa a Câmara
Municipal de Beja, não restam dúvidas quando à sua qualificação no âmbito das autarquias
locais1 – Artigo 2º/1, alínea c), CCP; devendo então ser qualificada a Câmara Municipal de
Beja como entidade adjudicante, para efeitos de aplicação do CCP. Como o Artigo 3º/1,
CCP refere, estando perante uma entidade referida no nº1 do Artigo 2º, em causa está um
contraente público.

Cabe, então, de seguida analisar o âmbito objetivo de aplicação sendo que, no que
concerne à contratação “incluída”, ficam abrangidas as prestações que despertem o
interesse da concorrência de mercado (explicar) – Artigo 5.º/1 a contrario e Artigo 16.º. O
que, efetivamente, parece ser o caso. Não se trata de contrato excluído, nos termos do
Artigo 4º, nem de contratação excluída, ao abrigo do Artigo 5º, nem está em causa um dos
casos do Artigo 5º-A.
1
De notar que as Autarquias Locais integram a Administração Autónoma do Estado, é de resto esta
a posição do Professor Diogo Freitas do Amaral que considera que a Administração Autónoma será aquela
que prossegue interesses públicos próprios das pessoas que a constituem e por isso se dirige a si mesma,
definindo com independência a orientação das suas atividades, sem sujeição a hierarquia ou a
superintendência do Governo.
No que concerne ao contrato em questão, parece que o mesmo pode ser reconduzido
a um contrato de aquisição de bens móveis, ao abrigo do Artigo 16º/2, alínea d), CCP.

Posto isto, parece que o contrato em causa se encontraria submetido à Parte II,
atinente ao Procedimento da Contratação Pública, do CCP.

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2. Aquisição de 50% dos direitos de inscrição desportiva de um jogador de futebol


pela Benfica SAD

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A questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao âmbito de aplicação
do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP).

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Ora, estando em causa a Benfica
SAD, esta não se pode reconduzir, desde logo, a uma entidade adjudicante que integra o
setor da Administração tradicional, no fundo, não constitui nenhuma das pessoas coletivas
de direito público “clássicas” que se encontram previstas no Artigo 2º/1 para efeitos de
aplicação do CCP. Em questão está uma sociedade que tem a natureza de sociedade
anónima desportiva (Artigo 1º dos Estatutos Benfica SAD).

Assim sendo, no limite, teríamos que averiguar se estamos perante um organismo de


direito público, ao abrigo do Artigo 2º, nº2, CCP.

Ora, o conceito indica entidades que conjugam três elementos: i) tratar-se de pessoas
coletivas; ii) criadas especificamente para satisfazer necessidades de interesse geral, sem
caráter industrial ou comercial; iii) sob a estreita dependência de entidades adjudicantes do
Artigo 2º, nº1 (ou de outros organismos de direito público). Estes três elementos
correspondem a requisitos de verificação cumulativa.

Como critério a seguir na ponderação sobre a recondução de uma entidade em


concreto ao conceito de organismo de direito público, importa atender ao facto de estar em
causa uma qualificação jurídica que determina a sujeição da entidade em causa à aplicação
das regras da contratação pública, razão pela qual, segundo o Tribunal de Justiça, se trata
de uma noção que deve ser entendida em sentido amplo.

1- Ora, desde logo, deveria estar em causa uma pessoa coletiva, sendo irrelevante que se
trate de pessoas coletivas de direito público ou de direito privado. Podendo aqui
incluir-se as Sociedades anónimas – pessoas coletivas de direito privado;

2- Por outro lado, tal pessoa coletiva deve ter sido criada especificamente para satisfazer
necessidades de interesse geral. Refira-se, a priori, no que concerne à expressão
“especificamente” a Jurisprudência do Tribunal de Justiça tem entendido que “é
indiferente que, além das atividades destinadas a satisfazer necessidades de
interesse geral, a entidade em causa exerça igualmente outras atividades com fins
lucrativos no mercado concorrencial” e, portanto, a consideração de uma entidade
como organismo de direito público não corresponde a uma condição institucional ou
permanente de uma determinada entidade, antes implica uma condição contingente
que pode alterar-se na transição de um exercício económico para outro.
Independentemente desta consideração, destaque-se que o objeto social da
Sociedade Benfica SAD encontra o seu núcleo duro nas competições profissionais de
futebol, na promoção e organização de espetáculos desportivos e no fomento ou
desenvolvimento de atividades relacionadas com a prática desportiva
profissionalizada da modalidade de futebol (Artigo 3º dos estatutos). Nesse sentido,
ainda podíamos, no limite, considerar existir aqui “necessidades de interesse geral”.

3- Em relação ao requisito “sem caráter industrial ou comercial”, o que está em causa neste
contexto é a definição das condições de mercado em que um determinado organismo
exerce as suas missões, para o efeito de o submeter, ou não, as regras da adjudicação
de contratos públicos. Assim, tratando-se de uma Sociedade Anónima Desportiva,
ela atua em condições normais de mercado concorrencial, com o objetivo do lucro e
encontrando-se exposta ao risco de perdas, sendo, por isso, natural que oriente as
suas compras por considerações económicas, como faz qualquer operador
económico, qualquer empresa. Posto isto, não se exige aqui a aplicação das regras da
contratação pública, as quais têm precisamente o objetivo de “impor” a
racionalidade económica nos processos de compras.

4- Não estando verificado este requisito, não se impõe a averiguação do pressuposto da


estreita dependência de entidades adjudicantes do Artigo 2º, nº1 (ou de outros organismos de
direito público) – já que, sendo cumulativos, fica então, desde logo, excluída a sua
qualificação como entidade adjudicante. E, por isso, também não se trata de um
contraente público, ao abrigo do Artigo 3º/1, alínea b), CCP.

Poderíamos, ainda, confirmar a exclusão deste tipo de contratos do âmbito de


aplicação do Código, analisando o âmbito objetivo.

Neste caso, tratando-se de um contrato de aquisição dos direitos de inscrição


desportiva2, tal contrato é regulado, não pelo Código dos Contratos Públicos, mas pelo
Código dos Valores Mobiliários. Assim sendo, a aquisição de direitos de atletas tem
subjacente um contrato de transferência de valores mobiliários.

Assim sendo, fica também excluída o preenchimento do âmbito objetivo, já que se


trata de uma situação de contratação excluída, conforme o disposto no Artigo 5º, nº4, alínea
e), não sendo a Parte II, atinente ao Procedimento da Contratação Pública, do CCP,
aplicável à formação de tal contrato.

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3. Contrato pelo qual a ABC123, S.A se obriga perante o Estado a construir uma nova
ponte sobre o rio tejo, obtendo em contrapartida o direito a cobrar um valor aos
automobilistas que a utilizam, durante o período de 30 anos.
R:

2
Em causa está a aquisições de direitos de atletas, os quais incluem as importâncias despendidas a favor das
entidades transmitentes e/ou das entidades responsáveis pela formação desportiva dos atletas, os encargos
com serviços de intermediários e os prémios de assinatura dos atletas, assim como os efeitos da atualização
financeira, tendo em consideração os planos de pagamento estipulados. Esta rubrica inclui ainda os encargos
associados às renovações de contratos de trabalho desportivo dos atletas que já eram detidos pela Benfica
SAD.
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Primeiramente, a questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao


âmbito de aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP).

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Ora, estamos claramente perante
uma situação em que o Estado é a entidade adjudicante – Artigo 2º/1, alínea a), CCP. Como
o Artigo 3º/1, CCP refere, estando perante uma entidade referida no nº1 do Artigo 2º, em
causa está um contraente público.

Cabe, então, de seguida analisar o âmbito objetivo de aplicação sendo que, no que
concerne à contratação “incluída”, ficam abrangidas as prestações que despertem o
interesse da concorrência de mercado – Artigo 5.º/1 a contrario e Artigo 16.º. O que,
efetivamente, parece ser o caso.

No que concerne ao contrato em questão, parece que o mesmo pode ser reconduzido
a uma Concessão de Obras Públicas, ao abrigo do Artigo 16º/2, alínea b), CCP. De facto,
para obras maiores, de avultados capitais, e cuja realização possa, pela sua natureza,
beneficiar dos capitais da agilidade empresarial própria da iniciativa privada, emprega-se
de preferência o contrato de concessão, pois o Estado não tem capacidade técnica para tal.

Este é o contrato pelo qual o cocontratante, isto é, a ABC123, S.A se obriga à


execução ou à conceção e execução de obras públicas, no presente caso, de uma ponte sobre
o rio Tejo, adquirindo em contrapartida o direito de proceder, durante um determinado
período de tempo (aqui 30 anos), à respetiva exploração ou o direito de pagamento ao
preço, o que corresponde na hipótese em presença à cobrança de um valor aos
automobilistas que utilizam essa ponte. Artigo 426º
Posto isto, parece que o contrato em causa se encontraria submetido à Parte II,
atinente ao Procedimento da Contratação Pública, do CCP.

276º

4. Contrato de sociedade celebrado entre a EDP, S.A, a Fundação Oriente e Fundação


Eugénio de Almeida para desenvolvimento de novos sistemas de painéis solares

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R: A questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao âmbito de


aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP).
Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar as três entidades aqui referidas se afirmam enquanto entidades adjudicantes.

Ora, analisando, primeiramente, a qualificação jurídica destas duas Fundações.


Quanto à Fundação Oriente, trata-se de uma pessoa coletiva de direito privado, dotada de
personalidade jurídica e sem fins lucrativos. A utilidade pública da Fundação Oriente foi
reconhecida em território nacional por Declaração publicada no Suplemento do Diário da
República nº 54, II Série, de 6 de Março de 1989. A Fundação Eugénio de Andrade,
naturalmente, é enquadrada também no conceito de Fundação3.

Ora, tendo em consideração o disposto na Lei-Quadro das Fundações, as fundações


públicas podem ser de direito público ou de direito privado. Todas se encontram
abrangidas pelo conceito legal de fundação pública, ao abrigo do Artigo 2º/1, alínea g).
Assim sendo, como o Artigo 3º/1, CCP refere, estando perante entidades referida no nº1 do
Artigo 2º, em causa estão um contraentes públicos.

Já no que diz respeito à EDP S.A, será necessário averiguar o seu enquadramento no
âmbito dos Setores Especiais da água, da energia, dos transportes e dos serviços postais.

Para efeitos do Código dos Contratos Públicos, consideram-se atividades do setor da


energia as previstas no Artigo 9º/1, alínea a). Indubitavelmente a EDP, S.A, deve ser
reconduzida a este artigo, assumindo atividades primordiais no setor da energia. Assim,
estabelecido que a EDP desenvolve atividades enquadradas no setor da energia, há que
abordar se pode assumir-se como entidade adjudicante, ao abrigo do Artigo 7º, CCP. Será

3
Nota: A Fundação Eugénio de Andrade encontra-se hoje extinta; pelo que foi difícil encontras a sua qualificação
jurídica, enquanto pessoa coletiva de direito público ou privado.
uma entidade adjudicante, nos termos do Artigo 7º/1, alínea b), encontrando-se ambos os
requisitos do ponto i) e ii) verificados.

Determinando-se que a EDP assume-se como entidade adjudicante nos termos supra
referidos, haverá que abordar o Artigo 11º, atinente ao âmbito de contratação da água, da
energia, dos transportes e dos serviços postais. O nº1 do mesmo preceito dispõe que a Parte
II do Código só é aplicável à formação dos contratos a celebrar pelas entidades adjudicantes
referidas no Artigo 7º/1 (como já vimos), desde que:

1- Alínea a) – esses contratos digam direta e principalmente respeito a uma ou várias


atividades por elas exercidas nos setores (…) da energia. Ora, efetivamente, o contrato de
sociedade em causa celebrado diz direta e principalmente respeito a uma atividade
desenvolvida pela EDP, já que o desenvolvimento de novos sistemas de painéis
solares está intimamente ligado com a produção de energia. A esta luz, este requisito
estaria preenchido;
2- Alínea b) – o objeto desses contratos abranja prestações típicas de um dos contratos
mencionados neste preceito. Este requisito é já de mais difícil verificação. Refira-se
que o objeto do contrato de sociedade é o tal desenvolvimento de sistemas de painéis
solares – desde que o mesmo se possa reconduzir a uma prestação típica de qualquer
um dos contratos (e a acontecer, apontaria para o contrato de aquisição de serviços
ou de aquisição de bens móveis (iv)), não ficaria excluída a Parte II à aplicação deste
contrato. Caso, porém, não se considerasse que o objeto deste contrato de sociedade
abrangesse alguma daquelas prestações típicas da alínea b), a solução seria negativa
e não se aplicaria a Parte II à aplicação deste contrato.

No fundo, para ficar incluído este contrato no âmbito de aplicação do CCP, pela parte
da EDP, deveria sempre abranger prestações típicas de empreitadas, concessões de obras e
serviços públicos, locação e aquisição de bens móveis, aquisição de serviços (art.11.º/1/b))
e, além disso, que “digam direta e principalmente respeito” às atividades dos setores
especiais (art.11.º/1/a).

De notar que o Contrato de Sociedade celebrado pelas 3 entidades adjudicantes


permite preencher, à partida, o âmbito objetivo de aplicação, por força do Artigo 16º/2,
alínea f).
Porém, estando em causa, como já referi, um contrato celebrado por 3 entidades
adjudicante, penso que seria relevante averiguar a aplicação do Artigo 5º-A, nº5, preceito
que consagra a ideia de contratos de cooperação inter-administrativa. Nestes casos, o que
está em causa é as entidades adjudicantes não estão numa relação institucional marcada
pelo “controlo análogo” de uma delas e, portanto, não estão a suprir as suas necessidades
aquisitivas “dentro de casa”. Diferentemente, estão a adquirir prestações a entidades
públicas de que são autónomas, prestações essas que se materializam em tarefas conexas
com aquelas que a própria entidade adquirente tem que desempenhar, cooperando para a
realização das respetivas missões de interesse público. O que se afigura fundamental é o
seguinte:

1- Em primeiro lugar, apurar se as prestações que são assumidas pelas partes, mesmo
que materializadas num simples pagamento, estão funcionalizadas à realização das
suas atribuições, muito em particular, se para cada parte a execução da sua prestação
pode ser vista em si mesma como um ato de realização das tarefas públicas que lhe
incumbem nos termos da lei. Logo quanto a este aspeto, podemos excluir a
aplicação do Artigo 5º-A/5, já que o objeto deste contrato apenas pode ser visto
como um ato de realização de tarefas publicas que incumbem, nos termos da Lei, à
EDP, mas não já às Fundações em causa.

2- E, em segundo lugar, apurar se essas prestações contribuem em si mesmas


igualmente para a realização das tarefas públicas que incumbem à contraparte.
Portanto, se todas as partes do contrato desenvolvem prestações que (i) em si mesmas
consubstanciam a execução das suas tarefas públicas e que (ii) contribuem para a realização
das tarefas públicas das demais, estaremos perante um fenómeno de cooperação
interadministrativa horizontal “real” ou “genuína” e não perante um “normal contrato
público”.
Verificados estes pressupostos, fica apenas por garantir que os requisitos legais para que
o contrato possa ser celebrado à margem das regras da contratação pública sejam
observados:
i) A execução deve ser unicamente regida por considerações de interesse público, o
que implica, por exemplo, que as entidades contratantes não possam ter
participação de capital privado (cfr. Acórdão Azienda, ponto 35);
ii) O contrato não pode colocar operadores privados em situação de vantagem face
aos demais, o que limita fortemente a possibilidade de subcontratação dos
serviços a privados (cfr. Acórdãos Piepenbrock, ponto 40 e Azienda, ponto 38);
iii) As entidades adjudicantes não podem exercer no mercado livre mais de 20% das
atividades abrangidas pelo contrato de cooperação (artigo 12.o ,n.o 4, alínea c) da
Diretiva).
Atendendo a estas considerações, não se podia aplicar o Artigo 5º-A/5, pelo que a exclusão
da aplicação do Código não se fará com fundamento no mesmo, mas apenas,
eventualmente, com base no já referido Artigo 11º que excluiria a aplicação da Parte II aos
contratos a celebrar pela EDP enquanto entidade adjudicante. Caso contrário, o CCP teria
sempre aplicação.

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Considere as seguintes hipóteses:

1. O Instituto da Vinha e do Vinho, I. P, pretende contratar um jurista para apoio no


desenvolvimento do quadro normativo relativo ao sector vitivinícola. Para tal
pretende saber-se:
a) Celebrar um contrato de trabalho com o jurista, tem que seguir os trâmites
procedimentais do CCP?

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R: Primeiramente, a questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao
âmbito de aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP)

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Ora, estamos perante um Instituto
Público integrando este, por isso, o conjunto de pessoas coletivas públicas “clássicas” e,
assim, constituindo-se enquanto perante uma situação em que o Estado é a entidade
adjudicante – Artigo 2º/1, alínea a), CCP. Como o Artigo 3º/1, CCP refere, estando perante
uma entidade referida no nº1 do Artigo 2º, em causa está um contraente público.

Cabe, então, de seguida analisar o âmbito objetivo de aplicação sendo que, no que
concerne à contratação “incluída”, ficam abrangidas as prestações que despertem o
interesse da concorrência de mercado – Artigo 5.º/1 a contrario e Artigo 16.º. O que,
efetivamente, parece ser o caso.

No que concerne ao contrato em questão, parece que o mesmo não pode ser
reconduzido a qualquer dos contratos previstos no Artigo 16º/2, CCP.

De facto, teremos que abordar, neste sentido, o âmbito dos contratos excluídos da
aplicação do Código, analisando os Artigos 4º, 5º e 5º-A. De facto, o CCP não se aplica aos
“contratos de pessoal”4: contratos de trabalho em funções públicas, regulados pela Lei
Geral do Trabalho em Funções Públicas (Lei nº 35/2014, de 20 de junho, alterada) e os
contratos individuais de trabalho, regulados pelo Código do Trabalho: artigo 4º, nº2, alínea
a).

O nº 2 do artigo 4º refere-se, deste modo, aos contratos cuja natureza jurídica contém
especificidades que afastam a sua formação de um ambiente de concorrência, ou que
contêm regimes procedimentais específicos, como vimos. É esta é a ratio
4
Nas palavras de Costa Gonçalves.
Está aqui em presença um contrato individual de trabalho, pelo que, ao abrigo
Artigo 4º/2, alínea a), se encontra excluída a sua aplicação à Parte II, atinente ao
Procedimento da Contratação Pública, do CCP.

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b) Se em alternativa apenas pretender contratar o serviço para a realização de um


projeto, utilizando o modelo de “recibos verdes” está sujeito ao CCP?

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R: Na prática, a distinção entre contrato de trabalho e contrato de aquisição de


serviços pode suscitar dúvidas. Note-se, porém, que o CCP já se aplica à formação dos
contratos de prestação de serviço para o exercício de funções públicas, em qualquer das
suas modalidades, a que se referem os Artigos 6º, nº1, 10º e 32º da Lei Geral do Trabalho em
Funções Públicas. Além disso, também a parte III, sobre o regime substantivo, se aplica a
esses contratos de aquisição de serviços, desde logo, por estarem sujeitos à Parte II (Artigo
280º, nº3).
De facto, como esclareceu a Sra. Professora Maria João Estorninho, em sede de aula
teórica, as aquisições de serviços não são verdadeiros contratos de trabalho, da medida em
que não resulta daí uma relação laboral, isto é, uma relação não subordinada.

Na ótica da contratação pública, trata-se, neste caso, de um contrato de “aquisição”


de serviços, definido no Artigo 450º, CCP como “o contrato pelo qual um contraente
público adquire a prestação de um ou vários tipos de serviços mediante o pagamento de
um preço”, relembrando, como referido supra, que o Instituto Público constitui-se
enquanto contraente público, ao abrigo do Artigo 3º, nº1, alínea a), CCP.

No que concerne à questão dos recibos verdes, eles declaram o que um trabalhador


independente recebeu uma determinada quantia de um cliente pela prestação de um
serviço. Assim, um recibo verde não é destinado a trabalho subordinado a outrem, (embora
tal aconteça, na prática, com os chamados “falsos recibos verdes”), confirmando apenas a
inexistência, no presente caso, de uma relação laboral subordinada, não ficando abrangidos
pelas ideia de contrato de trabalho inserindo-se, como vimos, no âmbito do contrato de
aquisição de serviços.

Posto isto, sendo o Instituto Público entidade adjudicante (artigo 2º/1, d)) e estando
presente, não um contrato de trabalho, mas um contrato de aquisição de serviços, ao abrigo
do Artigo 16º/2, alínea e), fica também preenchido o âmbito objetivo de aplicação sendo
que, no que concerne à contratação “incluída”, ficam abrangidas as prestações que
despertem o interesse da concorrência de mercado – Artigo 5.º/1 a contrario e Artigo 16.º. O
que, efetivamente, parece ser o caso. Então, podemos concluir pela aplicação do Código dos
Contratos Públicos ao contrato sub judice.

Uma última nota: o contrato em causa parece não se encontrar excluído, nos termos dos
Artigos 4º, 5º e 5º-A

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2. O Banco de Portugal pretende construir um edifício de escritórios novo, para tal


questiona-o se pode contratar diretamente com a sociedade ABC123, S.A, para a
construção do referido edifício, uma vez que, a sociedade é claramente a “melhor
do mundo” a construir edifícios?

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R: - Primeiramente, a questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao
âmbito de aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP).

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Com a revisão de 2017, o Banco de
Portugal passou a figurar autonomamente como entidade adjudicante passam a fazer parte
das entidades adjudicantes referidas no nº 1 do Artigo 2º, CCP. No entanto, a lógica
anterior, de sujeição do Banco ao CCP manteve-se em relação aos contratos que abranjam
prestações típicas da empreitada de obras pública, concessão de obras públicas, concessão
de serviços públicos, locação e aquisição de bens móveis ou aquisição de serviços (Artigo
5º, nº8, a contrario, CCP), ou seja, aos contratos abrangidos pelas diretivas.

Assim, o Banco de Portugal assume a natureza de contraente público, por força do


n.º 1 do artigo 3.º, ficando sujeitas a uma aplicação mais intensa do regime da contratação
pública estabelecido na Parte II do CCP.

Caberia, então, analisar se o contrato em questão não se encontra excluído do âmbito


de aplicação objetiva do CCP. Desde logo, parece que não temos um caso que se possa, à
partida, subsumir às situações de exclusão: Artigos 4º, 5º e 5º-A.

Na verdade, parece que estamos perante uma intenção de celebrar um contrato de


empreitada de obras públicas, conforme o disposto no Artigo 16º/2, alínea a), CCP – o qual
é um dos contratos a ser celebrado pelo Banco de Portugal que se encontra incluído no
âmbito de aplicação do Código – Artigo 5º/8, a contrario, CCP. Ora, poderia, porém,
suscitar-se a natureza pública da obra em questão. Todavia, se atentarmos ao disposto no
Artigo 343º/1, CCP, entende-se por empreitada de obras públicas o contrato oneroso que
tenha por objeto quer a execução quer, conjuntamente, a conceção e a execução de uma
obra pública que se enquadre nas subcategorias previstas no regime de ingresso e
permanência na atividade de construção. O nº 2 do mesmo preceito acrescenta ainda que
considera-se obra pública o resultado de quaisquer trabalhos de construção reconstrução,
ampliação, alteração ou adaptação, conservação, restauro, reparação, reabilitação,
beneficiação e demolição de bens imóveis executados por conta de um contraente público –
o que é o caso, uma vez que já ficou estabelecido supra que o Banco de Portugal constituiu-
se enquanto contraente público.

Coloca-se uma última questão que está intimamente relacionada com o âmbito da
concorrência, já que o Banco de Portugal “questiona-o se pode contratar diretamente com a
sociedade ABC123, S.A, para a construção do referido edifício, uma vez que, a sociedade é claramente
a “melhor do mundo” a construir edifícios”. A meu ver, tal violaria, a priori, o princípio
consagrado nos termos do Artigo 1º-A, nº3, CCP, de acordo com o qual as entidades
adjudicantes devem adotar medidas de modo a evitar qualquer distorção da concorrência e
garantir a igualdade de tratamento dos operadores económicos.

Em suma, relativamente a este contrato ficam abrangidas as prestações que


despertem o interesse da concorrência de mercado (Artigo 5.º/1 a contrario), estando sujeito
à aplicação do CCP, quer pelo facto de o Banco de Portugal assumir natureza de contraente
público enquanto entidades adjudicante, quer por estarmos presente um contrato de
trabalho ao abrigo do Artigo 16º/2, tinha sempre que estar sujeita a concorrência adotando
um dos procedimentos previstos no código, não podendo escolher aquela sociedade
procurando, dessa forma, “escapar” à aplicação do regime do CCP.

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3. A Comissão Nacional de Proteção de Dados, pretende adquirir um novo sistema


informático para gerir as notificações relativa aos Encarregados de Proteção de
Dados (EPD), questiona-o se para tal é necessário seguir o tramites procedimentais
do CCP?

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R: A questão que aqui se afigura pertinente abordar diz respeito ao âmbito de
aplicação do Código dos Contratos Públicos (doravante CCP)

Ora, dispõe o Artigo 1º/2, CCP, que o regime da contratação pública estabelecido na
Parte II é aplicável à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua
designação e natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no CCP e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação. Consagra, no fundo, aquilo que podemos
designar como o âmbito subjetivo (entidades adjudicantes) e o âmbito objetivo (contratos
públicos não excluídos do âmbito de aplicação do Código).

Assim sendo, atentando agora ao âmbito subjetivo de aplicação, teremos que


averiguar se em causa está uma entidade adjudicante. Ora, a Comissão Nacional de
Proteção de Dados é uma entidade administrativa  independente com poderes de
autoridade, que funciona junto da Assembleia da República, tendo como atribuição
genérica controlar e fiscalizar o processamento de dados pessoais, em rigoroso respeito
pelos direitos do homem e pelas liberdades e garantias consagradas na Constituição e na
lei. Nesse sentido, assume-se como uma entidade adjudicante, ao abrigo do preceituado do
Artigo 2º, nº1, alínea e). Como refere o Artigo 3º/1, CCP, estando perante uma entidade
referida no nº1 do Artigo 2º, em causa está um contraente público.

Este conceito de “entidade administrativa independente”, não obstante assumir


natureza constitucional (Artigos 267º/3, 37º/3; 39º/1, CRP) e de surgir em vários diplomas
de caráter geral, como o CPA (Artigo 2º/4, alínea com)), remete para um universo de
entidades administrativas independentes que, como refere o Professor Costa Gonçalves,
não é seguro definir ou descortinar a respetiva natureza, já que a mesma não parece
unitária.

Ora, podemos, porém, concluir que o conceito genérico de entidades administrativas


independentes indica órgãos ou organismos sem personalidade jurídica como é, aliás, o
caso da Comissão de Proteção de Dados. Neste contexto, o Professor Costa Gonçalves
defende que, apesar de o CCP não distinguir e de não haver um obstáculo à integração de
organismos sem personalidade jurídica na categoria das entidades adjudicantes, ainda
assim, deve considerar-se que as entidades administrativas independentes sem
personalidade jurídica não são entidades adjudicantes e que, por isso, adjudicam e
contratam em nome do Estado. Conclui, deste modo, afirmando que a alínea e) do nº1 do
Artigo 2º, CCP visa apenas as entidades administrativas independentes dotadas de
personalidade jurídica5.

Assim sendo, seguindo a orientação proposta pelo ilustre Professor referido supra, o
âmbito subjetivo não ficaria preenchido, já que sendo a Comissão Nacional de Proteção de
dados uma entidade administrativa independente, sem personalidade jurídica, não deve
ser entendida como entidade adjudicante.

Escusado seria, então, proceder à análise do âmbito objetivo. Porém, refira-se que, no
que à aquisição de um novo sistema informático diz respeito, a prática da contratação
pública pende para entender que em causa está um contrato de aquisição de bens móveis
(Artigo 16º/2, alínea d). Refira-se, a título de exemplo, o contrato de aquisição de bens
móveis celebrado a 13 de março de 2020 através de Ajuste Direto, cuja entidade adjudicante
foi a Universidade de Aveiro e em que, justamente, estava em causa uma aquisição de
sistema informático.

Em suma, o contrato celebrado não se encontra ao abrigo do âmbito de aplicação do


Código, seguindo a orientação de Costa Gonçalves, desde logo, porque não estava em
causa uma entidade adjudicante.

5
O Professor Costa Gonçalves vem, desta forma, alterar a sua opinião que defendeu na 2ª edição do Manual –
onde considerava que não havia motivos para excluir a aplicação em relação a entidades administrativas
independentes sem personalidade jurídica.

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