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Cultura e Sociedade
Cultura e Sociedade
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica:
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não PRODUÇÃO DE MATERIAIS
vale a pena ser vivida.”
Diagramação:
Cada um de nós tem uma grande res- Alan Michel Bariani
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Thiago Bruno Peraro
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
e profissional, refletindo diretamente em nossa Revisão Textual:
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Fernando Sachetti Bomfim
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente Marta Yumi Ando
e busca por tecnologia, informação e conheci- Olga Ozaí da Silva
mento advindos de profissionais que possuam Simone Barbosa
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho. Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
De fato, a tecnologia e a comunicação Márcio Alexandre Júnior Lara
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Osmar da Conceição Calisto
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Gestão de Produção:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino Cristiane Alves
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
CULTURA E SOCIEDADE
CULTURA
PROF.A MA. CRISTIANE FATIMA ALVES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................................5
1. NATUREZA DA CULTURA.........................................................................................................................................6
1.1 CONCEITUAÇÃO DE CULTURA..............................................................................................................................6
1.2 CARACTERÍSTICAS DA CULTURA........................................................................................................................8
1.3 ESTRUTURA DA CULTURA....................................................................................................................................9
1.3.1 TRAÇOS CULTURAIS...........................................................................................................................................9
1.3.2 PADRÕES CULTURAIS.......................................................................................................................................10
1.4 MANIFESTAÇÕES DA CULTURA.......................................................................................................................... 11
1.4.1 ETNOCENTRISMO.............................................................................................................................................. 11
1.4.2 RELATIVISMO CULTURAL.................................................................................................................................12
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1.5 PROCESSOS CULTURAIS: MUDANÇAS CULTURAIS, DIFUSÃO CULTURAL, ACULTURAÇÃO E
ENDOCULTURAÇÃO ...................................................................................................................................................13
1.5.1 MUDANÇA CULTURAL.......................................................................................................................................13
1.5.2 DIFUSÃO CULTURAL ........................................................................................................................................14
1.5.3 ACULTURAÇÃO ..................................................................................................................................................14
1.5.4 ENDOCULTURAÇÃO...........................................................................................................................................15
2. DIVERSIDADE CULTURAL.....................................................................................................................................16
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................18
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
O que você entende por cultura? Você acha que todo mundo tem cultura? No cotidiano,
quando dizemos cultura, logo pensamos em música, dança, teatro, artes plásticas, exposições,
leituras, museus etc. Entretanto, a cultura como um conceito antropológico é bem mais que isso.
Todos nós temos cultura, porque ela é transmitida de geração a geração, de pessoa a pessoa, como
uma herança social.
Cultura é tudo aquilo que nos faz seres humanos e que nos afasta dos outros animais. Um
pequeno leão já nasce sabendo vários aspectos da vida, podendo crescer e evoluir, mesmo sem
o suporte dos pais. E os bebês humanos? Goste ou não, somos uma espécie que precisa treinar
desde cedo para virar gente, ou seja, precisamos aprender tudo.
Cada comportamento humano foi ensinado por outra pessoa. Desse modo, a forma
como comemos, falamos e fazemos nossas atividades no cotidiano é diretamente impactada pela
sociedade ao redor.
É por isso que todos nós somos diferentes, ainda mais quando nos comparamos com
pessoas de outros países ou períodos históricos.
A cultura se modifica e transforma também quem vive nela. Goste ou não.
Um abraço!
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. NATUREZA DA CULTURA
Todos sabemos o que significa “cultura” no senso comum. Quando falamos que “João não
tem cultura” e que “Suzana é culta”, estamos nos referindo a certo nível educacional, querendo
indicar com isso sua capacidade de compreender ou organizar certos conhecimentos básicos da
política, economia, artes e filosofia e situações.
Vamos exemplificar com outra situação corriqueira na área da saúde. É usual afirmar
que um “bom paciente” é aquele que “possui cultura”, cultura suficiente para compreender e
seguir as orientações e cuidados transmitidos pelo médico ou enfermeiro. Esse tipo de paciente
é contrastado com o “sem cultura” ou “inculto”, considerado um paciente mais “difícil”, que age
inadequadamente por “ignorância” ou guiado por “superstições” (LANGDON; WIIK, 2010, p.
174).
Na visão do senso comum, a palavra cultura é equivalente à quantidade de leituras, ao
controle de informações, nível socioeconômico e à formação escolar avançada dos indivíduos.
Contudo, no campo científico da antropologia, a palavra “cultura” é desprovida de juízo
de valor, tem um significado amplo: “[...] engloba os modos comuns e aprendidos da vida,
transmitidos pelos indivíduos e grupos, em sociedade” (MARCONI; PRESOTTO, 2019, p. 13).
Trata-se de “[...] um conceito-chave para interpretação da vida social - [...] a maneira de viver total
de um grupo, sociedade, país ou pessoa (DA MATTA, 2011, p. 122). A partir dessa perspectiva,
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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• A cultura é aprendida: toda pessoa, por meio da interação com outros indivíduos e
de um processo de aprendizagem consciente ou inconsciente, internaliza ou incorpora
uma tradição cultural pelo processo de enculturação. A cultura pode ser ensinada pela
transmissão, como quando os pais ensinam a seus filhos a dizer “muito obrigado”, quando
alguém lhes dá alguma coisa ou lhes faz um favor. A cultura também pode ser transmitida
por meio da observação. As crianças prestam atenção às coisas que acontecem ao seu
redor e tendem a replicar esse comportamento.
• A cultura é simbólica: a cultura é um sistema de símbolos, pois determina o modo como
vemos e vivenciamos o mundo, pois nos ajuda a atribuir significados às coisas. Produtos
e serviços têm significados diferentes para pessoas de cultura, classe social, estilo de vida
diferentes. Um exemplo de como a cultura nos ajuda a atribuir significados às coisas
está no uso das cores. No Brasil, usar branco na passagem de ano está associado à paz,
enquanto no Oriente simboliza a morte.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ao contrário do que você pensa, a maneira como a gente anda, come, vai ao
banheiro, transa, toma banho, se depila ou se barbeia é construída a partir de um
vocabulário cultural que aprendemos com os outros humanos.
A natureza nos dá o corpo, assim como deu para as antas, morcegos e tartarugas.
Mas as regras de etiqueta sobre esse uso são dadas pela cultura. Não é à toa que
um bebê precisa ser ensinado a engatinhar, a andar e a pegar as coisas; um filhote
de leão, não. Nasce sabendo. Já nós nascemos com a necessidade de aprender.
Cada sociedade tem uma forma de aprender a usar o corpo, dançar, correr e até
mesmo dar à luz. Sem aprender a desenvolver expressões e movimentos, não
somos plenamente capazes de fazer o uso eficaz da maquinaria biológica.
Não é raro vermos matérias dos jornais falando da longevidade dos velhos
japoneses ou das famílias mediterrâneas. Ou ainda, nos depararmos com os altos
índices de obesidade nos Estados Unidos e o estilo fit dos franceses e italianos,
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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1.4.1 Etnocentrismo
Muitos de nós crescemos assistindo aos clássicos da Disney. “Peter Pan”, “Dumbo”,
“Aladdin”, entre outras obras, desde a década de 1970. Agora, um streaming foi
lançado exclusivamente para que possamos reviver os desenhos da infância.
Entretanto, algumas dessas produções possuem uma compreensão etnocêntrica
e equivocada de outras culturas.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por anos, nada se falou sobre a abordagem utilizada por essas produções. Mas
passamos por um processo de mudança de pensamento coletivo e a Disney
percebeu esses erros.
Assim, a Disney + colocou avisos no início de cada filme que possuía alguma
conotação preconceituosa, conscientizando sobre o que aprendemos de não ter
um olhar etnocêntrico para as diferenças culturais.
Vale lembrar que era errado naquela época e continua sendo errado hoje em dia. A
diferença é que, agora, temos plena consciência disso. Ainda bem.
O que é diferente para você pode ser normal para mim. E vice-versa. Não há um
jeito certo ou errado de se viver a cultura. Mas por que as pessoas acreditam que
há um jeito melhor do que outro? Culpa do etnocentrismo. A visão etnocêntrica
é aquela que vê o mundo com base em sua própria cultura, desconsiderando
outras culturas ou considerando a sua própria cultura, hábitos e costumes como
superiores.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A difusão cultural, de acordo com Farfan, Banete e Queiroz (2017), remete à ideia de
propagar-se. A difusão cultural “[...] é um fenômeno que explica como um elemento cultural é
transmitido de uma sociedade a outra” (COSTA, 2010, p. 227). Esse conceito busca compreender
como um elemento cultural se difunde através das culturas, ainda que não haja proximidade
1.5.3 Aculturação
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Esse processo levou-os à mudança cultural e à assimilação – é “[...] o processo mediante o qual os
grupos que vivem em um território comum, embora procedentes de lugares diversos, alcançam
uma ‘solidariedade cultural’” (MARCONI; PRESOTTO, 2019) – dessas culturas indígenas. Apesar
desse processo, até hoje a cultura indígena ainda resiste, em certa medida, no país. Podemos
perceber os traços culturais indígenas na nossa cultura por meio da culinária (ex.: tapioca),
conhecimentos populares sobre medicina natural, objetos e palavras.
A aculturação nem sempre, como comentamos, é semelhante à mudança cultural, por
exemplo, a culinária oriental é profusamente apreciada e consumida por diversas pessoas de
sociedades diferentes sem que, no entanto, altere seus hábitos ou a forma como pensam acerca de
um outro aspecto de seu mundo.
A aculturação não acontece de forma rápida, é um processo longo e complexo que
modifica o modo de pensar, de agir, de sentir e de viver em uma sociedade, em passos lentos, e
faz com as pessoas partilhem outros valores e atitudes diferentes das suas de origem.
1.5.4 Endoculturação
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2. DIVERSIDADE CULTURAL
Figura 1 - Marca cria linha de uniformes aquáticos inclusiva para mulheres. Fonte: A Gazeta (2019).
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Armadilha cultural
Uma grande companhia alimentícia lançou uma marca de mistura para bolo,
adaptando a receita para os sabores locais preferidos pelos chineses. Em vários
testes, os entrevistados aprovaram o sabor do bolo. No entanto, uma vez na
prateleira, o produto não vendia de jeito nenhum.
A solução encontrada foi bastante simples: adaptar o preparo básico, para que o
bolo pudesse ser cozido em panelas, no fogão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
CULTURA E SOCIEDADE
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................. 20
1. A AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS .....................................................................................21
2. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS...........................................................................25
3. TERMINOLOGIA: DIREITOS HUMANOS, DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS DO HOMEM...................28
4. AS GERAÇÕES (OU DIMENSÕES) DE DIREITOS HUMANOS............................................................................ 30
5. O MULTICULTURALISMO E PLURALISMO..........................................................................................................33
6. DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA .............................................................................................................................36
7. DIREITOS HUMANOS E MINORIAS......................................................................................................................39
8. QUESTÕES DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL.............................................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................................... 46
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Os direitos humanos surgiram na era moderna, no século XVII, como uma teoria
abstrata, cujo objetivo inicial era limitar o poder do Estado, por meio do controle da ação
dos seus governantes. Sua concretização pode ser observada a partir do século XVIII, com o
constitucionalismo, que previa a organização do Estado e a liberdade e igualdade entre os
cidadãos.
Com isso, começaram a ser garantidos aos cidadãos alguns direitos individuais, como
as liberdades, que eram exercidas inicialmente pelos indivíduos (liberdade de expressão, de
iniciativa econômica) e depois pela coletividade (como o direito de sindicalização, de greve).
Essa retrospectiva histórica será estudada inicialmente para, em seguida, serem tecidas
considerações sobre o conceito e as características dos direitos humanos.
Logo após, serão abordadas as semelhanças e diferenças entre as diversas nomenclaturas
de direitos. Conforme foram surgindo, os direitos foram divididos em gerações, que serão
aprofundadas posteriormente neste estudo.
Serão tratados tópicos relativos aos direitos humanos e à diversidade. O primeiro item
a ser estudado é o multiculturalismo ou pluralismo, que nada mais é do que a convivência
harmônica entre várias culturas diferentes no mesmo espaço organizado, que pode ser uma
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Como se pode observar, os direitos foram sendo conquistados como frutos de lutas em
razão do sofrimento físico e moral do homem. Nesse sentido, Bobbio explica que
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Além da abolição dos privilégios de alguns poucos, essa declaração impulsionou ideias que foram
garantidas em Constituições e tratados posteriores de “[...] soberania popular, sistema de governo
representativo, igualdade de todos perante a lei, presunção de inocência, direito à propriedade, à
segurança, liberdade de consciência, de opinião, de pensamento” e o dever de garantir os direitos
humanos pelo Estado (RAMOS, 2014, p. 40).
Em 1848, a Constituição Francesa trouxe algumas questões relevantes à evolução dos
direitos humanos, como os valores do trabalho, a abolição da pena de morte em matéria política
e o fim da escravidão em terra francesa.
A Convenção de Genebra, de 1864, inaugurou a introdução dos direitos humanos na
esfera internacional, o que se denominou “[...] direito humanitário [...]; isto é, o conjunto das leis
e costumes da guerra, visando minorar o sofrimento de soldados doentes e feridos, bem como de
populações civis atingidas por um conflito bélico” (COMPARATO, 2013, p. 167, grifo do autor).
No século XX, destaca-se, inicialmente, a Constituição Mexicana, de 1917, que foi a
primeira a qualificar os direitos trabalhistas como direitos fundamentais, além das consagradas
liberdades individuais e dos direitos políticos.
Em 1918, eclodiu a Revolução Russa e com ela a Declaração dos Direitos do Povo
Trabalhador e Explorado, documento que, influenciado pelos movimentos socialistas e pela
persistência da miséria, ganhou apoio popular. O objetivo dos movimentos socialistas era garantir
direitos sociais às pessoas, no intuito de conferir-lhes condições mínimas de existência.
A Carta Mexicana influenciou a Constituição de Weimar, de 1919, e a criação da
Organização Internacional do Trabalho no mesmo ano, ambas instituídas após o fim da Primeira
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
De acordo com Ramos (2014, p. 25), “Os direitos humanos constituem em um conjunto
de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade, igualdade e
dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis à vida digna”. Como
as necessidades humanas variam de acordo com a época, não há como se estabelecer um rol de
direitos fixado, sendo que novas demandas vão surgindo com o tempo e inserindo novos direitos
nessa lista.
Ramos ainda explica que “[...] os direitos humanos representam valores essenciais, que são
explicitamente ou implicitamente retratados nas Constituições ou nos tratados internacionais
[...]”, revelando que uma sociedade pautada na defesa dos direitos tem como consequências “[...]
o reconhecimento de que o primeiro direito de todo indivíduo é o direito a ter direitos [...]”, bem
como de que os direitos de um indivíduo devem conviver com os direitos dos outros (RAMOS,
2014, p. 26, grifo do autor).
Essa segunda afirmação traz diversos desdobramentos, tendo em vista que, numa vida
em sociedade, o exercício do direito de uma pessoa sempre entrará em conflito com o exercício
do direito de outra. Para ilustrar, menciona-se o direito da vida privada em conflito com o direito
à liberdade de informação, o direito à propriedade e o direito ao meio ambiente equilibrado,
o direito à vida do bebê e o direito reprodutivo da mulher (aborto). São questões ainda sem
uma resposta definitiva, que serão construídas no tempo, no sentido de criar uma interação na
sociedade, em que as pessoas convivam tendo seus direitos garantidos.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Universalidade, porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob
a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade
de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente moral,
dotado de unicidade existencial e dignidade. Indivisibilidade, porque a garantia
dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais,
econômicos e culturais – e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais
também o são (PIOVESAN, 2004, p. 22).
Os direitos humanos apresentam características que lhes são comuns, que são: historicidade,
universalidade, essencialidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade, imprescritibilidade, vedação
ao retrocesso (MAZZUOLI, 2015, p. 899-901).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Tal característica também impede que as normas já postas sejam interpretadas de forma a limitar
ou restringir direitos já garantidos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, as características mais importantes
dos direitos humanos são:
o Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa.
o Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem
discriminação a todas as pessoas.
o Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado deles; eles podem ser limi-
tados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma
pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo
legal.
o Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo
igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O resultado dessa Conferência foi a Declaração e Programa de Ação de Viena, que assim
determinou:
Observa-se, com isso, que a Declaração veio para reforçar que os direitos humanos
possuem essas características, especialmente a universalidade, que determina que os direitos
humanos devem ser garantidos a todas as pessoas, independentemente de raça, cor, religião, sexo,
ou mesmo de estarem localizadas neste ou naquele território.
Além dessas características já abordadas, Carlos Weis atribui, no contexto da
contemporaneidade, a indivisibilidade, a interdependência e a transnacionalidade também como
características dos direitos humanos. Para o autor,
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
“Direitos humanos - são, por sua vez, inscritos (positivados) em tratados ou decorrentes
de costumes internacionais. Trata-se daqueles direitos que já ascenderam ao patamar do Direito
Internacional Público” (MAZZUOLI, 2015, p. 896, grifo do autor).
Com isso, pode-se observar que, embora pareçam a mesma coisa, não são, já que os
direitos do homem são aqueles que ainda não estão normatizados, os direitos fundamentais são
aqueles garantidos nas Constituições de cada país e os direitos humanos são os assegurados nos
tratados internacionais.
É importante lembrar que nem todos os direitos humanos estão garantidos nas
Constituições, sobretudo a brasileira. Enquanto os direitos humanos podem ser reclamados por
qualquer pessoa que sofrer uma violação em qualquer lugar do planeta, nem todos os direitos
fundamentais podem ser exercidos por todas as pessoas. É o caso do direito de voto, que é um
direito fundamental do brasileiro, mas que não pode ser exercido pelo estrangeiro no Brasil.
André de Carvalho Ramos apresenta diversas terminologias para os direitos humanos
consignadas na Constituição Federal do Brasil e em diversos tratados internacionais. O autor
explica que “[...] essa imprecisão terminológica é resultado da proteção de certos direitos essenciais
do indivíduo, pela qual a denominação de tais direitos foi sendo alterada, a partir do redesenho
de sua delimitação e fundamentação” (RAMOS, 2014, p. 46).
No início do entendimento, “direito natural” seria o reconhecimento de que os direitos
são inerentes à natureza do homem, sendo que “direitos do homem” também adviria dessa
concepção jusnaturalista, mas que foi carreado de um caráter sexista, por se restringir às pessoas
do sexo masculino, preterindo os direitos da mulher. Já os “direitos individuais” abrangeriam
apenas os direitos relacionados ao indivíduo, excluindo os direitos coletivos ou considerados
em sua coletividade. Dentre outras denominações, a doutrina francesa trata das “liberdades
públicas”, enquanto a escola alemã de Direito Público do século XIX aborda os “direitos públicos
subjetivos”, ou seja, aqueles tidos contra o Estado (RAMOS, 2014, p. 47).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
[...] o desenvolvimento dos direitos do homem passou por três fases: num
primeiro momento, afirmaram-se os direitos de liberdade, isto é, todos aqueles
direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indivíduo,
ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado;
num segundo momento, foram propugnados os direitos políticos, os quais -
concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não impedimento, mas
positivamente, como autonomia - tiveram como consequência a participação
cada vez mais ampla, generalizada e frequente dos membros de uma comunidade
no poder político (ou liberdade no Estado); finalmente, foram proclamados
os direitos sociais, que expressam o amadurecimento das novas exigências -
podemos mesmo dizer, de novos valores -, como os de bem-estar e da igualdade
não apenas formal, e o que poderíamos chamar de liberdade através ou por meio
do Estado (BOBBIO, 2004, p. 52).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Norberto Bobbio explica que a liberdade tem dois significados relevantes, sendo um
negativo e outro positivo. Para o autor, “[...] a liberdade negativa é uma qualificação da ação; a
liberdade positiva é uma qualificação da vontade”. Quando se observa, com isso, a perspectiva
histórica, a liberdade negativa faz parte do direito de primeira geração, e se refere ao indivíduo
singular, enquanto a liberdade positiva é atribuída ao indivíduo considerado em sua coletividade,
ou do corpo social no qual o indivíduo está inserido e do qual faz parte (BOBBIO, 2004, p. 50).
Nesse sentido, “Por liberdade negativa, na linguagem política, entende-se a situação na
qual um sujeito tem a possibilidade de agir sem ser impedido, ou de não agir sem ser obrigado,
por outros sujeitos”. Essa liberdade também costuma ser delineada tanto na “ausência de
impedimento, ou seja, a possibilidade de fazer, quanto a ausência de constrangimento, ou seja, a
possibilidade de não fazer” (BOBBIO, 2004, p. 49).
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Sobre a liberdade positiva, Bobbio fundamenta ser “[...] a situação na qual um sujeito
tem a possibilidade de orientar seu próprio querer no sentido de uma finalidade, de tomar
decisões, sem ser determinado pelo querer de outros”. A essa forma, também é dado o nome
de autodeterminação ou de autonomia, ou seja, “[...] determinar-se sem ser, por sua vez,
determinado” (BOBBIO, 2004, p. 50).
A segunda geração de direitos humanos passa a exigir um papel mais ativo do Estado e
se refere à igualdade, concepção esta nascida a partir do século XX. Eles são os direitos sociais,
econômicos e culturais, além dos direitos coletivos ou das coletividades, trazidos com o advento
do Estado social.
De acordo com Norberto Bobbio, “[...] a igualdade constitui um valor”, e a máxima de que
todos os homens são iguais tem sido reproduzida desde os estoicos até os dias atuais, sobretudo
por que a igualdade é um ideal a ser atingido (BOBBIO, 2004, p. 22).
A questão da igualdade gera uma amplitude de definições, especialmente para se identificar
igualdade “entre quem” deve ser garantida e “igualdade em que”. A reflexão é importante, sobretudo
porque delimitar a igualdade em algum aspecto não implica automaticamente igualdade em
outro aspecto, como por exemplo, igualdade de renda entre duas pessoas e igualdade de saúde.
Para essa geração, exige-se do Estado um papel mais ativo, principalmente para garantir
os direitos trazidos sob a influência das doutrinas socialistas, advindos dos movimentos sociais de
reivindicações desses direitos que teriam por fim garantir uma condição mínima de sobrevivência
dos indivíduos.
Os direitos sociais de segunda geração compreendem o direito à saúde, à educação, à
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A terceira geração tem seu surgimento a partir da década de 1960 e pode ser observada
pelos diversos documentos internacionais que tratam do tema, como, por exemplo, o Pacto
dos Direitos Civis e Políticos, de 1966, que previu o direito à autodeterminação dos povos, a
Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente, em 1972, a Declaração sobre o Direito ao
Desenvolvimento, adotada pela ONU em 1986, dentre outras.
A quarta geração dos direitos humanos é entendida como aquela que é resultante da
globalização dos direitos humanos. Essa geração tem seu surgimento no final do século XX,
5. O MULTICULTURALISMO E PLURALISMO
Antonio Carlos Wolkmer (2001, p. 171-172) conceitua e explica que o pluralismo significa
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A forma pela qual o Brasil e a América Latina foram colonizados e explorados reforça o
projeto uniformizador da modernidade, que tinha por objetivo a homogeneização econômica
e social da sociedade, o que, se, de um lado, possibilita melhores condições de vida àqueles que
nada ou pouco têm, de outro, dificulta a diversidade e o multiculturalismo. Nesse sentido, existe
uma problemática envolvida, uma vez que a sociedade não é homogênea e, por isso, não deve ser
tratada como se fosse.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Cada sociedade local tem uma cultura própria. A convivência pacífica entre grupos
culturalmente distintos sempre ocorre segundo as regras do jogo da cultura mais
forte, e raramente é agradável aos membros dos grupos mais fracos. Os exemplos
de multiculturalismo que perduraram mais que algumas poucas décadas ao longo
da história são os sistemas de castas, os guetos e demais formas de apartheid.
6. DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Assim, reconhecer as diferenças, sejam elas culturais ou sociais, não sugere uma
igualitarização forçada ou assimilacionista, mas passa pelo respeito ao “diferente” como uma
espécie de “mínimo existencial” do princípio da igualdade no ambiente político e social.
Afinal, a desigualdade é uma característica da natureza e dos seres humanos. Portanto,
o que se busca com a igualdade não é a “igualdade de fato”, ou uma homogeneidade social e
cultural, mas diminuir as discriminações, que são pontos de vistas construídos unilateralmente,
partindo de critérios injustos e recheados de questões culturais e históricas. Nesse mesmo
contexto, Hannah Arendt afirma que
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O autor reitera que incorporar a diversidade é contaminar e ser contaminado pelas outras
culturas, povos, gêneros, outras ideologias, outras religiões, outros costumes. Afinal, “O hábito
da mestiçagem, da troca, do contrabando cultural está na raiz da diversidade. Só há sentido
diversidade trocadora, mestiça, impura, contaminada e contaminante” (PICCINO, 2007).
A diversidade é inerente à condição humana. Basta observar o multiculturalismo existente
no Brasil, que teve colonização europeia, povos africanos, indígenas. Sendo a diversidade o que
traz sentido à condição humana, devemos respeitá-la e não somente tolerá-la.
A tolerância, como já vimos, é o primeiro passo para a garantia do respeito à diversidade.
No entanto, é necessário envidar esforços do Poder Público, da sociedade e de cada um de nós
para pararmos de “suportar com indulgência”, de “olhar como se fizéssemos uma caridade” e
passar a respeitar e incluir o outro, o diferente, o desconhecido.
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Podemos citar, como exemplo, minorias que ainda lutam por igualdade: os
afrodescendentes, que devido a um processo de escravização, ainda sofrem hoje as consequências
de “serem diferentes”. A prova disso são as cotas raciais, que, infelizmente, se mostram a forma
mais “rápida” atualmente para garantir um espaço para essas pessoas na universidade e no
trabalho. Isso porque é inevitável dizer que ainda há discriminação e preconceito. As cotas não
são a solução ideal ou definitiva, mas podem abrir espaço para que, no futuro, não sejam mais
necessárias.
As comunidades indígenas também são consideradas minorias, uma vez que, se comparada
com o restante da população, representam uma porcentagem muito inferior em quantidade. O
IBGE traz dados estatísticos acerca da população indígena:
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por essas e outras razões, os indígenas ainda devem ser vistos como minoria que ainda
não consegue tutelar seus direitos de forma igual a um não indígena.
Os idosos também podem ser considerados uma minoria. Segundo dados do IBGE, o
número de idosos com 80 anos ou mais pode passar de 19 milhões em 2060, um crescimento de
mais de 27 vezes em relação a 1980, quando o Brasil tinha menos de 1 milhão de pessoas nessa
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por fim, a última minoria que será abordada nesta unidade é a das pessoas com deficiência.
O decreto brasileiro de nº 3.298/99, ao instituir a Política Nacional para a integração da pessoa
com deficiência, definiu-a no artigo 3° como “[...] toda perda ou anormalidade de sua estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano” (BRASIL, 1999).
O decreto 9.508 de 24/09/2018 regulamenta a Lei no 13.146, de 6 de julho de 2015, e dispõe
sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, disciplinando
especificamente o direito da pessoa com deficiência de se inscrever em concursos públicos em
igualdade de condições com os demais participantes e lhes atribui a reserva de vaga. É o que se
extrai do artigo:
Art. 1º Fica assegurado à pessoa com deficiência o direito de se inscrever, no
âmbito da administração pública federal direta e indireta e em igualdade de
oportunidade com os demais candidatos, nas seguintes seleções: I - em concurso
público para o provimento de cargos efetivos e de empregos públicos; e II - em
processos seletivos para a contratação por tempo determinado para atender
necessidade temporária de excepcional interesse público, de que trata a Lei nº
8.745, de 9 de dezembro de 1993.
§1o Ficam reservadas às pessoas com deficiência, no mínimo, cinco por cento
das vagas oferecidas para o provimento de cargos efetivos e para a contratação
por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional
interesse público, no âmbito da administração pública federal direta e indireta
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Minha definição de gênero tem duas partes e duas subconjuntos, que estão inter-
relacionados, mas devem ser analiticamente diferenciados. O núcleo definição
Assim, pode-se afirmar que gênero, como um elemento que está relacionado à convivência
social, é construído culturalmente, ancorado nos discursos das diferenças biológicas entre os
sexos. A concepção tradicionalista entende que somente existem dois gêneros: o masculino e o
feminino. Países como Suécia, França, Austrália, Canadá, Alemanha possibilitam a escolha do
gênero neutro ou até mesmo deixar sem preencher, no documento que registra a criança, seu
gênero, para que posteriormente escolha a qual gênero quer pertencer.
Nesse contexto, é necessário afirmar que as concepções mais modernas acerca dessa
questão tratam o gênero como um conglomerado de fatores, não somente levando em consideração
a formação biológica.
Figueirêdo e Barros (2014) afirmam que a questão das relações de gênero também
conforma identidades de gênero e sexuais. Desse modo, a diversidade sexual faz menção a um
conjunto dinâmico, plural e multíplice de práticas intimamente relacionadas a vivências, prazeres
e desejos sexuais, vinculados a processos que se (re)configuram por meio de representações,
manifestações e afirmações identitárias, geralmente objetivadas em termos de identidades,
preferências, orientações e expressões sexuais e de gênero.
Silva e Lopes (2017) afirmam que a identidade de gênero diz respeito à forma como a
pessoa visualiza a si mesmo; se pertencente ao sexo masculino/homem/macho ou se pertencente
ao sexo feminino/mulher/fêmea. Assim que ocorre essa identificação, feita pela própria pessoa
em seu estado psíquico, ocorre a expressão, ou seja, exteriorização desse gênero, pela qual ela
se identificou. Assim, alguns usarão vestimentas femininas ou masculinas, determinadas pelo
padrão heterossexual, bem como expressarão seu comportamento, de acordo com determinado
gênero.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Dessa forma, a diversidade sexual está imbricada na categoria de gênero. Isso se reflete
nas múltiplas possibilidades de orientação sexual existentes como: gays, lésbicas, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros.
Bissexuais - categoria de orientação sexual que inclui aqueles que são atraídos
por homens e mulheres.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DECLARA que direitos sexuais são baseados nos direitos humanos universais
que já são reconhecidos em documentos de direitos humanos domésticos e
internacionais, em Constituições Nacionais e leis, em padrões e princípios de
direitos humanos, e em conhecimento científico relacionado à sexualidade
humana e saúde sexual.
REAFIRMA que a sexualidade é um aspecto central do ser humano em toda a
vida e abrange sexo, identidade e papeis de gênero, orientação sexual, erotismo,
prazer, intimidade e reprodução. A Sexualidade é experiência e expressada em
pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos,
práticas, papeis e relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas
essas dimensões, nem todas elas são sempre expressadas ou sentidas. Sexualidade
é influenciada pela interação de fatores biológicos, sociais, econômicos, políticos,
culturais, legais, históricos, religiosos e espirituais.
RECONHECE que a sexualidade é uma fonte de prazer e bem-estar e contribui
para a satisfação e realização como um todo (DECLARAÇÃO DOS DIREITOS
SEXUAIS, 1999).
Segundo Silva e Lopes (2017), a Declaração dos Direitos Sexuais foi um documento
elaborado no intuito de discutir e determinar certas providências quanto ao tema da sexualidade
humana, na qual se enquadra a identidade de gênero, dentre outros, uma vez que esses assuntos,
embora discutidos, não possuíam proteção, estando desamparados em muitos países, dentre eles,
o Brasil.
As autoras afirmam que um dos principais objetivos dessa Declaração é abordar a
Assim, conclui-se que gênero diz respeito à forma como a pessoa visualiza a si mesma,
ou seja, se ela acha que pertence ao sexo masculino/homem/macho ou se pertence ao sexo
feminino/mulher/fêmea. Já a diversidade sexual é a exteriorização do gênero, podendo a pessoa
ser trans, gay, bissexual, dentre outros diversos gêneros sexuais. Ou seja, é a forma pela qual a
pessoa expressa sua sexualidade.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, abordamos o conceito de direitos humanos e todas as suas dimensões
e características – historicidade, universalidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade e
imprescritibilidade. Entendemos que os direitos humanos são normas que reconhecem e
protegem a dignidade de todos e todas e de cada um de nós igualmente.
Por fim, vimos que a diversidade está dentro do direito humano da liberdade, que é um
direito humano; portanto, deve ser respeitada e efetivada por todos e pelo Estado.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
CULTURA E SOCIEDADE
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................. 49
1. POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E OS MOVIMENTOS SOCIAIS ............................................................51
1.1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS E O COMBATE AO RACISMO NO ESPAÇO ESCOLAR........................................ 56
2. 10.639/2003 E A LEI 11.645/2008: O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA
EM SALA DE AULA.....................................................................................................................................................61
3. O SIGNIFICADO SOCIAL DE RAÇA E ETNIA.........................................................................................................62
3.1 RAÇA......................................................................................................................................................................63
3.2 ETNIA................................................................................................................................................................... 64
3.3 PRECONCEITO.................................................................................................................................................... 65
3.3.1 DISCRIMINAÇÃO ..............................................................................................................................................67
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3.4 PADRÕES DE INTERAÇÃO RACIAL E ÉTNICA.................................................................................................. 68
4. A POPULAÇÃO NEGRA E INDIGENA NO DISCURSO NACIONAL.......................................................................70
5. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL E AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS.................................77
6. UM POUCO DE HISTÓRIA E QUESTÕES LEGAIS SOBRE OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL..................... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................................................................91
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A fábula das três raças, hoje, tem a força e o estatuto de uma ideologia dominante em
um sistema totalizado de ideias que interpenetra a maioria dos domínios explicativos da cultura
brasileira. Durante muitos anos, essa fábula forneceu, e ainda hoje fornece, as bases para analisar
a diminuta representatividade negra e indígena entre as s históricas nacionais. Nesse aspecto, um
dos fundamentos para a aplicabilidade de políticas públicas educacionais para as relações étnico-
raciais é olhar para a história da formação nacional brasileira.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou por sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser
ensinadas a amar...” — Nelson Mandela.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Souza (2003) apresenta uma pequena sistematização para podemos entender o campo
das políticas públicas no Brasil. A autora afirma que é um:
Como podemos ver na figura anterior, as políticas públicas educacionais são tudo aquilo
que um governo faz para a educação escolar. Outro fator que não podemos deixar de considerar
na construção de políticas públicas no Brasil é que ela também se origina da ação popular, ou
seja, medidas requeridas pelas pessoas.
Como argumenta o filósofo francês Michel Foucault (1997), todas as pessoas fazem
política, todos os dias. Isso seria possível na medida em que, diante de conflitos, as pessoas
precisam decidir, sejam esses conflitos de caráter social, pessoal e/ou subjetivo. Socialmente, a
política, ou seja, a decisão mediante ao choque de interesses desenha as formas de organização
dos grupos, sejam eles econômicos, étnico-raciais, de gênero, culturais, religiosos.
O que nos demonstra que a organização social é fundamental é o fato de que ela é
necessária para que decisões coletivas sejam favoráveis aos interesses do grupo. Ou seja, no
campo das políticas públicas educacionais, os grupos se organizam e traçam estratégias políticas
para pressionarem o governo, a fim de que políticas públicas sejam tomadas a seu favor, e com a
população negra e os povos indígenas não são diferentes.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A sociedade brasileira, no final de 1970, passa por uma transformação significativa com
o início da redemocratização política do Brasil. Nadai (1992) relata que diversos movimentos
sociais começam a requerer mudanças nas leis brasileiras, na forma de participação da população,
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Além disso, o MNU tinha como papel destacado fomentar um processo de constituição
da identidade positiva do negro e de sua conscientização política na vida nacional. Paul Singer,
um dos fundadores do MNU, em uma carta aberta, lida em ato público no dia 7 de julho de 1978,
nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, posiciona-se a respeito da discriminação no
Brasil.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Após três décadas de reivindicações do MNU, consideramos que houve avanços na luta
contra o racismo e a discriminação da população negra no Brasil, mas, ainda, o racismo e o
preconceito persistem na sociedade brasileira. Hoje, não é mais aceitável a ideia de democracia
racial entre os brasileiros. Com a promulgação da Constituição de 1988, considerada por muitos
uma constituição cidadã, houve uma tentativa de valorização dos diversos povos e culturas
existentes no Brasil, por exemplo: o 5º artigo, no parágrafo XLII, prevê que casos de discriminação
racial serão tratados como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, este artigo reconhece a existência
do racismo no Brasil.
No caso do Movimento Indígena Brasileiro, apesar de termos registro de suas ações
mesmo antes da primeira metade do século XX, somente a partir da década de 1970, diversos
povos indígenas se reuniram em Assembleias no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e afirmaram
que os problemas indígenas seriam resolvidos por eles mesmos.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 3 - Participantes do evento de 20 anos de comemoração da Federação das Organizações Indígenas do Rio
Negro em 2007 (FOIRN). Fonte: Rio Negro (2017).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 4 - Parecer 03/2004, de 10 de março, do Conselho Pleno do CNE. Fonte: INEP (2017).
No decorrer do relatório, verificamos que a população negra não foi alvo das instituições
de ensino. O mesmo podemos afirmar para os povos indígenas, já que a escolarização visava
formar o ideal de homem brasileiro que tinha como referência o homem branco europeu.
Quando analisamos o pensamento educacional brasileiro no decorrer do século XX, percebemos
que a cultura da população e, consequentemente, a dos povos indígenas, foram silenciadas ou
estereotipadas no currículo escolar (FELIPE; TERUYA, 2007).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
No caso específico da população negra, como alerta Felipe (2015), durante mais de um
século da implementação da escola pública no Brasil, a sua cultura, poucas vezes, foi contemplada
nos conteúdos programáticos e, quando foi, abordaram a partir da visão dos europeus. Como
vimos no tópico anterior, somente depois de 1980, com as constantes reivindicações do Movimento
Negro Unificado, houve tentativas de inserir conceito de pluralidade na educação brasileira.
É bem verdade que os debates promovidos depois de 1980 sobre a pluralidade cultural do
Brasil favoreceram várias modificações importantes na educação escolar e no ensino de história
no Brasil. Felipe (2005) reconhece que apesar da renovação teórico-metodológica da história nos
últimos anos, o conteúdo programático dessa disciplina na educação básica ainda tem primado
por uma visão monocultural e eurocêntrica de nosso passado. Isso significa que a educação escolar
ainda não aprendeu a valorizar a diversidade étnico-racial que compõe o ambiente escolar e a
sociedade brasileira. Isso fica bem nítido quando percebemos a dificuldade que o(a) brasileiro(a)
tem em lidar com o conceito de raça e etnia, diante disso, nos perguntar, dentro das discussões
sobre relações étnico-raciais Brasil, o que significa o conceito de raça e o conceito de etnia.
Os conceitos de raça e etnia são construções sociais, forjadas nas relações entre
cultura, conhecimento e poder. O conceito raça, utilizado dentro de uma perspectiva
política, nada tem a ver com conceito biológico de raça cunhado no século XIX.
Apesar dos problemas teóricos do emprego dos termos raça e etnia, os dois conceitos são
fundamentais para fazer uma análise do local social que a população negra e os povos indígenas
ocuparam na formação social do Brasil. No caso da população negra, é importante ressaltar que
os africanos que aportaram em nosso território do século XVI ao XIX, em sua maioria, estavam
em condição de escravizados, e os negros eram vistos como mercadoria e objeto nas mãos de
seus proprietários. Foi atribuída ao negro uma participação subalterna na construção da história
e da cultura brasileira, embora tenha sido ele a mão de obra predominante na produção da
riqueza nacional, trabalhando na cultura canavieira, na extração aurífera, no desenvolvimento
da pecuária e no cultivo do café em diferentes momentos de nosso processo histórico. Quando se
trata de abordar a cultura dessas minorias, estamos pensando no sentido político da palavra, já
que os dados do IBGE, conforme podemos ver na figura a seguir, demonstram que, atualmente,
a população negra brasileira é de 50,7%. Mas ela é vista de forma folclorizada e pitoresca, e as
culturas europeias, assim, são elevadas à condição de superiores e civilizadas.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Como podemos analisar, ainda há uma disparidade entre o número da população negra
no Brasil e seu processo de escolarização, se compararmos a população branca. Além disso,
ainda vemos os conteúdos escolares permeados de relatos de grandes fatos e feitos dos chamados
heróis nacionais, geralmente brancos, escamoteando, assim, a participação de outros segmentos
sociais no processo histórico do país. Para Silva (1998), por exemplo, a maioria das concepções
históricas que perpassa o ensino de história no Brasil despreza a participação das minorias
étnicas, especialmente de índios e negros. Quando eles aparecem nos livros didáticos, seja em
forma de textos, seja em forma de ilustrações, são tratados de maneira pejorativa e, portanto,
preconceituosa e estereotipada.
A fim de combater essa visão monocultural e eurocêntrica que foi forjada no saber
histórico brasileiro, ao ter como padrão a visão dos grupos dominantes, o governo brasileiro,
por meio de seus órgãos legais, tem incorporado na legislação brasileira alguns tópicos, de
modo a contribuir com a visualização de um Brasil pluriétnico. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), em seu artigo 26, parágrafo 4, ratificando posição da Constituição
Federal de 1988, determina que “[...] o ensino história do Brasil levará em conta as contribuições
das diferentes etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
africana e europeia” (BRASIL, 1996a).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Esse mesmo documento do MEC traz como um dos objetivos gerais da educação básica
o conhecimento e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural do país, bem como
aspectos socioculturais de outros povos e nações, devendo aos alunos e alunas, professores e
professoras posicionarem-se contra quaisquer formas de discriminação baseada em diferenças
culturais, de classe social, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais.
Além dos PCN, dispomos das diretrizes curriculares elaboradas pelo CNE para a educação
básica. Recentemente, esse órgão normativo e consultivo do MEC instituiu, com base no parecer
da conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana.
Ainda no âmbito das políticas públicas governamentais, podemos citar o Programa
Nacional de Direitos Humanos, elaborado pelo Ministério da Justiça na gestão do Presidente
Fernando Henrique Cardoso, que previa, entre uma série de ações para as populações negras no
Brasil, o estímulo à “[...] elaboração de livros didáticos que enfatizem a história e as lutas do povo
negro na construção do nosso País, eliminando estereótipos e discriminações” (BRASIL, 1996b,
p. 31).
Mais recentemente, por ocasião do início do Governo Lula, foi sancionada a Lei nº.
10.639, de 9 de janeiro de 2003, que “[...] altera a Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de
ensino obrigatoriedade da temática história e cultura afro-Brasileira, e dá outras providências”. A
Lei estabelece o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura
negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
negro nas áreas sociais, econômicas e políticas pertinentes à História do Brasil (art. 26-A, § 1º) e,
tornando-o obrigatório no currículo escolar da educação básica (BRASIL, 2003).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Se, no passado, a ideia da existência de raça superior e da raça inferior legitimava a escravização
com comprovação científica da inferioridade dos negros, atualmente, para legitimar a ordem
estabelecida, funda-se na não existência de raças, apoiando-se nos direitos democráticos válidos
para todas as etnias. A existência ou não de raça depende da conveniência em um determinado
momento social.
Em resumo, a Lei 10.639/2003 constitui um passo importante para resgatar e valorizar os
diversos grupos étnicos que estão à margem da sociedade brasileira. Os currículos escolares do
sistema educacional podem ser aliados valiosos nessa luta. Como ressalta Gomes (2008), esta Lei
que não é somente uma norma: é resultado da ação política e da luta de um povo, cuja história,
sujeitos e protagonistas ainda são poucos conhecidos e a nosso ver levou a aprovação da Lei
11.645/2008.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O que nos leva a concordar com o raciocínio de Felipe e Teruya (2008) que afirmam que
o brasileiro, de um modo geral, sabe pouco a respeito da história da população negra e dos povos
indígenas e, quando sabe, seu conhecimento está repleto de ideias preconceituosas. Ao afirmar
isso, Felipe e Teruya (2008) nos convidam a um desafio, que é reler a história do Brasil com olhos
mais atentos às hierarquizações de poder existentes, que marginalizaram e marginalizam parte
da população brasileira.
Os termos raça e etnia são frequentemente utilizados como sinônimos, porém possuem
significados distintos. Convém, no entanto, estabelecer essas diferenças antes de discutir o assunto
sob ótica sociológica.
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3.1 Raça
De acordo Martin Mager, citado por Mooney, Knox e Schacht (2016), um pesquisador e
autor sobre as relações raciais étnicas, a raça é um dos conceitos mais equivocados, mal utilizados
e frequentemente perigosos do mundo moderno, visto que o termo raça tem sido usado para
descrever pessoas de uma nacionalidade específica, por exemplo, a “raça mexicana”, “raça judaica”
(religião), “raça branca” (cor da pele) e mesmo a própria espécie humana a “raça humana”. A
confusão a respeito do termo raça decorre do fato que ele tem dois significados, biológicos e
social (MOONEY; KNOX; SCHACHT, 2016, p.293).
Raça como conceito biológico. Do ponto de vista biológico, o termo raça está relacionado
com a classificação baseada nas características físicas hereditárias, como cor da pele, textura
capilar e tamanho e características faciais. Mas de acordo com os pesquisadores, não existe
nenhum teste sanguíneo ou genético que revele a raça das pessoas, pois todos os seres humanos
compartilham o mesmo material genético básico, por exemplo, se os cientistas examinarem
uma amostra de sangue humano no microscópio, não poderão dizer se o sangue veio de um
chinês ou de um brasileiro, um havaiano ou um afro-americano. As manifestações físicas, como
a cor da pele, representam diferentes combinações, em maior ou menor grau, dos mesmos genes
compartilhados, ou seja, “[...] a cor da pele não é apenas preta ou branca, mas sim uma infinidade
de tons que vão do escuro ao claro com muitas gradações” (MOONEY; KNOX; SCHACHT, 2016,
p.293). Desse modo, existem mais variações genéticas dentro das raças do que entre as raças.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Porém, com passar do tempo, a categoria “branco” mudou tanto que incluiu esses grupos. Como
um exemplo de variação cultural cruzada nas categorias raciais, nós brasileiros usamos diversos
termos para categorizar as pessoas em raça, baseados na combinação das características físicas,
embora oficialmente as principais categorias no Brasil sejam branca, parda, preta e amarela (GIL,
2019; SHAEFER, 2014; MOONEY; KNOX; SCHACHT, 2016; WITT, 2016). Sendo que no país
tem cerca de 40 grupos de cor (WITT, 2016).
A abordagem de categorização social faz parte de uma longa história que dita identidades
de uma só raça, o que obscurecem como os indivíduos lidam com a sua identidade, pois muitas
vezes as pessoas podem ter mais de uma raça, principalmente, em sociedades diversificadas como
o Brasil e o Estados Unidos, porém em razão da “[...] construção social das raças que prevalece
e força as pessoas a escolher apenas uma raça, mesmo se reconhecem um histórico étnico-racial
mais amplo” (SCHAEFER, 2014, p.260).
O conceito de raça ainda é um fator político importante, utilizado para naturalizar
desigualdades e legitimar a segregação e o genocídio de grupos que são considerados socialmente
minorais. Ao longo do tempo, o termo “raça” tem servido de base para justificar o acesso desigual
de recursos econômicos, sociais e culturais, partindo do pressuposto de que essa desigualdade
é de alguma forma “natural”. Assim, criam-se imagens falsas ou estereotipadas que se tornam
reais em suas consequências. Estereótipos “[...] são generalizações não confiáveis sobre todos os
membros de um grupo que não reconhecem diferenças individuais dentro dele” (WITT, 2016, p.
320).
Os meios de comunicação de massa contribuem muito para disseminação de falsos
3.2 Etnia
Um grupo étnico, diferentemente de um grupo social, é separado dos outros por causa da
sua herança cultural compartilhada, nacionalidade, religião ou a língua dos antepassados (GIL,
2019; SHAEFER, 2014; MOONEY; KNOX; SCHACHT, 2016; WITT, 2016).
A origem étnica pode ser diferenciada com base nos traços culturais que são constituídos
pela maneira de vestir, formas de expressão oral, hábitos alimentares, valores éticos, crenças
religiosas, literatura etc. Assim, de acordo Gil (2019), um grupo étnico pode ser definido como
um conjunto de pessoas que compartilham traços culturais comuns e identificam uma história
que reflete a experiência coletiva desse grupo com base na raça, religião, origem nacional ou por
alguma combinação dessas categorias. Assim, judeus, muçulmanos, árabes, ciganos e armênicos
podem ser considerados grupos étnicos (GIL, 2019; SHAEFER, 2014; MOONEY; KNOX;
SCHACHT, 2016; WITT, 2016).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
E da mesma forma que os grupos raciais, os grupos étnicos também são usados para
justificar a exclusão em relação a recursos importantes. Essa exclusão está enraizada nos valores
e em normas, ou seja, na forma como pensamos e agimos. Quando se trata de raça e etnia, os
termos que descrevem essas práticas são preconceito e discriminação (GIL, 2019; SHAEFER,
2014; MOONEY; KNOX; SCHACHT, 2016; WITT, 2016).
Até que ponto raça e etnia influenciam as oportunidades que você tem e os
obstáculos que enfrenta? Até onde você é consciente de sua raça e sua etnia, e
das possíveis influências que elas podem ter em sua vida?
3.3 Preconceito
Preconceito é uma manifestação negativa em relação aos membros de um determinado
grupo, geralmente minorias étnicas ou raciais. Silvio (2019) completa que “[...] o preconceito
racial é o juízo baseado em estereótipos acerca de indivíduos que pertençam a um determinado
grupo racializado, e que pode ou não resultar em práticas discriminatórias”. Por exemplo,
Essas crenças podem existir de maneira velada na sociedade, ou seja, não estão
declaradas explicitamente como parte dos valores dominantes de uma sociedade. No entanto,
existem padrões persistentes de tratamento desigual. As pessoas dizem não ser preconceituosas,
afirmando princípios como igualdade de oportunidades, mas muitas não conseguem colocar
esses ideais em prática.
De acordo com Silvio (2019), o racismo é muito complexo para ser tratado de maneira
ampla, deste modo, o referido autor divide o racismo em três concepções: individualista,
institucional e estrutural.
De acordo Silvio (2019, p.25), a concepção de racismo individualista é concebida como
uma espécie de “patologia” ou anormalidade. Seria um fenômeno ético ou psicológico de caráter
individual ou coletivo, atribuído a grupos isolados. Sob esta perspectiva, não haveria sociedades
ou instituições racistas, mas indivíduos racistas, que agem isoladamente ou em grupo.
A concepção institucional, apesar de um certo grau de aparência com a concepção de
racismo estrutural, não é a mesma coisa, pois descreve sociologicamente fenômenos distintos.
O racismo institucional está atrelado ao funcionamento das instituições, “[...] que passam
a atuar em uma dinâmica que confere, ainda que indiretamente, desvantagens e privilégios com
base na raça” (SILVIO, 2019, p.26).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
De acordo com o autor supracitado, os conflitos raciais também são parte das instituições.
Ou seja, o poder é elemento central da relação social dos grupos que exerce domínio
sobre a organização política e econômica da sociedade. Com efeito, o racismo é dominação.
Assim, o grupo dominante tem o poder de institucionalizar seus interesses, “[...] impondo a
toda a sociedade regras, padrões de condutas e modos de racionalidade que tornem “normal” e
“natural” o seu domínio” (SILVIO, 2019, p.27). Isso faz com a cultura, os padrões estéticos e as
práticas de poder de um determinado grupo tornem-se horizontes norteadores do conjunto da
sociedade.
Além disso, Silvio ressalta que o racismo institucional é menos evidente, muito mais
sútil, menos identificável em termos de indivíduos específicos que comentem os atos, pois ele se
origina dentro de instituições estabelecidas e respeitadas na sociedade e, portanto, recebe muito
menos condenação pública comparado com o racismo individual.
A terceira concepção e, talvez, a mais complexa, é o racismo estrutural, que é uma
decorrência da própria estrutura social, ou seja, “do modo normal” com que se constituem as
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
3.3.1 Discriminação
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Figura 7 - A violência contra negros e negras no Brasil. Fonte: El País (2019). CULTURA E SOCIEDADE | UNIDADE 3
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Genocídio - é a forma mais extrema e brutal dos padrões de interação intergrupais, pois
consiste no assassinato deliberado e sistemático de todo um povo ou nação. Foi exatamente
o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas exterminaram seis
milhões de judeus europeus, junto com gays, lésbicas, os povos romanos e ciganos, que
habitavam a Alemanha e os territórios por eles conquistados.
Expulsão – consiste na remoção sistemática de um grupo étnico de determinada
sociedade. Foi o que as forças sérvias na Bósnia fizeram, em 1991, em nome da “limpeza
étnica”, expulsaram mais de um milhão de croatas e muçulmanos de suas casas em toda
a ex-Iugoslávia (WITT, 2016). Alguns foram torturados e mortos, outros foram vítimas
de abuso e terror, em uma tentativa de “purificar” a terra (GIL, 2019; SCHAFFER, 2016).
Amalgamação – ocorre quando um grupo majoritário e um minoritário forma um
novo grupo. Mediante casamentos intergrupais por diversas gerações, vários grupos
da sociedade formam um novo grupo. O Brasil constitui um exemplo de sociedade
largamente amalgamada, onde pessoas de diferentes raças se misturam por meio de
uniões livres como de casamentos.
Assimilação – é o processo pelo qual um indivíduo abandona sua própria tradição
cultural para se tornar parte de uma cultura diferente (WITT, 2016). Geralmente, grupos
minoritários realizam essa prática, pois querem estar de acordo com as normas do
grupo dominante. Quando esses grupos minoritários estão plenamente assimilados, eles
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Pluralismo – é o “[...] respeito mútuo entre as culturas dos vários grupos de uma
sociedade, o que permite que um grupo subordinado expresse sua própria cultura e ainda
participe sem preconceito na sociedade em geral” (WITT, 2016). No pluralismo, o grupo
minoritário não precisa abandonar seu estilo de vida e suas tradições. Diferentemente
da amalgamação e assimilação, o pluralismo encoraja cada grupo minoritário a se
conscientizar de suas características distintivas, a orgulhar-se de sua herança cultural e a
manter sua própria identidade. A Suíça é um exemplo de Estado pluralista moderno. Lá,
os três maiores grupos étnicos – constituídos por alemães, franceses e italianos – não se
amalgamaram e nem se assimilaram. Assim, o país não tem um idioma nacional e nem
uma fé religiosa dominante, isso leva a uma tolerância para com a diversidade cultural.
Em contraste, alguns países têm tido dificuldades para atingir o pluralismo cultural,
principalmente, em sociedades multirraciais. Na Grã-Bretanha, alguns britânicos
defendem o corte de toda imigração asiática e negra, e outros até mesmo pedem a
expulsão desses grupos minoritários que vivem no país.
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Essa visão de Varnhagen (2016) – quanto ao branco e o seu lugar essencial na formação
do Brasil, superando até mesmo o índio e o negro – é um reflexo da própria época em que
ele escreve. O seu modo de ver o Brasil é uma referência das ideias que prevaleciam no século
XIX, especialmente entre as elites, que defendiam que o Brasil deveria ser branco e, em hipótese
alguma, negro, indígena ou misturado (SILVA, 2016).
As transformações sociais e políticas que o Brasil passou, a partir da segunda metade
do século XIX, com o fim da escravidão negra e a Proclamação da República, remodelaram as
relações de trabalho do regime escravo para o trabalho livre e assalariado. Além disso, milhares
de homens negros e mulheres negras, antes considerados ferramentas vivas de trabalho, agora
passam a fazer parte da população brasileira com o status de cidadania, mesmo que uma cidadania
restritiva, ainda assim, cidadania.
Figura 8 - A publicação no jornal Gazeta de Notícias da Lei Nº 3.353, de 13 de maio de 1888. Fonte: O Diário (2017).
CULTURA E SOCIEDADE | UNIDADE 3
Outro fator que temos que chamar atenção é que no plano político no final do século
XIX ocorria o fim da monarquia, desencadeada pelas disputas internas existentes desde a
Independência do Brasil, em 1822, pelos segmentos das classes dirigentes. Somada a esse fato,
havia também uma pressão internacional pela Proclamação da República brasileira, já que o
Brasil era o único país na América Latina governado por uma monarquia.
No setor econômico, houve crescimento dos setores de prestação de serviços e aumento
da pequena indústria têxtil. Esses fatos estavam associados ao início do processo de urbanização,
ao crescimento das camadas médias e ao aparecimento de um proletariado urbano, formado
pelos imigrantes que, ao chegarem ao país, abandonaram o trabalho na zona rural em direção às
cidades.
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“Pela seleção natural, todavia, depois de prestado o auxílio de que necessita, o tipo branco irá
tomando a preponderância até mostrar-se puro e belo como no velho mundo” (ROMEIRO apud
BENTO, 2002, p. 23).
As políticas de branqueamento nesse período configuraram-se como uma das formas de
assegurar a modernização do país. Não é por outra razão que o Estado brasileiro, no início do
século XX, buscava a mão de obra europeia, cuja imigração ainda era celebrada cotidianamente
nos meios de comunicação, principalmente no que se referia às imigrações italiana, alemã,
polonesa, entre outras de origem europeia (MUNANGA, 1999).
No Brasil, uma das medidas para diminuir as características da população negra na
população brasileira foi a importação de milhares de imigrantes europeus. Ao mesmo tempo,
procuravam reduzir os contingentes considerados indesejáveis, por meio da expulsão sistemática,
incluindo as restrições de acesso aos bens materiais e bens simbólicos, como a educação escolar.
Serrano e Waldman (2007) afirmam que, nesse período, diversos projetos foram elaborados pela
elite brasileira para que a população negra voltasse ao continente africano.
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Dessa forma, a substituição da mão de obra negra pela branca imigrante, e o incentivo
à miscigenação para gerar um povo cada vez mais branco, ou, como afirma o documento na
imagem supracitada, “[...] na esperança de tornar a pátria mais forte, mais útil e mais bela”
(LAPES, 2019), foram estratégias encontradas para melhorar gradativamente a população que
compunha a nação brasileira.
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Doebber (2012) argumenta que, embora autores, a exemplo de Gadelha (2009), afirmassem
que durante o Estado Novo (1930-1945) era difícil admitir a existência e o funcionamento de
uma biopolítica consolidada, já era possível identificar, nesse período, uma tendência de “gestão
da população”. Semelhante ao modo como ocorreu com os leprosos expulsos das cidades na
Idade Média, por serem considerados uma ameaça à ordem pública, o controle sobre a vida da
população negra se daria também pela via da exclusão.
Castro (2009, p. 57) explica que “[...] ao antigo direito do soberano de fazer morrer ou
deixar viver se substitui um poder de fazer viver ou abandonar à morte”. O poder sobre a vida se
explicitaria nas políticas sobre a vida biológica, entre elas, a política de incentivo à imigração. Já
o poder sobre a morte se explicitaria por meio do racismo, por exemplo, presente no modo como
o povo negro foi abandonado, pelo Estado, à própria sorte. Nesse sentido, o Estado estaria mais
preocupado em fazer viver um “tipo racial”, considerado superior, e deixar morrer outro “tipo
racial”, considerado inferior.
Outro discurso que reverberou socialmente para a negação das características negras na
população brasileira na primeira metade do século XX foi o da mestiçagem. Nesse discurso, não
mais se negava a população negra e indígena como constitutivo da população brasileira, mas
sim aceitava-se enquanto um dos sujeitos da constituição nacional. Guimarães (2002, p. 168)
afirma que, nesse período, os antropólogos, como Roger Bastide e Gilberto Freyre, enunciaram,
pela primeira vez, a ideia de uma democracia racial e, com o tempo, a expressão ganhou “[...]
a conotação de ideal de igualdade e de oportunidade de vida e de respeito aos direitos civis e
políticos nos anos de 1950”.
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A fábula das três raças constituidoras do Brasil teria a função de integrar idealmente
a população, depois da Abolição, em um marco comum, e que, por meio do branqueamento,
atingiria, algum dia, homogeneidade e harmonia. A ideologia da integração das raças, fosse no
plano sexual, da música, da mulher, do carnaval, mascararia a realidade das profundas diferenças
de poder. Além disso, o próprio pressuposto da integração pelo branqueamento é profundamente
racista e negador de uma identidade negra (DA MATTA, 1989).
O medo da diluição do sangue branco na presença do contingente negro, expresso por
Nina Rodrigues em seus escritos, demandou ações mais contundentes para a preservação da
branquitude nacional. Iniciativas tanto de manipulação da carga biológica quanto visando a
eliminação simbólica da população negra, como requisito fundamental para o predomínio
branco. Nas palavras de Carneiro (1968, p. 95), “[...] a ruptura dos laços com África, mesmo
por meio de frequentes processos brutais, parece para mim ser uma válida aquisição do povo
brasileiro”.
Além da redução simbólica resultante das ações culturais de branqueamento, que
incluíam a violenta repressão das manifestações culturais, artísticas e religiosas negras, as
relações dos brancos com os indesejáveis tiveram apoio de políticas públicas de manutenção da
inferiorização e desvalorização. A ação estatal, dirigida à população negra nessa época, estava
reduzida basicamente à repressão policial e ao controle de endemias, que tinham em comum os
métodos violentos (SEVCENKO, 1984).
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Os decretos citados por Silva (BRASIL, 2004) permitem que infira-se que no final do
século XIX, início da República brasileira, período em que se intensificava o debate sobre a
modernização do Brasil, a presença da população negra nos bancos escolares era restringida ou
proibida. Ressalto que naquele momento histórico, demarcado pelos decretos de 1854 e 1878, as
discussões sobre a Abolição da Escravidão dos negros e das negras já ganhavam contornos. No
entanto, essa população ainda estava refém do trabalho escravo.
No contexto de transformações políticas e culturais, que aconteceram no final do século
XIX e início do século XX, Schelbauer (1997) alerta:
Como estratégias para organizar o Brasil frente às transformações que estavam ocorrendo
no mundo no final de século XIX, parte da elite e intelectuais elaborou o documento chamado
Manifesto Republicano. Hilsdorf (2005) argumenta que os signatários do Manifesto Republicano
tinham a convicção de que a educação escolar levaria o Brasil rumo ao desenvolvimento
econômico para se equiparar às nações europeias, como França e Inglaterra. Seria a solução para
a transformação econômica almejada pela sociedade brasileira, pois o progresso prometido pelos
republicanos viria pela prática do voto dos alfabetizados.
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Figura 11 - Parte do O lançamento do Manifesto em 3 de dezembro de 1870. Fonte: De Olho Na História (2017).
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O povo deveria ser educado para a vida democrática. Na escola, eram depositadas as
esperanças de preparar essa sociedade para o novo tempo, no qual haveria efetiva demanda do
exercício dos direitos políticos. Os republicanos concebiam-se como agentes portadores das luzes
da razão, com o advento de um novo modelo inspirado nos países europeus.
Para Carvalho (1989, p. 77-78), o objetivo dos republicanos era produzir, pela consciência
do indivíduo e de forma coletiva, a consciência nacional. Na verdade, a ação humana junto
ao processo de desenvolvimento representava o elemento catalisador que poderia apressar ou
retardar a “irresistível colaboração do espírito com a verdade”, sem, contudo, jamais conseguir
interromper ou inverter sua direção. No entanto, o discurso republicano parecia não deter
a certeza de que esse processo se realizasse sempre no sentido esperado, pois alertava para a
existência de duas alternativas, o amesquinhamento “até a materialidade do instinto” e a subida
até a “claridade da razão”, para que os indivíduos tivessem êxito em chegar à razão da escola,
deveria utilizar os seus dispositivos internos.
A responsabilidade pedagógica do Estado se aliava às necessidades ditadas pelas exigências
do seu tempo histórico, de acordo com a marcha inexorável dos povos rumo a um processo
de progressivo aperfeiçoamento, trazido, ao que se supunha, pelas luzes da civilização. Ocorre,
entretanto, que essa ideia de uma nação a ser construída não constituía privilégio exclusivo do
pensamento republicano, já que os elementos ilustrados da elite do país apontavam no Parlamento
que os males, a serem erradicados do território brasileiro, originar-se-iam antes nos hábitos e na
educação, para, como decorrência, fixarem-se posteriormente nas leis e nas instituições. Assim, a
mística da nacionalidade veio acompanhada por um projeto pedagógico que traduzia, enquanto
Dessa forma, cabia ao Estado, como operador na identidade nacional, agir para
a construção de uma identidade nacional harmoniosa, o que permitiria, ao Brasil, um
desenvolvimento econômico, já que o país do século XIX não acompanhava a mesma realidade
economicamente avançada dos países europeus. As formas arcaicas de produção, a abundância
de mão de obra e a baixa densidade demográfica representavam uma limitação de nossa estrutura
agrária exportadora, na virada para o século XX. Mesmo assim, já se cogitava um processo de
urbanização no próprio sistema monárquico, por isso havia a necessidade de criar uma educação
voltada para a produção industrial, intrínseca ao desenvolvimento econômico do país.
Para exemplificar a busca pelo progresso, apregoado pelo Iluminismo no Brasil,
Hilsdorf (2005) cita Rui Barbosa como um demonstrativo da ilustração liberal brasileira na rota
do desenvolvimento do país. A autora ainda relata que Rui Barbosa, em seus pareceres sobre
a reforma do Ensino Primário, apresentava nitidamente sua concepção sobre o terreno a ser
cultivado. A prosperidade da nação deveria se aliar ao trabalho; e este, a seu corolário intrínseco:
a instrução popular.
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Pelas lentes de Hilsdorf (2005), percebo que, para Rui Barbosa, a educação pública no Brasil teria
a função de formar o sujeito iluminista, enfatizando a importância da instrução pública como
forma de preparar o indivíduo para o trabalho.
O discurso da elite brasileira em relação ao atraso econômico, social e cultural no
Brasil, naquele momento da história, devia-se à ignorância das camadas brasileiras como fator
propulsor de todos os males. Nesse discurso, somente pela razão, o homem poderia ser livre
frente aos perigos da natureza porque o conhecimento científico, transmitido pelas instituições
escolares, poderia dominá-la. Constituir o ensino liberal não seria, contudo, uma tarefa para
qualquer pessoa e sim um dever urgente de estratos esclarecidos da população, os únicos capazes
de efetuar um projeto de responsabilidade social e política.
Nesse projeto de formatar o Brasil, a escola era considerada uma instituição voltada para
assegurar garantias da extensão progressiva, gradual, contida e vigiada da vontade popular.
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Essa narrativa da modernidade, ao mesmo tempo que nos explica o mundo, nos aprisiona
dentro de determinados enquadres, construindo, assim, as metanarrativas, que têm as pretensões
de organizar, subordinar e explicar outras narrativas. Elas são totalizantes e universalizantes, com
pretensão de ensinar como pensar e analisar as questões sociais. Sacristan (2001) afirma que a
educação contribuiu consideravelmente para fundamentar e para manter a ideia de progresso
como processo de marcha ascendente na História.
Pode-se dizer que os grupos escolares atenderam, nas primeiras décadas de sua
implantação, a alunos provenientes das camadas populares, no entanto, daqueles
setores mais bem integrados no trabalho urbano. Desse contingente estavam
excluídos os pobres, os miseráveis e os negros (SOUZA, 1998, p. 27, grifo
nosso).
A organização da escola pública brasileira teve como base a construção dos sujeitos do
Iluminismo moderno, mesmo assim vários grupos pertencentes a essa sociedade ficaram de fora
desse projeto. Souza (1998) cita pobres, miseráveis e negros que lutaram ao longo de todo o
século XX, para adentrar no espaço escolar, e que naqueles espaços que conseguiram adentrar
lutaram pela valorização de sua cultura e características identitárias.
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• Primeiro devido aos contrastes sociais existentes nas regiões do Brasil e logo de
comunidade indígena para comunidade indígena;
• Segundo devido à diversidade de populações indígenas no Brasil que, segundo dados do
IBGE de 2010, eram mais de 240 povos diferentes;
• Terceiro motivo: está vinculado à concepção mais atual de que temos populações
indígenas e seus descendentes que não estão aldeados, e à necessidade de que a educação
contemple esses cidadãos.
É necessário ressaltarmos que as políticas adotadas para as populações e comunidades
indígenas, na atualidade, vêm se mostrando pouco eficaz para melhorar as condições econômicas,
• Aos povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e econômicas
os distingam de outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos, total ou
parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por legislação especial;
• Aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem de
populações que habitavam o país, ou uma região geográfica pertencente ao país na época
da conquistada ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras estatais
e que, seja qual for sua situação jurídica, conservam todas as suas próprias instituições
sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas.
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Em segundo lugar:
• A consciência de sua identidade indígena ou tribal deverá ser considerada como critério
fundamental para determinar os grupos aos que se aplicam as disposições da presente
Convenção.
O Estatuto do Índio, publicado em 1973, por meio da Lei 6.001/73, define, em seu artigo
3º, indígena como: “[...] todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica
e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem
da sociedade nacional”. Luciano (2006) conclui que os critérios utilizados consistem basicamente:
a) na autodeclaração e consciência de sua identidade indígena; b) no reconhecimento dessa
identidade por parte do grupo de origem.
O intelectual indígena Luciano (2006) também nos ajuda a responder à pergunta que
achamos essencial para trabalharmos com a Lei 11.645/2008 em sala de aula, que é como se deu
o contato entre os primeiros portugueses que aportaram no Brasil no século XV e os nativos que
aqui já estavam?
Luciano (2006) argumenta que historicamente os povos indígenas têm sido objeto de
múltiplas imagens e conceituações por parte dos não índios e, em consequência, os próprios
índios são marcados profundamente por estereótipos e preconceitos. Ao aportarem no Brasil,
por volta de 1500, os portugueses encontraram por volta de 4 a 5 milhões de nativos distribuídos
ao longo do território que chamaria Brasil, tal população viria a ser chamada de índios. Hoje, essa
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Considerando que no Brasil temos mais de 150 línguas e dialetos falados pela população
indígena, a discussão sobre uma educação bilíngue e intercultural se torna essencial para essa
população, introduz a discussão do multiculturalismo e etnia na educação básica, e encaminha
ao “Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura”,
tendo a obrigação de desenvolver programas apropriados à educação indígena (art.78) com o
apoio técnico e financeiro da União (art. 79). A LDB prevê que os programas sejam planejados
com audiência das comunidades indígenas, mas determina previamente seus objetivos.
Essas bases legais apontam a relevância de problematizar a educação escolar indígena.
Sua importância concentra-se na atualidade e conflituosidade do tema, que suscita em
desdobramentos em várias áreas do conhecimento.
A identidade se constitui na diversidade e, no âmbito da indígena, tem gerado grandes
discussões, merecendo um papel de destaque na Constituição Federal em seus artigos 210, 215,
216 e 231, bem como na Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, recentemente
aprovada em nível mundial.
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A Constituição Federal de 1988 (CF) declara em seu artigo 210, parágrafo 2º, que “[...] O
ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades
indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”.
É nesse sentido que este trabalho caminha para que os povos indígenas possam ter seus direitos
assegurados, pois ao longo de vários séculos isso lhes foi usurpado, negado, negligenciado.
No mesmo sentido, o artigo 215 da Constituição Federal afirma que “[...] O Estado
garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e
apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais [...]”. Assegurar que a
cultura indígena seja valorizada e conhecida pelos cidadãos brasileiros é uma questão de cidadania,
pois a mesma lei, no seu parágrafo 1º, destaca que “[...] O Estado protegerá as manifestações das
culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional”.
Tanto a cultura negra como a cultura indígena fazem parte das políticas de reparação e
é uma questão de justiça histórica pelo processo a que foram submetidos os povos indígenas e
a população negra ao longo de vários séculos. Hoje podemos afirmar que a cultura dos povos
indígenas e a população negra fazem parte do patrimônio material e imaterial do Brasil, mesmo
que o Estado, muitas vezes, não o reconheça.
São considerados bens de natureza material os bens imóveis, como castelos, igrejas, casas,
praças, conjuntos urbanos e ainda locais dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia,
a paleontologia e outras ciências. Neles, incluímos as pinturas, esculturas e o artesanato.
Assim, a terra ou o território pertencente a determinado grupo indígena constitui um
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
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Na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada
em 13 de setembro de 2007, alguns artigos merecem destaque.
3. Os Estados adotarão medidas eficazes, junto com os povos indígenas, para que
as pessoas indígenas, em particular as crianças, inclusive as que vivem fora de
suas comunidades tenham acesso, quando possível, à educação em sua própria
cultura e no próprio idioma.
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Fonte:<https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/
portugues/BDL/Declaracao_das_Nacoes_Unidas_sobre_os_
Direitos_dos_Povos_Indigenas.pdf>
Na educação escolar indígena, os fundamentos legais que a regem são específicos quando
se trata dos preceitos legais para a criação de novas escolas. Contudo, a implementação dos
currículos diferenciados esbarra nas questões burocráticas que envolvem carga horária, disciplinas
obrigatórias, formação específica dos(as) professores(as), entre outras questões relacionadas. Isso
faz com que os povos indígenas vivenciem dificuldades de toda natureza.
Desta forma, a LDB, em seu artigo 32, parágrafo terceiro, ressalta que “[...] O Ensino
Regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”, a fim de atender à sua
especificidade.
É necessário mostrar esses pequenos avanços, pelo fato de que as políticas governamentais
apontam para uma educação escolar indígena diferenciada, são capazes de garantir aos índios o
acesso a informações, conhecimentos gerais, nacionais, sem, contudo, desvalorizar sua identidade
cultural. A LDB, em seu artigo 78, salienta que:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Por fim, na história tradicional contada sobre o Brasil, pouco aparecem as contribuições
dos povos indígenas à formação da nação brasileira. Isto porque os povos indígenas, na maioria
das vezes, foram considerados de uma cultura inferior ou folclorizada, sem civilização e com
pouco progresso material, o que fez com que nas relações étnico-raciais, os povos indígenas
fossem relegados a um grupo que deveriam ser civilizados e europeizado.
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
CULTURA E SOCIEDADE
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................................98
1. O MEIO AMBIENTE..................................................................................................................................................99
1.1 FLUXO DE ENERGIA E CICLAGEM DA MATÉRIA ...............................................................................................100
1.1.1 FLUXO DE ENERGIA............................................................................................................................................100
1.1.2 CICLAGEM DA MATÉRIA................................................................................................................................... 101
1.2 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS.................................................................................................................................102
1.2.1 CICLO DO NITROGÊNIO.....................................................................................................................................102
1.2.2 CICLO DO FÓSFORO..........................................................................................................................................103
1.2.3 CICLO DO ENXOFRE..........................................................................................................................................103
1.3 CADEIAS E TEIAS ALIMENTARES.......................................................................................................................104
1.4 BIOMAS .............................................................................................................................................................105
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1.5 INFLUÊNCIA HUMANA NOS ECOSSISTEMAS ...................................................................................................107
1.5.1 EFEITO DE PESTICIDAS EM UM ECOSSISTEMA.............................................................................................107
1.5.2 EFEITO DE NUTRIENTES EM UM ECOSSISTEMA DE LAGOS....................................................................... 108
1.5.3 EFEITO DE PROJETOS SOBRE UM ECOSSISTEMA ....................................................................................... 108
2. ENERGIA E AMBIENTE.......................................................................................................................................... 109
2.1 FONTES DE ENERGIA........................................................................................................................................... 109
2.1.1 FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA................................................................................................................ 109
2.1.2 FONTES NÃO RENOVÁVEIS DE ENERGIA........................................................................................................112
3. O MEIO AQUÁTICO..................................................................................................................................................114
3.1 PARÂMETROS INDICADORES DE QUALIDADE DE ÁGUA..................................................................................114
3.1.1 PARÂMETROS FÍSICOS......................................................................................................................................115
3.1.2 PARÂMETROS QUÍMICOS.................................................................................................................................116
3.1.3 PARÂMETROS BIOLÓGICOS.............................................................................................................................. 117
4. O MEIO TERRESTRE...............................................................................................................................................119
4.1 COMPOSIÇÃO DO SOLO........................................................................................................................................119
4.2 FORMAÇÃO DO SOLO...........................................................................................................................................120
4.3 CARACTERÍSTICAS ECOLOGICAMENTE IMPORTANTES DOS SOLOS............................................................120
4.3.1 ACIDEZ.................................................................................................................................................................120
4.3.2 TROCA DE ÍONS.................................................................................................................................................121
4.3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS .........................................................................................................................................121
4.3.4 RESÍDUOS PERIGOSOS ....................................................................................................................................122
4.3.5 RESÍDUOS RADIOATIVOS ................................................................................................................................122
5. O MEIO ATMOSFÉRICO..........................................................................................................................................123
5.1 CARACTERÍSTICAS DA ATMOSFERA...................................................................................................................123
5.2 PROCESSOS POLUENTES....................................................................................................................................124
5.2.1 PROCESSOS DE COMBUSTÃO..........................................................................................................................124
5.2.2 PROCESSOS NAS INDÚSTRIAS SIDERÚRGICA E METALÚRGICA................................................................124
5.2.3 PROCESSOS DA INDÚSTRIA QUÍMICA...........................................................................................................124
5.2.4 PROCESSOS NA CONSTRUÇÃO.......................................................................................................................124
5.2.5 PROCESSOS PETROQUÍMICOS.......................................................................................................................125
5.2.6 POLUENTES NA ATMOSFERA..........................................................................................................................125
5.2.7 CHUVA ÁCIDA ....................................................................................................................................................125
5.2.8 EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL...................................................................................................126
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5.2.9 DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO..............................................................................................................127
5.2.10 PADRÕES DE QUALIDADE DO AR......................................................................................................................127
6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA).................................................................................................................................. 128
6.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......................................................................................... 128
6.2 PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................................... 129
6.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INTERFACES E PECULIARIDADES............................................................................. 129
6.3.1 EDUCAÇÃO INDÍGENA......................................................................................................................................... 130
6.3.2 RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA E O MEIO AMBIENTE............................................................................ 130
6.3.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................................................................131
7. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL........................................................................................................................132
7.1 CONCEITOS BÁSICOS..............................................................................................................................................132
7.2 OS TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE......................................................................................................... 134
7.2.1 VISÃO AMBIENTAL............................................................................................................................................... 134
7.2.2 VISÃO ECONÔMICA ............................................................................................................................................ 134
7.2.3 VISÃO SOCIAL ..................................................................................................................................................... 135
7.3 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE................................................................................... 135
7.3.1 PEGADA ECOLÓGICA (ECOLOGICAL FOOTPRINT) ........................................................................................... 135
7.4 TRATADOS MUNDIAIS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................137
7.4.1 O PRIMEIRO INFORME DO CLUBE DE ROMA....................................................................................................137
7.4.2 A CONFERÊNCIA EM ESTOCOLMO (SUÉCIA)....................................................................................................137
7.4.3 PROTOCOLO DE MONTREAL (CANADÁ)............................................................................................................ 138
7.4.4 ECO-92 OU RIO-92 (BRASIL).............................................................................................................................. 138
7.4.5 PROTOCOLO DE KYOTO (JAPÃO)....................................................................................................................... 138
7.4.6 RIO + 10 (JOHANESBURGO, ÁFRICA DO SUL).................................................................................................. 139
7.4.7 RIO + 20 (RIO DE JANEIRO – BRASIL)............................................................................................................... 139
7.5 PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NO BRASIL............................................................................................. 139
8. POLÍTICAS AMBIENTAIS, PROGRAMAS E LEGISLAÇÃO...................................................................................... 140
8.1 ASPECTOS LEGAIS E REGULAMENTADORES DO MEIO AMBIENTE ................................................................ 140
8.1.1 ZONEAMENTO AMBIENTAL..................................................................................................................................141
8.1.2 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL...............................................................................................................141
8.1.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL .......................................................................................................................... 142
8.1.4 LICENÇA PRÉVIA (LP)......................................................................................................................................... 143
8.1.5 LICENÇA DE INSTALAÇÃO (LI) ........................................................................................................................... 143
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8.1.6 LICENÇA DE OPERAÇÃO (LO)..........................................................................................................................144
8.2 RECUPERAÇÃO E CONTROLE DE AMBIENTES DEGRADADOS.......................................................................144
8.2.1 COMO RECUPERAR AS ÁREAS DEGRADADAS .............................................................................................146
9. GESTÃO DO AMBIENTE.........................................................................................................................................146
9.1 GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...................................................................................................................... 147
9.2 INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL ......................................................................................................148
9.2.1 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA).................................................................................................148
9.2.2 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA (ACV)............................................................................................................149
9.2.3 RÓTULO ECOLÓGICO .......................................................................................................................................149
9.2.4 ECODESIGN.......................................................................................................................................................150
9.2.5 AUDITORIA AMBIENTAL.................................................................................................................................. 151
9.2.6 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL (ADA)....................................................................................... 151
9.2.7 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA)...................................................................................................... 151
9.3 DOCUMENTOS RELATIVOS AOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL............................................... 151
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................................... 153
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1. O MEIO AMBIENTE
Para iniciarmos esta unidade, vamos discutir alguns conceitos de meio ambiente. Veja
alguns exemplos:
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O fluxo de energia no ecossistema envolve diversos níveis de seres vivos. Toda a energia
da Terra tem como fonte as radiações recebidas do Sol; assim, há três grupos principais de
organismos dentro de um ecossistema, os quais constituem a cadeia alimentar: os produtores,
as algas e vegetais (e algumas bactérias que fazem quimiossíntese), denominados assim por
produzirem as moléculas de alta energia (C6H12O6 – glicose); os consumidores, representados
pelos animais, que se alimentam dos produtores, ou seja, denominados assim por consumirem
essas moléculas de alta energia (herbívoros) ou se alimentarem de outros animais (carnívoros), os
quais obtêm moléculas com menor quantidade de energia; e os decompositores, invertebrados
pequenos, bactérias e fungos, que fazem a decomposição da matéria orgânica (de origem animal
ou vegetal) morta, resíduos de vegetais e animais denominados detritos, que ainda possuem
uma quantidade de energia considerável (daí a importância de se tratarem as águas residuárias,
devido ainda a serem fonte de energia e continuarem sofrendo alterações no ambiente). Desse
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Suponha que um vegetal receba 1.000J de energia solar. Desse total, 760J não são
absorvidos, e apenas 240J são absorvidos. Desses 240J absorvidos, a maior parte é liberada
como calor, e apenas 12J são utilizados para a produção do vegetal, sendo 7J para a respiração
(manutenção) e 5J para a formação de novos tecidos no vegetal. Se o vegetal for ingerido por um
consumidor, cerca de 90% dos 5J que estavam presentes no tecido vegetal e que passaram para o
consumidor serão direcionados para a manutenção do animal, e apenas 10% (ou seja, 0,5J) serão
utilizados na formação de novos tecidos e ficarão disponíveis para o próximo consumidor. Se
o segundo animal ou segundo consumidor for um ser humano, então, receberá 0,5J da energia
proveniente do Sol (1.000J) e utilizará para a formação de novas células e tecidos apenas 0,05J,
segundo Vesilind e Morgan (2015).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Desse modo, os nutrientes percorrem uma cadeia ou teia alimentar de forma cíclica, não há
perdas significativas para o ambiente, como ocorre no fluxo de energia. O processo de reciclagem
de matéria apresenta elevada importância, pois os recursos da Terra são finitos, e a vida depende
do equilíbrio natural desse ciclo (BRAGA et al., 2005).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Esse processo é realizado por bactérias do gênero Rhizobium, em raízes de leguminosas no meio
terrestre e por certas bactérias e algas cianofíceas (cianobactérias) no meio aquático. Apesar de
extremamente abundante na atmosfera, o nitrogênio é frequentemente um nutriente limitante do
crescimento das plantas (sua ausência prejudica o desenvolvimento vegetal), porque as plantas
apenas conseguem usar o nitrogênio sob três formas sólidas: íon de amônio (NH4+), íon de
nitrito (NO2-) e, em especial, íon de nitrato (NO3-). Esses compostos são obtidos através de vários
processos dependentes de bactérias. Os animais recebem o nitrogênio de que necessitam através
das plantas e de outra matéria orgânica, como de outros animais, através da teia alimentar.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
O conhecimento das cadeias alimentares permite a atuação sobre elas a favor dos seres
humanos. Possibilita, por exemplo, o aumento da produtividade agrícola, com um combate mais
eficiente às pragas, incorporando à cadeia alimentar predadores naturais e minimizando o uso de
defensivos agrícolas (BRAGA et al., 2005).
1.4 Biomas
Devido à grande diversidade de habitats existentes no planeta e em função do clima,
distribuição de nutrientes, topografia, pluviosidade, incidência de radiação solar e predomínio
de espécies específicas em diferentes regiões, são formados grandes ecossistemas denominados
biomas. Bioma pode ser considerado como a maior unidade de comunidade, com flora, fauna
e clima próprios, segundo Grisi (2007). A seguir, será apresentada uma breve descrição dos
diferentes biomas terrestres e aquáticos, segundo Braga et al. (2005).
Os biomas aquáticos são classificados em dois grupos: o marinho (mares e oceanos) e o
de água doce (lagos, lagoas e rios). A classificação dos biomas terrestres é mais ampla (Figura 5).
Vamos iniciar pelo Polo Norte. A tundra é considerada o bioma mais frio do planeta. Possui
solo congelado na maior parte do ano, formando regiões pantanosas. Há predomínio de musgos,
líquens, plantas rasteiras e ausência de árvores. O bioma denominado taiga (também floresta
boreal ou floresta de coníferas) possui uma vegetação pouco diversificada, com predomínio,
portanto, de coníferas (pinheiros resistentes e perenes). A precipitação (chuva) nesse bioma,
principalmente no verão, é maior do que na tundra. A floresta temperada é bem desenvolvida
na Europa e América do Norte, mas também no Japão e na Austrália. Ocorre em regiões de clima
moderado, com inverno bem definido e precipitação abundante, que se distribui durante todo o
ano. Possui uma flora composta por árvores caducifólias (que perdem suas folhas no inverno) e
uma vegetação mais baixa, como arbustos, bem desenvolvida e diversificada. A floresta tropical,
evidentemente no Brasil, está presente em uma região em que não há grandes oscilações de
temperatura durante o ano, portanto, sem grandes distinções entre as estações. Nesse tipo de
floresta, ocorre precipitação elevada, distribuída durante todo o ano, portanto, elevada umidade.
Nessa região, há o ápice da diversidade animal e vegetal, com árvores de grande porte e densa
folhagem, com poucas espécies arbustivas e herbáceas.
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Outro bioma terrestre é chamado de campos, com predomínio de vegetação herbácea baixa.
Esse bioma é dividido em dois subtipos: pradaria, que inclui gramíneas (pampas e cerrado no
Brasil), e savana (Índia e África), que inclui arbustos e pequenas árvores. Por fim, outro bioma é
o deserto, típico de regiões áridas de vegetação rara e espaçada, com predomínio de solo nu. São
locais de baixa precipitação ou alta precipitação mal distribuída, com fauna típica.
Desse modo, os biomas brasileiros (Figura 6) são:
- Amazônia (floresta tropical);
- Cerrado (campo). Na região Norte, esse bioma está presente na forma de savanas de
gramíneas baixas; na Região Sul, aparece como as pradarias mistas subtropicais;
- Mata Atlântica (floresta tropical);
- Caatinga (sertão), bioma típico do Brasil, com vegetação caducifólia;
- Pampa (pradaria, citada anteriormente);
- Pantanal, uma planície alagável, na qual a riqueza de flora e fauna é regulada pelo ciclo
das águas, ou seja, períodos de seca e cheia. O pantanal é praticamente exclusivo do Brasil,
pois apenas uma pequena faixa desse bioma pertence ao Paraguai e à Bolívia.
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Figura 7 - Bioampliação de mercúrio em um corpo aquático. Fonte: Mr. Mitchells Biology (2021).
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2. ENERGIA E AMBIENTE
Os seres humanos precisam de energia para cozinhar seus alimentos, para a proteção
contra o frio, para o transporte de pessoas, matérias-primas e produtos, para mover máquinas
e aquecer fornos e caldeiras. Assim, os impactos no meio ambiente estão relacionados a três
aspectos: ao crescimento populacional, a essa demanda de matéria e energia e à geração de
resíduos. O desenvolvimento tecnológico, social e econômico aumenta as quantidades de materiais
e de energia para satisfazer aos padrões adquiridos pela sociedade e, consequentemente, eleva a
produção de resíduos (BRAGA et al., 2005). A redução da produção de energia por combustíveis
fósseis de 1980 a 2012 foi de 69,6 para 67,2% (não representativa), contudo, o aumento da
produção por fontes renováveis passou de 0,4 para 5%, com destaque para a energia eólica (2,4%)
(Figura 8).
No Brasil, a maior geração de energia é realizada por hidrelétricas (63,2%), seguida pela
geração a partir de gás natural (13,7%) e por biomassa (7,6%), segundo Brasil (2015).
Aquelas fontes cuja utilização pode ser mantida e aproveitada ao longo do tempo, sem
possibilidade de esgotamento.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Hidroeletricidade
É um dos métodos mais eficientes de geração de energia. Consiste em aproveitar a
energia potencial da água, através da transformação em energia mecânica, pela passagem por
uma turbina e transformação dessa energia em eletricidade pela passagem por um gerador. O
Brasil é o país com maior potencial hidrelétrico do mundo, com mais de 70% desse potencial
presente nas bacias do Amazonas e do Tocantins/Araguaia, segundo ANEEL (2008). Localizada
em nosso País, a Itaipu Binacional é considerada a maior usina hidrelétrica do mundo em geração
de energia, com 14.000 MW de potência instalada, fornecendo 20% da energia consumida no
Brasil e abastecendo 94% do consumo paraguaio, segundo Itaipu Binacional (2017).
Contudo, a construção de uma hidrelétrica está relacionada a alguns impactos
socioambientais, como: elevação do lençol freático, podendo a água ficar imprópria para o
consumo, inclusive em regiões vizinhas; o alagamento geralmente atinge áreas de solos férteis,
provocando a saída compulsória da população e desintegrando costumes; afetam a fauna e flora
locais; milhares de famílias são desapropriadas e possuem suas terras e residências relocadas;
ainda, foram registrados vários casos de rompimento de grandes barragens, uma possibilidade
crescente na medida em que ocorre o envelhecimento da estrutura construída através de
infiltrações (NOELI, 2005).
- Mar
A geração de energia elétrica utilizando água do mar pode ser a partir da energia cinética
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Energia eólica
Nessas usinas, ocorre a transformação da energia cinética contida no vento em
eletricidade. Os aspectos positivos em relação à fonte eólica são renovabilidade, perenidade,
grande disponibilidade, independência de importações e ausência de custo para obtenção de
- Biomassa
Energia de biomassa é proveniente de qualquer matéria orgânica que possa ser
transformada em energias mecânica, térmica ou elétrica. Pode ser classificada em biomassa
florestal (madeira, principalmente), agrícola (soja, arroz, cana-de-açúcar, entre outras) e de rejeitos
urbanos e industriais (sólidos ou líquidos). A geração de energia pode ocorrer por combustão
direta para obtenção do calor, em fornos (metalurgia) e caldeiras, com a formação de vapor para
acionar turbinas, ou pode haver a conversão de um combustível sólido (normalmente, lenha) em
outro de melhor qualidade e conteúdo energético (como o carvão). A biomassa é uma das fontes
para produção de energia com maior potencial de crescimento nos próximos anos, tanto no
exterior como no Brasil. O Brasil se destaca como o segundo maior produtor de etanol, obtido a
partir da cana-de-açúcar. Como os combustíveis fósseis, a combustão de biomassa também libera
o poluente gás carbônico (CO2), assim, sua aplicação moderna e sustentável está diretamente
relacionada ao desenvolvimento de tecnologias de produção da energia e às técnicas de manejo
da matéria-prima. Por outro lado, os recursos podem ser regenerados dentro de poucos anos, por
isso, a biomassa é considerada um recurso renovável, segundo Carmona et al. (2003).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Geotérmica
É a energia gerada a partir do calor existente no interior da Terra. As principais fontes são
os gêiseres (fontes de vapor no interior da Terra, que apresentam erupções periódicas) e o calor
existente no interior das rochas para o aquecimento da água (em regiões próximas aos gêiseres),
segundo Braga et al. (2005).
A partir dessa água aquecida (150 a 3500 C), é produzido o vapor utilizado em usinas
termelétricas ou a partir da utilização de vapor quente seco para movimentar as turbinas, segundo
ANEEL (2008).
É possível encontrar aquíferos em profundidades menores que cinco quilômetros.
Essas fontes são principalmente formadas por combustíveis fósseis, sendo depósitos
naturais de petróleo, gás natural e carvão mineral. São constituídas de energia solar retida na
forma de energia química, em depósitos formados há milhões de anos através da decomposição
de vegetais e animais, segundo Braga et al. (2005). Soma-se às fontes não renováveis a energia
nuclear.
O processo de produção de energia elétrica é semelhante em todas as usinas que utilizam
como matéria-prima os combustíveis fósseis. Em geral, esse material é queimado em uma câmara
de combustão, e o calor obtido nesse processo é usado para aquecer e aumentar a pressão da
água, que se transforma em vapor. Esse vapor movimenta as turbinas, que transformam a energia
térmica em energia mecânica. Um gerador transforma a energia mecânica em energia elétrica.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Derivados de petróleo
O petróleo cru não tem aplicação direta, é necessário o processo de refino para a obtenção
de seus derivados, que são: gás liquefeito de petróleo (GLP ou gás de cozinha), gasolina, óleo diesel,
óleo combustível, nafta, querosene de aviação e de iluminação, asfalto, lubrificante, combustível
marítimo, solventes, parafinas e coque de petróleo (produto sólido). Tanto a geração de energia
elétrica a partir dos derivados de petróleo quanto o consumo dos combustíveis derivados geram
emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. Além disso, há perspectiva de esgotamento,
em médio prazo, das reservas hoje existentes, cerca de 40 anos, segundo ANEEL (2008).
- Gás natural
É um gás resultante da decomposição da matéria orgânica durante milhões de anos.
Nas primeiras etapas desse processo, o gás natural encontra-se associado ao petróleo, mas, nos
últimos estágios de degradação da matéria, esse gás é produzido separadamente; portanto, há
reservas de gás natural associado ao petróleo ou em campos isolados (gás natural não associado),
segundo ANEEL (2008).
O gás natural é formado por gás metano (70 a 99%), com pequenas quantidades de
hidrocarbonetos gasosos mais pesados, como propano e butano. No uso do gás natural, o propano
e o butano são liquefeitos, gerando o GLP, e o metano é distribuído em redes. Se mantidas as
taxas de consumo atual, estima-se que há reservas de gás natural suficientes para os próximos 50
anos. Esse gás produz menos poluentes se comparado à queima de outros combustíveis fósseis,
- Carvão mineral
Cerca de 80% do consumo de carvão são destinados para a geração termoelétrica, e o
restante é utilizado na metalurgia e combustível em caldeiras. O carvão é o combustível fóssil
mais abundante na Terra (73%), seguido pelo petróleo (14%) e pelo gás natural (13%). Apesar de
sua abundância relativa, o consumo de carvão diminuiu significativamente nas últimas décadas
devido ao seu alto teor de liberação de enxofre e cinzas, gerando graves problemas ambientais.
Em virtude de seu poder calorífico inferior, o carvão gera 1,5 tonelada de CO2 por mJ de energia
térmica liberada, o que é quase 30% maior do que as emissões de outros combustíveis fósseis,
segundo Carmona et al. (2003).
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Energia nuclear
A matéria-prima para a produção da energia nuclear é, principalmente, o minério de
urânio, encontrado em estado natural nas rochas da crosta terrestre, mas existem também as
fontes secundárias, compostas por material obtido com a desativação de artefatos bélicos,
estoques civis e militares, reprocessamento do urânio já utilizado e sobra do material usado
no processo de enriquecimento. O urânio é principalmente aplicado em usinas térmicas para
a geração de energia elétrica, denominadas usinas termonucleares. Nessas usinas, o núcleo do
átomo é submetido a um processo de fissão (divisão) para gerar a energia. Se a energia for liberada
lentamente, manifesta-se sob a forma de calor e, se for liberada rapidamente, manifesta-se como
luz. Nas usinas termonucleares, portanto, é liberada lentamente e aquece a água existente no
interior dos reatores a fim de produzir o vapor que movimenta as turbinas. Essa fonte passou
a ser considerada uma fonte limpa, considerando que sua operação origina baixos volumes de
gás carbônico (CO2). As reservas de urânio estão distribuídas por 14 países, destacando-se a
Austrália, Cazaquistão e Canadá, que somam mais de 50% do volume total. O Brasil ocupa o 7o
lugar do ranking mundial, com 6% do volume total, segundo ANEEL (2008).
No Brasil, há duas usinas nucleares em atividade (Angra 1 e 2) e uma em construção
(Angra 3), todas localizadas na Praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Todas as atividades
relacionadas à área nuclear no Brasil são de competência exclusiva da União, com exceção da
utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades
análogas, que podem ser realizados por terceiros por meio de concessão ou permissão, segundo
3. O MEIO AQUÁTICO
A água é um recurso natural essencial para a vida, pois todo o metabolismo dos seres vivos
funciona em meio aquoso no interior das células. Em nosso planeta, apenas uma porcentagem de
água é disponível para atividades humanas. Embora 70% da superfície da Terra sejam de água, a
maior parte dela está contida nos oceanos, e apenas 3% são reservas de água doce, que geralmente
não estão disponíveis, compondo calotas polares e geleiras, ou seja, cerca de 1% é água doce de
superfície acessível.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Temperatura
Este é um parâmetro importante visto que influencia na velocidade das reações químicas,
na solubilidade dos gases e na taxa de crescimento dos microrganismos. Com o aumento da
temperatura, ocorre uma redução na densidade da água. Desse modo, a inserção de efluentes
aquecidos ou que causem reações químicas que elevam a temperatura nos corpos aquáticos reduz
a densidade, pois aumenta a solubilidade dos nutrientes; com isso, as algas fitoplanctônicas, que
se sustentam na coluna de água devido à força de atrito, tendem a ocupar o fundo, reduzindo ou
cessando a fotossíntese, segundo Braga et al. (2005).
- Cor
A cor é um indicativo da presença de substâncias, partículas e organismos em grandes
quantidades, segundo Carmona et al. (2003). É uma das características que podem afetar a
penetração de luz no corpo aquático.
- Turbidez
É a medida da resistência da água à passagem de luz ou, ainda, é o grau de atenuação de
intensidade que um feixe de luz sofre ao atravessar a água. A água fica turva devido à presença de
materiais em suspensão ou de organismos microscópicos na água.
É expressa em unidades de turbidez, também denominadas unidades de Jackson ou, mais
comumente, unidades nefelométricas. A turbidez da água pode ser causada por lançamentos de
esgotos domésticos ou industriais. A turbidez natural das águas está, geralmente, compreendida
na faixa de 3 a 500 unidades para fins de potabilidade. Tal restrição fundamenta-se na influência
da turbidez nos processos usuais de desinfecção, atuando como escudo aos microrganismos
patogênicos, minimizando a ação do desinfetante. Considerando o padrão de potabilidade, a
turbidez da água não deve exceder 5uT (Portaria MS nº 2914/2011).
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- Sólidos
É considerada sólido total presente em um corpo aquático a matéria que permanece como
resíduo após evaporação de 103 a 105º C. Podem ser divididos em sólidos em suspensão e sólidos
filtráveis. O filtro utilizado possui cerca de 1 mícron (μ) de diâmetro. Assim, os sólidos retidos
no filtro são também denominados de sólidos em suspensão ou particulados, enquanto que os
sólidos que atravessam o filtro são classificados como sólidos dissolvidos ou solúveis.
O padrão de potabilidade refere-se apenas aos sólidos totais dissolvidos (limite: 1000
mg/L), pois essa parcela reflete a influência de lançamento de esgotos e afeta a qualidade
organoléptica (sabor, odor) da água. Os sólidos são tratados como parâmetros físicos embora
possam estar associados às características químicas e biológicas.
- Condutividade elétrica
Este parâmetro indica a capacidade de a água transmitir a corrente elétrica em função da
presença de substâncias dissolvidas, que se dissociam em ânions (íons negativos) e cátions (íons
positivos). Quanto maior a concentração iônica da solução, maior é a capacidade em conduzir
corrente elétrica. A condutividade elétrica é expressa em unidades de resistência (mho ou S)
por unidade de comprimento (geralmente cm ou m), em geral, μS/cm. Desse modo, em águas
naturais, a condutividade está na faixa de 10 a 100 μS/cm e, em ambientes poluídos por esgotos
domésticos ou industriais, os valores podem chegar a 1.000 μS/cm.
- pH
O pH ou potencial hidrogeniônico indica a intensidade das condições ácidas ou alcalinas
do meio aquoso, através da presença de íons hidrogênio (H+). Os valores de pH variam de 0 a 14,
sendo: inferiores a 7 para condições ácidas; superiores a 7 para condições alcalinas; e iguais a 7
considerados neutros. O valor do pH altera o grau de solubilidade das substâncias. As alterações
desse parâmetro podem ter origem natural (dissolução de rochas, fotossíntese) ou antropogênica
(despejos domésticos e industriais). Em águas de abastecimento, baixos valores de pH podem
contribuir para sua corrosividade e agressividade, enquanto que valores elevados aumentam
a possibilidade de incrustações nas tubulações. A acidificação das águas pode ser também um
fenômeno derivado da poluição atmosférica, mediante precipitações ou passagem direta de CO2
da atmosfera para água por diferença de concentração. Assim, em regiões muito poluídas, ocorre
passagem direta do CO2 da atmosfera para o corpo aquático. O pH para águas de abastecimento
deve estar entre 6,5 e 9,5, visando a minimizar os problemas de incrustação e corrosão das redes
de distribuição.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Dureza
A dureza das águas reflete a concentração, em solução na água, de cátions cálcio (Ca+2)
e magnésio (Mg+2), mas também pode ser por ferro (Fe+2), manganês (Mn+2), estrôncio (Sr+2)
e alumínio (Al+3). Águas com dureza elevada ou águas duras necessitam de muita quantidade
de detergentes, sabões e xampu para produzir espuma ou que dão origem a incrustações nas
tubulações de água quente, em panelas ou outros equipamentos, em que a temperatura da água
é elevada. A dureza das águas superficiais é menor do que a das águas subterrâneas e reflete
a natureza das formações geológicas com as quais ela esteve em contato. A dureza, em geral,
é expressa em mg/L de carbonato de cálcio CaCO3. O padrão de potabilidade para águas de
abastecimento é de 500 mg/L CaCO3.
- Nutrientes dissolvidos
Alguns nutrientes dissolvidos no meio aquático são essenciais para o desenvolvimento dos
seres vivos que ocupam esse meio. Nitrogênio e fósforo são fatores limitantes para o crescimento
de organismos autótrofos fotossintetizantes (algas e vegetais); portanto, o excesso desses nutrientes
provoca uma proliferação exagerada de algas, denominada eutrofização. Assim, os organismos
precisam de quantidades moderadas de sais de silício, cálcio, magnésio, sódio, potássio, enxofre,
cloro, ferro e de quantidades diminutas de manganês, cobalto, zinco, cobre, entre outros. Desse
modo, alterações nas concentrações de nutrientes dissolvidos causam mudanças na estrutura das
comunidades aquáticas.
Organismos que são utilizados para indicar mudanças do ambiente são denominados
bioindicadores. Os bioindicadores são importantes por serem muito sensíveis a poluentes, a
toxinas e a perturbações do meio, portanto, servem como alerta de desequilíbrio ambiental.
Podem fazer parte de diferentes grupos, como algas, bactérias, fungos, vegetais, protozoários,
microinvertebrados, entre outros; porém, as algas e os microrganismos patogênicos destacam-se
em relação aos parâmetros de qualidade de água.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
- Algas
As algas são pertencentes a três diferentes reinos: Monera, Protista e Plantae, sendo as
algas verdes (Chlorophyta/Plantae) as responsáveis pela maior parte da produção de oxigênio
molecular disponível no planeta a partir da fotossíntese. Contudo, a formação de grandes massas
de algas devido ao processo de eutrofização, comentado anteriormente, leva à produção de lodo
(Figura 1) e à liberação de vários compostos que podem ser tóxicos ou produzir sabor e odor
desagradáveis.
- Microrganismos patogênicos
Existem vários organismos patogênicos presentes em águas naturais, em geral,
provenientes do lançamento de águas residuais comunitárias, originários de indivíduos doentes
ou portadores. Considerando a dificuldade de identificação e contagem dos microrganismos
patogênicos, é habitual realizar a contagem de bactérias coliformes (coliformes totais, coliformes
fecais, Escherichia coli e estreptococos fecais) como um indicador da presença de microrganismos
patogênicos e de águas residuais de origem fecal. O padrão microbiológico da água para consumo
humano afirma que, em sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês, os coliformes totais
devem estar ausentes em 100ml em 95% das amostras examinadas no mês e, em sistemas que
analisam menos de 40 amostras por mês, apenas uma amostra poderá apresentar mensalmente
resultado positivo em 100 ml (Portaria MS nº 2914/2011).
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4. O MEIO TERRESTRE
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As cargas elétricas do solo são fundamentais nas trocas químicas entre as partículas
sólidas e a solução aquosa presente, repelindo ou absorvendo íons, configurando uma
característica denominada de capacidade de troca iônica do solo, segundo Braga et al. (2005). Ou
seja, as propriedades de adsorção e troca de íons do solo constituem o evento físico-químico de
maior importância no solo, definindo suas transformações desde a sua origem. Os solos tropicais
apresentam maior quantidade de cargas elétricas negativas e possuem, em geral, maior quantidade
de argilas e óxidos de ferro e alumínio.
Os resíduos sólidos são todo material sólido, ou semissólido (com teor de umidade
inferior a 80%), indesejável, que deve ser removido por ter sido considerado inútil e descartado.
Deve-se ressaltar que o que é descartado para um pode se tornar matéria-prima para outro. Há
várias maneiras de se classificarem os resíduos sólidos, mas as mais comuns estão relacionadas
aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e à natureza ou origem. Os resíduos
sólidos podem ser classificados de acordo com a NBR 10.004 (ABNT, 2004) em:
- Classe I ou perigosos: aqueles que apresentam risco ao meio ambiente e exigem tratamento
e disposição especiais ou que apresentam riscos à saúde pública. Por exemplo: embalagens de
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Estes são os resíduos sólidos que podem ser considerados nocivos ao meio ambiente e
à saúde, dos humanos e de outros organismos, no presente e no futuro. Os resíduos perigosos
são classificados em: resíduos biomédicos, aqueles de hospitais, clínicas e laboratórios, que
apresentam características patológicas e infecciosas; e resíduos químicos, os produzidos por
atividade industrial e utilizados por grande parte da sociedade, de forma direta ou indireta. Os
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5. O MEIO ATMOSFÉRICO
Fonte: A autora.
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As reações que ocorrem nestes processos são variadas, portanto, produzem diversos
poluentes. A maioria dos poluentes é gasosa, mas há poluentes compostos de partículas sólidas
e líquidas, derivados de enxofre (ácidos, sulfetos), derivados halogenados (cloretos, fluoretos,
iodetos, brometos, compostos orgânicos) e de metais pesados (chumbo, alumínio, ferro).
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A atmosfera da Terra é formada por vários gases, e cada um deles absorve calor do Sol em
comprimentos de ondas específicos. Assim, nosso planeta atua como um refletor dos raios do Sol,
recebendo a radiação, refletindo uma parte para o espaço e absorvendo o restante. Dessa forma,
a Terra mantém um equilíbrio de temperatura atmosférica, mantido pela parte da radiação solar
que não foi refletida para o espaço. Esse fenômeno natural é denominado efeito estufa. Sem o
efeito estufa, a temperatura da Terra seria de, aproximadamente, – 200 C (Figura 12).
Desse modo, há o aumento da concentração de gases considerados gases de efeito
estufa. Por exemplo, CO2, CH4, N2O, O3 e CFC (clorofluorcarbonetos) tendem a aumentar
a temperatura da superfície da Terra, gerando o denominado aquecimento global e causando
mudanças climáticas. A atenção é focada, principalmente, em emissões de CO2 uma vez que
estão diretamente relacionadas à geração de energia a partir de combustíveis fósseis. O aumento
da atividade industrial também acelera a taxa de emissões de CO2. A implementação de fontes
de energia alternativa (ou seja, que não utilizam a combustão de material orgânico), medidas
de conservação e aumento da eficiência energética, juntamente com programas extensos de
reflorestamento, poderiam reverter a tendência atual segundo Carmona et al. (2003).
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Nesse encontro, firmado pelo Brasil, foram estabelecidas definições, objetivos, princípios e
estratégias para a educação ambiental mundial. Além desses, outro documento internacional
relevante para a educação ambiental foi o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global, elaborado durante a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). O documento evidenciou a necessidade de formação
de um pensamento crítico, coletivo e solidário, de interdisciplinaridade, de multiplicidade e
diversidade e estabeleceu uma relação entre as políticas públicas de EA e a sustentabilidade, com
plano de ação para educadores ambientais, voltado para a recuperação, conservação e melhoria
do meio ambiente e da qualidade de vida.
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A comunidade indígena possui uma forte relação com a natureza. Essa integração pode
ser verificada no dia a dia, nas tarefas domésticas ou de subsistência e nas relações interpessoais.
As comunidades indígenas exercitam uma educação profundamente comprometida com seu
meio socioambiental. Em época de chuva, realiza-se determinado trabalho. No verão, faz-se
outro tipo de trabalho. Ou seja, há atividades que não se fazem quando está chovendo e outras
que não se fazem quando está seco. São regras ditadas pela natureza.
A exploração predatória e a degradação dos recursos naturais são diretas e facilmente
observáveis. Por exemplo, na cerimônia de casamento dos Auwe-Xavante (MT), há oferenda de
caça por parte do noivo à família da noiva. Ainda, se não há caça, não há matéria-prima para
confecção das vestimentas e adornos adequados à cerimônia.
A educação ambiental sempre foi praticada pelos seguidores dos orixás. Os orixás são
identificados como integrantes da natureza. São ancestrais divinizados, que se transformaram
em rios, árvores, pedras, entre outros, os quais fazem a intermediação entre os homens e as forças
naturais e sobrenaturais. Cada habitat natural está relacionado a um orixá, que tem como um de
seus atributos preservar o planeta e a humanidade. Por exemplo, Iemanjá (Figura 15), soberana
das águas do mar, protege o ecossistema aquático e é considerada a grande mãe dos orixás e do
Brasil, como padroeira, sendo igual à Nossa Senhora da Conceição Aparecida; ainda, Xangô,
Deus do trovão e da justiça, é similar à figura de São Jerônimo.
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O candomblé valoriza não apenas a vida religiosa, mas também a vida social, hierárquica,
ética e moral. Para que cada ecossistema tenha o seu guardião, Oludumaré (o Deus Supremo)
presenteou cada divindade com um atributo para auxiliá-lo na grande obra de perpetuação da
humanidade.
Preservar, cuidar e manter o ecossistema, a fauna e a flora, é condição fundamental para
os participantes dessa religiosidade afro-brasileira. Os ritos e rituais são propiciados por meio de
folhas, banhos de águas naturais e por partes de animais consagrados aos orixás. Ou seja, para a
religião dos orixás, a natureza é parte fundadora da constituição dos seres.
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7. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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Nesta visão, a principal preocupação está relacionada aos impactos da atividade humana
sobre o meio ambiente, denominada de capital natural. A sustentabilidade ambiental se preocupa
em aumentar a capacidade do planeta por meio da utilização do potencial encontrado nos diversos
ecossistemas e de se manter um nível mínimo de deterioração desses ambientes por meio da
redução do uso de combustíveis fósseis e diminuição da emissão de gases e outras substâncias
poluentes. Além disso, visa a adotar políticas de conservação de energia, com a substituição de
recursos não renováveis por renováveis, além de aumentar a eficiência em relação aos recursos
utilizados.
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Essas duas abordagens consideram que o capital natural não deve ser tratado independentemente
do sistema como um todo, mas, sim, como parte integrante dele. Essa integração entre ambiente
e economia deve ser alcançada dentro do processo decisório, dentro dos diferentes setores, como
governo, indústria e ambiente doméstico, visando a alcançar a sustentabilidade.
Essa é uma ferramenta proposta por Wackernagel e Rees (1996), que representa o espaço
ecológico correspondente para sustentar um determinado sistema ou unidade; ou seja, é uma
ferramenta que transforma o consumo de matéria-prima e a assimilação de dejetos de um sistema
econômico ou população humana em área correspondente de terra ou água produtiva. O tamanho
da área requerida vai depender das receitas financeiras, da tecnologia existente, dos valores
predominantes dentro do sistema e de outros fatores socioculturais. Esse método fundamenta-
se basicamente no conceito de capacidade de carga, que, para efeito de cálculo, corresponde à
máxima população que pode ser suportada indefinidamente no sistema. O cálculo do método é
baseado na ideia de que, para cada item de matéria ou energia consumida pela sociedade, existe
uma certa área de terra, em um ou mais ecossistemas, que é necessária para fornecer o fluxo
desses recursos e absorver seus dejetos.
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A medida de pegada ecológica é feita em hectares globais (gha). Cada hectare global
representa a média da capacidade de produção anual de determinada região, considerando
recursos naturais biológicos e renováveis como grãos, carne, madeira, fibras, vegetais, peixes
e energia renovável. Desse modo, quanto maior o valor da Pegada Ecológica, maior o dano
ambiental. Um método de avaliação é descrito pela seguinte fórmula:
N * [∑(Ci/Pi)], em que:
N= número de habitantes
Ci = consumo médio per capita de cada bem
Pi = produtividade ou quantidade de terra
A pegada ecológica engloba a terra bioprodutiva, mar bioprodutivo, área de energia fóssil,
área urbanizada e biodiversidade.
Figura 18 - Pegada ecológica mundial entre 1961 e 2005. Fonte: WWF (2021).
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O Clube de Roma foi fundado em 1968 por políticos, físicos, industriais e cientistas,
em uma pequena vila italiana, para debater sobre o desenvolvimento sustentável. Em 1972, foi
publicado o Primeiro Informe do Clube de Roma, intitulado “Limites do Crescimento”, ressaltando
que não pode haver crescimento infinito com recursos finitos. Desse modo, determinaram-se
cinco fatores básicos que limitam o crescimento no planeta: a população, a produção agrícola, os
recursos naturais, a produção industrial e a poluição. Foram propostas medidas para atenuação
de impactos ambientais, como deter o crescimento demográfico, limitar a produção industrial, o
consumo de alimentos e matérias-primas e deter a poluição.
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É a licença concedida para a construção da obra. Essa licença é solicitada na fase preliminar
da atividade, correspondente à fase de estudos e da escolha da localização do empreendimento.
Nessa fase, o empreendedor e o órgão licenciador definem o local do projeto e atestam a concepção e
viabilidade ambiental do empreendimento, estabelecendo os requisitos básicos a serem atendidos
nas próximas fases. O projeto básico será elaborado somente após a expedição da LP. O pedido
de LP deve vir acompanhado de certidão da Prefeitura do Município onde se deseja iniciar as
obras, comprovando que o local pode receber a atividade, ser publicado no Diário Oficial e em
periódico de grande circulação. Também deve atender aos prazos determinados; caso eles não
sejam atendidos, a licença poderá ser arquivada. Dependendo do local e da atividade, poderá
haver a exigência de audiências públicas. Quando expedir licença prévia, o órgão ambiental
estabelecerá as medidas mitigadoras que devem ser contempladas no projeto de implantação
como condição para solicitar e obter a Licença de Instalação. Quando o empreendimento
configurar casos de significativo impacto, o empreendedor é obrigado a apoiar financeiramente a
implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, conforme
previsto no Art. 2º, incisos I e VI, da Lei 9985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza.
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A Licença de Operação tem validade de, no mínimo, 4 e, no máximo, 10 anos e deve ser
requerida com antecedência mínima de 120 dias antes do término do prazo da validade da licença
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A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu art. 2º, incisos XIII e XIV, distingue, para
seus fins, um ecossistema “recuperado” de um “restaurado”, da seguinte forma:
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Para indicar a melhor solução para recuperar áreas degradadas, devem ser considerados
os fatores eficiência, segurança e custo. Ainda, deve ser identificada a diferenciação entre medidas
corretivas e preventivas. Uma ação corretiva é resultante de um planejamento sistemático, com
o objetivo de detectar não conformidades ou oportunidades de melhoria existentes e eliminar
as causas dessas não conformidades para prevenir reincidências e consolidar ganhos obtidos.
Por outro lado, uma ação preventiva é a antecipação do problema através da elaboração de um
planejamento que visa a não ocorrência da não conformidade, ou seja, identificar potenciais
oportunidades para preveni-las. Após essa identificação, devem ser concretizadas as providências
a serem tomadas e designá-las aos responsáveis e participantes para colocá-las em prática.
Ressalte-se que o esforço para identificar os problemas deve ser periódico, que deve ocorrer uma
análise crítica do problema como instrumento para acompanhar as ações preventivas em curso
e que a administração das ações preventivas pendentes deve ocorrer de forma contínua e seja
tratada de acordo com a prioridade de cada uma.
9. GESTÃO DO AMBIENTE
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Quadro 2 - Principais catástrofes ambientais ocorridas no século XX. Fonte: Teixeira (2021).
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No Brasil, apenas a partir da década de 1980, com a edição da Lei Federal n0 6.938, de
31 de agosto de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), foi que
a gestão ambiental passou a ser explícita no âmbito federal, com controle e fiscalização. Essa
política tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando a assegurar no País condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Essa lei instituiu o Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),
com gestão participativa com a sociedade. O Conselho Nacional do Meio Ambiente é o órgão
consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente.
O SISNAMA possui a seguinte estrutura:
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Os objetivos gerais de uma análise do ciclo de vida são: obter um quadro completo das
interações de determinada atividade com o meio ambiente; compreender a interdependência
das consequências ambientais associadas a essas atividades; criar uma base para determinação
de novos investimentos e comparar o impacto ambiental total de produtos diferentes usados
para o mesmo fim. Assim, a ACV é uma poderosa ferramenta de apoio à tomada de decisões,
que gera informações sobre a atividade, avalia impactos e compara desempenhos ambientais de
processos e produtos. Existe um conceito bastante relacionado ao ACV, que são os “seis erres da
sustentabilidade”: repensar, repor, reparar, reduzir, reutilizar e reciclar.
A ACV é regida pelas normas ISO 14040, criadas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), segundo o INMETRO (2013).
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Figura 22 - Selo de Qualidade Ambiental, criado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Fonte:
Ribeiro (2021).
9.2.4 Ecodesign
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos concluir que o meio ambiente é mais amplo que o conceito de natureza ou
fauna e flora. Vimos que o fluxo de energia em um ecossistema é unidirecional, enquanto o fluxo
de matéria é cíclico. Conhecer esse ecossistema nos ajuda a identificar as melhores medidas de
prevenção e de correção dos impactos ambientais.
Aprendemos também que o ecossistema é formado pelos ambientes aquático, terrestre e
atmosférico. Trabalhamos os conceitos e métodos de educação ambiental e vimos que ela deve
ser levada para toda a nossa vida.
Vimos que os impactos ambientais estão relacionados ao crescimento populacional,
geração de resíduos e demanda de matéria e energia. A partir disso, o objetivo desta unidade não
é fazer com que diminua o desenvolvimento, mas lembrar que sustentabilidade está relacionada
ao desenvolvimento social, econômico e ambiental, pois, agora que conhecemos esse ambiente,
podemos avaliá-lo de maneira diferente, impedindo alguns impactos e problemas futuros para
nós, seres humanos. Por fim, discutimos sobre responsabilidade social, que engloba ações
coletivas e individuais.
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