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) ees NO CENARIO FILOSOFICO ga | ABORDAGENS INSU ES 'E DO. TRABALHO / PSICANALITIGO MENTE-CEREBRO FILOSOFIA wureecretr som Deron SEAL: Ade Ha DETR BECUTNO: amin Coa DRETERA DO GHLPO CONECHENTO: Ana Causa Fra ebaplo MENTE, cEREaRO & LOSOFA ‘EnTO8 care aro Mae STOR ay rane cana PRO. GRAROO: apse ite Sone Mes Kh hes ATOR Nae Cuno. FESCUISA CONOGRAICK ae Saw Ode Poa SHO: Choma ul rts ka TRSAMENT CE MEM: Cina Vira Ca ao eDAgto MENTE CEREBRO frome Gases is TOMA CE ATE: Sten Oa SISTENT De ARTE ita Fes ee Sot * tae Sate de vain SOUSA CONORARC: Sa Nt ren, (ri azcoma Mara Canaro ASSSTENTE De EAA! Ea apr Pn FEVSHO Lai ete ene ka PaCoUDAO GPA Sil Fee "RADE DE AGE Cota ae Cis Zo ons cri 8 Fast ua se pc ae Mat & Cm otic sean Sgr tn El ee oo rad ‘Gre pb 088 boo 0 Soc aan Duetio fs ur a, 612,03 Pi ‘Slo ous eP (5477-001 Tel O11 27138400, Fournanseter cout exeeurvo er Cre, Esn Cat, ‘estan Poe eds eas uBueoxoe (usiceesemeteos@stndtual cont Drerow Wen Senos EU DE CONT: Pro CoRcuLAGtO E MARKETS See Fras vars ASISTENTES Jtoraensese Resa Fura GET DEASSIATURIS Duis hee ASITENTE An Cart de as (ERENT DE VENDAS AML SAS Cara Lanes ougo muna, GHENT tara Mood Dua Sana lr ES TESTE A Meee coMmocanoRA EFAS DEORE MENCA ES SEROMTE NOREAS ROTSHLG (EIMRAL DE ATENDWUENTO Aa ssSHUTE SASL (01 3038-300 alondmane @Wuetoedtaacon.e) NOVAS ASSMATUEAS qarassharOduetuer om) Ene AMULSASe ESPECAS ocenosatasQdotondol com) go 11, SO 68-85-9535. 85-4 aug com acute ar too BUASL: DIA SA. ua Du Hak Sinem Te ers anos poser arses oe anal de Sao ana gn aceon eos ic os esta imneSseo EP erates, aconmesoishecaranen —— ANER PIP Donets EDITORIAL PAUL RICOEUR Dar presenca ao outro sofa ele Deus, o prixin, € uma preceupagao permanente na filosofia de Paul Ricoeur (© QUE £ INTERPRETAR? Ricoeur proctra esclarecer de que mnanetra interpretar € participar de um processo bristorico de produgéio dee significades VIVER BEM A perspective ica do pensadlor francés consiste em viver bem ‘com e para os outros fem insti justas RICOEUR, LETTOR DE FREUD Bm suc leitura flosifica de Freud, Ricoeur enfatiza a ‘nova compreensato do homem ‘ntroduzida pelo fundador da psicandlise e a nogao do ‘inconsciente como 0 “outro” dea conseiéncta O ENIGMA DO PASsADO Meméria, bttéria, pero, nist, esquecimento — Ricoeur entrelaca todos esses temas, para uma aferiva reconciliacao com 0 passado 9 (/ a TDENTIDADE NARRATIVA A narragao de si representa a a privilegtada para o exame reflexivo da vida, e sew exercieio aabre caminbo para uma identidade que é superagéo da ‘uso @ do auto-engan = orm cen C5 HANS-GEORG GADAMER Para Gadamer, expoente da bormentutica flosifica, toda compreensao sempre acontece no dmbito de um campo de Jogo bistérico-tngiistico OG Cadaver A HERMENEUTICA {gga nd ‘nsnumento dao acaba, mas ua beranga sie pte Serresgenada ple arson tm nome da consrucdo de Pasibidadssomprenoves Sf exon ses / 40 DIALOGO QUE NOs somos Construtor ee ponte entre a bermenéutca flossfica ¢ 4 pscologia, Gadamer tce sua filesofia em torno dio cuidado com a alma ‘Por mole do diatogo PRESENGA DO OUTRO B INTERPRETAGAO 5 or WELIO SALES GaNTIL © oumo raz-se puisenTe DE muitas maneiras na reflexao de Paul Ricoeur, e as vezes de modo surpreendente, Nao se trata 86 de um sujeito diante de outro sujeito, nem das dis- ‘cussdes sobre sua apreenstio ou constituiglo como objeto para uma consciéncia, nem mesmo apenas do problema da intersubjetividade. @ E verdade que convivo com outros, vivo entre outros, proximos e distantes, no tempo € no espago. No tempo: meus antecessores, para com os quais tenho uma ida que devo reconhecer, meus sucessores, que devo levar em consideragdo nas conseqiiéncias de minhas agdes €, portanto, em minhas deliberagdes e decisbes. A promessa, explicita ou implicita, em cada iniciativa minha, pede para ser honrada, No espaco: meus contemporfineos, préximos ¢ distantes, da intimidade do amor & impessoalidade do ano- nimato, pasando pela pessoalidade da amizade. O trabalho de descricio fenomenolégica das relagdes sociais do filésofo € sociGlogo austrfaco Alfred Schiitz é evocado mais de uma vez por Ricoeur, 0s problemas relatives ao distanciamento temporal, 2. meméria e 8 hist6ria slo objetos recorrentes de sua atengao — da coletinea Historia e verdade, de 1955, & monumental A meméria, a bist6ria, 0 esquecimento, de 2000, passando por Do texto a agdo (1986) e Tempo e narrativa (2983-1985), para s6 nomear as obras principais. Dar presenga ao outro — seja ele Deus, 0 proximo, 0 si-mesmo como um outro — € uma preocupagao permanente na filosofia de Paul Ricoeur EM sINTESE ‘Considerando a rdesincla ‘que tem a aheridade na Blosofa de Paul Ricoeur, artigo apresenta a principals manera plas (qua o outro €abosdado cen seu tabalho de pensamento. Sem pretender ser uma eposico completa, ‘texto procurainicar ss prsenga do outro em vtios momentos de seu percuso. Di desaque ‘9 si-meamo como unt tro, ndicand os muitos setids desse outro que & ‘constitu da idenidade do sujet bumano. Examin, por fim, sua presengz no pero eno reconhecimento ‘tugs, como exerplos da pardulaidade das bordagens propostas por Rioeur, vezes que sent a interlocugao com set Mas além de estar 2 nossa frente ou 20 QUITO, CON SCUS OULTOS, que serve de sulttulo & sua coletanea nosso lado, © outro também estéem py” Tetturas 3, tamer tetomada no nds, Sou um outro. Sou outro, diverso Hosotia CONdENA-Se tule $ do importante livro de Olivier de mim mesmo, Mas esse outro, diverso de mim, sou eu mesmo. Outro, mas 0 mesmo. © mesmo, mas outro. Sismesmo como um outro & 0 ticulo da obra fun damental publicada em 1990. Eis uma forma central de presenca do outro, de ‘que daremos uma idéia logo mais. RONTEIRAS DA BILOSOFIA E ha também, segundo Ricoeur, esse Outro que me interpela primeira, ante rior a qualquer reflexio ou palavea a esterilidade todo explicitada ou explicada que deter- ‘mina, 2 revelia das escothas deliberadas do sujeito, as questdes que o tocam, nas quais Ihe interessa pensar, que 0 est ‘mulem a pensar. Deus ¢ esse Outro pre: sente no plana das conviegées pessoa ausente no plano das argumentagoes Mongin dedicado 30 pensamento do fil6sofo. Se Mongin enfatiza “o desi fio do mal” (Giulo de um ensaio de Ricoeur) e a alteridade do pensamento teol6gico, 0s ensaios da coleranes jd incluem outros terrtorios ¢ a totalidade a obra de Ricoeur permite pensar em coutras fronteras, Por um lado, essa noglo de fron- telra fala do limite de um tertério ja estabelecido, jf desbravado, que aponta para o que esté além dele, a “terra ta hhumana, Deus. Esse outro que fica reco- racionas. Em férmulalapidas, disingue iacSgnia” a ser wilhada, © que ainda necidamente fora da esfera da razio, Ricoeur um cristo fildsofo, mas nio um est4 por ser conquistado para ¢ pelo = objeto de uma convicg2o profunda da flésofo cristo. Um outro que a r2zi0conhecimento, Aqulo que € objeto e § parte de Ricoeur, permanentemente no alcanga, um outro que nao serve objetivo da flosola 0 anda impensado 5 atestada. Mas que 6 sempre mantido 3 a ra2io, um outro que a razao mantém a ser pensido, como retoma Ricocur 2 distincia de todo © seu trabalho files6- fico. Jamais € trazido a investigacio © & iseussio filos6ficas como argumento, como principio ou como fundamento de qualquer idéia ou perspectiva teérica, Pode estar presente, reconhece Ricoeur, como parte dessa motivagio jamais de sistematicamente fora de seu campo de trabalho filosofco, HA ainda um outro da razao, dessa razio que constiwui a Blosofia, ‘outro da filosofia que merece a aten: 0 de Ricoeur, esse outro que esta “nas fronteimas da filosofia" - expressio do filésofo ¢ psiquiatra alemao Karl Jaspers, um dos expoentes do existen- Cialismo, Por outro lado, diz respeito a linha tagada entte a flosofia e outros saberes, desde 0 saber trigico que 0 pensader francés nomeou num de seus primeiros ensaios, publicado na revista 0 SECULO XX — CONFLITOS POLITICOS E MILITARES eS 1902 1910 19111912, 1914 1916. 1917-1922 1927 ‘ aa Cepia econ Sean tes aa ee eee eran ee | Japanesa, | ‘Repiiblica terminacas | Mundial, que contra o ‘nacionallstas teas | fie: loin (teeueo (conta Son | pelo Japio, ai6 1918, rtanica_ guerra tre © i Vnaivanda. Rissia =v iniciada emsera Creag Rinites 20, eins Unico os caants j ypri em 1953 e recothido em Leituras 3, até 0 saber das cigneias, com o qual val estabelecer um dislogo fecundo 20 Tongo de toda a sua obra. DAR PRESENGA AO OUTRC Auavessar as fronteiras entre os dife rentes tipos de saber sem embaralhar 2 suas especificidades, estabelecer ponte Epreservando as distinctas, construir J didlogos fecundos de uma perspectiva Zou posigio claramente flosofica que $reconhece e preserva a perspectiva © a posicio de seus interlocutores — eis um nodo de presenga do outro, um modo je dar presenga a0 outro bastante caracteristico do trabalho de pensamen: to do filésofo francés. 2 Ricoeur vai reafirmar varias vezes que sem essa interlocugio com seu E outro, com seus outros, a filosofia con: Edena-se & esterilidade ou a uma morte enweopica, momreria A mingua as vezes sem se dar conta, condenando-se a rodar em ciculos cada vex mais estrei- tos, girando em tomo de problemas cada vez mais ierelevances, asfixiando- fOnaromo topes | tates hogs 0 [Aemanna. | aetipa. pie cman fee se. Todo grande flésofo, afirma ele, teve fesse outro no desenvolvimento de seu ensamento. O outro de um outro saber, © outro da realidade, da vida que a0 a reflexio, que € objeto de reflextk ‘esse OULIO que € 0 instigador da refle- ‘slo: ambos sto essenclass para evitar o ‘colapso da flosofia como sistema fecha- O TEMPO DE S-MESMO Edessa perspectiva de uma flosofia que se faz dialogando com saber das G@ncias, uma filosofia reflexiva que é entendica como “reapropriagio de nosso desejo de ser e de nosso esforgo para ‘exist’, que ganha relevo um outro outro, ‘uma outa forma de alteridade. Trata-se daquele outro que € constitutive desse sujeto que deseja ser © se esforca para exist, desse sujelto que se constiut como lum simesmo, Esse Quo no € acessério A constiuigio desse sujeito nem Ihe € Simplesmente exterior, 20 mancém com ele uma relagio contingente que possa ser contada ou descarada. Hse outro € lontologicamente constitutive desse sujet 1937 |Wiceton)_curaerbe | hutra Gifs Pon |e Cipews” |awacas ‘teva, culansin [ma Espana, |Guere cut | panini, ue fora doris ogo ‘enrol om 190. | seamen : ‘cosa Mi, fqetermina | comuness ra emis. Gh 1o. $5 poderemos compreender o que (© sujetio humano se compreendermas de que maneira esse outro esti presente nele de forma assim to intinna © us0 do termo sujeito aqui nao é Inécuo ou neutro. Diferentemente de foutras posigoes Flosélicas contempo- Fimeas que destivuiram © sujeito, nao 86 de seu lugar de fundamento como também de sua propria existéncia, © wabalho de pensamento de Ricoeur vai seafirmar a existéncia de um sujeito, Trata-se, entremanto, de um sujeito que io € fundamento, nem do conheci- mento, nem da existéncia do mundo, rem de si mesmo, 6 um sujeito que, por relagao a tradicao francesa de raiz cari siana, pode ser sugerido pela expressio “cogito ferido" ou “cogito partido, um sujeito justamente atravessado ¢ cons tutuido pela aktridade. Um sujeito que no € transparente a si mesmo, que é estranho 2 si num ceno sentido = sie ‘mesmo como um outro, diz © titulo da jf referida obra publicada em 1990. Um sujeito que 36 pode se conhecer por ‘meio de maltiplas mediagdes, principal- 1946, |onata vr ote ‘conats 8 ‘ina Guere | dentochina, ‘ermirade om (steam a | aerota ances, mente pelas obras da cultura que pro- luz e em que se reconhece. Um sujeito {que ndo é o "eu" de uma representagio adda @ si mesmo como ponto de par tida, mas um sujeito que se descobre como “si:mesmo" a0 ponto de chegada de um longo percurso, pela retomada teflexiva de suas agbes e criagdes. E evidente que entre 0 ponto de pariida € © ponto de chegada hi um ‘Processo, hd um tempo que passa © que tudo transforma, Um tempo que tam bem € constitutive desse sujeto, € sua vida, sua histéria, Um tempo em que ele sofre mudangas, ransforma-se em outro £ ele mesmo, mas € ovtro. Jé nto € 0 ‘mesmo de quando partiu, no entanto ainda € ele mesmo. Si-mesmo como um outro, Para dar conta desst dimensio temporal do sujeito, dessa alteridade temporal que também 0 consttui como si-mesmo, Ricoeur cunhou a nocto de identidade narrativa’, objeto de outro artigo nesta revista, A presenga do outro fem sitnesmo por conta do tempo, esse ‘out que € o proprio st-mesmo. Como também € evidente que, 20 longo desse tempo, a historia desse sujeto entrelagou-se com outras. No sentido mais comum do termo, estabe- Jeceu relagdes com outros sujitos, em diversas circunstincias, com diferentes formas ¢ niveis de intimidade ow dis- lincia, Relagdes em que perspectiva ica é, para Ricoeur, fundamental. Sem pretender que ela abarque todas as Gimensdes dessas relacdes ou muito menos que essas relagdes sejam apenas ‘aicas", € preciso reconhecer que no pensamento de Ricoeur essa dimensio @tica ocupa uum lugar privilegiado. Mas para compreender esse modo ético de presenga do uo, é preciso exami- nar mais profundamente 0 tratamento que cle dé a ela, assentado na trade Gio filos6fica de Arissteles a Kant e fem didlogo com seus contemporineos. Considerando que essa dimensio seri tratada em outro artigo nesta ediclo de Mente, Cérebro & Filosofia ~ 0 século XX, destaquemos apenas que, a0 defi nr 2 écca como “inteng20 de uma vide boa, com e para os outros, em institui- ‘bes justas", distinguindo-a das normas morais € implicando no seu exercicio uma sabedoriaprética, Ricoeur abre ‘uma perspectiva bastante ampla part abranger muitos e diversos “outros esse modo de presenca. E mesmno essa relasio étiea com 0 outro nao é de pura cextcrioridade, ela é, no sentido forte do termo, constitutiva do si-mesmo. ‘CONSCIENCIA-EXPERIENCIA A identidade desse si-mesmo que nés Somos € no apenas narrativa como tam bém ética, dois modos de presenca do outro em ngs. Mas fd outros. Podemos identificar a0 menos ts outras formas disso que se pode chamar de presenga do outro no pensamento de Ricoeur. No deécimo e ikimo estado do livro i= ‘mesmo como um outro, no esclarecimento ontoldgico da espécie de entidade que ¢ fesse “simmesmo”, tem grande importincia ‘0 que ele nomela como sendo a “relagio dlialética entre ipscidade e alteridade’, relaglo que € propria © determinante ‘desse ser tio singular. Deixando de lado toda a complexidade de sua andlise, ressaltamos apenas que essa alteridade se manifesta nas “variadas experitacias de possividade entrelagadas de miiiplas ‘maneiras a0 agir humano", das quais ele desta tr: 0 corpo proprio ou a came; © estranho ou outrem; a conscitncia Por mals estranho que parega a lum senso comm acostumado a idene tificar © sujeito com a consciencia, ou 4 conscigncia como © que € 0 mals proprio do sujeto, aqui a consciéncia & revelada em seu cariter de alteridade, como algo que acontece a0 sujeito, uma experiéneia que © sujeito mais sofre do que domina, Trata-se justamente daque- le sujeito descentrado, deslocado, nao mais um eu identificado consiga mesmo fou com sua representacio imediata de si a que nos referimos antes. Pode-se reconhecer nessas experién- “as de passividace uma reformulacao das figuras que a alteridade assumia como 0 involuntirio que se encontra na base de todo ato voluntirio, tal como. ele formulava em sua obra de 1950, Filosofia da vontade 1 Assim, uma segunda forma de presenga da alterida- 2 de em nés € a do involuntirio que nos A identidade desse si- mesmo que nos somos € nao apenas narrativa como também ética, dois modos de presenca do outro em nds constitu a ser reconhecido sob 0 volun Uétio com que habitualmente nos identi- Ficamos. Também sio 2s 0s destacados por ele: sob a decisto, encontramos os motivos; sob 0 movimento voluntério, ‘08 poderes; € sob 0 consentimento, a necessidade ou o involuntirio absoluto, centio identificado como sendo a vida, © cariter e o inconsciente. Pode-se dizer que esses outros ~ a vida, 0 carter, 0 inconsciente, os pode- res @ 05 motivos, na ultima formula- Go, tanto quanto a came, © outrem & a consciéncia, na formuligio anterior = s4o constittivos do si-mesmo, que se afirma € se atesta na reapropriacio que faz deles, reconhecendo-os como seus, reconhecendo-se neles. Reapropriagao reflexiva através das mediagbes da ¢i0, a linguagem, da narrativa de sua pré: pria historia. Esse reconhecimento de si nfo se di isoladamente, passa pelo reconhecimento do outro € pelo rec0- shecimento de si pelo outro, Fis a terceira forma de presenga do ‘outro a ser destacada, essa que € a do ‘outro que me constinli na reciprocidade dde um reconhecimento mituo, tal como Ricoeur investiga em sua cima obra, Percurso do reconhecimento, publicada fem 2004, Fle pretende entrever nessa rec procidade a possibilidade de superar uma uta pelo reconhecimento que se esten deta até a mote, como na clésica figura esabelecida por Hegel em sua famosa lialética do senhor e do eseravo, ECONOMIA DE DADIVA Ricoeur toma como ponto de partida a “dificuldade encointrada pela fenome- nologia a derivar a reciprocidade da issimetria_presumidamente origindria da relagio do eu com outem", tanto a que toma como referéncia © pélo do feu, como Edmund Husserl, quanto a ‘que toma como referéncia primeira 0 ‘Topas das Inicio da Hage | Regmenao Us ergs | Poms ora x | esc ign” URS. Foraro | as epinan [igre iacomimasie | Spon | sects | mars Alan | (une fiomes amis provincia reps saves, aanesa daquola palo do outrem, como o franco-lituane tradutor de Husserl , Ricoeur mostra que '2 dissimetria persiste como pano de undo da reciprocidade’, sugerindo sec a reciprocidade “uma superagio sempre inacabada da dissimete Dessas duas posigdes fenomenols- gicas, Ricoeur passa pela discussio de Hobhes © Hegel, em diilogo com a reatualizagio que deste Gime fiz Axel Honneth em sua obra A luta polo reco- hecimento, considerando-a admirivel principalmente pelo esquema triparti- dono encaceamento de “és mode- los de reconhecimento intersubjetivo ) colocados sucessivamente sob égide do amor, do direito e da estima social” € suas corespondentes figuras de negagio, "suscetiveis de fornecer(..) luma motivagao moral as lutas socials (Pereurso do reconhecimento, pig. 202) Depois de percoré-los com atengio © discutilos com © auxilio de outros autores, sem negar seu valor, perguntari Ricoeur pela possibilidade de ir além de sus énfase na lua, na diregao de um reconhecimento mtu em que a reci- procidade possa substiuir a ita Ele encontra seu modelo na “wroca de dons” descrta e analisada pelo anops- logo Marcel Mauss, forma de woca apa- rentemente desaparecida, substituida pela ‘roca mercanil’, mas que na seaidade subsiste num outro ni lum outo tipo de vinculo social, princi- palmente em seu momento de celebra- ‘Go ritual, festivo, Entzexamto, depois de analsar © que seria uma "economia da didiva’, com essa presenca de um outro fa que Se di sem nada pedir em woca, Ricoeur nao deixa de encontrar tensoes {que apontam para um limite Aquela pos- sive] substimigho da luta pela reciprocida- de: “A experiéncia do dom, além de se cariter simbalio, indireto, ro, inclusive excepeional, é inseparivel de sua carga de conilios potenclals vinculada 2 tensio criada entre generosidade e obrig (Percsrso do reconhecimento, pig. 257) sustentando ) PERDAO DIFICH. Essa forma de tentar dar presenga 0 outro pelo reconhecimento mito passa, de certa maneira, por suas ela- 12 NENTE, CEREBRO & FILOSOFTA Ricoeur, a dad é erdao constituer ormas de « ar pre iC 10 OULTO Por | . do reconhecimento miituo oragdes sobre “0 perdio dificil’, no cepilogo da obra publicada em 2000, A memoria, a histéria ¢ 0 esquccimento, Também o perdio € uma forma sin- gukir de dar presenga 20 auto. Ele Pressupoe, por um lado, a imputagto da agio 20 agente, reconhecendo sua responsabilidade por ela © por suas eo ral pede perdso fa ol elnjustga {LEAR E CORDELIA, pintura de John Everet Mss, 1691. Na tragéala de Wiliam Shakespear, 0 conseqtiéncias, Por outro, pressupde também um juizo moral negative sobre essa agho, que toma sujeito aprision doa ela, culpado, com uma espécie de dlivida a saldar ou pena a cumprie. Das Jo que Ricoeur nomeia como sendo a pparalisia de sua capacidade de agie". O perdio 0 liberaria dessa paralisia, des- vinculando-o daquela agio, dando-lhe @ oportunidade de recomegar, de agit novamente, de tomar novas iniciativas fem lugar de continuar respondendo is, consequences daquela. Sem 0 perdio © sujeito estaria para sempre vinculado Aquela primeira iniciativa, condenado a ‘ima forma singular de dar presenga ao outro sya mentecerchro.com.br ‘SKY MROR (espetho do ou), instal do ‘rst Indlano Asish Kapoor no Rockefeller erty, Hora York, 2006. hati do um sujltoonteiaga-se com outras Ficar etesnamente respondendo por ela (© contraponto que se levanta quase que ineviavelmente a essa perspectiva de Ricoeur sobre 0 perdio € 0 esqueci- ‘mento nietzschiano. Solugao bem dife- rene para o vinculo enue © agente e sua ago, coloca em questo esse lugar atribuldo a0 perdio, sugerindo que sva pemtnéncia se di no interior de uma perspectiva mais crit do que simples- mente ontol6gica Nao € 0 caso de entrar no detalha- mento dos pontos de vista que seria necessirio para uma justa avaliagio das respectivas posigoes. Ainda assim, esse contraponto pode servis, no contexto dessa apresentagio da” presenga do outro no pensamento de Ricoeur, para colocar em questo a possibilidade da sustentagio de uma sociabilidade, de ‘um minimo de vineulos socias estiveis, se levado as cltimas conseqiiéncias 0 esquecimento aleteschiano como estra- tégia ou caminho de libertagio do sujet toda responsabilidad pelas conseguén- cias de seus atos, de desvinculamento fentte 0 sujeito € seus atos. verdade que a lembranca das dividas vincula e aprisions, como parecem reconhecer tanta Ricoeur quan- to Nietzsche, limitando uma liberdade a pura afirmagio da propria vontade, expresso de uma forga natural nobre por natureza segundo Nietzsche, essa talvez seja condigto necessdria no s6 a sociabilidade como também da pro- pria sobrevivéncia do humsino, (© sobrepeso dessa sociabilidade, seu peso insuportivel no s6 para o notre niewschiano, encontraia.alivio nesse perdio, que desvincularia © sujci= tw de seus atos e de sua divida, sem tire sua responsabilidade, mantendo © winculo entre os sujeitos, mantendo @ convivéncia necessaria, numa forma de sociabilidade que nao sufoca até a monte justamente porgue inclui a possi= bilidade do perdao, reconhecendo que as falas So pare da condigio humana, de sua imperfeicao e fragilidade, Pois se € Portanto, nto deve condenar neces- sariamente & exclusio nem precisam ser ignoradas como tai, transformadas num exercicio de forga ou poder enobrecido como expressio propria que despreza (os outros, Essa dltima solugio também cexclui seu sujeito ~ que nem se reco- rhece como sujeito, jf que é mera forca xatural em movimento ~ se nao de toda relagho, jt que se exerce sobre outros, ap menos de uma relacio de igualdae de ou de reciprocidade aum mesmo nivel. Constitu-se apenas na dissimetria onde um exerce seu poder sobre outro, ‘num jogo de forgas em confonto, hie rarquizandose pelo combate, numa Dierarquia sempre sujeita areviravoltas, sempre testada a cada ago, mas sempre ventcalizada e de exercicio de poder. FRAGHUD, HIMAN Bom para 0s fortes, dria Nicrasche, que se desveneilham assim da Forca dos fracos. Desconhecimento ou recusa da fragilidade propria da condigao huma ppoderia lhe responder Ricoeur, condicio que se realiza na convivéncia ¢ clara ppor atencao 2 sua fragiidade, para que se sustente na consirugio de um mundo hhumano, na manwtencio de uma certs sociabilidade. Sociabilidade que, embora demande e determine normas e regras, PRESENGA DO OUTRO E INTERPRETACAO 73 Nascimsvo te Pata Recor fat VaUrNce, Pane, Grains sat muesone aa LUstESDADE Di REN Sonvonn (Usiwesi04DE DE PAR). Asano No rr ARS, Cat Dj acu na Usa ESTAS. Sorwons, Prauca 0 emo Sos ‘ie Pstee on wera, 8 ETS es © ni HES ANA 1 1960, ‘QroH9)AMTAMENTE A Gru Dn Anctian, DA AUS Nas EstabOs Ubos ‘sv 1992, 1M Yak, NA UNIWERSDADE DH {Canexco FHM oma NSTHFICOES. Pomaca Aasrou #weanane “Tuansriese rata 4 SORBONNE Ponca © sapousuo no wa umuce 2a wononrsago: ‘mse some FU. Yat mtn Nae: (UvARSOADE be Pans), ONDE APONTE 1980. Ponca 0 cai be irsomsracas 1975 Punuca A serdrowe ina & Tota on Taro sre, ms vous, {Sinovo ores MIMeADO 1685. Portca Do rro 4 acio F O sus Puanica Seweswo como ew m0, Laneawero nk Lecrums 12,3: 0 O.1090 Vous AIMRECR 3 1993. 20) Pouca A weve, 4 isroRA ro uspenciwesto. Ponca Pacenso Do ascavwrco. 15 Mon: ne Pa cote Chania Matar, Peace 14 NENTR, CEREBRO € PiLOSOFIA im suas investigacé Ricoeur exercita z atencio e 0 didlogo com 0 outro, tentando compreendé-lo em sua alteridade prépria, sem duzi-lo ao mesmo no se esgola nelas € Alo se mantém por sua imposic2o sigida sem nenhiuma flexibilizagio, sem nenhuma abertura para o que eseapa a clas. A figura do perdio seria justamente essa possibiia- de de lidar com as ages que violam 38 rormas sem ter de excluir 0 agente dt convivéneia, dessa sociabilidade que o toma humano, que o humaniza Nesse sentido, a relaclo assimétrca centre @ fala € © perto recoloca 2 hor zonialidade da socibilidade, enquanto (0 simples exquecimento do que se fez ‘PAUL RICOEUR, rst let, das responsive pola aorta (Ga bermentticn no can do ponsamero contsmporanee mantém a vericalidade de um poder que se exerce sem consideragio pelo outro, Sem se imponar com 2 manutengio de qualquer sociabilidade horizontal ‘Assim, se a relacao entre a falta © © perdio € reconhecidamente assimétriea ¢ verticalizada, embora com resultados *niveladores",’ seriam indispensdvels a0 reconhecimento métuo uma hori- zontalidade © uma certa simetria. No fentanto, como vimos, © rencontre da dissimetria na economia da didiva e suas tenses potenciais leva Ricoeur 2 conclasio de que essa lta talvez seja ‘mesino insuperivel. Mas com um aden- do importante: "Talvez a luta pelo reco- nnhecimento continue sendo intermin: vel: ao menos as experiéncias de reco- nhecimento efetivo na troca de dons, principalmente em sua fase festiva, cconferem & luta pelo reconhecimento & seguranga de que no era ilus6ria nem va'a motivagio que a distingue do ape- tite pelo poder, ¢ que a coloca 0 abrigo da fascinagio pela violén- cia", (Pereurso do reco- nbecimento, pig. 258) ‘Ainda que perdio fe dom suscitem ques- wes de virios tipos, inclusive quanto 2 sua eficécia ou, dizen- do melhor, quanto a0 alcance de sua efetivi- dade na realizagio do moda de relagio com © outro, nao deixa de ser imporante destaci- os como exemplares desse olhar de Ricoeur, sempre atento, aberto 2 buscar aspectos pouco cconsiderados ou abor- dagens pouco ususis para watar de proble- mas jé uadicionais. Parece-nos evidente que em suas investiga goes ele exercita essa atengio € esse didlogo com 0 outro, tentando ‘compreendé-lo em sua alteridade propria, sem reduzi-lo 40 mesmo, vw mentecerebro.com be Como ele escreve 20 final de Si-mesmo ‘como umn outro, nem mesmo uma total zacio das diferentes formas de alter de deve ser tentada ou sequer esperada, Ji que seria uma forma de desteir a alteridade incorporando-as a uma total- dade unida que as abarcasse Assim também, assentado numa tra- ligio de pensamento ¥é bem sedimen: tada, faz dela a sua base para pensar mais e levar adiane a investigacao, sustentando essa perspeciiva de manter simultaneamente um dilogo com as formas mais tradicionais e una aberura ao diferente, Fo seu modo de participar dese movimento de inovagio com o qual a cultura sedimentada nto se torna E mero wereno estéri, Como 0 fez 20 procurar a resposta as aporias da reflexio filosdfica sobre © Tempo no campo das narrativas, como © fez 20 investgar esse outro que nos cons- tinil pelas perspectivas inusitadas — nae fem si mesmas, mas 9a sua aproximagio ‘pela abordagem da alteridade ~ do perdi da ddva, que “poem” entio esse outro de um modo pouco usual, duminando aspectos dessa sua presenen em nds E também por esse tipo de visada inovadora que a obra de Ricoeur, sem estardalhago, vai se impondo como de leitura indispensavel, convidando a pensar mais e melhor. @ up Sus GET darn ape Ere car pas, pada dy ‘eae ii Une os ae {Ute oP cao Gt Rta ahs otraore esc econ de san lin“ Tay, ne us Po una pods ds mcrae ‘friar om Tense eer eo A) oer Josephine Baker distribu alimentos 205 necesstados Sr ear porary reer scone ‘PONTO DE PaRTIOA Uma filosofia do cog ferde: Paul Ricoeur, anne Mari Gagne, em Lemdrar server esque Ed, 34,2006. ‘arta ea convicge Pau Rnewr Feces 70, 1987 © On Pau looour: the ow of Minera, Fehr Keamey Ashgate, 2006, «© Paul Rcoeur as fontlas da Mlosota, Olver Mongin. sian Paget, 1997, O ESSENCIAL DO AUTOR. © Sol-mimo comme un autre, Paul coe: Sel, 1800. « Percurso do reconhecimento, Paul leaeu Loyola, 2006 PARA IR OS LONGE © Lectures 1,2, 3. Paul coe Sel, 1991 1903; radio parca em Leas 2.3 Lola, 1995-1955 PRESENGA DO OUTRO H INTERPRETAGAO 15

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