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LL 7 BORDANDO A RESISTENLIA indice indice indice Ge Grancos. Lista de Abreviaturas. " 12, Informagde Gera an. Contexto da Experiéncia. Historia e Desenvolvimento da Experiéncia CCarateristcas Principais da Experiéncia Partes Interessadas e Organizagées Parcelra Recursos, Impactos da Experiéncial Pratica.... Ligdes aprendidas... Desatios. Sustentabllidade Parthando a Experiéncia Blbliografia... indice de Graficos Figura 1 Localizagao da experiéncia.. ituras Movimento dos Atingidos por Barragens DHESCA Direitos Humanos Economicos Sociais Culturais € ‘Ambientals DKA Drelkonigsaktion - Agencia de cooperacto do Movimento ‘de Katholsche Jungscher Austria Imprint Experience in Detail “Apples - Bordando a Resisténcia” Publicado em Viena, Dezembro 2016 or HORIZONT3000 u.uorizont3000.at Ealtado por MAB — Movimento dos ‘Alingides por Barragens HORIZONT3000 ‘Com o apoio da Cooperacao Austriaca para Desenvolvimento (CAD) ‘as Organizaces Membros do HORIZONT3000 Experto Esther Vital Garcia "DKA Austria Agércia de ‘cooperacio do Movimento. de Katnolsche Jungscnar Austra Movimento dos Homens Catdiees da Ausina — KMBO, Movimento da Muheres, Gadlices da Austria - Kho, Cartas Austria, Socdo do ISSO € desenvolvimento da ‘Arquidiocese de Viena, Casa do Mundo Diocese Graz-Seckau, limos @ immas nessectados Diocese. Innsbruck, limaos 6 inmas nasseaitades - cio Caldlice Cerints 4._Informagao Geral © Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens), tem caréter nacional, situado no Brasil em 17 estados, © tem como atuagso prioritéria defender os direitos dos atingidos pela construgao de barragens, vitimas do modelo energético excludente implementado no pais, Nesse documento, MAB presenta a experiencia chamado “Arpilleras, Bordando a Resisténcia’. Existem experiéncias similares de ‘empoderamento, documentacao e dentincia através da arte t8xtil no geral, ¢ das arpilleras ‘em particular em varios contextos € paises, entre grupos com ~—necessidades. problematicas variadas € com resultados muito satisfatérios. A experiéncia pode ser relevante para outras organizagoes, j@ que é uma ‘experigncia que nao precisa grandes investimentos de recursos, porque parte do uso dos recursos locais existentes - 0 que faz a ‘experiéncia facilmente replicavel. Ao mesmo tempo, consegue comprir uma dupla fungao: por um ado, promove processos de conscientizacao @ empoderamento para o interior do grupo e, por outro lado, promove processos de visibilidade © dentincia para fora. hiss Figura 1 Localizagao da experiencia Enquanto 0 desenho do plano pedagégico comecou em 2013, a experiéncia, em sua maior parte, se implementou em 2014. Foi desenvoivida em 14 microrregides dos estados de Rondénia, Para, Tocantins, Ceara, Pemambuco, Bahia, Minas Gerais, S40 Paulo, Parand © Rio Grande do Sul no Brasil. Foram envolvidas cerca de 900 mulheres atingidas ou ameacadas por projelos de _barragens (maioriamente projetos de produgao de energia hidroelétrica, mas também de acumulagao de gua). Gragas ao grande impacto, a ‘experiéncia ainda esté sendo colocada em pratica e os seus resultados @ produtos ainda ‘esto sendo divulgados. 2. _Contexto da Exper Como constatado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em uma investigacao realizada entre 2006 e 2010, existe um padréo de violagzo de direitos humanos exercido pelas empresas do setor elétrico na implementagao de barragens no Brasil. Para as mulheres as dificuldades sao ainda maiores. O primeiro exemolo dessa violgncia institucionalizeda @ que, em praticamente todos os casos, as empresas responsaveis pelas barragens concadem reparagdes apenas em nome dos homens, excluindo as mulheres dos reassentamentos & indenizagoes. Além disso, sao inumeras as evidéncias de aumento de ocorréncias de assédio sexual, trafico de mulheres © prostituigaio nas proximidades dos canteiros de obras de barragens. Para 0 MAB era muito complicado tratar estas ‘experiéncias com as mulheres. O método das arpilleras (arte téxil) faciltou uma linguagem familiar e segura com o qual as mulheres Pudessem, por um lado, se abrirem a contar experiéncias dificeis de narrar verbalmente e, por outro lado, extemalizar estas experiéncias ‘em forma de bordados, que podem ser exibidos @ mostrados, constituindo veiculos muito atrativos de comunicagao @ deniincia. Tanto as quest6es ambientais como de género constituem aspetos centrais da experiéncia. O Ublico alvo foi definido em fung4o destas variéveis sendo que abrange mulheres atingidas por um modelo de desenvolvimento de produgéo de energia que nao respeita os direitos da populagao atingida, e que traz um grande impacto ambiental. As mulheres 80 as pessoas mais dependentes dos ecossistemas nos quais estao inseridas. A perda do vinculo com 0s rios, as florestas @ as terras, essenciais. para a reprodugao dos meios de vida, sao as perdas mais sentidas pelas mulheres, pois nao 56 proveem 0 meio de sustento (0 peixe, 0 alimento, a agua, @ lenha...), mas tem um ‘grande Impacto na vida emocional, social, cultural ¢ espiritual destas mulheres. Page 8 of 10 3. Historia e Desenvolvimento da Experiéncia As amilleras 50 uma técnica téxtil_ popular chilenia, que foi ullizada pelas mulheres da periferia de Santiago de Chile, na época da ditadura militar do general Augusto Pinochet (1973-1990), como ferramenta de geragao de renda, dentincia e enfrentamento as violagoes de direitos humanos perpetradas pelo regime militar. © primeiro contato do MAB com as arpilleras se fez através de uma das suas coordenadoras, em 2008, quando visitou a exposicao “The Art of Survival: International and Irish Quilts’, em Derry, Iranda do Norte. Na ‘época estava elaborando a sua dissertacao de mestrado sobre Transformagao de Confltos, © acabou usando esta experiéncia como caso de estudo sobre como usar a arte para criar espagos seguros de encontro em sociedades divididas. A partir de ai, ela usou a técnica para trabalhar com mulheres vitimas de violéncias diversas, como a Unido de Comités de Mulheres Pelestinas em Cisjordania (2009) & Mulheres do Mundo, imigrantes em. Bilbao, Espanha (2010). Durante 2011 @ 2012, assumiu a assisténcia de curadoria. da Exposiggo “Arpilleras da Resisténcia Politica Chilena’ no Memorial da Resistencia de S80 Paulo (2011), onde faciltou varias oficinas. Gragas 20 apoio do ecital "Marcas de Meméria” da Comissao de Anistia, a exposigao também {oi levada a cinco cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Curitiva, Porto Alegre, Belo Horizonte € Brasilia) onde realizaram seminarios, visitas guiadas e oficinas com varios grupos locais. Ela convidou a outras companheiras coordenadoras a participar destas oficinas no marco destas exposigdes. ‘A partir desse primero contato, 0 MAB percebeu as arpilleras como dtimo instrumento de trabalho com as atingidas e, a partir desse ‘entondimento, obteve uma parceria com HORIZONT3000 € a Unido Europeia para realizar um trabalho de documentagao deniincia sobre as violagdes dos direitos humanos das populagdes atingidas durante os procassos de construcao de barragens. Este projeto, cofinanciado pela Unido Europeia, a Cooperacao Austriaca para o Desenvolvimento a DKA @ a agdo “SEI SO FREI” (Movimento dos Homens Catdlicos de Salzburgo), foi implementado desde janeiro. 2013 alé dezembro 2015 @ incluiu um eixo de trabalho ‘especifico para recolher os testemunhos de Violacao de direitos das mulheres atingidas a partir desta técnica, © MAB desenvolveu um programa organizativo © pedagégico geral que foi definido no Coletivo Nacional de Mulheres. Primeiro 11 mulheres, que fazem parte deste Coletivo, viajaram para Argentina para conhecer e se apropriar da histéria @ experiéncia do uso da técnica como forma de resisténcia, no marco da Exposigao Intemacional “Retalhos—_Testermunhais: Arpilleras do Chile e outras Latitudes", que teve lugar no Parque da Meméria em Buenos Aires. Estas 11 mulheres ficaram trés dias estudando ‘2 montando um plano de trabalho, junto com a curadora © pesquisadora de arpilleras, Roberta Bacio. Dai foi organizada uma grande oficina com cerca de 50 mulheres que depois iriam atuar como faciitadoras de oficinas nas regioes. Nesta oficina, as mulheres nao so aprenderam a técnica, mas contribuiram na elaboragao da metodologia que foi adaptada & realidade concreta de cada regiao. Nestes trés anos de trabalho com as arpilleras, foram realizadas 100 oficinas com a participacao de mais de 900 mulheres. Foi uma experiéncia muito rica, que contribuiu muito com 0 processo de empoderamento das mulheres, tanto individualmente, como coletivamente. 4. Carateristicas Principais da Experiénei © metodo vai se adaptando aos recursos & necessidades locais. Dentro das oficinas se trabalharam conteidos em dois sentidos: por um lado, reconhecer as violagdes de direitos que derivam do sistema patriarcal da sociedade ®, por outro lado, ver como este sistema se interrelaciona com os impactos do atual modelo energético brasileiro. A partir da experiéncia pessoal de cada mulher, 0 propésito ora identiticar analisar coletivamente as conexoes dessas experiéncias com as. dinamicas relacdes de poder e opressao mais globais. Por isso além da costura, 0 proceso de trabalho com as mulheres estava unido a um trabalho de capacitagao sobre violagbes de direitos das mulheres atingidas, utiizando outros recursos como textos, videos e outro tipo de dindmicas & Page 4 of 10 forramentas para coletar dados. Desta forma, nao s6 foram recolhidos os testemunhos com uma linguagem mais universal, attistica © ‘ompatica, como 6 a arte téxtil, mas também foi elaborado um dossié que sistematiza as principais violagdes de direitos humanos softidas pelas mulheres com uma linguagem juridica @ técnica, apontando recomendagoes concretas para os principais atores, instituigbes 2 6rgaos_governamentais envolvidos nos procassos de construgao de barragens, Para MAB, a chave esta em utilizar linguagens complementarias, que consigam abranger a muitidimensionalidade das perdas, enquanto incluir as principals vitimas nos processos de documentar e denunciar estas violagdes. O uso da costura como linguagem, que 6 familiar as mulheres, faciitou um espago seguro para a troca de experiéncias © a andlise da sua problemdtica. O proceso passa por interiorizar aS perdas e reconhecer-se em quanto vitima, para superar esta situagao e se tomar protagonista ativa da sua prépria historia. As mulheres s80 as que mais sofrem com a construgéo de barragens, mas também. possuem uma forga extraordindria para se unir, se empoderar coletivamente e ir para frente na defesa dos seus direitos @ os direitos da sua familia e comunidade. ‘A. técnica também tem se _mostrado especialmente util para chamar @ atengao 20 tema nos meios de comunicagao, jé que apareceu na midia nacional como na Carta Capital, na revista Cultura, na TVT e na Fio Cruz, entre outros. © MAB desenvolveu uma grande campanha de comunicagao através do facebook @ do site do projeto, para arrecadar recursos para produzir um documentario sobre a experiéncia, conseguindo a meta de captacso coletiva proposta através do Catarse (Plataforma de crowdtunding) (MAB, Catarse: ‘Alude-nos a costurar essa histéria!). Muito além de conseguir os recursos, 0 impacto mediatico da experiéncia foi inédito, superando até agora qualquer outra campanha realizada. Dentro de dois meses, consegui-se quase 5.000 seguidores no facebook (MAB, Facebook Apilleras - Bordando a resisténcia) e mais de 80.000 visualizagdes do video de lancamento da campanha (MAB, Youtube: Ajude-nos a costrurar essa historia). No final do ano 2015, 0 MAB realizou uma grande exposicao das obras no Memorial da ‘América Latina, {cone cultural de S20 Paulo, na qual foram exibidas também arpileras originais chilenas. No quadro da exposigéo, também foram organizados seminéiios, oficinas e atos, para aproximar esta experiéncia a0 pubblico geral. O fato de levar as experiénoias das atingidas a um espago publico nunca alcangado antes pelos movimentos contribui democratizagao da arte ¢ da cultura, e foi uma das conquistas deste proceso. © objetivo principal da experiéncia ¢ documentar @ denunciar de forma participativa © abrangente as principals violagbes dos DHESCA (Direitos Humanos Econémicos Sooiais Culturais ¢ Ambientais), das mulheres. atingidas durante os + processos. de planejamento, construgao e operacao de barragens no Brasil. A expariéncia toma como ponto de partida um conceit amplo abrangente das atingidas, © presta atengao ‘especial as perdas imateriais derivadas deste proceso @ as inter-relagdes entre as violagdes pela estrutura patriarcal de sociedade e pela implomentacao do atual modelo energético. Por ‘outro lado, tem como foco o envolvimento & protagonismo ative das préprias mulheres, facilitando ferramentas que ajudem a capitalizar as suas experiéncias individuais e coletivas com uma linguagem prépria, nao-condicionada pela linguagem do “opressor’ No que se refere a metodologia, os fatores chave na aplicacao da pratica de documentar @ denunciar as violagdes dos DHESCA das mulheres atingidas através das arpilleras sao: 1. Planejamento e construcdo a partir da estrutura organizativa existente: © coletivo nacional de género do MAB foi o principal ator no desenho e na execugao do programa. Dessa forma, 0 programa nao constitui algo externa a organizacao. Foi costurado com outras atividades @ programas dirgidos 20 empoderamento das mulheres, atendendo os objetivos da estratégia geral do movimento. Este fato era essencial, pois facilitou a apropriagao local do processo © a sua capitalizagéo, ampliagdoe sustentabilidade, Inicialmente 0 programa foi desenhado para realizar 11 oficinas com 200 Page 6 of 10 mulheres. No final, foram realizadas mais de 100 oficinas com mais de 800 mulheres. Agora ‘asta se realizando um estudo dentro do coletivo sobre @ experiéncia, definindo um trabalho de continuidade com as arpilleras para aplicé-ia @m outros contextos. 2. Execugdo a partir do método formativo- organizativo de educagdo popular implementado pela organizacao: ‘A experiéncia foi aplicada a partir do método formativo-organizativo do MAB. A base deste método que o trabalho com as populacdes atingidas tem que fortalecer processos de auto- organizagao a partir das estruturas dos grupos de base. 0 fortalecimento dos grupos de base a principal garantia para promover processos genuinos © sustentaveis da luta pelos direitos das populagdes atingidas por barragens. Para garantir 0s processos. de _participacao democrética de todoslas osias atingidosias, € necessaria a capacitacao de liderancas, que incluem e representa as necassidades & demandas locais na tomada de decisbes estaduais e nacionais, 0 memso tempo que promovem os préprios processos organizativos, © formativos no nivel nacional. O programa de formagao das atingidas através das arpilleras seguiu esta mesma l6gica, contribuindo nao sé @ expressao e denlincia das violagdes de direitos, mas fortalecendo também as proprias estruturas de auto-organizacao das mulheres alingidas, formando novas liderancas que hoje ‘esto engajadas em processos organizativos € formativos mais amplos. nas suas comunidades 3. Utilizagéo de varias linguagens ferramentas de reflexdo, documentacao e dentinncia: (© uso da costura come linguagem no trabalho com as mulheres atingidas foi identificado como métido eficaz para. a) .facilitar espagos seguros de encontro & de troca, nos quais as mulheres s8o capazes de narrar experiéncias dificais de contar verbaimente, Aplicando esta técnica com fins terapéuticos, a costura permite acessar a0 acontecimento traumatico de uma forma segura, sendo que em qualquer momento 2 mulher tem a capacidade de entrar sair na parte da meméria onde esta armazenado este acontecimento. b) °) Page 6 of 10 Além disso, 0s movimentos ritmicos da costura permitem materializar a memoria ‘om pontadas, internalizar as experiéncias @ coloca-las em um contexto mais amplo da vida onde também estéo presentes os recursos sociais @ emocionais que podem ajudar a superar estas experiéncias. faciltar uma linguagem conhecida que consegue expressar a realidade das mulheres. A costura ajuda a desconstruir 0 imaginario cultural @ social dominante, definido a partir dos interesses @ das interpretagdes de grupos dos quais as mulheres atingidas esto excluidas. Muitas vezes, tais interpretades. sustentam os padroes de dominaggo e opressao oxistentes na sociedade © levam a sua replicagdo pelos proprios grupos excluidos & dominados. Com novas linguagens surgem novas interpretagdes da realidade que apoiam 0 proceso. de empoderamento. Um exemplo: as mulheres no reconheciam o trabalho realizado por elas como “trabalho” por estar ligado a tarefas “reprodutivas’ @ por nao ser reconhecido economicamente. ..visiblizar © proceso de empoderamento pela materializagao da experiéncia em um produto final que pode ser mostrado © exibido. As mulheres, sistematicamente excluidas do espago piblico e da tomada de decisdes, muitas vezas, néo se sentem seguras para falar em publica € denunciar as violéncias das quais sofrem. Através dos bordados, as suas experiéncias ficam visiveis e constituem em si mesmo veiculos de comunicagao. Ao mesmo tempo, conseguem alrair 0 piblico, permitindo que outras pessoas se identifiquem com as suas perdas © se comovam pelas suas histérias, convidando-as a tomar parte no processo. As vezes, as pessoas nao se sentem vontade de ler um dossié ou uma reportagem, mas se sentem atraidas a olhar um trabalho téxti, inocente @ inofensivo, Na medida em que olham, se dao conta que esta se falando de perdas ¢ experiéncias humanas universais, porém, muito dificsis @ duras. Assim gera uma espécie de revolta de querer tomar partido, ou, pelo menos de querer divulgar. Sentia- se isso, na campanha de crowdfunding realizada no Catarse (MAB, Catarse: Ajude-nos a costurar essa histérial). Muitas pessoas se interessaram, doaram @ divulgaram a causa. Combinando linguagens _artisticas com linguagens mais técnicas, a mensagem fica mais legitima @ genuina, @ alcanga espacos © publicos diversos. Os produtos —téxtis, transformam-se em outros produtos de comunicagao: exposigbes, _ documentarios, videos, reportagens, posts no facebook, etc, De esta forma, alcangam piiblicos mais gerais, ‘espagos culturais, universidades, jomais, salas de cultura, festivais de cinema, etc. A coleta de dados a partir de varias ferramentas, como a ‘8xtil, mas também histérias de vida 0 outro tipo de registros, permite também — elaborar discursos @ recomendagdes em base de dossiés que utiizam uma linguagem juridica que podem ser encaminhadas a audiéncias publicas, a drgaos politicos e a rodadas de negociacao com diversas instituicdes. 5. Partes Interessadas e Organizacées Parceiras ‘As beneficiérias da experiéncia apresentada 80 as mulheres atingidas e ameagadas pelos processos de planejamento, construgao e ‘operagao de barragens no Brasil Os grupos principals envolvides na realizacso da experiéncia sao: + Mulheres atingidas _e ameacadas _por barragens por narrar suas experiéncias & pariicipar = em =—processos. de empoderamento individual ¢ coletivo. + Coletivo de Mulheres do MAB por desenhar, coordenar © implementar o programa de formagao, documentacao € dentincia. + Coletivo de Direitos Humanos do MAB por construir ferrementas juridicas e formular recomendagdes © deniincias das violagdes de direitos humanos das populagées alingidas por barragens. + Coletivo_de_Comunicagao_do_MAB por elaborar um plano de comunicarao publica para divulgar os produtos © as experiéncias das mulheres. Também foram muitos os parcsitos que ajudaram a construir € elaborar a experiéncia, entre eles, varias organizacdes de assessoria juridica popular © de direitos humanos, a Marcha Mundial das Mulheres, que ajudou na elaboragao do programa, HORIZONT3000, DKA e @ ago “SEI SO FREI" (Movimento dos Homens Catélicos de Salzburgo) na captagao de recursos € na gestao de projeto, entre outros. 6. Recursos Recursos humanos: + Um grupo de “Coordenacao Pedagdgica’, que pensa nos objetives, nos resultados no plano de acao, e que é responsavel por coordenar e executar 0 plano de agao. * Dependendo do objetivo que se quer alcangar com 0 programa, recomenda-se uma facilitadora por cada 15 mulheres. + Uma cuidadora infantil, que pense num programa para as oriancas em quanto as mulheres esto reunidas. + Uma equipe de comunicagéo para transformar os produtos das oficinas em veiculos de comunicagao Materiais: + Retalhos © sobras de tecidos, linhas, agulhas, tesouras e tecido de arpillera (juta ou estopa), Tempo. + Uma arpillera demanda umas 36 horas de trabalho individual * A aplicagao de um programa pedagégico construido coletivamente pode demorar muito mais tempo. (No caso do MAB: trés anos). Meios Financeiros: + Em principio, os custos nao sao altos, ja que a experiéncia nao requer pessoal técnico especializado @ os materiais de costura sao reutlizaveis. + Mesmo assim, se tem que investir recursos financeiros para garantir os encontros (Viagens, estadias @ alimentacao), ¢ a equipe de coordenaco do projeto. (No caso do MAB, também teve muito trabalho voluntario). Page 7 of 10 7._Impactos da Experiéncia/ Pratica No nivel interno, a pratica facilitou processos. de empoderamento individual ¢ coletivo das mulheres atingidas, contribuindo a identificar as suas problematicas e necessidades especificas © a fortalecer 0 coletivo de género no nivel nacional e local, legitimando cada vez mais o papel do coletivo de mulheres dentro do MAB. No nivel externo, @ prética ajudou a visibilizar as violagtes de direitos que sofrem as. mulheres atingidas ¢ a ampliar a discussao sobre as contradigdes do atual modelo ‘energético brasileiro. Ajudou a sistematizar as violagdes dos direitos das mulheres atingidas & ‘encaminhar dentincias ¢ recomendagdes aos ‘6rgaos responsaveis. A principal inovagao esta no uso de novas linguagens sensiveis a0 género para gerar processos de empoderamento individuals coletivos na vida das mulheres. 8. _Ligées aprendidas ‘As principais conclusées ¢ fatores, que tem que ser considerados na hora de replicar a experiencia, sao as seguintes: + A prética tem que contribuir ao fortalecimento dos coletivos envolvidos © das estruturas organizativas, assegurando ‘que seja visto como “interno” e que consiga dialogar com o resto das atividades do movimento. + A apropriagao local do processo 6 crucial para gerar processos muitipicativos, dando importancia a0 método de formacéo, a0 fortalecimento das coordenadoras locais & a ampliagao € qualificagao dos grupos de base * © uso de varias linguagens diferentes consegue chegar a publicos novos @ mais amples, facilita a aproximagao © empatia as problematicas das mulheres atingidas. 9. Desafios © principal desafio foi criar um proceso integrado ao resto das atividades e garantir que © projeto seja parte do plano pedagéaioo- ‘organizativo do coletivo das mulheres do MAB. Para conseguir isso, foi preciso tempo ¢ recursos, j& que tem que criar espagos amplos © coletivos de reflexao, envolvendo as mulheres no desenho, no monitoramento @ na avaliacao das atividades planejadas. ‘Além disso, também tinha outros desafios: + A associagéo da costura a0 ambito doméstico e ao papel subaltemo tradicional assignado as mulheres, + A despolitizapao das oficinas, pois, no inicio, as mulheres estavam motivadas a participar nas oficinas pensando que era uma forma de geracao de renda, * A interferéncia dos companheiros no proceso, pois, no inicio perceberam a atividade como perda de tempo, sendo que alguns companheiros néo gostavam que as mulheres se envolvessem em atividades ou discussdes politicas Todos estes desafios foram superados: * Aproveitouse dos espagos de decisao existentes, nos quais foi incorporada a coordenagao do programa. A pratica foi dirigida por um grupo menor que operacionalizou 0 trabalho dentro do coletivo de mulheres @ coordenou este trabalho com os outros coletivos do MAB (comunicagao ¢ direitos humanos), * A costura se entendeu como ato transgressor, sobre todo, a partir da viagem a Argentina, onde foi visitada a exposigao internacional de arpilloras. Essa viagem Constituiu um momento chave para o envolvimento do coletivo nacional de mulheres, @ também para 0 desenho da primeira versio do programa pedag6gico + Desde o primeiro momento, se insistiu no enfoque politico das oficinas, entendendo as arpilleras como meio de expresso © dentincia, e nao como uma fonte de renda. ‘A énfase no contexto politico em que esta técnica nasceu no Chile, em cada uma das oficinas, serviu a esse objetivo, como também o fato que a préttica foi combinada com 0 programa formative de defensoras de direitos humanos. * Quando o trabalho das arpilleras alcangou, no final, meios de difusao nao acessados pelo MAB até esse entao, percebeu-se outro tipo de aproximagao por parte dos companheiros, constribuindo a mais respeito ao trabalho @ 20 reconhecimento do papel das mulheres no movimento. Page 8 of 10 © principal desafio, que remanesceu, é dar continuidade ao trabalho. Alravés das oficinas foram levantadas muitas expectativas nas mulheres atingidas, que identificaram as suas problemidticas © demandas coletivas. Agora a questo € continuar trabalhando na auto- organizagao das mulheres no movimento, conseguindo de fato incorporar a pauta das mulheres na pauta do MAB, para que avance nas conquistas locais, 20 mesmo tempo que amplie 0 acesso das mulheres a programas © politicas publicas, que ajudem a minimizar os impactos das barragens © reparar as perdas sofridas nestes processos. 10. Sustentabilidade Para que a pratica seja sustentavel desde 0 onto de vista institucional, social ¢ econémico, a principal medida € promover a apropriagéo local do processo, através de métodos de formagae e capacitagao das proprias mulheres, que atuam como coordenadoras locais para faciltar as oficinas. Isto gera processos muttipicativos e logra alcances impactos muito maiores. (A meta do MAB era trabalhar com 200 mulheres, © alcangou quase 900 mulheres). 11. Partilhando a Experiéncia ‘A oxperiéncia pode ser reproduzida em diferentes contextos, com diferentes objetivos & com grupos maiores @ menores. O importante & definir claramente os objetivos e desenhar metodologias que estejam adaptadas as necessidades e demandas da organizacao. A chave 6 0 método, conseguindo promover processos e nao oficinas isoladas, envolvendo ‘os/as participantes em varias medidas ¢ graus na tomada de deciséo @ no desenvolvimento das tarefas e responsabilidades. Qualquer organizagdo que vise processos de ‘empoderamento individuais e coletivos, ligados 08 direitos humanos ou com fins terapéuticos, poderia se interessar pela pritica. A técnica das arpilleras foi amplamente aplicada como Tesposta a experiéncias traumaticas @ em contextos de conflito € pos-contito, Esta experiéncia ja foi compartilhada com varias instituigdes. © MAB participou na primeira conferéncia internacional de Arpilleras realizada em Genebra, em 2014, na qual participaram mais de 20 organizagdes de mais do 15 paises asidticos, europeios, americanos. @ africanos. Também fez apresentagdes sobre ‘esse trabalho em organizagdes © movimentos no Brasil, como o Levante Popular da Juventude, grupos da terceira idade do SESC, a Marcha Mundial das Mulheres, a Casa do Lua, entre outros. Page 9of 10 12. Bibliografia MAB. (6.c.). Catarse: Ajudle-nos @ costurar essa historia! Acesso em Novembro de 2015, disponive! em httpsv/wvw.catarse.me/ptarplleras MAB. (8.c.). Facebook: Arpiliras - Bordando 4 rasisténcia. Acesso em Novembro de 2015, disponivel em hittps://ww.facebook.com/arplleras! MAB. (8.c.). Movimento dos Atingides por Barragens. Acesso em Novembro de 2015, disponivel em httpsiwaw.mabnacional.org.br! MAB. (S.c.). Youtube: Ajude-nos a costrurar essa histéria. Acesso em Novembro de 2015, disponivel em https:/wvwyoutube.com/watch?v=gOetCqu2BTU Page 10 of 10

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