Resumo Ateneu

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Introdução

Publicado na forma de folhetim, em 1888, O Ateneu é um dos mais importantes


exemplares do Realismo brasileiro e a principal obra de Raul Pompéia. De
cunho autobiográfico, o texto remete à formação do narrador em um colégio
interno, expondo as incoerências morais da sociedade brasileira do final do
século XIX sob o olhar da criança que sai do aconchego doméstico e é
entregue ao “mundo”, que é representado pelo próprio Ateneu.

Capítulo 1
O narrador relata momento de sua vida em que entra no internato “Ateneu”, um
dos mais famosos da época, comandado pelo famoso pedagogo Dr. Aristarco
Argolo de Ramos, autor de inúmeros livros didáticos que eram distribuídos
pelos colégios públicos de todo o império.

Essa passagem marcaria o fim das ilusões infantis, alimentadas pelo ambiente
doméstico cercado de amor, e o encontro com “o mundo”. Aos onze anos,
Sérgio experimentara alguns meses uma escola familiar, da qual se lembra
somente do lanche servido ao meio-dia e das características de alguns
colegas, e também tivera aulas em domicílio. A vida no internato era encarada
como uma evolução, sua transformação em “homem”.
Antes de ser matriculado no Ateneu, Sérgio visitara a instituição algumas
vezes. Numa delas, uma festa de encerramento de trabalhos, houve a
presença do ministro do império e um inflamado discurso do professor
Venâncio, que exaltava Aristarco como uma criatura inferior somente a Deus.
Outra ocasião fora a festa de educação física, na qual houve grandes
demonstrações da força física e da desenvolvida habilidade motora dos
internos.

A ocasião da matrícula de Sérgio se deu na própria casa de Aristarco, cuja


figura mais humana causou uma impressão conflitante com a imagem de
superioridade que havia sido alimentada até então. O pedagogo censurou os
cachinhos de cabelo do futuro estudante, informando que seria necessário
cortá-los. Sua esposa, Dona Ema, agradou ao garoto, comentando que poderia
entregar os cabelos à sua mãe. Aristarco estendia com autoridade sua
narrativa que unia seu passado ilustre, responsável pela formação de jovens
que se tornaram influentes no Estado, e sua visão de futuro que contava com
reformulações educacionais que transformariam a sociedade.

Capítulo 2
No dia 15 de fevereiro Sérgio apresentou-se para o início das aulas. Aristarco,
que se dividia entre as posturas de administrador e educador, adotou esta
última para recebê-lo, junto de seu pai, apresentar as instalações e regras do
local, sempre enfatizando o árduo trabalho que realizava no combate das
imoralidades.

Com natural timidez, Sérgio foi apresentado por João Numa, inspetor de
alunos, a alguns colegas. Em seguida dirigiu-se à sala do Professor Mânlio,
com quem teria as aulas de primeiras letras, e que o recomendou ao seu
discípulo mais sério, Rebelo, muito compenetrado nos estudos. Há uma breve
descrição de outros colegas de sala, que serão citados conforme surgirem no
enredo.

Na primeira vez em que Sérgio é chamado à frente da sala, a ansiedade da


situação domina seu corpo e ele desmaia, acordando somente na rouparia,
onde fora acompanhado por Rebelo. Num momento de solidão o calouro
apanhou um folheto que havia sobre uma mesa e se surpreendeu com
ilustrações indecentes de frades despidos tocando-se. O roupeiro, ao perceber
o que ocorria, arrancou o livrinho de sua mão dizendo que aquilo não era para
crianças.

Recuperado, Sérgio caminhou pelo pátio com Rebelo, que o alertou sobre os
perigos que guardava a vida no internato: garotos perversos, mentirosos,
traidores, hipócritas… Era necessário ser forte, independente, fazer-se homem.
No caminho um garoto gorducho puxou a blusa de Sérgio, rindo
sarcasticamente, ao que ele revidou atirando-lhe um pedaço de telha. Rebelo,
após elogiar a rápida vingança do amigo, identificou o garoto zombeteiro,
Barbalho, como um futuro marginal.

De volta à sala de aula Sérgio foi recebido com carinho pelos colegas, exceto
Barbalho, e pelo professor.

No intervalo, sem a companhia de Rebelo, o novato procurou chamar o mínimo


de atenção possível e tentou conversar com Franco, um garoto que estava
sempre de castigo. Perguntado sobre qual teria sido sua falta, o menino disse
que nem sabia o motivo. Franco, que sempre apresentava um mal
desempenho nos estudos, era desprezado e vitimado pelos professores
diariamente.

Por várias vezes Barbalho caçoou de Sérgio, que acabou partindo para uma
briga, numa oportunidade em que não eram vistos por nenhum adulto, da qual
saiu com o nariz sangrando.

À noite Sérgio refletia, deitado no dormitório, sobre as várias divergências


encontradas entre suas expectativas e a realidade do internato, a solidão e a
falta da segurança familiar. Seu sono foi rondado por pesadelos em que era
atormentado por Barbalho, pelas figuras dos frades indecentes e pela
deprimente realidade de Franco, à qual ele experimentava como sua.

Capítulo 3
No primeiro dia na “natação”, como era chamado o banheiro no qual havia um
tanque em que os garotos lavavam-se juntos, Sérgio foi puxado pelos
tornozelos e quase se afogou, sendo “salvo” por Sanches, um rapaz cuja
fisionomia a princípio o havia repugnado, mas que desde então se tornou seu
companheiro constante. Mais tarde haveria motivos para acreditar que havia
sido o mesmo Sanches que lhe derrubara.
Sanches era um dos garotos escolhidos, por ordem aristocrática, como
“vigilante”, responsável por averiguar a conduta de seus companheiros,
auxiliando na manutenção da ordem do internato. Sua companhia, portanto,
trazia benefícios a Sérgio, que também teve seu apoio na introdução às
diversas matérias escolares. Por conta disso e de um incômodo mau hálito,
Rebelo fora deixado de lado pelo calouro.

Após meses de contato direto com Sanches, reavivou-se em Sérgio a


impressão inicial que tinha em relação ao colega: o hábito de Sanches manter
um contato físico intenso quando estavam juntos já era desagradável, mas
revelou-se constrangedor quando o menino fez uma proposta de maior
intimidade a Sérgio, que riu e abismou-se da ideia.

A relação entre os amigos perdurou por algum tempo, com Sanches


apresentando a Sérgio um novo mundo de conceitos e palavras que
desafiavam conceitos religiosos mais tradicionais. Certa vez, porém, o veterano
voltou a se colocar como pretendente de uma relação mais íntima, causando
extrema repulsa em Sérgio, que se afastou definitivamente do preceptor.

Para compensar o vazio deixado pelo fim da primeira amizade, Sérgio apegou-
se às aulas de astronomia, ministradas pelo próprio Aristarco.

Capítulo 4
Com o afastamento de Sanches, Sérgio entrou num período de descrédito
escolar que logo resultou em más notas e repreensões de Aristarco. Por outro
lado ele encontrava na religiosidade um apoio para este período em que
recusou a companhia de qualquer colega. Invejava somente o aluno Ribas,
menino que possuía uma voz celestial, admirada pelo próprio diretor.

Franco continuava sendo alvo das maiores punições do colégio, motivadas por
consideráveis acusações: certa vez fora pego prestes a urinar no poço cuja
água se usava para lavar os pratos. Atraído pelas desventuras do colega,
Sérgio aproximou-se do malfeitor, sentindo certa identificação com ele.
Como vingança pelos recentes castigos, Franco decidiu ir escondido à
“natação” e jogar cacos de vidro na água. Perturbado por ser cúmplice de
tamanha maldade, Sérgio passou a noite na capela, rezando por uma solução
que não ferisse seus colegas, nem incriminasse Franco. Despertado na manhã
seguinte, tido como sonâmbulo, Sérgio alegrou-se ao saber que o banho do dia
tinha sido realizado em outro local, com a água da chuva, e alertou o inspetor
sobre uma garrafa que teria deixado cair na “natação”. Era a providência divina!

Acompanhando Franco em suas punições, certa vez, Sérgio surpreendeu-se


ao perceber que o amigo alisava sua mão. Assim como havia feito com
Sanches, o menino fugiu imediatamente do contato com mais um pervertido.

Incomodado por não conseguir se identificar com nenhum dos exemplos de


comportamento que encontrava em seus companheiros de escola, Sérgio
concluiu que o que lhe restava era ser completamente independente.

Capítulo 5
A fase religiosa de Sérgio, com grande empenho nas missas, nos cânticos e
procissões, lhe rendeu tranquilidade de espírito por algum tempo. Nessa fase a
influência de Barreto, jovem que viera de um rigoroso seminário, foi muito
marcante: ele falava do inferno e das punições aos pecados com extrema
vivacidade. Tal período, entretanto, pouco durou após o caso dos cacos de
vidro.

A cada quinze dias havia uma folga da escola com o retorno dos estudantes às
suas casas. Sérgio reencontrou os familiares com muita satisfação e pediu ao
seu pai conselhos sobre sua postura no internato perante os colegas e
professores. A orientação foi de não se comprometer tanto com as diretrizes do
ambiente e criar seus próprios princípios de comportamento.

Cada vez mais alinhado com sua própria personalidade, baseado na


independência e na liberdade, Sérgio desvinculou-se de vez das antigas
influências e conquistou o respeito dos professores, mas também adquiriu a
inimizade de alguns colegas.

As figuras femininas do Ateneu, as funcionárias Ângela e Dona Ema, excitavam


a imaginação dos rapazes ao mesmo tempo em que eram tidas como
precursoras do mal: atraentes e perigosas. Houve na época um assassinato
que corroborou esta tese: o jardineiro da escola esfaqueou um funcionário da
casa de Aristarco por conta do ciúme originado pelas relações que Ângela
mantinha com ambos.

Sérgio aproveitou a ocasião do crime para realizar o desejo mórbido de ver um


corpo defunto.

A situação também originou um herói no Ateneu: Bento Alves, jovem forte que
se incumbiu de imobilizar o jardineiro quando este entrou na escola
ensanguentado e com a faca em punho. O rapaz, entretanto, era um
“misterioso”: destacava-se dos demais por suas qualidades, mas não fazia
questão de se promover.

Diferente deste, surgiu no internato um rapaz vindo de Pernambuco, Nearco da


Fonseca, cujo pai ressaltou suas habilidades atléticas. A demonstração pública
de tais potências, porém, deixou a desejar.

Capítulo 6
O destaque de Nearco se deu, entretanto, em outro aspecto: sua habilidade
verbal era constantemente elogiada no “Grêmio Literário Amor ao Saber”,
instituição que reunia professores e estudantes em torno de longas e profundas
digressões filosóficas, históricas e artísticas. Tal organização possuía sua
própria publicação periódica e uma biblioteca reservada, muito utilizada por
Sérgio.
O responsável pela biblioteca era Bento Alves, “herói” do capítulo anterior.
Sérgio habituou-se a frequentar o local, motivado pelas leituras de Júlio Verne,
e logo se tornou objeto de admiração de Bento, que o presenteava com livros e
flores. Calejado pelos eventos anteriores, Sérgio cedeu ao romance platônico
considerando o respeito com que era tratado e a proteção que lhe era
garantida.

Havia eventos oficiais do “Amor ao Saber” que contavam com a presença de


familiares e discursos de professores. No primeiro deles a crítica contundente
do Dr. Cláudio à literatura nacional rendeu deselegantes trocas de acusações
entre pais de alunos. Num segundo encontro o professor optou por discorrer
sobre a arte em geral: tratou desde as pulsões animais às elevações espirituais
do homem, passando por transformações sociais e culturais.
Ao final deste último evento ocorreu uma briga entre Bento Alves e Malheiro,
valentão que há tempos procurava uma maneira de materializar um confronto
com o admirador de Sérgio. Para isso contou com a ajuda de Barbalho, que
relatou a Bento as zombarias de Malheiro contra seu protegido – ele lhe
perguntava “quando seria o casamento”.

O combate acabou com Malheiro desmaiado e Bento Alves ferido e


aprisionado. Sérgio incorporou o papel de “dama romanceira”, permanecendo
em vigília juntos às grades do cárcere de seu defensor.

Capítulo 7
A monotonia escolar, tanto pelo excesso de tarefas como pela falta do que
fazer, gerava um tédio que era suplantado com diversas atividades
“extracurriculares”: jogos de peteca, amarelinha, bolas de gude, caça a
passarinhos… Jogos de baralho driblavam as regras do internato e ganhavam
importância com apostas de cigarros e selos (colecionados com orgulho pelos
estudantes). Deboches manuscritos e livros “proibidos” eram contrabandeados.
Complexos sistemas de comunicação eram estabelecidos entre os alunos
dentro da sala de aula.

Com a proximidade das férias a vigilância dos dormitórios era atenuada e os


jovens agrupavam-se para discussões variadas: desde curiosidades sexuais a
especulações filosóficas sobre a vida.

Rômulo, um aluno gorducho, membro da banda escolar e que fora escolhido


por Aristarco como candidato a genro, era alvo de pilhérias de todos seus
colegas. Certa vez Sérgio cruzou seu caminho e repetiu a zombaria, levando
uma surra em seguida.
Após realizar os exames finais, dos quais saiu com algumas boas notas, Sérgio
refletia como, em poucos meses, tantas impressões sobre o Ateneu e sobre a
vida se modificaram, ganhando contornos reais que em muito diferiam do que
se idealizava.

Ao final do período organizou-se uma tradicional exposição artística da qual


Sérgio retirou sua obra: uma paisagem tibetana habitada por uma cabra havia
sido profanada por algum outro estudante, que traçara uma cruz sobre o
desenho.

Neste evento também era costume que todos os estudantes expusessem


versões de um retrato do diretor. Depois Aristarco recolhia as obras para sua
casa, guardando-as com intensa vaidade de mestre.

Capítulo 8
Os dois meses de férias serviram ao autor como oportunidade para enxergar o
mundo a partir das novas perspectivas aprendidas pela vivência no internato.
Sua condição de pequeno colegial, no entanto, ainda era um limitador de sua
existência.

O Ateneu, passadas as primeiras impressões de novidade, tornou-se símbolo


das privações juvenis. Para compensar essa sensação, havia passeios cada
vez mais consideráveis: subiam o Corcovado ainda de madrugada para
apreciar a paisagem matinal, faziam piquenique no Jardim Botânico, com
direito a um jantar farto, regado a vinho.

Certa vez, após um dia de passeios, Aristarco surgiu com um ar sombrio e uma
ameaça geral: ele encontrara uma correspondência de “pouca-vergonha”,
assinada por Cândida, endereçada ao Cândido, na qual era sugerido um
encontro romântico no bosque. Haveria punição a todos que estivessem
envolvidos no caso e não assumissem sua culpa.

Sérgio preocupou-se ao considerar seu histórico de intrigas com o diretor. Há


algum tempo um encontro fortuito com Bento Alves resultou numa inexplicável
luta – até então Sérgio continuava a ser “cortejado” pelo rapaz. O diretor
flagrou a briga e acabou sendo alvo da fúria de Sérgio, que lhe arrancou alguns
pelos do bigode. Aristarco prometeu uma punição severa que, no entanto,
nunca ocorreu. Após este incidente Bento Alves saiu do colégio e Sérgio
acredita que o “perdão” do diretor era devido ao cuidado para não perder mais
uma mensalidade certa.
No dia seguinte dez alunos foram chamados para o “julgamento” do caso.
Franco gozava de Silvino por não estar envolvido na história e acabou gerando
uma briga que resultou em mais vinte alunos levados à diretoria – entre eles
Sérgio.

Aristarco e seu funcionário discutiam quais medidas deveriam ser tomadas


para solucionar o caso, considerando que não poderiam perder muitos alunos
pagantes, quando um novo tumulto emergiu: os internos protestavam contra a
goiabada que estava sendo servida no refeitório, que na verdade era de
banana. O diretor adotou uma postura submissa para se justificar perante os
rapazes, esclarecendo que também estava sendo enganado pelos
fornecedores de goiabada.

Capítulo 9
Considerando a contrariedade que haveria em expulsar tantos estudantes, o
castigo aos revolucionários e revoltosos se resumiu a algumas páginas escritas
e três dias de reclusão em sala de aula.
Nessa época o narrador nutria uma nova amizade, muito mais profunda e
recíproca do que aquelas ocorridas com Sanches e Bento Alves: era Egbert, de
origem inglesa, aluno mais adiantado que Sérgio conheceu no início das aulas
secundárias. A simpatia imediata entre os dois proporcionou inúmeros
momentos compartilhados, passeios, estudos e leituras. O narrador relata uma
relação de dependência completa desta amizade.

Certo dia, porém, convidados os dois amigos a um jantar de honra, na casa de


Aristarco, Sérgio sentiria o encantamento por Egbert se esvair: as atenções, os
olhares e as carícias de Dona Ema despertaram no narrador uma sensação de
engrandecimento que fizeram ver seu amigo como parte do passado.

Capítulo 10
No dia anterior ao tal jantar Sérgio passou por outro momento marcante: os
exames na Secretaria de Instrução Pública, dos quais se saiu com sucesso.

Após o jantar Sérgio teve sonhos de intimidades com Dona Ema, nos quais ela
lhe permitia calçar os pés. Egbert parecia-lhe cada vez mais um estranho. O
distanciamento definitivo do amigo se deu quando Sérgio foi movido para o
quarto dos maiores.

No chalé, como era chamado o novo dormitório, Sérgio não se envolvia nas
discussões, que sempre lhe pareciam desinteressantes. A reclusão do colégio
e as limitações de sua idade o atormentavam.
Alguns dos colegas de quarto de Sérgio conseguiram abrir um vão nas grades
da janela que os permitia passar noites ao relento, usando de lençóis para
escalarem a parede quando retornavam. Aderindo ao grupo, Sérgio aproveitou
a oportunidade para vingar-se da surra que levou de Rômulo meses antes:
quando este saiu para o passeio noturno, Sérgio recolheu a corda de lençóis e
deixou o rival do lado de fora até a manhã, quando foi flagrado pelo diretor e
“sogro” Aristarco.
Capítulo 11
Aos sábados Dr. Cláudio dava palestras sobre assuntos gerais, desde a origem
dos planetas, passando pelas primeiras formas de vida microscópica, até o
advento da humanidade e da cultura.

Certa vez, focando no tema da educação, o professor defendeu a instituição do


internato, que era alvo de frequentes críticas: os vícios observados neste tipo
de estabelecimento seriam apenas reflexos dos vícios próprios da sociedade,
que permitiriam ao jovem um contato direto com a realidade que enfrentará
pela vida e uma base moral mais sólida para medir suas ações.

Ao ouvir estas palavras Sérgio pensou em Franco, que estava doente desde
quando fora à prisão escolar pela última vez. A insalubridade do cárcere
somou-se a uma predisposição do rapaz para usar do seu sofrimento como
forma de punição aos colegas, que considerava culpados por sua situação. Um
dia após uma breve visita do narrador ao seu colega, ele faleceu.

Recuperando-se do luto, o Ateneu passou por um período de muita animação


durante os preparativos da festa bienal em que se entregavam prêmios aos
estudantes de destaque. O evento teria seu ápice com a entrega de um busto
de bronze de Aristarco, encomendado por seus alunos.

Sob uma enorme tenda armada nomeio do pátio do Ateneu, milhares de


convidados, familiares e autoridades, reuniram-se para prestigiar a obra do
famoso pedagogo, que discursou cheio de orgulho. Após a entrega de
medalhas e coroas de carvalho aos premiados, Dr. Venâncio versou sobre as
supremas qualidades do diretor da instituição e exibiu o eterno busto. Aristarco,
surpreendentemente, sentiu inveja daquela obra de metal e incomodou-se por
sentir que todos os elogios proferidos por seu funcionário dirigiam-se a ela, não
a ele.

À noite, quando os convidados se retiravam, Sérgio reparou na presença dos


familiares de Franco, cabisbaixos.

Capítulo 12
Certo tempo depois da festa de premiação Sérgio adoeceu de sarampo e
recebeu os tratamentos especiais da mulher de Aristarco. Dona Ema criou um
forte laço de intimidade com o garoto, confidenciando-lhe sua solidão e
desconfiança de todos os que se aproximavam dela.

Sua família partira para a Europa e o deixara sob os cuidados do Ateneu


também no período de férias. Do pai, Sérgio recebeu apenas uma
correspondência na qual havia frustrantes considerações sobre a vida no
estrangeiro e conselhos existenciais em que era ressaltada a importância de se
viver o momento presente, sem prender-se ao passado nem esperar muito do
futuro.
Sérgio vivenciava com Ema uma experiência profundamente amorosa quando
um evento trágico interrompeu o romance: um incêndio no Ateneu. As férias
haviam dispensado a maioria dos funcionários e o esforço tardio dos bombeiros
não permitiu que muito se salvasse. Aristarco assistiu pasmo à sua desgraça,
procurando manter uma postura calma, que convinha à sua dignidade.

Mais tarde Sérgio soube que Dona Ema desaparecera, assim como Américo,
um calouro problemático que foi apontado como responsável pela tragédia.
Aristarco continuava observando os restos de sua obra sem conseguir
responder a qualquer indagação.
O narrador encerra suas recordações, às quais pondera que podem ser
entendidas como saudades, considerando que o tempo passageiro nada mais
é que “o funeral para sempre das horas”.

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