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Enc12 Opcoes Ficha 15 Sempre Companhia Conto Integral Questionario
Enc12 Opcoes Ficha 15 Sempre Companhia Conto Integral Questionario
MESSAJANA
CASTRO VERDE
OURIQUE
ALCARIA
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Contos
garradas e nuas; algumas só mostram o telhado escuro, de sumidas que estão no fundo dos córregos2. De-
pois disso, para qualquer parte que volte os olhos, estende-se a solidão dos campos. E o silêncio. Um silên-
fotocopiável
cio que caiu, estiraçado por vales e cabeços, e que dorme profundamente. Oh, que despropósito de plainos
65 sem fim, todos de roda da aldeia, e desertos!
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Manuel da Fonseca
Carregado de tristeza, o entardecer demora anos. A noite vem de longe, cansada, tomba tão vagarosa-
– É o último modelo chegado ao país. Quando se quer, é música toda a noite e todo o dia. Ou então can-
110 ções. E fados e guitarradas! Notícias de todo o mundo, desde manhã até à noite, notícias da guerra!…
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Contos
Dentro da venda, o Batola está tão desalentado como os ceifeiros. O mês passou de tal modo veloz
200 que se esqueceu de preparar a mulher. Sobe ao balcão, desliga o fio e arruma o aparelho. Um pouco
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Contos
1. pego: sítio mais fundo. 2. córregos: caminhos apertados. 3. infusa: bilha de boca larga, com bico, e uma só asa. 4. letras:
títulos de crédito pelos quais um credor ordena ao seu devedor que pague uma dada importância numa certa data. 5. vati-
cínios: profecias. 6. tabique: divisória.
1.ª PARTE
Enquadramento da ação (ll. a. )
Localização da ação no espaço físico: b.
Rotina de Batola: c.
2.ª PARTE
Desenvolvimento da ação
Peripécia inicial: d. (ll. e. )
5.1. Salienta a função que a peripécia inicial assume na construção do sentido global
do conto e na caracterização do espaço sociopolítico.
ENC12COP_03 33
Manuel da Fonseca
Segmento Marcas
Fases/etapas
textual linguísticas
Sequência descritiva a. b. c.
Sequência dialogal d. e. f.
ORALIDADE DEBATE
1.1. Redige uma exposição (130-170 palavras) em que sintetizes a forma como este
tema é retratado em duas obras que tenhas estudado no 10.º e/ou 11.º ano.
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Contos
L E I T U R A | G R A M ÁT I C A
1. Lê o texto.
OPINIÃO
Com o Alentejo na alma
Estamos em 1960 (ou talvez 1962), no verão tórrido de um Alentejo desprezado pelo poder
salazarista. Abril estava ainda fora daquele horizonte, aberto e amplo mas a vários títulos asfi-
xiante. Uma calma que apenas estremecia à passagem esporádica de um ou outro automóvel
com os pneus a guinchar na curva apertada após uma longa reta. Os sons das cigarras rompiam
5 o silêncio e a monotonia daquele território árido, onde o amarelado da paisagem, o restolho
seco, era apenas rasgado pelo tapete negro de alcatrão cintilante quase a derreter-se ao sol abra-
sador. Mas na berma da estrada começava a vislumbrar-se, ao longe, uma poeira anormal em
redor de duas silhuetas que se erguiam lado a lado com alguma coisa por trás. No início pode-
riam confundir-se com miragens em pleno “deserto” alentejano. Mas não. Eram bem reais. No
10 seu movimento compassado percebi pouco depois que eram cavalos, trazendo atrás de si um
homem acorrentado. Cavalos montados por aquela guarda, de farda cinzenta e botas altas, que
aterrorizava crianças e ainda mais os adultos, pelo menos os mais conscientes das razões da sua
miséria e do sufoco da sua liberdade. Do alto dos seus cavalos brancos estas figuras altivas eram a
personificação do poder, em absoluto contraste com o ser miserável, com as mãos acorrentadas,
15 curvado e maltrapilho, a desfalecer de sede. Deram-lhe água, mas só depois de saciar os cavalos
no fontanário à beira da estrada.
Estes mesmos guardas, ou outros seus comparsas, eram aqueles que regularmente frequen-
tavam o café-restaurante da família […].
Vinham por vezes em grupos de quatro, recordo-os, grandes e gordos, com ar carrancudo.
20 Creio agora que percebiam a raiva silenciosa que causavam à sua passagem. Sentavam-se num
espaço interior, mais resguardado da casa, e a mesa, devidamente preparada, com toalhas de te-
cido branco, em breve ficava recheada de iguarias, com vinho, presunto, queijo e às vezes outros
petiscos. Ficavam horas a comer, mas falavam pouco; e depois de empanturrados saíam como se
fosse da casa deles. Já se sabia que não pagavam a despesa, mas pelo menos era de esperar que ti-
25 vessem um gesto, ainda que fingido, de pedir a conta. Assim pensavam as vítimas daquele saque
(os meus pais). Porém, na maioria das vezes nem isso acontecia. Entravam e saíam atravessando
o espaço público da taberna, espalhando um temor respeitoso entre os clientes domingueiros
da “Casa de Pasto – o 15” (era esse o nome), um espaço nos fins de semana sempre animado por
grupos de homens, na sua maioria mineiros que, entre cada rodada, exprimiam em coro a sua
30 amargura, mas também a força coletiva através do agora celebrado “cante alentejano”. […]
Estas memórias não se apagam. Nesse período ocorreram algumas greves nas minas. Re-
cordo que numa delas a aldeia inteira andou em alvoroço quando se soube que a guarda tinha
carregado sobre os mineiros. Umas dezenas foram presos. Alguns eram de Rio de Moinhos (a
aldeia de que falo) e até um tio meu, soube depois, tinha sido levado para Lisboa, pela PIDE.
35 Não ficou muito tempo na prisão, mas para um homem honrado e por todos respeitado – um
assalariado para quem a única “subversão” cometida era trabalhar no duro para alimentar os
filhos, ingerindo aquele pó durante décadas, que lhe provocaria o cancro que o matou anos de-
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pois –, as “duas chapadas na cara” que lhe foram dadas por um qualquer esbirro do regime, para
que confessasse os nomes dos cabecilhas da greve, já foram um preço inconcebível. A dureza da
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Manuel da Fonseca
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Contos
1. Produz um texto oral, de quatro a seis minutos, onde exprimas a tua opinião sobre
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1.1. Planifica o teu texto, elaborando um plano de suporte com tópicos, argumentos e
respetivos exemplos.
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SOLUÇÕES | SUGESTÕES METODOLÓGICAS