Professional Documents
Culture Documents
LEITURA|EDUCAÇÃOLITERÁRIA
1. Com base no texto seguinte, explica de que forma Nuno Júdice encara o processo de produção
poética.
Costuma dizer que uma máquina poderia fazer o seu trabalho. Porquê?
Sim. Quando começo a escrever o poema perco um bocado a consciência sobre
o caminho que o poema está a seguir. Há a tal máquina interior que vai fabri-
cando esse poema. […]
Essa imagem de que a mão apenas verte o poema pode dar a ideia de que o
trabalho é simples, o que é um engano.
Sim, é uma disciplina, uma prática constante de escrita. É daí que vem o domínio
5 da palavra e da capacidade de escrever poesia, que não acontece por acaso.
A ideia da inspiração, do estar à espera, acho que não acontece.
“Nuno Júdice: ‘Quando acabo um poema não sei muito bem o que escrevi´” [Em linha].
Sol/Sapo, 22-07-2015 [Consult. em 07-01-2017].
15
Estrofe 1 Estrofes 2 a 5
Apresentação da ideia Explicitação do trabalho feito
ATO POÉTICO
que vai ser desenvolvida: com as palavras e da finalidade
“palavras exatas”
__ a. __ desse trabalho: __ b. __
Estrofe 6
Reforço da finalidade
do processo de
criação poética:
__ c. __
4. Evidencia a relação que se estabelece entre as “palavras exatas” (v. 1) e o “lugar das coisas”
(título).
4.1. Salienta a função do poeta nessa relação, tendo em conta os seguintes versos:
a. “Tento incendiá-las quando escrevo” (v. 7);
b. “Então, atiro sobre as palavras outras palavras” (v. 10);
c. “Recolho os restos, os adjetivos, os advérbios, artigos, preposições” (vv. 13-14).
4.2. Identifica os recursos expressivos utilizados nos versos abaixo para realçar o trabalho do poeta:
a. “espelhos quebrados com o calor da tarde” (v. 6);
b. “Então, atiro sobre as palavras outras palavras / água, pó, terra, o ar seco do verão” (vv. 10-11);
c. “Recolho os restos, os adjetivos, os advérbios / artigos, preposições” (vv. 13-14).
5. Mostra em que medida a afirmação seguinte pode aplicar-se ao poema “o lugar das coisas”.
O “tema” fundamental da poesia de Nuno Júdice é a própria constituição do poema e a (im)possibilidade dessa
constituição. E o que gera e move o poema não se situa na realidade sensível nem tem como ponto de partida qualquer
afeto anterior à materialização verbal do poema. Se há um momento inicial nesta poesia esse momento é a própria rutura
com a linguagem, ou antes, com os discursos que dominam a consciência humana e a alienam.
SOLUÇÕES|SUGESTÕESMETODOLÓGICAS
1. Processo relativamente inconsciente, mas disciplinado e sistemático, fruto da prática e não da inspiração.
3. a. Valorização das palavras que representam as “coisas” (v. 3) com exatidão. b. Trabalho que reside no atribuir sentido e
expressividade às palavras, na substituição de palavras e na depuração do discurso, com a finalidade de que as palavras
representem de forma exata a realidade a que se referem. c. Valorização das “palavras exatas” (v. 1), enquanto “nomes das
coisas” (v. 17) intimamente relacionadas com a realidade por elas nomeada.
4. Relação de analogia – as palavras exatas são as que permitem apreender o lugar das coisas (realidade por elas
nomeada).
4.1. Poeta como responsável pela descoberta das “palavras exatas”, através: a. da atribuição de sentido e
força/expressividade às palavras; b. da substituição de palavras; c. da eliminação de palavras desnecessárias / da
depuração do discurso.
4.2. a. Metáfora, hipérbole, aliteração. b. Metáfora, repetição, enumeração assindética. c. Metáfora, enumeração
assindética, aliteração.
5. Associação entre o ato de criação poética e a procura das “palavras exatas”, mesmo que isso implique que “as frases
percam o sentido”, isto é, que se instaure uma “rutura” com “os discursos que dominam a consciência humana e a alienam”.