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O PLANO DE DEUS E A ESCOLHA DO HOMEM

Os teólogos de outrora diziam com razão: Aquilo que Deus decreta na eternidade, o
homem escolhe no tempo. Com efeito, os homens escolhem livremente. mas através
da sua escolha cumpre-se o eterno propósito de Deus.

Nós vemos este princípio claramente ilustrado nos acontecimentos que rodearam o
julgamento e a morte de Cristo. Encontramos em Mateus 27 várias tentativas vãs
pelas quais os homens procuraram negar qualquer responsabilidade pessoal nas suas
injustas acções.

Primeiro vemos Judas, o qual procurou mais tarde desculpar-se da morte de Jesus
confessando a inocência de Cristo e devolvendo as trinta moedas de prata aos
principais dos sacerdotes. A resposta dos líderes religiosos foi, porém, um duro golpe
para ele: Que nos importa? Isso é contigo. Judas era responsável por ter entregado
Cristo às autoridades, mas estas tinham também a responsabilidade de se certificarem
da culpabilidade de Cristo e se a Sua condenação era justa. E não o fizeram.

Em segundo lugar Pilatos sabia muito bem que Cristo estava inocente de todas as
acusações trazidas contra Ele pelos judeus, mas procurou conscientemente meios de
contornar a lei e os princípios da justiça, entregando-O à vontade da multidão e,
assim, condenando-O à morte. Depois, ele próprio também quis ilibar-se de toda a
responsabilidade nas consequências dos seus actos.

Em terceiro lugar, Mateus afirma muito claramente que as acções de Pilatos eram
ditadas pela livre escolha da multidão. Ele deu-lhes a escolher entre Cristo e Barrabás
(Mat. 27:17). O destino de um e de outros dependia da escolha da multidão. Notai bem
como Mateus o narra no V. 15: Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente
soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse. A escolha da morte ou
libertação de Cristo ou de Barrabás dependia do livre arbítrio da multidão. Não tendo
em devida conta os protestos e advertências da sua mulher, nem da sua própria
consciência, e agindo contra a lei dos romanos e dos judeus, Pilatos recusou opôr-se
à injustiça. Respondendo à interrogação de Pilatos Que farei então de Jesus chamado
o Cristo? a multidão gritou em uníssono: Seja crucificado. Pilatos insistiu: Mas que
mal fez Ele? e assim tentou, até onde pôde dissuadir a multidão, mas os gritos desta
tornaram-se cada vez mais persistentes: Seja crucificado.

Finalmente, Pilatos procurou ilibar-se de toda a sua responsabilidade na morte de


Cristo lavando as mãos diante de todos e declarando: Estou inocente do Sangue deste
Justo. A multidão não hesitou e, continuando a exigir a Sua morte, fez cair sobre si a
responsabilidade da morte de Cristo ao clamar: Que o Seu Sangue caia sobre nós e
sobre os nossos filhos.

Contudo, apesar dos seus protestos e do acto simbólico executado publicamente para
proclamar a sua inocência na morte de Cristo, Pilatos não podia libertar-se da sua
responsabilidade neste assunto. A multidão, quanto a ela, aceitou publica e
conscientemente a sua responsabilidade. Ela exercera a sua livre escolha. Mas em
tudo isto, e sem o saberem, ninguém fez outra coisa que não fosse o cumprimento dos
decretos eternos de Deus. Eles eram livres nas suas escolhas e responsáveis nas
suas acções mas, por cima de tudo e de todos, imperava a eterna vontade de Deus
em salvar o Seu povo. Pedro declara-o muito clara e francamente nesta mesma
cidade de Jerusalém seis semanas mais tarde, ao afirmar na sua prégação do dia de
Pentecostes àcerca de Cristo: A Este que vos foi entregue pelo determinado conselho
e presciência de Deus, tomando-O vós O crucificastes e matastes pelas mãos de
injustos (Act. 2:23).

Duas perguntas capitais, e com um alcance eterno, encontram a sua resposta em


Mateus 27:

1. Que decretou o Deus Eterno em relação ao Seu Filho? Resposta: Que Ele seja
crucificado. Exactamente o que a multidão exigiu. - Aquilo que Deus decreta na
eternidade, o homem escolhe no tempo.

2. Que é necessário para que o carácter Justo e Santo de Deus seja satisfeito,
permitindo-Lhe simultaneamente perdoar aos pecadores culpados? Resposta: Que o
sangue inocente do Seu Filho seja vertido. Uma vez mais, exactamente o que
reclamava a multidão diante do tribunal de Pilatos - Aquilo que Deus decreta na
eternidade, o homem escolhe no tempo.

Este grande princípio aplica-se directamente a cada um de nós nas circunstâncias e


nos acontecimentos da nossa vida particular e social. Nunca devemos pensar que
somos piões nas mãos dos incrédulos, ou vítimas da injustiça dos homens. Devemos
antes repousar na certeza de que Deus, o nosso Pai Celestial, dirige todas as
circunstâncias da nossa vida. Se os maus parecem prevalecer e dominar é porque
Deus, na Sua infinita sabedoria e soberania, se serve eles para a Sua própria glória e,
no fim de contas, para o nosso bem, mesmo que momentaneamente não o estejamos
a ver.

Tomemos o caso de José no Velho Testamento. Era-lhe por certo muito difícil ver a
mãos de Deus por detrás da maldade dos seus irmãos quando estes o lançaram numa
cisterna e depois o venderam aos ismaelitas que o levaram para o Egipto. (Gén. 37). E
mais tarde, quando foi lançado na prisão por ter repudiado as seduções de mulher de
Putifar, era-lhe certamente muito difícil discernir a mão de Deus em tudo o que lhe
acontecia. O Senhor, porém, estava agindo na sua vida e nós conhecemos a
sequência dos acontecimentos que fizeram de José governador de todo o Império
Egípcio para que durante os anos de fome a sua vida e a de toda a sua família,
incluindo os irmãos que o haviam vendido, fosse preservada.

Talvez nos seja difícil discernir a mão de Deus quando reprovamos num exame que
consideramos importante para o nosso futuro, quando perdemos o emprego, quando
um amigo a quem muito amamos ou um familiar nosso morre nalgum acidente. E que
dizer dos acontecimentos que quotidianamente se abatem sobre o nosso pobre mundo
- as guerras, a injustiça, a imoralidade, os divórcios e as suas consequências nos lares
desfeitos (as crianças abandonadas, os jovens revoltados)? Terá Deus perdido o
controlo dos acontecimentos deste mundo?

São interrogações legítimas, mas, para o filho de Deus, elas encontram resposta na
soberania de Deus e no Seu plano eterno de salvação do Seu povo em Cristo. Eu Sou
o Senhor e não há outro ... Eu faço a paz e crio a adversidade... o Meu conselho será
firma e farei toda a Minha vontade (Is. 45:6,7; 46:10). Este é o nosso Deus. Os Seus
filhos terão de passar algumas vezes por provações, sendo afligidos, torturados,
condenados à morte - mas a sua confiança está em Deus que os elegeu em Cristo
antes da fundação do mundo e que fez também com que tudo o que acontece seja
para o bem dos Seus eleitos e para a Sua eterna glória.

Nós não vemos o fim das coisas desde o seu princípio, como acontece com Deus.
Encontramo-nos cercados pelos acontecimentos diários que nos impedem de ver as
veredas eternas de Deus. Se Judas Iscariotes, os dirigentes do Império Romano, os
chefes religiosos dos judeus que, em comum, se opuseram a Cristo e O condenaram à
morte, se eles em tudo isto não fizeram mais do que cumprir o terno desígnio de Deus,
não poderemos nós confiar no Senhor em todos os acontecimentos da nossa efémera
vida?

Os filhos de Deus sabem que o Altíssimo os elegeu em Cristo antes da fundação do


mundo e jamais irá abandoná-los. Foi para salvá-los que Cristo veio ao mundo, e
todos os acontecimentos que rodearam a Sua morte foram decretados por Deus com
esse mesmo alvo. A jovem igreja de Jerusalém sabia-o e exprimiu-o na sua oração:
Contra o Teu Santo Filho, Jesus, que Tu ungiste se ajuntaram não só Herodes, mas
Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tu
mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer (Act.
4:27,28). Eis o nosso Deus, o nosso Pai Celeste. Confiemos continuamente n'Ele e no
Seu plano eterno para a nossa vida!

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