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“A IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

DOS NOVOS PROFISSIONAIS DAS CIÊNCIAS AGRÁRIAS”

Educação

Experiência

Cristiane Maria Tonetto Godoy


Flávia Inês Carvajal Pérez
José Geraldo Wizniewsky
Aline dos Santos Machado
Aline Guterres Ferreira

Universidade Federal de Santa Maria

Brasil

Email: ctgextr@hotmail.com – Fone: (55) 3222-0368

RESUMEN
A importância da presença da extensão nos currículos é de suma importância, pois será através da
extensão que haverá a consolidação do conhecimento teórico adquirido em sala de aula com o
conhecimento prático obtido com a realidade dos diversos modos de produção e das necessidades
da agricultura. Neste contexto, o projeto realizado pelo Grupo de Extensão Rural Aplicada do Centro
de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e os agricultores do
município de Santa Rosa/RS, proporcionam aos estudantes dos cursos de graduação do CCR a
prática pedagógica dos conteúdos abordados pelas disciplinas técnicas. Através desta experiência
os estudantes podem conhecer a realidade existente dos agricultores familiares, bem como,
reconhecer a importância da agricultura e da prática dos assuntos tratados em sala de aula. Ao
avaliar a percepção dos docentes envolvidos no projeto conclui-se que os projetos de extensão, são
fundamentais na formação dos novos técnicos. A extensão torna-se um insumo para a motivação do
aprendizado, as diversas realidades e imprevistos encontrados no meio rural fazem com que estes
estudantes posicionem-se como profissionais e aprendam com a ação, produzindo seu conhecimento
a partir da experiência, sendo os sujeitos da aprendizagem. A experiência da extensão universitária
traz o agricultor/estudante/docente/instituição juntos no processo de aprendizado e
conseqüentemente fornece informações que devem direcionar as tecnologias/ações para atender as
necessidades encontradas pelos agricultores. Dessa forma, o papel da universidade será de articular
a extensão juntamente com o ensino e a pesquisa, privilegiando o contato dos seus estudantes com
as atividades extensionistas, preparando-os para o convívio com a realidade rural do país. Buscando
também a integração e orientação das diversas ações educacionais desenvolvidas pela universidade,
para que os projetos de extensão sejam adicionados cada vez mais nos currículos dos cursos de
graduação, por entender que o processo educativo é complexo e dinâmico.

Palavras-chaves: Extensão Rural, Extensão Universitária, Ações educacionais, Agricultores


Familiares, Estudantes
Palavras-chave: Extensão universitária, extensão rural, prática pedagógica, agricultura familiar,
docentes
1. Introdução
1
Dentre as funções da universidade o tripé formado pelo ensino, pela pesquisa e pela extensão, está
última, muitas vezes é enfocada como uma terceira necessidade, não sendo priorizada em trabalhos
e projetos pedagógicos das Instituições de Ensino (IES). Historicamente a extensão, sempre foi
preterida em prol da pesquisa, e isto, na realidade universitária brasileira é marcado pela valorização
maior da pesquisa e as publicações decorrentes dela em contrapartida com as ações de extensão e
as suas publicações em termos de carreira Universitária e currículos dos professores.
A pesquisa é aquela que será responsável pela investigação, reflexão e pelo debate dos diversos
assuntos relacionados às áreas de formação, permitindo dessa forma, um processo dinâmico e
contínuo de reconstrução do conhecimento formal. Este conhecimento formal não é único, existem
muitos outros tipos de construção e de conhecimento, a partir de um contato direto com a realidade e
os diversos segmentos sociais. Assim a extensão se torna articuladora da pesquisa e do ensino,
possibilitando o diálogo dinâmico e a participação real da sociedade nos processos acadêmicos
(Caíres et al., 2002).
De acordo com Jezine (2006) a extensão universitária é redirecionada, não mais somente na
dimensão assistencialista de prestação de serviços, mas agora com ênfase na relação prática-teoria,
em uma relação dialógica entre universidade e sociedade, permitindo desta forma a oportunidade de
troca de saberes. Ainda de acordo com a autora:
Os princípios da integração ensino-pesquisa, teoria e prática que embasam a concepção de extensão
como prática social e função acadêmica da universidade revelam um novo pensar e fazer, que se
consubstancia em uma postura de organização e intervenção na realidade, em que a comunidade
deixa de ser passiva no recebimento das informações/conhecimentos transmitidos pela universidade
e passa a ser, participativa, crítica e construtora dos possíveis modos de organização e cidadania.
(JEZINE, 2006, p. 10)
As extensões: universitária e rural tornam-se pontos chaves na divulgação dos benefícios oriundos da
pesquisa científica, tecnológica e social das Instituições de Ensino Superior (IES) para a sociedade. A
extensão promove o desenvolvimento regional através da participação ativa da comunidade na
construção e divulgação de novas tecnologias e ações desenvolvidas pelas Instituições.
Para Rauber (2008), esta aproximação é eficiente para trocar os conhecimentos entre docentes-
estudantes-comunidade pela possibilidade de desenvolvimento de processos ensino-aprendizagem a
partir de práticas cotidianas. Por isto a universidade deve ser aberta dialógica e estar dinamicamente
inserida na sociedade. E é a partir deste pensamento que a extensão universitária precisa ser
entendida como um processo educativo que articula o ensino e a pesquisa.
Além da extensão universitária, é de suma importância a presença da disciplina de Extensão Rural
nos currículos dos cursos de graduação ligados ao meio rural. Pois, será através da extensão que
haverá a consolidação do conhecimento teórico adquirido em sala de aula com o conhecimento
prático obtido com a realidade dos diversos modos de produção e das necessidades da agricultura.
Com o movimento da Revolução Verde a partir dos anos 60 o meio rural e o modo de fazer a
agricultura sofreram profundas alterações. O movimento estava baseado principalmente em uma
agricultura de larga escala, monocultivos, mecanização, sementes melhoradas e nos insumos
químicos. Algumas conseqüências deste movimento podem ser citadas: o intenso desgaste dos solos
e dos agroecossistemas, perda da biodiversidade pelo avanço dos monocultivos, endividamento dos
agricultores familiares, êxodo rural, masculinização e envelhecimento do campo, entre outros.
Entretanto, a influência da Revolução Verde não foi apenas no meio rural e na produção
agropecuária, o movimentou influenciou também na formação dos profissionais das Ciências
Agrárias, que eram “doutrinados” a difundir as novas tecnologias, incentivarem a intensificação na
produção e na adoção dos insumos produzidos pela indústria pelos agricultores. Assim, na formação
destes profissionais, se privilegiava o desenvolvimento rural através principalmente da ênfase no
crescimento econômico, e os impactos sociais e ambientais deste modelo ainda não eram
considerados nesta acepção de desenvolvimento.
As formas de produção e condução da economia mundial têm sido alvo de muitos trabalhos e
debates. O reconhecimento da crise e dos impactos ambientais gerados pela produção industrial, o

1
Serão utilizados os termos Universidade e Instituição de Ensino Superior, como sinônimos no texto, por não
haver no nosso entendimento diferenciação de significados.
consumo e a agricultura intensiva estão em pauta de diversas políticas públicas. Estes impactos
ambientais, negativos, não somente causam perda da biodiversidade, contaminações do ar e da
água, mas também afetam a sobrevivência e a qualidade de vida do homem, pois, ele está inserido
2
no meio ambiente . Estes efeitos negativos do modelo vigente apontam para a necessidade de
mudanças de paradigmas e de alternativas mais sustentáveis.
De acordo com Silveira & Balem (2004), estas novas alternativas devem buscar a recuperação e
preservação dos sistemas naturais, bem como, a construção de um “novo” modelo de agricultura
baseada na manutenção das populações atendendo as necessidades básicas de forma equilibrada e
equitativa com os recursos naturais, promovendo esquemas sociais e culturais locais. Ainda segundo
os autores sobre esta nova alternativa:
(...) torna-se necessário uma construção permanente de formas de exploração do espaço agrário,
onde seja resgatado práticas adequadas à dinâmica dos agroecossistemas e a agricultura, sendo
esta definida como a cultura produzida pelos agentes sociais em sua vivência na atividade agrícola.
Tal estratégia se opõe a uma atuação profissional que desconsidere a heterogeneidade dos espaços
agrários, trabalhando na lógica de pacotes tecnológicos intensivos em insumos industriais.
O meio rural e os ecossistemas deve ser entendidos como heterogêneos, cada uma com sua
singularidade. Desta forma, a disciplina de extensão rural torna-se importante na formação dos
estudantes dos cursos das ciências agrárias, pois é ela quem irá qualificar estes novos profissionais,
preparando-os para lidar com os diversos agroecossistemas e formas de produção, não mais
difundindo tecnologias, mas sim, construindo os saberes juntamente com os agricultores e
conhecendo a realidade destes.
Neste contexto, o projeto realizado pelo Grupo de Extensão Rural Aplicada do Centro de Ciências
Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM, e os agricultores do município de
Santa Rosa/RS, proporcionam aos estudantes dos cursos de graduação do CCR a prática
pedagógica dos conteúdos abordados pelas disciplinas do Departamento de Educação Agrícola e
Extensão Rural/DEAE, focando principalmente na disciplina de Extensão Rural. Através desta
experiência os estudantes podem conhecer a realidade existente nas diversas propriedades dos
agricultores familiares, bem como, reconhecer a importância da agricultura familiar e da prática dos
assuntos tratados em sala de aula. Neste trabalho procurou-se conhecer a percepção de alguns dos
docentes envolvidos no projeto em relação à importância da interação entre teoria e prática para a
formação dos estudantes.

2. Ordenando a pesquisa
O projeto do qual o Grupo de Pesquisa Extensão Rural Aplicada (Departamento de Educação
Agrícola e Extensão Rural) participa faz parte do convênio firmado entre a Prefeitura de Santa
Rosa/RS e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) intitulado: “Apoio Técnico Científico no
Estudo da Realidade Rural no Município de Santa Rosa: Diagnóstico Rural por Localidade e
Propostas de Ação para o Desenvolvimento Rural Sustentável” para realização do diagnóstico da
realidade rural da agricultura familiar do município.
Neste sentido, docentes participantes do projeto para promoverem a integração entre ensino,
pesquisa e extensão e buscaram envolver os estudantes do Centro de Ciências Rurais/CCR da
UFSM, compreendidos pelos cursos de Agronomia, Engenharia Florestal e Medicina Veterinária. Os
estudantes matriculados nas disciplinas de Extensão e Comunicação Rural; Extensão e
Desenvolvimento Rural e Extensão Rural eram preparados em sala de aula com as várias
ferramentas/técnicas e referenciais teóricos sobre as metodologias utilizadas para realizar o
diagnóstico da realidade rural em uma abordagem participativa. Após a preparação em sala de aula
os estudantes visitavam o município, realizando entrevistas semi-estruturadas com os agricultores
familiares para o levantamento de dados da realidade destes agricultores. Desta forma, os estudantes
aplicavam na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, promovendo um maior contato
destes com a realidade existente nas propriedades rurais, possibilitando o diálogo e a troca de
saberes técnico-agricultor. Além da aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula a
prática permitia também aos estudantes conhecerem a realidade da agricultura familiar e promovia o
lado profissional destes. Os estudantes eram recebidos pelas comunidades das localidades rurais do

2
Será utilizado o termo meio ambiente, para expressar as diversas relações existentes no meio biótico e abiótico
e suas formas de interação com o espaço onde se encontram.
município para um almoço, este é o primeiro contato entre agricultor-estudante. Após o almoço os
docentes que acompanham os estudantes eram separados em duplas e destinados a elas as
propriedades que seriam entrevistadas, cada dupla visitavam duas propriedades para recolher as
informações para o diagnóstico da realidade do município. O segundo momento desta prática era o
retorno das informações coletadas e a discussão das mesmas pelos estudantes em sala de aula,
assim como os comentários sobre a experiência e relatos pessoais.
Para uma melhor compreensão da percepção dos docentes envolvidos no projeto, tendo em vista o
pluralismo dos instrumentos e técnicas utilizados nesse estudo, optou-se pela utilização da
investigação qualitativa:
Preferimos utilizar el término investigación cualitativa para situar bajo el mismo toda esta gran
diversidad de enfoques y corrientes de investigación: estudio de campo, investigación naturalista,
etnografia, etc... (p. 24). También se disponen de diversas formas de recoger y analizar materiales
empíricos, incluyendo la entrevista cualitativa, la observacion, la visualización, la experiencia personal
y los métodos documentales (GÓMEZ et al., 1996, p. 30).
Para isto, através de um roteiro foram propostos alguns temas para o desenvolvimento do diálogo
que abrangeu os seguintes aspectos: a importância da interação teoria-prática; quais as percepções
dos docentes; como era a experiência relatada pelos estudantes aos docentes; contextualização da
realidade da agricultura familiar no conhecimento do estudante e no conhecimento do próprio
docente, entre outros fatores, para avaliação da importância e da necessidade deste tipo de projeto
na formação dos novos profissionais das Ciências Agrárias.

3. A importância da disciplina de Extensão Rural: promovendo uma nova formação


Segundo Jezine (2006),o Brasil teve como influência educacional e extensão o modelo técnico norte-
americano, que refere-se a assistência técnica aos agricultores familiares baseando-se na idéia de
uma extensão ligada ao processo de “assessoria” técnica, onde de um lado temos a universidade
detentora do saber científico que destina o conhecimento à população desprovida de qualquer
conhecimento.
Para Pimenta (1995, p. 61) a educação é prática social que ocorre nas diversas instâncias da
sociedade. Ainda de acordo com a autora em sua reflexão sobre o ensino teórico e a prática na
aprendizagem, a atividade teórica possibilita de um modo indissociável o conhecimento da realidade
e estabelece as finalidades para sua transformação. Entretanto, para tal transformação somente a
atividade teórica não será suficiente, é necessário atuar na prática. Para conhecer é necessário
lançar mão de vários recursos, já que o conhecimento não é adquirido somente “contemplando” ou
“olhando”, ele é adquirido com os indivíduos interagindo com a realidade em estudo, em uma
interação.
O contato com a realidade proporciona para o indivíduo, seja ele educador; pesquisador ou
educando, uma intervenção social, uma produção de conhecimento que envolve um saber coletivo,
não se resume apenas no ato de transmitir e receber e sim envolve uma prática social e a construção
do conhecimento (JEZINE, 2006)
Segundo Rauber (2008, p. 6), na descrição da experiência da prática na sua formação profissional a
autora resume a importância da teoria e prática:
Atuar dinamicamente, colocando em prática o que aprendemos nos oferece um preparo que
provavelmente não seria possível se somente cursássemos as disciplinas tradicionais de seu curso.
No entanto, não podemos esquecer a formação humana, onde destaco o aprendizado da vida, de
cidadania, de relações mais horizontais entre profissionais e usuários (...) aprendizagem deve ir além
da aplicação imediata, impulsionando os alunos a criar e responder desafios, e ser capaz de aprender
e recriar permanentemente.
Neste sentido o projeto pedagógico realizado pelos docentes do Departamento de Educação Agrícola
e Extensão Rural promove a interação dos estudantes teoria/prática. Como relatado na fala de um
dos docentes entrevistados:
“(...) a prática complementa os conhecimentos teóricos (...) a academia não consegue fornecer toda a
teoria e conhecimentos (...) a prática é importante para conhecer essa realidade (referindo-se a
realidade da agricultura familiar) e a diversificação nas formas de produção.” Docente A
Para outro docente entrevistado a prática serve como “insumo para a sala de aula”, pois serve como
mais um recurso para o aprendizado dos estudantes, complementando a teoria com a realidade
encontrada nas propriedades familiares rurais. Sobre a realidade encontrada pelos os alunos o
docente ainda complementa:
“(...) o professor não pode inventar tem que ser coerente”. Docente C
Ou seja, os estudantes irão confrontar o conhecimento adquirido em sala de aula com o que é visto
na prática, e aqui está um dos pontos chaves desta experiência, que é justamente o estudante recriar
seu conhecimento apreendendo novamente.
O ensino tradicional realizado nos cursos de graduação das Ciências Rurais desde o início dos anos
70 estava voltado à concepção de uma educação pautada no difusionismo modernizador da
agricultura. Ou seja, os futuros profissionais eram formados para atuar na transformação do meio
rural através da difusão de tecnologias, promovendo assim o desenvolvimento rural, leitura
principalmente no viés econômico. (CALLOU et al., 2008)
A ruptura deste ensino tradicional por muitos autores se dá principalmente a partir da obra de Paulo
Freire intitulada “Extensão ou Comunicação?”, que irá dar suporte para uma “nova” educação,
consequentemente para um “novo” extensionista/profissional. Entretanto, não há como negar que a
maioria dos cursos de Graduação de Ciências Agrárias, ainda hoje, se encontra com disciplinas e
teorias voltadas para atender as grandes propriedades e as culturas commodities (monocultivos),
deixando a abordagem sobre as propriedades familiares e a importância da diversificação na
produção fora da maioria das disciplinas. Neste sentido, Silveira e Balem (2004) apontam o ensino
das ciências agrárias:
Pode-se afirmar que o processo educativo das ciências agrárias não leva os educandos ao
pensamento crítico e reflexivo, mas à memorização de conteúdos, para futura repetição. O ensino
profissionalizante leva os futuros profissionais ao pensamento de um único desenvolvimento possível,
onde o padrão tecnológico viável é o que reproduz a agricultura moderna. (SILVEIRA & BALEM,
2004, p. 5)
Um dos possíveis motivos desta realidade possa ser explicado pela formação dos docentes em que a
maioria que se encontra atuando nas universidades e escolas técnicas foram formados no sistema
educacional difusionista. Isto pode ser notado em uma das falas:
“Um dos problemas pode ser a formação de alguns dos professores, que foram formados na
concepção da Revolução Verde”. Docente B
O contato com a temática da agricultura familiar se dá através das disciplinas ligadas a Extensão
Rural, ao pensarmos sobre todas as disciplinas que estão ligadas a este tema teremos uma carga
horária menor em relação às outras disciplinas. Porém mesmo com uma carga menor do que as
disciplinas de caráter mais tecnológico, é neste momento que os estudantes destes cursos terão a
oportunidade de conhecer a realidade dos agricultores, muitas vezes passada de forma distorcida por
algumas disciplinas e até mesmo pela mídia:
“Aprendem somente para os grandes agricultores e ações, não são familiarizados com a agricultura
familiar (...) eles ficam apreensivos (referindo-se aos estudantes quando estão indo visitar as
propriedades) porque não sabem o que irão encontrar (...) vão desacreditados, eles não acreditam na
realidade, tem um pré conceito que os agricultores familiares não querem trabalhar (...) primeiro eles
têm um choque, porque a comunidade os recebe (referindo ao almoço proporcionado pelos
agricultores), daí outro choque porque eles (os estudantes) irão se deparar com a realidade das
propriedades: pobreza, doenças, falta de assistência técnica, entre outros (...) ao final todos os alunos
reconhecem o papel da agricultura”. Docente B
Neste sentido, torna-se necessário que as universidades e escolas técnicas invistam em cursos e
palestras para formação dos seus docentes, promovendo assim, a re-estruturação do ensino
existente, possibilitando ações teóricas e práticas aos estudantes. Bem como, a reformulação que
tanto se almeja atualmente, visando a formação de profissionais capacitados a atender o
desenvolvimento sustentável com uma visão holística, e não somente aquela centrada no
desenvolvimento econômico do meio rural.
A prática segundo Santos et al. (2006) proporciona a análise crítica do que está sendo vivenciado.
Desta forma, o contato com a realidade através de práticas como estágio, visitação ou outros, é de
suma importância para que o estudante possa ser o sujeito da reconstrução do saber através da
crítica da realidade vivida. Assim, o ensino das ciências agrárias segundo Silveira & Balem (2004),
deve propiciar aos estudantes a construção de conhecimentos num processo de ação e interação
entre os conhecimentos técnicos, a interpretação da realidade e a conjugação com o saber local.
Deste modo, ao conciliar os conteúdos teóricos com a prática acaba-se por auxiliar na construção e
reconstrução do conhecimento, privilegiando o contato dos seus estudantes com as atividades
extensionistas, preparando-os para o convívio com a realidade rural do país. Buscando também a
integração e orientação das diversas ações educacionais desenvolvidas pela universidade, para que
os projetos de extensão sejam adicionados cada vez mais nos currículos dos cursos de graduação,
por entender que o processo educativo é complexo e dinâmico.

4. Breves Considerações
O presente trabalho teve o intuito de discutir brevemente a importância da relação teoria/prática e o
papel da extensão rural e universitária na formação principalmente dos novos profissionais das
Ciências Agrárias, partindo da visão dos docentes neste processo.
Atualmente com as discussões e os debates sobre as preocupações ambientais versus produção,
consequentemente sobre a temática do desenvolvimento sustentável, torna-se necessário a mudança
no ensino e na formação dos novos profissionais, para que esta mudança de paradigma possa ser
efetivada.
Para os futuros profissionais das ciências agrárias a mudança no currículo das disciplinas e o contato
prático com a realidade da agricultura brasileira são os alicerces para o desenvolvimento rural
apoiado na sustentabilidade e na qualidade de vida das pessoas que vivem e trabalham no meio
rural, principalmente para os agricultores familiares.
O caminho para superar o modelo tradicional de ensino, baseado principalmente nas teorias do
difusionismo tecnológico com o foco nas grandes propriedades, é através da articulação entre
extensão, ensino e pesquisa, propiciando um espaço com diferentes metodologias para a construção
do saber e do pensamento crítico. Deste modo, promovendo as mudanças que a sociedade
contemporânea tanto discute atualmente, baseado nos princípios do desenvolvimento sustentável,
onde haja uma harmonia entre as dimensões econômica, ambiental e social, como matrizes primárias
e balizadoras deste estilo de desenvolvimento.
Na realidade, em vez de formar profissionais que entendam das condições específicas e totalizadoras
inerentes aos processos agrícolas e do desenvolvimento rural, o ensino nas universidades e escolas
agrícolas brasileiras adotou um modelo que privilegia a divisão disciplinar, a especialização e, por
conseqüência, a difusão de receitas técnicas e pacotes tecnológicos. Assim, os profissionais
egressos, em geral, não tiveram a oportunidade de chegar a uma compreensão da agricultura como
uma atividade que, ademais de sua "função de produzir bens", é um processo que implica uma
relação entre o homem e o ecossistema no qual vive e trabalha, sem considerar que, para muitos
agricultores, essa atividade se confunde com seu modo de vida. (CAPORAL, 2003, p.12)
A prática, a vivência da realidade na formação dos profissionais, não se aplica somente aos cursos
das agrárias, pois ela juntamente com a teoria é o ponto chave na formação do indivíduo. È através
da teoria-prática que o profissional estará preparado para entender e responder a complexidade e
diversidade existente no meio rural, sem a união das duas formas de aprendizagem o estudante fica
despreparado para compreender a realidade que encontrará depois de formado e conseqüentemente
estará mais habilitado a intervir na mesma.
O processo do conhecimento é contínuo e dinâmico e não deve ser entendido como algo estático, do
somente ouvir, o estudante deve ser ator ativo do seu próprio conhecimento. Neste sentido, é de
suma importância a realização de projetos pedagógicos que visem à integração entre teoria e prática
promovendo reflexões acerca de estratégias que promovam a capacitação de um novo profissional,
engajado com o compromisso social dos indivíduos e para com a sociedade.
5. Referências
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http://w3.ufsm.br/extensaorural/art4ed10.pdf > Acesso em: 01 jul. 2010.
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