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FENOLOGIA - Grão de Bico
FENOLOGIA - Grão de Bico
9850
COMUNICADO
TÉCNICO
Fenologia do
grão-de-bico
133
tipo Kabuli
Sabrina Isabel Costa de Carvalho
Luciano de Bem Bianchetti
Brasília, DF
Patrícia Pereira da Silva
Outubro, 2021
Warley Marcos Nascimento
3
Fenologia do grão-de-bico
tipo Kabuli
Sabrina Isabel Costa de Carvalho1
Luciano de Bem Bianchetti2
Patrícia Pereira da Silva3
Warley Marcos Nascimento4
1
Engenheira-agrônoma, Doutora em Genética e Melhoramento de Plantas, analista da Embrapa Hortaliças,
Brasília, DF.
2
Biólogo, Mestre em Botânica, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília, DF.
3
Bióloga, Doutora em Ciência e Tecnologia de Sementes, professora da Universidade de Brasília, Brasília,
DF.
4
Engenheiro-agrônomo, Doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes, pesquisador da Embrapa Hortaliças,
Brasília, DF.
4
rentáveis no Brasil. Neste contexto, esta Existem dois principais tipos de grão-de-
publicação tem por finalidade apresentar bico cultivados: desi e kabuli, os quais
informações sobre a taxonomia, podem ser diferenciados pelo tamanho
a morfologia e uma escala para das plantas, folhas, coloração das
identificação dos estádios fenológicos hastes, flores e sementes.
de planta do grão-de-bico tipo kabuli.
O tipo kabuli possui sementes grandes,
com formato arredondado e coloração
Taxonomia bege ou creme clara. Geralmente é
O grão-de-bico é classificado como uma comercializado e consumido como um
leguminosa e se enquadra na seguinte grão inteiro. As plantas são de tamanho
taxonomia (USDA, 2021): médio, com ausência de antocianina
(mancha púrpura) nas hastes,
Reino: Plantae geralmente flores brancas e folíolos
Subreino: Tracheobionta grandes. Já o tipo desi possui sementes
Superdivisão: Spermatophyta pequenas, de formato anguloso irregular
Divisão: Magnoliophyta e tegumento de coloração escura variada.
Classe: Magnoliopsida As plantas são pequenas, prostradas e
Subclasse: Rosidae a maioria delas contem antocianina nas
Ordem: Fabales hastes, flores de cor púrpura e folíolos
Família: Fabaceae (Leguminosae) pequenos. São utilizados como cultura
Subfamília: Faboideae (Papilionaceae) de subsistência nos países produtores e
Tribo: Cicereae consumidos na forma de farinha e grãos
Gênero: Cicer partidos (Nascimento et al., 2016; Grains
Dentre as 44 espécies reconhecidas do Research & Development Corporation,
Gênero Cicer, apenas o grão-de-bico 2018). Existe ainda um terceiro tipo
(Cicer arietinum L.) é cultivado em quase de grão-de-bico no mercado mundial,
todas as partes do mundo, abrangendo conhecido como gulabi, cujo tamanho
a Ásia, África, Europa, Austrália, do grão encontra-se entre o kabuli e o
América do Norte e Sul (Singh et al., desi (Nascimento et al., 2016).
2014). Em 2019, a produção mundial foi
Do total da produção mundial, os tipos
de 14,2 milhões de toneladas e a área
desi e kabuli representam cerca de 80%
cultivada de 13,7 milhões de hectares.
e 20%, respectivamente. O tipo kabuli
O continente asiático é o principal
é cultivado na região do Mediterrâneo,
produtor mundial com uma produção de
incluindo o Sul da Europa, Asia
11,87 milhões de toneladas e a Índia o
Ocidental e Norte da África, e o tipo desi
maior país produtor atingindo 83,74% da
é cultivado principalmente na Etiópia e
produção (FAO, 2018).
5
na Índia (Singh et al., 2014). No Brasil, cítrico), que atuam como um mecanismo
a totalidade dos grãos comercializados de defesa na proteção da planta contra
e consumidos pertencem ao tipo kabuli. pragas como: ácaros, pulgões e brocas
(Sajja et al., 2017; Grains Research
Em 1994, a Embrapa Hortaliças
& Development Corporation, 2018). A
disponibilizou a cultivar Cícero e, a partir
planta (Figura 1) geralmente cresce até 1
de 2015, em parceria com instituições
m de altura, ocasionalmente pode atingir
públicas e privadas, tem desenvolvido
1,50 m, dependendo das condições de
e disponibilizado no mercado várias
cultivo (Sajja et al., 2017).
cultivares de grão-de-bico tipo kabuli:
BRS Aleppo, BRS Cristalino e BRS Toro.
Morfologia
Planta: O grão-de-bico é uma leguminosa
herbácea, anual e autógama. A
polinização é realizada antes da abertura
dos botões das flores (cleistogamia),
possibilitando a autopolinização. A
espécie C. arietinum é diploide com 2n
= 2x = 16 cromossomos (Ahmad et al.,
2005; Nascimento et al., 2016). Apresenta
hábito de crescimento indeterminado, ou
seja, o crescimento vegetativo continua
mesmo após o início da floração e
frutificação. Portanto, frequentemente Figura 1. Planta de grão-de-bico da cultivar
BRS Kalifa tipo kabuli.
existe uma sequência de folhas, botões
florais, flores e desenvolvimento de
vagens ao longo de cada ramo (Grains Raiz: O sistema radicular geralmente
Research & Development Corporation, é profundo e bem desenvolvido.
2018). As superfícies externas da planta Possui uma raiz principal com raízes
(hastes, vagens, folhas), com exceção secundárias. Ocasionalmente em solos
da corola, são cobertas por tricomas profundos e bem estruturados, as raízes
(estruturas semelhantes à pelos). Essas podem penetrar por mais de 1 m de
superfícies vegetativas secretam uma profundidade. A associação simbiótica
mistura de ácidos (málico, oxálico e das raízes secundárias com bactérias
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entre o intervalo de 15-20 mm, mas pode pelas condições ambientais como
atingir até 30 mm, especialmente o tipo disponibilidade de umidade e
kabuli (Figura 7). Cada vagem contém temperatura. As sementes do tipo desi
uma a duas sementes, raramente três (Figura 8A) são geralmente pequenas
(Sajja et al., 2017) e até quatro já foram (cerca de 0,2 g), de revestimento espesso
observadas (Nascimento et al., 2016). e cores variadas (creme, amarelo,
marrom, preto e verde); enquanto o tipo
kabuli (Figura 8B) apresenta sementes
Foto: Luciano Bianchetti
Tabela 1. Descrição dos estádios fenológicos do grão-de-bico (Cicer arietinum L.) tipo kabuli,
Embrapa Hortaliças, Brasília-DF. 2020.
Cotilédones permanecem
subterrâneos (germinação hipógea)
Germinação das dentro do tegumento da semente e
VG Logo após a semeadura.
sementes fornecem energia para o crescimento
rápido das raízes primárias (radículas)
e brotos.
Durante o desenvolvimento da 4a ou 5a
folha surgirá uma nova folha e início do
Em torno de 15-19 dias após
V4 2° ramo ramo secundário (2° ramo), localizado
a semeadura.
a partir do 2° nó do ramo primário ou
principal.
Tabela 1. Continuação.
Estádios reprodutivos (R-estádios)
Estádios Vegetativos
Nível do solo
Figura 10. Germinação hipógea de semente Figura 12. Emergência da plúmula (broto
do grão-de-bico. principal) do grão-de-bico tipo kabuli.
Ilustração: Vanessa Reyes 14
V1 – 1ª Folha
V2 – 2ª Folha
Essa etapa ocorre quando a 1ª folha
(1F) verdadeira já é visível e emerge do Essa fase inicia quando a 2ª folha (2F)
3° nó (3N) do ramo primário ou principal emerge do 4° nó (4N) do ramo primário
(1° ramo) (Figura 14). Quando 1F estiver ou principal (1° ramo) (Figura 16).
expandida, a 2ª folha (2F) se encontrará Quando 2F estiver expandida, a 3ª folha
em desenvolvimento (Figura 15A). A (3F) se encontrará em desenvolvimento
primeira folha verdadeira tem dois ou (Figura 17), em torno de dez dias após
três pares de folíolos mais um terminal a semeadura. As mudas podem produzir
(imparipinada) com cerca de sete dias novos nós a cada três a quatro dias em
após a semeadura (Figura 15B). condições normais.
Ilustração: Vanessa Reyes
Nessa fase, a 3ª folha (3F) emerge do 5° Até agora, todas as folhas expandidas se
nó (5N) do ramo primário ou principal (1° encontram no ramo primário ou principal
ramo) (Figura 18). Quando a 3F estiver (1° ramo). Durante o desenvolvimento
expandida, a 4ª folha (4F) se encontrará da 4a folha ou 5a folha surgirá uma nova
em desenvolvimento (Figura 19). A folha (Figuras 20A e 21A) e início do
maior parte dos ramos secundários é ramo secundário (2° ramo), localizado a
proveniente dos primeiros três nós. partir do 2° nó (2N) do ramo primário (1°
ramo) (Figuras 20B, 21B e 23A).
Ilustração: Vanessa Reyes
3ª folha (3F) em 7N
6N
Ilustração: Vanessa Reyes
desenvolvimento
5N 4ª folha (4F)
2ª folha (2F) 3ª folha (3F)
desenvolvida
1ª folha (1F) 4N desenvolvida desenvolvida
Desenvolvimento do ramo novo
7N
(2º ramo) a partir do 2º nó (2N)
7N 6N
desenvolvida 6N 2ª folha (2F) 5N 4N
3N 1ª folha (1F) 5N 4N desenvolvida
3N 3N
2N desenvolvida
2N
1ª folha em 2N
1N
desenvolvimento
1N 1N
do ramo novo
A B A B
Fotos: Luciano Bianchetti
5N
6N
4N
ramos secundários são produzidos a
3N partir de gemas localizadas em ramos
Desenvolvimento
de ramo novo
2N
primários e são comparativamente mais
1N
(3º ramo) a partir
finos que os primários. Dependendo da
do 1º nó (1N)
cultivar e das condições de cultivo, ramos
terciários podem ou não estar presentes,
os quais crescem a partir de gemas
localizadas em ramos secundários e
Figura 22. Novo ramo secundário (3° ramo) produzem menos sementes (Sajja et al.,
do grão-de-bico. 2017; Grains Research & Development
17
Botão de flor
produção de sementes, respectivamente
(Singh, 1997).
Foto: Sabrina Carvalho
Estádios Reprodutivos
Figura 26. Botão de flor do grão-de-bico
O começo dos estádios reprodutivos (R)
tipo kabuli.
ocorre com o início do florescimento da
planta, sucedido pelas fases de pleno R2 – Abertura dos botões
florescimento, frutificação, produção de
sementes, maturação e senescência Pétalas de flores se estendem (Figuras
da planta. As descrições das onzes 27 e 28).
fases dos estádios reprodutivos (R1,
Ilustração: Vanessa Reyes
R1 – Início da floração
R3 – Plena floração
R4 – Murchamento das flores
A maior parte das flores está aberta
As flores já fecundadas murcham
(Figuras 29 e 30). A floração do grão-de-
juntamente com as pétalas e os
bico é acróptera (da base para o ápice).
pedicelos encurvam para baixo (reflexos)
Por esse motivo, as flores mais velhas
(Figuras 31 e 32), de modo que a vagem
(que darão origem aos frutos mais
em desenvolvimento geralmente fica
velhos) ocorrem na parte mediana e as
pendurada abaixo das folhas.
mais novas no ápice dos ramos. A plena
floração ocorre cerca de 60 dias após a
Flor murcha
R5 – Início da frutificação
Figura 33. Vagem em desenvolvimento do
Uma vagem em desenvolvimento é grão-de-bico.
encontrada em qualquer ramo (Figuras
33 e 34). A fase R5 inicia-se entre 15 a
R6 – Plena Frutificação
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DOI 10.1007/978-3-319-66117-9_3
Comitê Local de Publicações
Exemplares desta publicação da Embrapa Hortaliças
podem ser adquiridos na:
Presidente
Embrapa Hortaliças Henrique Martins Gianvecchio Carvalho
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Carlos Alberto Lopes
1ª edição Marçal Henrique Amici Jorge
Alexandre Augusto de Morais
1ª impressão (2021: 1000 exemplares) Giovani Olegário da Silva
Francisco Herbeth Costa dos Santos
Caroline Jácome Costa
Iriani Rodrigues Maldonade
Francisco Vilela Resende
Italo Morais Rocha Guedes
Supervisor Editorial
George James
Normalização Bibliográfica
Antonia Veras de Souza
Tratamento de ilustrações
André L. Garcia
Editoração eletrônica
CGPE 017386
André L. Garcia
Ilustração da capa
Vanessa Reyes