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CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR

Celso Candido de Azambuja

A NATUREZA DA TÉCNICA

crítica do caráter instrumental do conceito de técnica

São Leopoldo, Outubro 2010


Celso Candido de Azambuja

A NATUREZA DA TÉCNICA

crítica do caráter instrumental do conceito de técnica

Reelaboração do projeto de pesquisa


apresentado e aprovado no Edital público, Nº
02/2010 – Humanas, Sociais e Sociais
Aplicadas, através do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES).

São Leopoldo, Outubro 2010

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SUMÁRIO

1) Identificação da proposta 04

2) qualificação do principal problema a ser abordado 04

3) objetivos e metas a serem alcançados 19

4) metodologia a ser empregada 19

5) principais contribuições científicas ou tecnológicas da


proposta 20

6) orçamento detalhado 21

7) cronograma físico-financeiro 25

8) identificação dos demais participantes do projeto 25

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1) Identificação da proposta

1.1) Título do projeto de pesquisa

A natureza da técnica: crítica do caráter instrumental do conceito de


técnica

1.2) Pesquisador coordenador proponente

Nome: Celso Candido de Azambuja

Programa Pós-Graduação Filosofia Unisinos

Telefone: (51) 99545358

E-mail: < ccandido@unisinos.br >

Web: < http://caosmose.net/candido >

Lattes:<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K47915
54T9>

2) Qualificação do principal problema a ser abordado

2.1) Tema

O projeto de pesquisa propõe-se fazer uma leitura crítica do conceito de


técnica, especificamente, do seu caráter instrumental.

2.2) Justificativa

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Considerando:

As vastas implicações e a enorme importância na vida social, profissional,


econômica, cultural e existencial da tecnociência atualmente;

Os efeitos e impactos da tecnologia na sociedade atual, muitas vezes,


espetaculares e transformadores dos modos de produção e de vida tradicionais;

Que a técnica contemporânea, diferentemente da técnica moderna,


não tem caráter simplesmente extrator e explorador dos recursos naturais;

Que a tecnologia contemporânea tem como meta fundamental


manipular e criar novas formas de vida quer humanas, quer técnicas, quer
ambientais, a partir da manipulação dos dados mais básicos da natureza;

Que a compreensão da tecnologia é fundamental para o


reconhecimento e a auto-compreensão filosófica de nosso próprio tempo; mas
também da própria natureza humana cuja uma das determinações essenciais
seria precisamente sua capacidade criadora técnica;

E que a discussão e a pesquisa filosófica acerca da tecnologia é


relativamente incipiente no Brasil e, mesmo quando existente, marginal nos
debates públicos;

Torna-se então fundamental:

Realizar uma ampla reflexão filosófica que auxilie a pensar o sentido e a


significação deste processo emergente;

Estabelecer e aprofundar a elaboração teórica sobre a essência da


técnica;

Avançar na elaboração e no esclarecimento conceitual em torno do


problema da técnica.

Isso, a nosso ver, só será possível a partir de uma crítica do caráter


instrumental do conceito de técnica.

2.3) Marco e referencial teórico

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Que é a técnica? Em que consiste a natureza da técnica? – tais são as
perguntas fundamentais que nos orientam neste trabalho.
A tradicional definição instrumental da técnica ainda que permita
compreender um de seus aspectos essenciais, não é, contudo, suficiente para
compreender a complexidade do fenômeno técnico nem os efeitos da
tecnologia no plano das atividades e dos modos de ser e pensar humanos. Esta
definição limitada e, principalmente, simplificadora da técnica tem lugar de
destaque na filosofia e nas instituições ainda hoje. Sendo assim, precisa de uma
crítica que permita avançar em uma compreensão verdadeira da técnica, mais
consistente e adequada para entender e encarar os grandes desafios de nossa
época.
Esta elaboração crítica será feita principalmente a partir de textos e obras
capitais desenvolvidas acerca da questão da tecnologia por Simondon,
Heidegger, McLuhan e Galimberti. O trabalho procura desenvolver uma
problematização do conceito de técnica: com Heidegger, do sentido da técnica
como vontade de dominação humana, no modo do ordenamento científico e
sistemático, sobre o conjunto de todas as coisas do mundo; com McLuhan, dos
efeitos no âmbito da subjetividade e das práticas humanas; com Simondon, da
irredutibilidade da técnica e da cultura, crítica da falsa oposição entre técnica e
cultura; e com Galimberti, da transformação da técnica como meio para ser
tornar um fim em si mesmo; pois não se trata mais da imagem do humano
moldando o mundo através de uma relação de exterioridade, mas, ao contrário,
todos os assuntos humanos que estão agora modelados e determinados pela
técnica.
O caráter instrumental da técnica é inseparável de uma
filosofia antropocentrada – muitas vezes cheia de boas intenções, outras vezes
nem tanto. Ao mesmo tempo a definição instrumental tende a reduzir a técnica à
sua estrita tecnicidade, ao seu caráter meramente objetual.
A definição da técnica como instrumento, como meio, como simples valor
de uso, para fins humanos, sem dúvida, é correta, mas apenas parcialmente
verdadeira. Esta definição está pressuposta nas tomadas de decisões éticas e

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políticas estratégicas nas estruturas das atuais sociedades tecnocientíficas.
Entretanto, na medida em que é uma definição parcial e limitada, ela não nos
alcança, não nos desvela a verdadeira situação na qual nos encontramos nem,
portanto, é capaz de nos apontar a direção do caminho que precisamos
percorrer como civilização.
É preciso, deste modo, elaborar uma concepção de técnica para além de
seu caráter instrumental e que nos ajude a compreender a sua verdadeira
natureza. Como veremos sua complexidade é enorme e a filosofia atual está
longe de esgotá-la.
Exploraremos esta problemática a partir de um conjunto de abordagens
principais: primeiramente, discutiremos a idéia de técnica a partir do conceito de
techne tal como elaborado por Aristóteles; em seguida trataremos de levantar a
questão da essência da técnica; considerando a técnica como condição
humana. Depois tentaremos elaborar a nova imagem arquetípica do anthropos
na sociedade tecnocientífica, nos apoiando na mitologia e na ficção. Por fim,
trabalharemos a questão da grande transformação sofrida pela da técnica,
abordando principalmente a nova relação estabelecida entre techne e
phronesis, sabedoria produtiva – técnica – e sabedoria prática – ética e política.

Techne como virtude intelectual

Techne é o termo pelo qual Aristóteles define uma das cinco virtudes
intelectuais do humano. Techne propriamente trata de um “reto saber fazer”,
enquanto a Phronesis de um “saber agir”. Além destas, existem também a Sophia,
a Episteme e o Nous.
Um estudo um pouco mais detalhado destas virtudes intelectuais nos revela
em que consiste essencialmente cada uma das chamadas “disposições da
alma” que têm relação com a verdade e como elas se relacionam entre si.
(ARISTÓTELES, 1973, p. 33)
Techne é a produção que envolve o reto raciocínio. Episteme é o
conhecimento científico imutável e demonstrável. Phronesis é a sabedoria prática

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que envolve deliberação para agir com relação às coisas boas ou más. É uma
virtude prática. Sophia, a sabedoria filosófica que é uma disposição da alma que
envolve o nous, razão intuitiva ou inteligência, e a episteme, o conhecimento
científico. Nous, a inteligência, ou razão intuitiva que apreende os primeiros
princípios do conhecimento científico. (ARISTÓTELES, 1973, p. 33)
Segundo Aristóteles, a techne não está relacionada com a "capacidade
raciocinada de agir", mas sim com a "capacidade raciocinada de produzir".
Toda techne, arquitetura, por exemplo, é uma "capacidade de produzir que
envolve o reto raciocínio". A sua origem "está no que produz, e não no que é
produzido". A techne "não se ocupa nem com as coisas que são ou que se geram
por necessidade, nem com as que o fazem de acordo com a natureza (pois essas
têm sua origem em si mesmas)". A techne "deve ser uma questão de produzir e
não de agir." (ARISTÓTELES, 1973, p. 34)
Techne, como virtude intelectual, é ofício, arte, habilidade, para produzir
um artifício, algo outro, novo. Seria um pouco mais ou menos quando nos
referimos, por exemplo, a um atleta de talento, dizendo que ele tem “técnica”,
capacidade, criatividade. Portanto, o fazer técnico no sentido aristotélico não é
em absoluto um mero fazer mecânico, destituído de virtude.
Para Lecourt, na mesma perspectiva, a técnica, é “essa dimensão maior
da existência humana, sobre o imemorável valor humano que ela representa.” O
“pensamento técnico” tem sua própria especificidade e testemunha “uma forma
particular da engenhosidade humana.” (LECOURT, 2003, p. 41)
Então, originariamente, o conceito de técnica envolve uma habilidade
intelectual e uma sabedoria produtiva.

A pergunta pela essência da técnica

Em seu principal texto sobre a técnica, Heidegger desloca a discussão da


técnica do objeto técnico ele mesmo. Segundo ele: “Die Technik ist nicht das
gleiche wie das Wesen der Technik”. Não é a técnica mesma enquanto objeto ou
instrumento que é colocada em questão, mas a sua essência. A pergunta

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principal é, então, pelo sentido da técnica, em especial, pelo sentido da técnica
moderna.1
Segundo, Galimberti: “Para nos orientar, precisamos antes de tudo acabar
com as falsas inocências, com a fábula da técnica neutra, que só oferece os
meios, cabendo depois aos homens empregá-los para o bem ou para o mal. A
técnica não é neutra, porque cria um mundo com determinadas características
com as quais não podemos deixar de conviver e, vivendo com elas, contrair
hábitos que nos transformam obrigatoriamente” (p. 8)
Este mito da neutralidade da técnica foi também o grande alvo da crítica
de McLuhan. McLuhan argumenta pela importância de se compreender a
mensagem do meio enquanto tal, independentemente dos conteúdos
transmitidos. O meio é a mensagem – diz ele. Fundamental é compreender os
efeitos e as mudanças que a tecnologia determina no seio da subjetividade e
das instituições humanas. Para McLuhan, “Os efeitos da tecnologia não ocorrem
aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os
sentidos e nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer
resistência.” (MCLUHAN, 1964, p. 34) Pois, segundo ele, “A análise de programas e
„conteúdos‟ não oferece pistas para a magia desses meios ou sua carga
subliminar.” (MCLUHAN, 1964, p. 35).
A técnica para Heidegger pode ser compreendida apenas parcialmente
como instrumento. Segundo esta perspectiva quanto mais tentamos fazer uso da
técnica e das tecnologias, quanto mais tentamos „dominar a técnica‟, mais de
fato estamos perdidos e dependentes e menos de fato estamos de posse da
verdade da técnica. Somente a relação verdadeira nos permite uma relação
livre com a técnica. “La representación corriente de la técnica, según la cual ella

1Heidegger evidentemente não considera o destino humano como dado, como fatalidade, mas como algo a
ser manipulável, determinável pelo próprio humano. Assim, o nosso destino compartilhado com a técnica não
está dado, não está definitivamente condicionado pela técnica moderna instrumental, extrativista. Obviamente
ela representa o perigo extremo, mas também nossa salvação.
No entanto, o mais importante da visão heideggeriana, talvez seja este desejo de um retorno a um fazer técnico
tal como aquele vivido pelos gregos. Daí que a salvação viria exatamente deste resgate primordial
da Techne como arte, dentro do jogo estético.
Isto talvez não tornasse a técnica necessariamente mais produtiva ou mais espetacular, mas tornaria ela
elemento do jogo da vida, do gozo da vida. Não mais destrutiva, como a técnica da guerra, não mais
extrativista, exploradora, como as diversas técnicas industriais da sociedade do consumo. Mas principalmente
fruitiva. Uma técnica poética.

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es un medio y un hacer del hombre, puede llamarse, por tanto, la definición
instrumental y antropológica de la técnica. (...) Sigue siendo correcto que
también la técnica moderna es un medio para fines. De ahí que la representación
instrumental de la técnica determine todos los esfuerzos por colocar al hombre en
el respecto correcto para con la técnica. Todo está en manejar de un modo
adecuado la técnica como medio. Lo que queremos, como se suele decir, es
«tener la técnica en nuestras manos». Queremos dominarla. El querer dominarla se
hace tanto más urgente cuanto mayor es la amenaza de la técnica de escapar
al dominio del hombre. (...) De ahí que lo meramente correcto no sea todavía lo
verdadero. Sólo esto nos lleva a una relación libre con aquello que, desde su
esencia, nos concierne. En consecuencia, la correcta definición instrumental de la
técnica, que es correcta, no nos muestra todavía la esencia de ésta.”
(HEIDEGGER, 2008a)

A técnica como condição humana

A tradição filosófica ensinou-nos duas lições fundamentais: o humano é um


animal naturalmente político e principalmente dotado de linguagem e razão. Sua
vida em comum na polis mediada pela linguagem é o que dá ao humano, na
tradição iluminista, de Sócrates a Kant, seu distintivo próprio diante de todo o
reino animal.
Uma contracorrente moderna, seja anti-moderna ou pós-moderna, nos
ensinou mais uma lição fundamental que, apesar de tudo, somos animais
desejantes, seres cujos instintos e paixões estão no âmago de nossas existências.
Entretanto, o homem talvez não seja nada sem a técnica.
É assim que Galimberti nos propõe a imagem antropológica segundo a
qual o homem é um animal essencialmente técnico. É a técnica que permite ao
homem ser homem. A técnica será a síntese das razões e das necessidades
humanas. Será, por assim dizer, o órgão dos instintos de que originariamente o
homem é carente.2

2 Galimberti faz um estudo monumental da tecnologia em nossa época em Psiche e techne – o homem na
idade da técnica. Nesta obra ele realiza uma análise profunda, pertinente, perspicaz, fundamental para se
estudar o fenômeno da técnica e suas múltiplas e universais implicações e interdeterminações. Avança em

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Nesta mesma direção Heidegger identificará a técnica moderna à
vontade humana de domínio sobre a terra. “As ciências da natureza inanimada e
animada, tanto quanto as ciências da história e das obras históricas, sempre se
constróem inequivocamente como um modo e uma maneira de o homem
moderno dominar, sob forma e esclarecimento, a natureza, a história, o 'mundo' e
a 'Terra', de forma a tornar planejáveis e utilizáveis esses campos esclarecidos,
segundo cada precisão e com vistas a assegurar a vontade de ser senhor da
totalidade do mundo, no modo do ordenamento. O fundamento e o âmbito
essencial da técnica moderna é essa vontade, que em toda intenção e
apreensão, em tudo o que se quer e alcança, sempre quer somente a si mesma,
e a si mesma armada com a possibilidade de sempre crescente de poder-querer-
a-si. A técnica é a organização e o órgão da vontade de vontade”. (HEIDEGGER,
1998, p. 205)
Para Gilbert Simondon, a oposição entre homem e máquina é insustentável
e não esconde senão ignorância e ressentimento. Segundo Hottois, Simondon
seria um dos principais representantes de uma filosofia humanista tecnófila. Assim,
na perspectiva tecnohumanista de Simondon, ainda de acordo com Hottois, o
fundamental seria a construção de uma cultura tecnocientífica, de uma
“clivagem entre ciências-técnicas e culturas tradicionais” na medida em que esta
se tornou “o problema fundamental de nossa civilização.” Não há, para
Simondon, oposição essencial entre tecnociência e cultura. O que existe é uma
defasagem entre a “cultura dominante em relação ao meio real e atual”.
(HOTTOIS, 2008, p. 639/40)
Segundo Simondon, “L'opposition dressée entre la culture et la technique,
entre l'homme et la machine, est fausse et sans fondement; elle ne recoubre
qu'ignorance ou ressentiment. Elle masque derrière un facile humanisme une
réalité riche em efforts humains et en forces naturelles, et qui constitue le monde
des objets techniques, médiateurs entre la nature et l'homme”. (SIMONDON, 1989,
p. 9)

questões fundamentais de natureza antropológica, política, ética, entre outras. Tem em mira a fundação de
uma nova psicologia: a psicologia da ação, na qual a técnica ocupa posição fundamental. Por isto aqui e no
conjunto deste trabalho ele aparece como uma das referências principais.

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Ora, a principal causa da alienação, segundo Simondon, no mundo
contemporâneo consiste precisamente neste desconhecimento da máquina e
de sua importância decisiva na estruturação do mundo e das significações. “Ce
qui réside dans les machines, c'est de la réalité humaine, du geste humain fixé et
cristallisé en structures qui functionnent.” (SIMONDON, 1989, p. 12)
Nesta desfasagem, “de bloqueamento e de dissociação, a tecnociência é
diabolizada, porque a cultura disponível não permite simbolizá-la de modo
apropriado.” (HOTTOIS, 2008, p. 640) Seria portanto necessário desfazer esta
dissociação se quisermos ser contemporâneos de nosso próprio tempo.
É por isto que para Simondon, o homem seria “essa liberdade inapreensível
em ação no mundo material e que se serve da técnica para se emancipar
sempre mais dos limites que lhe impõe o mundo físico, do qual seu corpo, com
todos os seus órgãos, é parte.” (HOTTOIS, 2008, p. 646)
Segundo Hottois, o humanismo tecnófilo de Simondon “expressa uma
apreciação positiva em relação à técnica”, na medida em que esta poderia
realizar os ideais humanistas no mundo da vida. Sua “forma geral é
um instrumentalismo antropocentrado”, quer dizer, a técnica é entendida como
meio a serviço da humanidade, suas aspirações e desejos. Pois “o progresso das
ciências e das técnicas coincide com o da humanidade e o desenvolvimento de
uma 'cultura tecnocientífica' universal.” (HOTTOIS, 2008, p. 619/20)
Voltando a Galimberti, este propõe a idéia de que “a técnica nasceu, não
como expressão do “espírito” humano, mas como 'remédio' à sua insuficiência
biológica”. (GALIMBERTI, 2006, p. 9)
“Nesse sentido, é possível dizer que a técnica é a essência do homem, não
só porque, em razão da sua insuficiente dotação instintiva, o homem, sem a
técnica não teria sobrevivido, mas também porque, explorando essa plasticidade
de adaptação que deriva da generalidade e não-rigidez dos seus instintos, pôde
alcançar 'culturalmente', por meio de procedimentos técnicos de seleção e
estabilização, aquela seletividade estabilidade que o animal possui 'por
natureza'.” (GALIMBERTI, 2006, p. 9)
A técnica será o “pacto original entre homem e mundo” (GALIMBERTI,
2006, p. 10) que permitirá ao homem superar os obstáculos biológicos e naturais.

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De acordo com Galimberti: “De fato, a técnica não é o homem. Nascida
como condição da existência humana e, portanto, como expressão da sua
essência, hoje, pelas dimensões alcançadas e pela autonomia adquirida, a
técnica expressa a abstração e a combinação das idealizações e das ações
humanas num nível de artificialidade tal que nenhum homem, nenhum grupo
humano (…) é capaz de controlá-la em sua totalidade.” (GALIMBERTI, 2006, p. 17)
Segue Galimberti: “...na idade da técnica, não há mais nem senhores nem
servos, mas só as exigências dessa rígida racionalidade a que todos devem se
subordinar.” O único verdadeiro sujeito é “o aparato técnico – em relação ao
qual os indivíduos são simplesmente predicados”. (GALIMBERTI, 2006, p. 18)
Finalmente, Galimberti propõe a pergunta fundamental: “o que o homem
se torna dentro do horizonte da experimentação ilimitada e da manipulação
infinita desvelada pela técnica? Para responder é necessário superar a certeza
ingênua segundo a qual a natureza humana é algo estável, que não se
contamina e permanece intacto, não importando o que o homem faça.”
(GALIMBERTI, 2006, p. 23)

A nova imagem arquetípica do antropos

A mitologia de um lado e a ficção científica de outro nos oferecem


recursos valiosos para explorar e compreender esta nova complexidade da
existência humana.
Os mitos gregos de Prometeu e Hefesto são as personagens arquetípicas
que resgatamos para ilustrar esta dimensão primordial que tem a técnica na vida
humana.
Aqui apenas esboçamos as principais características destes mitos como
imagens que ilustram em nível subjetivo o encontro humano com a técnica,
porque representam o sentido simbólico e a significação imaginária central de
nossa época.
Prometeu é o deus-titã sacrificado por Zeus, por ter ousado proteger os
humanos, roubando dos deuses e dando a eles o fogo, símbolo de todas as artes
e técnicas de que os seres humanos, por natureza, foram desprovidos.

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Prometeu representa a imagem arquetípica da prospecção, da previsão
e, portanto, da manipulação do tempo; ou seja, da inserção do homem em uma
nova dimensão do tempo, projetiva e não mais cíclica, na qual estão contidos e
limitados todos os seres da natureza.3 Assim, os bens humanos são dádivas de
Prometeu, o previdente, o que projeta, – o inventor, o doador das técnicas aos
homens néscios. Com o fogo, símbolo da técnica, ele muda o percurso da história
tornando possível uma existência humana iluminada.
Ao passo que todos os males humanos vêm de seu irmão Epimeteu, aquele
que pensa depois, o imprevidente, cujo arquétipo representa a imprevisão, a
estultice do momento, a subordinação à natureza e ao tempo cíclico do eterno
retorno.
Hefesto é o deus manco. Ele é o único que não vive junto aos deuses no
Olimpo. Vive junto a terra, em uma ilha, na qual em sua oficina cria e produz os
mais diversos artefatos. Hefesto como mito representa a imagem primordial do
humano como um ser falho. Um ser que manca e, portanto, imperfeito. É um ser
cuja característica fundamental é a da incompletude, pois, precisa de uma polis
e de uma técnica que supra esta incompletude radical. O humano precisa ser
completado, para poder perseverar.
Hefesto representa assim a necessidade humana radical da técnica como
supressão e compensação de um limite constitucional originário.
Por sua vez, o cinema e a literatura de ficção também lançam uma luz
para nos ajudar a pensar aquilo em que se transforma o homem na idade da
técnica.
Vejamos inicialmente as obras que apontam claramente para uma certo
niilismo da técnica. Em 1984, de Orwell e em Admirável mundo novo, de Huxley,
podemos dizer que a tecnologia aparece como aparato de controle e
dominação, seja através da tecnologia panóptica do Grande Irmão, seja através
da droga „soma‟ que o Estado obrigava todos os cidadãos a tomarem para
manterem-se calmos, feliz, bons e obedientes cidadãos. Com
seu Frankenstein, Mary Shelley ridiculariza a pretensão da ciência moderna em
tentar ir além dos limites da natureza de vida e morte.

3 Cf. Galimberti, 2006.

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Ao contrário desta visão niilista da técnica, abordamos agora as
perspectivas de Dick, Scott e Gibson que parecem se orientar por uma visão mais
otimista, em todo caso, menos maniqueísta diante da técnica.
Philip Dick faz, através de sua obra de ficção popularmente conhecida
como Blade Runner, uma crítica ao homem-máquina, ao homem coisa, a uma
subjetividade reificada, do inumano do humano. A crítica essencial que anima o
livro, como ele mesmo diz, se dirige àquelas pessoas que representam uma
humanidade insensível, utilitária, fria. O livro era um manifesto contra a falta de
candura, de sensibilidade, de bondade, de empatia das pessoas que conhecera
um dia. A imagem subjacente da máquina aqui é sem dúvida a de uma
engrenagem fria, calculista, mas que não era senão o espelho da própria
humanidade.
Ridley Scott, baseado na obra de Dick, recria uma nova história em sua
obra cinematográfica. Não faz apenas recortes, mas reinterpreta-a à luz de seu
tempo – da engenharia genética e da cibernética nascentes. Faz, nesta obra, um
elogio da máquina humanizada. A máquina como síntese do Übermensch, o
super-homem, ou seja, daquele que diz sim à vida. Porque, ao fim, quem salvará
o homem é a sua criatura, a máquina - uma sobre-humanidade.
No entanto, é talvez com William Gibson que esta relação entre homem e
máquina tenha ido ainda mais longe e que, com seu romance de ficção
Neuromancer, fornece de forma inquietante os elementos essenciais de entrada
na idade do chamado transumano.
Dick e Scott nas obras aqui referidas ainda operam uma distinção clara e
distinta – seguramente bem mais atenuada no segundo – entre a máquina e o
humano. Ora, a frieza da máquina representa a frieza humana, como em Dick.
Ora, os sentimentos humanos estão presentes na própria máquina, como em
Scott. É o que podemos ver como exemplo, na cena antológica final de Blade
Runner, no confronto final entre o caçador Deckardt e o andróide Roy, quando
este, na chuva, antes de morrer, diz: “I've seen things you people wouldn't
believe... All those moments will be lost in time like tears in rain.” (gm)
Nestas duas visões ainda manifestam-se uma divisão radical entre o
humano e a máquina, pois são ainda tomados essencialmente como antíteses.

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Mas já a síntese está em movimento, porque, as máquinas têm, elas mesmas,
formas e modos humanos. Já têm elas mesmas inteligência humana artificial e
memórias humanas artificiais já habitam as memórias robóticas.
Entretanto, em seu Neuromancer, Gibson hibridiza, integra humano e
máquina de modo tal que quase não se pode mais distinguir o que é
propriamente um e outro. O universo humano já aparece desde sempre
tecnológico. Nada mais, portanto, distingue o humano da máquina e a máquina
do humano.
Nasce assim a idéia de uma nova figura antropológica: o transumano.
Sendo este, portanto, o conceito fundamental para a construção de uma
antropologia filosófica contemporânea.

A grande transformação da técnica

A grande transformação sofrida pela técnica é que ela deixa de ser


simples meio nas mãos dos homens, se transformando em fim, na medida em que
passou a condicionar todos fins que os seres humanos podem desejar.
Na perspectiva de Galimberti, na medida em que vivemos em “...um
mundo em que todas as suas partes estão tecnicamente organizadas, a técnica
não é mais objeto de uma escolha nossa, pois é o nosso ambiente, onde fins e
meios, escopos e idealizações, condutas, ações e paixões, inclusive sonhos e
desejos, estão tecnicamente articulados e precisam da técnica para se
expressar.” Neste sentido, para Galimberti, “vivemos a técnica irremediavelmente,
sem possibilidade de escolha. Esse é o nosso destino como ocidentais
avançados.” (GALIMBERTI, 2006, p. 8)
A técnica não sendo neutra, portanto, não pode ser considerada simples
instrumento nas mãos dos homens. De acordo com o mesmo autor, “se
aceitamos a tese de que a técnica é a essência do homem, então o primeiro
critério de legibilidade que deve ser modificado na idade da técnica é aquele
tradicional que vê o homem como sujeito e a técnica como instrumento à sua
disposição. Isso podia ser verdadeiro no mundo antigo, onde a técnica era

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exercida dentro dos muros da cidade, era um encrave dentro da natureza, cuja
lei inquestionável regulava por inteiro a vida do homem.” (GALIMBERTI, 2006, p.11)
Hoje, entretanto, a terra não é mais o limite. “A cidade estendeu-se até os
confins da Terra, e a natureza reduziu-se a um encrave, a um retalho circundado
pelos muros da cidade. Então a técnica, de instrumento nas mãos do homem
para dominar a natureza, se torna o ambiente do homem, aquilo que o rodeia e
o constitui...” (p. 11)
A técnica atualmente se agigantou de tal modo que inverteu-se a relação
que na antiguidade ela tinha com a natureza. Segundo Galimberti, “...enquanto
a instrumentação técnica disponível era apenas suficiente para aqueles fins nos
quais se expressava a satisfação das necessidades humanas, a técnica era um
simples meio, cujo significado era inteiramente absorvido pelo fim; mas, quando a
técnica aumenta quantitativamente a ponto de se tornar disponível para a
realização de qualquer fim, então muda qualitativamente o cenário, porque não
é mais o fim que condiciona a representação, a pesquisa, a aquisição dos meios
técnicos, mas será a ampliada disponibilidade dos meios técnicos que desvela o
leque dos fins que, por meio deles, podem ser alcançados. Assim, a técnica se
transforma de meio em fim, não porque a técnica se proponha algo, mas porque
todos os objetivos e fins que os homens se propõem não podem ser atingidos, a
não ser pela mediação técnica.” (GALIMBERTI, 2006, p. 12)

Techne e phronesis: a inversão de uma tradição

Com a chegada da “idade da técnica”, as relações entre sabedoria


produtiva – techne – e sabedoria prática – phronesis se transformaram. A técnica
deixa de ser mero instrumento diante da ética e da política. Estas duas disciplinas
do agir prático se tornaram cada vez mais dependentes do meio, a tal ponto que
estão condicionadas e determinadas pelo aparato técnico.
Para Galimberti, a ética hoje é impotente “para impedir que a técnica
faça o que é capaz de fazer. (...) O agir como escolha de fins cede lugar
ao fazer como produção de resultados. Nesse sentido, a técnica celebra a

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impotência da ética, a definitiva subordinação do agir ao fazer.” (GALIMBERTI,
2006, p. 519/20)
Enquanto situadas no horizonte dos limites da natureza, ética e técnica
puderam manter uma relação estável, porque a natureza, ela mesma, oferece os
modelos e regras de produção e de ação. Mas, na medida em que o homem
criou “um mundo cada vez menos natural e cada vez mais artificial, a técnica
obriga a ética a perseguir a paisagem que a técnica produz e não cessa de
transformar. Hoje o homem não pode pensar em conter a técnica com a ética
que a tradição filosófica lhe consignou. O fazer superou em muito o agir, e essa é
a razão pela qual a ética, que domina o agir, não é capaz de regular a técnica,
da qual procede o fazer. (GALIMBERTI, 2006, p. 523/524)
Deste modo, o mundo torna-se a imagem e semelhança da técnica e a
ética deixa cada vez mais de experimentar-se no horizonte do estável. Segundo
Galimberti então, “A idade da técnica cortou sem hesitação as raízes que
afundavam a ética no terreno estável do eterno, e sucessivamente naquele
menos estável, embora mais responsável, da previsão futura. (…) Ao homem não
restou nada mais que o destino de viandante. (GALIMBERTI, 2006, p. 532)
“Sem metas e sem pontos de partida e de chegada, a não ser os
ocasionais, a ética do viandante, que que não conhece seu futuro, (…) não
pode se referir às éticas antigas, cuja normatividade olhava para o futuro como
para um retomada do passado, porque o tempo estava inscrito na estabilidade
da ordem natural. (GALIMBERTI, 2006, p. 533)
Na sociedade tecnológica, segue Galimberti: “...a única ética possível é
aquela que se carregada da pura processualidade, que, como o percurso do
viandante, não tem em vista uma meta. O imperativo ético não pode ser
deduzido de uma normatividade ideal (…) mas dessa incessante e sempre
renovada factualidade, que são os efeitos do fazer técnico. É a ética que deve
perseguir a técnica e terá de se defrontar com a própria impotência prescritiva.”
(GALIMBERTI, 2006, p. 537)
Deste modo, ainda de acordo com Galimberti, inverteu-se a “relação
homem-máquina” e nesse processo dissolveu-se “o pressuposto humanista,
porque lá onde a técnica, com sua autonomia, não se limita a contrapor-se ao

18
homem, mas é capaz de integrar o homem no aparato técnico, o que se vem a
criar é um sistema homem-máquina, e onde os segmentos do comportamento
humano podem ser reduzidos ao nível de partes de máquinas reguladas”.
(GALIMBERTI, 2006, p. 538)
Ora, na medida em que cada vez mais “se reduz a distinção entre
problemas práticos e problemas técnicos, e quanto mais se afirma o princípio
da traduzibilidade dos primeiros nos segundos, a ética se dissolve, e com ela a
história como teatro da práxis”. Agora é o “ritmo da evolução técnica” que
pontua e determina “as ações dos homens”. (GALIMBERTI, 2006, p. 539)
No domínio do „governo dos homens‟, a relação entre política e técnica,
também transformação, na medida em que agora o governo aparece
essencialmente como aparelho técnico.
A filosofia política clássica de Platão e Aristóteles, seguida de grande parte
da moderna de Rousseau, Marx, Locke, partia do pressuposto de que a política
era a ciência maior, em razão da qual todas as demais ciências práticas
deveriam estar subordinadas, seja a ética, a economia, a estratégia militar.
Entretanto, segundo Galimberti, este ideal político “parece definitivamente
superado em nossa época, onde o fazer, regulado pela razão instrumental que
garante a correspondência dos meios aos fins, subordinou a si o agir.”
(GALIMBERTI, 2006, p. 493)
Seguimos a argumentação do mesmo autor na tentativa de entender esta
transformação da relação entre sabedoria política e sabedoria produtiva.
Para Galimberti a idéia de político indicava “originalmente, um adjetivo
que qualificava a condição desse animal (zôon) que, incapaz de ser suficiente a
si mesmo, só pode sobreviver agrupando-se aos seus semelhantes, dando lugar a
essa formação comunitária, a pólis (...) conjunto de pessoas que têm a mesma
constituição (politéia), que Aristóteles assim define: 'forma de vida do Estado' (...)
o homem é por natureza um animal político (...) o Estado existe por natureza.
(GALIMBERTI, 2006, p. 494)
Segundo Galimberti, “A política define, pois, um traço específico da
essência do homem, a sua diferença em relação aos animais e aos deuses. Desse
modo, Aristóteles, na determinação do político, evidencia essa conexão

19
entre política e vida.” Esta determinação, na qual a técnica ainda não aparece
como elemento essencial, “permanecerá, até a idade da técnica, como um
horizonte insuperado”. O que importa aí é a felicidade do Estado. Esta felicidade
“é, de fato, o fim”. (GALIMBERTI, 2006, p. 495)
Tudo muda, entretanto, quando “a força do fazer é tal que condiciona a
possibilidade de temperar ou de governar o agir.” (GALIMBERTI, 2006, p. 496)
Assim, Galimberti tentará desenvolver e a tese de que a técnica se torna a
ciência mestra, subordinando a lógica política à sua própria lógica. A técnica
emancipou-se da política e agora a condiciona. O autor tenta compreender esta
transformação analisando o percurso desta relação que vai antiguidade até a
modernidade.
De acordo com Galimberti, “A natureza humana, que para Aristóteles e
Tomás de Aquino era naturalmente política, aparece como aquele mal radical
que Hobbes vislumbra na condição do homo homini lupus, para salvar-se da qual
é preciso construir uma política capaz de corrigir a condição natural. A política
não é mais expressão da natureza humana, mas artifício construído
cientificamente para a correção da natureza.” (GALIMBERTI, 2006, p. 502)
A política deixa ser então a busca pelo bem comum para tornar-se uma
administração do mal menor. “'Tornando científica' a política e subtraindo-a da
práxis, onde está a livre circulação das idéias e das ações dos indivíduos, Hobbes
faz da política um sistema artificial.” (GALIMBERTI, 2006, p. 506)
Neste sentido, a política torna-se cada vez mais um problema tecno-
administrativo. Segundo Galimberti foi Max Weber quem melhor compreendeu
esta mudança segundo a qual: “Uma vez que a política se afasta do mundo da
vida, para se limitar a buscar as condições de vivência, a política torna-se
técnica, portanto arte neutra (...) cada vez mais administração e cada vez
menos decisão, cada vez mais competência técnico-científica e cada vez
menos práxis política.” (GALIMBERTI, 2006, p. 507)
De acordo com o autor, seguindo as idéias de Weber “a decisão política
aparece cada vez mais dependente da competência especializada. Como
Weber previa, de que a relação de dependência do técnico em relação ao

20
político se inverta, e a política se torne simplesmente o órgão executivo da
inteligência tecnológica.” (GALIMBERTI, 2006, p. 507)
Agora, impõe-se “o primado da decisão técnica sobre a decisão política”.
Agora, “a técnica decide sobre as decisões” transformando “o primado do fim
sobre os meios” que antes “atribuía à política o primado sobre a técnica”. “O
incremento do aparato técnico tornou evidente, não só que não se podem
estabelecer fins sem levar em conta os meios, mas até que é necessário escolher
os fins partindo da disponibilidade dos meios.” (GALIMBERTI, 2006, p. 516)
A técnica que antes era condicionada pelos desejos e necessidades
humanas, agora os condiciona. A técnica deixa de ser simples meio manipulável
para este ou aquele fim nas mãos dos homens. Seu crescimento quantitativo e
qualitativo parece ter transformado agora o homem, em grande parte, em
instrumento da própria técnica. Definitivamente, parece-nos que a
representação instrumental da técnica não corresponde mais a sua essência e
não responde a pergunta pela natureza da técnica.

2.4) Referências bibliográficas

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


______. A política. Portugal: Martins Fontes, 1998.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
CASTORIADIS, C. A criação histórica, o projeto da autonomia. Porto Alegre:
SMC/Palmarinca, 1991.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. As máquinas desejantes. In: O Anti-Édipo. Rio de Janeiro:
Imago, 1976, p. 15-70.
ENGELHARDT. JR., H. T. The foundations of bioethics. New York: Oxford, 1996.
GALIMBERTI, U. Psiche e Techne, o homem na idade da técnica. São Paulo:
Paulus, 2006.
GUATTARI, F. Les trois écologies. Paris: Galilée, 1999a.
HEIDEGGER, M. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998.
______. La pregunta por la técnica. Disponível em: <
http://www.heideggeriana.com.ar/textos/tecnica.htm >. Acesso em 03.04.2008a.
______. A questão da técnica (Die Frage nach der Technik). Disponível em <
http://www.scientiaestudia.org.br/revista/PDF/05_03_05.pdf >. Acesso em
08.05.2008b .

21
HOTTOIS, G. Do renascimento à pós-modernidade. Aparecida, SP: Idéias & Letras,
2008.
______. Technoscience et sagesse? Pleins Feux: França, 2002.
JONAS, H. O princípio responsabilidade, ensaio de uma ética para a civilização
tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto : Ed. PUC-Rio, 2006.
LATOUR, B. Ciência em Ação. São Paulo: Unesp, 2000.
LECOURT, D. Humano pós-humano. São Paulo: Loyola, 2005.
LÉVY, P. Qu‟est-ce que le virtuel? Paris: La Découverte et Syros, 1998.
LYOTARD, J-F. O Pós-Moderno. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Global, 1980.
MCLUHAN, M. Os meios como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
MORE, M. Transhumanism – Towards a Futurist Philosophy. Disponível em: <
http://www.maxmore.com/transhum.htm> . Acesso em 10.04.2008.
PLATÃO. Alcibíades. In: _____. Oeuvres Complètes, v. I. Paris, França: Garnier, 1958.
SIMONDON, G. Du mode d'existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989.

3) Objetivos e metas a serem alcançados

O objetivo geral da pesquisa é propor e inserir-se em uma reflexão filosófica


– tanto quanto possível com enfoque transdisciplinar -, sobre o conceito de
técnica, discutindo principalmente o mito da neutralidade, da instrumentalidade
e da objetualidade da técnica;

A pesquisa pretende também:

Oferecer subsídios teóricos às instituições públicas e privadas, aos grupos


de pesquisa envolvidos com a tecnologia;

Oferecer subsídios teóricos aos grupos de pesquisa ligados à áreas das


ciências humanas e tecnológicas;

Desenvolver ambiente digital on line de pesquisa público, com a devida


publicação dos resultados da pesquisa;

22
Oferecer à comunidade científica e o público em geral publicação
eletrônica da pesquisa e seu desenvolvimento, com uma biblioteca digital
temática, e um ambiente on line aberto de pesquisa;

Como objetivo final visa-se gerar artigo para envio às revistas científicas,
em especial, de publicação internacional.

4) Metodologia a ser empregada

Pesquisa científico-filosófica, teoricamente situada em uma perspectiva


transdisciplinar, tendo como disciplinas privilegiadas de interlocução as ciências
sociais, psicológicas e da comunicação, apoiando-se também na literatura e no
cinema de ficção;

Pesquisa e revisão bibliográfica envolvendo o estudo dos clássicos da


filosofia e das principais reflexões contemporâneas sobre conceitos de técnica e
tecnologia;

Leituras e seminários de estudo e pesquisa envolvendo grupo de pesquisa


Filosofia da Tecnologia vinculado ao PPG Filosofia Unisinos e convidados;

Colóquios e seminários públicos sobre tema em questão, com convidados


qualificados da comunidade acadêmica e intelectual;

Desenvolvimento de uma página Web específica para compartilhamento


da pesquisa e intercriação em linguagem hipertextual:
< http://groups.google.com/group/filosofia-da-tecnologia/web/instrumental >;

Desenvolvimento de páginas sobre os principais autores da pesquisa, tal


como, por exemplo, as já em construção:

Aristóteles: < http://groups.google.com/group/filosofia-da-


tecnologia/web/aristteles >;

23
Heidegger: < http://groups.google.com/group/filosofia-da-
tecnologia/web/heidegger-e-a-questo-da-tcnica?_done=/group/filosofia-da-
tecnologia%3F >;

McLuhan: < http://groups.google.com/group/filosofia-da-


tecnologia/web/marshall-mcluhan?_done=/group/filosofia-da-
tecnologia%3F >;

Gravação e publicação dos principais seminários e debates em vídeo na


Internet com acesso público e gratuito, dentro do projeto Filoweb
< http://www.unisinos.br/filoweb/ >, já em desenvolvimento.

5) Principais contribuições científicas ou tecnológicas da proposta

Ajudar a desenvolver e estabelecer um diálogo profícuo entre as


chamadas ciências humanas e as ciências tecnológicas, normalmente andando
em campos de ação e reflexão distantes e distantes;

Ajudar a desenvolver um questionamento acadêmico e público dos


fundamentos éticos e políticos da sociedade tecnocientífica;

Desenvolver, criar competência e referencialidade para orientação de


pesquisa de pós-graduação e graduação, bem como para iniciação científica e
outras formas de estudo;

Tornar público os principais debates e contribuições da pesquisa, através


da publicação de artigos, debates e seminários, em forma vídeos, principalmente
pela rede mundial de computadores;

Consolidar o núcleo de pesquisa “Filosofia da Tecnologia” e sua


qualificação para se tornar um grupo de pesquisa do CNPq.

Desenvolver ambiente digital on line aberto de pesquisa, com a devida


publicação do desenvolvimento e dos resultados da pesquisa;

Ofertar disciplina no Programa de Pós-Graduação em Filosofia;

24
Participar em e organizar eventos, tais como congressos, simpósios,
encontros e debates sobre ou que envolvam a temática.

6) Orçamento detalhado (adaptado aos recursos aprovados)

6.1) Quadro geral resumido

Tipo Recurso

Capital ................................................................................... 4.154,81


Custeio .................................................................................. 4.317,34

Recurso total ........................................................................... 8.472,15

Tipo Custo

Computador notebook DELL i 5 .......................................... 2.823,00


Material bibliográfico ............................................................ 1331,81
Material de escritório ............................................................. 817,34
Assessoria de publicação Web ........................................... 2.000,00
Revisão técnica ...................................................................... 1.500,00

Custo total .............................................................................. 8.472,15

6.2) Detalhamento

a) Computador notebook DELL Inspiron 15

25
Módulo Descrição
Inspiron 15 Inspiron 15R - BRH6806
Sistema Operacional Windows® 7 Home Premium Original 64-bit em Português
Processador Processador Intel® Core™ i5-460M (2.53GHz, turbo boost até
2.8Ghz, 3M cache)
Memória Memória 4GB DDR3 1333MHz (2x2GB)
LCD Panel Tela True Life LCD WLED WXGA (720p) de 15.6 polegadas,
Placa de Vídeo Widescreen
Disco Rigído Placa de Video Integrada Intel HD Graphics
Opções de Cor Disco Rígido SATA de 500GB (5400RPM)
Network Card Preto
Software Adobe Placa de Rede Integrada 10/100
Unidade Óptica Software Adobe® Acrobat® Reader 9.0
Placa de Som Gravador de DVD/CD Dual Layer (Unidade DVD+/- RW 8x)
Áudio de Alta Definição 2.0, Support SRS™ Premium Sound
Placa Wireless Dell Wireless™ 1501 Half Mini Card (802.11n)
Webcam Webcam Integrada de 1.3 Mega Pixels
Software Microsoft Microsoft® Office Starter 2010
Anti-Vírus McAfee Security Center - 3 anos
Mídia Óptica Cyberlink PowerDVD 8.3 DVD Playback
Opções de Bateria Bateria de 6 células
Garantia 1 ano de Garantia
Dell DataSafe On line Armazenamento de 2Gb por 1 ano
Instalação Installation Declined
Evite Danos imprevistos 1 ano de proteção contra acidentes - CompleteCare
Proteção Anti-Furto 1 ano de proteção LoJack
Bluetooth Dell Wireless 365 Bluetooth Interno (2.1)
Acessórios Mochila Dell Synergy
Receptor de TV Digital
Capa Built NY para notebooks de até 15'' – Preta
Mouse Wireless Mobile Microsoft 3000 preto

26
b) Material bibliográfico

De Gilbert Simondon

COMMUNICATION ET INFORMATION 77,20

DU MODE D'EXISTENCE DES OBJETS TECHNIQUES 84,15

INDIVIDUATION À LA LUMIÈRE DES NOTIONS DE FORME 135,1

INDIVIDUATION PSYCHIQUE ET COLLECTIVE, L 80,48

INVENTION DANS LES TECHNIQUES 91,58

TOTAL 1 384,36

De Martin Heidegger

ARISTOTE, METAPHYSIQUE 1-3 74,45

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA METAFISICA, OS 68,90

INTRODUÇAO A FILOSOFIA 69,80

NIETZSCHE, V.1 79,50

NIETZSCHE, V.2 73,50

QUESTION CONCERNING TECHNOLOGY AND OTHER ESSAYS 35,00

SOBRE O HUMANISMO 38,00

TOTAL 2 141,90

De Marshall McLuhan

COUNTERBLAST 74,88
GLOBAL VILLAGE, THE 74,88
GUTENBERG GALAXY, THE 95,85
MECHANICAL BRIDE, THE 49,88
MEDIA RESEARCH 99,88
MEDIUM IS THE MASSAGE, THE 34,88
MEIOS DE COMUNICAÇAO COMO EXTENSOES DO HOMEM, OS 45,00
UNDERSTANDING MEDIA - THE EXTENSIONS OF MAN 62,38
WAR AND PEACE IN THE GLOBAL VILLAGE 34,88
TOTAL 3 452,63

27
De Umberto Galimberti

L'OSPITE INQUIETANTE 38,64

PSICHE E TECHNE - O HOMEM NA IDADE DA TECNICA 102,00

RASTROS DO SAGRADO 66,50

VICIOS CAPITAIS E OS NOVOS VICIOS, OS 21,50

TOTAL 4 126,64

De Outros: Hans Jonas (HJ), Tristam Engelhardt (TE), Gilbert Hottois (GH)

MEMORIAS (HJ) 107,62

PRINCIPIO VIDA, O (HJ) 50,20

PRINZIP LEBEN, DAS (HJ) 96,46

BIOETHICS AND SECULAR HUMANISM: THE SEARCH FOR A (TE) 90,00

FUNDAMENTOS DA BIOETICA CRISTA ORTODOXA (TE) 99,20

ESSAIS DE PHILOSOPHIE BIO-ETHIQUE ET BIO-POLITIQUE (GH) 92,64

EVALUER LA TECHNIQUE, ASPECTS ETHIQUES DE LA (GH) 57,90

PHILOSOPHES ET LA TECHNIQUE, LES (GH) 108,08

PHILOSOPHIES DES SCIENCES, PHILOSOPHIES DES TECHNI (GH) 89,84

TOTAL 5 197,92

TOTAL GERAL* (1331,81) 1303,45

* Cortes em vermelho nos orçamentos realizados diretamente no site da Livraria Cultura


entre os dias 31.05 e 03.06.2010.

c) Material de escritório

FOLHAS PAPEL RECICLADO (2000 Un.) 235,20

CARTUCHOS IMPRESSORA (6 Un.) 113,40

DVDS PARA GRAVAÇÃO (300 Un.) 202,74

PENS DRIVES 16 gb (7 Un.) 817,00

28
FOLHAS PAPEL RECICLADO (2000 Un.) 235,20

CARTUCHOS IMPRESSORA (6 Un.) 113,40

TOTAL (817,37) 817,00

* Cortes em vermelho nos orçamentos realizados diretamente no site da Kalunga entre os


dias 31.05 e 03.06.2010.

d) Assessoria de publicação Web

CONSULTORIA PROJETO (15 horas) 750,00

ASSESSORIA IMPLEMENTAÇÃO (25 horas) 1.250,00

TOTAL 2000,00

* Corte de 10 horas de consultoria e assessoria nos orçamentos realizados com profissional


da área.

e) Revisão técnica texto e site

REVISÃO TÉCNICA ARTIGO PORTUGUÊS (20 páginas) 100,00

REVISÃO TÉCNICA ARTIGO INGLÊS (20 páginas) 400,00

REVISÃO TÉCNICA ARTIGO FRANCÊS (20 páginas) 400,00

REVISÃO TÉCNICA SITE (50 horas) 1.000,00

TOTAL 1.500,00

* Cortes em vermelho nos orçamentos realizados com profissional da área.

7) Cronograma físico-financeiro

Atividade \ Mês 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
25/08 26/09 26/10 26/11 26/12 26/01 26/02 26/03 26/04 26/05 26/06 26/07 26/08 26/09 26/10 26/11 26/12 26/01 26/02 26/03 26/04 26/05 26/06 26/07
25/09 25/10 25/11 25/12 25/01 25/02 25/03 25/04 25/05 25/06 25/07 25/08 25/09 25/10 25/11 25/12 25/01 25/02 25/03 25/04 25/05 25/06 25/07 25/08

Reelaboração projeto

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Computador Notebook
Desenvolv. site pesquisa
Asses. e consultoria site
Pesquisa bibliográfica
Material bibliográfico
Material de escritório
Pesquisa Internet
Revisão técnica site
Seminários e encontros
Ativids grupo de pesquisa
Redação final artigo
Revisão técnica artigo
Envio artigo para revistas

8) Identificação dos demais participantes do projeto

Doutoranda Iarle Ferreira (UNISINOS)

Prof. Fabian Lourenço da Silva (Secretaria de Desenvolvimento Econômico


e Social Prefeitura de São Leopoldo)

Mestrando Vinícius Cunha (UNISINOS)

Acad. Lucas Moura (bolsista UNIBIC/UNISINOS)

Acad. Juliano Alves (UNISINOS)

Acad. Guilherme Malo Maschke (UNISINOS)

Acad. Denise Silveira (UNISINOS)

Acad. Luana Machado (UFRGS/UNISINOS)

Acad. Vanessa Scalante (UNISINOS)

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