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O direito penal é um sistema de normas jurídicas que regulam o poder de punir

do Estado, estabelecendo por pressupostos o crime como fato e uma pena como
consequência. É uma norma pertencente ao ramo do Direito Público, onde, a
partir da violação da norma, surge o poder de punir.
Falar de direito penal é necessariamente falar da necessidade de regulação da
vivência em sociedade. Quando se constata que os demais meios de controle se
tornam ineficazes para atingir a paz social, essa missão é atribuída ao direito
penal para, assim, resolver as desarmonias do convívio em sociedade e
estabelecer as sanções aplicáveis a cada violação.

Na visão de Zaffaroni, é possível atribuir à expressão direito penal tanto o


conjunto de leis, a legislação penal propriamente dita, ou ainda o sistema de
interpretação dessa legislação, ou seja, o saber da matéria.

Nessa concepção, entendemos o direito penal em pelo menos duas acepções,


onde a primeira enxerga a matéria tão somente como a própria lei em si e a
segunda tudo aquilo que viabiliza a aplicação prática dessa mesma lei. Neste
artigo, trabalharemos essencialmente as noções introdutórias dessa segunda
concepção. 

O que é direito penal?

O direito penal é um sistema de normas jurídicas que regulam o poder de punir


do Estado, estabelecendo por pressupostos o crime como fato e uma pena como
consequência. 

Muitas são as definições doutrinárias para o que seria o termo. Umas mais
amplas, outras mais sucintas, mas o que todas apontam como eixo central para o
conceito de direito penal é que este seria a sistematização das normas que
regulam o poder punitivo do Estado. 
As premissas para a existência desse poder seriam a existência de um fato
definido como um crime, que é atribuída uma consequência, e que tal
consequência jurídica seja um direito subjetivo do bem comum, representado
pelo Estado.

Ou seja, a partir do momento que um indivíduo cometa determinado fato, e este


fato esteja previamente (veremos adiante as razões) definido como crime, surge
para o Estado o seu direito subjetivo, o ius puniendi, efetivamente aplicando
essa sanção prevista.

É interessante observar que no direito penal as questões reguladas não dialogam


tão somente com questões privadas. Ou seja, não só com relações particulares do
sujeito, mas também com as decorrências dessas ações na vida em
sociedade. Por tal razão, o direito penal é matéria pertencente ao ramo de
Direito Público.

Citações sobre o conceito de direito penal

Para firmar conhecimentos, trouxe duas citações sobre o conceito de direito


penal. No primeiro deles, ensina Damásio de Jesus:
Quando o sujeito pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele
e o Estado. Surge o jus puniendi, que é o direito que tem o Estado de atuar
sobre os delinquentes na defesa da sociedade contra o crime. Sob outro
aspecto, o violador da norma penal tem o direito de liberdade, que consiste em
não ser punido fora dos casos previstos pelas leis estabelecidas pelos órgãos
competentes e a obrigação de não impedir a aplicação das sanções.
Na visão de Guilherme Nucci, conceitua-se o direito penal da seguinte forma:
É o conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos limites do poder
punitivo do Estado, instituindo infrações penais e as sanções correspondentes,
bem como regras atinentes à sua aplicação. Embora a sua definição se
concentre nos limites do poder punitivo, significando um enfoque voltado ao
direito penal Democrático, não se há de olvidar constituir o ramo mais rígido
do Direito, prevendo-se as mais graves sanções viáveis para o ser humano,
como é o caso da privação da liberdade.”
Assim, visualizamos em essência o direito penal como um todo. Um
macrossistema de regulação da vida em sociedade, um mecanismo que
estabelece as condutas que são consideradas lesivas, com suas consequentes
sanções aplicáveis, bem como regula o próprio exercício estatal desse poder de
punir.

Funções do direito penal

Não é difícil imaginar que na vida coletiva os conflitos surgem e, na maior parte
das vezes, é possível encontrar soluções conciliadoras para as situações. No
entanto, em alguns momentos esses conflitos evoluem e de alguma forma
acabam por lesionar bens jurídicos essenciais. 

É neste momento que verificamos a necessidade da proteção estatal e esta se


consubstancia por meio do direito penal.

Bens jurídicos essenciais

Quando falamos de bens jurídicos essenciais, falamos sobre aqueles que se


revelam imprescindíveis para a continuidade da vida em sociedade. Assim,
notamos primariamente a vida, a liberdade, a saúde, ou a propriedade.

Nas palavras do doutrinador Cézar Roberto Bitencourt:

Sob essa perspectiva, os bens jurídicos coletivos (por exemplo, a paz pública ou
a saúde pública) somente serão admitidos como objeto de proteção pelo direito
penal, na medida em que possam ser funcionais ao indivíduo. Dessa forma, o
direito penal abarcaria essencialmente delitos de resultado e delitos de perigo
que representassem uma grave ameaça para a incolumidade de bens jurídicos
individuais,operando como um limite claro e preciso do âmbito de incidência
do poder punitivo do Estado.
Logo, quando se verifica que determinada conduta atinge um desses bens
jurídicos, é necessária a intervenção do direito penal para que, por meio de uma
sanção previamente estabelecida, busque apaziguar e solucionar a questão de
modo a corrigir e desestimular a prática do comportamento indesejado.

Bitencourt acrescenta:

Quando as infrações aos direitos e interesses do indivíduo assumem


determinadas proporções, e os demais meios de controle social mostram-se
insuficientes ou ineficazes para harmonizar o convívio social, surge o direito
penal com sua natureza peculiar de meio de controle social formalizado,
procurando resolver conflitos e suturando eventuais rupturas produzidas pela
desinteligência dos homens.
Dessa forma, podemos concluir pela função preventiva do direito penal, que
por meio de uma sanção criminal, previne a reiteração de condutas criminosas
no meio social e protege a comunidade das transgressões que eventualmente
lesionam bens jurídicos essenciais à manutenção da vida em harmonia.

No Brasil, essa sanção criminal pode aparecer de formas distintas. A mais severa
delas é a pena privativa de liberdade, mas existe ainda a pena restritiva de
direitos e a multa (pecuniária) penal. 

Ademais, é possível ainda que se aplique penas de medida de segurança de


internação para tratamento de réus condenados que, em regra, tenham
transtornos mentais.

Princípios do direito penal

A questão principiológica no direito penal, assim como nos demais ramos, é de


importante relevância, na medida em que são a base de sustentação de toda a
construção legal. Dedicaremos em breve tópico para tratar apenas dessa
temática, mas, no entanto, de maneira introdutória.

É preciso consignar que os princípios podem ou não se mostrarem


positivados (previstos expressamente na lei), mas sua importância não está tão
somente ligada a essa questão.

Princípio da intervenção mínima

Se falarmos do princípio da intervenção mínima, não o encontraremos ratificado


em texto legal. Isso, aliás, seria um contra senso, haja vista o seu próprio
significado. 
Pelo princípio da intervenção mínima, compreendemos o direito penal como
a ultima ratio. Ou seja, quando esgotados todos os meios possíveis fora do
direito ou mesmo em outras áreas, ele assume o protagonismo da proteção dos
bens jurídicos que tratamos no tópico anterior.

Princípio da legalidade

De outro lado, o princípio da legalidade (ou reserva legal) consta positivado


expressamente na Constituição Federal (Artigo 5º, XXXIX) bem como
no Código Penal (Artigo 1°). 

O princípio da legalidade nos trás a segurança jurídica necessária aos cidadãos,


de modo que uma conduta só passará a ser considerada crime através de lei que
a defina. Por isso, não é possível penalizar sem prévia cominação legal.

Nos termos do Código Penal:

Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.”
Neste ponto, cabe ressaltar que, como decorrente do princípio da legalidade,
surge ainda o princípio da anterioridade da lei, que observa o direito penal no
tempo e preconiza que a lei penal só retroage em benefício do réu, nunca em seu
prejuízo.

Tal princípio também se encontra positivado no ordenamento. Vejamos o artigo


5º, XL da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”

Princípio da humanidade da pena

Neste ponto, merece especial atenção o princípio da humanidade da pena. 

Se temos o direito penal como um sistema capaz de estabelecer sanções, é de


interesse da sociedade que essas sanções sejam, além de adequadas para a
repreensão da conduta eventualmente praticada, que não sejam um instrumento
de vingança. Tal princípio decorre do princípio constitucional da dignidade
da pessoa humana.
Outros princípios

Há, por óbvio, inúmeros outros princípios relacionados ao tema, mas isso é
assunto para uma próxima conversa. 

Convém destacar aqui, ainda, os seguintes princípios:

 princípio da insignificância, que em síntese preconiza que apenas bens


jurídicos relevantes devem ser protegidos;
 da adequação social, que prevê que condutas adequadas socialmente não
devem ser objetos de reprimenda estatal;
 e o princípio da culpabilidade, que estabelece o dolo (intenção) ou a
culpa (imperícia, negligência ou imprudência) como pressupostos da
responsabilização penal. Ou seja, sem dolo ou culpa, não há
culpabilidade, logo não há responsabilidade penal.

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Direito Penal ou Direito Criminal?

Esta é uma questão menor no dia a dia de advogados e advogadas no que diz
respeito a qual nomenclatura utilizar. Em regra, os dois termos são sinônimos e
a aplicação de uma ou de outra não incorreria necessariamente em erro. No
entanto, cotidianamente no direito brasileiro utiliza-se a expressão direito penal
para se referir a matéria.

No entanto, é curioso observar que, embora quanto a matéria seja comum nos
referirmos como direito penal, nos referimos ao profissional do direito que atua
nesta área como advogado criminalista com mais naturalidade. Outras atuações
dentro da área de estudo também adotam a expressão, como é o caso da perícia
criminal.

Doutrina sobre o tema

A doutrina moderna faz essa diferenciação entre direito penal e direito criminal:
A denominação direito penal é mais tradicional no direito contemporâneo, com
larga utilização, especialmente nos países ocidentais. Direito Criminal também
foi uma terminologia de grande aplicação, especialmente no século passado;
hoje se encontra em desuso, com exceção dos anglo-saxões, que preferem a
expressão criminal law. Durante sua evolução foram sugeridas outras
denominações que, contudo, não obtiveram a preferência doutrinária nem
foram adotadas pelos ordenamentos positivos das nações desenvolvidas.
Guilherme Nucci também trata da questão:
Para vários autores, há diferença entre direito penal e direito criminal, sendo
este abrangente daquele, porque daria enfoque ao crime e suas consequências
jurídicas, enquanto aquele seria mais voltado ao estudo da punição. Assim não
nos parece e tudo não passa de uma opção terminológica. Já tivemos, no Brasil,
um Código Criminal (1830), mas depois passamos a denominar o corpo de
normas jurídicas voltados ao combate à criminalidade como Código Penal
(1890 e 1940). O mesmo ocorre em outros países, havendo ora a opção pela
denominação de direito criminal (v.g., Grã-Bretanha), ora de direito penal
(v.g., Itália, França, Espanha).
Há ainda o fato da própria nomenclatura aplicada em nosso Código Penal, que
naturalmente nos remete ao estudo de um direito penal. Assim, temos
habitualmente e por construção doutrinária o uso dessa expressão.

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