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CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Exmo. Senhor Presidente Da Comissao de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias Assembleia da Republica, Palacio de S. Bento 1249 - 068 Lisboa N/Referéncia ofr ns Data 8/Referéncia De: 06.02.2013 -2013/GAVPM 2013-02-19 Oficio n° Pn? 05-1234/D — @avp/1479/2013 189/xm1/1° CACDLG/2012 Assunto: Parecer ~ Cédigo Proceso Civil Junto tenho a honra de remeter a V. Ex". 0 Parecer do Conselho Superior da Magistratura, relative a Proposta de Lei n° 113/XII (Cédigo Processo Civil), para os fins tidos por convenientes. Sem outro assunto, apresentamos os nossos melhores cumprimentos£ ELSyN)s ComS:De mir O Juiz Secretario, lL Luis Miguel Vaz da Fonseca Martins Bim aneno: parecer ox 459583 2M. 20,02 2013 Sede: Rua Mouzinho da Silveira, n° 10 - 1269-273 Lisboa - Telefone: +951 213220020 » Pax: +951 213474918 Correio etectrénico: CSM@csm.org.Dt - Internet: WWW.CSM.org.pt FMCASA Dr RESPAETA AGRANECEMOS A MPNOKO NAS NOSSAS REFERENCIAS CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA PROPOSTA DE LEI N° 113/XII (Cédigo de Processo Civil) Parecer CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA PLANO GERAL. 1 - PARECER, APRESENTADO AO GOVERNO, SOBRE O PROJECTO DO NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL, SUBMETIDO A DISCUSSAO PUBLICA EM OUTUBRO DE 2012— 2 2.- PARECER SOBRE A PROPOSTA DE LEI N? 113/XII, INCIDINDO, SOBRETUDO, NA APRECIACAO DAS NOVIDADES NELA SURGIDAS, FACE AO PROJECTO QUE FORA SUBMETIDO, PELO GOVERNO, A DISCUSSAO PUBLICA~ 96 2.1. Andlise da autoria dos Juizes de Direito Ana Luisa Gomes Loureiro, Nuno de Lemos Jorge e Paulo Ramos de Faria. 97 2.2. Outros considerandos. 132 . CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA PARECER, APRESENTADO AO GOVERNO, SOBRE O PROJECTO DO NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL SUBMETIDO A DISCUSSAO PUBLICA EM OUTUBRO DE 2012 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Foi enviada ao Conselho Superior da Magistratura (CSM) a Proposta de Lei n® 113/XII, através da qual se visa a aprovagao do (novo) Cédigo de Processo Civil. © Conselho Superior da Magistratura, em Margo de 2011, emitiu prontincia sobre um projecto de Reforma do Processo Civil, que assentava na estrutura e nos artigos do Cédigo de Processo Civil vigente. Depois disso, o CSM haveria de voltar a pronunciar-se sobre um novo projecto, que se desviava do actual cédigo, quer no que se refere a estrutura quer no que toca a0 ntimero dos artigos, apresentando-se como um novo Cédigo de Processo Civil. Dado que os Juizes de Direito Drs. Paulo de Faria e Nuno Lemos Jorge vém reflectindo (e intervindo) sobre a presente reforma, com alicerce na sua experiéncia do dia-a-dia dos tribunais, decidiu 0 CSM solicitar-Ihes um parecer, ao qual foram feitos, por este 6rgao, aditamentos sobre matérias que nele nao foram abordadas Este parecer, também apresentado ao Governo, apés aprovacao no Plendrio do Conselho Superior da Magistratura, é do seguinte teor: «PARTE Introdugao Foi solicitada ao Conselho Superior da Magistratura (CSM), pelo Gabinete de S* Ex. a Senhora Ministra da Justica, prontincia sobre o projecto do nove CODIGO DE PROCESO CIVIL, Este Conselho emitiu, oportunamente, parecer sobre 0 projecto de Reforma do Proceso Civil, inicialmente apresentado, mantendo-se aqui as grandes linhas explanadas nesse parecer, maxime no que se refere a0 caminho para uma nova cultura judicidria, envolvendo todos os a CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA participantes no processo e propiciada por um novo modelo de processo civil, simples e flexivel, centrado nas questées essenciais ligadas a0 mérito da causa. Regista-se, com agrado, que algumas das posig6es assumidas pelo CSM ganharam expressio no projecto que agora nos foi apresentado, 0 qual contém, apesar da subsisténcia de criticas (como se vera), medidas que se nos afiguram bastante positivas tendo em vista a almejada meta de uma justica que, pautada pela celeridade e despida de formalismos imtiteis ou retéricas ultrapassadas, mas de forma segura e consistente, com respeito pelos mais lidimos principios que informam 0 proceso civil, atinja a verdade material, resolvendo os problemas que os cidadaos colocam aos Tribunais. O CSM solicitou a dois Juizes de Direito ~ 0s Srs. Drs. Paulo de Faria e Nuno Lemos Jorge = que, para além da sua quotidiana experiéncia nos Tribunais, tém vindo a reflectir sobre a reforma processual em curso, que coadjuvassem este érgéo, emitindo parecer sobre 0 novo Cédigo de Proceso Ci E, pois, esse parecer que ora se remete, com o breve aditamento que se segue. CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Consideragées iniciais Mantém-se o que foi dito no nosso anterior parecer relativamente as sugestdes ou reparos nao acolhidos ou reflectidos neste novo projecto, designadamente no que concerne a critica sobre a obrigatoriedade da audiéncia prévia ou a nao determinagio pelo juiz, em caso de litigancia de mé fé, da quota-parte da responsabilidade do advogado ou solicitador. Importa, além do que jé consta desse parecer e daquele que se apresenta na parte II deste documento, referir 0 seguinte: No art. 12%, n*l, g), do projecto, estabelece-se como caso de impedimento do juiz, em jurisdicao contenciosa ou voluntaria, o de ser parte na causa pessoa que contra ele propds acgao civil para indemnizagio de danos, ou que contra ele deduziu acusagio penal, em consequéncia de factos praticados no exercicio das funcoes ou por causa delas. Ora, cré-se que seria de exigir, para a verificagao do impedimento, nao apenas a deducao da acusagao, mas a prolagao de despacho de prontincia ou equivalente, evitando-se, assim, que, com alguma facilidade, se faculte o afastamento do juiz do processo. Ainda no capitulo dos impedimentos, agora relativamente aos tribunais colectivos (art. 14° do projecto), entende-se que seria de incluir, por idénticas razdes, para além dos juizes que sejam conjuges, parentes ou afins em linha recta ou no segundo grau da linha colateral (n°1 do dito artigo), também aqueles que vivam em uniao de facto. Verifica-se que & de acordo com presente projecto, extinta a figura da interrupgio da instancia. Ora, importaré ter em conta a necessidade de conjugagéo de uma tal medida com dispositivos que pressupdem essa interrupeao, como, por exemplo, o preceituado no art. 332%, n*2 do C. Civil: CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA «Nos casos previstos na primeira parte do artigo anterior, se a instancia se tiver interrompido, nao se conta para efeitos de caducidade o prazo decorrido entre a proposigio da accao e a interrupcao da instancia.» Por outro lado, com o fim da interrupgao, que era uma espécie de antecmara da desercao, assentando em despacho que reconhecia a existéncia de «negligéncia” das partes (e a discussao sobre a verificagao ou nao negligéncia justificativa da interrupeao foi dando, ao longo dos tempos, azo a recursos), centra-se, agora, essa problematica na desercao, prevendo-se a ocorréncia desta quando, independentemente de qualquer decisto judicial, por negligéncia das partes, o processo se encontre ‘a.aguardar impulso processual ha mais de seis meses (art. 287, n°1). Ora, a ideia de negligéncia das partes thamo-lo dito, no primeiro parecer, quanto a interrupcao) € dificilmente conjugavel com a auséncia de uma decisio, j4 que pressupde um juizo que no devera caber aos funciondrios que acompanham o proceso. No art. 504°, n*l, do projecto, prevé-se a inquiricao por teleconferéncia de testemunhas residentes fora da comarca, ou da respectiva ilha (no caso das Regides Auténomas). Tendo em consideragio a reforma da organizagao judicidria em curso, com a criago de comarcas coincidentes com os distritos administrativos, ou seja, de uma grande dimensao territorial, parece que sera de estabelecer a possibilidade - a aferir, em cada caso, pelo juiz do processo ~ de inquirigao por teleconferéncia dentro da mesma comarca. No que conceme & regta de a execugdo da decisio judicial condenatéria correr nos préprios autos, hé que referir que se receia a ocorréncia alguns problemas de ordem pratica, dessa regra decorrentes, sobretudo no que respeita & execugdo para pagamento de quantia certa, Antevéem-se, na verdade, dificuldades de processamento nos prdprios autos, néo parecendo que, nalgumas situagdes, se possa evitar a organizagdo de apenso, como, por exemplo, no caso da atribuicéo (como ¢ de regra) do efeito meramente devolutivo a recurso que se haja interposto e se pretenda proceder & execuc3o proviséria de quantia certa, ou quando sejam varios os exequentes no mesmo proceso. CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA No que se refere & matéria dos recursos, nao abordada no parecer dos Srs. Drs. Paulo de Faria e Lemos Jorge, resulta da exposigdo de motivos ter-se entendido que a recente intervengio legislativa, operada pelo Decreto-Lei n° 303/2007, de 24 de Agosto, desaconselhava uma remodelacao do quadro legal instituido, tendo-se, mesmo assim, cuidado de reforcar os poderes da 2. instancia em sede de reapreciagao da matéria de facto impugnada. Refere-se que, «[plara além de manter os poderes cassatérios - que Ihe permitem anular a decisio recorrida, se esta nao se encontrar devidamente fundamentada ou se mostrar que é insuficiente, obscura ou contraditéria -, so substancialmente incrementados os poderes e deveres que Ihe so conferidos quando procede & reapreciagao da matéria de facto, com vista a permitir- Ihe alcancar a verdade material» Reforgados os poderes/deveres das Relagdes em sede de modificabilidade da decisio de facto e sabendo-se, independentemente das perspectivas que agora se abrem para o futuro, que a impugnacdo da matéria de facto tem suscitado, na 2* instancia, trabalhos redobrados e demorados, pergunta-se se, nas situagdes em que se verifique essa impugnacio, ndo seré de alargat 0 prazo para a prolago do acérdao (art. 658%, n°1, do project) por mais 10 dias, & semelhanca do que é concedido as partes quanto a interposicao dos recursos e respostas (art. 639°, n° 7, do projecto).. Ainda quanto a impugnagao da matéria de facto, cré-se que seria de consagrar, no art. 641°, até face a jurisprudéncia registada nesta matéria, a regra da especificagdo, nas conclusdes do recurso (ndo apenas do corpo das alegagdes), dos concretos pontos de facto impugnados. Prevendo-se, no art. 644°, n®4, que a decisdo do relator que recaia sobre a reclamagao do despacho de nao admissio do recurso é susceptivel de reclamagao para a conferéncia, nos termos do n°3 do art. 653°, e estabelecendo-se no n'5, al. b), deste mesmo artigo, que do acérdao da conferéncia se poderd recorrer nos termos gerais, coloca-se a diivida (que conviria que a lei, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, claramente, resolvesse) de saber se, no caso de o relator confirmar o despacho de indeferimento proferido no tribunal recorrido, numa situagdo que se possa rotular de dupla conforme (art. 672! 1n°3), serd admissivel o recurso para o Supremo Tribunal de Justica. Por outro lado, seré de perguntar se nao seria de adequar a regra (que nao é nova) de inscrigo do processo em tabela (prevista no art. 660°, n*l, do projecto), aquilo que sempre foi a pratica nos tribunais superiores, ou seja, que essa inscrigo acontece quando o relator (que é quem ‘tem o processo em mos) a manda fazer, porque tem 0 acérddo pronto, sendo certo que hé situagdes de grande complexidade em que ¢ dificil e, por vezes, mesmo impossivel que tal suceda no prazo estabelecido na lei No att, 663°, n°2, al. c) (do projecto), dispde-se que a Relagao deve, mesmo oficiosamente, anular a decisio recorrida, se esta no se encontrar devidamente fundamentada ou se mostrar que a fundamentagio é insuficiente, obscura ou contraditéria, Cré-se que haverd aqui um lapso, quando se fala de fundamentacdo insuficiente, obscura ou contraditéria. Por certo, pretendia-se, neste ponto, fazer mencdo & decisdo da matéria de facto (@ semelhanga do que sucede, actualmente, com o previsto no art. 712%, n°4 do CPC). Verifica-se, também, que nao se faz referéncia & possibilidade de ampliagao do julgamento da matéria de facto, ao arrepio do que vem estabelecido no preceito acabado de citar. No que tange a fundamentagao indevida, talvez se justificasse, em vez da anulagao da decisio recorrida, mandar baixar 0 processo para o tribunal « quo suprir o vicio, além de se reservar esse procedimento a situagdes graves como as de omissio ou ininteligibilidade da fundamentacao. Muito embora se diga, na exposigio de motivos, acabar-se com o incidente de aclaracao, vem previsto no art. 614°, n°2 (do projecto) que é licito ao juiz esclarecer diividas existentes na sentenca ¢, no art. 667° (também do projecto), que a rectificagao, aclaragao ou reforma do acérddo, bem como a apreciagio de mulidade, sao decididas em conferéncia. Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, Prevendo 0 art, 618%, n’S, do projecto, a baixa do proceso & 1* Instincia, quando seja omitido o despacho atinente a nulidade ou reforma da sentenga, cré-se que seria de expressamente aplicar, também aqui, de modo a afastar diividas que sobre a matéria possam surgir, a regra da manutengao do relator do recurso, estabelecida no art, 220°. Um dos fundamentos da revista excepcional é, nos termos do art. 673%, n*l, c), 0 de 0 acérdio da Relagéo estar em contradigéo com outro, jé transitado em julgado, proferido por qualquer Relacdo ou pelo Supremo Tribunal de Justiga, no dominio da mesma legislagao ¢ sobre a mesma questo fundamental de direito, salvo se tiver sido proferido acérdao de uniformizagdo de jurisprudéncia com ele conforme. Sucede que esta previsio nao esté totalmente de acordo, sem que se veja motivo para tanto, com o disposto, paralelamente, no art. 630, n®2, al. d. No que tange & chamada dupla conforme (art. 672%, n°3 do projecto), mantemos a discordancia, ja expressa no primeiro parecer, quanto ao alargamento da possibilidade de recurso para o Supremo Tribunal de Justica bd 3 SMe p, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA PARTE II Introdugao ‘A presente anilise do projecto de alteragdo do Cédigo de Proceso Civil (adiante, Projecto) encontra-se dividida em cinco secgdes, abrangendo cada uma destas um dos primeiros cinco livros do cédigo, na estrutura desenhada pelo Projecto. Depois de uma introdugio, onde se abordam as matérias mais transversais ao livro respectivo, em cada seccao é feita uma breve anilise de algumas das novidades normativas projectadas. Um vasto conjunto de normas nao é objecto de anélise, por duas ordens de razées. Por um lado, diversos artigos introduzem alteragdes de pormenor nos regimes em que se inserem, constituindo a sua anélise uma cedéncia ao acessério, com prejuizo da enfatizagao do essencial. Por outro lado, ha diversas solugies projectadas que, embora relevantes, correspondem a entendimentos estabilizados ou reflectem um avancado estado de maturagéo do proceso de reforma do Processo Civil - sendo jé fruto do trabalho da Comissdo da Reforma do Processo Civil (adiante, Comissao) -, pelo que, pragmaticamente, néo vemos como provavel que venham a ser abandonadas ou alteradas, sendo, como tal, pouco util prosseguir o debate em seu redor. Finalmente, dao-se por adquiridas as normas que reflectem legitimas opgdes do legislador que nao se prestam a dificuldades na sua aplicacao. Entre as normas que nao sao objecto de andlise incluem-se as seguintes: 5.° do Projecto (264. e 664. da lei vigente), 24. (282-A, n= I e 3; ressalvada a actualizagio da redaccao), 27. (4° € 45), 512 (28°-A), 57.2 (32.%), 64. (39.2), 68.° (43° e 44. n.” 2), 69. (44.2 n2 1), 73° (582), 75. (60.%), 76. (61.%), 80. (65.%), 84° (70.5), 110. (982), 111.° (99.2), 114° (1022), 121.2 (1108), 122. (111), 1472 (150-A), 1482 (novo), 149. (151.5), 153° (155°), 1952 (199.°), 200° (2048), 214° (222 e 2128; * Parecer da autoria dos Srs. Juizes Nuno de Lemos Jorge ¢ Paulo Ramos de Faria 10 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. ressalvado 0 que adiante se escreve sobre a aboli¢ao da notificagao judicial avulsa), 216. (224.), 2178 (2252), 220. (novo), 231.° (236.%), 235. (240.5), 243.2 (2485), 244.° (249.9), 246. (251.), 269° (2743; sinalizando-se a opcao legislativa de enquadrar sempre a compensagéo num pedido reconvencional), 272.° (276.*), 275.° (279.°), 2782 (283), 284. (291."), 298: (novo), 301.? (307.2), 314° (8202), 316. (322.5), 317. (323, 318. (324), 319: (3258), 320. (329.5, n.* 2 € 3), 321. (326.9, 322° (827.9), 323. (28.9), 325.° (331.%), 326. (332.*), 327. (333.%), 341.° (347."), 342.° (348), 343. (349-9), 344.° (350.*), 345. (351."), 363.° (380.*), 3672 (383.°), 370.° (386.; eliminando-se o inciso referente a gravacdo da prova), 372.° (novo), 373. (387.-A), 374. (novo), 375° (388.; ressalvada a rectificagao do lapso de redaccio manifesto), 376: (389.2), 385. (novo), 387. (399.°), 399.2 (4112), 425: (523.9), 426 (novo), 427° (524.%), 451.° (649.*), 4542 (552.2), 468° (novo), 4949 (614.2), 496. (novo), 509 (6283; saudando-se a solucdo adoptada), 532. (4472-A), 513. (632.%), 518. (638.), 533° (447°-B), S372 (449.2), 546.2 (458.9), 549. (462.9), 5512 (4652), 556° (4702), 562." (478.2), 573.2 (4883, eliminando-se o inciso referente a gravacdo da prova), 575. (490.2), 578. (494.9), 579.° (495.2), 589.° (606. 590.° (5072), 591.° (608.%), 592.2 (508.2-A), 593.° (novo), 596. (510."), 599.2 (646."), 602.8 (650.), 603." (651.5), 605. (654.%), 6152 (667-, 616. (668°), 617. (6692), 618° (6703), 6192 (novo), 7102 (63.9), 711. (novo), 712.° (64.*), 713. (601.° € 8102), 715. (803°), 7162 (804."), 7172 (805.*), 7182 (806.°), 722.* (nove), 723° (novo), 724: (809.*), 725. (8105), 7262 (811.2), 7282 (8122), 7292 (813.), 7302 (814.), 734. (817), 7352 (8182), 736. (820.%), 7382 (822°), 739.2 (823.), 742° (825.), 743.2 (825.%), 744." (825, 746.° (827-), 750. (832.%), 751.2 (833.9), 753.° (834."), 755." (836.°), 756. (837.2), 761.* (842."), 7662 (8482), 7702 (851.%), 75.2 (856.*), 779. (860.*), 781.° (861."), 782° (861.2), 784° (862.%), 787.9 (863."), 788.° (864.%), 789.° (864..), 797. (872°), 798: (873), 799. (novo), 8042 (878.2), 808° (882.*), 812." (novo), 816." (886.*), 822.° (893.), 826.° (897°), 834." (904.9), 851. (919.%), 852" (920.:), 854° (922.9), 8552 (922.*), 856. (922.*), 857. (811."), 858." (813.), 859° (819.), 872.2 (9362) e 8732 (9375), Duas notas finais. Serve a primeira para esclarecer que a andlise efectuada assenta na experiéncia académica e profissional dos seus autores ~ aqui como juizes de primeira instancia -, razio pela qual, por falecer a segunda, nao abrangeré a matéria de recursos. u CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. Pela segunda, sublinhamos que a andlise ¢ caracterizada pela séria preocupacio de oferecer solugdes alternativas, sempre que as projectadas nao sejam consideradas as melhores, razio pela qual, em anexo a este documento, é proposto um articulado completo do Cédigo de Processo Civil contendo as referidas solugdes, devidamente realgadas graficamente. Entendemos ser esta uma postura mais leal, pois, deste modo, comprometemo-nos com solugies que oferecemos a critica e ao debate. Pelas razdes expostas, a leitura do parecer deve ser acompanhada da consulta do articulado alternativo proposto. Livro I- DA AGAO, DAS PARTES E DO TRIBUNAL 1 Introdugéo 1.1. Os motivos da reforma do Processo Civil Pulsa por baixo do direito escrito, tendencialmente estatico, uma forga fluida que aguarda ‘© momento de lhe ocupar o lugar, uma potencialidade, um direito que pode vir a ser. Ao contrario do primeiro, este nao é uniforme. Tem hoje maior consisténcia aqui, menor ali, mais probabilidade de se materializar num ponto, menos em outro, amanha se invertendo estas posigdes, numa dinamica nem sempre linear. E assim em qualquer Area do direito, é assim — como nao poderia deixar de ser ~ no processo civil As forcas que animam esta interessantissima massa de potencialidade (politicas, profissionais, académicas...) nem sempre se fazem sentir com a mesma intensidade, mas momentos ha em que os movimentos tecl6nicos do processo civil sao inegavelmente intensos. Nos registos dessa actividade, pontuara certamente © ano 2012, altura de imensas oportunidades de observagio gengnifica do processo civil nesse dominio do direito potencial, enquanto as normas escritas permaneciam em sossego. 12 hd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA O inicio do ano deu a conhecer um primeiro projecto de reforma do CPC, que deu vida a muitas discussdes e que tivemos ja oportunidade de comentar. O més de Outubro legou-nos um segundo projecto, fortemente renovado na forma e algo no espirito, a cujo comentario agora nos propomos. A caracteristica mais impressiva, a primeira vista, deste projecto é uma profunda alteragdo fisionsmica: a muito falada renumeragao do CPC. Sendo impossivel ignoré-la, ela é de muito dificil manipulacao argumentativa, desde logo por ser forte o ruido a sta volta, podendo acabar por deixar ocultas as suas préprias virtudes e as da reforma, o que seria de lamentar. JA muito se disse sobre os defeitos da renumeragao. As criticas, isoladamente consideradas, tém razio de ser: a necessidade de actualizagao de manuais universitarios ¢ formulérios usados nos tribunais € imensa; no perfodo de adaptacio, todos seremos mais lentos; a pesquisa de jurisprudéncia ficara mais complexa. Tudo isto é verdade. Todavia, seria injusto nao falar das virtudes que sob 0 mesmo manto se escondem, virtudes cessas cujas raizes so em parte comuns aos seus defeitos: a necessidade de actualizacio obriga a olhar novamente para o CPC, revisitar as normas, repensar. Mais: porque nao se trata apenas de uma renumeragéo mas também de uma nova atrumacdo estrutural do diploma, é 0 proprio sentido dessa reordenagio que convida a olhar as normas a outra luz. Durante a elaboracao deste comentario, aceitamos o pressuposto da reordenagdo (mais do que mera renumeracéo) e com ele 0 inerente desafio, precisamente para que, na critica da opgao, nao se perdesse o seu melhor lado. Com isso, tivemos a oportunidade de sugerir pequenas alteragdes que, a nosso ver, tornam 0 CPC ‘ais intrinsecamente coerente e as normas mais rigorosas. Enfim, 0s defeitos da reordenacio sao tio verdadeiros como as suas virtudes. Por muito que os primeiros desagradem, ndo ¢ razoavel deixar que a antipatia afaste as desejaveis consequéncias das segundas. Associada a reordenacéo esté uma outra questao, de resposta muito mais difusa e certamente (ainda) mais discutivel: & este CPC, nas solugdes que oferece, ¢ para além da reordenagao, um eédigo novo? Para responder nao basta, claro esté, falar da arrumacio formal. ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Digamo-lo numa frase: esta alterago do CPC nao ¢ suficientemente significativa para que possamos concluir que dela resulta um cédigo novo. Todavia, dito isto, importa fazer duas ressalvas, A primeira para deixar claro que, sem merecer aquele rétulo, a alteragio em curso traz consigo mudancas assinaliveis e dignas de nota (embora nem todas de aprovacao), das quais daremos conta em devido tempo, designadamente no que respeita & unificagdo do proceso declarativo, aos temas da prova, & supressio do tribunal colectivo, aos conjuntos de alteragSes que trazem consigo verdadeiras reformas intercalares em matéria de recursos e execugdes € & eliminacao de alguns processos especiais. A segunda para vincar que, olhada a evolucdo do processo civil desde a reforma de 1995/96 (com o que nos legou em termos de cooperacdo, igualdade substancial, contraditério, refundagdo de principios em geral, para além da extensa alteragdo do diploma), se prosseguirmos no tempo considerando todas as alteragdes que se seguiram (em matéria de processo executivo e de recursos, por exemplo) e ainda esta que se projecta (com o aprofundamento de alguns principios, 0 desaparecimento do tribunal colectivo, a quase supressio das fronteiras entre decisdo do facto e do direito) e tudo olharmos em conjunto, entao sera razoavelmente seguro afirmar que nos encontramos perante um eédigo novo, ndo de uma vez s6, mas por arrastamento de hé 17 anos a esta parte. Com esta apreciagio geral em mente, avancemos. Diz-se, por vezes, coloquialmente: “comecemos pelo principio”. Por razdes que se explicam a si mesmas, este comentario, mais do que pelo principio, comeca pelos principios. 1.2. A efectividade dos principios e dos deveres estruturantes do Proceso Civil A opcio pela relocalizacao de alguns dos principios estruturantes do Proceso Civil no inicio do cédigo é positiva. Compreende-se, pois, que os principios dispositivo (numa acepgio ‘mais ampla) e do contraditério, ja consagrados no inicio do cédigo, sejam agora acompanhados de um seu desenvolvimento (art. 52) e dos prineipios da cooperacio e da boa fé processual, bem 14 ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA como do dever de reciproca correc¢ao. Os principios dispositivo e do contraditério informam todas as normas do diploma ~ sendo considerados mesmo quando sao expressamente restringidos pelo legislador -, estando a aplicacao destas condicionada ao respeito pelos restantes principios e dever referidos, Todavia, precisamente porque a localizagdo destes princfpios reforca a sua efectividade, isto é a sua vigéncia, nao se vé como relevante a constante referéncia & necessidade do seu respeito noutras normas ~ como a prevista no art. 8, n.2 1, da Proposta. A continua remissio especial para estes principios ndo realga a sua importancia e aplicabilidade directa; antes a diminui e degrada - como sugerindo a necessidade de um reforgo normativo expresso para que sejam aplicaveis a determinado caso concreto. Assentes neste entendimento, propomos a eliminagao de todas as referéncias expressas a0 respeito pelos principios e deveres elencados no inicio do eédigo, dispersas pelas suas restantes normas. 1.3. A ideia de “gestao processual” Gestio processual é a direcgdo activa e dindmica do processo, tendo em vista, quer a rapida e justa resolucao do lit io, quer a melhor organizagao do trabalho do tribunal. A satisfacéo do dever de gestéo processual destina-se a garantir uma mais eficiente tramitagao da causa, a satisfagao do fim do processo ou a satisfagao do fim do acto processual. Mais do que um principio, a gestio processual ¢ um dever. O juiz esta vinculado a bem dirigir 0 processo, estando a gestio processual, acima de tudo, integrada num seu dever constitucional ~ 0 dever de jurisdigo. A gestéo processual é um instituto puramente instrumental, sempre subordinado a satisfagao dos principios estruturantes do processo civil, néo se devendo com estes confundir. Afigura-se-nos, pois, ser mais correcto qualificé-la de dever, e nao de principio, Esta qualificagao enfatiza quem é 0 destinatrio da norma, deixando bem claro que nao estamos perante um principio superior ¢ genérico do proceso, mas sim perante um dever “prosaico”, uma 15 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, ferramenta da qual o juiz deve permanentemente langar mao, sempre com respeito pelos principios estruturantes do proceso civil O Projecto prevé a mesma realidade sob duas designagdes diferentes: “gestdo processual”, no art. 82, n? 1, e “poder de direcgdo do processo”, no art. 6, n= 1 e 2, Nao se vé qualquer vantagem nesta cisio, pelo que propée a fusio das duas normas. Neste pressuposto, revela-se mais consentanea com os propésitos reformistas do Projecto 1a adopcao da nova nomenclatura, assim se alertando o intérprete para a intengio legislativa de refundar um instituto ja presente, em boa parte, no cédigo actual (art. 265), exigindo-se um arrojo interpretativo e uma efectividade pratica que tera falhado apés a reforma processual civil de 1995/1996, Jé 0 referimos: nao devem ser adoptadas formulas que degradem a suficiéncia e a relevancia da previséo liminar dos principios estruturantes do Processo Civil. Devemos, pois, recusar a insergao do segmento “respeitando os principios da igualdade das partes e do contradit rio” na previsdo legal do dever de gestdo processual: a imposigao desse respeito vai, sem discussao, na aplicagao de todas as normas do cédigo. Do mesmo modo, a satisfacio do Principio do contraditério na gestdo processual resulta imediatamente do disposto no art. 3.%, n 3. 1.4. Relocalizacao dos principios instrumentais (inquisitério e adequacao formal) Projecta-se a relocalizagao dos principios da adequagao formal (art. 78, n® 1) e do inquisit6rio (art. 6, n 3) no inicio do eédigo. Nao se vé qualquer vantagem nesta promocao. Pelo contrério, tratando-se, como se trata, de principios meramente instrumentais, que apenas se articulam (subordinadamente) com outros principios, ou que tém o seu ambito de aplicasao citcunscrito a determinada a actividade processual, a sua inser¢io sistemética no contexto natural que Ihe cabe tornaré a previsio legal mais objectiva e as normas mais operantes e eficazes. Por outro lado, a reducdo do niimero de normas inscritas no Titulo inicial do cédigo emprestard um maior destaque as disposigdes que ai permanecerem, nao sendo, pois, positive que 16 Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. naquele se incluam artigos extensos, consagrando institutos juridicos de menor importancia relativa Ainda a propésito do conteiido ¢ estrutura do Livro I, entendemos ser de rever a opio pela relocalizacao da matéria respeitante ds garantias de imparcialidade. 1.4.1. 0 principio do inquisitério Existe uma excessiva confusdo entre o principio do inquisitério e 0 poder de direcgio do processo, sendo que este serve muitos outros principios e deveres processuais. O principio do inquisitério deveré pontuar, como norma geral, no inicio do novo Titulo dedicado a instrugao, em geral - isto é, & instrucdo da causa (de qualquer causa) e de todos os seus incidentes. 1.4.2. A adequacao formal principio da adequacao formal deverd estar previsto imediatamente apés 0 artigo que prevé as formas processuais, como seu contraponto ~ isto é, apés o art. 548:° do Projecto, inserido ‘no Capitulo I Disposigées gerais) do Titulo VII (Das formas de processo) do Livro Il (Do proceso em geral). A previsio da adequacdo formal dispensa a sua qualificacao (na epigrafe do artigo) como principio, nada se ganhando com esta. Pelas razdes ja apontadas, a adequacao formal deve sujeitar-se aos principios estruturantes do processo civil, sem necessidade de qualquer nova previsao legal expressa. E, pois, redundante ©, como tal, supérfluo, o segmento “ouvidas as partes” constate da letra do Projecto (art. 7°, n1). Quando nao for “manifestamente desnecessério”, esta audicao ¢ jé imposta pela norma contida no art. 32, n 3. Diga-se, a este propésito, que diversos casos de adequagéo formal sem prévia audigdo das partes podem ser configurdveis, sendo o mais emblematico o de prolagéo de despacho liminar, visando uma tramitagdo mais eficiente — para um convite ao aperfeigoamento da petigao inicial ou convocando uma tentativa de conciliagao, por exemplo. 7 ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Todavia, importa ter presente que os principios aos quais a adequagao formal se deve subordinar tém dignidade constitucional, estando dotados de uma forga juridica reforgada, nao admitindo restrigbes que nao se atenham ao estritamente necessério & salvaguarda de outros direitos constitucionalmente protegidos, pelo que, evitando-se a redundancia da sua previsao (jé liminarmente inserida no cédigo), deveré ser convocada a garantia de um processo equitativo como fim e limite da adequagao formal 15. Recortibilidade das decisdes de gestio processual e de adequacao formal Estabelece-se no Projecto a irrecorribilidade das decisdes de gestdo processual e de adequagao formal. Esta solucao entra em contradi¢ao com a natureza rica destes institutos ¢ é contraproducente. A. gestdo processual é um instituto abrangente e complexo, integrado por normas, estrutural e funcionalmente muito diferentes entre si, Nao tem na norma agora inscrita no eédigo 10 seu alfa ¢ 0 seu mega. A organizacao de uma base instrutéria ~ ou de instrumento equivalente = ou a designagéo da data para a realizacao de uma diligéncia séo actos de gestéo processual tipificados na lei. Ora, se nao hé norma geral que impega a reapreciacao por um tribunal superior dos actos de gestio processual tipificados, por que raz8o os despachos que operam a gestio admitida nesta norma (qual ferramenta multiusos que dota o processo de uma elevada plasticidade, podendo afectar a tutela da seguranga e da certeza juridica) sdo irrecorriveis? Pretendendo-se que estes institutos resolvam, ¢féctioamente, alguns dos problemas relevantes que 0 proceso coloca aos seus intérpretes, nao podem as decisdes tomadas deixar de ser recorriveis. Se a impugnagao for infundada ou irrelevante a gestao (ou a adequacio), o tribunal superior o diré (ja depois de findo 0 processo na primeira instancia); mas se for fundada, no pode uma decisio que afecta a justa composicao do litigio deixar de ser recorrivel. A nao ser que se entenda que esta sorte de decisdes nao afecta (ndo pode afectar) o desenvolvimento da instancia, sendo tendencialmente inécuas - assim se despindo os institutos em andlise de qualquer utilidade ow relevancia, Assim seré, até mesmo porque, nao faltando quem, sinalizando 18 we, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA que a irrecorribilidade € normalmente reservada para as decisdes tendencialmente inécuas, conclua que estes institutos apenas sio aplicaveis a questes quase itrelevantes, deve o legislador evitar 0 surgimento deste bordéo interpretativo, se quer que uma nova abordagem do proceso vingue e encontre facilmente 0 seu espago. Por outro lado, os critérios de conveniéncia e de oportunidade aqui presentes, quer na gestio processual, quer na adequacdo formal, so critérios que, estando suficientemente densificados pelo legislador (v.g., inadequagao da forma legal geradora da conveniéncia) ou sendo objectivamente densificdveis (vg, susceptibilidade do acto adoptado satisfazer os fins pretendidos), envolvem uma porderacio técnica, orientada pelos fins do acto e do processo, informada pelos seus principios gerais, perfeitamente sindicdvel por uma instancia superior. A actividade de gestdo processual ou de adequacao formal permitida por estas normas nao ¢ (nao deve ser) exercida ao abrigo de um “poder discriciondrio”. Também por aqui se conclui que a inimpugnabilidade prevista no Projecto ndo é aceitavel. Se, com o estabelecimento da irrecorribilidade, o que se pretende é incentivar a actividade do tribunal nestes dominios, devemos ter presente que o recurso de uma decisiio de gestio processual (ou de adequacio formal) rao emperra 0 proceso, considerando que a impugnacao destas decisdes apenas poderd ser feita com o recurso interposto da senten¢a final. Nao se pense, pois, que a irrecorribilidade afasta uma putativa resisténcia & gestio ou & adequacao formal, fundada no receio de com estas se complicar a tramitagao da causa. Alias, em geral, oferecendo aqui um testemunho pessoal, a recorribilidade de uma decisao nao inibe 0 juiz de primeira instancia de a proferir; assim como nao o estimula a sua irrecorribilidade. Se o que se pretende é evitar que a segunda instancia seja sobrecarregada com os recursos destas decisdes, devemos estar conscientes de que a irrecorribilidade nao vai impedir as partes de recorrerem... alegando que a norma nao cauciona a decisio proferida, e o tribunal superior de conhecer 0 recurso, quando detecte uma injustiga grave (ainda que causada por um despacho claramente abrangido pela letra das normas em anélise). Ou seja, ainda que, inicialmente, as virtualidades destes institutos sejam amplamente aproveitadas pelos tribunais de primeira instancia, a irrecorribilidade das decisées acabaré por conduzir ao seu esvaziamento: se 0 juiz 19 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA decidir mal uma questo relevante ao abrigo destas normas gerais, 0 tribunal superior, na que a norma nao habilita 0 juiz a tentativa de sanar a injustica (aceitando o recurso), 1a decidir como decidiu ~ reduzindo-se paulatinamente o campo de aplicagao destes institutos. Em conclusdo, a irrecorribilidade prevista no projecto comprometeré o sucesso da mais relevante reforma gizada no Projecto: por um lado, nao se coaduna com a natureza rica ¢ relevante destes institutos; por outro lado, dir-se-4 na doutrina que, sendo irrecorriveis os despachos que as promovem, a gestio e adequacio formal ndo podem ter o Ambito e as potencialidades que a letra da lei parecem perm por ultimo, j do lado da jurisprudéncia, se a decisio claramente proferida ao abrigo destes institutos afectar gravemente a justa composigio do litigio, 0 tribunal superior tenderd a conhecer do recurso, nem que para isso tenha de os reduzir a uma insignificancia (um Ambito) ndo desejada pelo legislador. 20 Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, 2. Analise do articulado Projecto Lei actual Art.32 Necessidade do pedido e da contradigao Nevessidade do pedido e da contradigio n£3 0 juiz deve observar e fazer cumprir, a0|(...) nao the sendo licito, salvo caso de longo de todo 0 proceso, 0 principio do| manifesta desnecessidade, decidir contraditério, nao Ihe sendo licito decidir| questées de direito ou de facto (...) questdes de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem, } E suprimida a expressao “salvo caso de manifesta desnecessidade”. A alteragao é, a todos 6s titulos, incompreensivel. Se a lei vigente nao fizesse esta ressalva, sempre a sua melhor interpretacZo seria no sentido de a norma a admitir. A supressao agora proposta tem, no entanto, © inequivoco sentido de afirmar que, mesmo nos casos de manifesta simplicidade, haverd sempre que oferecer 0 contraditério prévio. Ora, das duas uma: ou nunca ha casos de manifesta simplicidade - e a referéncia ¢ supérflua, mas também é initil a sua eliminacao -; ou ha casos de manifesta simplicidade, nao se alcangando, entao, a razao de ser do contraditério prévio. A maior parte dos despachos proferidos pelo juiz sio, na verdade, para estes efeitos, de manifesta simplicidade. Tomem-se os seguintes exemplos: 4@) Ao proferit 0 despacho de admissio do recurso, o juiz repara que a assinatura digital da sentenga falhou no sistema Citius. Decide assinar a sentenga (art. 616.%, n* 1, al. a), © 2, do Projecto). Esta decisdo deve ser precedida de contraditério? b) E aberta concluso ao juiz num apenso (habilitagio de herdeiros, por exemplo), constatando ele que o incidente em causa deve ser tramitado nos autos principais (art. ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. 3568, n# 1, do Projecto). Decide mandar incorporar este expediente nos autos principais. Esta deciso deve ser precedida de contraditério? ©) Designada uma data para “ajuramentacao” dos peritos, um deles vem requerer que 0 seu compromisso seja prestado por escrito (art. 481.2, n.°3, do Projecto). O juiz decide autorizar. Esta decisao deve ser precedida de contraditério? 4) Recebido o relat6rio pericial, o juiz entende que ¢ iitil a sua apresentagio em suporte digital - para poder aproveitar alguns excertos para a fundamentacio de facto da causa. Ordena aos peritos que o facam. Esta deciséo é ilegal, por nao ter sido precedida de contraditério? ©) A secgao sinaliza ao juiz que uma das duas cépias do registo da prova ficou irremediavelmente estragada. O Juiz manda fazer uma nova cépia, a partir daquela que nao esta corrompida. Esta decisio ¢ ilegal, por nao ter sido precedida de contraditério? P Depois de concluida a diligéncia, o perito pede que Ihe seja arbitrada a remuneragao prevista na tabela prépria. O juiz defere o requerimento. Esta decisao ¢ ilegal, por nao ter sido precedida de contraditério? 8) Nao tendo o réu contestado, o juiz constata que a citagao nao foi regularmente feita (art. 567.° do Projecto). Manda repetir 0 acto. Deveria ter oferecido 0 contraditério prévio? h) Finda audiéncia de julgamento, 0 proceso é feito concluso ao juiz. Este entende que & chegada a hora de proferir sentenga. Decide fazé-lo (art. 607.°, n! 1, do Projecto). Deve consultar previamente os advogados, para ver se concordam com a decisio de proferir sentenca? E, ad absurdum, deve antes consulté-los sobre a decisio de dever consulté-los? Um juiz profere por dia dezenas de decisdes manifestamente simples (para estes efeitos). Por ano, talvez milhares. Multi indo estes mimeros pelo universo de juizes, rapidamente concluiremos que a alteracio legislativa agora proposta é insustentével, pela initil demora processual que gerard, 22 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Art.6* Poder de directo do processo e principio do| Poder de direccito do processo e principio do inguisitério |impustrio (265) corresponde, no essencial, ao actual | corresponde, no essencial, ao Projecto Conforme decorte da exposigao introdutéria a andlise do Livro I, nao se justifica a cisio entre o poder de direcgéo do proceso e o dever de gestio processual. Diferentemente, justifica-se a autonomizagio sistematica do principio do inquisitéris Existe uma excessiva confusio entre © principio do inquisitério e 0 poder de direcgao do Proceso, sendo que este serve muitos outros principios e deveres processuais. Por tiltimo, deve ser revista a arrumacao sistematica destas matérias, nos termos referidos nha introdusao. Axt.7.° Principio da adequagio formal | Principio da adequago formal (265.-A) nel Quando a tramitacao processual prevista na | Quando a tramitagio processual prevista lei ndo se adequar as especificidades da|na lei nao se adequar as especificidades causa ou nao for a mais eficiente, deve o/da causa, deve o juiz oficiosamente, juiz, oficiosamente, ouvidas as partes, |ouvidas as partes, determinar a prética determinar a pritica dos atos que melhor se| dos actos que melhor se ajustem ao fim ajustem ao fim do proceso, bem como as|do process, bem como as necessirias necessérias adaptaces. adaptagdes, plac adap Admite-se, na norma contida no n° 1, uma segunda hipétese de adequacao formal: “Quando a tramitagéo processual prevista na lei (...) nao for a mais eficiente”. Impée-se agora ao juiz que assuma um outro desempenho processual. Dever ele Ponderar as diversas respostas para o repto processual e escolher, de entre as eficazes, a mais, eficiente, Devera procurar a solucao que, proporcionando 0 efeito pretendido (eficdcia), permite um menor dispéndio de meios ou de tempo (eficiéncia). $6 assim revelara o juiz. uma visio critica 23 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. das regras, assumindo a efectiva gestéo do processo. Trabalhando apenas com os conceitos de eficdcia, de adequagao e de utilidade, dir-se-4 que ndo basta que 0 acto praticado seja eficaz, itil e adequado: tem de ser 0 mais eficaz, o mais iitil e o mais adequado. A legalidade das formas processuais, j4 enquanto regra ~ e nao enquanto principio intangivel, ferindo de nulidade qualquer desvio ao guido legal -, a admitir desvios, nio é abandonada. Ha uma (prévia) forma legal processual a seguir, por regra, sem prejuizo do cumprimento do dever de gestio processual, aqui na iniciativa da adequagao formal, nos moldes referidos. Assegurando-se no Projecto a pré-existéncia de uma forma processual completa (0 Proceso comum tinico) ~ e, com ela, as partes, de um elevado grau de certeza e de Previsibilidade do rito processual, bem como, ao juiz, de um conjunto claro de normas orientadoras da sua gestao -, admitem-se agora, com a mera introdugdo do segmento “ou nio for a mais eficiente”, desvios & forma legal (mesmo nao totalmente desadequada), devidamente justificados. A alteracao € positiva, embora, como se referiu na exposigéo introdutéria a andlise do Livro |, se proponha uma diferente configuragao da norma e da sua localizacéo. #2 Em qualquer estado da causa, quando| Dever de gestio processual (art. 2°, al, a), entendam que a tramitacao processual nio| do RPCE) ~ © juiz dirige 0 processo, se adequa as especificidades da causa ou| devendo nomeadamente: a) Adoptar a nao € a mais eficiente, as partes podem| tramitago processual_ adequada as. requerer a pratica dos atos que melhor se]especificidades da causa ¢ adaptar o ajustem ao fim do proceso, bem como as | contetido e a forma dos actos processuais necessarias adaptacées. | 0 fim que visam ating. Estabelece-se que a adequacéo formal prevista no n° 1 pode partir da iniciativa das Partes. Ainda que a norma nao o previsse, sempre estaria ao alcance das partes requerer a adequacao prevista no n.° 1, Todavia, pela sua abrangéncia, pode ter a utilidade de enfatizar que 24 7, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA © principio da adequacao formal nao é mais, doravante, uma ferramenta destinada a corrigir as insuficiéncias do processo comum para determinadas causas, resultantes do desaparecimento de um ou outro processo especial ~ fungao que vinha sendo atribuida a esta norma, apés a reforma de 1995/1996, R23 Nao € admissivel recurso das decisdes| novo proferidas no Ambito do disposto nos néimeros anteriores, | Sobre a inconveniéncia desta norma, veja-se 0 que se deixou escrito na introducao. Reitera- ‘se que a sua consagragio comprometerd toda a reforma gizada no Projecto, em matéria de consagragio de um efectivo dever de gestio processual e de robustecimento do principio da adequacio formal. Axt.8 Principio da gestio processual Dever de gestao processual (2." RPCE) m1 © juiz dirige ativamente © proceso, |O juiz dirige 0 proceso, devendo determinando, apés audigao das partes, a|nomeadamente: (...) b) Garantir que nao adogao dos mecanismos de simplificagéo ¢| so praticados actos intiteis, recusando 0 agilizagdo processual que, respeitando os|que for impertinente ou meramente Principios da igualdade das partes ¢ do| dilatério; c) Adoptar os mecanismos de contraditério, garantam a composigio do| agilizacio processual previstos na lei. litigio em prazo razoavel. A gestdio processual deve ser consagrada como um dever, e néo um principio, de forma a deixar bem claro ao juiz que se the exige uma atitude activa na condugio do processo, nao se tratando de um principio meramente orientador ou programatico A introdugao da ideia de gestio processual é positiva, embora, como se referiu na exposicao introdutéria a analise do Livro I, seja adiante proposta uma diferente configuracio da 25 ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA n82 Nao & admissivel recurso das decisdes| novo proferidas com base no disposto no niimero anterior, Sobre a inconveniéncia desta norma, veja-se o que se deixou escrito na introdugao. Reitera- se que a sua consagragiio comprometeré toda a reforma gizada no Projecto, em matéria de consagracao de um efectivo dever de gestio processual e de robustecimento do principio da adequagao formal. Art. 14.* Causas de impedimento nos tribunaiscoletivos |Causas de impedimento nos tribunais colectivos (124.°) n°2 Tratando-se de tribunal _coletivo _ de | corresponde ao Projecto ‘comarca, dos juizes ligados por casamento, parentesco ou afinidade a que se refere o niimero anterior, interviré unicamente o presidente; se o impedimento disser respeito somente aos adjuntos, intervird 0 ‘mais antigo, salvo se algum deles for o juiz da causa, pois entio é este que intervém. n23 Nos tribunais superiores 56 intervird o juiz | corresponde ao Projecto que deva votar em primeiro lugar. | Justifica-se a alteracdo dos n.% 2 e 3, pois deixa de existir tribunal colectivo de comarca Nio faz sentido manter uma norma deste tipo, instrumentalizando 0 Cédigo de Proceso Civil, apenas porque ele é aplicado subsidiariamente a outros ramos de direito processual. Este diploma quer-se escorreito, simples e ao servigo do seu objecto privativo. 26 ae, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. Estas duas normas poderdo ser condensadas numa: “dos juizes ligados por casamento, Parentesco ou afinidade a que se refere 0 mimero anterior, nao intervira o juiz com menor antiguidade de servigo, salvo se lhe competit a elaboracao do acérdao, caso em que ndo intervira aquele que o antecede em antiguidade” Art. 81.2 Competéncia exclusiva dos-_—_tribunais |Competéncia exclusiva dos __tribunais. portgueses ortugueses (65.-A) Portus p al.e) Em matéria de insolvéncia relativa a] Os processos especiais de recuperagao de pessoas domiciliadas em Portugal ou a|empresa e de faléncia, relativos a pessoas pessoas coletivas ou sociedades cuja sede | domiciliadas em Portugal ou a pessoas esteja situada em territério portugués colectivas ou sociedades cuja sede esteja ituada em territério portugués (al. d)) A alteragao projectada nao se harmoniza com a actual previsio, no Cédigo da Insolvéncia © da Recuperago de Empresas, de uma instancia processual auténoma, com a designagio de “procedimento especial de revitalizagao” (arts. 1, n.° 2, € 17!-A a 17.-I do CIRE), Procedimentos com esta finalidade (como 0 “Concordato preventivo” ou a “Concordat préventif”) esto abrangidos pelo Regulamento (CE) n.° 1346/2000 do Conselho, justificando-se que o artigo em anélise preveja a nova tealidade processual prevista no CIRE. Sugere-se, em conformidade, que a norma reze: “Em materia de insolvéncia ou de revitalizagao do devedor (...)’ Art, Competéncia para a execugiio fundada em|Competéncia para a execugio fundada em 102% sentenga sentenga (90.°) nel Para a execugdo que se funde em decisdo | Para a execugao que se funde em decisao proferida por tribunais portugueses, é| proferida por tribunais portugueses, 6 competente o tribunal em que a causa tenha| competente o tribunal do lugar em que a sido julgada em 1 usa tenha sido julgada, 27 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. —— eee n22“corresponde ao actual corresponde ao Projecto n23_ “sem correspondéncia A execugio corre por apenso, excepto quando, em comarca com competéncia executiva especifica, a sentenca haja sido proferida por juizo de competéncia especializada civel ou de competénci genérica e quando o proceso tenha entretanto subido em recurso, casos em que corre no traslado, sem prejuizo da possibilidade de © juiz da execugio poder, se entender conveniente, apensar a execugio 0 processo ja findo, Decorre da alteragao proposta e das alteragdes previstas para o art. 627." que o tribunal competente para a execucio ¢ o tribunal que proferiu a decisio, ainda que nessa circunscrigéo estejam instalados juizos de competéncia especializada civel. A razao de ser desta opcao nao é suficientemente explicada na exposigio de motivos Preambular. Ai se refere que a alteragdo visa aumentar a celeridade da execug3o, mas nao se explica por que razo é que se considera que a execugao é mais célere nos juizos civeis do que nos juizos de execucao. Estamos perante uma opcio incongruente, em clara contracorrente com a reforma do ‘mapa judicidrio e com a crescente especializagao dos tribunais ~ promotora, essa sim, de uma maior eficiéncia e celeridade. Dir-se- que os juizos especializados, os juizos de execugio, tém excesso de servigo. Aceita-se que assim seja. Todavia, uma redistribuicao contranatura de tarefas nao pode ser a solugao, As causas devem ser tramitadas pelos tribunais materialmente especializados no seu tratamento, devendo estes, se houver caréncia, ser devidamente reforcados com os meios necessarios, Nao tem qualquer sentido atribuir a um tribunal competéncia para uma determinada 28 Ad CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA questdo, apenas porque nao se dotou o tribunal naturalmente mais vocacionado para a causa de recursos suficientes. Recorde-se, por tiltimo, que foi recentemente operada um reorganizagio do mapa judicidrio nas duas maiores cidades do pais, designadamente, ajustando-se os quadros dos tribunai civeis ao volume dos processos entrados, resultante do Ambito de competéncias actualmente existente ~ cft. o Decreto-Lei n2 113-A/2011, de 29 de Novembro, Ora, com a alteragao agora proposta, aumenta a competéncia material dos juizos civeis das duas maiores cidades do pais ~ cujos quadros, repete-se, nao foram ajustados para esta nova realidade -, aumentando, consequentemente, o volume de trabalho. A esta circunstancia deve ser somada a projectada restri 10 do nuimero de titulos executivos (art. 704: do Projecto), que obriga © recurso pelo credor & acgao declarativa para formacio do titulo, Gragas a solucdes de improviso como aquela que agora se analisa, a breve prazo, os tribunais civeis das duas maiores cidades do pais poderio estar completamente paralisados. Art. Casos de incompeténcia absoluta Casos de incompeténcia absoluta (101.4) 1138 al.a) A infragdo das regras de competéncia em|A infraccao das regras de competéncia razao da matéria e da hierarquia e das}em razo da matéria e da hierarquia e regras de competéncia internacional. das regras de competéncia internacional, salvo quando haja mera violagio de um pacto privativo de jurisdi¢ao, determina a incompeténcia absoluta do tribunal. A violagdo de pacto privativo de jurisdicao deixa de estar excluida do elenco dos casos de incompeténcia absoluta. E esta a conclusdo a retirar da alteracao do texto legal analisado, bem como da alteracao da norma agora inserida no art. 114, n! 1 Todavia, resulta do disposto no art. 119. do Projecto que a infracgio das regras de competéncia decorrentes do estipulado nas convengdes previstas no art. 111. (pactos privativo e 29 ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA atributivo de jurisdigao) também determina a incompeténcia relatioa do tribunal. A incoeréncia deve ser rectificada. Art. Efeito da incompeténcia absoluta Efeito da incompeténcia absoluta (105.*) 116.2 n22 Sea incompeténcia for decretada depois de|Se a incompeténcia sé for decretada findos 0s articulados, podem estes | depois de findos os articulados, podem aproveitar-se desde que 0 autor requeira, {estes aproveitar-se desde que, estando as no prazo de dez dias a contar do transito| partes de acordo sobre o aproveitamento, em julgado da deciséo, a remessa do|o autor requeira a remessa do processo proceso ao tribunal em que a ago deveria| ao tribunal em que a accao deveria ter ter sido proposta, sido proposta. A posigio do Conselho Superior da Magistratura sobre o efeito da incompeténcia absoluta ja se encontra expressa no parecer anteriormente emitido. ‘Com a nova redaccio do art. 113.° (Casos de incompeténcia absoluta), a violagao do pacto privativo de jurisdigéo passa a constituir um caso de incompeténcia absoluta. Quando era considerado um caso de incompeténcia relativa, estava previsto no art, 111.%,n.°3, agora também alterado (art, 122%, n? 3, do Projecto), que a procedéncia da excep¢ao, ao contrario do que é regra na incompeténcia relativa, ndo determinava a remessa para o tribunal competente, havendo, sim, lugar absolvicdo da instdncia, Esta solucao é a tinica aceitavel ~ “por ser impensdvel a remissio para o tribunal estrangeiro competente” -, ndo se compreendendo por que razao nao transitou, ‘como deveria ter transitado, para o artigo em andlise, O que acaba de se desenvolver vale para a preterigao do tribunal arbitral, tanto mais que este tribunal pode ndo estar sequer constituido. Deve, pois, ser aditado um n# 3 a0 art. 1052, no qual conste que cessa 0 disposto no rniimero anterior nos casos de violacao de pacto privativo de jurisdigao e de preteri¢ao do tribunal arbitral. 30 * CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Art. Pediido de resolugio do conflito Pedido de resolugio do conflito (117.") 128 corresponde ao actual | corresponde ao Projecto Nao se tratando de um conflito positivo, nada obsta a que 0 processo de resolugao corra nos préprios autos, o que se propae. 31 Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Livro Il - DO PROCESSO EM GERAL 1. Introdugio As alteragdes introduzidas nas normas do Livro II sio caracterizadas pelo reforgo de uma ideia de accountability imposta ao tribunal e pelo incremento da celeridade processual. Estamos perante inovagd {que se inserem nos compromissos assumidos no Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Politica Econémica, estabelecido entre 0 Governo portugues, a ‘Comissio Europeia, o Banco Central Europeu e 0 Fundo Monetério Internacional, em 17 de Maio de 2011. Neste pode ler-se: “7.13. 0 Governo ira rever 0 Cédigo de Processo Civil e prepararé uma proposta até ao final de 2011, identificando as areas-chave para aperfeigoamento, nomeadamente i) i) reduzindo a (i) consolidando legislagio para todos os processos de execugio presentes a tribunal; conferindo aos juizes poderes para despachar processos de forma mais célere; carga administrativa dos juizes e; (iv) impondo o cumprimento de prazos legais para os processos judiciais e em particular, para os procedimentos de injungao e para processos executivos e de insolvéncia”, ‘A primeira das preocupagées acima referidas esta presente no dever da secretaria justificar 8 seus atrasos perante 0 juiz (art. 164.2, n° 4, do Projecto), do tribunal deprecado justificar violagao do prazo de cumprimento da carta perante o tribunal deprecante (art. 1784, n.° 4, do Projecto) ¢ de o juiz. explicar 8s partes as razdes dos atrasos mais intoleraveis (art. 1585, n° 3, do Projecto). Os propésitos sio louvaveis, embora a sua satisfacdo possa nao ser obtida através das solugées propostas, como adiante se desenvolve em comentario as concretas normas projectadas. ‘A segunda marca caracterizadora da reforma deste livro esta presente, sobretudo, na certissima eliminagao da figura da interrupeao da instiincia, Nao se compreende que, nos dias de hoje, se tenha de aguentar largos meses de negligencia do autor para que o processo se extinga. Este retardamento tem custos elevados — nao s6 na imagem da justica (puxando a estatistica da duragéo dos processos para niimeros muito elevados), como de organizagio das secqBes (espaco, 32 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. gestdo de alarmes e controlo dos movimentos). Se 0 cidadao tem o direito de recorrer a tribunal, também tem 0 dever (nao apenas o énus) de o fazer de um modo responsavel, o que implica que seja diligente. Justifica-se que o “abandono” negligente determine a desercdo da instancia ao fim de meio ano, A unificagao do processo comum declarativo sera comentada na introducio a andlise do Livro II, embora esteja prevista no fim do Livro IL. 2. Anilise do articulado do Projecto Projecto Lei actual Art, “Apresentagio a juizo dos atos processuais ‘Apresentagio a juizo dos actos processuais 146" (150.4) corresponde ao actual corresponde ao Projecto O sistema Citius, como é sabido, pode nao facilitar a vida do autor do acto processual. A sua grande vantagem esta em permitir sempre aos destinatérios do acto um mais facil acesso a0 seu contetido ~ quer porque permite o acesso online ao processo electrénico, quer porque permite 1 esses destinatarios copiar 0 contetido do acto alheio, utilizando-o nas suas pecas (0 juiz que copia os articulados para a base instrutéria ou a parte que cita a sentenga nas alegacdes de recurso, por exemplo). Nao estando um sujeito processual obrigado praticar o acto via Citius, nao © fard, sempre que entenda que existe outra via mais simples para a pritica do sew acto. Na comarca do Porto, a obrigatoriedade da prética dos actos da parte através do sistema Citius jA vigora hé mais de um ano (para toda a comarca), sem engulhos ~ isto por forca do alargamento da vigéncia do RPCE a toda a comarca. Nalguns tribunais, esta obrigatoriedade ja existe hd mais de 6 anos, sempre sem que ela tenha causado qualquer perturbagao processual Nos tribunais em que 0 uso do sistema Citius nao é obrigatério, a esmagadora maioria dos advogados usa-o. E rarissimo o processo em que tal nao acontece. Sendo consequente com a sua opcdo inicial (de desmaterializagao do processo civel), 33 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. chegou a hora de o legislador colocar a pedra de fecho da abdbada, impondo a sua obrigatoriedade a todos os profissionais forenses. De fora ficam apenas as partes que litigam sem ppatrono (quando o possam fazer), j4 que a portaria que concretiza este regime nao regulamenta esse caso. Serd apresentada uma proposta de redaccdo alternativa deste artigo, bem como, por consequéncia, do art. 150.° (Exigéncia de duplicados). Art. Dever de fundamentar a decisito Dever de fundamentar a decisiio (158.* 1562 n®2 “A justificagao nao pode consistir na simples | A justificagao nao pode consistir na adesio aos fundamentos alegados no|simples adesio. aos fundamentos requerimento ou na oposigio, salvo em|alegados no requerimento ou na casos de manifesta simplicidade, oposigio. Alteragio positiva. Todavia, poder-se-ia ter ido um pouco mais longe, admitindo que a justificagio pode consistir na simples adesio também nos casos de no oposigio da contraparte. ‘Ainda que 0 caso nao seja manifestamente simples, quando a no impugnacio dos factos que sustentam o pedido nao pode significar a auséncia de controvérsia ~ isto é quando nao ha efeito cominatorio para a revelia ou quando a questao a tratar é predominantemente de direito -, deve também ser permitido ao juiz fundamentar a decisio por mera adesio. Pense-se no caso de uma simples accao para cumprimento de uma obrigagdo pecuniéria, onde o réu haja sido citado editalmente, ou num pedido incidental para alterar uma medida adoptada pelo tribunal. Esta ampliagio da fundamentagao per relationem foi testada com sucesso no RPCE (art. £4, do DL n 108/206), sendo por nés proposta. Art. 1572 ee, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. Gravagio da audiéncia final ¢ documentagao dos demais atos presididos pelo juiz Documentagio dos actos presidides pelo juiz. (159.9); Registo dos depoimentos prestados em audiéncia final (522.*-B); Forma de gravagio (5225-0) ‘A audiéncia final de agdes, incidentes e procedimentos cautelares. ¢ sempre gravada, devendo apenas ser assinalados na ata 0 inicio e 0 termo de cada depoimento, informagio, esclarecimento, requerimento respetiva _ resposta, despacho, decisao ¢ alegagées orais. ‘As audiéncias finais e os depoimentos, informages_e esclarecimentos _nelas, prestados so gravados sempre que alguma das partes 0 requeira, por ndo prescindir da documentacio da prova nelas produzida, quando o tribunal oficiosamente determinar a gravagio & nos casos especialmente previstos na lei. (art. 522.°-B) Quando haja lugar a registo dudio ou video, devem ser assinalados na acta o inicio e 0 termo da gravacio de cada depoimento, informagao ou esclarecimento, de forma a ser possivel uma identificagio precisa e separada dos ‘mesmos. (art. 522%-C, n22) Estabelece-se a obrigatoriedade da gravacao da audiéncia final. Como regra é de aplaudir (conjugando-se com o fim do colectivo), mas tem de abrir excepedes. Tem de ser possivel dispensar a gravagio, ao menos como acto de boa gestio processual, nos casos de manifesta simplicidade ou quando 0s meios de gravagio nao estiverem disponiveis, sempre com o acordo das partes. O recurso sobre a matéria de facto é um direito do qual as partes podem prescindir. Neste caso, se 0 tribunal nao carecer da gravagio, deverd ser possivel dispensé-la. Estabelece-se, ainda, que toda a audiéncia é gravada, nao estando apenas em causa a 35 AJ CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA documentagzo da prova nela produzida, A solugao peca por excesso, sendo contraria aos propésitos da reforma de dotarem o processo de maior agilidade e simplicidade. Se 0 que se pretende é agilizar a audiéncia, nos casos em que sio ditados para a acta extensos requerimentos € respectivas respostas, ou “compensar” o fim das alegacées de direito por escrito, dever-se-ia ter confiado num instituto muito mais vocacionado para fazer face a este tipo de problemas ~ a gestdo processual, promovendo uma adequacao formal -, no lugar de se solenizar rigidificar o tito processual. ‘Ao contrario de agilizar 0 processo, a alteragéo proposta tendera a complicar inutilmente as cattsas mais simples ~ que nao admitem recurso e onde nao sao feitos muitos requerimentos durante a audiéncia -, sendo que estas constituem a maioria dos processes declarativos instaurados em Portugal. A indisponibilidade de meios de gravacao, a irregularidade do registo e a arguicao desta e a necessidade de imediata prolacdo de despachos exaustivos, formalmente acabados (e Go apenas do seu teor essencial, devidamente explicado, deixando para o momento da composigao da acta os acertos formais necessérios), por exemplo, conduzirio a uma maior complexidade e a uma maior demora na decisio da causa. Propée-se, em conformidade, uma restrigéo do contetido normal da gravacdo ~ a prova produzida -, sem prejuizo de se admitir a gravago das alegagdes, a requerimento do mandatario. Nada se deverd prever especialmente, e com detalhe, sobre a gravacio de requerimentos, respostas ou despachos, quando ela contribua para aligeirar a audiéncia, deixando aqui funcionar os institutos da adequagao formal e da gestéo processual. Em coeréncia com © proposto, recupera-se a localizacio das notmas respeitantes a0 registo dos depoimentos (inserindo-se no Titulo respeitante a instrugao), ndo se confundindo com as que versam sobre a elaboragao da acta. Art. Prazo para os atos dos magistrados Prazo para os actos dos magistrados (160.8) 1582 nl Na falta de disposigao especial, os [Na falta de disposicao especial, 05 despachos e decisdes judiciais so |despachos judiciais ¢ as promogées do 36 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA "proferidos no prazo de 10 dias. [Ministério Piblico sao proferidos no prazo de 10 dias. n22 Os despachos ou promogées de mero |corresponde ao Projecto expediente, bem como os considerados urgentes, devem ser proferidos no prazo maximo de dois dias n23_ Decorridos trés meses sobre o termo do| novo prazo fixado para a pratica de ato proprio do juiz, sem que o mesmo tenha sido praticado, deve o juiz consignar a concreta razao da inobservancia do prazo. n°4 Na falta de disposigdo especial, _as| (compreendido no n# 1) promogées do Ministério Piiblico sao deduzidas no prazo de 10 dias. As expresses “despachos” ¢ “dei s judiciais” (n2 1) so algo redundantes, se tivermos presente que se prev um prazo especial para a prolagio da sentenca e a dicotomia presente no art. 1542, n 1, do projecto, A ordem das normas contidas nos n.% 2 e 4 é incorrecta: deve partir-se do geral (n. 4) para o especial (n.° 2) ‘A norma contida no n° 3 ¢ aceitével, compreendendo-se que o juiz preste contas do seu atraso perante as partes. Todavia, dever-se-d ter presente que esta “consignagao” serd feita na conclusdo que se encontre aberta (ha trés meses) para decisdo, Notificada as partes, sera aberta nova conclusao, para que a decisao seja oportunamente proferida. Este desenvolvimento processual dificultara a actividade inspectiva do Conselho Superior da Magistratura Por um lado, este 6rgdo recolhe periodicamente informacao junto dos tribunais sobre a existéncia de processos com conclusio aberta ha mais de trés meses. Se for lavrada a consignacdo 37 Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA prevista neste artigo, sera aberta uma nova conclusdo, pelo que, quando for reccbido 0 pedido de informagao do Conselho, a conclusao antiga ja nao estaré aberta, estando sim aberta uma conclusio mais recente, surgida depois da notificacao das partes, com menos de trés meses. Esta consignacao limpa, por assim dizer, as conclusdes abertas ha mais de trés meses. Deveré, pois, 0 Conselho Superior da Magistratura solicitar aos tribunais dados que revelem estas ocorréncias, Por outro lado, os servigos de inspecgao servem-se dos livros de registo de sentengas para detectarem os atrasos mais relevantes na prolagao das decisdes finais, confrontando as conclusdes que as precedem com as datas de assinatura. Ora, a consignagdo em anélise limpard a “antiga” conclusdo para sentenga, substituindo-a por uma nova conclusio, sendo sobre esta que o juiz proferird a decisao final, No respectivo livro de registo, os servigos de inspecgao encontrardo uma sentenga proferida sobre uma conclusio aberta ha poucos dias. (O projectado novo regime da continuidade da audiéncia final no afasta esta ordem de consideragdes, desde logo porque pode haver lugar & prolagao da sentenga sem que tenha havido audiéncia final). Art. Fungao e deveres das secretarias judiciais Funcio ¢ deveres das secretarias judiciais 159 (161) “corresponde ao actual corresponde ao Projecto Uma proficua gestéo processual s6 pode ser realizada pelo juiz que nao se limita a despachar 0s processos que diariamente Ihe sd colocados sobre a secretéria, mas antes que orienta a secgdo de processos, proferindo as ordens de servigo apropriadas. Esta realidade deve estar prevista no artigo em anélise, o que se propde, mediante a previsio, no seu n° 2, das “orientagdes de servico emitidas pelo juiz”. Indo mais além, e prevendo que as respectivas leis estatutirias e organicas o venham a consagrar, dever-se-A estabelecer que as secretarias judiciais praticam os actos que Ihe sejam delegados pelo juiz, nos termos da lei. Esta previsdo nao constitui, em si mesma, uma norma habilitadora da delegacio de competéncias ~ sobre matérias que nao constituam reserva de jurisdicao, isto ¢, reserva de juiz, respeitando ainda aos tribunais, enquanto érgao de soberania CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA (v.g., apor de vistos em correicdo, presidir a licitagdes, proceder & mera abertura de propostas ou recolher de autdgrafos, sem prejuizo de o juiz intervir, se alguma questo for suscitada) -, apenas se prevenindo a sua existéncia, Att, Prazos para o expediente da secretaria | Prazos para o expediente da secretaria (166.*) 1642 24 Decorridos 10 dias sobre o termo do prazo| novo fixado para a pratica de ato proprio da secretaria, sem que 0 mesmo tenha sido praticado, deve ser aberta conclusdo com a indicagio da conereta.razio da inobservancia do prazo. Nao se vé qual ¢ a utilidade da norma em anilise. Pelo contratio, sio varias as contra- indicagdes. Se o juiz nao esta funcionalmente subordinado a outra entidade, pelo que se compreende que preste contas as partes nos préprios autos (art. 1582, n 3, do Projecto), 0 mesmo jé nao se podera dizer da secretaria judicial. E desprovido de sentido pretender-se que a entidade funcionalmente subordinada ao juiz se sitva dos autos para prestar contas do seu desempenho. Nao ¢ para isso que o processo serve. Esta sua instrumentalizacao — com propésitos disciplinares? — contraria os fins de agilizacao e de simplificagao processuais presentes na projectada reforma do Processo Civil A abertura desta conclusio (acompanhada da informacao) representa uma actividade acrescida, isto &, de uma actividade processualmente inconsequente que ocupara a secretaria ~ que deveria estar ocupada a recuperar o atraso ~e 0 titular do processo. O juiz deve gerir a secgdo de processos, com proximidade, e, detectando algum atraso anémalo (oficiosamente ou por indicagio de parte), providenciar pela sua superagio. Configurando 0 atraso injustificado um ilicito disciplinar, participaré 0 facto a0 Conselho dos 39 We, CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. Oficiais de Justiga. E este o mecanismo apropriado para combater os atrasos da secretaria judicial O legislador tem que decidir se quer um process mais agilizado e simples, ou quer colocé-lo ao servigo de uma “caga as bruxas’” Propde-se uma redaccao alternativa. Aproveitando a oportunidade, agora ja no que diz respeito a um lugar préximo, de modo a conferir-lhe um maior ambito de aplicacao, evitando interpretagées restritivas, muito assentes na sua historia, propde-se a eliminagao do inciso final do art. 1322 (137. actual) Art. Poder do tribunal deprecado ow rogado Poder do tribunal deprecado ou rogado (184.*) 174s corresponde ao actual corresponde ao Projecto Visando libertar o juiz de tarefas burocraticas (e imiiteis), propde-se que a sua intervencdo no cumprimento de cartas precatérias seja reduzida. J existindo uma ordem do tribunal deprecante para o cumprimento de um acto que ndo cabe ao juiz do tribunal deprecado, ndo se vé como necesséria a intervengao deste, apenas para a reiterar. Tomem-se como exemplo as cartas precatorias para penhora e notificacdo (respeitantes a execugdes anteriores a reforma de 2003), onde ¢ solicitada a intervencao do juiz apenas para despachar “cumpra-se” e “devolva”. Art. Prazo para cumprimento das cartas Prazo para cumprimento das cartas (181.*) 1788 n#3_O juiz deprecante poderd, sempre que se] corresponde ao Projecto mostre justificado, estabelecer prazo mais curto ou mais longo para o cumprimento das cartas ou, ouvidas as partes, prorrogar pelo tempo necessério 0 decorrente do 40 Rd CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA numero anterior, para _o que colheré, mesmo oficiosamente, informagao sobre os motivos da demora. 24 Decorridos 15 dias sobre o termo do prazo | novo fixado para o cumprimento da carta, sem que tal se tenha verificado, deve ser comunicada a0 tribunal deprecante a concreta razdo da inobservancia do prazo. 6 0 tribunal deprecante pode ajuizar sobre necessidade de ser prestada a informacao referida no n2 4, Pode suceder que 0 processo aguarde a pritica de outros actos. Se 0 juiz entender que a informasao ¢ itil, podera solicité-la, como ja decorre don 1 A iniciativa do tribunal deprecado agora prevista insere-se no contexto legiferante que esta na origem dos ja analisados arts. 1582, n.°3, e 164, n2 4, do Projecto (mas também dos arts. 6062, n24, 6138, n2 1, €619.). A semelhanga do que ocorre com a norma prevista no art, 164, n.° 4, do Projecto ~ cuja anélise se da por reproduzida -, estamos perante uma inconsequente instrumentalizacdo do proceso, visando compelir os autores dos actos em falta a praticé-los ~ a obrigatoriedade da revelagio do atraso pode compelir o agente a evité-lo, podendo -, obrigando a pratica de mais actos processualmente intiteis no tribunal deprecante e no tribunal deprecado ~ 0 juiz do tribunal deprecado ordena a abertura de conclusao, com informagao sobre as causa do atraso; a concluséo & aberta; o juiz ordena a participagao ao tribunal deprecante; a secretaria elabora e remete 0 oficio; a secretaria do deprecante recebe 0 oficio; junta o oficio; abre conclusao; 0 juiz despacha (“Visto”, porventura) -, nao servindo os fins do processo judicial concreto. 41 (CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Art. Casos em que & admissivel indeferimento | Casos em que é admissivel indeferimento liminar 2292 liminar (art, 234A) corresponde ao actual corresponde ao Projecto Desde a sua abolicao pela reforma do Processo Civil de 1995/1996, tem-se discutido se a lei tncia, deve consagrar a regra da prolacao do despacho liminar ou, pelo contrario, a da sua inexis Ambas as abordagens nos parecent erradas. A lei nao deve determinar a prolagdo ou a nao prolacao deste despacho. Deve, sim, criar mecanismos (como a gestéo processual, promovendo a adequagdo formal) que permitam ao juiz, apenas quando entenda adequado, proferir tal despacho, no respeito pelos principios liminarmente elencados no cddigo. A apresentagao dos autos ao juiz para que tome conhecimento liminar da acco deve ser por este determinada, em orientagdo de servico genérica por si proferida, dirigida & seccao de processos Esta determinagdo de fonte jurisdicional, a coberto do dever de gestio processual (eatizando uma adequagio formal), tem inegaveis vantagens sobre a expressa consagracdo legal de um despacho liminar necessario. Com efeito, em determinados contextos, pode ser de todo inconveniente a abertura sistematica de conclusdes para que o juiz profira despacho liminar. Tomem-se como exemplo as comarcas nao providas de juiz durante largos meses ou onde 0 volume processual determina um atraso na prolagio de cada despacho de varias semanas. ‘Também nos casos nos quais 0 juiz revela, objectivamente, ser mais eficiente (globalmente mais célere) quando nao tem contacto liminar com os processos deve ser evitada a intervengao inicial. Nos restantes casos, a gestao liminar do processo deverd ser realizada pelo juiz. A oficiosidade da citagao nao se confunde com a desnecessidade da prolagio do despacho liminar. A existéncia do despacho liminar nao briga com aquela oficiosidade. Coexistindo estas duas realidades, se 0 juiz, visto 0 processado, entender que apenas ha lugar & citagao, bem pode despachar apenas “Visto”, pois o processo seguiré oficiosamente os seus tramites iniciais, com a (oficiosa) citagao. Todavia, ocorrendo excepgdes dilatérias insupriveis ou aperfeigoamentos que seja necessario realizar ~ independentemente, neste caso, da oficiosidade a2 ee CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA io -, deverd ser sempre efectuado o saneamento liminar do processo. Propde-se a revogacao da norma em andlise e a alteragao dos actuais arts. 4862 (Prazo para a contestagdo), 508.° (Suprimento de excepgdes dilatérias e convite ao aperfeicoamento dos articulados), 678.2 (Decisdes que admitem recurso) € 685°-C (Despacho sobre o requerimento), bem como da designacao do Capitulo I (Da audiéncia preliminar) ~ que correspondem, no Projecto, aos arts. 570, 591.°, 630.° e 642, respectivamente, e ao Titulo Il (Da audiéncia prévia). Art. Contagem do prazo para a defesa Contagem do prazo para a defesa (250.") nl A citagao considera-se feita no dia da| A citagdo considera-se feita no dia em que publicagéo do antincio. se publique 0 ultimo aniincio ou, nio havendo aniincios, no dia em que sejam afixados os editais. Alteragées de redacgao, fruto da alteracao do art. 243.° (Projecto). Considerando que se vai tocar no artigo, a circunstancia de nao se alterar 0 facto que marca a efectivacdo da citacio reforga a interpretagio literal da norma: a citagao considera-se sempre feita no dia da publicagao do antincio. Todavia, dever-se-ia estipular que a citagéo se considera feita no dia em que se pratique a tiltima formalidade prescrita por lei, 43 Art. 2478 CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA Jung, ao processo, do edital e antincio Jungio, 20 processe, do edital ¢ aniincios (282.%) ‘Ao processo é junta uma cépia do edital e do antincio. Juntar-se-4 ao processo uma cépia do edital, na qual o oficial declararé os dias e 0s lugares em que fez a afixagdo; e colar se-Jo numa folha, que também se junta, (08 aniincios respectivos, extraidos dos jomnais, indicando-se na folha o titulo destes e as datas da publicagéo. Alterages de redaccao, fruto da alteracao dos arts. 248.° a 250.° ¢ 251. Se se consagrar que a cilagdo se considera feita no dia em que se pratique a ultima formalidade prescrita por lei (que pode ser 0 édito), entdo dever-se-4 manter a declaracdo do oficial de justica, esclarecendo em que dia 0 afixou. 249° nel Citagio de pessoas coletioas Citagéo por via postal (236.") Impossibilidade de citagio pelo correio da pessoa colectiva ou sociedade (237.*) A citagao de pessoas coletivas aplica-se, com as necessérias adaptacdes, 0 disposto na subseccdo anterior, com as. exceges previstas nos niimeros seguintes. novo © mimero em analise est imperfeitamente redigido. Inicia-se a subseccio dedicada a0 regime regra da citagio das pessoas colectivas declarando que este regime ¢ constituido por excep gies (sic). Propde-se uma redaccéo alternativa Aparentemente, foi esquecida a actualizacao do art. 225.° (Projecto). 44

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