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Convergência e telejornalismo regional: uma análise dos telejornais (dos

programas Bom Dia) das regiões Nordeste e Sul do Brasil

Alan Milhomem da SILVA


Tatiana de Souza SABATKE
Thaise da Silva Carvalho SERRANO
Mirela Maganini FERREIRA

Resumo
O objetivo deste trabalho é identificar o processo convergente em quatro telejornais
regionais matinais das afiliadas da Rede Globo no Maranhão, na Paraíba, no
Paraná e em Santa Catarina, identificando a adaptação ou indícios do processo de
convergência jornalística entre a televisão e os demais canais da emissora, como os
sites, rádios e redes sociais. Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva e
explicativa, na qual procurou-se analisar o conteúdo dos telejornais com o intuito de
compreender as relações com outros veículos jornalísticos da empresa e a
exploração das possibilidades proporcionadas pela convergência nas suas
dimensões empresarial, tecnológica, profissional, de conteúdo e de audiências.
Como resultado, constatou-se que os telejornais exploram pouco as possibilidades
da convergência e ainda praticam a transposição de conteúdo para os sites e
plataformas de streaming. Levando em consideração outros estudos sobre a
temática, percebe-se que os telejornais analisados são reflexos das lógicas
adotadas pelas empresas locais, que contam com poucas equipes de profissionais e
de recursos para explorar as possibilidades do cenário convergente que
vivenciamos.

Palavras-chave: Convergência. Jornalismo. Telejornalismo regional. Sul. Nordeste.

Introdução

A distância física entre as regiões Sul e Nordeste do Brasil ultrapassa os 2,5


mil quilômetros. Mas do ponto de vista da comunicação, em uma sociedade em rede
(CASTELLS, 2011), pautada na interatividade, esse percurso é rapidamente
transposto com poucos cliques. Este artigo tem como objetivo analisar a forma
como os telejornais estaduais matutinos das afiliadas da Rede Globo nos estados
do Maranhão, Paraíba, Paraná e Santa Catarina colocam em prática a convergência
entre a televisão e os demais canais da emissora, como os sites, rádios e redes
sociais.
Os primeiros estudos sobre convergência iniciaram no fim da década de 70
(RAMIREZ, 2020), e ainda nos dias de hoje são atuais para entender de que forma
as mudanças e o avanço tecnológico interferem nas relações, principalmente entre
sujeitos e mídias digitais. Além disso, as discussões também auxiliam a
compreender o processo de adaptação e renovação que os meios tradicionais,
como rádio e televisão, passam para continuar fazendo sentido em uma sociedade
que tende a viver conectada.
Neste contexto, Jenkins (2009) destaca que a convergência midiática implica
não apenas na relação entre os meios de comunicação, mas também modifica a
maneira com que a sociedade se relaciona com os meios, sendo um processo de
mudança cultural. Afinal, o público avança no caminho da construção de conteúdo e
se torna agente fundamental também no compartilhamento de temas. É, de fato,
uma mudança cultural nas pessoas e não apenas tecnológica. Nessa mesma linha,
Ramirez (2020) diz que a convergência não pode ser estudada apenas como o
processo de digitalização ou como os meios tradicionais entram para o digital, mas
como um fenômeno que afeta desde a produção até a circulação de conteúdos.
Para Salaverría, García e Masip (2010) e García Avilés (2009), a
convergência é um processo que afeta o jornalismo em cinco dimensões:
empresarial, tecnológica, profissional, de conteúdos e de audiências, configurando
assim como algo dinâmico e complexo, que carece ser compreendido como um
sistema e processo, abarcando as cinco dimensões supracitadas e o cenário social
e econômico em que esse processo ocorre. A convergência, muito além de fusão de
empresas e suportes, versa sobre as estratégias de produção, distribuição e
consumo desse bem cultural que é a informação.
Assim, a partir da pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo, analisa-se a
prática da convergência entre a televisão e os demais canais das emissoras
regionais afiliadas da Rede Globo, com base nas ações ou estratégias de
relacionamento com os públicos, expansão dos conteúdos, recursos tecnológicos e
práticas profissionais.

Convergência: definições e afetações no jornalismo

A rapidez com que as evoluções nos processos comunicacionais vêm sendo


implantadas faz com que pesquisadores se perguntem diariamente qual será a
mudança ou a novidade apresentada no dia seguinte. Neste cenário de acelerado
desenvolvimento tecnológico, os meios de comunicação tradicionais precisam
pensar em formas de integrar os conteúdos aos diferentes meios em que os
públicos se encontram. Cada qual com a sua velocidade, processo, ritualidade. Um
dos conceitos desenvolvidos para explicar esse processo foi a convergência.
Para Ramirez (2020, p. 12, tradução nossa) a convergência “deve ser
entendida como um momento na evolução do desenvolvimento tecnológico da
mídia”. Salaverría, Garcia Avilés e Masip (2010) também desenvolveram estudos
acerca do conceito da convergência, principalmente relacionado ao jornalismo
contemporâneo. Segundo os autores, as empresas de comunicação criaram uma
nova logística para adaptar-se frente aos desafios da tecnologia digital, ampliar a
produtividade de suas equipes e criaram novas rotinas com a integração das
redações dos veículos.
Salaverría, García e Masip (2010) ressaltam que os meios de comunicação
tradicionais já tiveram contato com convergência num período anterior aos impactos
da tecnologia digital, que contribuiu para a aceleração desse processo. Essas
transformações exigem que os meios de comunicação tradicionais busquem formas
de adaptação frente a essas mudanças. Diante de um novo cenário de meios
interativos, eles precisam se reinventar para continuar no mercado e sobreviver aos
impactos da tecnologia digital.
Jenkins (2009) popularizou o conceito de convergência com a obra Cultura
da Convergência. Para o autor, o conceito trata-se de um fenômeno complexo, com
uma perspectiva mais ampla, que se expande para cinco áreas: a tecnológica, a
econômica, a social ou orgânica, a cultural e a global. Segundo o autor,
“Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,
mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que
imaginam estar falando” (JENKINS, 2009, p. 29). Ainda de acordo com o autor, esse
processo pode ser encarado como um fluxo de conteúdo em múltiplas plataformas
de mídia, no qual há cooperação de mercados e comportamento migratório dos
públicos nos meios de comunicação. Essa visão de Jenkins é mais geral e próxima
da Sociologia e dos Estudos Culturais.
Olhando para o Jornalismo e suas transformações no cenário de
convergência, Salaverría, García e Masip (2010), Salaverría (2010) e García Avilés
(2009) ressaltam que o processo de convergência começou a assumir o
protagonismo na transformação do jornalismo na década de 90, quando as
empresas jornalísticas passaram por grandes mudanças provocadas pelas
inovações tecnológicas. Eles explicam que nesses 30 anos de história, os
processos de convergência passaram por uma evolução, que vem se multiplicando
e acentuando devido aos impactos da tecnologia digital. Ainda segundo os autores,
a convergência é um fenômeno complexo, com implicações nos ambientes
tecnológicos, empresarial, profissional, dos conteúdos e das audiências. Eles
apresentam o conceito de convergência como “esquivo”, um termo que aceita uma
pluralidade de significados, um conceito “poliédrico” com muitas faces, que podem
estender-se por âmbitos diferentes e convergir nas áreas das tecnologias, das
indústrias, dos mercados, dos gêneros e nas audiências. García Avilés (2009)
define a convergência como um processo dinâmico, que está em constante
transformação, no qual os meios de comunicação tradicionais perdem espaço e o
protagonismo frente as redes sociais e os meios pessoais, e os processos de
produção, captação e distribuição de conteúdos passam por inúmeras
transformações e inovações.
Para este trabalho será considerado o conceito definido por Salaverría,
García e Masip (2010) e Garcia Avilés (2009), os quais consideram que a
convergência no jornalismo é um processo multidimensional que afeta os âmbitos
tecnológico, empresarial, profissional, de conteúdos e de audiências, com
integração de ferramentas, espaço, métodos de trabalho e linguagens, além de
múltiplas plataformas com linguagem própria de cada uma.
A dimensão tecnológica diz respeito à infraestrutura capaz de adquirir,
transportar e processar simultaneamente dados, voz e vídeo em uma rede
integrada, em que a telefonia, a televisão e a informática confluem com serviços das
telecomunicações e do audiovisual. Esse processo traz consigo a inter-relação dos
diferentes suportes, linguagens, mensagens, códigos, modos de distribuição e
consumo de mídia, com modelo de difusão e produção multiplataforma.
A dimensão empresarial trata da organização das empresas neste cenário de
convergência, que demanda alterações no modelo de negócio, maior cooperação
entre diferentes setores e mais diversificação de canais de distribuição.
(SALAVERRÍA; GARCÍA; MASIP, 2010; GARCÍA AVILÉS, 2009).
Com relação à dimensão profissional, esta trata das alterações provocadas
pela convergência no trabalho dos jornalistas, no funcionamento das redações de
modo geral e na organização dos meios de comunicação. Agora o profissional
precisa a partir de um único acontecimento fazer a cobertura para vários meios do
mesmo grupo empresarial. A multiplicação de canais também provoca profundas
alterações na hora de conceber a informação e distribuí-la, além das necessidades
colocadas pelas audiências, empresas e tecnologias.
A dimensão de conteúdo diz respeito às mudanças nos formatos e estilos dos
produtos produzidos pelos jornalistas. Os conteúdos também são cada vez mais
personalizados, há o aumento das produções multimídia, novas formas narrativas e
propagação multiplataforma. (SALAVERRÍA; GARCÍA; MASIP, 2010; GARCÍA
AVILÉS, 2009).
Por fim, a dimensão da audiência trata das modificações e relações
estabelecidas entre os veículos e jornalistas com o público em geral, seja por meio
de canais das empresas ou pelas redes sociais digitais. Jenkins (2009) afirma que
no uso dos meios de comunicação, com a adoção da internet, surgem meios
interativos, novos conteúdos, e o público aprende a usar diferentes meios de
comunicação também de modo convergente. Há uma mudança cultural na
sociedade e na forma de consumir conteúdos nessa nova era. “A convergência
ocorre dentro dos cérebros dos consumidores individuais e em suas interações
sociais com outros” (JENKINS, 2009, p. 28). Ainda segundo o autor, nota-se um
comportamento migratório dos públicos, que estão sempre à procura de novas
experiências em outros sistemas midiáticos. Esse processo de participação leva ao
que Jenkins, Ford e Green (2014) chamam de propagabilidade/espalhamento, uma
seleção subjetiva que as pessoas, conectadas em redes, fazem para espalhar
informações nas redes pessoais e coletivas.
O que se pode perceber, até agora, é uma complexidade em torno do
processo de convergência, desde a definição do termo até as implicações no campo
jornalístico. Morais e Pereira (2020) destacam que o fenômeno da convergência no
jornalismo provocou alterações nos modelos de negócios, na rotina e na atividade
dos profissionais nas redações, além das novas formas de interação e consumo
proporcionadas pelas tecnologias digitais. No âmbito do jornalismo regional, as
pesquisadoras apontam um leque de possibilidades com novas estratégias de
atuação e ação no jornalismo, com mudanças na prática das atividades, na
produção dos conteúdos e na interação com o público.

Telejornalismo regional no cenário de convergência


A televisão surgiu no Brasil como um meio elitista e de difícil acesso. Com o
passar dos anos e a popularização do meio, ela passou a ser objeto quase que
essencial em todas as casas e ganhou inclusive lugar de destaque, sendo por vezes
o aparelho eletrônico que reunia família, amigos e vizinhos ao redor
(PATERNOSTRO, 1999).
No Brasil, o processo de expansão de emissoras de TV retransmissoras e
afiliadas pelo interior começou em 1960, logo após a chegada do videoteipe. Isso
possibilitou a formação de emissoras em rede e a nacionalização das transmissões,
que aconteciam em cadeia nacional a partir de sinal gerado das metrópoles. Nesse
primeiro momento, a expansão da televisão para o interior do país não buscava
produção de conteúdo local, mas era movida pelo interesse mercadológico com a
exploração de uma nova clientela e a inserção de propagandas publicitárias antes
não presentes nas pequenas cidades (PERUZZO, 2005; LIMA, 2010).
Na década de 80, o telejornalismo regional ganhou força no Brasil com os
modelos de emissoras afiliadas. Segundo Coutinho e Emerim (2019, p. 38), foi a
partir dos contratos de afiliação que o telejornalismo local se tornou realidade no
Brasil e também mostrou-se como “estratégia comercial e/ou como espaço para a
afirmação da legitimidade de emissoras e do (tele)jornalismo como ator social e
político em determinada região”.
A afirmação da legitimidade, citada por Emerim e Coutinho está diretamente
relacionada à forma como estas emissoras constroem laços com seus públicos.
Fazer jornalismo regional exige proximidade com temas de interesse daquela
região, exige mais do que conhecimento técnico do fazer jornalístico, é também uma
relação construída na lealdade com o seu público e no fortalecimento da cultura, da
linguagem e dos costumes da região. Desta forma, Aguiar (2016, p. 68) afirma que
“as instituições de mídia locais e regionais apresentam-se como dispositivos
importantes nas relações de poder e produção simbólica, orientadas pelos
referenciais da proximidade”.
Nesse contexto, o telejornalismo feito fora das metrópoles e marcado pela
proximidade geográfica e identitária não é apenas reproduzir as estratégias e
padrões dos grandes centros numa escala geográfica de atuação menor, mas sim
encontrar maneiras de agir na realidade em que está inserido. Além disso, a
estrutura, as rotinas e a recepção ganham contornos consideráveis devido à relação
mais próxima com os fatos noticiados e com as pessoas envolvidas neles, ou seja,
relações decorrentes da demarcação territorial e da realidade que circunda as
empresas de comunicação regional (ASSIS, 2013).
No cenário de inovações tecnológicas e convergência, os telejornais
regionais são afetados diretamente e sofrem influências no modo de produzir
conteúdos e se relacionarem com as audiências. As emissoras regionais passaram
pela transformação do analógico para o digital e em uma tentativa de se aproximar
dos seus públicos, abriram espaço para a participação dos telespectadores. No
início, ainda com envio de e-mails, recebimento de ligações com sugestões de
pauta e, mais recentemente, com a possibilidade de comunicação instantânea por
meio de aplicativos das emissoras, redes sociais digitais ou aplicativos de
mensagens instantâneas.
Esta interação fortalece os dois lados, ao mesmo tempo em que emissora e
telespectador também se apropriam dos benefícios. Se por um lado o público tem
espaço de fala, mesmo que mediado já que é necessário considerar os filtros antes
do material ir ao ar, ele também alcança os demais telespectadores da emissora e
se apropria da credibilidade que o veículo ou programa tem junto àquelas pessoas
que assistem. Isso corrobora a perspectiva de participação do público levantada por
Jenkins (2009; 2014) e da audiência potente, defendida por Mesquita (2014), que é
“definida como um agente que se envolve ou é envolvido nos processos, nas
práticas e nas rotinas jornalísticas”. Ainda segundo a autora, essa audiência não é
formada por jornalistas, mas composta por cidadãos que estabelecem uma relação
ativa com os veículos de comunicação.
A emissora, por sua vez, segundo Jost (2010), se constitui como pessoa ao
fazer as escolhas editoriais, inclusive ao selecionar o que é enviado pelo público e
vai ao ar. O veículo se aproxima do seu público, cria uma relação de
comprometimento e consequentemente se populariza, ganha espaço junto aos
telespectadores e aumenta os índices de audiência. Nesse contexto, o
telejornalismo local é compreendido como um “espaço para a prática e a
experiência televisiva do que é próximo, para a vivência da cidade e da região na
tela de TV [...]”. (COUTINHO; EMERIM, 2019, p. 38). Além disso, estabelece
vínculos afetivos e de pertencimento entre os jornalistas, a emissora e o público.
Nesta tentativa de aproximação com os seus públicos e de conquistar novas
audiências, o que se percebe é que as emissoras regionais têm investido em outras
mídias, mostrado seus conteúdos em outros meios e informado na televisão sobre o
que pode ser encontrado em outros veículos do grupo, algo característico da
convergência. Mesmo que teóricos já discutam um cenário de pós-convergência, o
colocar em prática e fazer de fato a convergência acontecer é um caminho longo,
que exige dedicação e inovação por parte das emissoras e dos profissionais. Como
destacado pela professora Beth Saad (2021), a convergência assume diversas
faces no cenário regional, pois depende de infraestrutura tecnológica, profissionais e
outros elementos. É no intuito de mostrar essa face da convergência no cenário
regional, a partir do telejornalismo, que esta pesquisa foi desenvolvida.

Procedimentos metodológicos

A partir de uma abordagem qualitativa e exploratória, o presente artigo tem o


objetivo de analisar a forma como os telejornais estaduais matutinos das afiliadas da
Rede Globo nos estados do Maranhão, Paraíba, Paraná e Santa Catarina colocam
em prática a convergência entre a televisão e os demais veículos que compõem a
empresa. Para tanto, parte-se da hipótese que os telejornais realizam ações de
convergência de maneira limitada, sem adaptar corretamente os conteúdos e utilizar
as linguagens adequadas para o referido meio. Para confirmar ou refutar esta
hipótese, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e uma análise de conteúdo
(BARDIN, 2011) balizada pelos critérios elencados por Salaverría, García e Masip
(2010) e García Avilés (2009).
O telejornal Bom Dia foi escolhido por ser o noticiário regional com maior
tempo de duração das afiliadas. Atualmente são 2h30 de produção, o que pode
permitir espaço para ações e quadros inovadores, bem como para exploração das
narrativas possibilitadas pela convergência. Os telejornais regionais foram
inspirados no Bom Dia São Paulo, criado em 1977, com a proposta de oferecer
prestação de serviço, notícias sobre o trânsito e movimentação da cidade
(PATERNOSTRO, 1999).
Ao todo, são 36 telejornais espalhados pelas afiliadas da Rede Globo no
país, ancorados pelo nome Bom Dia, dentro do processo de regionalização do
telejornalismo. Variando em alguns estados, a maioria dos telejornais estreou com
30 minutos de duração e foram mudando ao longo dos anos, tanto quanto ao
horário de exibição quanto ao tempo de produção. Atualmente, o noticioso começa
às 6h, tem 2h30 de duração e se tornou o telejornal local das afiliadas da Rede
Globo com maior tempo no ar (FONSECA, 2021).
Assim, a descrição das emissoras e dos telejornais foi o primeiro passo para
entender o processo de convergência nos grupos estudados. A segunda etapa da
pesquisa de campo foi a análise do conteúdo das edições dos telejornais Bom Dia
das TVs Mirante (Maranhão), Cabo Branco (Paraíba), NSC (Santa Catarina) e RPC
(Paraná). Para tanto, foram assistidas e gravadas as edições veiculadas entre os
dias 3 e 7 de janeiro de 2021, totalizando cinco edições de cada telejornal.
O conteúdo coletado foi analisado a partir das seguintes categorias: i)
integração com g1 e Globoplay, que identificou como os conteúdos veiculados no
telejornal são disponibilizados neste site e plataforma de streaming e vice-versa; ii)
integração com rádios, que analisou como os conteúdos destes veículos são
aproveitados no telejornal; iii) integração com conteúdos de outros veículos das
empresas, como portal de notícias, jornais impressos e blogs; iv) integração com as
redes sociais, seja do telejornal ou da emissora para relacionamento com a
audiência via comentários ou informações noticiosas e com aplicativos. O trabalho
foi consolidado com o cruzamento do referencial teórico colhido na pesquisa
bibliográfica e dos dados coletados na análise de conteúdo.

Bom dia Mirante

O Bom Dia Mirante (BDM) é o maior telejornal produzido pela TV Mirante,


afiliada da Rede Globo no Maranhão. A TV é um dos veículos do Grupo Mirante,
que conta ainda com rádios e portais de notícias. O grupo está presente em quatro
cidades do interior do estado (Imperatriz, Balsas, Santa Inês e Caxias), além da
capital São Luís. Nas 2h30 de produção, o BDM apresenta um balanço dos
principais acontecimentos do dia anterior, principalmente os noturnos, e traz as
principais pautas para o dia que se inicia. Além disso, as informações sobre trânsito
e esportes também são destaques no noticioso.
Com apresentação de Soares Júnior e Célia Fontenele, o BDM conta sempre
com dois repórteres ao vivo com as principais informações da capital e mais quatro
repórteres nas cidades do interior. Fato que mostra o aparato tecnológico da
empresa que possibilita várias entradas ao vivo ao longo do telejornal e de vários
lugares diferentes. O mesmo repórter tem duas ou três entradas no jornal de lugares
diferentes das cidades onde estão. Isso é possibilitado pelas conexões via internet e
uso de smartphones, que é a dimensão tecnológica apontada por Salaverría (2010)
e García Avilés (2009). Fato que altera a rotina dos profissionais e o próprio
conteúdo gerado para o noticioso. Se antes o repórter aparecia de um lugar fixo
durante o jornal por conta da falta de equipamentos, hoje ele aparece em vários
lugares, mostra acontecimentos no momento que ocorrem e até entram ao vivo de
dentro do carro da emissora em movimento para mostrar como está o trânsito da
cidade.
Com relação a rotina dos profissionais e os conteúdos produzidos, durante a
semana analisada foi possível observar que os jornalistas tiveram que se adaptar às
tecnologias para produzirem o telejornal. Além do relato supracitado referente à
dimensão tecnológica, os repórteres e apresentadores estão o tempo todo com
smartphones e tablets na mão durante o telejornal. Os aparelhos são usados para
conversas entres os profissionais que fazem o noticioso, como também para
receber mensagens do público, ler informações ou usar o telão do estúdio para
mostrar mensagens. Além de se preocuparem com o texto ou imagens que estão
mostrando, os jornalistas também precisam manusear corretamente os aparelhos
durante o jornal. É o que os autores discutem sobre a influência da tecnologia na
rotina dos jornalistas.
Quanto às dimensões de conteúdos e de audiências, foi verificado que há
uma interação com o público via aplicativos de mensagens instantâneas e redes
sociais digitais por meio de hashtags. Essas mensagens, geralmente com fotos, são
filtradas pela produção e as que apresentam elogios, denúncias ou registros de
acontecimentos são apresentadas ao longo do telejornal. Ressalta-se que durante a
semana analisada essa interação se deu de forma tímida e com poucas mensagens
exibidas durante as edições. Além disso, foi possível observar uma interação entre
os conteúdos da TV e os publicados nos sites que fazem parte dos veículos da
Rede Globo, no caso os portais g1 e ge. As rádios e o portal de notícias do Grupo
Mirante (Imirante.com) não foram citados na semana analisada. O que mostra a
falta de integração entre os veículos do grupo e exploração das possibilidades que a
convergência de conteúdos possibilita. No quadro 1 é possível visualizar em quais
dias essas interações ocorrem.
Quadro 1 - Ações de interação de conteúdos no Bom Dia Mirante
Dia/Ação Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Integração com g1 X X X X X

Rádios

Redes sociais
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

Na semana em questão, houve apenas o quadro fixo g1, no qual uma


repórter do site apresenta três notícias de destaque do site, que nem sempre são
informações do Maranhão, às vezes são notícias nacionais que estão entre as mais
acessadas no portal. Esse quadro também representa as novas habilidades dos
jornalistas, pois antes cada um era específico de um meio, agora precisam ter
habilidades para todos. A repórter que só escrevia para o site, agora precisa ter
habilidades dos jornalistas de TV para apresentar as notícias ao vivo dentro do
BDM. Outro exemplo das novas exigências aos jornalistas é o quadro Bastidores,
que é apresentado pelo ex-editor chefe do extinto jornal impresso O Estado do
Maranhão. O jornal deixou de circular em 2021, mas o quadro continuou. O
ex-editor chefe sempre discute um tema da política local com um entrevistado.
Por fim, ressalta-se que durante a semana analisada não foi possível verificar
se houve interação via redes sociais de forma efetiva, pois o apresentador apenas
convidou o público a compartilhar via hashtags, mas as mensagens foram
apresentadas no telão de forma padronizada que não foi possível identificar se era
oriunda das redes sociais digitais ou de aplicativo de mensagem instantânea. Além
disso, a emissora tem perfis nas principais redes sociais, porém é mais para
conteúdos institucionais. Os telejornais não possuem perfis nas redes sociais. Esse
cenário mostra o quanto a empresa precisa interagir mais com o público e aproveitar
as potencialidades das redes sociais para atrair mais audiência e espalhar os
conteúdos dos telejornais.

Bom dia Paraíba

O Bom Dia Paraíba é um programa produzido pelas TVs Cabo Branco e


Paraíba, afiliadas da Rede Globo no estado. As duas emissoras compõem, junto a
mais seis veículos (g1 Paraíba, ge Paraíba, Jornal da Paraíba, rádio Cabo Branco
FM, rádio CBN João Pessoa e Campina Grande), a Rede Paraíba de Comunicação.
Com apresentação da jornalista Denise Delmiro, o telejornal apresenta aos
telespectadores uma retrospectiva do dia anterior, além dos acontecimentos das
primeiras horas do dia, entrevistas e reportagens. Para apresentar 2h30 de
conteúdo, o Bom Dia Paraíba também conta com quadros que abordam fatos,
eventos e temas de interesse da população nas áreas do direito trabalhista e
previdenciário, política, esporte, saúde feminina e psicologia. Ao todo, são 35
profissionais que atuam no telejornal, entre jornalistas, editores, técnicos,
cinegrafistas e comentaristas.
Quanto a convergência, ao longo dos cinco dias analisados, o Bom dia PB
realizou 15 ações, todas elas envolvendo apenas os três portais pertencentes a
Rede Paraíba de Comunicação: g1 Paraíba, ge Paraíba e Jornal da Paraíba,
conforme mostra o quadro a seguir:

Quadro 2 - Ações de convergência no Bom Dia Paraíba


Dia/Ação Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

g1 X X X X X

Jornal da Paraíba X X X X X

ge Paraíba X X X

Rádios (CBN e Cabo Branco)

Redes Sociais
Fonte: Elaborados pelos autores, 2022.

Todas as ações foram feitas de maneira simples, ou seja, a apresentadora, os


repórteres ou os colaboradores comentavam um fato e reforçavam que o conteúdo
completo estava disponível no g1 Paraíba, ge Paraíba ou Jornal da Paraíba. Em
alguns momentos, as páginas dos portais ou do aplicativo do g1 eram exibidos no
telão do estúdio1, representando a convergência tecnológica. Em outros momentos,
geralmente nos quadros de política, os comentaristas ou a apresentadora apenas
citava o endereço eletrônico para as pessoas acessarem2. Houve também dias em

1
Vídeo disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10178487/?s=0s. Acesso em: 7 jan. 2022.
2
Vídeo disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10181741/. Acesso em: 5 jan. 2022.
que jornalistas dos portais participaram do programa presencialmente, comentando
a notícia de destaque, como foi o caso do dia 4, no qual o repórter do g1 Paraíba,
Diogo Almeida, comentou o levantamento que o g1 nacional fez para confirmar se
os prefeitos dos municípios brasileiros cumpriram ou não as promessas de
campanha. Neste caso, ele apresentou os resultados com relação ao prefeito de
João Pessoa, Cícero Lucena3.
Quanto às ações que estimulam, mesmo que de maneira tímida a
convergência, geralmente foram feitas dentro dos quadros de esporte ou política. E
diferente da convergência proposta por Salaverría, García Avilés e Masip (2010), na
qual a integração de ferramentas, espaços e métodos de trabalho os conteúdos são
pensados para serem distribuídos, levando em consideração o seu meio, linguagem
e o público receptor, no Bom Dia Paraíba o elo entre os veículos da mesma
empresa são feitos de maneira simples. Na semana analisada, nenhum conteúdo se
adequou a essa proposta.
Com relação às redes sociais, o programa possui um número de whatsapp no
qual a apresentadora Denise Delmiro estimula a todo momento a participação dos
telespectadores. As interações acontecem ao longo da edição do telejornal com as
leituras de comentários ou perguntas que os telespectadores fazem aos
colaboradores do dia4. As TVs Cabo Branco e Paraíba possuem perfis no Facebook,
Instagram e Twitter, sendo algumas delas juntas e outras separadamente, mas ao
longo da semana analisada nenhuma delas foi citada no Bom Dia Paraíba, muito
menos realizando algum tipo de convergência.

Bom dia Paraná

O Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM) integra diversos veículos


de comunicação no Paraná, como os jornais Gazeta do Povo e Tribuna do Paraná,
as rádios 98 FM e Mundo Livre FM (emissoras em Curitiba e Maringá), oito
emissoras da RPC TV, afiliadas à TV Globo no estado, e o portal g1 PR5. O
telejornal Bom Dia Paraná (BDP) possui abrangência estadual e é exibido nas oito

3
Vídeo disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10181732/. Acesso em: 4 jan. 2022.
4
Vídeo disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10191262/. Acesso em: 8 jan. 2022.
5
O GRPCOM - Grupo Paranaense de Comunicação. Acesso em: 12 jan. 2022.
emissoras do Grupo RPC. As reportagens e entrevistas exibidas no telejornal ficam
disponíveis no GloboPlay6 e no g1 Paraná7.
O telejornal privilegia bastante a participação do telespectador durante o
telejornal, com forte interação com público por meio do aplicativo Você na RPC. Na
semana analisada, o BDP fez 22 chamadas do aplicativo incentivando que o
telespectador enviasse fotos, vídeos, imagens, perguntas e sugestões de pauta
para o telejornal. A edição do dia 3 de janeiro teve cinco quadros do aplicativo Você
na RPC. Em uma das participações, o telespectador Claudio Truchyn sugeriu uma
reportagem sobre o andamento da construção da ponte na baía de Guaratuba. A
reportagem mostrada anteriormente foi sobre os turistas que ficavam horas na fila
para atravessar o Ferry Boat em Guaratuba. O apresentador Roberson Januzzi
agradeceu a participação, e afirmou que a sugestão seria encaminhada à redação
para a produção da reportagem8. A matéria sugerida pelo telespectador sobre a
construção da ponte virou reportagem, e foi apresentada no programa do dia 5 de
janeiro.9
O processo de interação com o público é reforçado no final de cada edição do
telejornal, momento em que o apresentador, antes de se despedir, reforça quais são
os canais de participação que o público pode acessar, as redes sociais da emissora
e do programa, e reforça também que o conteúdo do Bom Dia, ficará disponível no
g1 PR e no GloboPlay.
Houve também a interação com outros veículos do grupo RPC, como o jornal
digital Gazeta do Povo e o g1 PR. No período analisado foram registradas 25
reportagens com direcionamentos para o portal de notícias g1 PR, com a arte na
tela do endereço eletrônico para acessar o site, junto com o QR Code para que o
telespectador possa ter acesso direto às reportagens do site, que trazem mais
conteúdo, dados e até links sobre a notícia apresentada no Bom dia Paraná.
Na edição do dia 7 de janeiro, foi possível notar a forte integração entre as
mídias, pois o apresentador Roberson Januzzi dedicou mais de um minuto para
falar sobre o g1 Paraná. Ele pegou o celular e convidou o público para baixar o app
do portal de notícias para ter acesso às principais notícias do estado. O
6
Assistir Vídeos e Reportagens Bom Dia Paraná online no Globoplay. Acesso em: 12 jan.2022.
7
Vídeos Bom Dia Paraná - G1 Paraná (globo.com). Acesso em: 12 jan. 2022
8
Bom Dia Paraná | Movimento nas estradas é intenso no começo da semana. Acesso em 12 de jan.
2022
9
Bom Dia Paraná | Estudos ambientais para construção de ponte em Guaratuba devem ser
concluídos em setembro Assista online | Globoplay. Acesso dia 12 de jan. 2022
apresentador abriu o site no telão e navegou pelas principais notícias e podcast.
Nesta edição também houve espaço para participação ao vivo do repórter do g1
Paraná, Wesley Bischoff, que durante 3 minutos e 50 segundos falou sobre a
produção do PodParaná, podcast sobre o avião da Vasp sequestrado em 2000 na
cidade de Foz do Iguaçu. O repórter participou do jornal ao vivo, direto da redação
do g1 Paraná, e convidou o público para acessar o podcast10.
O processo de reatroalimentação entre as diferentes mídias do grupo abarca
também o jornal Gazeta do Povo. No BDP do dia 4 de janeiro de 2022, o repórter
Roger Pereira, colunista de política da Gazeta do Povo, fez uma entrada ao vivo de
quase 5 minutos no telejornal, direto da redação do jornal, sobre as implicações do
fim do veto do Supremo Tribunal Federal (STF) ao reajuste dos servidores públicos.
Logo após, o apresentador Roberson Januzzi frisou que o telespectador poderia e
acompanhar mais notícias sobre política na coluna do Roger Pereira, no jornal
Gazeta do Povo.11

Quadro 3 - Ações de convergência no Bom Dia Paraná


Dia/Ação Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Integração com g1 X X X X X

Rádios

Redes sociais X X X X X

Gazeta Povo X X
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Outro ponto de convergência identificado no telejornal Bom dia Paraná,


refere-se aos conceitos das convergências tecnológica e empresarial propostas por
Salaverría, García Avilés e Massip (2010). A jornalista Cláudia Celli apresenta o
telejornal da casa dela, de modo remoto. A empresa forneceu toda a estrutura para
a jornalista, que está grávida, continuar apresentando o telejornal em home office,
por causa da pandemia da Covid 19. Ela apresenta a previsão do tempo ao vivo
com os dados do radar do simepar em tempo real, chama as matérias, interage com
o apresentador no estúdio da TV e com as demais equipes por todo o Paraná, como

10
Bom Dia Paraná | PodParaná relembra a história de avião da VASP sequestrado no aeroporto de
Foz do Iguaçu Assista online | Globoplay. Acesso em: 12 de jan. 2022.
11
Bom Dia Paraná | Fim do veto ao ao reajuste salarial dos servidores | Globoplay. Acesso em: 12
jan. 2022.
se estivesse no estúdio da emissora, sem registrar nenhum erro ou falha técnicas
durante o período de análise. Na edição do dia 4 de janeiro de 2022, a
apresentadora em home office chamou a entrada ao vivo do repórter Murilo Souza,
que nesta semana estava trabalhando de casa também.
A convergência tecnológica pode ser observada também na produção das
notícias, 37 reportagens apresentadas durante o período analisado foram
produzidas de forma remota com ass sonoras gravadas pelo sistema vídeo
chamada ou usando imagens de celular e câmeras de segurança. Um exemplo
desse processo é a matéria veiculada na edição do dia 7, sobre o falso médico que
atuava no município de Reserva. O repórter André Salamucha, da RPC TV
Esplanada, produziu toda a matéria de 3 minutos sem sair da sede da emissora em
Ponta Grossa. O jornalista fez a entrevista com o prefeito de Reserva e com a
delegada de Santo Antônio da Platina, onde o suspeito se apresentou à polícia, de
maneira remota pelo Zoom. As imagens usadas na reportagem foram de vídeos e
fotos feitas com celular do Pronto Atendimento de Reserva e das ambulâncias do
município. A passagem da matéria, quando o repórter assina a reportagem, foi
gravada no pátio da emissora12.

Bom Dia Santa Catarina

O Bom Dia SC faz parte da programação da NSC, emissora de televisão


afiliada à Rede Globo e com sede em Santa Catarina. O telejornal é apresentado
por Raphael Faraco13 e Eveline Poncio. Os colunistas Renato Igor, Dagmara Spautz
e Ânderson Silva também fazem parte do noticioso com comentários sobre assuntos
locais e trabalham em home office. Os comentaristas são creditados como
“Colunista NSC”. O grupo de comunicação tem outros jornais online, entretanto
apenas o g1 é mencionado no Bom Dia SC. Já as participações da Rádio CBN são
conduzidas normalmente pela jornalista Juliana Gomes, e as do g1 SC são feitas
pelas jornalistas Carolina Fernandes e Anaísa Catucci.
No período em que foi feita a coleta do material, o Bom Dia SC teve, a cada
edição, uma participação das jornalistas da Rádio CBN e do g1. As participações da

12
Bom Dia Paraná | Homem que se passava por médico se apresenta à polícia Assista online |
Globoplay. Acesso em: 12 jan. 2022.
13
Durante a semana analisada, Raphael Faraco estava de férias e quem o substituiu foi o jornalista
Douglas Márcio, que acumula a função de apresentar a previsão do tempo.
rádio ocorrem entre 7h20 e 7h45 da manhã. Já entre 7h55 e 8h20 é a vez de dar
espaço para os destaques do g1, sendo que são em média dois ou três assuntos
abordados. Após a apresentação do jornal, os apresentadores do Bom Dia SC
fazem participações na rádio e, por isso, o tom da conversa é sempre na linha de
que daqui a pouco também estarão na CBN. Todas as participações encerram
convidando o público para acompanhar a programação da rádio.
O mesmo convite é feito após as interações com o g1. A jornalista enfatiza a
possibilidade de ter acesso a informação completa ou notícias exclusivas ao
acessar o site ou aplicativo. Com relação às interações com público, o Bom Dia SC
possui número de WhatsApp por meio do qual os telespectadores podem enviar
mensagem, entretanto, na semana analisada, o WhatsApp foi citado apenas na
quarta-feira (5), quando foi feito um ao vivo sobre poluição do rio. Uma
telespectadora teria enviado a reclamação. A apresentadora reforçou a
possibilidade de envio de mensagens pelo canal, porém, não houve exibição de
nenhuma participação. No quadro 4 é possível perceber as interações que
aconteceram no Bom Dia SC durante a semana analisada.

Quadro 4 - Ações de interação de conteúdos no Bom Dia SC


Dia/Ação Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Integração com g1 X X X X X

Rádio CBN Florianópolis X X X X X

Redes sociais X
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.

Na semana em questão, os comentaristas Renato Igor e Dagmara Spautz


participaram 32 vezes do Bom Dia SC. Creditados como colunista NSC, em
momento algum eles fazem referência ao portal de notícias NSC Total14, que faz
parte do mesmo grupo de comunicação e onde o público poderia encontrar as
colunas online. Muitos dos temas abordados pelos comentaristas no telejornal foram
explorados nas suas colunas ou serão publicados. Na quinta-feira (6), o anúncio do
cancelamento do Carnaval em Balneário Camboriú foi publicado por Dagmara

14
https://www.nsctotal.com.br/home . Acesso em: 9 jan. 2022.
Spautz no site, às 22h1215. No dia seguinte, este foi o primeiro tema abordado por
ela no telejornal.
No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a prorrogação do
prazo para o funcionamento de termelétricas com carvão mineral. Durante o
programa apresentado por Renato Igor, à tarde, na Rádio CBN, foi realizada uma
entrevista com o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando
Luiz Zancan. Na sexta-feira (7), parte do áudio da entrevista foi usado durante o
comentário no Bom Dia SC. Este comentário foi ao ar às 6h40. Pouco tempo depois,
às 7h51, o assunto foi publicado no site NSC16, com o link para ouvir a entrevista
que havia ido ao ar na Rádio CBN no dia anterior. Cabe ressaltar que o
comentarista cita a Rádio CBN, mas não o portal NSC Total. Já no site do g1 SC, ao
clicar na aba colunistas, o leitor é direcionado para colunas com abrangência
nacional. A convergência é feita de forma simples, com citações dos diferentes
meios e utilização de recursos tecnológicos já amplamente difundidos entre veículos
de comunicação. Além das reportagens, vivos e comentários que são separados
pelo tema, o Bom Dia SC é publicado na íntegra no Globoplay17.

Convergência no telejornalismo regional

Apesar de algumas pesquisas acadêmicas indicarem um cenário de


pós-convergência, voltada principalmente para o jornalismo digital, o que se pode
verificar no telejornalismo regional é que esse caminho ainda é trilhado a passos
lentos. São indícios das dimensões convergentes postuladas por Salaverría, García
Avilés e Massip (2010) e García Avilés (2009). Dentre os quatro telejornais
analisados, o noticioso de Santa Catarina foi o que apresentou mais indícios do
processo de convergência ao integrar conteúdos, profissionais e tecnologias da TV,
rádio e sites na edição do Bom Dia SC. Enquanto o Bom Dia Mirante foi o que
menos apresentou possibilidades da convergência, com a integração apenas com o
portal de notícias g1 MA. No Paraná e na Paraíba também há indícios de integração
entre TV, site e rádios (no caso do Paraná), porém em menor proporção.

15
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/balneario-camboriu-cancela-carnaval-2022.
Acesso em: 9 jan. 2022.
16
Disponível em:
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/renato-igor/usina-de-carvao-de-sc-quer-neutralizar-emissao-de
-carbono-ate-2040-10-anos. Acesso em: 9 jan. 2022.
17
https://globoplay.globo.com/bom-dia-santa-catarina/t/kwp272bc76/ Acesso em: 17 jan 2022.
Muitas vezes a convergência se dá pela cobrança por inovação nos
telejornais, mas ela ocorre de maneira não planejada ou com recursos humanos
reduzidos, resultando apenas em direcionamento do público para outros conteúdos
ou mais informações sobre o mesmo assunto disponibilizadas no site,
principalmente o g1, que é o site portal de notícias oficial da TV Globo e
regionalizado no mesmo processo que ocorre com as TVs afiliadas. Um exemplo
disso é a interação com os sites, visto que após ser publicada a reportagem, o
próprio jornalista do on-line ou então o apresentador do programa pode noticiar algo
que acabou de acontecer, exibindo o site e incentivando que o público acesse o
on-line para encontrar mais informações ou ter atualizações em tempo real.
No âmbito do Bom dia Paraná esse processo de convergência jornalística foi
acentuado devido a pandemia da Covid 19. A empresa adotou um novo conceito na
produção dos conteúdos jornalísticos, visando garantir a segurança de seus
profissionais, com a produção de reportagens utilizando os recursos tecnológicos
disponíveis, como as plataformas de videochamadas e videoconferência, que
possibilita a gravação das entrevistas de maneira remota. A RPC TV também
montou um estúdio remoto na casa da apresentadora titular do Bom Dia Paraná,
mostrando que a empresa dispõe de infraestrutura tecnológica elencada pelos
autores na dimensão tecnológica da convergência.
No caso do Bom Dia Mirante, foi possível observar que também há uma
infraestrutura tecnológica, principalmente para as entradas ao vivo dos repórteres
que estão na rua. Por outro lado, o telejornal explora pouco a participação do
público e os conteúdos de outros veículos da emissora, como as rádios e os portais
de notícias. Apenas o g1 MA participa da edição do noticioso com um quadro fixo
com os principais destaques do site, que às vezes não são notícias locais. Enquanto
o Portal Imirante, que é mais antigo e dispõe de mais conteúdos, não é citado no
telejornal. Apenas os colunistas de política têm um quadro fixo no BDM, mas nem
são creditados como do portal.
O Bom dia Paraíba, ao longo das 2h30 de produção, não há interações ou
estímulos para que os telespectadores consumissem o conteúdo dos demais
veículos que compõem o Grupo, como o rádio e as próprias redes sociais. Há
profissionais da Rede Paraíba de Comunicação que atuam em mais de um veículo
da empresa e outros apenas fazem pequenas participações. Porém não ficou
evidente se os mesmos adaptam o conteúdo para os diversos meios ou se quando
participam do Bom dia Paraíba apenas apresentam de maneira rápida os principais
fatos produzidos para o portal. Nesse caso, embora o conteúdo atinja outros
públicos, a linguagem nem sempre é adaptada. Nota-se que não há um
complemento ou explorações de outras informações e narrativas, como infográficos
ou materiais enviados por telespectadores. Talvez isso se dê pelos profissionais não
atuarem em uma redação integrada ou até mesmo pelo baixo número de jornalistas
que atuam na empresa.
Com base nas dimensões propostas por Salaverría, García e Masip (2010) e
Garcia Avilés (2009) para análise de convergência, é possível afirmar que há
indícios de todas elas no Bom Dia SC. O telejornal possui tecnologia para a
realização dos processos convergentes e os profissionais utilizam estes recursos
para estar mais próximos de suas audiências. Especificamente sobre a dimensão do
conteúdo, um aspecto precisa ser elencado, o fato de serem usadas na televisão,
um veículo que preza pela imagem, áudios de entrevistas que foram feitas
anteriormente pela Rádio CBN. Nesses casos, o próprio comentarista da TV, que
tem programa no rádio, se apropria do conteúdo para gerar informação para TV,
rádio e site. Esse fato também demonstra que a dimensão profisisonal proposta por
Jenkins, ocorre a integração das redações, e o desenvolvimento de novas
habilidades nos profissionais da comunicação, que precisam se adaptar diante da
produção de conteúdo multiplataforma.

Considerações finais

Ao tomar por base as discussões sobre convergência de autores como


Salaverría, García e Masip (2010), García Avilés (2009) e Jenkins (2009; 2014) e
olhar para o telejornalismo das regiões Nordeste e Sul do Brasil, percebe-se que os
telejornais, em especial o Bom Dia, realizam de maneira limitada a convergência em
todas as dimensões elencados pelos autores. Essa realidade comprova o que a
Saad (2021) destaca ao afirmar que a convergência assume diferentes faces no
cenário regional por diversos fatores, dentre eles as questões profissionais,
financeiras e tecnológicas.
Ressalta-se que que os telejornais da região Sul apresentaram indícios mais
consistentes do processo de convergência, com a exploração maior dos recursos
tecnológicos e dos conteúdos produzidos pelos diversos veículos dos grupos de
comunicação, porém é mais um processo de retroalimentação do que exploração de
outras narrativas. Enquanto os telejornais da região Nordeste expressam esse
processo de convergência de forma mais tímida e têm uma produção mais
tradicional de televisão, sem muitas interações com outros veículos da empresa. O
portal de notícias g1 é o que mais interage com os telejornais nas duas regiões,
como era previsto, pois é o portal oficial da TV Globo.
Por fim, destaca-se que os telejornais analisados precisam explorar novas
narrativas e possibilidades da convergência, com integração maior de conteúdos e
interação maior com o público, visto que este tem buscado mais envolvimento com
as produções jornalísticas, principalmente, pelas redes sociais digitais. Além disso,
integrar melhor os veículos das empresas pode possibilitar mais conteúdos para o
público, além da otimização de tempo e produção dos profissionais.

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