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1.

1 Conceito e características do Direito Penal

O Direito Penal é um ramo do Direito e, logo, o seu conceito deve reportar-se, de alguma
forma, ao conceito de Direito em geral. O problema posto por essa questão se encontra no
fato de que está longe de haver uma concepção consensual e inequívoca do conceito de
Direito, diante da pluralidade de interpretações através das quais o fenômeno jurídico pode
ser entendido. Neste sentido, qualquer conceito sempre implica em uma redução da
complexidade inerente ao fenômeno jurídico-normativo.

Reconhecida esta insuficiência, pode ser dito que o Direito regula (ou procura regular) o
convívio social e funciona como elemento de harmonização das relações sociais, oferecendo
mecanismos de resolução de conflitos, por meio de sua dúplice natureza de poder que protege
e, simultaneamente obriga, através de um conjunto de normas que integram o ordenamento
jurídico. Trata-se de uma definição que evidentemente não esgota o fenômeno jurídico, mas
que, ao menos, abrange parcela significativa de suas características.

O ordenamento jurídico pode ser definido como um conjunto ou sistema de normas jurídicas
vigentes em um país, em um determinado momento histórico. É por definição um sistema que
não existe como um fim mesmo, mas como meio para a realização de valores essenciais ao
homem e à sociedade. Trata-se de um sistema normativo dinâmico, composto de um corpo ou
grupo de elementos relacionados entre si, que fazem parte e interagem no contexto de um
todo ordenado hierarquicamente. Por outro lado, a atribuição de um caráter sistêmico não
impede que cada setor ou ramo do Direito tenha as suas peculiaridades.

Em âmbito jurídico-penal, o problema conceitual é simplificado em função das características


do Direito Penal, uma vez que este ramo do Direito – mais do que qualquer outro e por força
da legalidade – se restringe ao chamado direito positivo, ou seja, às normas, que são a única
fonte primária do Direito Penal. [1] Essa característica absolutamente deixa de lado qualquer
possível referência ao chamado Direito Natural, delimitando e restringindo o Direito Penal a
um espaço específico dentro do ordenamento jurídico: somente a lei é norma jurídica
suscetível de ter caráter penal.[2] Ou seja, só há crime e sanção penal – pena ou medida de
segurança – a partir da existência de uma lei prévia que defina o que é crime e qual a sanção
aplicável, expressão máxima do princípio nullun crimen, nulla poene sine lege.
O Direito Penal é formado por um conjunto de regras e princípios que integram um campo
específico do ordenamento jurídico, dedicado à tutela dos bens jurídicos mais relevantes de
uma sociedade. É a partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definição
propriamente dita do que consiste o Direito Penal.

O Direito Penal é um meio de controle social[3] formalizado, que representa a espécie mais
aguda de intervenção estatal. É formado por um conjunto de normas jurídicas (princípios e
regras) que definem as infrações de natureza penal e suas conseqüências jurídicas
correspondentes – penas ou medidas de segurança. É considerado um meio de controle social
formal precisamente por ter sido estabelecido com esta finalidade: o controle, que visa a
tutela de bens jurídicos.[4] O princípio de exclusiva proteção de bens jurídicos enfatiza
justamente o caráter instrumental da tutela jurídico-penal, vedando ao direito penal
interferência no âmbito da moral, da religião, da ética, enfim, de tudo que diga respeito às
convicções íntimas dos cidadãos. É um controle social voltado para a tutela de bens
juridicamente tutelados e não se constitui em mecanismo para propor mudanças na ordem
social ou constituir uma ética em qualquer sentido.

O controle social é exercido pelo conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que
objetivam manter os indivíduos dentro de determinados modelos e normas de
comportamento comunitário. Segundo Hassemer, a expressão controle social designa um
conjunto de três elementos que podem ser sinteticamente definidos como a) viver de acordo
com normas sociais; b) aplicar sanções aos desvios em relação a estas normas e c) respeitar,
para tanto, determinadas normas procedimentais.[5]

Por outro lado, as mesmas normas jurídico-penais que estipulam sanções em caso de violação
de seus preceitos (mandamentos e proibições) conformam um sistema que estabelece
garantias ao cidadão diante do poder punitivo, pois exigem uma série de condições para o seu
exercício. O que significa que o Direito Penal – enquanto instrumento de controle social
normativo – também tem uma função de proteção e garantia, que lhe é inerente e necessária,
uma vez que a partir da intervenção jurídico-penal é possível retirar direitos da pessoa humana
que lhe são constitucionalmente assegurados, sendo por isso a sua utilização reservada
somente às lesões mais graves aos bens jurídicos mais importantes, o que caracteriza a idéia
de fragmentariedade da tutela jurídico penal, por exigência do princípio da intervenção
mínima ou ultima ratio. Portanto, sua utilização é reservada aos bens jurídico-penais
absolutamente essenciais ao convívio social e que são considerados merecedores da tutela
penal. Tudo isso conduz a um meio de controle com alto grau de formalização, com regras e
princípios muito bem definidos.

Neste sentido, o sistema penal é um sistema garantista de controle formalizado. Apresenta


vantagens que os sistemas de controle informais não dispõem, possibilitando que através da
resposta penal sejam afastadas reações incontroladas e espontâneas como a vingança privada.
Garcia-Pablos considera que o Direito Penal, por suas características, é um instrumento mais
racional, previsível, limitado e seguro do que outros controles sociais.[6] O próprio critério de
proteção a bens jurídicos enquanto garantia será reforçado pelos critérios dos princípios da
ofensividade – exigência de lesão ou perigo de lesão concreta ao bem jurídico – e
insignificância – desconsideração de ataques insignificantes aos bens juridicamente tutelados.

Toda norma penal que institui um crime protege (ou deveria proteger) algum bem
fundamental, que através de sua proteção é elevado à condição de bem jurídico. Trata-se de
uma proteção de ordem subsidiária, pois o emprego da intervenção jurídico-penal somente é
justificado quando o Direito Civil ou outros ramos do Direito Público se mostram insuficientes
à tutela eficaz do bem em questão. A idéia de subsidiariedade – assim como a idéia de
fragmentariedade – é extraída do princípio da intervenção mínima.

Existe certo consenso no que se refere à conceituação do Direito Penal na doutrina


contemporânea.*7+ Para Bitencourt, o Direito Penal “apresenta-se como um conjunto de
normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas
sanções correspondentes – penas e medidas de segurança”.*8+ Brandão constrói uma
definição normativa de Direito Penal, com base em três institutos: Crime, Pena e Medida de
Segurança. Assim, o autor afirma que “o Direito Penal é um conjunto de normas que
determinam que ações são consideradas como crimes e lhes imputa a pena – esta como
conseqüência do crime –, ou a medida de segurança”.*9+ De acordo com Luiz Régis Prado, “O
Direito Penal é o setor ou parcela do ordenamento jurídico público que estabelece as ações ou
omissões delitivas, cominando-lhes determinadas conseqüências jurídicas – penas ou medidas
de segurança. Enquanto sistema normativo, integra-se por normas jurídicas (mandamentos e
proibições) que criam o injusto penal e suas respectivas conseqüências”.*10+ Para Nucci, o
Direito Penal “é o corpo de normas jurídicas voltadas à fixação dos limites do poder punitivo
do Estado, instituindo as infrações penais e as sanções correspondentes, bem como regras
atinentes à sua aplicação”.*11+

Considerando-se que ao Direito Penal está reservada a mais grave sanção do ordenamento
jurídico – a pena – e que esta é conseqüência jurídica do crime, fica assinalada a especificidade
da intervenção jurídico-penal, que caracteriza esse ramo do Direito. Conforme Roxin, o Direito
Penal é composto por todos os preceitos que regulam os pressupostos e conseqüências de
uma conduta cominada com pena ou medida de segurança. Dentre os pressupostos se
encontram as descrições de condutas delitivas (como o homicídio, por exemplo) e dentre suas
conseqüências, todas as normas que se ocupam da configuração e determinação da pena, ou
da imposição de medida de segurança. Pena e medida, são, portanto, o ponto comum de
referência a todos os preceitos jurídico-penais. O que faz com que um preceito pertença ao
Direito Penal não é a mera regulação normativa de uma violação a mandamento ou proibição
(porque também ocorre em muitos casos no âmbito civil e administrativo), mas o fato dessa
infração ser passível de sanção através de pena ou medida de segurança.[12]

A pretensão preventiva também distingue o Direito Penal dos demais ramos do ordenamento
jurídico, uma vez que objetiva evitar a prática de crimes através de uma prevenção geral
genérica, dirigida a todos, que em caso de falha, impõe através do devido processo legal a
sanção cominada, sendo esse o seu sentido de prevenção especial, expressão máxima do
caráter coercitivo do poder exercido.[13] Com efeito, daí decorre a noção de que a norma
penal consiste em um imperativo, onde se atribui à pena a função de motivar contra o delito,
ou seja, uma função de prevenção de delitos e de proteção de bens jurídicos.

O Direito Penal – como todo texto – é datado. Logo, é um objeto cultural que pertence a um
recorte histórico e geográfico específico.[14] Isso significa que é a expressão de um tempo, de
determinadas circunstâncias sociais, culturais, políticas, econômicas, enfim. O processo de
elaboração legislativa em âmbito penal não escapa a esta regra. São circunstâncias de cunho
histórico/valorativo que conduzem à definição abstrata por meio do Direito Penal de uma série
de comportamentos que devem ser obedecidos e/ou evitados pelos cidadãos. A proibição
legislativa de uma determinada conduta, através da norma penal, importa em uma valoração
negativa que conduz à criminalização da mesma. Isso implica em mandamentos e proibições
relacionados a determinados bens jurídicos, que definem o injusto penal e as conseqüências
para as condutas desviadas, estabelecendo o desvalor de certas ações e resultados.

Portanto, o Direito Penal – ou Direito Criminal – define as infrações penais (crimes ou delitos e
contravenções) e comina-lhes sanções na hipótese de descumprimento dos preceitos
estabelecidos. A denominação Direito Penal é mais comum nos países ocidentais, ainda que o
termo Direito Criminal (expressão mais abrangente) ainda seja utilizado pelos anglo-saxões. A
questão é meramente terminológica, embora alguns autores apontem que o enfoque de um é
maior no crime e do outro, na punição. Outros termos, como Direito Repressivo (Puglia),
Princípios de Criminologia (Luca), Direito Sancionador, Direito Protetor dos Criminosos (Dorado
Montero), Direito de Luta contra o Crime (Thomsen), Direito de Defesa Social (José Agustín
Martínez), e Direito Restaurador surgiram, mas sem grande difusão. Entretanto, deve ser
ressaltado que é difícil discordar da afirmativa de que o termo Direito Penal designa um objeto
mais restrito do que trata este ramo do Direito, como a própria existência das medidas de
segurança indica.[15]

Jiménez de Asúa considera que o Direito Penal é cultural, normativo, valorativo e finalista.[16]
O Direito Penal atual é ramo do Direito Público[17], e para Asúa, é sancionador e não
constitutivo, já que a antijuridicidade é uma só; a infração é a todo o ordenamento jurídico,
pois a contrariedade se refere ao direito e não somente à ordem penal.[18] De acordo com
esse entendimento, o Direito Penal não cria bens jurídicos, mas apenas acrescenta proteção a
bens já disciplinados por outros setores do ordenamento.

No entanto, o Direito Penal tem natureza ao menos, parcialmente constitutiva, ainda que a
primeira seja predominante. Como refere Zaffaroni, ele será excepcionalmente constitutivo
quando proteger bens ou interesses não regulados em outras áreas do direito, como é o caso
da omissão de socorro.[19] Todavia, de acordo com Bitencourt, é preciso reconhecer a
natureza primária e constitutiva do Direito Penal, pois mesmo quando protege bens já
cobertos por outros ramos do ordenamento jurídico, o faz de uma forma que lhe é peculiar,
com outra espécie de valoração.[20] Para Luiz Regis Prado, o Direito Penal tem natureza
autônoma ou constitutiva (valorativa) mas também sancionatária.[21]
De qualquer forma, o fato do Direito Penal também ter natureza constitutiva (primária ou
secundária) não deve levar ao equívoco de conceber o mesmo a partir de uma perspectiva
isolada dos mandamentos constitucionais, pois uma interpretação hermenêutica exige uma
aplicação conjunta do ordenamento jurídico, o que conduz, por sua vez, à exigência de uma
dimensão constitucional de aplicação do Direito Penal. Inclusive não se pode esquecer que o
Direito Penal é um dos ramos do ordenamento jurídico onde mais se impõe uma leitura
constitucional.

Costuma-se distinguir entre Direito Penal comum (ou nuclear) e Direito Penal especial. O
primeiro corresponde ao Código Penal Brasileiro (de 1940, cuja Parte Geral foi reformada em
1984), que é subdividido em Parte Geral e Parte Especial; o segundo é constituído pela
legislação penal extravagante (como a Lei dos Crimes Hediondos e a Lei dos Crimes
Ambientais).[22]

A divisão do Código Penal em uma Parte Geral e uma Parte Especial consiste na atribuição à
primeira das questões centrais da teoria e aplicação do Direito Penal, enquanto a segunda
trata da descrição de delitos concretos. Por este motivo temas como a função e missão do
Direito Penal e os fins da pena são tradicionalmente discutidos nos estudos dedicados à Parte
Geral.

Também merece menção uma série de referências às subdivisões do Direito Penal, como
Direito Penal Econômico, Direito Penal Empresarial, Direito Penal do Consumidor, Direito Penal
Ambiental e assim por diante, que caracterizam um objeto de estudo mais específico. Todavia,
não são áreas autônomas, apesar de algumas especificidades.

1.2. A Dogmática Jurídico-Penal

O termo Direito Penal não se refere somente aos aspectos de ordem normativa (ou seja, a
legislação penal em si e os efeitos que ela pretende obter) mas também ao saber da Ciência
Penal, que conforma um sistema de conhecimento e interpretação dessa legislação, que
recebe o nome de Dogmática Penal.

Não seria exagero dizer que a Dogmática Penal é um método (com todos os limites que são
inerentes a qualquer método) de investigação, conhecimento, interpretação e crítica de um
objeto específico, que é o Direito Penal.[23] Afinal, um conjunto normativo – como é o caso do
Direito Penal – não pode ele próprio, ser um método.[24]

A Dogmática jurídico-penal parte de preceitos legais (considerados como dogmas) e procura


racionalizar a interpretação e aplicação do Direito Penal, elaborando e estruturando o seu
conteúdo, bem como ordenando-o em um sistema.[25] O termo dogma é aqui empregado
com o sentido de uma declaração de vontade com pretensão de validade geral, visando a
solução de problemas sociais.[26]

Embora a Dogmática Penal parta de um conjunto de normas positivas (regras e princípios), não
deve assumir caráter dogmático (no sentido de uma verdade inquestionável e imutável), uma
vez que deve reconhecer seu caráter valorativo e essencialmente crítico. Dogma, neste
sentido, representa apenas um postulado que serve de ponto de partida de uma determinada
atividade. A Dogmática (obra dos juristas) pode ter, inclusive, função criadora, conduzindo ao
aperfeiçoamento do direito positivo (obra dos legisladores).

De forma que “Dogmática” (no sentido aqui referido) não significa “dogmatismo”, ou seja,
uma atitude conservadora e acrítica. Ao contrário: se a Dogmática Jurídico-Penal não quer ser
considerada reacionária, tem que ser uma Dogmática crítica do Direito Penal.[27] De acordo
com Welzel, a Dogmática, como ciência sistemática, dá fundamento para uma administração
justa e equânime da justiça, já que somente a compreensão da estrutura interior do direito
eleva a sua aplicação para além da casualidade a arbitrariedade.[28] Para Munõz Conde, a
Dogmática cumpre uma das mais importantes funções que cabem à atividade jurídica em um
Estado Democrático de Direito: garantir os direitos fundamentais do indivíduo face ao poder
arbitrário do Estado, pois ainda que este tenha limites, se faz necessário o controle e
segurança de tais limites.[29]
De acordo com esta perspectiva, a dogmática jurídico-penal deve se concentrar na tutela de
bens jurídico-penais em benefício de direitos e garantias fundamentais, sendo, portanto,
constitucionalmente orientada. Conforme Silva Sanchéz, certas concepções de Dogmática
(como a funcionalista de Roxin), ao propor a configuração de um sistema aberto, permeável
face à incidência de princípios que devem inspirar a intervenção jurídico-penal, se mostram
veículos adequados para traduzir em termos conceituais e em uma prática as intenções de
restringir a incidência do poder punitivo ao minimamente necessário.[30]

A Ciência Penal, por sua vez, pode (e deve) ser integrada ao campo de análise das Ciências
Criminais (ou Ciências Penais)[31], que têm interesse não só no Direito Penal, mas também no
Direito Processual Penal, na Criminologia e na Política Criminal, abordando-as a partir de
relações interdisciplinares e de interdependência. Como aponta Roxin, é inimaginável um
Direito Penal moderno sem estreita colaboração entre todas as disciplinas parciais que
compõem a “Ciência Global do Direito Penal”.*32+

2. Relações entre Direito Penal, Criminologia e Política Criminal

Em que pese uma certa convergência dessas áreas, em função de uma aproximação que se faz
mais do que útil, mas até mesmo necessária diante da complexidade contemporânea, é
importante mencionar no que consiste – ainda que de forma sucinta – a especificidade de cada
uma delas.

A Criminologia[33] é uma ciência interdisciplinar por excelência, que tem como objeto o
estudo do crime, da pessoa do infrator e seu tratamento, da vítima e do controle social do
comportamento criminoso, buscando apreender a gênese e as principais variáveis da dinâmica
do crime e dos mecanismos de prevenção e controle da conduta social desviada.[34] Investiga
também os mecanismos de controle policial e da justiça e questiona porque determinadas
condutas são definidas como crimes e outras não (processos de criminalização).
A Criminologia é uma ciência do ser (estuda o que é; empírica e baseada na análise e
investigação da realidade, valendo-se do método causal-explicativo, típico das ciências sociais
e adequado ao seu objeto) em oposição ao Direito Penal, que é uma ciência do dever-ser
(declara o que deve ser – devido ao seu caráter normativo – o que conduz a um método lógico,
abstrato e dedutivo; realiza uma análise interpretativa das fontes do direito e síntese teórica
de seus dados).[35]

Portanto, enquanto a Criminologia se ocupa do delito como fenômeno antropológico, social e


biopsicológico, analisando suas causas e possíveis formas de redução de dano, a Dogmática
Jurídico-Penal se ocupa do delito enquanto fenômeno jurídico, regulado e previsto por normas
jurídicas que devem ser interpretadas e aplicadas. A primeira se vale de métodos sociológicos,
psiquiátricos e antropológicos, de acordo com o caráter individual ou social de seu enfoque,
enquanto a segunda emprega o método dogmático para interpretar e sistematizar as normas
jurídicas que se referem ao delito e suas conseqüências.[36] Trata-se de uma dicotomia
oriunda do século XIX e que deve ser superada em prol de uma maior integração de ambas,
ainda que conservando-se sua autonomia. Indiscutivelmente são aspectos complementares e
indispensáveis para o conhecimento dos fenômenos delitivos.

A Criminologia pode fundamentar estratégias de ação no campo político-criminal, pois fornece


indicativos e dados concretos que podem ser aproveitados para orientar as ações dos agentes
e órgãos encarregados do controle social do crime, o que pode levar a inovações no campo
legislativo. Além disso, a Criminologia se coloca como disciplina crítica do Direito Penal, pois
enquanto este trata da definição normativa da criminalidade, aquela estuda os mecanismos e
escolhas que importam na criminalização, além de estudar a realidade que o Direito Penal
procura regular, enquanto meio de controle social que é.

A Política Criminal, por sua vez, é algo por definição variável. A própria expressão comporta
um significado um tanto quanto vago.[37] Existe uma discussão – não muito proveitosa –
sobre o estatuto científico da Política Criminal[38], uma vez que não se trata, a rigor, de uma
disciplina com um método próprio, mas de qualquer forma, sua importância é inegável. A
Política Criminal consiste na sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social
da criminalidade (penais e não penais) tendo, portanto, penetração no Direito Penal
(principalmente no que se refere à elaboração das normas) mas não restringindo-se a ele.
Sem dúvida, existem diferenças significativas entre a Política Criminal de um Estado autoritário
e de um Estado Democrático de Direito. Portanto, importa definir qual o espaço apropriado de
atuação da Política Criminal neste último. Quando em um Estado Democrático de Direito se
opta pela definição de uma conduta como criminosa, ocorre uma escolha entre várias
alternativas que se abrem para a resolução de conflitos. Esta opção política (pela
criminalização) será, neste caso, uma opção político criminal. Considera-se que a Política
Criminal não deixa de ser o exercício de um poder, que se concretiza com a criminalização, o
que faz com que não seja possível dissociar completamente Direito Penal e Política Criminal.
Ambos integram o sistema penal.[39]

A Política Criminal realiza uma análise crítica do Direito, buscando orientá-lo de acordo com
ideais jurídico-penais, mas também critérios políticos e de oportunidade. Sua ligação com a
dogmática é inevitável (ainda que se discuta o quanto), pois invariavelmente critérios de
política-criminal interferem, em alguma medida, na elaboração, aplicação e interpretação da
lei penal. Munõz Conde considera que uma Dogmática Jurídico-Penal crítica, na medida em
que oferece alternativas para a melhoria do Direito Penal, exerce uma função político-
criminal.[40] Por outro lado, segundo Lizst, o Direito Penal se coloca como limite infranqueável
da Política Criminal.[41] Essa definição parte do pressuposto de que nenhuma política criminal
pode ultrapassar o limite dado pelo Direito Penal às possibilidades de incidência do poder
punitivo.

Sem dúvida, há uma relação muito próxima entre Política Criminal, Direito Constitucional e
Dogmática Jurídico-Penal, conformando uma fronteira que é definitivamente borrada sob
vários aspectos. Em alguns casos, é inclusive defendida a sua primazia em relação à dogmática
(é o caso do funcionalismo de Roxin), conformando uma abertura da dimensão normativa à
critérios valorativos político-criminais. A proposta de Roxin é bem recebida por muitos, mas
vozes expressivas se levantam contra o perigo que essa abertura representa para o caráter de
garantia do sistema. Independentemente do posicionamento adotado, como refere Queiroz,
não é nada fácil estabelecer uma distinção entre Direito Penal e Política Criminal, uma vez que
o Direito Penal é um fenômeno político por excelência.[42] O próprio surgimento ou
manutenção de um bem jurídico no Direito Penal é uma eleição de ordem política.[43]

Apesar das distinções que demarcam o espaço próprio de atuação de cada área, são disciplinas
que convergem, cada vez mais, para um modelo integrado de análise, o que é imposto pela
complexidade inerente ao fenômeno do crime.[44] Não é por acaso que Hassemer e Munõz
Conde falam na idéia de uma “Ciência Totalizadora do Direito Penal” que pretende reunir de
forma coesa todos os instrumentos das Ciências Criminais, desde a Criminologia e a Política
Criminal, passando pelo Direito Penal e Direito Processual Penal, até o que chamam de Direito
Penitenciário, sem descuidar do âmbito da Dogmática Penal.[45]

3. O jus puniendi colocado em questão: para além da dicotomia Direito Penal objetivo e Direito
Penal subjetivo

A distinção entre Direito objetivo e subjetivo surgiu no século XIX, identificando-se o Direito
Penal em sentido objetivo com a norma penal em si, e o subjetivo com o jus puniendi, ou seja,
o Direito de punir, cuja titularidade pertence ao Estado. De acordo com essa perspectiva, o
Direito Penal subjetivo expressa a faculdade que o Estado tem de elaborar e fazer cumprir suas
normas, além de executar as decisões condenatórias emitidas pelo Poder Judiciário. Inclusive
se sustenta que há uma relação muito estreita entre Política Criminal e jus puniendi, que é de
continuidade. Com efeito, o Direito Penal subjetivo ou jus puniendi pode ser definido como
uma decisão político-criminal baseada em uma norma que declara punível um fato e
perseguível seu autor. [46]

Portanto, de um lado, denomina-se Direito Penal objetivo o conjunto de normas criadas ou


reconhecidas por um determinado Estado soberano, a partir de um ato legislativo que importa
necessariamente em uma valoração e é circunscrito a um território específico; de outro lado o
Direito Penal subjetivo advém do próprio conjunto de normas que são delimitadas pelo Direito
Penal objetivo, impondo-lhe uma série de limites que caracterizam a sua função de garantia do
cidadão diante de possíveis arbitrariedades estatais. Tais limites se expressam através de
requisitos rígidos para a elaboração e aplicação de normas penais.

Entretanto, ainda que limitado pelos pressupostos da legalidade, o jus puniendi é exercido de
forma coativa por parte do Estado, que detém o monopólio do uso legítimo da força, através
de seu poder de império. Este monopólio não se transfere mesmo nos casos de ação
processual penal privada, pois ainda assim cabe ao Estado executar a sentença condenatória,
ou seja, exercer o jus puniendi. Somente ocorre transferência do jus persequendi.
No entanto, é importante assinalar que os requisitos para incidência do poder punitivo
transcendem a dimensão do Direito Penal objetivo, uma vez que são princípios de ordem
constitucional. Logo, o exercício do que se denomina – questionavelmente – jus puniendi
depende do cumprimento de uma série de pressupostos exigidos pelos critérios que compõem
a dimensão do Direito Penal objetivo e dos princípios penais constitucionais, circunscrevendo
os limites da legalidade. Problematizando a questão dos limites do poder punitivo, Ferrajoli
afirma que em um modelo de estrita legalidade, é necessário que própria elaboração das
normas esteja em conformidade com um núcleo principiológico que é característico de um
Estado Constitucional de Direito, não sendo mais aceitável que o critério de validade da norma
se restrinja única e exclusivamente ao fato de ter sido criada pelo Estado, o que conforma um
modelo de mera legalidade.

Assim, de um lado colocam-se limites quanto à criação de normas penais, postos por garantias
penais e de outro, limites quanto à aplicação de normas penais, que são garantias de
persecução: processuais e de execução. A conjunção de garantias penais e processuais conduz
a um sistema que legitima democraticamente o exercício do poder punitivo e também
deslegitima seu uso abusivo. São proposições prescritivas que referem o que, de fato, deveria
ocorrer em um Estado Democrático de Direito, mas que, infelizmente, nem sempre
acontecem, tanto no âmbito de criação como no de aplicação da norma.

A partir dessa proposição é possível repensar a velha categorização dicotômica de Direito


Penal objetivo e subjetivo a partir de outros pressupostos. Como bem assinala Brandão, os
princípios constitucionais limitadores da atividade punitiva estatal são de extraordinária
importância para a Dogmática Penal, mas não se situam no campo do Direito Penal
subjetivo.[47] O estudo dos limites à aplicação da pena por parte do estado não é se dá no
campo de um pretenso Direito Penal subjetivo, mas sim, nos Princípios de Direito Penal. Sendo
assim, não faz mais sentido ater-se a uma distinção originada no século XIX e que não se
justifica diante do panorama jurídico-penal contemporâneo.[48]

Brandão argumenta de forma acertada que não há propriamente um direito do Estado de


punir com a retirada de direitos fundamentais à vida, à liberdade e ao patrimônio, pois seria
uma contradição reconhecer a existência de um direito subjetivo do Estado a violar direitos
subjetivos constitucionais do sujeito.[49] A solução para o impasse é o reconhecimento de um
dever estatal de punir diante de um crime, uma vez que se fazem presentes os seus requisitos
(tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade) o que é muito diferente de um direito. Esta
definição permite reconfigurar a já superada dinâmica do jus puniendi e jus persequendi de
acordo com pressupostos mais adequados às feições de um Estado Constitucional de Direito.
Não é por acaso que Ferrajoli argumenta que o funcionamento do sistema penal é um dos
indicativos mais seguros do quanto é democrática ou autoritária uma sociedade.[50]

É somente a partir dessa perspectiva que o Direito Penal tem condições de se legitimar, na
medida em que a intervenção jurídico-penal é invocada para assegurar a proteção de bens
jurídicos e direitos fundamentais, mostrando-se, ao mesmo tempo, respeitosa de direitos
fundamentais. Afinal, o sistema penal em um Estado Democrático de Direito deve ser um
sistema de garantias, onde a resposta penal somente deve surgir a partir da aplicação de um
modelo que exclua a arbitrariedade tanto no momento de elaboração da norma quanto no de
sua aplicação. Esta exigência impõe que as normais penais passem por um exame mais
rigoroso do que o da mera legalidade, ou seja, a promulgação de normas formalmente válidas.
Devem também estar em conformidade com princípios constitucionais para que encontrem
validade material (estrita legalidade) como será visto a seguir.

4. O Direito Penal e os demais ramos do ordenamento jurídico

É evidente que este item mereceria um artigo inteiro por si só, o que certamente não a
proposta aqui estabelecida. Dito isso, a intenção foi enfatizar os aspectos mais relevantes da
intersecção entre Direito Penal e demais ramos do ordenamento jurídico, a partir da lógica que
deve pautar o funcionamento de um sistema penal afeito a um Estado Democrático de Direito.
Ou seja, uma proposta de máxima eficácia na redução de danos aos direitos fundamentais do
cidadão, acrescida de tutela efetiva e eficaz de bens juridicamente relevantes para a
sociedade.

4.1 Direito Penal, Direito Constitucional e Estado Democrático de Direito

A relação entre Direito Penal e Direito Constitucional é profunda e inegável. A Constituição é o


marco fundante do ordenamento jurídico de um Estado Democrático de Direito, o que faz com
que todas as normas devam estar vinculadas e subordinadas aos mandamentos
constitucionais. Isso significa dizer que o Direito Constitucional exerce influência sobre todos
os ramos do direito e, particularmente, sobre o Direito Penal. Os próprios bens jurídico-penais
encontram raízes materiais na Carta Magna e cabe ao Direito Penal a tarefa de tutelar os
direitos fundamentais nela insculpidos.

O Direito Penal é, por excelência, um meio de controle social (dentre os vários meios que
existem) do qual se vale o Estado para efetivar a função constitucional de garantir a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à dignidade, à
intimidade, etc. Neste sentido, a criminalização de uma conduta que coloca em risco o bem
jurídico vida não visa outra coisa senão a proteção subsidiária da inviolabilidade deste direito
fundamental, estabelecido no Art. 5º da Constituição Federal.

De outro lado, na medida em que a intervenção jurídico-penal implica em restrições a esses


mesmos direitos fundamentais (vida, liberdade, patrimônio) sua aplicação sempre deve
ocorrer em conformidade com princípios constitucionais penais que se colocam como limite
inegociável à concretização do poder punitivo.

Os direitos fundamentais constituem-se, portanto, como duplo núcleo de legitimação e limite


da intervenção jurídico-penal. Dentre os princípios que definem os limites da intervenção
jurídico- penal destacam-se: a legalidade, proporcionalidade, humanidade e individualização
das penas, direito de defesa e devido processo legal, juiz natural, contraditório, presunção de
inocência, irretroatividade da lei penal, etc.

O limite dado por este núcleo principiológico constitucional se manifesta tanto em sede de
aplicação da norma quanto da sua elaboração, sendo esta a especificidade que distingue os
Estados Constitucionais de Direito dos antigos Estados de Direito do século XIX e dos Estados
Absolutistas. Portanto, como lembra Hesse, é a Constituição que estabelece os pressupostos
de criação, vigência e execução do ordenamento jurídico, sendo seu elemento de unidade.[51]
Conforme refere Ferrajoli, o modelo positivista clássico reduzia a validade de uma norma à sua
existência jurídica (Hobbes, Bentham, Kelsen, Hart, Bobbio e tantos outros) – considerando-a
apenas como mero produto de um ato normativo de acordo com as normas que regulam sua
produção. Jamais entrava em questão o significado ou conteúdo normativo das normas
produzidas. Sem dúvida, trata-se de uma concepção insuficiente para os modernos Estados
constitucionais de direito, onde se exige também dos enunciados normativos produzidos uma
valoração da correspondência do seu conteúdo com o “dever ser” jurídico estabelecido por
normas superiores, de natureza constitucional.

Ou seja, a própria hierarquia normativa exige conformidade das normas inferiores com as
superiores, sendo importante neste sentido a distinção entre vigência e validade. Como
aponta Ferrajoli, efetivamente existem normas acerca da produção de normas, que no Estado
constitucional de direito tem introduzido múltiplos princípios ético-políticos ou de justiça que
impõem valorações ético-políticas das normas produzidas e atuam como parâmetros ou
critérios de legitimidade e ilegitimidade não mais externos ou jusnaturalistas, senão internos
ou juspositivistas. Dessa forma, as normas se tornam inválidas se violam princípios
constitucionais de direitos humanos. Não se trata somente de regularidade formal, mas
material também.

Portanto, uma determinada norma pode ter vigência (formal), observando-se apenas o critério
de legitimidade jurídica formal, mas não ter validade (material) por estar em desconformidade
com significados ou conteúdos normativos delimitados constitucionalmente. No Estado
absolutista validade e vigência eram equivalentes. O Estado Democrático de Direito
caracteriza-se justamente por essa possível divergência. A validade das normas exige
conformidade com os valores estabelecidos por outras normas superiores a elas. Uma teoria
juspositivista contemporânea como a de Kelsen não faz essa distinção, pois para o autor, todo
Estado é um Estado de Direito, equivalendo-se vigência e validade. A possibilidade de
invalidade de uma norma vigente se abre diante da recusa dessa premissa, onde por muito
tempo se afirmou que o ordenamento jurídico é um todo completo e coerente, desprovido de
lacunas.

Em um Estado Absoluto, a resposta à questão “quando e como punir?” é muito simples:


“quando e como queira o soberano”. Já no Estado Democrático de Direito, são normas
constitucionais que oferecem as respostas aos problemas do “quando” e do “como”. Para
Ferrajoli, dependendo do caráter vinculante das respostas, um sistema será mais ou menos
garantista, mais ou menos de “direito”.
Dessa forma, a técnica de legitimação interna própria do direito penal consiste em vinculações
ou imperativos negativos que prescrevem ao legislador e/ou ao juiz, quando e como não punir,
não proibir, não julgar, etc. Em um Estado Democrático de Direito, resultam vinculantes para
todas as normas de nível inferior. Portanto, não há exagero em afirmar que o Direito
Constitucional se sobrepõe ao Direito Penal (assim como a todos os demais ramos do
ordenamento jurídico).

Entretanto, não pode ser esquecido que não é exatamente assim que as coisas se passam no
campo da prática. O próprio Ferrajoli afirma a existência de uma “endêmica possibilidade de
contradição entre normas, gerada pela violação dos modelos em função das práticas e pela
possível ineficácia dos primeiros e a correlativa invalidade dos segundos”.*52+ O autor
considera que “quanto maiores os valores de justiça professados e perseguidos por um
ordenamento, mais complexas e vinculantes as garantias, maior a possível divergência com as
práticas efetivas, e por conseqüência, o índice de ineficácia das primeiras e falta de validez das
segundas”.*53+

Evidentemente, a realização plena do modelo é uma meta a ser perseguida, pois muitas vezes
os direitos fundamentais normativamente reconhecidos são desconsiderados em maior ou
menor medida no momento de sua aplicação efetiva.[54]

Pode parecer um defeito do Estado Democrático de Direito, mas é, ao contrário, o pressuposto


da sua função garantista.[55] Num Estado Absoluto não existem antinomias decorrentes de
divergência entre níveis normativos – validade das normas confunde-se com vigência.
Portanto, como assinala Queiroz, a hierarquia entre Constituição e o Direito Penal exige que
todos os atos legislativos infraconstitucionais (leis complementares e ordinárias, medidas
provisórias, decretos) estejam em conformidade com os princípios e regras (que são gênero da
espécie norma) constitucionais fundamentais que lhe dão vida e sustentação, sob pena de
invalidação por meio do controle (direto ou indireto) de constitucionalidade.[56] Em suma, há
uma hierarquia formal, funcional e axiológica, pois as disposições do Direito Penal somente
valem e obrigam quando dirigidas à realização de fins constitucionais, prestigiando os valores
mais caros, aferidos segundo cada contexto histórico-cultural.[57]
4.2 Direito Penal, Direito Processual Penal e Instrumentalidade Processual Penal

A relação entre Direito Penal e Direito Processual Penal é tão estreita que antigamente ambos
eram regulados conjuntamente no mesmo corpo legal.[58] Ainda que a distinção entre Direito
Penal substantivo (ou material) e Direito Penal objetivo (formal) tenha perdido a razão de ser
em função do desenvolvimento da autonomia do Direito Processual Penal, algumas palavras se
fazem necessárias.

De acordo com Marques, o Direito Processual Penal é “o conjunto de princípios e normas que
regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da
Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos
auxiliares”.*59+ Diferentemente do Direito Penal, que tem relação mais próxima com os textos
legais, o Direito Processual Penal é voltado para uma prática, para a delimitação de suas
etapas e dos papéis que correspondem às partes e ao juiz. É exatamente essa distinção que
deve delimitar a natureza processual ou material de uma norma e não simplesmente a sua
inserção em determinado corpo legal.

Prova disso é que o Código Penal contém dispositivos referentes à ação processual penal (art.
100 a 106, CP) e também tutela os bens jurídicos referentes à Administração da Justiça,
estabelecendo sanções em caso de obstrução de seus interesses (arts. 338 a 359, CP).

Enquanto o Direito Penal é “constituído pelas normas que definem os princípios jurídicos que
regulam os seus institutos, definem as condutas criminosas e cominam as sanções
correspondentes”*60], o Processo Penal, é o instrumento através do qual pode ser imposta
uma pena em função de um delito. De modo que existe uma íntima relação entre delito, pena
e processo, que são complementares.[61] Portanto, o poder punitivo somente pode ser
exercido através de um meio altamente formalizado de exercício do jus persequendi: a
instrumentalidade processual penal. Se a criminalização primária constitui (em nível abstrato)
o estabelecimento jurídico-penal do comportamento desviante, é com a criminalização
secundária (aplicação da pena em concreto) que a ameaça de sanção se concretiza, o que só
pode ser feito através do devido processo legal. Com efeito, é somente através do devido
processo legal que a jurisdição pode ser efetivamente exercida e verificados os elementos que
integram o conceito jurídico de crime (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade), impor uma
pena ao autor da transgressão.

Não se pode falar em subordinação da esfera formal à esfera material, uma vez que o Direito
Processual Penal possui autonomia e conteúdo que lhe são peculiares, tratando da aplicação
do Direito Penal, que somente encontra realização prática e concreta através da
instrumentalidade processual penal. O processo penal, juntamente com sua regulamentação
jurídica, é um instrumento do Direito Penal.[62] Nele se realiza o Direito Penal, que lhe
subscreve os objetos que deve investigar e sobre os quais deve se pronunciar. No entanto, a
forma com que o instrumento processual deve realizar essa tarefa não vem pré-definida pelo
Direito Penal material. O Direito Processual penal é autônomo, ainda que subordinado, assim
como Direito Penal, a princípios constitucionais.

Uma questão delicada que merece ser mencionada – embora não diretamente pertinente ao
tema em questão – é a relação entre Direito Processual Penal e Direito Processual Civil, pois
muitos defendem a existência de uma série de conceitos comuns a ambos.[63] Trata-se de
uma posição que embora permaneça majoritária não pode mais se sustentar, pois o emprego
desmedido de categorias do processo civil conduz a uma série de distorções e inadequações
em âmbito processual penal.[64]

4.3. Direito Penal e Direito Privado

Como afirmado anteriormente, o Direito é uno, ou seja, todos os ramos do ordenamento


jurídico encontram-se interligados, ainda que, em certa medida, tenham sua autonomia
preservada de acordo com as especificidades de cada área. Em determinadas circunstâncias,
podem, inclusive, relacionar-se de forma complementar.

É o caso, por exemplo, das indenizações civis ex-delicto que acompanham a condenação em
âmbito penal e a tutela penal de vários institutos de âmbito civil, como a propriedade (furto,
roubo, dano, etc.), a fraude nos negócios privados, a violação da fé pública e autenticidade de
documentos públicos e particulares.

Além disso, em sede comercial, o Direito Penal exerce tutela do cheque, das duplicatas e da
emissão de warrants, além de estabelecer sanções para a fraude mercantil e para
especulações abusivas (Direito Penal Econômico). Também se mostra um meio apto – em
casos de falência – a coibir os abusos sobre garantias do crédito mercantil.[65]

4.4. Direito Penal e Direito Administrativo

O Direito Administrativo é composto por um conjunto de regras e princípios que regem a


organização e funcionamento da Administração Pública, bem como suas relações com
particulares no exercício de atividades de interesse público. Dentre as várias funções da
Administração Pública, merece referência a chamada sancionatária, de punição ou de polícia,
com intuito de disciplinar e promover o interesse geral.[66] Ou seja, o Direito Administrativo
também comporta sanções, mas diferentemente do Direito Penal, aplica sanções de caráter
disciplinar, que são relativas aos ilícitos que se relacionam ao âmbito da Administração Pública.
São sanções que não têm, portanto, caráter de pena, enquanto as sanções penais exigem,
obrigatoriamente, a prática de um crime e a sua verificação em um procedimento processual
penal em contraditório, com direito a ampla defesa. A maior exigência de rigor em âmbito
penal – devido ao princípio da legalidade – é, inclusive, critério de distinção entre crime
(conduta típica, antijurídica e culpável) e ilícito administrativo.

Assim como o Direito Penal, o Direito Administrativo também realiza a proteção de bens
jurídicos, sendo que o que determina a escolha entre crime e ilícito administrativo são critérios
de ordem político-criminal, pois a fronteira entre os dois ramos do direito é difícil de ser
delimitada, motivo pelo qual podem perigosamente se confundir. De fato, nos últimos tempos
tem ocorrido um processo de inflação legislativa que torna cada vez mais difícil definir o
espaço de atuação de cada esfera. O perigo reside, de um lado, na atribuição de tutela penal a
um bem onde a tutela administrativa já seria eficaz (e com isso conduzindo a uma intervenção
excessiva na vida do cidadão, pois o remédio penal é sempre mais amargo); e de outro, na
atribuição de tutela administrativa a um bem que exige tutela penal para ser efetivamente
resguardado, o que importa em uma proteção insuficiente ao referido bem.
É uma decisão político-criminal que define o caráter administrativo ou penal de uma
determinada lesão e sobre esta base a respectiva sanção. Se fato não lesiona bens ou direitos
fundamentais, basta sanção pecuniária, para um ilícito administrativo de competência de
autoridade administrativa.[67] Caso lesione bem jurídico ou direito fundamental, qualifica-se
como crime, e logo, de competência da autoridade judiciária. Esta questão vem ganhando
cada vez mais importância, devido à tendência de criminalizar matérias que tradicionalmente
pertencem ao escopo do Direito Administrativo, utilizando para isto a técnica dos delitos de
perigo em vez da dos delitos de lesão ou resultado.[68] O problema refere-se à função e
legitimidade do Direito Penal e trata-se de questão particularmente importante no que se
refere aos danos de ordem ambiental, por exemplo.

5. Função e legitimidade da intervenção jurídico-penal

Ainda que toda ordem social disponha de mecanismos que garantem a sua estabilidade, que
conformam os chamados controles sociais informais, tais controles necessitam ser reforçados
por um controle específico, de ordem jurídica. O controle social formal da intervenção jurídico
penal é a face mais aguda desse controle. O Direito Penal cumpre uma função essencial,
enquanto ramo do ordenamento jurídico encarregado de zelar por condições sociais
indispensáveis para a ordem social.

Temos assim, de um lado, controle social informal (da sociedade) e controle social formal (do
Estado), sendo que o último entra em cena quando os mecanismos de autoproteção da ordem
social fracassam. Assim, a intervenção jurídico-penal garante, nos conflitos mais graves, a
inviolabilidade de valores fundamentais da convivência humana, reagindo diante de
determinados comportamentos desviados (os delitos), se servindo de uma classe particular de
sanções: as penas e medidas de segurança.

Nas palavras de Garcia-Pablos, “o controle social penal se serve de um particular sistema


normativo, que traça pautas de conduta ao cidadão, lhe impondo mandamentos e
proibições”.*69+ Enquanto uma das instâncias do controle social, o Direito Penal procura
disciplinar o corpo social, perseguindo a estabilidade do status quo e procurando submeter o
indivíduo à conformidade em relação às normas que tutelam bens jurídico-penais.

Todavia, a função da norma penal não se esgota no mero estabelecimento de deveres, sendo
voltada para a defesa de bens ou interesses valiosos para a convivência e a paz social. O Direito
Penal, como qualquer outro ramo do ordenamento jurídico, não se justifica nem tem sentido
por si só, senão na medida em que é articulado à dinâmica social. Trata-se de um raciocínio
que coloca em questão a legitimidade e a função da intervenção jurídico-penal. Tudo isso
conduz, como refere Garcia-Pablos, a duas referências normativas e valorativas, que dão
sentido, desde um ponto de vista material, ao problema colocado pela necessidade de
proteção da ordem social: esta é a função que desempenham os conceitos de “bem jurídico” e
“ética social”.*70+

Conforme já estabelecido, o Direito Penal é um meio de controle social formal, que tem por
finalidade a proteção subsidiária de bens jurídicos, exercendo uma dupla função de proteção e
garantia. Trata-se da opinião doutrinária dominante, mas que, como referido anteriormente,
não é a única, sendo de especial relevância uma tese minoritária, porém, significativa: a que
extrai de um magistério ético das proibições penais uma força “criadora de costumes”. Trata-
se da suposta função ético-social do Direito Penal, que segundo seus defensores, como Welzel
e Cerezo Mir, é mais importante e eficaz do que a própria proteção de bens jurídicos.[71]

5.1 A função de proteção de bens jurídicos

Hassemer e Munõz Conde comentam que nem sempre a questão do bem jurídico é tratada no
tópico referente à “missão do Direito Penal”, uma vez que algumas obras reservam o assunto
ao ponto que trata da teoria do delito. Para os autores, o reconhecimento de que a missão do
Direito Penal é a proteção de bens jurídicos faz com que o assunto repercuta também na
teoria do delito, não havendo grande importância na opção assumida.[72] Preferimos seguir
aqui a orientação de Hassemer, Munõz Conde e Garcia-Pablos, que discutem o tema a partir
da função e missão do Direito Penal.
Trata-se de um tema de grande importância política e social, uma vez que é a partir da
definição de bem jurídico – em torno da qual não há unanimidade – que é possível estabelecer
quais são os instrumentos jurídico-penais idôneos e qual o seu espaço de atuação e
intervenção. O que significa dizer que o Direito Penal tutela determinados bens jurídicos?

Em primeiro lugar, não se trata pura e simplesmente de exigir a obediência dos cidadãos aos
ditames do Direito, mas sim, de colocar a natureza instrumental do Direito Penal a serviço da
convivência humana, através da proteção de valores fundamentais da ordem social, ou seja, a
proteção de bens jurídicos. Bens jurídicos são bens vitais, fundamentais, para o indivíduo e
para a comunidade, que ao serem tutelados pelo Direito Penal adquirem a condição de bens
jurídicos.[73] Segundo essa perspectiva, a função do Direito Penal – como instrumento de
controle formalizado – encontra legitimidade na medida em que sua atuação visa a referida
proteção, através de um conjunto normativo seguro, prévio, previsível e controlável, que
sempre deve objetivar a redução de danos em relação a inocentes.

Como lembra Garcia-Pablos, o Direito Penal somente protege os bens mais valiosos para a
convivência, diante dos ataques mais intoleráveis que podem sofrer (natureza fragmentária da
intervenção jurídico-penal); e somente quando não há outros meios eficazes, de natureza não
penal para protegê-los (natureza subsidiária do Direito Penal). O autor conclui que o Direito
Penal realiza uma função indispensável, já que a vida humana somente é viável se os bens
jurídicos são garantidos de forma eficaz. [74] De acordo com esta posição, o Direito Penal
protege “bens vitais”, como a vida, a liberdade, a segurança e a propriedade; bens, portanto,
que são indispensáveis para a convivência humana em sociedade e que por isso devem ser
protegidos pelo poder de coação do Estado através da pena pública.[75]

No entanto, afirmar que a função do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos está longe de
encerrar a questão, pois o próprio conceito de bem jurídico está longe de ser claro e
inequívoco, uma vez que existem várias definições conflitantes na doutrina.

5.2. A função ético-social do Direito Penal


De acordo com Silva-Sanchéz, parece difícil negar que no plano de realidade (fático) o Direito
Penal exerce sobre a sociedade uma função ético-social, que também pode ser chamada de
força configuradora de costumes.[76] Portanto, a partir deste ponto de vista, o que interessa
investigar é a legitimidade e a extensão dessa influência e não a sua existência.[77]

Silva-Sanchéz considera que essa função pode ser comprovada com transcorrer de tempo de
um processo de criminalização ou descriminalização e provavelmente tem relação com a
estreita vinculação entre a matéria penal e os valores éticos fundamentais. De acordo com
essa perspectiva, o Direito Penal representa o “mínimo ético” da comunidade, integrado pelas
convicções mais profundas e geralmente compartilhadas em seu seio.[78] Portanto, sob um
ponto de vista material, o delito não lesiona ou põe em perigo somente um bem jurídico, mas
também constitui uma infração da ética social.[79]

O autor de maior nome que sustenta a função ético-social do Direito Penal é Hans Welzel.
Importante referir que, no entanto, Welzel não nega em momento algum a função de
proteção de bens jurídicos, mas apenas lhe atribui uma característica subsidiária face à função
ético-social.[80] A proteção de bens jurídicos efetivamente se dá, para ele, através e por meio
da tutela de valores elementares ético-sociais da ação.[81] Welzel fundamenta sua posição
através da conexão entre Direito Penal e valores elementares da ética social e inclusive,
considera que a função ético-social é muito mais eficaz (no campo político criminal) do que a
clássica função de proteção de bens jurídicos enquanto meio de defesa da sociedade e luta
contra o delito.

Segundo o autor, com isso é assegurada a vigência dos valores ético-sociais positivos, como o
respeito à vida, à saúde, à propriedade, etc. São valores que consistem em uma atitude de
conformidade ao Direito e que constituem o substrato ético-social das normas de Direito
Penal. Portanto, a função do Direito Penal seria assegurar a validade inviolável desses valores,
mediante a ameaça e aplicação de penas para ações que afrontam de modo significativo
valores fundamentais da vida humana. [82] Como percebe Garcia-Pablos, Welzel estrutura seu
sistema a partir da distinção entre desvalor da ação e desvalor do resultado, atribuindo
primazia ao primeiro.[83] De um lado, o Direito Penal busca a proteção de determinados bens
essenciais para a convivência humana (os bens jurídicos), estabelecendo uma sanção em caso
de lesão a eles (desvalor do resultado); de outro lado, obtém a proteção de tais bens jurídicos
proibindo ou castigando as condutas dirigidas a lesioná-los, objetivando evitar o desvalor da
ação.[84]
Portanto, a partir do momento que o Direito Penal fixa pena ao atos contrários ao Direito,
ampara, ao mesmo tempo, os bens jurídicos, estabelecendo o desvalor do ato correlativo.
Assim, por exemplo, ao assegurar o respeito pela personalidade humana, protege a vida.[85]
Sendo assim, a função primária do Direito Penal, para Welzel, não é a proteção de bens
jurídicos (como a propriedade e a vida), pois sua intervenção é tardia. Acima da proteção de
bens jurídicos concretos se encontra a missão de assegurar a validade real (a observância) dos
valores de atuar conforme o pensamento jurídico, que constitui o mais sólido fundamento
sobre o qual se sustentam o Estado e a sociedade.[86] De acordo com Welzel, o mero amparo
de bens jurídicos tem somente uma finalidade negativo-preventiva, policial-preventiva. O
papel mais profundo que cabe ao Direito Penal é de natureza positiva, ético-social: ao
estabelecer sanções aos afastamentos mais manifestos dos valores fundamentais do
pensamento jurídico, o Estado exterioriza, da forma mais ostensiva que dispõe, a validade
inviolável de tais valores, formando o juízo ético-social dos cidadãos e fortalecendo seu
sentimento de permanente fidelidade ao Direito.[87]

Enfim, para Welzel, é somente através da garantia de valores elementares ético-sociais da


ação que é possível obter uma proteção ampla e duradoura dos bens jurídicos.[88] A função
ético-social garantiria de forma mais eficaz a proteção de bens jurídicos do que a mera idéia de
amparo a esses bens. O autor inclusive aponta que o Direito deve exercer influência sobre a
consciência dos cidadãos e sobre os costumes, fazendo valer a sua força sobre os instintos
egoístas, sendo essa uma missões fundamentais de todo o Direito, quem dirá do Direito Penal
e do Direito Público.[89]

Garcia-Pablos não está equivocado quando refere que por trás da função ético-social existe
uma verdadeira intenção pedagógica, muito mais ambiciosa do que a mera proteção de bens
jurídicos. Com efeito, segundo Cerezo Mir, que é o mais destacado defensor desta posição na
Espanha, há uma intenção clara de estimular o respeito aos bens jurídicos, buscando obrigar
os cidadãos e influenciar suas consciências, inclusive, apelando a seus interesses egoístas por
meio de coação.[90] Outros autores, como Mayer, Jescheck, Marauch e Stratenwerth também
tem defendido essa posição, ainda que a partir de outros pressupostos.

Ainda que possa ser discutida a sua validade enquanto fundamentação teórica, o fato é que o
Direito Penal vem exercendo uma força criadora de costumes, conformando uma espécie de
pedagogia social.[91] Os processos político-criminais de neocriminalização são, eles próprios,
em alguma medida, formas de estabelecimento de uma moral, de uma ética em determinado
sentido. Este é o caso, evidentemente, de boa parte das infrações contra o meio ambiente,
como refere Silva Sánchez.[92]

Todavia, como refere Garcia-Pablos, parece claro que não cabe ao Direito Penal a realização de
um processo de moralização da sociedade e muito menos o estabelecimento de uma ética (em
qualquer sentido) uma vez que isto cabe a outras instâncias.[93] Sua função deve se restringir
à proteção de bens jurídicos, não havendo fundamento teórico para uma função ético-social,
mesmo que supostamente esta possa vir a ser mais eficaz na proteção de bens jurídicos.

Não é aceitável que em um Estado Democrático de Direito o Direito Penal tenha a pretensão
de exercer influência sobre a consciência dos indivíduos, interferindo e modificando seus
valores e crenças.[94] Com efeito, trata-se de algo que perigosamente se aproxima da vocação
totalitária de regimes como o Nazista e o Fascista, onde se esperava lealdade do cidadão ao
Estado acima de tudo. Trata-se de uma interferência que é visivelmente abusiva e ameaça
borrar a distinção entre Direito e Moral, que, como visto anteriormente, é essencial para o
desenvolvimento de todo sistema jurídico-penal contemporâneo. De fato, a função ético-social
acaba por legitimar a expansão do âmbito de intervenção jurídico-penal para além dos estritos
limites impostos pela idéia de lesão ou perigo concreto de lesão a bem jurídico. Há um
deslocamento de enfoque onde evitar o resultado passa a ser menos importante do que
buscar uma modificação das atitudes dos cidadãos diante dos valores exigidos pelo Direito.[95]

Como aponta Silva Sánchez, a atribuição dessa função ao Direito Penal prejudica, inclusive, o
surgimento de uma ética civil. Como se isso não bastasse, os processos de descriminalização
poderiam conduzir a equívocos, onde o que não tem relevância penal poderia ser considerado
ética e moralmente aceitável, só porque não é punido com uma pena.

Para Garcia-Pablos, a função ético-social não é nada além do que uma manifestação da função
promocional, que alguns autores atribuem, sem fundamento algum, ao Direito Penal. Sem
fundamento porque o Direito Penal não é responsável pelo desenvolvimento social e nem
tampouco o baluarte moral da sociedade. Ainda que uma melhora nos níveis éticos da
sociedade seja necessária e que ela possa conduzir a uma redução significativa nas taxas de
criminalidade, não corresponde ao Direito Penal tal missão.[96]

Considerações finais:

Sempre é tarefa difícil sintetizar de forma clara os argumentos desenvolvidos ao longo de um


texto extenso, mas reconhecendo esse déficit, é possível dizer que o Direito Penal (e sistema
penal, por extensão, a partir de uma concepção integrada) deve ser um mecanismo de
limitação do poder punitivo, através de uma intervenção restrita e seletiva, mas exigível em
certos casos, diante da intolerabilidade face aos conflitos que ameaçam a paz social e colocam
em risco o bem comum, objetivando a redução de danos em relação a inocentes através da
busca da máxima eficácia de um sistema de garantias mínimas.

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Notas:

[1] MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2003.
p.1.
[2] MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2003.
p.19.

[3] O termo controle social expressa os recursos que uma determinada sociedade dispõe para
assegurar-se da conformidade dos comportamentos de seus membros a um conjunto de
princípios e regras estabelecidos, assim como as formas organizadas com que a sociedade
responde às suas transgressões. Portanto, não se refere somente ao Direito Penal, que é um
dos vários meios de controle social de que uma sociedade dispõe. BUSTOS RAMIREZ, Juan J e
MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal Volumen I. Madrid: Editorial Trotta,
1997. p.15.

[4] Como também é o caso da Polícia, do Processo Penal, da Justiça Penal e dos
estabelecimentos penitenciários em sentido amplo (carcerários, sócio-terapêuticos, etc.).
Diferentemente do controle social informal (a família, por exemplo) são meios de controle
regulados pelo Direito e que se integram dentro um sistema dinâmico onde cada um cumpre
uma função definida: o sistema penal, cuja função é o exercício de um controle específico, o
controle penal. BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de
Derecho Penal Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.15. pp.18-19.

[5] HASSEMER, Winfried. Por qué no Debe Suprimirse el Derecho Penal. México: Instituto
Nacional de Ciencias Penales, 2003. p.11.

[6] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad Complutense,


1995. p.38.

*7+ As definições partem da clássica formulação de Von Lizst: “Direito Penal é o conjunto de
regras jurídicas estabelecidas pelo Estado, que associam o crime, como fato, à pena, como
legítima conseqüência”. Trata-se de uma definição a qual se acrescentou a medida de
segurança, que ao longo do século XX ingressou nos sistemas jurídico-penais
contemporâneos”. MIR PUIG, Santiago. Introduccion a las Bases del Derecho Penal. Buenos
Aires: BdeF, 2003. p.7.

[8] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.2.

[9] BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.5.
[10] PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.55.

[11] NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. São Paulo: RT, 2008. p.37.

[12] ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid: Civitas, 1997. p.41.

[13] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.3.

[14] Como referem Bustos Ramirez e Malarée, em cada etapa histórica existe um conceito
diferente de desvio e de suas estratégias de controle, assim como dos órgãos encarregados de
exercê-lo. BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho
Penal Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.16.

*15+ É o que refere Roxin, ao dizer que deveria se chamar, ao menos, de “Direito Penal e de
Medidas”. A manutenção do termo “Direito Penal” se explica pela integração tardia das
últimas a este ramo jurídico. ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid:
Civitas, 1997. p.42. Welzel também considera a expressão restrita demais em função da
inclusão de medidas de segurança. WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires:
Roque Depalma Editor, pp.21-22.

[16] Cultural, porque se preocupa com o dever ser e não com o ser, como é o caso das ciências
exatas (embora existam ciências humanas que também se preocupam com o ser). É normativa
porque tem como objeto o estudo da norma, do conjunto dos preceitos legais e das
conseqüências jurídicas da desobediência dos preceitos normativos. É necessariamente
valorativa, pois estabelece sua própria escala de valores, valorizando as normas, que dispõe de
forma hierárquica. Além disso, há um caráter finalista, pois preocupa-se com a proteção de
bens jurídicos fundamentais, através da ameaça legal de aplicação de sanções em caso de
violação de seus mandamentos.

[17] No século XIX, o caráter público do Direito Penal, conforme assinalado por Feuerbach,
chegou a ser colocado em questão por Hugo e Kleinschrod, que afirmavam o seu caráter
privado, além da posição eclética de Grolmann. Hoje não há qualquer dúvida quanto ao
monopólio estatal em sede de criação e aplicação de normas penais. JIMENEZ DE ASÚA, Luis.
Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1997.
p.19.

[18] JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires:
Editorial Sudamericana, 1997. p.20.

[19] ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal. Buenos Aires: Ediar, 1991. p.57.

[20] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Volume 1: Parte Geral. São Paulo:
Saraiva, 2008. p.4.

[21] PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.56.

[22] No entanto, para parte da doutrina (Bitencourt e Mirabete, entre outros) considera que a
distinção entre Direito Penal comum e Direito Penal especial trata-se de um critério de
classificação que tem por base a competência do órgão encarregado de aplicar a norma. De
acordo com essa concepção – que enfatiza o órgão competente e não uma determinada classe
de indivíduos ou certos ilícitos – são de Direito Penal especial o Direito Penal Militar e Direito
Penal Eleitoral. Em que pesem as opiniões contrárias de Frederico Marques e Damásio de
Jesus, Cezar Bitencourt considera que tanto a Justiça Militar quanto a Justiça Eleitoral são
órgãos especiais com estruturas próprias e jurisdições especializadas, o que justifica a
especialidade em questão. Portanto, de acordo com esse critério, essa distinção não se
relaciona com a distinção entre legislação penal comum (inserida no Código Penal) e a
chamada legislação extravagante, que se encontra disposta nas demais leis de caráter penal
que integram o ordenamento jurídico. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal
1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.6.

[23] Para Asúa, a Dogmática Jurídico-Penal consiste na reconstrução do Direito vigente de


acordo com bases científicas. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La Ley y el
Delito. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1997. p.24.

[24] Como afirma Munõz Conde, somente uma atividade humana pode ter um método, o que
não é o caso de um conjunto normativo. MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho
Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001. p.211.
[25] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.187.

[26] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.212.

[27] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.278.

[28] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, p.1.

[29] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.212.

[30] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.45.

[31] Jimenez de Asúa emprega o termo enciclopédia das Ciências Penais (para referir todas as
disciplinas que estudam o delito, o delinqüente e a pena) que é composta dos seguintes
ramos: a) Filosofia e História: Filosofia do Direito Penal, História do Direito Penal e Legislação
Penal comparada; b) Ciências Causal-explicativas (Criminologia): Antropologia e biologia
criminais, Psicologia Criminal, Sociologia Criminal, Penologia; c) Direito Penal (dogmática
penal); Direito Processual Penal, Direito Penitenciário e Política Criminal; d) Ciências de
Investigação: Criminalística e Polícia Científica; e) Ciências Auxiliares: Estatística Criminal,
Medicina Legal e Psiquiatria Forense. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de Derecho Penal: La
Ley y el Delito. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1997. pp.25-26.

[32] ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General Tomo I. Madrid: Civitas, 1997. p.47.

[33] Expressão concebida pelo antropólogo francês Topinard no século XIX. Importante citar
que não há um conceito pacífico do que consiste a Criminologia. Isto se deve, em primeiro
lugar, à imprecisão de seu objeto, o delito e, em segundo lugar, aos distintos enfoques com
que este objeto pode ser abordado. MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal.
Buenos Aires: BdeF, 2001. p.193.
[34] GARCÍA-PABLOS, Antonio. Criminologia: uma introdução aos seus fundamentos teóricos.
São Paulo: RT, 2002.

[35] GARCÍA-PABLOS, Antonio. Criminologia: uma introdução aos seus fundamentos teóricos.
São Paulo: RT, 2002. pp.26-27.

[36] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.164.

[37] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.199.

[38] Franz Von Lizst especificamente recusava à Política Criminal o estatuto de uma ciência.
Trata-se de discussão que é atualmente estéril, pois a própria definição de ciência e seu
estatuto de verdade se encontram em profunda crise.

[39] BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal
Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.29.

[40] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.282.

[41] MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion al Derecho Penal. Buenos Aires: BdeF, 2001.
p.200.

*42+ O autor considera que a existência mesma do Direito Penal “*…+ não decorre de uma
necessidade moral, divina ou ética, mas política: se num determinado momento o Estado
entendeu – e ainda entende – de se valer de leis e instituições penais para responder a
determinados conflitos, assim o fez por julgá-lo necessário à sua própria afirmação enquanto
poder”. QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006. p.16.
[43] BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
p.13.

*44+ Como considera Gauer, “toda e qualquer forma de ilícito pode ser considerado um
fenômeno complexo, e, portanto, impossível de ser explicado sob o olhar de uma só ciência
com base na “verdade” absolutizada e na imparcialidade do julgador”. GAUER, Ruth Maria
Chittó. A ilusão totalizadora e a violência da fragmentação. In: GAUER, Ruth Maria Chittó
(coord.) Sistema Penal e Violência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.13.

[45] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al


Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. Pp.143-144.

[46] BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal
Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.63.

[47] BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
12.

[48] Manzini já dizia que não existia esse direito subjetivo do Estado, afirmando que a
faculdade de punir era um atributo da soberania. JIMENEZ DE ASÚA, Luis. Principios de
Derecho Penal: La Ley y el Delito. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1997. p.21.

[49] BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p.
12.

[50] FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.

[51] HESSE, Konrad. Escritos de Derecho Constitucional. Madrid: Centro de Estudios


Constitucionales, 1983. p.17.

[52] FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.
[53] FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.

[54] BUSTOS RAMIREZ, Juan J e MALARÉE, Hernán Harmazábal. Leciones de Derecho Penal
Volumen I. Madrid: Editorial Trotta, 1997. p.33.

[55] FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002.

[56] QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006. p.33.

[57] QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006. p.35.

[58] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al


Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.123.

[59] MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal v.1. Campinas:
Bookseller, 1997. p.32.

[60] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal 1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.6.

[61] LOPES JR, Aury. (Re)Pensando as condições da Ação Processual Penal. In: GAUER, Ruth
Maria Chittó (org). Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2008.

[62] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al


Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.125.

[63] MIRABETE, Júlio Fabbrini e FABBRINI, Renato. Manual de Direito Penal Vol.1: Parte Geral.
São Paulo: Atlas, 2008. p.9.
[64] LOPES JR, Aury. (Re)Pensando as condições da Ação Processual Penal. In: GAUER, Ruth
Maria Chittó (org). Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2008.

[65] PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.61.

[66] PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro v.1. São Paulo: RT, 2008. p.59.

[67] FERRAJOLI, LUIGI. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo: RT, 2002. p.

[68] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al


Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.132.

[69] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.40.

[70] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. pp.39-40.

[71] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.38.

[72] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al


Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. pp.99-100.

[73] CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004.
p.14.

[74] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.41.
[75] HASSEMER, Winfried e MUNÕZ CONDE, Francisco. Introduccion a la Criminologia y al
Derecho Penal. Valencia: Tirant Lo Blanch, 1989. p.103.

[76] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.300.

[77] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.301.

[78] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.300.

[79] CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004.
p.17.

[80] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.5.

[81] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.5.

[82] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
pp.2-3.

[83] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.44.

[84] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.2.

[85] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.3.
[86] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.3.

[87] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
pp.3-4.

[88] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
pp.4-5.

[89] WELZEL, Hans. Derecho Penal: Parte General. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956.
p.5.

[90] CEREZO MIR, José. Curso de Derecho Penal Espanõl: Parte General. Madrid: Tecnos, 2004.
p.17.

[91] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.48.

[92] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.302.

[93] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.48.

[94] SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Aproximación al Derecho Penal Contemporáneo. Barcelona:
JMB, 1992. p.303.

[95] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad


Complutense, 1995. p.49.
[96] GARCIA-PABLOS. Antonio. Derecho Penal: Introducción. Madrid: Universidad
Complutense, 1995. p.49.

Informações Sobre o Autor

Salah H. Khaled Jr.

Professor assistente de Direito Penal, Processo Penal e Criminologia da Universidade Federal


do Rio Grande – FURG. Coordenador da Especialização em Direito Constitucional da FURG.
Doutorando e Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Mestre em História (UFRGS). Especialista
em História do Brasil (FAPA). Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (PUCRS). Licenciado em
História (FAPA). Líder do Grupo de Pesquisa Hermenêutica e Ciências Criminais (FURG/CNPq).
Autor de Ambição de Verdade no Processo Penal (Desconstrução Hermenêutica do Mito da
Verdade Real), editora jusPODIVM. 2009.

Direito Penal Revista 75

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