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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA E FISIOTERAPIA - FEFF

Gabrielli Reis

Keitiana Rabelo Paiva

NEUROCISTICERCOSE

MANAUS
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA E FISIOTERAPIA - FEFF

Gabrielli Reis

Keitiana Rabelo Paiva

NEUROCISTICERCOSE

Trabalho apresentado ao curso de fisioterapia


da Universidade Federal do Amazonas, como
requisito para obtenção de nota da disciplina
Clinica em doenças tropicais.

Profª.

MANAUS

2022
Introdução

A neurocisticercose (NCC) é uma condição causada pela presença de cisticercos, uma forma
larval do helminto Taenia solium, em qualquer parte do sistema nervoso central (encéfalo,
medula espinhal, retina) do ser humano. A NCC é a parasitose mais comum do SNC.

A transmissão da NCC é dividida em “interna” e “externa”. Na interna os proglótes do


intestino vão para o estômago, ocorrem a liberação dos ovos, e a penetração destes na corrente
sanguínea. A externa ocorre por ingestão de ovos a partir de mãos sujas por fezes, alimentos
contaminados por fezes, mas, principalmente por irrigação de verduras e frutas por riachos
que recebem esgoto não tratado, seguido de ingestão dos produtos sem uma lavagem
adequada e sem substâncias capazes de romper o ovo, tais como vinagre e água sanitária.
Assim, a principal forma de transmissão da neurocisticercose é devido a condições sanitárias
precárias, fator essencial para que os ovos, liberados nas fezes cheguem até o homem.

 Os sintomas da NCC, geralmente, surgem quando os cistos começam a envelhecer e


provocam uma resposta inflamatória do hospedeiro. Os pacientes podem apresentar
convulsões, danos neurológicos (paralisias ou dormências em um segmento do corpo), sinais
de aumento de pressão intracraniana (dor de cabeça, vômitos e torpor), alteração do
comportamento, meningite (febre, dor de cabeça e rigidez do pescoço), entre outros sintomas.
Ciclo Biológico e Transmissão
O homem parasitado com o verme adulto de T. solium eliminam proglotes grávidas que se
desprendem do parasito através do processo de apólise. No ambiente úmido e protegido da
luz, os ovos armazenados nas proglotes ficam viáveis por meses e podem infectar os porcos
que tem o hábito de coprofagia (Figura 5) (REY, 2011).

No porco, esses ovos chegam a seu estômago e sofrem ação da pepsina responsável pela
perda dos embrióforos. No intestino são liberadas as oncosferas, resultantes da ação dos sais
biliares, e ali permanecem por quatro dias. Uma vez ativados, as larvas penetram nos vasos
mesentéricos e conseguem chegar em determinados órgãos e se transformam em metacistos e
depois em cisticercos viáveis (REY, 2011; NEVES, 2011).

Ao se alimentar de carne crua ou mal cozida de suínos com cisticercose, o homem ingere
cisticercos que, no intestino, dará origem ao verme adulto hermafrodito. O verme adulto
produzirá e eliminará proglotes grávidas contendo ovos, fechando, assim, o ciclo de vida
desse parasita (REY, 2011).

Figura 1. Esquema ilustrativo do ciclo biológico ds T. solium.


O homem, de forma acidental, pode ingerir ovos de T. solium em água e alimentos
contaminados e até mesmo através da autoinfecção por maus hábitos de higiene. Se isso
acontecer, o humano desenvolverá a cisticercose humana, caracterizada pela presença de
formas larvárias parasitando tecidos do homem.

Manifestações clinicas
Na NCC, os cisticercos podem ser encontrados na forma ativa provocando aracnoidite,
hidrocefalia por obstrução na comunicação dos ventrículos encefálicos, inflamação meningea,
cistos parenquimatosos, enfarte cerebral; ou na forma inativa com a formação de granulomas
calcificados parênquimatosos ou hidrocefalia secundaria à fibrose subaracnoidea. Os
sinais/sintomas mais comuns da cisticercose na forma encefálica são; epilepsia, cefaleia,
papiledema, vômitos, sinais de comprometimento de funções cognitivas, sensoriais e/ou
motoras. O enfarte cerebral lacunar que é a complicação cerebrovascular mais comum na
NCC é resultado da oclusão arterial secundária a intensa reação inflamatória dentro do espaço
subaracnóide, também já foram descritos casos de grandes enfartes. Aracnoidite pela
cisticercose é associada, em alguns casos, com a hidrocefalia.

Diagnóstico

Os exames de imagem, TCC e Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de crânio, auxiliam no


aumento da acurácia diagnóstica da NCC, demonstrando de maneira objetiva a topografia das
lesões e o grau de atividade inflamatória.
Figura 2 - TC E RNM dos cistos cisticercóticos em diferentes estágios de evolução. Fonte:( https://doi.org/10.1590/S0037-
86822001000300010).

Após o exame neurológico, o especialista pode determinar a provável localização do


problema e a partir daí escolher o melhor exame de imagem pra confirmação do local e
planejamento terapêutico: Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética
(RNM). Em alguns casos a RNM pode determinar o diagnóstico se a imagem do cisto for bem
característica. O exame de líquor, realizado através de punção lombar também pode fazer esse
diagnóstico. Uma última alternativa, caso os outros exames não tenham sido suficientes, é a
biópsia da lesão.

Tratamento

Farmacológico

O tratamento de Neurocisticercose é padronizado da seguinte maneira: Praziquantel, na dose


de 50mg/kg/dia, durante 21 dias, associado à Dexametasona, para reduzir a resposta
inflamatória, consequente à morte dos cisticercos. Pode-se, também, usar Albendazol,
15mg/dia, durante 30 dias, dividida em 3 tomadas diárias, associado a 100mg de
Metilpredinisolona, no primeiro dia de tratamento, a partir do qual se mantém 20mg/dia,
durante 30 dias. O uso de anticonvulsivantes, às vezes, se impõe, pois cerca de 62% dos
pacientes desenvolvem epilepsia secundária ao parasitismo do sistema nervoso central (SNC).
Em todas as situações é fundamental a reavaliação da adesão e tolerância aos tratamentos,
garantindo-se o acesso da pessoa à reconsulta.

1.
2.
3.
4.
4.1.

Neurocirurgia

As indicações para procedimentos neurocirúrgicos são: hidrocefalia secundária a NCC,


remoção de cistos extraparenquimatosos, principalmente em topografia intraventricular e no
espaço subaracnóideo.

Fisioterapia no tratamento das sequelas motoras causadas pelas doenças parasitárias

Pela estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), neurocisticercose (NCC) é


responsável por 50.000 óbitos a cada ano, tendo em vista que é a forma da doença mais grave.
Chama atenção, ainda, o fato de aqueles que sobrevivem à neuroinfecção, apresentarem
graves complicações e sequelas neurológicas. Neste momento, o conhecimento de doenças
parasitárias, assim como sua patogênese, pelo fisioterapeuta, é ponto crucial para abordagem
desses pacientes, e estruturação de condutas fisioterapêuticas adequadas.

Os avanços tecnológicos em fisioterapia são imprescindíveis, fazendo dela, uma ciência


indispensável na área da saúde, tanto que precisamos fundamentar nossas bases terapêuticas
no sentido de proporcionarmos, a essa clientela, possibilidade de recuperação social através
de nosso arsenal terapêutico, dentre do qual a cinesioterapia é o mais forte aliado. O
compromisso e a responsabilidade social do fisioterapeuta, apesar de todo avanço tecnológico,
fazem-se necessários frente as peculiaridades de nossa clientela, uma vez que um grande
número de sequelas cinético-funcionais advém de situações crônicas de nosso país, como o
subdesenvolvimento.

Relatados de estudo de caso de um paciente com sequelas de neurocisticercose

O estudo de caso aqui apresentado relata a aplicação de um protocolo de tratamento


cinesioterapêutico, objetivando estabelecer o acompanhamento funcional do paciente com
neurocisticercose. O protocolo de tratamento é embasado na aplicação da cinesioterapia,
utilizando a técnica de Frenkel, exercícios passivo, ativo livre e resistido, e treinamento
proprioceptivo.

Histórico e avaliação funcional inicial do sujeito de estudo Constituiu-se de um indivíduo com


neurocisticercose, encaminhado ao setor de fisioterapia do Hospital Universitário da
Universidade Iguaçu. A tomografia computadorizada apresentada pelo paciente demonstrava
a presença de neurocisticercos nos hemisférios cerebrais e cerebelo, que diagnosticava a
patologia. O tratamento teve início em maio de 2003 e término em março de 2004. O
paciente, R.A.M., 60 anos, apresentava paresia dos membros superiores, anestesia,
hipobatiestesia, hipobaregnosia, hipobarestesia, hipografestesia em mão e antebraço direito e
mão esquerda, e dificuldade para flexão e abdução dos membros superiores. Em membros
inferiores, apresentava hipotrofia e dificuldade para abdução de quadril, os pés apresentavam
varismo e possuía impotência funcional para a execução de atividades de vida diária, tais
como: subir e descer degraus, sentar-se e levantar-se de uma cadeira e mudança de decúbitos.
O equilíbrio e a coordenação motora também se mostravam comprometidos, o paciente
possuía grande dificuldade para a realização da marcha, visto que apresentava uma acentuada
escoliose estrutural sinistro convexa.

Protocolo de tratamento

Aplicado a partir da avaliação fisioterapêutica, a proposta de tratamento compreendeu a


utilização da cinesioterapia (passiva, ativa livre e resistida); exercícios de Frenkel
empreendendo as posições 1, 2 e 3 em decúbito dorsal; técnicas de Rood (escovação), e
também foi realizada cinesioterapia respiratória, incrementando a reexpansão pulmonar. Esta
proposta de tratamento constou de alongamento antes e após a cinesioterapia, técnica de
tensão e contratensão com distencionamento do tecido conjuntivo, treinamento de marcha e
propriocepção. Cada sessão de tratamento teve duração de sessenta minutos e foi realizada
duas vezes por semana.

Proposta de um protocolo de tratamento cinesioterapêutico

Cinesioterapia passiva

Eram realizados os seguintes movimentos: abdução, adução, flexão e extensão de ombro;


flexão e extensão de cotovelo; abdução, adução, flexão e extensão de quadril; flexão e
extensão de joelho. Efetuavam-se duas séries de dez repetições, evoluindo para cinesioterapia
ativa livre.

Cinesioterapia ativa livre

Com a cinesioterapia ativa livre, eram realizados os movimentos: abdução, adução, flexão e
extensão de ombro; abdução e adução de quadril; flexão e extensão de joelho, em duas séries
de dez repetições; após 6 atendimentos fisioterapêuticos o paciente evoluiu para a
cinesioterapia resistida.

Cinesioterapia resistida

Devido à incapacidade funcional apresentada pelo paciente perante os exercícios resistidos,


realizaram-se apenas os movimentos de flexão, extensão de cotovelo (com halter de 1 kg) e
flexão e extensão de quadril (com caneleira de 1 kg). Foram realizadas duas séries de dez
repetições.

Cinesioterapia respiratória

Devido à acentuada escoliose apresentada pelo paciente, o mesmo possuía dificuldades


respiratórias, sendo então incrementada a reexpansão pulmonar. O paciente era instruído a
praticar exercícios reexpansivos três vezes ao dia.

Exercícios de Frenkel
Os exercícios de Frenkel foram aplicados, visando melhorar o controle proprioceptivo dos
membros inferiores. Inicialmente, o paciente realizou as posições 1, 2 e 3 em decúbito dorsal.
Exercício 1 – Flexionar o quadril e o joelho de um membro, deslizando o calcanhar em
contato com a cama. Retornar à posição inicial. Repetir com o outro membro. Exercício 2 –
Flexionar como no exercício 1. Abduzir o quadril fletido. Retornar à posição fletida e à
posição original. Exercício 3 – Flexionar o quadril e joelho somente a meio caminho, e
retornar à posição estendida. Adicionando abdução e adução.

Técnica de tensão e contra-tensão com distencionamento do tecido conjuntivo

Esta técnica é aplicada para promover a organização das fibras musculares e é realizada nos
membros inferiores.

Treinamento de marcha

O paciente realiza distribuição do peso corporal e deambulação com apoio em barra paralela.

Propriocepção

Com o paciente em posição ortostática, são estimuladas as reações protetoras para frente, para
trás e para os lados, inicialmente com os olhos abertos e depois com os olhos fechados.

Técnica de Rood

Era aplicada nos membros superiores, objetivando a estimulação de receptores táteis.

Resultados

Após 7 meses do início da aplicação do protocolo de tratamento, foi realizada uma avaliação
pós-tratamento, na qual encontramos ampla recuperação no âmbito funcional do paciente.
Com relação à sensibilidade, ocorreu recuperação parcial da sensibilidade superficial e
profunda, além de melhora na discriminação de dois pontos e cinestesia. Quanto ao equilíbrio,
houve melhora na mudança de decúbito dorsal para sentado, de sentado para posição
ortostática e maior estabilidade na realização da marcha. Em relação aos membros superiores,
ocorreu aumento da força muscular, favorecendo os movimentos de flexão e abdução da
articulação glenoumeral, nos membros inferiores observou-se aumento de trofismo,
facilitando o movimento de abdução da articulação coxo-femural. A coordenação motora
também apresentou recuperação, que pôde ser observada principalmente na realização dos
exercícios de Frenkel. A realização das atividades de vida diária também demonstrou
melhora, o paciente ganhou independência em atividades gerais como: levantar da cama,
levantar da cadeira, pegar e segurar objetos.

Conclusão
Referências
1. LEITE1, O. M. T. A. E. J. P. Neurocisticercose: Neurocisticercose. Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 34, n. 3, p. 283-290, maio/junho
2001. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0037-86822001000300010. Acesso
em: 17 jan. 2022.
2. REY L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos
ocidentais/Luís Rey. – 4.ed.- (Reimpr.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
3. SILVA, SILVA, S. S. D. et al. Protocolo de tratamento fisioterapêutico para pacientes
portadores de neurocisticercose: Physical therapy protocol in patient with
neurocysticercosis. Fisioterapia Brasil, v. 6, n. 3, p. 230-233, maio/junho 2005.
Disponível em: portalatlanticaeditora.com.br. Acesso em: 17 jan. 2022.

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