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CURSO DE DIREITO

Disciplina: Direito Administrativo I


Turma: 5ª Fase – 1º Semestre – 2022
Professor: M.e. Luiz Cláudio Araujo Schneider
prof.luiz.schneider@unifacvest.edu.br

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (Aula 3)

1. Considerações iniciais

No estudo das normas jurídicas, a doutrina costuma distinguir


entre normas e princípios.
Uma regra jurídica típica, salientam Marcelo Alexandrino e Vicente
Paulo (2020) 1 , consiste em um comando com uma estrutura bem
definida, em que identificamos a descrição de uma hipótese e a
atribuição de uma consequência específica à ocorrência, no mundo dos
fatos (mundo empírico), da situação hipoteticamente prevista.

Desta forma, uma regra jurídica traduz-se em um comando


vocacionado a incidir em situações fáticas relativamente bem
determinadas e a gerar, no mundo do direito, consequências bem
definidas.
Por outro lado, Irene Patrícia Nohara (2019) 2 destaca que
princípios são normas jurídicas de caráter geral e elevada carga
valorativa. Todavia, até a metade do século XX, os princípios foram tidos
como pertencentes ao mais baixo grau de hierarquização das fontes de
direito, isto é, como fontes secundárias e meramente supletivas das
situações de lacuna normativa, como se nota no texto do art. 4º, da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei nº 4.657/42)3:
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.”

Posteriormente, diversos princípios foram incorporados nos


Códigos e nas Constituições.
Como conceito, segundo Carlos Ari Sundfeld (2005), citado por
Scatolino e Trindade (2019)4, os princípios5 são “as ideias centrais de um
sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a
compreensão de seu modo de se organizar-se”.

1 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.


28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. 221.
2 NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. p.

55.
3 Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do

Direito Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-


Lei/Del4657.htm.
4 SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual didático de direito administrativo.

7. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019. p. 55.


5 Princípio. Derivado do latim principium (origem, começo), em sentido vulgar quer

exprimir o começo de vida ou o primeiro instante em que as pessoas ou as coisas


começam a existir. É, amplamente, indicativo do começo ou da origem de qualquer
coisa. [SILVA, de Plácido e. Vocábulo jurídico conciso. Atualizadores Nagib Slaibi e
Gláucia Carvalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 606].

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E ainda, de acordo com José Cretella Júnior por Di Pietro (2019)6,


“princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais,
típicas que condicionam todas as estruturações subsequentes.
Princípios, neste sentido, são os alicerces da ciência”.

De acordo com José Cretella Júnior os princípios se classificam


em:

a) onivalentes ou universais, comuns a todos os ramos do saber,


como o da identidade e o da razão suficiente;

b) plurivalentes ou regionais, comuns a um grupo de ciências,


informando-as nos aspectos em que se interpenetram.
Exemplos: o princípio da causalidade, aplicável às ciências
naturais e o princípio do alterum non laedere (não prejudicar a
outrem), aplicável às ciências naturais e às ciências jurídicas;

c) monovalentes, que se referem a um só campo do


conhecimento; há tantos princípios monovalentes quantas
sejam as ciências cogitadas pelo espírito humano. É o caso dos
princípios gerais do direito, como o de que ninguém se escusa
alegando ignorar a lei.
d) Setoriais, que informam os diversos setores em que se divide
determinada ciência. Por exemplo, na ciência jurídica, existem
princípios que informam o Direito Civil, o Direito do Trabalho, o
Direito Penal etc.
Desse modo, o Direito Administrativo está informado por
determinados princípios, alguns deles próprios também de outros ramos
do direito público e outros dele específicos e enquadrados como setoriais.

Os princípios servem para interpretação das demais regras postas


no ordenamento jurídico, sendo balizas norteadoras para o alcance de
seu exato sentido. São os valores fundamentais de uma matéria.
Os princípios administrativos constituem pressupostos de atuação
da Administração e comandos de ação para o legislador. Suprem também
a ausência de regra, na medida em que a conduta dos administradores e
servidores, mesmo não existindo lei específica, não deve ser contrária aos
princípios já enunciados pela Constituição. É o que ocorre, por exemplo,
com a moralidade, pois mesmo se não houver lei formal impondo
conduta compatível com os preceitos éticos da instituição, o servidor,

6DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32. ed. [2. Reimpr.]. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. p. 91.

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mesmo assim, deve atuar dessa forma, pois já é consagrada a moralidade


pública como princípio constitucional (SCATOLINO E TRINDADE, 2019)7.

A expressão “regime jurídico administrativo” compõe-se do


conjunto de princípios e regras jurídicas que regem o direito
administrativo.
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, no art. 37,
estabelece que “a administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência”.

Dessa forma, os princípios são de observância obrigatória pela


Administração, uma vez que a Constituição utilizou verbo no imperativo,
ou seja, a Administração obedecerá aos referidos princípios. Os
princípios são de aplicação imediata, dispensando lei formal para sua
efetivação.

Exatamente em razão do seu acentuado grau de abstração e, por


conseguinte, da abrangência muito ampla de sua força normativa, os
princípios jurídicos configuram o núcleo valorativo e racional de um
subsistema jurídico. Eles estabelecem as suas diretrizes, conferem a ele
um sentido lógico, sistêmico e harmonioso, o que possibilita uma
adequada compreensão de sua estrutura (ALEXANDRINO e PAULO,
2020)8.

Ressalta-se que na aplicação dos princípios, não existe hierarquia


entre eles, uma vez que todos têm de ser respeitados durante a atividade
do agente público, sejam princípios expressos, sejam implícitos. Um
princípio não pode ser preterido para aplicação de outro. O ato tem de
ser, ao mesmo tempo, praticado de acordo com a lei, com a
impessoalidade, moralidade; deve ser corretamente divulgado, ser
eficiente, dentro dos seus limites (razoável e proporcional), havendo
também a sua justificação.
Também é importante destacar que nenhum princípio
administrativo é absoluto, pois pode ser restringido em determinadas
hipóteses. É o que ocorre, por exemplo, quando a Constituição admite
restringir a publicidade cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII, CF).

7 SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual didático de direito administrativo.


7. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019. p. 56.
8 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.

28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. 222.

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2. Princípios expressos

2.1. Legalidade

O princípio da legalidade é o postulado basilar dos Estados de


direito. A rigor, é dele que decorre a própria qualificação de um Estado
como “de direito”: todos, sem exceção, estão sujeitos ao “império da lei”,
ninguém – nem os particulares, nem os agentes públicos – pode agir de
modo a contrariar o ordenamento jurídico.
A Constituição Federal traz, no inciso II, do art. 5º, a formulação
mais genérica do princípio da legalidade: “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Nesse sentido, tem-se a máxima que aos particulares é lícito fazer


tudo aquilo que a lei não proíba. E, ao contrário, o administrador público
só é possível fazer aquilo previsto em lei.

Destacam Scatolino e Trindade (2019) 9 que o princípio da


legalidade não afasta a atuação discricionária do agente público, na
medida em que a lei não poderá prever todos os casos da atuação
administrativa. Assim, é possível, em determinadas situações, a
realização de uma análise de conveniência e oportunidade a fim de
escolher a conduta mais adequada ao caso concreto; observando, é claro,
os demais princípios administrativos, em especial a razoabilidade e
proporcionalidade.

Esse princípio advém do fim do Estado Absolutista, que cedeu


espaço para o surgimento do Estado de Direito, pois neste modelo a
criação de direitos e obrigações surge a partir da lei, contrapondo-se ao
regime anterior, em que esses poderes eram concentrados na pessoa do
rei.
Existem duas perspectivas do princípio da legalidade. A legalidade
para o agente público é aquela do art. 37, da CF, que exige atuação
sempre de acordo com a lei, ou seja, ele só pode fazer o que a lei permite.
A outra perspectiva é a legalidade para o cidadão. Por esse aspecto, é a
legalidade estampada no art. 5º, II, da CF, em que ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

Por isso, enquanto na vida particular é lícito fazer tudo o que a lei
não proíba, na Administração Pública só é lícito fazer aquilo que a lei
autoriza. Ou seja, na perspectiva do agente público o mandamento legal
diz o que ele (deve) fazer; para o cidadão, a lei diz o que ele não pode
fazer.

9SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual didático de direito administrativo.


7. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019. p. 58.

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Chama a atenção José Miguel Garcia Medina (2019)10 a legalidade


administrativa, compreendida à luz dos demais princípios referidos na
Constituição, e em especial no art. 37, permite compreender que a
observância à legalidade administrativa resta comprometida sempre que,
embora respeitada a lei na forma, não se atende ao fim público. Há
desvio de finalidade quando o ato administrativo é dissimulado,
aparentando observar a legalidade, mas, por contrariar o fim público,
fere a legalidade administrativa em sua essência.

2.2. Impessoalidade

Tem por objetivo evitar que o administrador pratique ato visando


ao interesse pessoal ou com finalidade diversa daquela determinada em
lei, uma vez que é sempre o interesse público que deve ser buscado com
a prática do ato.

Di Pietro (2019) 11 ressalta que exigir impessoalidade da


Administração tanto pode significar que esse atributo deve ser observado
em relação aos administrados como à própria Administração. No
primeiro sentido, o princípio estaria relacionado com a finalidade pública
que deve nortear toda a atividade administrativa. Significa que a
Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar
pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que
tem que nortear o seu comportamento.

Existem vários dispositivos que decorrem do princípio da


impessoalidade, por exemplo, a obrigatoriedade de realização de
concursos, pagamento por meio de precatórios, exigência de
procedimento licitatório antes da realização de contratos etc.

O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 13,


com o seguinte enunciado

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha


reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
na administração pública direta e indireta em qualquer
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

10 MEDINA, José Miguel Garcia. Constituição Federal comentada. Com


jurisprudência selecionada do STF e de outros Tribunais. 4. ed. revista, ampliada e
atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 345.
11 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32. ed. [2. Reimpr.]. Rio de

Janeiro: Forense, 2019. p. 95.

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dos Municípios, compreendido o ajuste mediante


designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

O STF tentou pacificar as discussões acerca das nomeações para


cargos políticos, tendo em vista que o CNJ havia editado a Resolução nº
07/2005, proibindo a prática de nepotismo no âmbito do Poder
Judiciário. Porém, foi interposta Ação Direta de Constitucionalidade,
ADC nº 12, pela Associação dos Magistrados Brasileiros.

Foi deferida medida cautelar, suspendendo a discussão da questão


pelas instâncias inferiores. Posteriormente, julgou-se procedente a ADC
nº 12, declarando a constitucionalidade da resolução do CNJ, com
eficácia erga omnes e efeito vinculante (ADC nº 12, Tribunal Pleno,
2009). Com isso, o nepotismo no âmbito do Poder Judiciário já tinha um
marco inicial para sua extinção.

Na mesma data do julgamento de mérito da ADC nº 12, em 20 de


agosto de 2008, o STF julgou o Recurso Extraordinário nº 579.951, em
que se questionava a prática de nepotismo no âmbito do Poder
Executivo. E o recurso foi provido, para anular a nomeação de um
“aparentado com agente político” para cargo em comissão. Entendeu-se
que a vedação ao nepotismo se estenderia aos demais Poderes da
República. E, para a caracterização de atos como nepotismo, utilizou-se
dos mesmos critérios fixados pela Resolução nº 07 do CNJ. Era o fim do
nepotismo também para os demais Poderes da República.

Todavia, foram excluídas do alcance dessa vedação as nomeações


para cargos de natureza política, ou seja, de agentes políticos, como por
exemplo, nomeação de Secretarias Estaduais e Municipais. Assim, pode
o Poder Executivo fazer indicação de parentes e cônjuge para os citados
cargos políticos.

Portanto, reforçam Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2020)12 o


princípio da impessoalidade se apresenta sob dois prismas:

a) como determinante da finalidade de toda a atuação


administrativa (também chamado de princípio da finalidade,
considerado um princípio constitucional implícito, inserido no
princípio expresso da impessoalidade);

Desta forma, essa primeira é a acepção mais tradicional do


princípio da impessoalidade, e traduz a ideia de que toda atuação da
administração deve visar ao interesse público, deve ter como finalidade a
satisfação do interesse público. Qualquer ato praticado com objetivo

12ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.


28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. 236-237.

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diverso da satisfação do interesse público será nulo por desvio de


finalidade.

b) Como vedação a que o agente público se promova às custas das


realizações da administração pública (vedação à promoção
pessoal do administrador público pelos serviços, obras e outras
realizações efetuadas pela administração pública).

A segunda acepção do princípio da impessoalidade está ligada à


ideia de vedação à pessoalização das realizações da administração
pública, à promoção pessoal do agente público. Está consagrada no § 1º,
do art. 37, da Constituição, nos termos:

§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e


campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.

Observa-se que esse segundo desdobramento do princípio da


impessoalidade tem por escopo proibir a vinculação de atividades da
administração à pessoa dos administradores, evitando que estes utilizem
a propaganda oficial para sua promoção pessoal.

Por fim, José Miguel Garcia Medina (2019) 13 sintetiza que ao


afirmar que a administração pública observará a impessoalidade, a
Constituição estabelece regra que tem duas dimensões: de um lado, a
administração pública não deve confundir-se com o administrador; além
disso, não deve haver tratamento diferenciado entre aqueles a quem se
dirigem os atos praticados pela administração pública.

2.3. Moralidade
A moralidade exige que a conduta praticada pelo administrador
seja pautada de acordo com a ética, com o bom senso, bons costumes e,
principalmente, com a honestidade (SCATOLINO E TRINDADE, 2019)14.

Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2020) 15 salientam que o


princípio da moralidade torna jurídica a exigência de atuação ética dos
agentes da administração pública. A denominada moral administrativa

13 MEDINA, José Miguel Garcia. Constituição Federal comentada. Com


jurisprudência selecionada do STF e de outros Tribunais. 4. ed. revista, ampliada e
atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 345.
14 SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual didático de direito
administrativo. 7. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019. p. 65.
15 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.

28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. 232.

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difere da moral comum, justamente por ser jurídica e pela possibilidade


de invalidação dos atos administrativos que sejam praticados com
observância desse princípio.
Chama a atenção Di Pietro (2019) 16 que nem todos os autores
aceitam a existência desse princípio; alguns entendem que o conceito de
moral administrativo é vago e impreciso ou que acaba por ser absorvido
pelo próprio conceito de legalidade.

No entanto, continua, a distinção entre Moral e Direito, ambos


representados por círculos concêntricos, sendo o maior correspondente à
moral e, o menor, ao direito. Licitude e honestidade seriam traços
distintos entre o direito e a moral, numa aceitação ampla do brocardo
segundo o qual non omne quod licet honestum est (nem tudo o que é legal
é honesto).

Di Pietro cintando Antonio José Brandão, indica que foi este quem
demonstrou ter sido Maurice Hauriou o primeiro a cuidar do assunto,
tendo feito a sua colocação definitiva na 10ª edição do Précis de Droit
Administratif, onde define a moralidade administrativa como o “conjunto
de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração”;
implica saber distinguir não só o bem e o mal, o legal e o ilegal, o justo e
o injusto, o conveniente e o inconveniente, mas também entre o honesto
o desonesto; há uma moral institucional, contida na lei, imposta pelo
Poder Legislativo, e há a moral administrativa, que “é imposta de dentro
e vigora no próprio ambiente institucional e condiciona a utilização de
qualquer poder jurídico, mesmo o discricionário”.

Em complemento ao conceito de Maurice Hauriou, José Miguel


Garcia Medina (2019)17 comenta que se trata, pois, de uma moralidade
específica em relação à moralidade “comum”. De difícil definição, em face
que a ideia de moralidade administrativa só pode ser compreendida a
partir de sua conjugação com os demais princípios que orientam a
Administração pública (como por exemplo, o de finalidade pública). Há
sutil variação entre imoralidade e improbidade administrativas: o ato
ímprobo é o ato imoral acompanhado por um plus, que é a
desonestidade.
Como visto, a imoralidade administrativa surgiu e se desenvolveu
ligada à ideia de desvio de poder, pois se entendia que em ambas as
hipóteses a Administração Pública se utiliza de meios lícitos para atingir

16 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32. ed. [2. Reimpr.]. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. p. 104.
17 MEDINA, José Miguel Garcia. Constituição Federal comentada. Com
jurisprudência selecionada do STF e de outros Tribunais. 4. ed. revista, ampliada e
atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 345.

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finalidades metajurídicas irregulares. A imoralidade estaria na intenção


do agente.

Essa a razão pela qual muitos autores entendem que a imoralidade


se reduz a uma das hipóteses de ilegalidade que pode atingir os atos
administrativos, ou seja, a ilegalidade quanto aos fins (desvio de poder).
Sem esquecer, o § 4º, do art. 37, da Constituição Federal trata de
uma hipótese de lesão qualificada ao princípio da moralidade (mais
especificamente ao dever de probidade que se impõe a todos os agentes
públicos. Versa o citado dispositivo constitucional sobre a prática de atos
de improbidade administrativa, com a previsão de aplicação de severas
sanções aos responsáveis, como se vê a seguir:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a


suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível.

A exigência de probidade na atuação dos agentes públicos


perpassa todos os demais postulados administrativos, porque, conforme
as circunstâncias, a afronta a qualquer dos princípios balizadores da
atividade da administração pública, expressos ou implícitos, pode
configurar ato de improbidade administrativa.

2.4. Publicidade

É a divulgação oficial do ato, para conhecimento do público e para


o início da produção de seus efeitos (eficácia), bem como permitir o
acesso às condutas administrativas (SCATOLINO E TRINDADE, 2019)18.

A publicidade não é elemento formativo do ato; é requisito de


eficácia e moralidade. Com efeito, a publicidade é condição para a
eficácia do ato, pois este só terá condição de produzir efeitos se houver a
divulgação pelo órgão oficial, quando a lei assim exigir.

Desta forma, publicidade não se confunde com a publicação de


atos na imprensa oficial. Esta é uma forma de publicidade, mas são
diversas as formas de publicidade existentes. Então, publicidade é
diferente de publicação. A publicidade é a divulgação do ato por meios
oficiais; trata-se de uma forma de publicidade. Mas a publicidade não se
esgota apenas em se publicarem os atos no órgão oficial.

18 SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual didático de direito


administrativo. 7. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019. p. 69.

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De acordo com Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2020) 19 o


princípio da publicidade apresenta uma dupla acepção em face do
sistema decorrente da Constituição Federal, a seguir:
a) exigência de publicação oficial, como requisito de eficácia, dos
atos administrativos que devam produzir efeitos externos e dos
atos que impliquem ônus para o patrimônio público;

A doutrina usualmente sustenta que, nessa acepção, a publicidade


é um pressuposto de eficácia do ato, e não um requisito de validade.
Significa dizer, enquanto não for publicado, o ato que deva sê-lo fica, tão
somente, impossibilitado de produzir os efeitos que lhe são próprios –
mas não se trata de ato inválido.

b) exigência de transparência da atuação administrativa.

Essa acepção, deriva do princípio da indisponibilidade do interesse


público, é mais abrangente do que a mera exigência de publicação oficial
de atos da administração, embora também tenha o escopo de viabilizar,
da forma mais ampla possível, o controle da administração pública pelos
administrados.

2.5. Eficiência

A Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, inseriu o


princípio da eficiência entre os princípios constitucionais da
Administração Pública, previstos no art. 37, caput. Também a Lei nº
9.784/99 fez referência a ele no artigo 2º, caput.
Hely Lopes Meirelles (2003) 20 fala na eficiência como um dos
deveres da Administração Pública, definindo-o como “o que se impõe a
todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e
rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função
administrativa, que já não contenta em ser desempenhada apenas com
legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e
satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus
membros”.

Salienta Di Pietro (2019)21 que o princípio da eficiência apresenta,


na realidade, dois aspectos: (i) pode ser considerado em relação ao modo
de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho
possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e, (ii)

19 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.


28. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. 239.
20 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros,

2003. p. 102.
21 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32. ed. [2. Reimpr.]. Rio de

Janeiro: Forense, 2019. p. 111.

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em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração


Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores
resultados na prestação do serviço público.
Neste contexto, a EC nº 19/1998 acresceu o § 8º, no art. 37, da
Constituição Federal, a conferir:

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos


órgãos e entidades da administração direta e indireta
poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado
entre seus administradores e o poder público, que tenha
por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão
ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

I - o prazo de duração do contrato;

II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,


direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;

III - a remuneração do pessoal.

Após quase duas décadas foi aprovada a Lei nº 13.934, de 11 de


dezembro de 2019, regulamentando o contrato referido no § 8º do art. 37
da Constituição Federal, denominado “contrato de desempenho”, no
âmbito da administração pública federal direta de qualquer dos Poderes
da União e das autarquias e fundações públicas federais.
Concluímos, nas palavras de José Miguel Garcia Medina (2019)22
que, decidiu-se que a eficiência “pressupõe, necessariamente, plena e
célere satisfação dos pleitos dos administrados”. Eficiência
administrativa não se limita, pois, à atuação célere do administrador,
embora a demora excessiva e injustificada talvez seja a forma mais
evidente de desrespeito ao princípio.

A ineficiência do administrador, porém não implica em


improbidade administrativa (STF, Ap 409, rel. Min. Ayres Britto, j.
13.05.2010).

22 MEDINA, José Miguel Garcia. Constituição Federal comentada. Com


jurisprudência selecionada do STF e de outros Tribunais. 4. ed. revista, ampliada e
atualizada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 346.

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Referências:
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 28.
ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2020. p. NOHARA, Irene Patrícia.
Direito administrativo. 9. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.

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