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Gerador Fotovoltaico: Modelagem e Simulação1

ENERGIA

Claudia Valéria Távora Cabral2, Delly Oliveira Filho3, Lauro de Vilhena Brandão Machado Neto , Antônia Sônia
4

Alves Cardoso Diniz5

RESUMO

As variações de intensidade solar, temperatura ambiente ou carga, são parâmetros que alteram o ponto ótimo de operação
de um gerador fotovoltaico. Desta forma, deve-se analisar o seu comportamento, a fim de otimizar seu funcionamento.
Este trabalho visou apresentar a modelagem e a simulação de um gerador fotovoltaico mediante características fornecidas
pelo fabricante, utilizando-se programas de digitalização de curvas e simulação (Simulink do Matlab®), analisando
seu comportamento em relação à variação de intensidade solar e temperatura, comparando as curvas obtidas com as
fornecidas pelo fabricante. Os resultados obtidos foram satisfatórios, validando o modelo utilizado para simulação de
geradores fotovoltaicos.

Palavras-chave: gerador fotovoltaico, modelagem, simulação.

Abstract

PHOTOVOLTAIC MODULES: MODELING AND SIMULATION

Solar intensity, ambient temperature or load variations are parameters which change the optimal operation point of
photovoltaic generators. Thus, one must analyze its behavior in order to optimize its functioning. This study aimed at
modeling and simulating a photovoltaic generator following the characteristics informed by the manufacturer. With the
use of computer programs of curve digitalization and simulation (Simulink do Matlab®), the behavior of the generator
was analyzed relative to temperature and solar intensity variations, and compared with the information supplied by the
manufacturer. The results were satisfactory and the proposed model was valid for simulation of photovoltaic generators.

Keywords: photovoltaic module, modeling, simulation.

Recebido para publicação em 02/01/2007. Aprovado em 14/04/2009


1 Parte da tese de Doutorado em Engenharia Agrícola do primeiro autor.
2 Doutora do Dep. de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, MG. E-mail: tclavale@vicosa.ufv.br.
3 Professor do Dep. de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,MG,. E-mail:. delly@ufv..br.
4 Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, Belo Horizonte, MG. E-mail: lvilhena@pucminas.br
5 Engenheira da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, Belo Horizonte, MG. E-mail: asacd@cemig.com.br.

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das células. Com o aumento da temperatura ou diminuição


Introdução da intensidade luminosa, observa-se uma redução da
eficiência da célula. (SINGH, P., et al., 2008)
Atualmente, em virtude da preocupação com o meio Neste trabalho, foi desenvolvido um modelo para
ambiente, e também, com uma maior aproximação do geradores fotovoltaicos do tipo mono e policristalinos, a fim

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esgotamento das fontes fósseis, tem-se dado mais atenção de simular seu funcionamento mediante várias intensidades
ao avanço e estudo tecnológico de fontes renováveis de de radiação solar e temperatura, para melhor entendimento
energia. do comportamento de um sistema fotovoltaico e posterior
O protocolo de Kyoto, cujo objetivo é fazer com que tais utilização em seu dimensionamento.
países signatários reduzam as emissões de gases que causam
o efeito estufa, é uma forma de estimular a utilização de MATERIAL E MÉTODOS
fontes não poluidoras do meio ambiente, tais como, eólica,
geotérmica, solar, dentre outras. É por meio de células fotovoltaicas, formadas de
A energia solar, além de outras formas de conversão material semicondutor, que há a conversão da energia
energética natural, pode ser convertida em energia elétrica. solar em energia elétrica. Os semicondutores que geram
Esta conversão se dá por meio de células fotovoltaicas, maior produto corrente-tensão para a luz visível são os
constituídas por semicondutores. Uma célula fornece cerca mais sensíveis, sendo os utilizados para isso os de silício,
de 0,6 V e uma densidade de corrente de curto-circuito da selênio, dentre outros. O silício é o mais utilizado, pois
ordem de 150 mA/cm , quando exposta a uma radiação solar
2
existe em grande disponibilidade no planeta. Os fabricantes
de 1 kW/m (KRENZINGER et al., 2002), sendo que, para
2
de módulos fotovoltaicos fornecem uma família de curvas
se conseguir a tensão e corrente suficientes para alimentar às condições padrão de teste e em diferentes intensidades
o sistema, é necessário o agrupamento em módulos, que solares e temperaturas. O valor máximo de potência para
são células conectadas em arranjos. Existem diversos tipos uma determinada intensidade solar encontra-se no na região
de células fotovoltaicas, tais como: silício monocristalino, de transição desta curva.
silício policristalino e filmes finos, sendo as mais eficientes O modelo matemático utilizado para descrever uma célula
as células de silício monocristalino. solar foi baseado em seu circuito equivalente (modelo de
Na análise do gerador fotovoltaico deve-se levar em um diodo), mostrado na figura 1.
consideração, também, a geometria das células, pois estas
devem ocupar o máximo de espaço possível do módulo.
As células quadradas ocupam melhor área, enquanto que
as circulares têm a vantagem de não sofrerem perda de
material devido à forma cilíndrica de crescimento do silício
monocristalino.
De acordo com as mudanças de condições de carga,
Figura 1. Circuito equivalente de uma célula fotovoltaica real
diversos valores de corrente e tensão podem ser medidos
(modelo de um diodo) (HECKTHEUER, 2001).
e arranjados graficamente. A curva gerada é chamada de
A figura 1 mostra o circuito equivalente de uma célula
curva característica I-V e está associada às condições de
fotovoltaica.
intensidade solar e temperatura, dentre outras. As condições
padrão de teste para o gerador fotovoltaico são: radiação
Sendo
solar de 1000 W/m2, temperatura de célula de 25ºC e massa
IL = a corrente fotogerada;
de ar AM1.5. As condições nominais de operação são:
RS e RP = suas resistências série e paralela;
irradiância solar de 800 W/m2, temperatura ambiente de 20º
V e I a = tensão e corrente de saída da célula;
C e velocidade do vento de 1 m/s.
ID = a corrente do diodo;
O desempenho dos módulos fotovoltaicos é influenciado,
IP = a corrente relacionada à resistência paralela RP.
principalmente, pela intensidade luminosa e temperatura

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A partir do modelo da figura 1, pôde-se chegar à equação nas condições de referência, e estes valores (V e I) serão
(1) que descreve o desempenho de geradores fotovoltaicos, dados de entrada da Equação 1.
relacionando tensão, corrente, intensidade solar e (8)
temperatura (SALAMEH et al., 1995):
(9)
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(1) Para a determinação da resistência série, utilizou-se


a relação entre a potência, tensão e corrente, conforme
em que mostrado na Equação 10.

(2) (10)
em que
P = potência de saída do gerador fotovoltaico (W);
= tensão de saída do gerador fotovoltaico (V);
(3) I = corrente de saída do gerador fotovoltaico (A).

A simulação do modelo se dá pela equação (1), que para


ser implementada, se faz necessário a determinação de Rs.
(4) Sendo assim, substituiu-se I, na Equação 10, pela Equação
1, isolando-se, em seguida, o valor de RS.

(5) (11)
sendo
(6) (12)

(7) (13)

sendo (14)

V = tensão de saída do circuito (V);


Voc = tensão de circuito aberto (V);
Vmp = tensão de máxima potência (V); (15)
Vref = tensão nas condições de referência (V);
I = corrente de saída do circuito (A);
ISC = corrente de curto-circuito (A);
Imp = corrente de máxima potência (A); em que
P máxima potência (W).
Iref = corrente nas condições de referência (A);
α = coeficiente de temperatura para a corrente Levando-se este valor, e a Equação 1, pode-se simular a
de curto-circuito na radiação solar de
referência (A/ºC); curva característica I-V (corrente versus tensão) para o gerador
β = coeficiente de temperatura para a tensão fotovoltaico. Os valores de Voc, ISC, Vmp, Imp, α, β fornecidos pelo
de circuito aberto na radiação solar de
referência (V/ºC); fabricante, foram utilizados na simulação.
RS = resistência série (Ω);
S = radiação solar total no plano do gerador Um arquivo contendo todos os dados fornecidos por diversos
fotovoltaico (W/m2); fabricantes, para diferentes geradores fotovoltaicos, foi criado,
Sref = radiação solar de referência (1000 W/m2);
T = temperatura da célula solar (ºC); podendo-se simulá-los, a qualquer intensidade solar e temperatura.
Tref = temperatura de referência da célula solar Para determinação da veracidade das curvas características I-V
(25ºC);
Ta =temperatura ambiente (ºC). simuladas, digitalizaram-se curvas fornecidas por fabricantes,
utilizando-se, para isso, o programa Sacrid®, desenvolvido na
Por meio das Equações 8 e 9, a seguir, calculam-se as UFV (Universidade Federal de Viçosa) (SANTOS & RAMOS,
novas tensões e correntes a partir da tensão e da corrente 1997), podendo-se obter, desta forma, os pontos destas a diversas

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irradiâncias e temperaturas. No programa Matlab®, versão 6.5, são fornecidos os valores de RS (resistência série), Rsh
plotaram-se estas curvas, comparando-as com as simuladas (resistência paralela) e n (fator de idealidade do diodo) para
para análise de possíveis erros. A figura 2, a seguir, apresenta uma temperatura de 25ºC, a 1000 W/m2. O programa também
as curvas que foram digitalizadas para o módulo fotovoltaico exibe o valor do erro máximo entre os dados simulados e os
modelo ASE-100-ATF/17 (100). das curvas de fabricantes digitalizadas.

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Figura 2. Curvas características I-V (corrente versus tensão)
para o módulo fotovoltaico modelo ASE-100-
ATF/17 (100) (ASE, 2009).

A figura 2 mostra as curvas características I-V (corrente


versus tensão) para o módulo fotovoltaico modelo ASE-
100-ATF/17 (100) para uma irradiância de 1000 W/m2,
a 25ºC (condições padrão de teste) e a 50ºC, e para uma
irradiância de 500 W/m2, a 25ºC. Observa-se que o aumento
do nível de insolação aumenta a temperatura da célula, e,
conseqüentemente, tende a reduzir a eficiência do módulo
(CRESESB, 1999). Isto ocorre devido à diminuição
significativa da tensão com o aumento de temperatura,
enquanto que a corrente sofre uma pequena elevação.
A figura 3 mostra o fluxograma que foi implementado
para simulação das curvas características I-V para geradores
fotovoltaicos cristalinos.
O primeiro e o segundo passos, descritos no fluxograma da
figura 3 (desenvolvimento da equação para cálculo de RS e
Figura 3. Fluxograma para programa de
substituição de RS na equação (1)), foram feitos, inicialmente, simulação de curvas características
para depois, os valores dos parâmetros dos geradores I-V para geradores fotovoltaicos
cristalinos.
fotovoltaicos, armazenados em banco de dados, serem
substituídos nas equações. Os modelos de geradores foram
numerados, de forma a facilitar sua escolha para simulação. Resultados e discussão
Após a escolha do módulo fotovoltaico a ser analisado,
deve-se fornecer a temperatura da célula fotovoltaica e a Tendo-se todos os dados e parâmetros necessários para
radiação solar para as quais se deseja testar o comportamento o esboço das curvas (α, β, RS, Vmp, Voc, ISC e Imp), pôde-
do gerador fotovoltaico. Dessa forma, o programa irá traçar se simular, no Matlab versão 6.5, o gerador fotovoltaico
as curvas I-V, automaticamente, para a temperatura e desejado, tanto no formato .m (Matlab), quanto no .mdl
radiação desejadas, além de serem plotadas curvas a 25ºC (Matlab - Simulink). A figura 4 mostra o diagrama de blocos
para a radiação solar solicitada e a 1000 W/m2. Em seguida, do Simulink que descreve o módulo fotovoltaico.

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(a)

(b)

(b)

Figura 4. Diagrama de simulação para gerador fotovoltaico, baseado na Equação 1 no Matlab® versão 6.5.6

Neste programa, as curvas de V-I (tensão x corrente) são mostradas tão logo a simulação seja executada.
Para exemplificar, a figura 5 mostra as curvas de potência e de tensão versus corrente para o gerador fotovoltaico
modelo ASE-100-ATF/17 (100), para a radiação de 1000 W/m2, a 25ºC e a 50ºC.

(a)

(a)

6 (a) Vista do subsistema que compõe o gerador fotovoltaico para esboço das curvas de potência e característica I-V; (b)
Vista do diagrama de blocos que compõe o subsistema da letra a.

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(b)

Figura 5. Resultado da simulação para o gerador fotovoltaico modelo ASE-100-ATF/17 (100). 7

A figura 5 mostra as curvas de simulação para o gerador Conclusão


fotovoltaico modelo ASE-100-ATF/17 (100), tanto as
características I-V, quanto a de potência. Observa-se que, Este trabalho descreveu a modelagem e simulação para
comparando-se com as curvas da figura 2, as simuladas geradores fotovoltaicos utilizando-se o programa Matlab®,
apresentam o mesmo perfil com valores praticamente versão 6.5. Por meio de dados fornecidos por fabricantes
iguais. pôde-se obter um modelo para módulos fotovoltaicos.
Foi calculado o erro máximo entre as curvas simuladas
e as que foram fornecidas pelo fabricante (estas foram Referências Bibliográficas
digitalizadas, sendo os pontos das curvas armazenados em
banco de dados). O erro máximo calculado foi de 0,96%. ASE American Solar Module, Datasheet Módulo
Com isso, percebe-se que o modelo utilizado para simulação ASE-100-ATF/17 (100), http://www.solaraenergy.com/
de geradores fotovoltaicos cristalinos é válido. Downloads/ase100.pdf , 10 fev.2009.
Com este modelo, pode-se, futuramente, conectar
CRESESB – CEPEL; Manual de Engenharia para
o gerador fotovoltaico ao modelo de uma bateria e
Sistemas Fotovoltaicos; Coleção Tópicos de Atualização
controlador de carga, e desta forma simular um sistema
em Equipamentos Elétricos; Rio de Janeiro, 1999, p. 204.
fotovoltaico, analisando seu funcionamento, controlando e
melhorando sua eficiência, além de poder estudar e simular HECKTHEUER, L. A.; Análise de Associações de
seu dimensionamento estocástico. Módulos Fotovoltaicos; Tese de Doutorado; Universidade
Verifica-se que a simulação é de grande ajuda para a Federal do Rio Grande do Sul; Porto Alegre, 2001.
análise do funcionamento de um sistema fotovoltaico
KRENZINGER, A.; BLAUTH, Y. B.; WISBECK, J.
contribuindo para a redução de seus custos, já que se
O.; Seguidor Dinâmico de Máxima Potência para Painéis
pode prever e avaliar situações das mais diversas, em prol
Solares; In: XIV Congresso Brasileiro de Automática,
do melhoramento de configuração e o desempenho do
2002, Natal-RN, pp. 985-990, Setembro, 2002.
sistema.

7 (a) Curvas características I-V a uma radiação de 1000 W/m2, a 25ºC e a 50ºC; (b) Curva para a potência fornecida pelo
gerador fotovoltaico versus corrente a 1000 W/m2, a 50ºC

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SALAMEH, Z. M.; BOROWY, B. S.; AMIN, A. R. Aquisição de Coordenadas, Universidade Federal


A.; Photovoltaic Module-Site Matching Based on the de Viçosa (UFV), 1997. URL: http://www.ufv.br .
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SINGH, P., et al., Temperature dependence of I-V
Conversion, Vol. 10, No. 2, pp. 326-332, June,
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solar cell. Solar Energy Materials and Solar Cells,


SANTOS, W. L.; RAMOS, M. M.; Software para
vol.92, n.12: p. 1611-1616, 2008.

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