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| A RoMANIA Para a localizagdo das linguas roménicas no tempo e no espago, 0s antigos con- ceitos de Orhis Romanus ¢ Imperium Romanum néo so mais adequados, dadas as 48 20 termo “romano” (ver p. 38-39). As denominagdes dos territérios do Império Romano sio pontos de referéncia i varias acepgdes atribu; Uinguas e dialetos roménicos; deslocamentos e modificagées Posteriores dos pontos de Vista étnico, politico e lingistico exigiram uma denominagao mais abrangente. CONCEITO DE ROMANIA Pocumentado pela primeira vez por Paulo Orésio, discipulo de Santo Asostinho, em Historiae Adversus Paganos (VI, 6, 43), 0 termo Rominia parece ser tama criagio popular, jd que 20 citi-la Paulo Ordsio acrescenta “ut vulgariter loquar” (para falar de modo popular”). Inicialmente, como “romano” se opunha a “birba- 10”, no sentido de “estrangeiro i punha a Barbaria e Barbaries; nesse sentido, no periodo clissice encontra-se 0 sermo Barbaria. Quanto a Romania, porém, nio se sabe quando Passou a ser corren- iio latino” ou “ndo grego”, Romania se te; a expressio de Paulo Orésio faz supor que se trata de um terme usual na lingua fatada, designando todo 0 império romano ou © mundo romano, Curios mente, essa atestagto de Romania coincide com o periodo em que © mundo romano se esfacela- va e os godos pretendiam construir a Gétia sobre as ruinas da Romania. 0 termo ocorre também no bidgrafo de Santo Agostinho, Possidio, que qualifica oS vindalos de “Romaniae eversores”. No Oriente, encontram-se varias atestagdes de Rominia, empregado como sindnimo de Império Romano tanto Ocidental como Oriental. Assim, Santo Atanisio (295-373) considera Roma a “capital da Romania”: Mnzpoxodrg #1 'Poun tis "Peopowtarc, Também Santo Epifinio (315-403) diz que o espirito demon nou Ario ¢ 0 levou a por fogo na Igreja, fogo “b KatetAnge ndcow civ ‘Popantav ofedov, wcthrora tig dvortoAtic wa HEN” Cane incendiou quas toda a Romania, sobretudo as partes do Oriente”). No Ocidente, Roménia mantém o sentido politico equivalente a Império Romano, como 0 atesta o historiador dos godos Jordanes, em Getica, 25: "Divaue ad Romaniam direxere, ad co domi- cogitantes (Visigothac) tandem communi placito legat Valentem imperatorem, fratrem Valentianiani.” (“E refletindo por muito tempo, final- mente 0s visigodos, de comum acordo, enviaram legados & Romani Valente, irmdo de Valentiniano”) . Posteriormente, Rominia passa a designar 0s ter , a0 imperador ritérios onde se mantinha a cultura romana, sobretudo onde se falava uma lingua romanica, Quando Carlos Magno fundou o chamado Sacro Império Romano, Romi- nia adquitiu também um sentido politica, como o denota um documento do rei Luis, «0 Pio, ¢ de Lotirio, em que se alude a “in nostris et Romaniae finibus” (“nos nossos territérios e nos da Romania”). Quando, porém, 0 poder ps sou a ser exercido por imperadores residentes na Germania, o termo Romania voltou a designar apenas 0s territrios de lingua romfnica, particularmente a Itilia, Assim, sem contesido sem’ tico bem definido, o termo chega até a se opor simplesmente a Lombardia, especial mente depois que os bizantinos conquistaram 0 exarcado de Ravena e a regidio de Pontipole que, por ser a nica na Itilia a pertencer ao Império Romano do Oriente, era designada por “Romania”, donde o nome da atual Romagia, Gnico toponimo derivado de Rom a, Era considerada uma “Romaniola”, ou seja, uma pequent Rominia, provindo dai o adjetivo étnico romagnolo. 10 moderno conceito de Rominia, porém, somente foi fixado com o advento da Filologia Roménica. Em sua Grammatik der romanischen Sprachen, de 1836, Friedrich Diez (1794-1 876) consagrou © termo ao dividir a Romania em Ocidental ¢ Oriental, no que foi seguido posteriormente pelos romanistas em geral; com i850. 0 termo se tomou corrente. Gaston Paris buscou definir esse conceito em 1872; com base na tradigdo, define-se Romania como 0 conjunto dos territrios onde se falou latim ou onde se fala atualmente uma lingua romanica, incluindo-se as respectivas 178. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA literaturas e a cultura de seus Povos. Levando-se em conta as mudangas ocorridas no feMPO € no espago relativas a abrangéncia dos territorios considerados romanicos, distinguem-se trés fases na histéria da Romania PERIODOS DA ROMANIA Levando-se em conta os elementos da definigao, a historia da Romania se divide em txés petiodos, como veremos a seguir. ROMANIA ANTIGA Como se notou, as primeiras atestagdes da Rominia indicam que 0 termo era sindnimo de Império Romano ou Orbe Romano, com denotagio étnica e politic: Ocidente ¢ apenas politica no Oriente. A esse conjunto de territérios, que nos primei- ros deegnios do século 11 4.C. atingiu sua extensio méxima, com tum total de 301 pro- Vincias, di-se 0 nome de Rominia Antiga. A denominagao se apdia em critérios mais ho Politicos que lingiiisticos e culturais, Ef . Pela administragdo, pelos fas houve provincias que fizeram Parte dessa Romania ‘como a Arménia (de 114 a 117 4.C.), a Assiria ea Amia (de 115 a 117 d. C.), nas quais a latinizagao foi nula. Em todo 0 Oriente, 4 lingua usual era o grego, ¢ o latim nao chegou a se impor; basta lembrar que dos tmilhares de papiros existentes, provenientes daquela regio, apenas cerca de quatro- Senlos si0 escritos em latim e, mesmo assim, hi os grafados com caracteres gregos; © a influéneia grega é perceptivel praticamente em todos eles, Outras regides, como os Agri Decuman Daniibio, e também Britinia, Conquistada lentamente entre 43 ©71.4.C., foram lati- nizadas apenas superficialmente; nesses terrtsrios, a Presenga romana deixou tragos em numerosas ruinas de obras piblicas, tais como Aquedutos, teatros, estradas ete., mas poucos vestigios do latim (ver mapa I, p. 353), a leste do rio Reno e norte do rio ‘cus ROMANIA MEDIEVAL. AROMANIA | 179 ainda por cerca de dez séculos; ali, porém, o predominio da lingua ¢ da cultura gregas sempre foi incontestivel, embora o latim tivesse sido a lingua oficial por muito tempo. Assim, com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, © conceito de Rominia passou a ser principalmente cultural e lingiistico € eventualmente politico. \ Romania Medieval abrange as regides em que se continuou a falar o latim vulgar, a em ripido proceso de frazmentagio rumo a dialetos ¢ linguas romanicas atra- vés da fase romance. Trata-se de uma Romania reduzida composta pela Italia, Récia, Galia, Ibéria, ilhas mediterrineas, Dalmacia e Dacia. territérios onde, grossa modo, nseeriam os dialelos e as linguas roménicas. Perderam-se as jd citadas regides fra- camente romanizadas; os Balcas, como 0 atestam dados do substrato em varios pon- tos, desromanizaram-se mais lentamente, A Dalmécia continuow pertencendo ao Império do Ocidente na divisio de 395, depois da morte de Teodésio, 0 Grande, ao do Oriente Snauanto & regido do leste, dita “Praevalitana” passou a perte Assim, a antiga Dalmacia permaneceu por mais um século ¢ meio sob a influéncia 535; com isso, sua evolug de Roma, tendo sido dominada por C ‘onstantinopla em lingitistica acompanhou em parte a das nguas roménicas ocidentais. Explica-se ao sul, sé tenha desapareci- dese modo que o ragusano, dialeto da regio de Ragusa do no século XV; ¢ o dalmitico, lingua falada ao longo da costa do mar Adriatico ¢ culo ultimo reduto foi a ilha de Vegtia ou Querso (esl. Krk) donde o nome veglioro, escoberto e estudado por Matteo Bartoli, desapareceu somente no fim do século Passado (ver mapa 12, p. 367). ‘A perda desse teritrio da Romania comegou durante a Idade Méd 0s dia- Stes roménicos foram sendo lentamente empurrados em dire a0 mar, tornando- Se substrato das linguas eslavas hoje ali dominantes. A Dacia, mesmo isolada e total- mente eercada por falares nio romiinicos, nunca deixou de fazer parte da Romania, tisticas onde se falam variedades consideradas diale- bem como pequenas ilhas ling tos do romeno, Na Galia, perdeu-se a parte oriental da Bélgica Parte da Bretanha, ocupada Pelos bretdes celtas provenientes, no século VI, das ilhas britinicas e falantes de uma variedade lingiiistica do ramo celta briténico, como 0 cimrico € © cérmico, Na Peninsula Ibética, exclui-se apenas 0 Pais Basco, na divisa com a Franga e ao longo 2 do golfo de Biscaia; seu territério, porém, vem sendo diminuido através dos séculos; Z hoje abrang Proximadamente a metade do espaco que ocupava no século XVI No continente africano, as perdas da Romania foram grandes. A Africa Romana constava da Africa Proconsularis (reid da antiga Cartago), da Mauretania Cacsarensis, Tingitana e Numidia, ou seja, do Marrocos 4 Tripoliténea em termos atuais. Todo o norte africano havia sido bem romanizado até | eptis Magna, na pro- Vinca da Africa Proconsularis; nos teritérios mais ao oriente a presenca greva era Srande © a latinizagao extremamente ténue, Com a invas lo dos vandalos ¢ a subse- 180. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROM aliente formacao do primeiro reino birbaro dos vind: lalos (429-534) em tertitério do Império, a cultura latina comegou a ser erradicada do norte da Atti Malik, em 698, c implant com a tomada tago do dominio arabe, os tragos da Se totalmente eliminados, tanto que nem o dominio de fi Ceses e espanhdis em séculos posteriores conseguiu reaniméclos, Com todas essas perdas, a Romania Mediev: fe menos extensa, mas foi nela que as li at foram qui al representa a fase territorialmen- inicas se formaram, ROMANIA MODERNA ‘A fase moderna da Romania comega no fim do sécul Se © espanhdis, levados pelo é norte da Afric lo XV, quando portugue- to da reconquista da Peninsula Ibérica, atacaram 0 OS portugueses ocupam Tanger e Ceuta (1471) ¢ os espanhdis, Meli- '1 (1497) ¢ Oram (1509) na regio do atual Marrocos. Ao mesmo tempo, os portugue: Ses projetam contornar a Africa para continuar a combater 0 islami Feconquista, além de reaver a Terra § mo ¢ completar ¢ nla com a ajuda de um certo Padre Joao, da '20. A esses objetivos religiosos juntaram-se © comerciais, como estabelecer rel Abissinia, que se supunha cris outros, eco- nomicos lagdes diretas com a Africa Oriental, tendo larias e outras mercadorias (ver mapa 8, p. 363), em vista escravos, ouro, especi Iniciaram: SSSim, as grandes navegagdes com a descoberta da IIha da Ma dleira (1419), dos Agores (1431) e Cabo Verde (1445), Vasco da Gama encontra a rota Para as Indias em 1498, contornando o cabo das Tormentas e, em 1500, Pedro Alva- res Cabral chega a0 Brasil. Cristéviio Colombo descobre América Central em 1492, Se8uido por numerosas expedigdes que incorporaram grande reino espanhol ¢ nel: parte das Américas ao s implantaram a Kingua castethana. A primeira grande expedigio francesa para a América do Norte € de 1524 ea seguinte de 15: chefiadas respect Namente pelo florentino Verrazano e por Jacques Cartier. Samuel de Champlain (1567-1635) é 0 primeiro governador do Canad, com Nova Eseécia e autoridade sobre a Terra Nova, Nova Franga; com a chegada de ma outra lingua romdnica é implantada no Novo Mundo, duzido em Sio Cristévao (1625), § (16: is de 10.000 colonos francese: Nas Antilhas, o franeés foi intro- Mio Domingos, Guadaiupe, Martinica (1635) ¢ Haiti No continente da América do Sul, o fran Africa, 0 portugués foi implantado com Portuguesa, Angola, Mogambique e nas ilhas de P: espanholas na Africa no chegaram 86 € falado na Guiana Francesa. as sucessivas conquistas na Guing neipe € So Tomé, As possessdes 4 implantar o espanhol, como em Rio d'Ouro ( altura das Canarias) e na Guiné Espanhola. O fran a 's convive ainda hoje com diale- Africa Ocidental Francesa’ (1904), Africa '2-1905), em Madagascar (1896), Marrocos ¢ Congo Francés, tos locais nas antigas possessdes da Equatori Francesa (18. AROMANIA | 181 A Algéria pertenceu a Franca de 1830 a 1962, ano em que Ihe foi concedida a inde- pendéncia completa, condicionada apenas a concessio de garantias aos franceses ali residentes. Em'1906, cerea de 13% da populago era francesa; com a indepen- ‘os desses franceses denominados “pieds noirs” (“pés pretos”) emigra- déncia, mu ram. Por causa do grande nimero de variedades dialetais autéctones, o francés gua de cultura tanto nos paises do norte da Africa (Argélia, Tuni- ainda hoje é a sia, Marrocos) como nos territérios centrais do continente, que foram anti gas pos- sessdes francesas. No Oriente, 0 portugués se fixou nos pequenos enclaves conquistados no india: Diu, Damio, Goa, Mangalor; com a ocupagao militar desses territérios por Nehru, em 1961, a situago do portugues ficou dificil. J4 em Macau, na foz do ti 2, © portugues evoluiu para um dialeto crioulo ainda hoje existente, Sikiang na CI tendo acontecido o mesmo em Jaua, Milaca e Singapura ¢ em alguns pontos da ilha do Ceili, onde se fala 0 crioulo malaio-portugués. Também o castelhano das Filipinas veio a se transformar em um tipo crioulo, De modo semelhante, na ilha de Curagao, proxima da Venezuela, nas Antilhas, formou-se uma vatiedade crioula, denominada “papiamento”, com base inicial portuguesa mas atualmente com forte influéncia castelhana, que dispde até de modesta literatura ¢ & usada em jornais e revistas, embora a ilha seja uma possessio holandesa*!. Em fins do século passado, as possessdes francesas no Oriente compreendiam a Cochinchina (1862), 0 Cambodja (1863), 0 territorio do atual Vietnam (1883), Laos (1893) e Tonkin, ao norte (1884); na Peninsula da india, pertenceram Franga os enclaves de Yanaon, 31. Como exemplo das caracteristicas geras de no jornal Bow Dia Aruba, em Oranjest, capt: ‘© pequeno araiipélago de dominio hotandés no Caribe; 0 texto & de 29 de julho de 1994: dialeto criowlo, segue um texto em papiamento, publicado dda itha Aruba, que com as de Curacao © Bonaire constitu “Nos norma y balornan £E ehempelnan aki ta demost bon eli cu nos gobernantenan tampouco no ta conciente di nos cultura, concientisacion di nos cultura a cuminsi na seot, pero no mediante di gobierno, pero mediante un comic boluntario, PAPIAMENTO, nos idioma nacional tambe ta € parti aki nos mester pone mas atencion, pineipalmente wor eu nos in mashe hop inluerx ‘ma. Seis aa pasa a lantae comision PAPIANDO PAPIAMENTO, Meta di comision mencions a ps promo- ‘VE Papiamento, Tabatin diferente actividad y e dlkimo proyecto tabata ¢ poster “Julfouw ik heb een boter ‘aha aki y cu ta trata e problema di idioma den ensefansa, Actualmente & promé curso di Papiamento Grado Tres [[Papiamento 1.0.) na Aruba ta tumando lugar na Instituto Pedagogico Aruban. Pa e curso e vaknan eu ta word duna ta fone 'apiamento, Riba e tereno di Papiamento a haci diferente investigacion cienifie. Actualme Cultura junto eu Departamento di Ensefanza ta traha riba ¢ investigacion di frecuencia di palabra. Manera nos 2 ripari tin hopi trabao pa hae riba e tereno di cultura, Mester pon mas atencion na historia ‘Aruba y esaki principalmente den enseianza. Pesey analizé bon bo vota, busca esun et bo ta siti eu fo por ‘port mas riba © tereno aki, Depositi bo voto cu nos cultura y nos edueacion len mente, Ta algo eu mester esaparecé Part importante di nos cultura, Tambe na adi otro ido meogebreng, Fonotogia y gramatica di Instituto di nara di «di un renovacio’ y continwacio 182. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA _ ambiente § Mahé e Pondichery; na Oceat ‘Mais permanente rios do continente asidtico, onde o francés permaneceu nos meios cultos. as ilhas Marquesas, Tahiti e Tuomotu entre outras. a influéncia do francés nas ilhas da Oceania do que nos territ6- Convém ainda lembrar as migragdes, que tém levado milhares de fatantes de uma lingua romanica para paises ou regides de lingua no romanica, em busca de melhores condigdes de vida, como os milhdes de latinos que vivem nos Estados Unidos, Canada, representam um niimero expressivo, dificil, porém, de ser calculado, tendo em vista que muitos detes so clandestinos. Hai ainda grupos isolados de fala romania, embora restrita, como os sefardi- intinos, judcus de fala castelhana, expulsos em 1492 e acolhidos inicialmente pela Turquia; atualmente, vivem também na Bésnia, Macedénia, Bulgaria, Romét e Grécia; 0 castelhano deles ainda hoje corresponde ao do periodo classico, com a migrantes Inglaterra, Alemanha e alhures. No cémputo geral, esses tas le ia conservagiio do /f7, que niio passou a /h/ ou a /d/, distingdo das sibilantes /s/ e /2/ sur- das e sonoras ete., € que é conhecido como “ladino”, quando usado nos livros reli- 10505. Parte deles concentrou-se em Sal6nica, onde chegaram a constituir metade da populagao. De Portugal, os judeus foram expulsos por D. Manuel I, 0 Venturoso, em 1496; fixaram-se sobretudo na Holanda, na capital Amsterdam, na Alemanba, na cidade de Hamburgo e na Baviera, ¢ na Itilia em Livorno. Um manuserito do século és. XVIII afirma que os judeus da Holanda e de Livorno falavam todos 0 port Atualmente, porém, é certo que os de Livorno falam o italiano; na Alemanha € na Holanda, 0 portugués conservou-se por mais tempo, como também o castelhano no fardita, mas atualmente restam apenas alguns nomes de familia ¢ um iimero restrito de vocabulos. © esbogo acima tragado da expansio dos povos e coletividade de lingua romi- jo se tenha fixa- nica mostra que a Rominia Moderna a mais ampla das trés, embora n do em todos os territérios para os quais a respectiva lingua roménica foi levada. De qualquer forma, porém, as linguas romanicas sio faladas em todos os continentes, detentoras em toda parte du literatura muito vasta e valiosa (ver mapa 25, p. 380). FASES DA EVOLUGAO DAS LiNGUAS ROMANICAS, Nos itens acima foram abordados, particularmente, os aspectos relativos a loc: lizago do latim e das linguas roménicas no espago, aspectos mais relacionados com sua historia externa. Resta verificar as fases de sua evolugio interna, ou seja, as fases através das quais o latim, em sua variedade vulgar, originow as linguas roménicas. \guas romanicas se divide em trés Sob esse ponto de vista, a diacronia das Ii fases, cujo “terminus a quo” é 0 latim vulgar e o “terminus ad quem” sio as linguas ARoMANIA | 183 rominicas, passando-se por uma fase intermediiria comumente denominada “roman ce” © que eventualmente poderi ser subdividida. FASE LATINA Esta fase latina corresponde ao periodo em que o latim vulgar ¢ urbano era a lingua do Império, isto é, aproximadamente do século VI a.C. ao século V ou VIdC., durante os quais intervieram todos os fatores internos e externos que, posteriormen- cas, Embora 0 “terminus a quo” seja o latim vulgar, te, fario surgir as linguas ron 0s fatos mostram que a relativa coeso interna da norma vulgar foi mantida, enquan- too latim da administragao e outras instituigdes centralizadoras atuavam como cata- lisadores. Com o desaparecimento da norma urbana, no inicio do século VI aproxi- madamente, a vulgar entrou em processo de fragmentagio mais ou menos rapido conforme a regido. A rapidez da fragmentagao foi determinada por fatores como 0 grau de latinizagao e a ago dos substratos e superstratos, além das variagdes diale- tais do proprio latim vulgar. Quanto a essas variedades do latim vulgar, muito se tem discutido. Levados pelo propésito de dar as linguas roménicas uma fonte Ginica, romanistas do século lade quase absoluta, dificilmente passado exageram em salientar uma homogent sustentivel. Contudo, as divergéncias de pormenor entre as linguas romanicas postu- lam bases latinas vulgares diversificadas explicadas pela época em que a regifio foi latinizada, pelas distincias em relagtio ao centro e pela dificuldade de acesso e de comunicagiio. Desse modo, as regides de colonizagio mais antiga teriam um latim mais arcaico, enquanto as mais recentes apresentariam uma lingua mais evoluide. A distancia da Ibéria € da Dacia, em relagdio a Roma, explicaria os arcaismos do latim vulgar dessas regides, 0 mesmo acontecendo com a Sardenha, pelas dificuldades de acesso, além das inibigdes normais decorrentes de se considerar a ilha como terra de degredo, Essas circunstincias, porém, podem ter sido atenuadas pela presenga da administragdo e 0s outros fatores apontados. Por outro lado, sio também inegaveis as numerosas concordincias panromi- m conclusio, pode-se afir- nicas no léxico, na fonética, na morfologia e na sintaxe. mar que o latim vulgar, como toda lingua ou dialeto falado em regides amplas, apre~ senta uma uniformidade baisica com variantes mais ou menos notaveis. Exemplo de grande uniformidade ¢ dado pelo latim literario, escrito, sendo muito raras as exce~ Ges nessa norma, como a controvertida “patavinitas” de Tito Livio (59 a.C.-17 d.C), © governador da Galia Cisalpina, Asinius Pollio, segundo relato de Quintiliano (lins- itutio Oratoriae, de 1.5.56 e 8.1.3), criticou o sabor provinciano de certas expressdes de Tito Livio, contrastantes com a auténtica urbanitas romana, por usar regioncl ‘mos préprios de Paravium, atual Padua, sua cidade natal. As criticas de Pollio provo- caram a indignagao de Morhof (1639-1691), que transformou a patavinitas de Li io em asinitas de Pollio em sua obra De Patavinitate Liviana (1685). FASE ROMANC Esta fase abrange o periodo em que o latim vulgar comega a se modificar até se transformar nas linguas rominicas modernas. Trata-se de um processo lento, que se estende por séculos ¢ acabou por alterar estruturalmente o latim vulgar e fragmen- tar sua unidade no plano territorial. Cronologicamente, € muito dificil estabelece: datas, mesmo aproximadas; entretanto, admite-se que a perda da quantidade vocal ca e sua substituigio pelo acento de intensidade ¢ outras modificagdes fonéticas se ‘as e sintaticas, como a substi- deram nos séculos IV e V. As modificagdes morfoldgi tuigdio dos casos por torneios preposicionados, a criagdo dos artigos, a conjugagio passiva sé analitica, as formas verbais perifrasticas etc. tornam-se claras apenas nos séculos VII ou VIII. Essas breves averiguagées mostram que nfo houve nenhum limi- te cronolégico claro entre o latim e as linguas romanicas, niio sendo, portanto, pos- sivel dizer quando o Iatim vulgar deixou de ser falado, pois foi um processo gradual sem maiores injungdes, cujo “terminus ad quem” sio as linguas roménicas. Chegou-se, assim, a uma época em que esse conjunto de modificagies fee com que o latim ja nao fosse mais entendido. A esse tipo de linguajar se deu o nome de romance, originirio do Romanice fabulare, oposto ao Latine loqui. A primeira atestagdo, muito clara, da existéncia desse romance é o jé citado cinon 17 das rese~ lugdes do Concilio de Tours. Sabendo-se que qualquer modificagzio em grandes ins- tituigdes, como a Iereja, é lenta, pode-se afirmar com seguranga que ja antes do sécu- Jo IX povo em geral ou grande parte dele s6 falava o romance ¢ nao entendi s eram pov- mais latim, conhecido apenas por aqueles que freqiientavam as escolas € ess cas, destinadas preferencialmente a nobres ¢ clérigos. Da mesma forma que o latim vulgar, as vatiedades nio foram eseritas. Os que escreviam, faziam-no em latim medieval, sob as mais diversas denominagdes, como latim patristico, litingico, eclesidstico, dos diplomas, das chancelarias, notarial, dos tabelides ete., ainda que nesses documentos se encontrem muitos termos romances, mais numerosos que os do latim vulgar em textos literdrios. A atitude das pessoas cul- tas em relagdo ao romance era semelhante ai dos escritores ¢ gramdticos latinos relati- vamente ao sermo plebeius. Entretanto, em razio de essa elite culta, no houve de fato interrupedo entre a literatura latina tardia ea literatura latina medieval; os modelos para fa prosa e para o verso continuaram a ser 08 clissicos, residindo a dificuldade, cada vez io mais falada ordinariamente; nesse contexto, sur maior, no manejo de uma lingua n AROMANIA | 185 OO —— gem 0s glossirios (ver p. 127), destinados a facilitar a leitura de textos em latim, lin- ico. tna que ja soava diferente, como quando lemos textos do portugues 3 (6 processo modificador, em dirego ao romance eds lingua romfinicas, {cou bem cedo sob a infTuéncia dos substratos ¢ dos adstratos,jé durante © periodo do bitingiismo. Datam desses primérdios os empréstimos lexicos das Linguasitélicas (es- cano, prenestino, paduano etc.), que Quintliano considera como verba peregrine (palavras estrangeiras"), embora afirmando “licet omnia Ialica pro Roman's habeam” c todas as [palavras]itilicas”) em sua Instirutio Oratoriae 1.5.56. Coma queda do Império, as forgas do substrato edo superstrato aceleram 0 Pro- da que considere roma cess, ecasionando o que W. von Wartburg denominou Ausgliederung, desmembra- mento ou fragmentacio lingiistica da Romnia. ‘A evolugto desse processo modificador ¢ fragmentador era pereebida por observadores, como Sio Jeronimo (348-420), discipulo de Aelius Donatus, 20 aie mar que 0 latim se modificava “et regionibus quotidie... et tempore” (Cont. ad. Gal. 23). A hipérbole expressa pelo quotdie (“diariamente”) denota a rapidez da fag: tmentagio lingiistica 20s olhos do autor. Os regionalismos e os empréstimos léxicos se multiplicam e se fortalecem. A auséncia de um fator de unificagdo, como havia sido, por exemplo, a administragdo romana, facilitou a ago, embora inconsciente, das tendéncias modificadoras periodo romance, a fragmentagdo da Roménia foi tio grande que nenhuma varieda- na fonética, na morfologia, na sintaxe e no léxico. No de lingiistica conseguiu a principio destacar-se como comum a alguma regis mais asta, conforme se vé na histéria de cada uma das linguas rominicas. FASES DAS LINGUAS ROMANICAS MODERNAS Em substituigao as forgas centripetas de Roma, surgiram outros centros, quer politicos —sobretudo capitais de novos reinos ¢ ducados ~, quer religiosas, com a8 dio- ceses e stias escolas € mosteiros. Formam,se, portanto, muitos centros, cuja area de Jos. Alids, 05 habitantes do antigo Império Romano influéncia nao tem limites defi rnio eram regionalistas;integrados ao orbis Romanus, desconheciam 0 nacionalismo como nés o entendemos. O romance local era considerado apenas uma forma pepular c familiar da lingua comum, 0 latim. Embora divididos politicamente em varios reinos que 0s povos brbaros haviam construido sobre as ruinas do Império Romano, as Pops Jagdes rominicas mantiveram por muito tempo ainda o sentimento de pertencerem ‘uma sé grande nagdo. Certamente, a tentativa de Carlos Magno de restaurar o antigo Iipério Romano procurou capitalizar esse sentimento. Por outro lado, 0 erstanisme, com sua doutrina transcendentalista, é um fator que no favorecia o aparecimento do ngua nacional distintiva. A Igreja, com sua nacionalismo e com ele 0 anseio por uma 186. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA Se 888 eee complexa unidade religiosa © heranga cultural latina, representow uma grande forga de coesio da Europa Ocidental, sobretudo a partir da conversio dos povos birbaros Quando, porém, os limites das diversas nagdes vieram a tornar-se menos ins- tiveis e os falares roménicos assumiram o s/arus de linguas literirias, ainda que de modo bastante lento, a situagdo se altera. De inicio, porém, nfo se pode falar a igor Razdes diversas levaram uma dessas_ de linguas; so antes um conjunto de dialetos destacar e depois a se impor sobre as demais, relegando-as ao plano variedades a familiar ov, no maximo, regional ‘A fase romance é variivel para as diversas linguas romanicas, de modo que as “arias surgem em épocas diferentes; os primeiros documentos respectivas linguas lite sungem entre os séculos IX ¢ XVI. Assim, consideram-se os dois textos em “romand Tingua” dos Juramentos de Estrasburgo (842) 0 primeiro documento em um lingua rominica, Contudo, nio se sabe com certeza de que regio da Franca seria 0 dialeto dicam certa claboragdo, como o emprego do subjuntivo sit, far, $6 no ano de 987, a corte real francesa se ins- usado; os cultismos ivel como vul ndo com isso a elevagio do dialeto local, 0 francico, até dificilmente admis tala na Hle-de-France, ini centio sem qualquer notoriedade, a condigio de lin; ar apenas no século XV. Nessa escalada, essencial Ihe 1a oficial e, posteriormente, lite- aria, 0 que vem a se concreti foi o apoio politico, sobretudo em sua luta contra a coneorréncia do normando no século XII ¢ a do picardo no século XIII [Em portugués, 0s primeiros documentos comegaram a surgit no século XI; a antiga é a cantiga de amor de Paay Soarez de Taveiroos ~ “No poesia dativel mais ‘a entre 1189 a 1206. Formado com base nos falares mundo non m’ei parella” — escrit dle Lisboa e de Coimbra e maiores contribuigdes dos dialetos do sul que dos do norte 0 portugués literirio ndo sofreu concorréncias dialetais, como © francés, mas teve que firmar sua identidade perante o castelhano, Assim, Gil Vicente (1470-1540) tem autos efarsas em portugués e em castelhano ¢ em algumas de suias obras usow as duas 1 uma situago em que nio eram ainda bem claros os limites distin- linguas, refletind ‘9 que vai ocorrer com Luis Vaz de Camées (1524-1 580) tivos entre as duas I em Os Lusiadas (1572). De modo geral, as Kinguas romanicas assumiram sua feigio literdria definiti- sideriveis diferengas entre a lingua dos nguas, va nos séculos XV e XVI; em algumas hé cons primeiros documentos ¢ a literiria moderna. Lend Roland tem-se a impressio de uma lingua estranha com 5 atual: o mesmo acontece com 0 castelhano do Cantar cle! mio lo-se, por exemplo, a Chanson de muitos poucos pontos de contato com o francés Cid, embora em menor propor Nessa perspectiva, o provengal dos séculos X1 a0 XII, como lingua literdria dha lirica trovadoresca, apresenta notivel unidade, apesar das variagdes dialetak Da XIII, XIV ¢ XV se caracteriza por uma mesma forma, 0 catalZo literdrio dos séculos AROMANIA 187 | extraordinaria unidade lingiiistica, explicada pelo fato de ter como modelo a lingua oficial da chancelaria do reino de Aragio A lingua literaria italiana funds se nas obras de Dante Alighieri (12 1321), Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313-1375), es mente, florentino, Quando a Accailemia ment: tas, em parte, no dialeto toscano ou, mais precis: della Crusca, influenciada pelas Prose della volgar lingua, publicadas em 1525 por Pietro Bembo, escolheu como modelo de seu primeiro dicionario a lingua daquela famosa triade, especialmente a de Boccaccio, o florentino do século XIV se consa- grou como a lingua literiria da Itélia, caso tinico entre as ling ; retorno ao modelo medieval, ja literdrio, explica a manutengiio das mesmas feigdes lingitisticas, tanto que um leitor italiano de hoje nao encontra maiores dificuldades m compreender a Divina Commedia de Dante, a nao ser uma ou outra expressio. A grande aceitagio da variante florentina entre os intelectuais obstou que outros diale- a literiia, tos chegassem a condigdo ambicionada de | No conjunto das linguas romi variedade dialetal & categoria de lingua literdria sio de ordem cultural ¢ politica, Onde nenhum desses motivos foi suficientemente forte, nenhuma variedade ling gt aS, 08 motivos prineipais que levam uma tica conseguiu sobrepor-se as demais; € 0 que se deu com 0 rético, em cujo ramo oci- dental pelo menos cinco dialetos ainda disputam o privilégio de ser a lingua literaria, Na Roménia, a falta de unidade politica fez com que a verdadeira literat rom: ‘a 86 surgisse no século XIX. Em conclusio, cada lingua romanica tem sua historia caracteristica e uma tra- jet6ria propria, que convém conhecer. Vejamos, a seguir, os principais tépicos da his- toria externa de cada uma delas; eventualmente, serio citados também fatos da his- toria interna, © Romeo. Apesar de ter tido menos de dois séculos de latinizagao, pois, conquistada pelo imperador Trajano (98-117 d.C.) entre 101 € 106, teve de ser abandonada por inger (“anjo"), basilica > bisericdt (“igreja”), puganu > pagin Cpa biilgara se declarou independente da de Constantinopla, ionaios fio”, “niio-batizado”) ete. Esses primeitos escritos sio livros religiosos dos séculos XIII ¢ XIV. prove- nientes da Moldivia; nao se tem certeza se documentos anteriores, como © Savina Kniga (“Evangelho”) e 0 Codex Suprasliensis, mbos do século XI, foram escritos nas re s do norte. A maioria dos documentos oficiais e particulares se perdeu; pre- ime aPenas 08 posteriores 2o século XIV e algumas erdnicas, ainda mais tar- servar A ROMANIA 189 ee 190 dias. Através dos escritos que se conservaram, verifica-se que de vez em quando aflo- ram nomes proprios, apelidos ¢ topdnimos romenos entre o médio biilgaro, Na Roménia, portanto, essa lingua teve 0 mesmo papel que o latim medieval no Ocidente: era a lingua da escrita e da Igreja, enquanto o romance era a linguagem do povo. Da mesma forma que se encontram vulgarismos romances nos documentos em latim no Ocidente, nos escritos bilgaros acham-se palavras romenas ou torneios sin- ingua materna do copista ou do autor. Exemplos desse fato, ante- titicos proprios da riores ao século XVI: ales, “resultado” de alege < lat. alegere > eligere, “escolher”; buor < bour < lat. bubalus, “bifalo” e “antilope”; cumnat < lat. cognatus, “eunha- do”; jude < lat. iudex, “juiz”; lac < lat. lacus, “lago”; portar < lat. portarius, “por- teiro”. Reflexos claros do romeno falado sio os nomes proprios, jai com o artigo defi- Amarul, Albestié; encontram-se também formas intermedidirias nido posposto: Albu. da cadeia evolutiva, como os nomes proprios Uricle e Urecie, de 1412 ¢ 1437 respec~ lat tivamente, em que o grupo /-cl-/ ainda nio havia passado a /-ch-/, que soa /k relha’ auricula > auricla > rom. ureche, Nas regides do norte pertencentes Hungria, bem como na Tran ilvania que, embora independente, mantinha relagdes de vassalagem com a coroa hiingara, latim era a lingua da cultura, das escolas, das leis, dos tribunais e, em parte, até da administragao desde 0 século XI. Nesses documentos hingaros encontram-se tam- bém elementos populares romenos, especialmente nomes préprios ¢ topGnimos; a dificuldade esti em saber se esses nomes representam de fato designagdes populares, ou se sio apenas adaptagdes de termos de outras origens, jd que a lingua usada era 0 latim, Um exemplo incontestivel, porém, encontra-se em um documento do inicio do século XII, no qual se cita um vassalo de Arad, distrito de Bihor, de nome Fichur, correspondente ao romeno ficior ou fecior < lat. *fetiolum, “filhinho”. Fichur & encontrado no hiingaro, no século XVIII, como sobrenome (ver mapa 10, p. 365). A partir da metade do século XIV, durante cerca de dois séculos, 0 eslavo foi a lingua oficial das chancelarias © da Igreja nos territérios romenos, 0 que impediu o romeno de fi mar-se como lingua escrita. Somente em 1521, parece o primeiro docu- mento escrito em romeno, ainda assim com a introdugio ¢ a saudagio final em eslavo; € uma carta, escrita pelo gro senhor boiardo Neaesu de Cimpulung ao juiz Hans Benkner, da cidade de Brasov, comunicando uma incutsio dos turcos pelo rio Danibio. a Vala Usa o alfabeto cirilieo da época, mas denomina a regizio Os prim iquia Tard Romaneasea ‘0s escritos religiosos em romeno sio de meados do século XVI, conservados em quatro cédices. Contém parte dos Evangelhos ¢ dos Atos dos Apéstolos, uma tradugio em prosa dos salmos e duas outras verses também dos sal- ‘mos (de Feronefe e de Hurmuzachi). Os muitos erros, repetigdes, omiss6 s ¢ interpo- lagdes deixam claro que sio edpias de eédices mais antigos. Em geral, supde-se que sejam tradugdes feitas sob inspiragdo luterana, cuja reforma se estendeu rapidamen- ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA SECCCECECESE CTT FFF IFFCFCECCECCECCECECSECVVOVsevevwsvvveveees te pela Tra silvania. O primeiro livro impresso em romeno é um catecismo prot tante, traduzido do hungaro ¢ publicado em Sibiu, cidade da Transilvania, em 1544. que se perdeu. O catecismo de Coresi, porém, publicado na cidade de Brasov, em 1559, se conservou quase integralmente, Também os calvinistas tradu: os publicaram em romeno, com fins propagandisticos; foram os primeiro m livros e a tentar escrever 0 romeno com o alfabeto latino. Es se propdsito de abandonar 0 alfabeto ciri- lico © substitui-lo definitivamente pelo latino foi retomado pela escola latinista da Transilvinia, no inicio do século XIX; seus mentores eram catélicos do rito grego € haviam estudado em Roma e Viena, Conseguiram seu objetivo lentamente, pois, s6 em 1860 0 alfabeto latino foi oficialmente adotado, As primeiras atestagdes do romeno sio, portanto, bastante tardias. Enquanto as linguas rominicas do Ocidente ja dispunham de vasta literatura artistica, na Roménia encontram- ¢ apenas tradugOes de catecismos e hinos. Os romenos no tm uma literatura medieval, ¢ a auténtica literatura romena s6 despontou com vigor no século XIX. Antes de mais nada, foi necessério unificar a ortografia e com ela a lin- nacional literdria, problema que se arrastou de 1880 a 1953; papel preponderar te nesse trabalho é atribuido a Titu Maiorescu (1840-1917). Dentre os grandes nomes da literatura moderna romena, destacam-se Ton Creangi (1837-1889), contista mol- davo, Mihai Eminescu (1850-1889), poeta clissico ¢ lirico pertencente @ literatura universal, Ion Luca Caragiale (1852-1912). trais, Mihail Sadove: Barbu Stefainescu Delavra autor de romances, contos ¢ pegas tea- nut (1880-1961), com mais de cem obras de todos os génetos, \cea (1858-1918), romancista ¢ dramaturgo, Tudor Arghesi (1880-1967), comparado a M. Eminescu, um dos maiores poetas romenos e autor mbém de mu obras em prosa, George Calinescu (1899-1965), prosador, critico ¢ historiador literario, para citar apenas alguns, Se a literatura romena é tardia, a contribuigéio da Roménia para a Filolo: Rominica foi de valor especial; isolada de suas irmas ocidentais durante tantos século: soube manter a estrutura latina do idioma, que foi complementada, nos séculos XVIII € XIX, pela “lealdade de cultu nome pelo qual criticos e historiadores romenos deno- minam a reintegrago do romeno entre as linguas de cultura na Europa moderna, Unica lingua romanica conservada no leste europeu, o romeno apresenta qui tro dialetos principais: a. O daco-romeno (“da da Bucovina, que pertenceram até recentemente 4 Unitio das Repiibl Socialistas § ovigticas (URSS), em parte do Banato, integrante do territério ing avo, além de alguns vilarejos na Bulgaria ¢ na Hungria, proximos a fronteira, 0 daco-romeno nao tem variagdes dialetais acentuadas. A lingua literaria se baseia na variedade da Vakiquia, com influéncias moldavas e transilvanas, A ROMANIA 191 192 b, Macedo-romeno ou aromeno (“aromén”), cujos falantes so denominados vlachs pelos cronistas bizantinos ja no século X; é falado ao sul do rio Danuibio de medo disperso; é encontrado na Grécia (Tessilia e Epiro), na Bulgaria em varias loca- lidades e, especialmente na Maced6nia, na regio de Bitola. Com base nessa variedade foram feitas muitas tentativas no sentido de restaurar o romeno comum. ¢. O megleno-romeno ou meglenitico ~ designagio desconhecida pelos proprios falantes, que se autodenominam vlashi~ ¢ falado na regio nordeste de Salénica, tendo como centros as cidades de Nanta, Cupa, Tarnareca; abrange ainda grupos de emigrados na Dabrégea e na Asia Menor. Em romeno, diz-se “meglenoroman”. 4d. O istrio-romeno (“istroromin”) falado numa pequena regio préxima ao Monte Maior, na regio centro-oriental da Peninsula da istria, e em outras pequenas cot centrages ao norte. Atualmente, todos os istrio-romenos sio bilingiies pela co nncia com os croatas (ver mapa 11, p. 366). Embora haja diferengas entre os quatro dialetos romenos, sobretudo por causa dos empréstimos Iéxicos de outras linguas, com as quais convivem, é exagerado con- sideri-los como outras tantas linguas romanicas nos Balciis. No que se refere a0 mol- davo, o problema é certamente mais politico que lingitistico. A chamada “questi moldava” tem raizes histéricas. O principado da Moldavia, regio na parte norte oriental da antiga Dacia, neluiu, do século XIV ao inicio do XIX, a Bessarabia, cujo territério se situa ao leste, entre os rios Dniestre e Prut, e onde se desenvolveram variantes daco-romenas com caracteristicas moldavas, Com 0 tratado de paz de Bucareste (1812), a Bessarabia foi incorporada 4 Russia, & qual ficou unida até o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, quando voltou a pertencer & Roménia. Com algumas dezenas de milhares de romenos, que habitavam a regio além do rio Dniestre, foi constituida, em 1924, a Repiiblica Socialista Soviética da Moldavia, unida 4 Ucrinia. Em agosto de 1940, a Bessarabia foi separada da Roménia e incorporada 4 Repablica da Moldavia, Essa atribulada histéria da regido de fato nao apresenta fatores importantes que pudessem acentuar as diferengas dialetais; na Moldavia, apenas ndo se acompanhou de perto a relatinizacao da lingua romena no século XIX, nem se passou a usar 0 alfabeto lati- no, mas se continuou a escrever com o alfabeto cirflico até 1905, quando se adotou © alfabeto russo parcialmente romenizado. O movimento separatista se acentuou a partir de 1924, quando passaram a denominar seu idioma “limba moldoveneasci”; os resultados, porém, foram inexpressivos, dada a exigiiidade de seu territério. Lingiiistas e fildlogos soviéticos, por evidentes razbes politicas, empenham- se em transformar 0 moldavo numa lingua auténoma; desse modo, haveria no Oriente duas linguas roménicas, 0 que & sustentado também por alguns lingilistas romenos. Com o recente esfacelamento da Unitio das Reptblicas Socialistas Soviéticas, as ten- ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA COCCCTECEE DSSS déncias separatistas s enuaram no campo lingdistico, ainda que a Moldavia tenha Preferido continuar politicamente independente (ver mapa 10, p. 365), Entretanto, os defensores da autonomia do moldavo diferencas lingiiisticas, certas particularid: apontam apenas poucas insuficientes para fundamentar a pretendida autonomia, Citam lades fonéticas e léxicas, muitas das quais encont outras areas do romeno, como Por exemplo, deles é riveis também em ‘osso”. Na literatura, a posigo ciolan, * ainda mais incoerente, porque consideram pe autores como Creangii ¢ Eminescu, Conhecedores do assunto, como Carlo moldavo literario é 0 romeno literario, alids ndo desconhecidas nos dominios gua literdr rtencentes a literatura moldava Cuja lingua € indiscutivelmente 0 romeno, Tagliavini (Origini, p. 360), afirmam que o om pequenas influéncias populares moldavas, do romeno, como ja se disse; além disso, a lin Imoldava nio representa de fato a lingua falada pelo povo. A falta de argu: mentos solides levou os proprios lingiistas adeptos da independéneia do moldavo a S entusiasmos politicos. A lingua literi- nto romena, formada com base na variedade falada entre Titgoviste e Brasov, tem contribuido bastante para a homogeneidade dos dialetos da Roménia isada também pelos escritores moldavos, pode vir a contribuir para evitar maiores diferenciagdes dialetais na Repiblica da Moldivia, mesmo politicamente independente, silenciar sobre o assunto, uma vez cessado: ria di 0 DaumAtico Unica lingua romanica morta, 0 dalmitico foi f Provincia romana situada Balcds. As mais antiga falado na regido da antiga a parte norte-ocidental da Peninsula dos ‘ncias ao romance do litoral da Damacia si vagas; historiadores e viajantes fazem distingdes entre os “ ‘romanos” ¢ os “eslavos © suas respectivas linguas; i dos primeiros denominam “ati ina”, “dalmatina” e “fran ca”. Esses dados se encontram em Constantino Porfirogeneta, em um relato das cru- zadas, e datam de 948 refer 10 bastante Pouco se sabe sobre as variantes lingilisticas das cidades litorineas; informa- Ses mais amplas existem apenas sobre a cidade de Ragusa, 20 sul, e sobre a iha de Veglia, hoje rebatizada com o nome eslavo ofok. ral desde a cidade de Fiume (atual Rijeka} Krk, embora tivesse ocupado o lito- ) até Antivari (modernamente Bar), A res- ias especificas numa descrigio + que era diretor de uma escola, em 1440. O regu- * pois ha registro dum debate sobre ele no senado da cidade, datado de 1472. 0 dalmatico da cidade de Zara (atual Zadar, no litoral eroata) deve ter tido uma sobrevivenc ia mais curta; as informagdes disponiveis, porém, sio muito limitadas (ver mapa 11, P. 366). AROMANIA | 193 Sobre 0 dialeto da ilha de Veglia, 0 veglioto, o mais antigo testemunho consta magistrado veneziano, datado de 1553; em um relatério de Giambattista Giustini Tomo sindico de Veneza, Giustiniani inspecionava as cidades Itoraneas (Querso, COssero, Arbe, Nona, Trai, Espalato, Sebenico, Lessina, Ragusa, Zara), ¢ anotou as lin- quas faladas na regio: © vneto, 0 servo-croala€ um idioma particular da ilha de ia”) de algum falar eslavo. Di a Vegli entender que a lingua “dalmatina” ou “franca” s6 podia ser usada pelos homens, considerado por ele como um calmone (“ cenquanto as mulheres deviam fazer uso do eslavo Outras possiveis referencias a0 veglioto, como a de Conrad Gesner, no Mithridares (1555), de Farlati, no Hiyricum Sacrum (Fins do século XVIII) € a de Grappin e Cassas (Voyage pitioresque et historique de Tistrie et de la Dalmatie, de 1802), nfo o identifieam com clareza; assim, a Voyage pitforesie identifica a lings ouvide na regido com 0 “ilirico”. Somente em meados do séeulo XIX especialistas comegam a estudi-lo mais acuradamente; o lingiista Bernardino Biondelli (1804- 1886) foi considerado o “descobridor do dalmatico” por Sever Pop (La Dialetologie, I. p. 649). Embora Biondelli nada tenha publicado, seu pedido de informagoes, dirigi- ddo ao médico Giambattista Cubich, morador da ilha, despertou em Cubieh um gran- de interesse pelo dialeto local. Em 1861, a revista LTstriano comesa 8 publicar parte das pesquisas realizadas por Cubich. Tomando conhecimento dessas. publicagses, “Ascoli inseriu uma longa nota em seus Sage’ Ladin (1873) sobre esse dialeto, na qual diz: “In questo dialetto, che noi diremo, tanto per dargli un nome, veglioto [..]” (Neste dialeto, que nés chamaremos, apenas para The dar um nome, veglioto [..1") (© nome “veglioto” de Ascoli foi bemaceito de modo geral, bem como a8 Pro" simagBes lingiisticas que estabeleceu com o romeno € os dialetosistiano® de Revigno @ Dignano. Motivado pela publicagio de Ascoli, o professor de linguas cléssicas ‘antonio Ive publicou, em 1886, um artigo intitulado “L’Antico Dialeto de Veglia”, ainda hoje de grande valor pelos textos e pelo vocabulirio que contém; encontra-se © vol. 1X do Archivio Glottologico Italiano. Esses estudos despertaram 0 Inerssi® espe- cial de Matteo G. Bartoli, que procurou salvaguardar 0 dialeto prestes 9 desaparecer da itha, Foi a Vegliatrés vezes, em 1897, 1899 ¢ 1901; em 1897, entrevision Jongamente + alkimo veglioto, Antonio Udina, dito Burbur, falecido no ano seguinte Com 0 mate- vial dessas entrevistas ede muitas cutras pesquisa, Bartoli esereveu Das Dalmatische. “Altromanische Sprachreste von Heglia bis Ragusa und ihre Steliung i der Appenino- ‘palkunischen Romania (°O Dalmético, Residuos Lingtisticos de Ronsinico Antigo de Veulia a Ragusa e sua Posigo na Romi ‘Apenino-Balednica”). A obra foi eserita em alemio, porque constituiu a tese de litirea do autor na Universidade de Viena, tendo sido publicada pela Kaiserliche Akademie der Wissenschaften, em 1906, em dois volu- es, Nesse trabalho, Bartoli resume a contribuiglo de outros autores, com? Ascoli, Mussafia, Schuchardt, Meyer-Lilbke; apresenta os resultados de sua peSsuis2 das fon- 194 | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA es {es orais ¢ escritas, no s6 do veglioto como do dalmitico em geral; faz um esboeo da etnografia da Hiria, com consideragdes histérico-geogrificas sobre a extensio do dal- Inatico em diferentes periodos histéricos e suas relagSes com as linguas vizinhas. Traz umerosos textos ¢ um estudo resumido sobre sua gramitica e léxico. Essa obra de Bartoli se tomou o ponto de referéneia em todas os estudos sobre o dalmitico em geral © 0 veglioto em particular. No Brasil, io se pode omitir o trabalho de Maria Luisa Fernandez Miaz2i, O Dialeto Veglioto, com o subtitulo Problemdtica Gerul, Textos Fundamentais e Levamtamento Fonético, Morfolégico e Sintético. Nessa tese de douto- ramento em Filologia Romdnica, apresentada a Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciéncias Humanas da Universidade de Sao Paulo, ainda inédita, ha estudo de textos e tuma sistematizagdo gramatical do veglioto na fonética, morfologia e sintaxe. Pas Dalmatische de Bartoli provocou muitas discussdes, sobretudo a classifi © do dalmatico entre as linguas apenino-balednicas ou do ramo orient al. Muitos classifieagao; os debates se prolongaram por envolvendo Sextil Puscariu, Clemente Merlo, Jakob Jud, Ernest Gamillscheg, H. Gelzer, Meyer-Liibke, Petar Skok, Alfredo Schiaffini, Matteo Bartoli € outros. Os debates se prolongaram mesmo depois da morte de Bartoli (1946) sobre diversos aspectos da problematica do dalmético, como sua classificasio nos quadkos romanistas no concordam com ¢: decénios, Fomanicos, a validade das fontes de informagao e questées propriamente lingtisticas, Sob o aspecto especificamente lingiiistico, deve-se levar em conta a influén- cia do véneto, jé que a regio da antiga Dalmicia esteve sob 0 dominio politico de ‘Veneza por tempo variivel; assim, a reg 1205 a 13: iio de Ragusa fez parte do império véeneto de , enquanto os territérios litoraneos m: is ao norte Ihe pertenceram por tempo, de que resultaram niveis diversos de influéncia também na lingua, Por outro lado, o dalmatico apresenta semelhangas com 0 romeno € com os elementos latinos do albanés, sobretudo em relagio 4 conservagio da estrutura da lingua areai- €4 € a aspectos semiinticos do léxico, Foneticamente, o dalmatico é bastante conser- vador no consonantismo e inovador no vocalismo; ditonga praticamente todas vouais, inclusive 0 /a ma as + fato raro entre as linguas roménicas, como em lat. casa > alm. kuosar palm > puolma; tatam > tota; barbam > buarba: falsum > fuals: *san- suem > suang ~ contorme o /a/ seja livre ou travado, embora nio seja regra geral; exemplos de dito iso de outras vogais lat. bellum dalm. bial; ferrum > fiar: ventum > viant; cenam > kaina: piram > pair ' aprilem > aprail: nidum > naid: fari- nam > faraina; cornu > kuarn; portam > puarta; sortem > suart; colorem > kolaur ipotem > nepaut; solem > saul; crucem > krauk; gulam > gaula; nucem > nauk. durum > doir; lucem > loik; uvam > joiva. Essa abundante ditongagio é sem diivida 4 caracteristica mais distintiva do dalmatico no contexto romanico. Quanto aos dialetos, pode-se distinguir duas variedades no dalmitico: o meric dional, conhecido como “ragusano”, desaparecido no s culo XV, e 0 veglioto, cujo AROMANIA | 195 EE -— ewer wrewrewwwwewweeee I e ‘iltimo reduto foi a ilha de Veglia (esl. Krk) ¢ cujo tltimo falante foi, como se vin, ‘Antonio Udina, o Burbur (ver mapa 12, p. 367). ‘Os documentos em dalmatico so poucos ¢ nenhum deles tem cari tio. O primeiro documento, em que aflora certo mimero de elementos romances €um testamento do século X, escrito em latim medieval ¢ reproduzido por Giovanni Lucio em Historia di Dalmazia et in particulare di Trait, Spalato e Sebenico, publicada em Veneza, em 1674. Em um inventirio ragusano mais antigo (1280), eneontram-se mui- tos vocabulos claramente dalmaticos, porém isolados. Os primeiros documentos ” por terem sido redigidos em dalmitico sio duas cartas, conhecidas como “zaratinas escritas na cidade de Zara au a ela dirigidas; uma é de 1325 ¢ a outra, de 1397, As duas cartas tratam de pendéncias judiciais. O que se conhece do dalmitico se deve as coletineas de Biondelli, Cubich, Ive e, sobretudo, Matteo Bartoli, que organizou todo o material disponivel O Imatiano [A histéria multissecular da Peninsula Itdlica ¢ a grande diversidade étnica, verificada em todas as suas regides durante lapsos consideriveis de tempo, explicam 4 impressionante quantidade de variantes dialetais em territério hoje italiano. Apenas durante o Império Romano, a Itilia teve unidade politica; modernamente, essa uni- dade s6 foi restabelecida em 1870. Esse longo hiato de tempo, em que seu territério foi muitas vezes desmembrado e suas partes pertenceram a reinos, impérios ¢ povos diferentes, favoreceu a manutengio mais firme das variantes dialetais. Assim, na planici do rio Pd, 0 substrato ligure ao veste, celta ao centro € vveneto (ilirico) ao leste, com o superstrato germénico, sobretudo lombardo, si0 08 fundamentos étnicos que caracterizam os atuais dialetos chamados “alto-itilico” ou ‘ompreendem quatro grupos bastante dife- “setentrionais” ou ainda “galo-itilicos’ renciados entre si: piemonteses, lombardos, ligures ¢ emiliano-romanholos. A deno- minagio “galo-itélicos” ¢ de Bernardino Biondelli (1804-1886) ¢ foi aceits por ‘Ascoli e outros lingilistas; situam-se grosso modo ao norte da linha La Spezia- icem ao ramo ocidental na classific Rimini. Esses dialetos perte gio das Linguas Roménicas, embora as caracteristicas do ramo ocidental niio se encontrem de modo tuniforme nos varios grupos dialetais. Fora de seus territérios atuais, formas antig desses dialetos sio encontrados em antigas colénias lombardas na Sicilia (Ganfratello, Nicésia, Novara, Aidone) e na Basilicata (Potenza), Os dialetos vénetos tém caracteristicas diferentes em relago ao galo-itilicos, como a auséncia de /i/ e do /8/ e a conservagao das vogais finais, com isso aproxi- mando-se-do toscano. Apresentam varias subdivisdes, como o veneziano, 0 veronés, 196 | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA © paduano, o feltrino etc., devendo-se incluir as variantes istrianas de cardter.arcaico, faladas em pequenos territérios da Peninsula da istria, nas localidades de Rovigno, Dignano, Fasano, Fallesano e Sissano (ver mapa 12, p. 367). Os dialetos centro-meridionais se dividem em trés blocos, se excluirmos os dia- letos toscanos, que formam um grupo a parte: a) os falares das Marcas, da Umbria ¢ do Lacio; b) os dos Abruzos, da Apiilia, Campania e Lucinia; c) os da Peninsula Salentina, Calabria e Sicilia. Trata-se de uma grande variedade dialetal, mas cue tem vias caracteristicas comuns, como as assimilagdes progressivas /-nd-/> /-nn-/ /- J > -mm-/ (quando > quanno; piombo > piommo) ¢ I-14 > /-dd-/ ou /-dg-1 eacuminais, nb- © que ocorre também no logudorés e € atribuido ao antigo subsubstrato mediterraneo, Entre esses grupos, hii outros de transigo, mas sem salto brusco demais, a no ser na regio central, na passagem dos galo-itilicos para o toscano, no divisor de aguas dos Montes Apeninos. Os dialetos toscanos, divididos em quatro grupos (florentino, pisano-pistoien- se, senense e aretino), e por incluir o florentino, base da lingua literitia italiana particularmente interessantes por seu cariiter conservador Ligam-se aos dialetos toscanos as variedades da ilha da Corsega, divididos em dois grupos pela cadeia de montanhas que atravessa a ilha de noroeste a sudeste: 0 cismontano, a0 nordeste, ¢ 0 ultramontano, a sudeste. Esse iiltimo assemelha-se a0 iguindo fi € Jul de /el ¢ de /ol e passando /-li-/ ¢/-Il-/ & cacuminal /-dd-/, vestigios da antiga lingua local, posteriormente alterada em profundidade pelos toscanos. Atualmente, os dialetos corsos, especialmente os cismontanos falados na maior parte da ilha, denotam gran- do norte da Sardenha, o galurés, por seu cardter arcaizante, dist de influéncia do tose: no antigo, fato que tem importincia também para a hist6ria do 12ua oficial da Cérsega, porém, é o francés, ja que a ilha pertence poli- ticamente a Franga desde 1769 (ver mapa 13, p. 368). italiano. A © quadro dialetal italiano, porém, é extremamente complexo. © que ficou exposto acima é apenas uma tentativa ampla, geral e bastante imperfeita de classifi- cago, pois se agrupam variedades através de algumas caracteristicas comuns ou con- vergentes, no se levando em consideragio tantas outras, possivelmente ainda mais importantes. Entretanto, convém lembrar que os proprios fildlogos italianos diver- gem bastante em suas classificagdes, bastando confrontar as apresentadas, por exem- plo, por Carlo Tagliavini, F. Schiirr, Giulio Bertoni, C. Merlo, Gerhard Rohifs, Matteo Bartoli, Alfredo Schiaffini. Perante tanta variedade di al, somente algo realmente excepcional teria forca suficiente para destacar uma delas, tornando-a lingua ral e literdria. A partir do século IX, comecam a surgir pequenos textos, inscrigdes, depoimentos em proces- sos e poemas em diversos dialetos. No século XII, autores lombardos e vénetes tenta- ram estabelecer uma lingua literiria comum, com participagdo de figuras do porte de A ROMANIA 197 Bonvesin de la Riva, Giacomino da Verona, Uguecion® da Lodi ¢ Gerardo Patecchio. ‘Também em outras regides da Italia despontam manifestagdes literirias, como na Umbria, com Sio Francisco de Assis, na Toscana e em Bolonha. Contudo, nessa época, 0 principal centro literirio formou na corte de Frederico 1, rei da Sicilia, para o qual convergiram poetas ¢ literatos de todas as partes da Italia; essa escola fol, ", apesar de apenas dez dos seus vine e nove poetas serem sicilianos; isso "quis regale solium erat Sicilia” de fato, a primeira tipicamente italiana, denominada “siciliana Tentetanto, foi na Toscana, especificamente em Florengas surgi a lingua Ti- teriria italiana, baseada no dialeto toseano-florentino Impressionado com a Lingua lite- riria provengal, que havia atingido grande aceitagio entre os poetas, i \dependentemen- vromo uma KOU} das cortes, Dante Alighier (124 1321) procurou uma forma lingistien que reunisse 9 a0 de melhor houvesse nas diversas te de variantes dialetai variedades da Itilia; essa KOWA deveria posteriormente Set adotada como lingua literé- via em todas as regices da Talia, jé que nenhums des variantes correntes Ihe parecia dis- por das qualidades literirias necessrias, que havia observado no provencal. Descarta, He inicio, o toseano em particular, segundo declara no Capitulo Ill do Livro | em De Vulgar! Eloquentia: “Quod in quolibet cum est turpissimum” (“Pois em qualquer idioma Sempre hha algo feio mas, diante dos fomate sunt aliqua turpia, sed pro ceteris ts ‘outros, 0 toscano é feissimo”). Nio tendo encontrado a KOLA) desejada entre OS falares italianos, Dante ‘Alighieri, quando resolvew a usar “il volgare”, langou mio do florentino, apesar de sua relutincia inicial, tanto que poucas sto as formas nao florentinas na Commedia « empregadas por razdes estétcas na boca de no toscanos, embora haja também lati- nismos e galicismos. A localizagio geogriica central de Florenga, as condigSes his- téricas da epoca € o uso da mesma lingua por outros dois grandes nomes, Francesco , e Giovanni Boccaccio, Petrarca, com as conhecidas Rimas e seus clissico8 sonet com Decamerone, difundiram o florentine pot toda a Italia como lingua liters ia Fizeram também desaparecer a pretendida lingua literdria de base véneta do norte, ja culo XII. com algum prestigio no st ‘Em torno da lingua literiria italiana, levantou-se 2 chamada “questione della tingua’, cujas controvérsias se estenderam Por séculos. Uma corrente pretendia que ‘0 modelo a ser seguido fosse 0 toscano antigo dos trés grandes autores, a “florentini- dade” anténtica, O principal defensor dessa posigio, juntamente com Antonio Cesare, P. Giordani ¢ G. Leopardi, foi Pietro Bembo com Prose della vulgar lingua (1525); Bembo ai propde, como modelo, o toscano de Petrarca para a poesia © 9 de Boccaccio para a prosa. Opunham-se a essa corrente os que pretendiam como mode- Io literdrio 0 florentino falado, tais como Benedetto Varchi (1503-1565) & Giambattista Gelli (1498-1563). Em 1582, fot fundada em Florenga a Accademia della Crusca (it. crusca significa wfarelo”, expresso burlesea) com a finalidade de Jo8 | ELEMENTOS DE FLOLOGIA ROMANICA SESS ST SVS SSGTGFTFIFFTFSSSESESSSSESSESEVsssTGsssessesesTess defender a lingua literiria dos trés grandes; elaborou-se 0 Vocabulario degli Accademici della Crusca, baseado sobretudo em Boccacio e publicado em Veneza em 1612. Foram fixados 0 léxico e sua ortografi a proniincia e a estrutura grama- tical; esse Vocabulario serviu de modelo para os de outras linguas roménicas. Com isso, prevaleceu a posigdo dos partidirios da linguagem da triade. Desse modo, a lingua literéria italiana teve sua génese caracteristica, diferen- te das demais no campo romanico; nasceu de fatores me mente literirios, nio da supremacia politica e cultural de um dialeto, como o francés ¢ 0 castelhano, nem por sera lingua da chancelaria de um reino, como o catalao, nem a variante culta, poéti- ca e literiria internacional, como o antigo provengal, Entretanto, a falta de unidade politica da Italia, durante os séculos XVII e XVII, dio permitiu que aquele florenti- no literirio se tornasse efetivamente a lingua nacional, como aconteceu com o fran- és € 0 castelhano, Essa situagio ps de rigidez, que foi quebrada por Alessandro Manzoni ao usar florentino falado ar da Itilia levou a lingua literaria a uma gran- cul pelas classes cultas em / promessi sposi O toscano literitio, jé no século XV, se impés literrio de Roma, Pelo fim do século XVI ou comeso do seguinte, o antigo romanes: co desapareceu, surgindo outro de cariter toseano. Depois da unificagiio da Itilia, Roma de fato se torna o grande centro irradiador da lingua nacional, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Atualmente, os meios de comunicagio de ma particularmente o cinema e a televisio, tém difundido essa lingua de bases florenti- ente em toda a Itélia e reduzindo, com isso, sobre 0 romanesco, 0 dialeto nas, tornando-a viva e pres importincia dos dialetos, historicamente de grande peso. Fora do territério politicamente italiano, fala-se o italiano na Repiiblica de San Marino (um dialeto romanholo), na Suiga (nos Cantdes do Ticino e dos Grisdes), na a (embora a lingua oficial seja o francés, desde 1769), na istria e na Venezia Giulia (pertencentes a antiga Iugoslavia desde o fim da Segunda Guerra Muindia)), principais cidades da costa dalmatica e no prineipado de Monaco. Além disso, gua de cultura da ilha de Malta e a “lingua franca” para europeus e arabes Esparsamente, é falado por emigrantes de mui Corse alin- na Li fas partes do mundo, sobretudo n Américas. No Brasil, conserva sobretudo no Rio Grande do se em grupos compactos Sul, Santa Catarina e So Paulo; na cidade de Sao Paulo, bairros inteiros, como Bela Vista e o Bris, trazem mareas indeléveis da lingua ¢ da cultura italianas. © Sarvo Para compreender as caracteristicas dos dialetos sardos, & preciso um conheci- mento, ainda que sumirio, dos povos que desfilaram em sua hist6ria plurimilenar. A A ROMANIA | 199 chamada populagio “mediterrnea” ocupou a Sardenha ¢ a Cérsega pelo menos até o fim do periodo neolitico; deixaram muitos vestigios, sobretudo nos notiveis “nuraghi”, construgdes cOnicas, consideradas expresses da arquitetura megalitica. No século VI 4.C., foi ocupada em parte por gregos e cartagineses; aliados, etruscos ¢ cartagineses, expulsaram os gregos depois de té-los vencido na batalha de Alalia (537 a.C.), fieando 15 cartagineses com a Sardenha ¢ os etruscos com a Cérsega. Diante dessas invasies, os autdctones refugiaram-se nas montanhas centrais da ilha. Em 238 a.C., 08 romanos conquistaram tanto a Sardenha como a Cérsega, aproveitando-se de uma revolta dos mercenirios cartagineses. A latinizagio foi lenta, embora profunda, com uma luta cons- tante contra a populagio autéctone do interior e também contra a populagio puniciza- da das regides litorineas. As duas ilhas tornaram-se provincia romana em 227, até os tempos do Império, quando a Cérsega foi transformada numa provincia independent Os romanos nfo tinham simpatia pelos sardos, por consideri-los venais ‘aus, como escreveu Sextus Pompeius Festus (século II d.C.): “Sardi uenales: elius alio nequior” (“Os sardos sfio venais: tada, que devia enviar dinheiro e mantimentos a Roma, ¢ até uum pior que 0 outro”). A Sardenha foi consi- derada uma terra conqui 1 Lmpério, nfo Ihe foi concedida nenhuma cidade livre; com alguma freqiiéneia, ser- via de terra de exilio. As constantes revoltas dos nativos sé cessaram em 114 a.C., depois de uma severa repress, mas 0 banditismo continuou. Apenas no tlimo século a.C., a Sardenha atingiu alguma prosperidade e uma integragio mais profun- da ao Império Romano, especialmente com a exploragio das minas de prata e de ferro, Mas nunca chegou a ser uma regido préspera. Mesmo assim, a consideriivel autonomia permitida pelos romanos foi importante fator para a aceitagdo da cultura latina, que transmitiu aos nativos as téenicas da agricultura, que desconheciam por serem pastores, como 0 demonstra o léxico sardo atual. ‘A Sardenha pertenceu ao Império a pelos vindalos; em 535, os bizantinos, sob o imperador Justiniano, a reconquistaram nos, a administragdo da Sardenha 455 d.C., ano em que foi conquistada para 0 Império do Oriente. Sob vindalos ficou subordinada a da Africa, 0 que explica as semelhangas lingtiisticas da latinida- de sarda com a africana. Nessa época, foi sensivel a imigragio de elementos hetero- alotas, geralmente forgada, ja que o isolamento da itha a tornava adequada como lugar de degredo. Embora de identifieagdo um tanto insegura, pode-se atribuir a esses diversos substratos varios elementos lingitisticos presentes nos dialetos sardos. Dentre os fil6lo- ‘g0s que estudaram o sardo, destaca-se Max Leopold Wagner (1880-1962), em paticu- Jar no que tange ao substrato pré-romanico, com Historische Lautlehre des Sardischen (Fonética Histérica do Sardo”). Wagner atribui & influéneia do subsubstrato mediter- rineo, entre outros tragos: 08 fonemas cacuminais, encontrados também na Sicilia e no sul da Itélia e semelhantes is consoantes enfiticas do berbere, como lat, cabal > log. 200. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA addu; lat. vallem > log, badde, calabr. vadde; a prétese duma vogal a8 i), como no basco € no gascio, como em it. ragionato > log, arregonad (“arrazoad siare > galut. irringrazié (“agradect sit ringrae "; it. rovinava > galur, arruinaa (“estragava”) incompatibilidade em relagio ao fonema /f/, semelhante a verificada nas regides do norte da Théria e na Gasconha, em que 0 /? passa a /v/: it. figaire, galur. wuggire; it fontana, galut. vuntana; it. femina, galur. vemina; it. figle, galut. viddoli ete. Essas ccaracteristicas se conservam no logudorés ¢ no galurés das zides centrais. Essas ‘utras caracteristicas aproximam o substrato sardo daquele encontrado na Iberia, sobre- tudo na regio norte. Sabe-se da existéncia de migragdes ibéricas, como a dos bularos, pelos tertitérios mediterrineos; importages de colonos iberos também so documen- fadas. Os dados, porém, sio muito fluidos € no permitem que se explique, através deles, todas as questdes relativas ao paleosardo na fonética e no léxico. As influéneias do superstrato provieram das diferentes dominagdes softidas. Apesar de quase um século de dominagdo vindala (455-534) e de um ano sob os ostrogodos (5: '53), nfo hd, contudo, empréstimos germfnicos desses dois povos; ‘6s germanismos encontrados no sardo vieram através do iano ou ja pertenciam ao Jatim vulgar, Em 827, os arabes conquistaram a Sardenha, mas também niio deixaram empréstimos diretos; os poucos existentes vieram através do cataldo e do castelhano, Linguas impo fes como adstratos superpostos em rel so a0 sardo. Isso porque, depois da unio com a Catalunha (1137), 0 reino de Aragio conquistou no sé a Sardenha em 1326, como também as ithas Baleares e a Sicilia (1382), estabelecendo lum dominio que vai durar até 1720. Os aragoneses introduziram o cataléo na ilha, Em 1479, coma“ az de Alcacovas”, Aragio ¢ Castela se uniram politicamente, embora conservassem de inicio suas constituigSes particulares e, naturalmente, suas respecti- vas linguas; com 0 predominio de Castela, o castelhano foi levado para a Sardenha, conde foi implantado, ainda que lentamente, sobretudo nas regides dos dialetos galurés e sassarés, O castelhano se tornou a lingua oficial dos tribunais e das escolas até 1764 €€ muitos autores sardos usaram tanto 0 castelhano como 0 catalio em suas obras. A considenivel influéncia ibérica, porém, ndo chegou a atingir as regides montanhosas do interior. Assim, “janela” na maior parte da Sardenha é o castelhanismo ventana, ‘mas na regio de Gennargentu se conservou fronesta (< lat. fenestra); no campidanés, usa-se Aalentura, do cast. calentura, “febre”, mas no logudorés se conservou frvba (< Jat, fébrem). Na terminologia administrativa e eclesidstica, muitos sio os empréstimos castelhanos e cata como cat, jvige > campid. jiugg!, nur. juje, “juiz": lat. sedem > cat, seu > log. sa sexy “a catedral”; cat, rona > log. srona, “piilpito”. De origem cata 1 é também grande parte da termi logia relativa pesca, Depois de 1720, ano em que a Sardenha foi trocada pela Sicilia e passou a fazer parte do reino de Savéia, as influéncias lingliisticas provém entio da Lombardia, do Piemonte e da Savéia, ainda que com reduzidos resultados priticos. ona O tratado de Viena, em 1815, constituiu o Reino de Piemonte-Sardenha, que incluia também a Savéia; es ¢ reino durou até 1860, Foi dele que partiu o movimento de uni- ficagio da Itélia, completada com a tomada dos Estados Pontificios e a queda dos Bourbons em Napolis. A Sardenha se torna parte integrante da Itilia; com isso, a fu irdos tem sido crescente, principalmente nos centros urbanos como Cagliari ao sul e Sassari ao norte. ncia do italiano sobre os dialetos Os documentos antigos da Sardenha sio numerosos € homogéneos; a grande maioria apresenta carter juridico, mas seu valor lingitistico & considerdvel, pois for- necem valiosos subsidios para a histéria do direito italiano, Nao possuem, porém, nenhum valor literdrio, Alguns sio do século XI ou XII, tendo como base lingiiistica © logudorés. isolamento da ilha, a auséncia de uma tradicao juridica ea necessida de de tornar os documentos juridicos compreensiveis aos interessados fizeram com gue se adotasse 0 romance local como lingua juridica, Formou-se, assim, um “vol re illustre”, a cuja base logudoresa se acrescentaram particularidades regionais. Esses documentos contém registros de privilégios, cartas de alforria, testamentos ete., havendo algu Muito mais numerosos sio os chamados “condagos” (it. condaghi), documen tos de questdes juridicas, de assentamentos ou 0 conjunto desses assentamentos. O nome revela certamente influéneia bizantina, pois KOVT&K1OV, cujo significado primi- \s escritos com caracteres gregos. tivo é “rétulo”, no grego bizantino significava “documento”, geralmente oficial, e tam- bém “tomo” e “volume”, a acepgéio em que se usa “condagos” nos textos sardos, Esses documentos encontram-se, sempre, nas igrejas € nos mosteiros, que eram os locais onde cesse tipo de San Michele di Savenor, s6 chegou até ns uma tradugdo espanhola do século XVI Existem, porém, outros no original e conservados integralmente, como o Condaghe di San Pietro di Silki, convento perto de Sassari, que contém cépias de documentos do crituragao era feito, De alguns desses “condagos”, como a Condaghe ai proprio convento ¢ de outros dele dependentes; data da segunda metade do século XI, tendo sido continuado até ao século XII; 0 dialeto utilizado € o logudorés. Importantes do ponto de vista lingiiistico so ainda Condaghe di San Nichola de Trullas, com os atos do mosteiro de 1113 até a primeira metade do século XIII, e Condaghe di S. Maria di Bondrcadlo, dos séculos XII ¢ XIII, esse redigido em campidanés. Apesar de sua pequena extensio territorial, a Sardenha apresenta varios dia- letos, que formam quatro grupos principais: a) o logudoré: sarda mais representativa; foi usado por escritores e poetas como um “volgare illus- considerado a variante tre", Tem ts variedades regionais; © nuorés, com centro em Nuoro, a sudeste do Logudoro, considerado por alguns como um dialeto diferenciado; o central, em torno de Bonorva, estendendo-se pelo sudeste do Logudoro; e 0 sefentrional, cujo centro & a cidade de Ozieri. b) 0 campidanés, na parte sul da ilha, no territério do Campidani cujo maior centro é Cagliari. c) 0 galurés, no territério da Gallura, na parte norte 202. | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA eeee eee GEFECETEEE ETI VI IIGTEEESEECGEuseseueuewesr” oriental. d) 0 sassarés, na regitio em torno da cidade de Sassari e extremo norte ocidental da Sardenha (ver mapa 14, p. 369), Lingiiisticamente, 0 campidanés se , Mas conserva estendendo-se pelo aproxima dos dialetos centro-meridionais as caracteristicas gerais do sardo. O galurés sentam influéncias do toseano, da Ital o sassarés apre- estando por isso bastante préximos dos dialetos da Cérsega, embora sem perder a estrutura do sardo, No conjunto, o sardo é a lingua romanica mais arcaizante, No vocalismo con- Serva as cinco vogais latinas sem a quantidade, 4s breves, como su kaddu (“o cavalo”), su pili (* inclusive 0 /i/ € 0 Aw correspondentes “o pelo”). Mantém o valor velar do /e/ latino, como em lat. cingue > log. kimbe bucea > bukka. Como muru/muros, kavia: caelu > kelu; nuce > nuke; centum > kent; as linguas ocidentais, forma o plural com o acréscimo de /-9/: ca/kariazas (“cereja”), omine/omines. Os artigos definidos foram ‘dos do demonstrativo ipse, ipsa, ipsum, como no catalio e diferentemente das ais Linguas romanicas, que partiram de ile, ill, illud: do a © sardo tirou su e sa par deriv: demi usativo ipsum e ipsam ra 0 singular ¢ de ipsos e ipsas, sos ¢ sas para o plural, Na Sardenha, a terceira conju; sagio verbal prevaleceu sobre a segunda: lat. debére > *débere * log, dépere, no campid. dépiri lat. habére > * haere > lo. (REW 3958). O sardo & também a tinica do subjuntivo, aind: (servisse”); I ere Ingua romnica que manteve o imperfeito la hoje vivo na regito de Barbagia: lat at. texeret > log. tésseret serviret > log. serbiret (tecesse”). No léxico, conserva termos nao encontrados em outras linguas roménicas, como Jat. domus > log domo (“casa”); lat. coniugare > log. koyuare (“casat”) ete. (ver p. 265) Em conseqiiéneia das ocup: agdes estrangeiras no decurso da historia, ainda hoje hii na Sardenha enclaves lingtiisticos: na cidade de Alghero e regio, na costa norte ocidental, fala-se o catalio, com algumas caracteristicas arcaicas e certas ino- ‘agdes, embora todos os seus habitantes falem também o italiano e entendam os dia, letos sardos vizinhos. No extremo sul, em Carloforte, na ilha de San Pietro, « em Calasseta, a0 norte da ilha de San Antiocho, fala-se o genovés, © Renico Os problemas lingitisticos levantados pela chamada “questao ladina” tem leva- do os romanist as 4 muitas discussdes e polémicas, a comecar pel rome desse conjunto de dialetos das regides tinico. Os autores italianos © denominam “I; Ascoli, Bartoli); la designagio, pelo alpinas da Suiga e da Itilia, que nao é ladino” ou “reto-romance” (Tagliavini, “ladino” é forma derivada normalmente de mente por J. T. Haller em 1832. 0 termo, porém, sé é do dominio, no vale Badia e na Engadina; des “Iatinum”, usada inicii Corrente em uma pequena parte gna ainda 0 espanhol dos judeus dos my 203 204 Bal es (Riitoromanisch), em- is. “Reto-romance” é preferido pelos romanistas alema bora a iirea lingiifstica do rético no coineida com o territério da antiga Récia roma- na, pois somente as varicdades ocidentais se encontram nesse territério, enquanto as orientais esto no antigo Noricum e na regido do Friul, Ernest Gamillscheg ¢ Fr. Schiirr propuseram Alpenromanisch (“Romance Alpino”), termo também impreciso € amplo demais. No Brasil, a designa “ético”, com freqiiéncia acom- panhada de uma outra, adotada por Theodoro Henrique Maurer Jr., Serafim da Silva Neto, Silvio Elia (também “reto-romance” e “ladino”), Joaquim Mattoso Camara Jr. (também “ladino”) e outros. Na tradigo da Universidade de Sao Paulo, sempre se tem usado “rético” por motivos priticos, embora reconhecendo a inexatidio do termo. Contudo, a “questione ladina”, da qual o problema do nome é apenas uma parte, reside de fato na contestada unidade lingtiistica do rético. Os lingiiistas e fil6: cando-se Carlo sio, em geral,italianos, des logos que negam essa unidade ao rétic Battisti ¢ Carlo Salvioni; o mais radical é Battisti que nega niio apenas uma unidade lingiiistica rética, como também uma unidade historica e genética entre os trés ramos: © ocidental dos Grisdes, o central dolomitico ¢ o oriental, friulano: para ele, os dia- letos ocidentais dos Grisdes se ligam diretamente com os falares lombardos através das variantes lombardo-ladinas, e os centrais e orientais seriam a continuagio direta do véneto, Outros fildlogos, porém, como Tagliavini ¢ Caspar Pult, baseados em pes- quisas feitas pelo Instituto de Glotologia da Universidade de Padua, concluem que existe uma inegivel unidade rética, ainda que estreitamente ligada aos falares italia- nos vizinhos. Entretanto, as fronteiras lingitisticas entre o friulano e os dialetos véne- isticos tos setentrionais sio claras; por outro lado, sio numerosos os tragos lin comuns ao rético dos Dolomitas (em territério italiano e austriaco) e aos dialetos do alto rio Adige: mas no é dificil distinguir o dialeto dos Grisdes do de seu vizinho lombardo alpino, Os Grisdes tém plena consciéncia da individualidade de sua lin; que, desde a Idade Média, percorreu um caminho diferente tanto do italiano como do francés e do lombardo. Desde 1938, depois de um plebiscito no qual votaram a favor 90% dos eleito- res, a Constituicdio da Federagdo Suiga (Art. 116) reconhece o reto-romance como a quarta lingua nacional (Nationalsprache), mas ndo como lingua oficial (Amissprache), 0 que & reservado a0 alemio, ao francés ¢ ao italiano, nos quai devem ser redigidos os atos oficiais, leis ete. O rético pode ser usado como lingua oficial dentro de seu proprio territério pela autoridade local. Essa restrigdio deve-se & falta de unidade lingiiistica do proprio rético e a pequena porcentagem populacional (apenas 1%) em relagio ao total do pais (ver mapa 15, p. 370). A historia conhecida da Récia ¢ sua lingua comega no ano 15 a.C., quando Druso e Tibério, enteados do imperador Augusto, conquistaram a regio depois de duros combates com a selvagem populagio alpina, Em meados do século 1 4.C., esta- | ELEMENTOS DE FILOLOGIA ROMANICA

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