Professional Documents
Culture Documents
Modulo de Introducao Ao Estudo Do Direito. Versao 15.marco.2013 - Isteg
Modulo de Introducao Ao Estudo Do Direito. Versao 15.marco.2013 - Isteg
Curso de Direito
Moçambique
Maputo, Janeiro de 2013
(Ensino a Distância)
Organização e Edição
Instituto Superior de Tecnologias e Gestão (Ensino Superior à Distância)
Autor: António Caetano de Sousa
Revisor de EaD: Castelo Mário Maluleque
2
ÍNDICE
Página
Apresentação..................................................................................................................................11
Introdução…………………………………………………..……………………………………12
Objectivos do módulo…………………………………….……………………………………...12
Introdução à Unidade………………………………….…………………………………………16
Objectivos da Unidade………………………………….………………………………………. 17
1.Introdução ao Direito…………………………………………………………………………..18
3.Conceito do Direito…………………………………………………………………………….22
3.2.1. A justiça………………………………………………….………………………..………25
3.2.2. A segurança……………………………………………………………………………..…26
3.4.Fins do Direito……………………………………………………………………………….27
3
3.5Origem, elementos e função do Estado……………………….……………………………...28
3.6.Elementos do Estado…………………………………………………………………………28
3.2. As instituições…………………………………………………………………………….…38
4. A norma jurídica……………………………………………………...……………………….39
4.1.Conceito……………………………………………………………………………………...39
4.2.1.Imperatividade………………………………………...…………………………………...40
4.2.3.Coercibilidade………………………………………….…………………………………..41
4.3.Estrutura…………………………………………………………….………………………..41
4
4.4. Classificação…………………………………….…………………………………………..42
Tarefas…………………………………………………..………………………………………..46
Auto Avaliação………………………………………….……………………………………….47
Resumo…………….……………………………….……………………………………………50
Bibliografia …………………………………….………………………………………………..51
Introdução à Unidade……………………………………………...…………………………….52
Objectivos da Unidade………………………………………………..………………………….52
1.1.Conceito de Fonte…………………………………………...……………………………….53
1.1.1. A lei…………………………………………………..…………………..………………..55
1.1.3 A jurisprudência………..…………………………………..………………………………57
2. A Lei ……………………………………………………………..…………………………..59
2.1.Conceito e espécies……………………………………………………….…………….……59
2.2. Pressupostos…………………………………….……….…………………………………..59
2.3.Hierarquia ……………………………………………….…………………………………..60
2.3.Vícios da lei…………………………………………………………………...……………..63
3. Aplicação da Lei………………………………………….………………….…..……………66
3.2.1.Interpretação autêntica……………………………………………………………..………66
5
3.2.2. Interpretação oficial……………………………………………………………..………...67
3.4.Elementos da Interpretação………………………………………………………………….69
Tarefas…………………………….……………………………………………………………..83
Auto de Avaliação……………………………………………………………………………….84
Resumo……………………………………………….………………………………………….86
Bibliografia…………………………………...................……………………………………….87
UNIDADE DIDÁCTICA Nº 3
Introdução à Unidade………………………...….………………………………………………88
Objectivos da Unidade……………………..........................……………………………………89
A – Ramos de Direito…………………………………........……………………………………90
1. Razões da divisão…………………………………...................……….……………………90
2. Critérios de Divisão…………………………………...................……………………..…....90
6
2.3.Critério da posição dos sujeitos……………………………………………………………...92
4.1.Direito Constitucional…………………………………...................………………………...94
4.2.Direito Administrativo…………………………………...................………………………..95
4.3.Direito Financeiro…………………………………...................…………………………….96
4.4.Direito Fiscal…………………………………...................………………………………….96
4.6.Direito Processual…………………………………...................…………………………….97
5.1.2.Parte Geral…………………………………...................………………………………….98
B - CODIFICAÇÃO…………………………………...............……………………………….100
1. Génese da Codificação…………………………………..................……………………….100
2. Conceito e Código…………………………………...................…………………………..103
7
3. Código das Consolidações e da Consolidação……………...................……………………104
C- SISTEMAS JURÍDICOS
1. Conceito…………………………………...................……………………………………..106
2. Sistema Romano-Germânico………………………………….......................……………..106
2.1.Desenvolvimento…………………………………..........................……………………….107
2.2.Expansão…………………………………...................……………………………………107
2.3.Características…………………………………..............…………….……………………108
2.4. Fontes………………….…………................................................…..……………………109
3.1.Origem e desenvolvimento…………………..................………………………………..…109
3.2. Expansão………………………………….....................…………………..………………110
3.3.Característica…………………………………................……………….…………………110
3.4.Fontes………………………………………….……….…………..………………………112
3.4.1. Jurisprudência………………..…………...................…………………………………...112
3.4.3.A lei…………………………………...................…………….…………………………112
4.1.Origem e desenvolvimento………………...................……………………..…..…………113
4.2.Expansão…………………………………...................……………………………………116
8
4.3.Características……………………………...................……………………………………117
Tarefas ……………………….………………...................……………………………………117
Auto- Avaliação………………………………...................……………………………………118
Resumo…………………..……………………..................……………………………………120
Bibliografia…………………………………...................……………..……………………….121
UNIDADE DIDÁCTICA Nº 4
Introdução à Unidade…………………………………………………………………………..122
Objectivos da Unidade…………………………………………………………………………122
A- A relação jurídica…………………………...................……………………………………124
1. Noção…………………….………………...................…………………………………….124
3.1. Os sujeitos…………………………………......................……………………………..….127
3.2.Pessoas Singulares……………………….....................……………………………………127
3.3.Personalidade jurídica…………………………...…...……………………………………..128
3.3.2.Direitos de Personalidade………………………..………...................…………………..129
3.5.Pessoas Colectivas………………………….................……………………………………136
3.5.1.Personalidade jurídica……………………….................…………………………………136
9
4.2.Possíveis objectos da relação jurídica……………………………...….……………………139
4.2.1.Pessoas……………………….………..................…………………………………….…139
4.2.2.Prestação………………………………….................……………………………………140
4.2.3.As coisas………………………………….................……………………………………140
5.Facto jurídico…………………………………..................……………………..……………140
Tarefas…………………………………..................……………………………………………142
Auto Avaliação………………………………......................…………………………………..144
Resumo……………………………...…...................…………………………………………..145
Bibliografia……………………………...................…...………………………………………146
10
APRESENTAÇÃO
Caro(a) estudante
Está nas suas mãos o Guia de Estudo da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito que
integra a grelha curricular do Curso de Direito oferecido pelo Instituto Superior das Tecnologias
e Gestão na modalidade de Educação à Distância.
Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais neste primeiro semestre do
curso. Ao estudar a disciplina de Introdução ao Estudo do Direito irá iniciar a sua viagem pelo
vasto, profundo, apaixonante e aliciante mundo do Direito.
Neste contexto, terá a oportunidade de compreender o Direito como uma das ordens normativas
da sociedade, identificar a ordem jurídica, suas divisões e classificações e fontes e iniciar-se na
metodologia jurídica e na estruturação da sua capacidade judicativa.
A equipa de professores que se dedicou à elaboração, adaptação e organização deste guia sente-
se honrada em tê-lo como interlocutor(a) em constantes diálogos motivados por um interesse
comum a educação de pessoas e a melhoria contínua da formação no país
A Equipa da ESaD
11
Introdução
Bem-vindo ao módulo de Introdução Estudo do Direito, integrado no curso de Direito.
Caro estudante, o presente módulo visa permitir que você adquira as noções jurídicas
fundamentais que servem de base às disciplinas subsequentes do curso e compreender o Direito
como Ordem da Sociedade através da análise crítica e delimitação conceitual dos seus elementos
permanentes, identificar a ordem jurídica , suas divisões, classificações e fontes e iniciar-se na
metodologia juridica e na estruturação da sua capacidade judicativa
Unidade I, que irá abordar aspectos introdutórios como o sentido geral do Direito, Ordem
Natural e Ordem Social, o Direito e realidades afins e conexas, o Direito Natural e o Direito
Positivo e a Ordem Jurídica como Ordem Normativa.
Unidade II, que irá se debruçar sobre as fontes do Direito e Interpretação e aplicação da Lei.
Unidade III, que irá englobar os aspectos inerentes aos Ramos de Direito, Codificação e
Sistemas jurídicos e Direito Comparado; e a
Objectivos do Módulo
Quando terminar o estudo do módulo de Introdução ao Estudo do Direito você será capaz de:
12
Perceber a grandeza e a importância dos estudos jurídicos, e encará-los como directrizes;
Lembre-se de que você será um autodidacta e vai estudar sozinho, segundo suas oportunidades,
convivência e ritmo de trabalho. Para você alcançar os objectivos deste módulo precisa de:
Preste atenção às palavras novas cujo significado lhe é vagamente familiar. Não prossiga até ter
entendimento completo da mesma, pois pode ser que exactamente essa palavra envolva a idéia
principal ou pormenores importantes;
13
Ícones da Actividade
Ao longo deste módulo irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones
servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma
parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir. Cada um com uma descrição
do seu significado e da forma como nós interpretámos esse significado para representar as várias
actividades ao longo deste Módulo.
Resumo
Objectivos
Definições importantes
Tempo para completar a lição
Tarefas Auto-avaliação
14
Para investigar Texto de leitura
Dicas de Apoio
Se tiver dificuldades poderá consultar ao seu tutor, usando vários meios que serão definidos no
início do curso.
Testes/Avaliações
Nesta disciplina você vai realizar duas avaliações presenciais (AP’s) e várias avaliações a
distância (AD’s)
15
Unidade Didáctica nº 1: Sentido Geral do Direito: Ordem Natural e Ordem
Social, o Direito e realidades afins e conexas, o Direito Natural e o Direito Positivo e a Ordem
Jurídica como Ordem Normativa.
Introdução
Bem vindo à unidade didactica nº1 na qual iremos em busca do entendimento do sentido geral
desta importante ciência social, o Direito que, sem ser tudo, está em tudo na vida.
Caro estudante, o Direito é esse algo conhecido por todos, mas desconhecido por muitos, que
anda intrinsicamente ligado a estas duas figuras e realidades, o homem e a sociedade que importa
analisar em primeiro lugar por forma a nos introduzir nesta vasta realidade que é o Direito.Da
necessidade de regular a vida do homem na sociedade, no meio social deu azo a origem, ao ser e
a utilidade do direito.
O Direito, enquanto sistema de normas coactivas, é criado pelo Estado, razão pela qual nos
iremos deter na análise dos elementos e funções do Estado e na relação entre a Ordem Jurídica e
as outras ordens normativas da sociedade, como a religião, moral e trato social, na medida em
que o Direito não constitui um meio exclusivo de regulamentação da vida na sociedade.
Para regular e proteger as relações jurídicas o Direito emana normas, cujo estudo se mostra
pertinente de forma a conhecer a sua essência, elementos, estrutura e classificação que nos irá
permitir distinguir da outras normas não jurídicas, mas, que têm o seu próprio papel e lugar na
regulação da sociedade.
16
Objectivos da unidade
17
Desenvolvimento de conteúdos
Da realidade <Direito>, tanto se pode dizer que é conhecida de toda a gente, como é
desconhecida do homem comum.
Mesmo o leigo, por mais iletrado que seja, consegue orientar-se na percepção do fenómeno
jurídico. Recordar, antes de mais, que os seus direitos, o que lhe é devido e o que deve aos
outros; Menciona Juízes, Advogados, Escrivãs; pensa em tribunais e prisões.
Nada disto vem a despropósito, pelo que podemos dizer que este leigo terá do Direito uma noção
muito mais aproximada do que sobre Astronomia ou Biologia, ou até Física se nestes não forem
particularmente versados.
O Direito é uma Ordem da Sociedade. Uma Ordem e não a Ordem, repara-se, porque na
sociedade outras ordens se encontram. O nosso estudo deve ser uma iniciação a ordem jurídica
da sociedade.
O Direito é uma realidade muito vasta, foram-se por isso desenhando dentro dele algumas partes
ou divisões, que se chamam ramos do Direito – Direito Administrativo, Direito Criminal, etc.
Mas agora pretendemos considerar em conjunto toda essa ordem da Sociedade que designamos
direito e não apenas alguns ramos deste.
18
Nomeadamente, não nos restringiremos ao chamado “Direito Civil” , de que depois teremos a
oportunidade de falar longamente. A nossa análise deve-nos, pois, levar à compreensão do
Direito nos seus elementos permanentes. Pretendemos realizar uma introdução ao Direito que
desemboque numa teoria geral do fenómeno jurídico.
A História demonstra que, desde os primórdios, o homem sempre viveu em comunidade com os
seus semelhantes. A razão da sua sociedade corresponde as tendências mais profundas do
homem, pois que este, por instinto e por necessidade, sempre procurou na convivência a melhor
satisfação das suas necessidades.
Viver é necessariamente conviver: só através da interacção com os outros homens ele conseguirá
a sua plena realização. Aí o dizer-se que o homem é um ser eminentemente social. Porque a
convivência em sociedade traduz-se na inter - ajuda, na solidariedade e na divisão do trabalho.
Tal convivência só é possível se existir um elenco mínimo de princípios ou regras porque se
pautem as condutas humanas.
19
isso se diz: “UBI IUS IBI SOCIETAS” (onde há direito, há sociedade, onde há
sociedade, há direito).
As pessoas e condutas têm entre si um lugar demarcado. Estão numa certa ordem. Isto permite à
sociedade sobreviver e atingir os seus fins. A ordem é assim um dado primário da observação
sociológica. Toda a ordem social implica um complexo de normas propostas a observância dos
seus membros.
É a norma que demarca a harmoniza as condutas dos vários sujeitos, tornando possível atingir
em conjunto a finalidade pretendida.
Contudo, é preciso distinguir estas leis, que se dirigem à vontade humana e se propõem nortear
as condutas, das leis da natureza que são indissociáveis e exprimem uma relação necessária entre
dois seres.
A ordem natural, é assim, uma ordem de necessidade: tem de existir tal e qual, as suas leis não
são substituíveis.
Exemplo: Torna-se evidente que entre a infinidade dos astros, há uma maravilhosa ordem que o
homem só, lentamente, vai descobrindo, se cada um não ocupasse uma posição determinada no
conjunto, teríamos o caos.
Se passarmos porém desta ordem da natureza para a ordem social, verificamos que toda a norma
exprime um dever ser e é essencialmente viciáveis. A violação só atinge a norma na sua eficácia,
não a atinge na sua validade.
Exemplo: A regra “não matar” – todos concordam em que esta norma deve ser acatada, mas isso
não significa que alguém não mate, no entanto, mesmo que os homicídios sejam numerosos, a
norma não é abolida; a sua validade não é afectada.
20
A ordem social pode ser, portanto, perturbada, porque o homem é livre, podendo rebelar-se
contra ela. No entanto, logo se reconstitui, pois sem ordem, nenhuma sociedade pode subsistir.
O Direito é intrínseco, na própria ordem social. Se toda a sociedade tem uma ordem, ela tem
também, desde o início, uma ordem jurídica. Pode a determinação desta suscitar dificuldades, na
medida em que pode concorrer com outras ordens.
No entanto, é sempre possível distinguir o que é e não é Direito e confirmar que a vida social só
é possível porque os homens acatam regras que visam instituir a Paz, Segurança Jurídica e
dirimir os conflitos de interesses que, inevitavelmente, surgem nas relações sociais.
A natureza social do Homem: só através da interacção com outros homens, da conjugação dos
seus esforços, baseada na solidariedade e na divisão do trabalho, o Homem atingirá a sua plena
realização, contudo, a convivência, em sociedade, só é possível se existir um elenco mínimo de
princípios ou regras que pautem a conduta humana.
Leis ou normas de conduta social:são leis feitas pelo Homem, propõem-se nortear as suas
condutas em sociedade e são violáveis.
21
A ordem Social:é uma ordem de liberdade, dado que, apesar das suas normas exprimirem um
“dever ser” e se imporem ao Homem, este pode violá-las, pode revelar-se contra elas ou pode
mesmo alterá-las, sendo certo que a violação destas normas só as atinge na sua eficácia e não
na sua validade.
Leis físicas ou da Natureza:são aquelas que regem o funcionamento da Natureza, sendo por
isso inalteráveis e invioláveis:
A Ordem Natural: é uma ordem de necessidades, as suas leis não são substituíveis, aplicam
-se de forma invariável e constante, independentemente da vontade do Homem ou mesmo
contra a sua vontade. Tais leis não são fruto da vontade do Homem, mas sim inerentes à
própria natureza das coisas.
3.CONCEITO DE DIREITO
22
Podemos definir igualmente o Direito como: “o conjunto de norma jurídicas
gerais, abstratas, criadas e impostas coactivamente pelo Estado, e que tem em vista
regulamenetar a convivência social”.
1º - Sentido Comum, é tomado em termos genéricos, sem se atender o seu alcance. Qualquer
leigo em Direito, ao menos conhece alguns dos seus direitos, o que lhe é devido e o que deve aos
outros, menciona os juízes, advogados; pensa em tribunais, prisões, mas sem ter a consciência da
realidade abstracta e transcendente que é o Direito.
3º - Sentido Real, teremos os Direitos Reais como direitos absolutos e inerentes a uma coisa e
funcionalmente dirigidos à afectação desta aos interesses do sujeito; ou por outras palavras, é o
poder de exigir de todos os outros indivíduos uma atitude de respeito pelo exercício de
determinados poderes sobre uma coisa. De entre os direitos reais existentes, os principais são: A
Propriedade, o Usufruto e a Servidão.
4º - Sentido Epistemológico ou Científico que será o estudo das melhores formas de conseguir,
tecnicamente, a atribuição a cada um o que é seu.
23
5º - Sentido Objectivo, como conjunto ou sistema de normas, gerais, abstractas e
hipotéticas, emanadas pelo Estado e dotadas de protecção coactiva. Por outras palavras, é o
corpo ou complexo de regras gerais e abstractas que organizam a vida em Sociedade sob os mais
diversos aspectos e que, designadamente, o estatuto das pessoas e regulam as relações entre elas.
7º - Direito Natural, são certas normas de conduta que por serem inerentes à própria
natureza do homem, são anteriores e superiores ao Estado. É uma designação próxima da de
«Direitos do Homem», e com significado afim.
24
tão perfeito quanto possível, mas que, pela fraqueza e contingências das suas forças, fazem quase
obra precária. É o direito que a sociedade cria, com uma expressão exterior, sensível e tangível.
3.2.1 A justiça: Justiça está repartida em três modalidades fundamentais. Estas modalidades
correspondem a três tipos de relações, conforme a Justiça se refere ao que a sociedade
como um todo, deve aos seus membros, ao que é devido pelos membros da sociedade uns
aos outros e ao que estes devem à sociedade. Sendo assim, temos as seguintes
modalidades:
A Justiça distributiva:repartição de bens comuns que a sociedade deve fazer por todos
os membros, segundo um critério de igualdade proporcional ou geométrica, que atende à
finalidade da distribuição e a situação pessoal de quem recebe.
Justiça comutativa ou correctiva: regula as relações dos membros da sociedade entre si,
visando restabelecer ou corrigir os desequilíbrios que surgem nas relações interpessoais.
Opera segundo um critério de igualdade simples ou aritmética, que se traduz na
equivalência das prestações e abrange, tanto as trocas voluntárias ou lícitas, como as
involuntárias ou ilícitas.
No entanto, meditando sobre estas três modalidades de Justiça, podemos constatar que
todas elas podem conduzir a situações injustas, quando não se pondere devidamente a
natureza e o valor inerente da pessoa humana e não se tenha uma visão adequada das
exigências individuais, dos fins da sociedade ou do bem comum. Porém, cabe ao Estado,
25
através de políticas apropriadas, corrigir as desigualdades ou desequilíbrios que surgem,
ou pelo menos, evitar que se agravem os já existentes.
3.2.2 A Segurança: embora não tenha a projecção da Justiça, pois representa um valor de
hierarquia inferior, não deixa de ser indispensável à vida social, pois está directamente
ligada à utilidade, às necessidades práticas e às urgências da vida. Sendo assim, podemos
encontrar diversos sentidos para a Segurança:
Segurança com o sentido de paz social: aqui Direito destina-se a garantir a convivência
entre os homens prevenindo e solucionando os conflitos que, inevitavelmente, surgem
na vida social.
Segurança no seu sentido mais amplo: pretende-se que o Direito proteja os direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos, assegurando condições materiais de vida dignas, e
os defenda das eventuais arbitrariedades dos poderes públicos ou abusos do poder. Surge
assim uma limitação do poder político em beneficio dos direitos e liberdades
reconhecidos aos cidadãos.
3.3.1.Princípio da não retroactividade da lei: procura-se evitar que as leis venham a produzir
efeitos imprevisíveis e alterar situações ou direitos adquiridos porque, regra é a de que a lei só
26
dispõe para o futuro. Uma lei não pode ser aplicada num caso anterior à sua aprovação, se assim
não fosse, haveria incerteza e instabilidade nas relações jurídicas, visto que não se tinha a certeza
das consequências dos seus actos. Desta forma evita-se que qualquer pessoa venha a ser punida
por um facto que não era considerado crime até ao momento da sua prática, ou a sofrer uma
sanção mais grave que a prevista no momento em que cometeu o crime.
O Direito tem, entre outros fins, os da Justiça e a Segurança, que são considerados fins
primordiais do Direito. Porém, a compatibilização da Justiça com a Segurança não é fácil, pelo
que há que prever situações de tensão e conflito entre estes dois valores e tentar resolvê-las da
maneira mais adequada. Na verdade, concretizar, na prática, a realização da Justiça e da
Segurança, em simultâneo, apresenta grandes dificuldades, o que leva a que o Direito umas vezes
dê prevalência à Justiça sobre a Segurança e outras vezes o inverso. Em qualquer destes casos, o
sacrifício tem de ser parcial, o que significa que não se pode afastar totalmente qualquer desses
valores, já que a finalidade é a de conjugar ambos. Terá sempre de intervir a prudência a regular
o doseamento destes dois valores, procurando-se uma certa racionalidade na criação do Direito, a
fim de que este cumpra a sua missão de realizar a ordem segundo a Justiça.
27
juiz afastar-se da norma, para que, atendendo às particularidades de cada caso, encontrasse a
solução mais justa.
O recurso à Equidade, porque dá lugar a um largo campo de actuação dos julgados, poderia
implicar riscos de incerteza e insegurança, daí que os legisladores limitem a sua aplicação.
3.6. ELEMENTOS:
28
Povo: o povo é a comunidade de cidadãos ou nacionais de cada estado. Abrange os destinatários
permanentes da Ordem Jurídica do Estado. O vínculo jurídico que une os cidadão ao Estado é a
cidadania ou nacionalidade. Os critérios que presidem à atribuição da cidadania ou
nacionalidade, por parte das diferentes ordens jurídicas, podem ser agrupadas em dois critérios:
Nação: conjunto de pessoas que estão ligadas entre si por traços culturais comuns, por um
passado comum e por uma língua própria.
População: conjunto de pessoas que residem, num dado momento, num determinado território,
que integra tanto nacionais como cidadãos de outras comunidades.
29
o direito à exploração económica dos recursos marítimos.
o controlo da pesca por barcos estrangeiros.
preservação e investigação científica dos recursos naturais.
fazem parte do território do Estado:
Soberano:
caracteriza-se por ser um poder político supremo e independente. Supremo
porque não está limitado por nenhum outro na ordem interna de um
determinado Estado. Independente porque, na ordem internacional, não tem de
acatar normas que não sejam, voluntariamente, aceites e está ao mesmo nível
dos poderes supremos dos outros Estados.
Num sentido restrito:o Estado pode definir-se como uma sociedade, politicamente organizada,
fixada em determinado território, que lhe é privativo, e tendo como característica a soberania ou
independência.
30
Num sentido lato: põe-se de lado estas características e fala-se de Estados não soberanos.
Podemos assim considerar os Estados Federados, que possuem Constituição própria, governo
próprio, legislam e têm meios para garantir a execução das suas leis dentro do território que lhes
pertence. Não são Estados soberanos porque as suas leis não podem ser contrárias à Constituição
Federal. A soberania reside apenas no Estado Federal.
A Segurança:
segurança individual:
O cidadão necessita de ter a certeza de que, através
de normas jurídicas executadas pelos órgãos do
Estado lhe são reconhecidos direitos e deveres.
segurança colectiva:
Pressupõe a defesa da colectividade face ao exterior.
A Justiça:
substitui as relações de violência individual por um
conjunto de regras capazes de satisfazer o instinto natural de
justiça.
31
necessidades materiais de estratos sociais cada vez mais
amplos e de serviços considerados essenciais.
3.9. Funções do Estado: o Estado tem a sua razão de ser na realização permanente dos seus fins
essenciais, e para atingir os fins a que se propõe necessita de desenvolver, através dos seus
órgãos, um conjunto de actividades a que chamamos Funções do Estado. Assim, as Funções do
Estado são:
3.9.2.Função Legislativa: actividade pela qual o Estado cria o seu Direito Positivo,
estabelecendo o quadro legal pelo qual se irá pautar a actuação dos órgãos de soberania, dos
restantes órgãos públicos e dos cidadãos, disciplinando as relações que se estabelecem entre eles.
Esta função está repartida entre a Assembleia da República e o Governo.
3.9.3Função Administrativa: tem por fim a execução das leis e a satisfação das necessidades
colectivas que, em virtude das opções políticas ou legislativas definidas previamente, se entende
que incumbem ao Estado, nomeadamente ao Governo.
3.9.4. função Jurisdicional: consiste no conjunto de actividades que são exercidas por órgãos
colocados numa posição de imparcialidade e independência, que são os Tribunais, e cujo
objectivo é dirimir os conflitos de interesses públicos e privados, bem como a punição da
violação da Constituição e das leis.
32
2.DIREITO E REALIDADES AFINS E CONEXAS
A continuação da análise demonstra que entram na sua composição quatro ordens diferentes, que
traduzem aspectos também diferentes do dever, inerentes à vida do homem em sociedade. Por
outras palavras; o Direito não está isolado, Começa mesmo historicamente por dificilmente se
diferenciar das outras ordens sociais normativas, ou seja desses conjuntos de regras, prescrições
ou mandamentos que com ela, se impõe ao homem em sociedade, e que são os alicerces da
ordem social de que falávamos.
Diz respeito às relações do Homem com Deus, com os deuses, ou mais, geralmente, com o
sagrado, por oposição ao imanente, habitual, quotidiano e profano, exclusivamente material.
A sua máxima fundamental poderá ser “amar a Deus acima de todas as coisas”.
O não cumprimento das normas religiosas, pose acarretar primariamente punições extra -
terrenas.
Em todo o caso, o que é socialmente punido é a manifestação exterior de ligação com o divino.
A moral respeita, quer tenha uma referência religiosa ou laica como seu fundamento, aos deveres
de cada um para consigo mesmo e para com a sociedade, numa perspectiva de dignidade e/ou
solidariedade.
33
A sua máxima típica seria. Por exemplo: “ ama ao próximo como a ti mesmo”, se de base
religiosa, ou “ age sempre como se a tua conduta pudesse ser apresentada como exemplo
universal”, numa visão mais laica.
A ordem moral caracteriza-se por um conjunto de imperativos impostos aos indivíduos pela sua
própria consciência ética, de tal modo que o seu incumprimento, não é necessariamente
sancionado pelos juízes sociais de reprovação, mas pela reprovação dinâmica da sua própria
consciência.
Exemplo: o não cumprimento de normas morais traz, como consequência, para o indivíduo
que as aceite mas desrespeita, o remorso.
Trata-se de normas de polidez, boa educação, civismo e, por vezes de um cerimonial, mais ou
menos complexo consoante o refinamento da sociedade e do círculo social em causa; e que
contribuem para atenuar as tensões, facilitar as relações, e tipificar os comportamentos,
adequando-os à situação.
A sua máxima poderia ser a do Gentleman inglês: dá sempre para o bolo social um bocadinho
mais do que retirares dele. Assim também com a simpatia, nas suas diversas formas, como se
sabe, as normas de trato social variam muito de círculo social para círculo social.
34
Exemplo: Não usar gravata tanto é em certos lugares uma terrível falta de maneiras, como
usá-la, noutros sítios, uma imperdoável falta de gosto e uma intolerável “caretice”, como
diriam os brasileiros.
Exemplo: O duelo.
Esta ordena os aspectos mais importantes da convivência social e exprime-se através de regras
jurídicas. Os valores que visam atingir são a justiça, a segurança e a paz social. Ordem Jurídica
e Ordenamento Jurídico:
Ao Direito compete uma função essencial de ordenação das relações sociais segundo a justiça.
A distinção entre Direito e Ordem Jurídica é feita da seguinte forma: o Direito, visto como um
onjunto de normas jurídicas criadas pelo Estado para regulamentar a conduta humana. O Direito
engloba as Normas jurídicas e as situações jurídicas.
35
A Ordem Jurídica é um conceito mais amplo que o conceito de Direito porque engloba o
próprio Direito e ainda tudo aquilo que cria e aplica o Direito. A Ordem Jurídica engloba as
situações jurídicas, órgãos, fontes do Direito, instituições
Entre as ordens normativas que acabamos de estudar e o Direito, podem surgir relações de
coincidência, de indiferença e de conflito.
Há numerosas relações de coincidência entre todas estas ordens, pois não podemos esquecer que
durante largo tempo, existiu entre elas, total identificação e só com progresso civilizacional se foi
tomando consciência do âmbito próprio de cada uma destas ordens.
Por exemplo, as regras, entre <não matar> ou <não furtar> são normas jurídicas, de moral e de
grande parte das religiões.
Analisemos agora, separadamente, as relações que podem surgir entre cada uma das ordens
normativas e o direito.
I. MORAL / DIREITO
Entre esta ordem e o Direito, há largas zonas de concidência, pois deficilmente, se poderia
conceber uma ordem jurídica totalmente contrária aos conceitos morais vigentes numa dada
sociedade.
Assim se verifica pelo menos, o respeito daquelas regras morais que são vitais e cuja observância
é indispensável à convivência entre os membros duma determinada comunidade como, por
exemplo, as regras “não matar” ou “não furtar”.
Relações de indiferença – podemos constatar que muitos dos preconceitos jurídicos são
irrelevantes para a moral, como por exemplo, os meramente organizativos ou técnicos, entre os
quais podemos apontar as regras de trânsito e as que regulam a produção industrial ou as
sociedades comerciais,
36
Relação de conflito – pode acontecer, algumas vezes, que certas regras de Direito se encontrem
em oposição à regra de moral. Exemplo: (não matar), em alguns países leva a pena de morte.
Por vezes, o Direito torna ilícito certos usos sociais considerados prejudicais ou inconvenientes
para a sociedade, o que será uma relação de conflito entre as duas ordens, É o caso do duelo ou
desafio já anteriormente referido, que subsistiu durante anos, apesar da legislação que o proibia ,
porque a sua não-aceitação, implicava penosa desclassificação social.
Pelo contrário, também sucede, o Direito elevar a categoria de normas jurídicas usos que se
desenvolveram, na prática.
37
O artº 3 nº 1 do Código Civil considera, juridicamente atendíveis, os usos sempre que a Lei o
determina.
Enfim, por tudo o que dissemos podemos concluir que entre o Direito e as restantes ordens
normativas que fazem parte da ordem social, ocorre historicamente, uma constante assimilação e
desassimilação de conteúdos.
Já vimos que uma norma pode pertencer a diversas ordens como “não matar’ ou “não furtar’ ou
pode deixar de ser jurídica e continuar como moral ou religiosa como a despenalização do aborto
ou das drogas leves em alguns países ou pelo contrário adquirir carácter jurídico quando antes
era um simples uso social.
3.2 AS INSTITUIÇÕES:
Instituição familiar: é aquela que tem por objectivo a regulamentação de relações de procriação e
de sangue entre os indivíduos, bem como a socialização inicial dos novos membros de cada
geração. A sua forma mais difundida é a monogâmica (que tem uma só esposa).
38
Instituição educativa: é, fundamentalmente, o processo de socialização formal dos jovens,
procurando, através de um dispositivo complexo de educação, integrá-los como membros
responsáveis da sociedade.
4. A NORMA JURÍDICA
Em regra, o comportamento dos cidadãos é conforme ao Direito; no seu dia a dia eles observam
espontaneamente uma grande variedade de normas de conduta jurídica e outras da realidade
social.
Porém, quando há comportamento que se desviam dos imperativos da ordem jurídica, ou por
outras palavras, quando acontecem violações das suas normas derivadas de actos contrários ao
Direito (actos ilícitos), a ordem jurídica procura defender-se recorrendo aos meios de protecção
ou tutela jurídica tanto preventivas como repressivas.
Repare-se, que em todo este sistema de defesa da ordem jurídica sobressai a <<coercibilidade>>.
4.1. CONCEITO
39
generalidade e abstracção, isso é, a norma jurídica dirige-se a um número indefinido de pessoas,
não individualizadas e, por outro lado, abarca, na sua “hipótese”, um número não concreto mas
abstracto de casos e situações.
4.2. CARACTERISTICAS
Como já sabemos, a Ordem Jurídica exprime-se através de normas que desempenham um papel
essencial como instrumento ordenador ao serviço do Direito.
4.2.1. IMPERATIVIDADE
Na sua forma fundamental ou protótipa, a norma jurídica contém um comando, porque impõe ou
ordena certo comportamento. No entanto, para muitos autores, certas normas não ordenam nem
proíbem umas condutas, designadamente as normas permissivas. Deste modo, nem toda a regra
jurídica se cifraria num imperativo.
Porém, outros autores entendem que esse imperativo existe sempre mais ou menos expresso ou
encoberto na norma.
Significa que a norma se refere a toda uma categoria, mais ou menos ampla de pessoas e não a
destinatários, singularmente determinados.
Uma norma pode ter como destinatário uma determinada pessoa e ser geral. Assim acontece, por
exemplo, com as regras constitucionais que definem as competências e os deveres do Presidente
da Republica e que se destinam a uma categoria de pessoa e não a uma pessoa em concreto.
40
A abstracção, significa que a norma respeita a um número indeterminado de casos ou uma
categoria, mais ou menos ampla, de situações concretas ou individualizadas.
Exemplo, uma lei ordena aos proprietários de certa região, o abate de determinadas
espécies de animais.
4.2.3. COERCIBILIDADE
Esta regra é: Genérica, porque visa uma pluralidade indefinida de pessoas -< Quem ...>.
- Susceptível de imposição coactiva de sanções – porque o lesado pode recorrer aos tribunais
para obter a reparação do dano causado.
4.3. ESTRUTURA
Previsão/ Hipótese – tipo legal, a situação hipotética prevista na norma jurídica como sendo a
que é idóneo a que é capaz com que o agente, o sujeito que nela se encontra se possa sujeitar ao
que se encontra previsto na tese, na mesma norma.
Há autores que defendem a existência de um terceiro elemento, a sanção. Essa vai ser a nossa
orientação, pelo que:
41
Sanção – será o prémio positivo ou negativo a que a pessoa se vai sujeitar, beneficiar uma vez
que se encontre na situação prevista pela norma.
Exemplo: Artos 130, 483, doCódigo Civil; Artos 349,294,353 do Código Penal.
4.4.CLASSIFICAÇÃO
A) QUANTO A IMPERATIVIDADE
42
O Direito contém: Ordens – Tu deves
Concessões – Tu podes
Validade territorial.
Normas Gerais: estabelecem o regime regra para o sector das relações que as regulam
43
5) NORMAS SUPLETIVAS e NORMAS INTERPRETATIVAS
Normas Supletiva: é uma norma de outro tipo (imperatividade ou permitivas) mas que a
cresce de uma nota essencial particular: aplica-se aos negócios juridicos só se as partes não
tiverem excluido a sua aplicação. Ex. art. 878 do C.Civil.
Normas Interpretativa: é aquela que esclarece o sentido do outro trecho com valor jurídico; Ex.
art. 1º do C.Civil.
Normas Directas – são normas que tem vários destinatários da vida social.
Normas indirectas – por vezes chamadas instrumentais, aquelas cujo destinatário pretendem
aplicar normas juridicas e resolver problemas de Direito.Ex. art. 9º, nº 3
do Código Civil
Normas completas – as que podem produzir efeitos só por si e contêm uma relação juridica,
imperativa ou permitiva. Art. 1323 do C.Civil
Normas incompletas – definem pela negativa – não produzem efeitos só por si tem que
A norma ética: é a norma “stritu sensu”: em face de situação X, deves e requer conduta y.
E deve-se porque a ordem jurídica estabelece um comandado que é para o
destinatário da norma um dever; o acto contrário é lícitico e acarreta
consigo regra geral/ uma (verdadeira e propria) sanção.
Normas técnicas: actuam de forma diferente:cada uma previsão estabelece uma conduta
como necessário apenas para determinado fim, que é indiferente para o
direito ser ou não prosseguido.Ex: artigo 875 do C.Civil – compra e venda
de bens imóveis só é válido se for por escritura pública;
44
9) NORMAS DE ESTATUIÇÃO MATERIAL E NORMAS DE ESTATUIÇÃO
JURIDICA.
Normas de Estatuição Material – são normas que projectam o seu comando sobre a vida
social: a sua estatuição reputa-se a actos dessa vida ( não matar, entregar objectos, art.1323 do
C.Civil).
Normas de estatuição jurídica – são normas em sentido lato, cujo conteúdo se esgota no plano
juiridico, reflexamente, claro, vão traduzir em ultimo análise em normas de estatuição ( ou
conteúdo) material, mas, tal como se nos apresentam, têm outro sentido. Art.130 do Código
Civil.
Normas ordenadoras: tem previsão, estatuição de uma sanção que vem repostada em outras
normas juridicas.Tem geralmente, como destinatário ao autoridade do
Estado. mas há uma, excepção – art. 983, do Código Civil, da
responsabilidade civil dos particulares, não depende de nenhum do
Estado.Responsabilidade em factos ilícitos
Norma não autônoma: é aquela que por si não tem um sentido completo ( falta-lhe toda ou
parte do hipotese toda a parte da estatuição), só o obtendo por remissão para as outras normas,
tais são as normas remissivas, norma de devolução ou normas indirectas.
B) QUANTO À SANCIONALIDADE
Norma Perfeita– é aquela cuja sanção é a nulidade do acto, mas sem sanção;
45
Norma menos perfeita - é aquela cuja sanção é outra que não a nulidade.Exemplo: A venda
ao produto depois da hora regulamenta do encerramento não
acarrecta a nulidade da venda, mas implica uma pena (multa) para
o comerciante.
Normas mais que perfeita– é aquela que comporta sanções a nulidade e outra ainda (pena).
Exemplo: o contrato pelo qual os pais negoceiam com outrem os “favore” de uma filha: o
negócio é nulo (art.280 nº 2, do Cod.Civil), e demais disso, é passivel de uma sanção penal (art.
405, do Código penal lemocidio). Veja-se ainda o art. 284 do C,Civil ( em suma criminosa).
Norma imperfeita e que não tem sanção não importa qualquer espécie de sanção.Tais normas
tem por destinatários certos orgãos superiores do Estado, quando a sua violação não é susceptivel
de sanção jurídica.
Ex. O Presidente da República não responde por acto praticados durante o mandato.
Chegamos ao fim da I Unidade, e por forma a consolidá-la, realize as tarefas que se seguem.
Tarefas
Discuta as seguintes questões
46
Auto-avaliação
2.O Homem vive ligado a dois mundos, o natural e o social. Explique se ele é um ser natural
ou um ser social e justifique a sua resposta
3.Discorra à volta da plurivalência do termo “direito” e faça o confronto dos dois sentidos mais
importantes.
4.Diga, fundamentando, se o critério do mínimo ético é um critério fiável para distinguir Ordem
Jurídica da Ordem Moral
a) Define-a;
Chave-de-correcção
1.O Direito é um fenómeno social – porque não diz respeito ao homem que vive isolado, mas ao
que vive em sociedade. Entre a sociedade e o Direito existe uma extrema ligação, a tal ponto que
se afirma que “Ubi Ius, Ubi Societas”.Onde há Dto há sociedade, onde há Sociedade há Direito
O Direito é um fenómeno humano porque diz respeito ao próprio homem. Plantas animais
podem ser objecto do direito; o homem pode estabelecer regras sobre sua protecção e utilização,
47
mas não pode impôr condutas, porque eles não têm a dimensão espiritual, que só o homem
possui;
2.O homem é um ser eminentemente social, talhado para a vida e convivência na sociedade, na
qual inter-acção com os demais suscita o surgimento de relações sociais, que constituem o mote
para a existência das normas jurídicas.
1º - Sentido Comum, é tomado em termos genéricos, sem se atender ao seu alcance. Qualquer
leigo em Direito, ao menos conhece alguns dos seus direitos, o que lhe é devido e o que deve aos
outros, menciona os juízes, advogados; pensa em tribunais, prisões, mas sem ter a consciência da
realidade abstracta e transcendente que é o Direito.
3º - Sentido Real, teremos os Direitos Reais como direitos absolutos e inerentes a uma coisa e,
funcionalmente, dirigidos à afectação desta aos interesses do sujeito; ou por outras palavras, é o
poder de exigir de todos os outros indivíduos uma atitude de respeito pelo exercício de
determinados poderes sobre uma coisa. De entre os direitos reais existentes, os principais são: A
Propriedade, o Usufruto e a Servidão.
4º - Sentido Epistemológico ou Científico que será o estudo das melhores formas de conseguir,
tecnicamente, a atribuição a cada um o que é seu.
48
6º - Sentido Subjectivo, é o poder ou faculdade atribuído ao titular de um Direito Objectivo, de
agir ou não de acordo com o conteúdo daquele, ou de exercer ou não um direito, juridicamente
relevante, por outras palavras, é o poder jurídico atribuído pela ordem jurídica a uma pessoa, de
livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (acção) ou negativo
(omissão) ou por um acto de vontade, só de por si ou integrado por um acto de uma autoridade
pública, produzir determinados efeitos jurídicos, que incontestavelmente, se impõem a outra
pessoa - contraparte ou adversário. Só se nos depara um Direito Subjectivo quando o exercício
do poder jurídico respectivo está dependente da vontade do seu titular.
7º - Direito Natural, são certas normas de conduta que por serem inerentes à própria natureza do
homem, são anteriores e superiores ao Estado. É uma designação próxima da de «Direitos do
Homem», e com significado afim.
8º - Direito Positivo, é constituído pelas leis, com existência efectiva e que se formam na
sociedade com o objectivo de regular a convivência entre os indivíduos. Ele provém da vontade,
mais ou menos arbitrária dos homens, que, normalmente, procuram criá-lo tão perfeito quanto
possível, mas que, pela fraqueza e contingências das suas forças fazem quase obra precária. É o
direito que a sociedade cria, com uma expressão exterior, sensível e tangível.
Destes sentidos que acabamos de enumerar, os considerados mais relevantes, são o Direito em
sentido objectivo e em sentido subjectivo.
4. O Critério do mínimo ético defende que, todas as normas jurídicas têm uma dose, ainda que
ínfima de moral, contudo o mesmo não constitui a verdade, pelo que para distinguir o Direito da
Moral, recorre-se a dois critérios:
49
5. a) A norma jurídica é uma regra de conduta social, criada e imposta, coactivamente, pelo
Estado, tendo em vista a regulamentação social.
Resumo
O Direito, como um conjunto de normas jurídicas, gerais e abstratas, criadas e impostas
coactivamente pelo Estado, nasceu da necessidade de regulamentar a vida na sociedade, criando-
se deste modo uma relação indissociavel entre Direito, homem e a sociedade, dai a razão da
A par do Direito, existem outras ordens normativas que auxiliam o Direito na regulamentação da
vida na sociedade, como a Religão, a Moral e a do Trato Social.
No que tange `a Ordem jurídica, o Estado no âmbito das suas funções legislativa e jurisdicional,
emana normas jurídicas (Direito Positivo), com elementos, estrutura, a sua classificação e meios
de protecção que visam alcançar um dos fins priomordias do Direito, que é de garantir a certeza e
segurança das relações jurídicas.
50
BIBLIOGRAFIA
Ascensão, José de Oliveira, O Direito – Introdução e Teoria Geral, Almedina 1997Machado,
João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador,Almedina,1997.
Mendes, João Castro Mendes, Introdução ao Direito, Editora Pedro Ferreira, Lisboa,1994.
Marques, José Dias, introdução ao Estudo do Direito, Editora Danúbio, Lda, Lisboa,1986
51
Unidade Didáctica nº 2: Fontes do Direito,
Interpretação e aplicação da Lei
Introdução
Caro estudante, Direito como toda e qualquer ciência tem as suas fontes, pelo que importa
entender de que forma e de que lugares brotam as normas e princípios que configuram o Direito.
Por outro lado, apesar de existirem vozes que defendem o dito jurídico, “A Lei é clara e não
necessita de interpretação”, vezes sem conta no momento de aplicação de uma lei encontramos
interpretações diversas de um texto legal, o que obriga a que lance mão de uma ferramenta
jurídica importante que é a técnica de interpretação das leis, que adiante iremos estudar.
A lei, enquanto fonte de direito é aplicada em dois contextos, o temporal e o espacial, pelo que
importa analisar e entender os mecanismos e regras que o legislador estabelece para aplicar os
dispositivos legais no tempo e no espaço, aqui particular destaque vai para a problemática da
aplicação ou não aplicação das leis.
Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você será capaz de:
52
identificar a noção e valor da Lei, Costume e Jurisprudência;
delimitar os conceitos de interpretação, integração e lacuna;
identificar as espécies de interpretação da lei segundo os critérios de fonte, do valor da fonte
e do valor, da finalidade e do resultado;
conhecer o processo de integração de lacunas; e
aplicar a Lei no tempo e no espaço.
Desenvolvimento de conteúdos
.Fontes de direito
A ordem jurídica é uma realidade histórica cujo conteúdo são as normas jurídicas. Importa agora
saber como e onde nascem essas normas e como se revelam aos particulares.
A expressão Fontes de Direito não tem sido utilizada pelos diversos autores, no mesmo sentido.
53
c) Sentido Político – Orgânico: neste sentido identificam-se as fontes de Direito com os órgãos
políticos que, em cada sociedade, estão incumbidos de emanar normas jurídicas. No caso de
Moçambique, a Assembleia da República, Presidente da República, Conselho de Ministros.
A lei;
O costume;
A jurisprudência; e
A doutrina;
Caro estudante, é importante ainda distinguirmos fontes imediatas das fontes mediatas.
As fontes imediatas são que têm força vinculativa própria, sendo, portanto, os
verdadeiros modos de produção do Direito. Ex: A Lei.
As fontes mediatas, não tendo força vinculativa própria, são contudo importantes
pelo modo como influenciam o processo de formação e revelação da norma jurídicas. Ex: O
costume, jurisprudência e doutrina.
54
Segundo alguns autores só a Lei é considerada verdadeira fonte de Direito, isto é, fonte imediata
de Direito, todas as outras são fontes mediatas.
1.1. 2. A LEI
Como já dissemos a lei é o processo de formação ou criação do Direito que se traduz numa
declaração solene e directa da norma jurídica, efectuada por uma autoridade competente. A lei é,
assim,uma norma jurídica de criação deliberada.
1.1.3 O COSTUME
A base de todo o costume é uma repetição de práticas sociais que podemos designar por uso.
55
Mas não basta o uso, para que o costume exista, é necessário ainda que essas práticas sejam
acompanhadas da consciência da sua obrigatoriedade, pois só quando as pessoas se convencerem
de que aquela prática não representa algo de arbitrário, mas é antes vinculativa e essencial à vida
da comunidade, é que se pode dizer-se que há um verdadeiro costume, e que a prática levou à
criação duma norma jurídica.
Outros autores, entendem que o Costume só constituirá verdadeira fonte de Direito, quando o
Estado reconhecer que as normas jurídicas podem nascer, directamente, da vontade popular.
O nosso código Civil, não apresenta o costume como fonte imediata do Direito e apenas admite
que os “usos” tenham relevância jurídica, quando a lei para eles remeta, ou seja, como fontes
mediatas de Direito.
O art.º 3º Código Civil fala-nos do valor jurídico dos usos, e no seu nº 1 diz-nos que:“Os usos
que não forem contrários aos princípios da boa fé, são juridicamente relevantes, quando a lei o
determine”.
56
No Direito Internacional Público, o costume (internacional) continua a ser uma importante fonte
de Direito.
A lei oferece a vantagem da segurança e da certeza, enquanto o costume é de prova difícil, mas
por isso mesmo a lei tem muita maior dificuldade em acompanhar a evolução social, enquanto o
costume, se vai, espontaneamente, adaptando.
1.1.4 A JURISPRUDÊNCIA
Uma questão que se coloca é a de saber, se esses modos de decidir têm validade, além do
processo em causa, criando regras para casos futuros.
É o que acontece nos sistemas jurídicos Inglês e Americano, em que a jurisprudência é fonte de
Direitos.
Em princípio, não é assim que se passa entre nós. O juíz tem de julgar, unicamente de “harmonia
com a lei e a sua consciência “ (arti. 8º, Código Civil), sendo perfeitamente irrelevante que a sua
decisão contrarie a que tenha sido tomada por outro tribunal.
Nas situações normais, a jurisprudência não é fonte de direito, no entanto, na medida em que ao
longo dos tempos vai explicitando uma determinada “consciência jurídica geral” contribuirá
para a formação de verdadeiras normas jurídicas.
57
A este princípio, há que indicar uma importante excepção. Em certos casos, a jurisprodência dos
tribunais superiores (Supremo Tribunal) deve ser considerada autêntica fonte de Direito refiro-
me aos ASSENTOS.
“Nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio de assentos, doutrina
com força obrigatória geral”.
1.1.5 A DOUTRINA
A doutrina, entre nós não é considerada fonte de Direito. Quando muito podemos chamar-lhe
fonte mediata, para acentuar a sua relevância prática e a maneira como contribui quer para a
formação quer para a relevância do Direito.
58
2. A LEI
A lei ocupa, hoje em dia, um lugar privilegiado na “Teoria das Fontes de Direito”, de tal
maneira que alguns a consideram até a única fonte admissível.
2.2 PRESSUPOSTOS:
59
Lei em sentido formal e em sentido material
Lei em sentido amplo e em sentido restrito.
Lei em Sentido Material, é todo o acto normativo emanado de um órgão do Estado, mesmo
que não incumbido de função legislativa desde que contenha uma verdadeira regra jurídica.
Exemplos:
2.3. HIERARQUIA
Há várias categorias de leis, pelo que surgem difíceis problemas quando se trata de aferir o seu
valor relativo. É, pois, necessário, estabelecer entre elas uma determinada ordenação ou
hierarquia.
Da hierarquia das leis resulta que as leis de hierarquia inferior não podem contrariar as leis de
hierarquia superior, antes têm de se conformar com elas, as leis de hierarquia igual ou superior
60
podem contrariar leis de hierarquia igual ou inferior a então diz-se que a lei mais recente revoga
a lei mais antiga.
A hierarquia das leis depende na hierarquia das fontes em que estão contidas e têm que ser
analisadas em paralelo com a hierarquia dos correspondentes aspectos do poder legislativo.
Leis Constitucionais, e
Leis Ordinárias.
LEIS CONSTITUCIONAIS
LEIS ORDINÁRIAS
61
- Do Governo – Decretos-lei e Decretos.
Constituição
Leis Constitucionais
Lei AR
Resolução
Decreto
Decreto-Lei
Resoluções
62
Diploma Ministerial
Circulares
Estabelecemos os tipos ou categorias de leis existentes no nosso direito. Vejamos agora como as
leis se fazem e como cessa o seu valor vinculativo ou vigência.
a) Elaboração,
b) Aprovação
c) Promulgação
d) Publicação
e) Entrada em vigor.
2.3.VÍCIOS DA LEI
Os vícios da lei podem ser de três tipos:
- Ineficácia Jurídica,
- Inexistência Jurídica,
- Invalidade Jurídica.
INEFICÁCIA JURÍDICA, é quando o conteúdo de uma nova lei criada, se tornae destituída de
força vinculativa geral e sem consequências jurídicas.
63
Exemplo: A falta de publicação de uma lei, implica a não produção dos efeitos a que o acto
se dirige.
Exemplo: A falta de promulgação (assinatura) do P.R. numa lei aprovada pela A.R.
INVALIDADE JURÍDICA, surge quando o acto que deveria ser fonte de Direito fica sem valor
e pode ser revistida de duas formas:
Nulidade visa a defesa de interesses públicos e pode ser arguida a qualquer tempo.
Exemplo: A feitura de leis, por parte de um orgão não competente para tal.
Anulabilidade, visa defender o interesse dos particulares, pode ser arguida dentro de um
determinado tempo, estabelecido por lei.
Exemplo: Uma lei que obriga os cidadãos a tomar certa atitude. Se ela for de todo
manifestamente prejudicial ao interesse legítimo dos particulares, terá que ser cumprida
até que os orgãos competentes a declarem anulada.
64
2.4. MODOS DE CESSAÇÃO DA EFICÁCIA DAS LEIS
A lei ficará, em princípio, ilimitadamente em vigor. O decurso do tempo, por maior que seja, não
é razão suficiente para que a lei cesse a sua vigência.
Total, ou
Parcial.
A Revogação total ocorre quando todas as disposições de uma lei antiga são atingidas, também
são conhecidas por ab-rogação.
Exemplo: uma lei nova estabelece que todo o dispositivo legal concernente a determinado
assunto fica revogado.
A Revogação parcial dá-se quando só algumas disposições da lei antiga são revogadas, pela
lei nova, também conhecida por derrogação.
Exemplo: uma lei nova que revoga apenas arguns artigos da lei antiga.
A caducidade distingue-se pois da revogação, na medida em que esta resulta da nova lei,
contendo expressa ou implicitamente o afastamento da primeira, enquanto a caducidade se dá
independetemente de qualquer nova lei.
Importa ainda salientar que “a lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a
intenção inequívoca do legislador”.
65
A lei especial tem em conta situações particulares que não são valoradas pela lei geral,
presumindo o legislador que a mudança desta não afecta esse regime particular.
Pelo critério da sua fonte e valor, a interpretação diz-se autêntica, oficial, judicial e
doutrinária.
66
A essa lei, que fixa o sentido decisivo da lei interpretada, chama-se lei interpretativa. Esta
forma de interpretação é vinculativa, isto é, tem a força vinculativa da própria lei.
Exemplo: Se uma lei da AR, após publicação, suscitar fortes dúvidas acerca do seu exacto
sentido e alcance, pode o orgão donde emanou (A.R.), fazer a sua interpretação através de
uma lei nova (lei interpretativa).
A interpretação autêntica é realizada, igualmente, pelos Assentos.Note-se uma vez que não
são vinculativos, porque certos autores apenas lhes reconhecem a natureza de lei
interpretativas, desde que atenda a interpretação em sentido amplo, isto é, abragendo a
interpretação e integração de lacunas.
3.2.2. Interpretação Oficial, é a realizada por lei de valor hierárquico inferior ao da norma
interpretada. Só é vinculativa em termos de obdiência hierárquica, não vincula os tribunais.
Exemplo: A interpretação que um ministro fizer por circular, a certa norma, só é vinculativa
ao seu ministério por obediência hierárquica, mas não vincula para além disso.
67
Não tem força vinculativa, mas apenas a força ou poder de persuassão que resulta do
prestígio do intérprete ou da utilização de uma metodologia jurídica correcta.
III. A Interpretação Histórica tem, por finalidade, reconstituir o sentido que a lei tinha no
momento da sua elaboração e entrada em vigor.
IV. A Interpretação Actualista, tem por finalidade determinar o sentido que a lei tem no
momento da sua aplicação.
Entende-se conveniente que a interpretação deve ser actualista. Com efeito, a lei tem valor
como instrumento social, não como peça de tradição.
68
3. 4. ELEMENTOS DA INTERPRETAÇÃO
A letra da lei representa o ponto de partida da interpretação, é o seu elemento base, pois a
principal tarefa do intérprete é ler a lei e ver o que aí se diz.
Contudo, o exame literal do texto não nos resolve todos os problemas da interpretação, terá
que se recorrer a outros elementos devido às dificuldades que o texto legislativo,
frequentemente, comporta e que dificultam a determinação do seu sentido e alcance.
Por tudo isto se compreende que, além da letra é indispensável, considerar o espírito da lei,
pois apreender o sentido das leis não é só conhecer as suas palavras, mas penetrar na sua foça
e poder.
69
B) ELEMENTO LÓGICO OU RACIONAL, “espírito da lei”, isto é, o sentido profundo
da lei.
Os argumentos deste tipo, que repousam ainda numa maior justificabilidade lógica da
solução (permitir, proibir), para outros casos que não o previsto – Chamam-se Argumentos
por maioria de razão. < < a fortiori>>.
Mas em sentido técnico-jurídico significa a não presença de uma pessoa, ignorando-se o seu
paradeiro.
* A lei que permite o fim permite os meios necessários à prossecução desse fim.
* A lei que proíbe o fim, proíbe os meios que necessariamente a ele conduzem.
70
O elemento lógico pode dividir-se em três elementos:
Elemento Sistemático
Elemento Histórico, e
Elemento Teológico
Através do contexto da lei, ponderam-se as relações que a norma a interpretar tem com
conjunto de disposições a que ela pertence e que regulam a mesma matéria.
Por sua vez, os lugares paralelos, compreendem as disposições legais que regulam problemas
normativos paralelos ou institutos afins do disciplinado pela norma a interpretar.
Como a norma constitui um elemento de um ordenamento global e unitário, resulta que a sua
interpretação deve ser feita numa perspectiva de globalidade e unidade, dentro do espirito do
sistema.
71
Procedentes normativos,
Trabalhos preparatórios,
“Occasio legis“
Todos estes elementos podem ser úteis para a definição da vontade real do legislador e
afastar interpretações que não estejam em consonância com o que ele pretendia.
3. ELEMENTO TELEOLÓGICO, consiste na razão de ser da lei “ratio legis”, no fim que
o legislador teve em vista ao eleborar a norma.
72
3.5. OS RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO
Feita a interpretação da lei, com o auxílio dos elementos referidos anteriormente, o intérprete
chegará a um dos seguintes resultados ou modalidades de interpretação:
Interpretação Declarativa,
Interpretaçã Extensiva,
Interpretaçã Restritiva.
A Interpretação Declarativa ocorre quando o sentido que o intérprete fixou à norma coincide
com o significado literal ou um dos significados literais que o texto comporta, por ser o que
corresponde ao pensamento legislativo.
A interpretação declarativa pode ser lata ou restrita, consoante se considere o sentido mais amplo
ou o mais restrito de alguma ou algumas palavras da lei que têm mais do que um sentido.
Exemplo: A palavra “homem”. Pode ser interpretada num sentido mais lato – ser humano –
interpretação declarativa lata.Pode ser interpretada num sentido mais restrito – ser humano
do sexo masculino – interpretação declarativa escrita.
A Interpretação Extensiva é aquela em que o intérprete chega à conclusão que a letra da lei fica
aquém do seu espírito, porque o legislador disse menos do que, no fundo, pretendia.
Nestes casos, torna-se necessário alargar o texto legal dando-lhe um alcance conforme ao
pesamento legislativo, fazendo corresponder a letra da lei ao seu espirito. (Art. 877º nº 1 C.C.)
73
A Interpretação Restrita, é o contrário da extensiva. Neste caso, a letra da lei vai além do seu
espirito por o legislador disse mais do que aquilo que pretendia.
O intérprete deve, então, restringir o texto isto é, encurtar o significado das palavras empregadas
pela lei, de modo à harmonizá-lo com o pensamento legislativo.
3.6.1. NOÇÃO: A Lacuna jurídica (caso omisso) existe quando uma determinada situação,
merecedora da tutela jurídica, não se encontra prevista na lei
Torna-se então necessário, perante estas situações, não previstas na lei, mas carecidas de
regulamentção jurídica, fazer aquilo a que se chama a integração de lacunas, que será
actividade que visa precisamente encontrar uma solução jurídica para os casos omissos.
Para haver integração, há que averiguar, primeiramente, que não há nenhuma regra aplicável,
isto é, que o caso não está especificamente regulado, o que presupõe, obviamente, uma prévia
interpretação.
Visando esta actividade, conforme já estudámos, a fixação do sentido e alcance da lei, só depois
de efectuada se pode concluir que dada situação não está abrangida nem na letra nem no espírito
de nenhum dos preceitos vigentes.
Deste modo, “a integração supõe a interpretação (em sentido técnico) mas não é ela própria a
interpretação”
74
Poderá parecer estranho que a ordem jurídica contenha lacunas, mas ,por mais competente que
seja o legislador, nunca consegue prever, todas as relações da vida social com relevância
jurídica.
Várias razões estão na origem dos problema das lacunas muito resumidamente indicaremos
algumas:
Ainda que se verifique uma lacuna, o caso concreto tem de ser resolvido, pois de outro
modo violar-se-ia o disposto no art. 8º, do C.C.
Posto isto, e para dar cumprimento a este preceito há que recorrer à interpretação da lei,
actividade que, repetimos, consiste no preenchimento de lacunas da lei e que está
regulada, fundamentalmente, no art. nº 10 do C.C.
75
Art. 10º do Código Civil
(Integração de lacunas)
1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos
análologos.
Este artigo, consagra assim dois métodos para a resolução dos casos omissos:
a) A ANALOGIA
Sempre que seja possível, recorre-se à analogia, que consiste em aplicar, ao caso omisso, a
mesma norma reguladora de qualquer caso análogo.
Assim por exemplo: a circulação aérea, quando surgiu, provocou uma lacuna da lei durante
algum tempo, mas as mesmas que existiam sobre a navegação e transporte marítimos
76
puderam, em grande parte, aplicar-se por analogia, pelas muitas semelhanças que havia entre
os dois tipos de transporte.
O recurso à analogia como primeiro meio de preenchimento de lacunas, justifica-se por uma
questão de coerência normativa do próprio sistema jurídico. De facto, tal circunstância, exige
que casos semelhantes, devem merecer do Direito o mesmo tratamento, favorecendo, assim,
em larga medida a certeza e a a segurança jurídica.
Apesar das razões apontadas para o uso da analogia, verifica-se, que em certos casos,a lei
a proíbe:
77
Verificando-se uma lacuna da lei, e na falta de caso análogo, o art. 10º, nº 3 C.C., manda que,
resolvida segundo a norma, que o próprio intérprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema.
Assim, o intérprete não é remetido para juízo de equidade, isto é, para a justiça do caso
concreto, antes tem de decidir,segundo uma regra que contemple a categoria de casos em que
se enquadre o caso omisso, válida apenas para esse caso.
Isto significa que essa norma não tem carácter vinculativo para futuros casos ou para outros
julgadores.
Daí porém a mutabilidade do direito e o aparecimento de novas normas que vão substituir
outras, que melhor se adaptem às modificações que vão surgindo na sociedade.
Porém, o facto de surgir uma nova lei, não implica o corte radical na continuidade da vida
social, pois há situações jurídicas que tendo-se constituído no passado, isto é antes da entrada
78
em vigor da nova lei, se prolongam no futuro, sob a vigência desta, entrando assim em
contacto com duas ou mais leis que sucedem no tempo.
Por outro lado, as relações jurídicas não se desenvolvem apenas no quadro nacional, pois
também podem entrar em contacto com mais de um ordenamento jurídico ou porque os
sujeitos da relação pertencem a estados diferentes ou o próprio objecto a que ela respeita se
situa num outro estado, ou os seus efeitos se vão produzir noutro, etc.
* Dois indivíduos celebram um contrato quando a lei não exigia escritura pública para a sua
realização. Entretanto, surge uma nova lei que vem exigir esse formalismo para esse tipo de
contratos.
Deverá, por força da lei nova, considerar-se formalmente inválido aquele contrato?
79
* O regime de administração dos bens do casal, é alterado por uma nova lei.
* Determinado indivíduo pratica um facto que, na altura, era considerado criminoso e punível
com prisão até 6 meses. Entretanto, antes do julgamento surge uma nova lei que deixa de
considerar tal facto punível.
Casos como estes e outros muito mais complexos surgem constantemente pois cada vez são
mais numerosos e frequentes as alterações e inovações legislativas, o que acontece com
particular acuidade na nossa época.
Uma das soluções possíveis para os problemas da sucessão de leis no tempo, motivados pela
entrada em vigor de uma nova lei, são as disposições transitórias fixadas nessa mesma lei e
que se destinam a regulal a tradição dum regime legal para o outro.Porém, na maior parte das
vezes e na grande maioria dos casos, o legislador nada diz sobre a lei aplicável a situações
em que se suscita um problema de aplicação de leis no tempo.Daí a necessidade de se
recorrer a princípios doutrinários e gerais que orientem o jurista na resolução destes
conflitos.
Neste caso, o principio que se pode invocar e para o qual é remetido o jurista é “o da não
retroactividade da lei”, de harmonia com o precentuado no art. 12º do C.C. (32(.
80
Art. 12º
( Princípio geral)
1. A lei só dispõe para o futuro, ainda que lhe seja atribuída eficácia retroactiva,
presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se
destina a regular.
Este princípio não tem carácter absoluto, pois pode haver em determinados domínios a
possibilidade de leis retroactivas, como se prevê no art. 12º, nº 1. “...ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroactiva”.
Mas a regra é a de que a lei só dispõe para o futuro, isto é, não tem efeitos retroactivos.
Como excepção àquela regra temos a lei interpretativa,que tem efeitos retroactivos, porque se
integra na lei interpretada art. 13º, nº 1.
81
Já que as leis interpretativas são aquelas que fazem a interpretação autêntica de outras leis
anteriores, entende-se que são retroactivas porque actuam sobre o passado.
As leis, assim como são limitadas no tempo são no também no espaço.Como já sabemos,
cada Estado tem a sua própria ordem jurídica interna, o seu Direito, porém as relações sociais
transcendem o âmbito dos estados e estabelecem-se quer, entre indivíduos de Estado
diferentes, quer entre os próprios estados.
Deste modo resulta, que os estados não aplicam exclusivamente o seu Direito interno no seu
espaço e tenham, por vezes, que aplicar nos seus tribunais as leis de outros estados.Entram
assim em concorrência leis estrangeiras com as leis do próprio Estado, dentro do seu próprio
território, quando uma situação jurídica se produz de modo a relacionar-se com mais de um
ordenamento jurídico estadual.
82
- quer pelo lugar da prática do facto constitutivo da relação ou do lugar onde os seus efeitos se
vão produzir.
- quer pelo lugar da situação do seu objecto, etc.
Surgem assim os conflitos das leis no espaço que são decididos mediante as regras de
conflito, que permitem determinar qual de entre as leis em contacto com a situação deve ser
decrerada competente para a regular.
Tais regras constituem o objectivo do Direito Internacional Privado e estão contidas nos
artigos 15º a 65º do C.C.
Tarefas
Discuta as seguintes questões
83
Auto-avaliação
1- Sobre a Lei:
2. Sobre o Costume:
a) Defina-o e caracterize-o ;
c) Que implicações teria a sua consagração como fonte imediata do Direito em Moçambique?
3.José Mabuluko, cidadão moçambicano, pai de uma das muitas “pombo correio”, detida em
conexão com o tráfico de cocaína, vinda da Bananalândia, inconformado com a situação
pretende apresentar na Assembleia da República, uma proposta de lei que atenue as penas para
as “pombo correio” e sanciona com a pena de morte os intermediários e os proprietários da
droga.
4-Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos disserte acerca da seguinte afirmação: “ A LEI
CLARA NÃO PRECISA DE INTERPRETAÇÃO ”.
84
Chave-de-correcção
Primeira Questão
a) Lei é uma disposição genérica provinda de um órgão estadual competente. Artº 1, n°2 do
C.C. Pressupostos da lei: uma autoridade competente, conter uma verdadeira regra
jurídica e observar as normas previstas para a sua criação.
c) “Vacatio legis” é o período que vai entre a data da publicação de uma lei e a sua entrada
efectiva em vigor. Destina-se a permitir maior divulgação da nova lei e resolver as
situações pendentes da nova lei.Em Moçambique, o período da vacatio legis é de 15 dias,
nos termos da Lei 6/2003, de 18 de Abril.
Segunda Questão
b) Por força da diversidade do mosaico sociocultural, aliado ao facto de o costume por vezes
não ser de prova fácil prová-lo, pôr-se-ia em causa a convicção de obrigatoriedade, um
dos elementos do costume, pelo que seria difícil a sua consagração como fonte de Direito
em Moçambique.
Terceira Questão
85
Não pode proceder a intenção do senhor Mabuluko, na medida em que a iniciativa de Lei
pertence ao PR, ao Governo, aos Deputados, as bancadas parlamentares, as Comissões da Ar,
nos termos do artigo 183 da Constituição da República de Moçambique.
Quarta Questão
Em função do estudo e análise efectuada não constitui verdade que a “ A LEI CLARA NÃO
PRECISA DE INTERPRETAÇÃO ”, é um erro, pois para aplicar a lei, é sempre necessário
entendê-la ou compreendê-la, e isso é a interpretação. Esta pode ser mais ou menos fácil, mas
é sempre necessária.A técnica da interpretação chama-se hermenêutica jurídica.
Resumo
O Direito tem como principal fonte a Lei, que, na sua aplicação prática, pode dar azo a
interpretações diversas, dai que tenha de recorrrer, em muitos casos, a hermeneutica jurídica para
determinar o exacto sentido de uma norma.
Por regra, uma lei entra imediatamente em vigor e não se aplica retroactivamente, com as
devidas excepções para os casos em que ocorre a “vacatio legis“ ou quando tal benefecia o
cidadão, respectivamente.
A lei pode passar por algumas viscissitudes, como por exemplo a ocorrência dos vícios e
existência de vazios legais, dando azo ao surgimento de lacunas, o que obriga a que se lance mão
dos mecanismos para o seu preenchimento.
Na aplicação da lei no espaço, podem surgir conflitos, que são decididos mediante as regras de
conflito, que permitem determinar qual de entre as leis em contacto com a situação deve ser
declarada competente para a regular.
86
BIBLIOGRAFIA
Ascensão, José de Oliveira, O Direito – Introdução e Teoria Geral. Almedina 1997.
Mendes, João Castro Mendes, Introdução ao Direito, Editora Pedro Ferreira, Lisboa. 1994.
Marques, José Dias, Introdução ao Estudo do Direito, Editora Danúbio, Lda., Lisboa, 1986.
Código Civil
87
Unidade Didáctica nº 3: Ramos do direito,
codificação e sistemas jurídicos
Introdução
Bem-vindo à Unidade didáctica III. Esta unidade irá falar sobre os Ramos do Direito,
Codificação e sistemas jurídicos.
Como já dissemos na unidades anteriores, o Direito é uma ciência igual às outras, daí que ele
tenha também as suas divisões, e no caso em apreço, existe uma destrinça, já milenar entre duas
grandes áreas do saber jurídico, o Direito Público e Direito Privado, ao que se seguiu a
autonomização e surgimento de vários sub-ramos que hoje dão corpo aos inúmeros ramos do
Direito de que falaremos mais adiante.
Para a sua correcta, efectiva e fácil aplicação em dado momento da história do Direito, mostra-se
pertinente criar um instrumento para coordenar as regras pertinentes às relações jurídicas de uma
só natureza, criando um corpo de princípios dotados de unidade e deduzidos sistematicamente.
Foi assim que nasceu o movimento da codificação, que será igualmente objecto de estudo na
presente unidade.
Toda a sociedade política possui seu próprio ordenamento jurídico. Nele há um conjunto de
normas ditadas para ter vigência sobre essa determinada sociedade. Neste contexto, iremos
analisar os principais sistemas jurídicos e procuraremos proceder ao enquadramento do nosso
ordenamento jurídico no contexto universal e da região.
88
Objectivos da unidade
89
identificar as influências a que Moçambique está sujeito pelo facto de situar-se numa zona
dominada por um sistema jurídico distinto do seu.
Desenvolvimento de conteúdos
RAMOS DO DIREITO
1. RAZÕES DA DIVISÃO
Caro estudante, a ordem jurídica é uma, mas o seu estudo impõe a demarcação de sectores. A
esses sectores se chama tradicionalmente os ramos do direito.
O conteúdo de cada ramo deve ser estruturado por intermédio de princípios gerais próprios desse
ramo. Isto permite um aprofundamento, coordenado, das matérias nele abrangido.
A primeira e mais tradicional divisão do Direito é a que distingue entre Direito Público e
Direito Privado. Esta divisão foi feita pelos jurisconsultos romanos.
Esta distinção tem sido polémica, ao longo dos tempos, sendo vários os critérios de distinção
proposto pelos diversos autores. Neste módulo apresentamos.
2.CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO
90
2.1 CRITÉRIO DA NATUREZA DOS INTERESSES
De acordo com este critério, o Direito Público, teria como objectivo a satisfação
de interesses públicos, pelo contrário, o Direito Privado, visaria a satisfação de interesse
privados.
As normas que regulam, por exemplo, a fixação dos impostos, que determinam as penas
aplicáveis aos diversos crimes, etc. Por sua vez, as normas que regulam os direitos e deveres dos
compradores e vendedores são incluídos no Direito Privado.Este critério suscita algumas críticas:
Com efeito é difícil dizer se uma norma regula interesses da colectividade (públicos) ou se tutela
interesses privados.
Na verdade, todas as normas jurídicas, mesmo as de Direito Privado são criadas no interesse
público, porque os interesses protegidos pelo Direito, mesmo os individuais devem ter certa
relevância pública.
Podemos ver um exemplo: as normas que fixam as penas para os diversos crimes, procuram
defender a segurança da colectividade, garantir a paz social e, nessa medida, tutelar interesses
públicos.
Por seu turno, as normas de Direito Público visam regular a conduta dos homens em sociedade e
tutelam também os interesses dos particulares.
Podemos ver mais um exemplo: as normas que fixam os diversos impostos, protegem antes de
mais um interesse do Estado, que é a obtenção de receitas públicas; mas os particulares também
são beneficiados com essas receitas se o Estado lhes proporcionar serviços públicos eficientes.
Alguns autores procuram reformular este critério e basear a distinção entre Direito Público e
Direito Privado, tendo em conta a natureza do interesse predominantemente tutelado pela norma.
91
Também esta modalidade levanta as maiores dificuldades, não facultando uma distinção entre as
diversas normas. Com efeito, é, na maioria das vezes, difíceis distinguir qual é o interesse –
privado ou público - que é predominantemente tutelado, passando a distinção a estar dependente
de critérios de valoração.
Assim, se para alguns autores predomina, em determinadas normas, um interesse geral, outros
autores virão neles tutelados predominantemente interesses particulares.
Caro estudante, de acordo com este critério, o Direito Público, é constituído pelas
normas que regulam as relações em que intervenha o Estado ou qualquer ente público em geral;
o Direito Privado é constituído pelas normas que regulam as relações entre particulares.
Este critério também é sujeito a críticas, uma vez que o Estado e demais entes públicos podem
actuar e, frequentemente, actuam, nos mesmos termos que qualquer particular.
Podemos ver isso no exemplo a seguir: quando o Estado celebra com outro ente público um
contrato de compra a venda, as normas do contrato não deixam de ser de Direito Privado, para
passarem a ser de Direito Público.
Para alguns autores este parece ser o critério mais adequado. Segundo ele a destrinça entre o
Direito Público e Direito Privado, fundamenta-se na posição relativa dos sujeitos da relação
social regulada pela norma. Assim, o Direito Público disciplina as relações jurídicas que se
estabelecem entre o Estado (ou outros entes públicos) os particulares, intervindo o Estado numa
posição de supremacia, isto é, como entidade dotada de poder soberano “Ius Imperium” as
normas de Direito Privado, regulam as relações sociais entre particulares ou em que intervenham
92
o Estado (ou outros entes públicos) desprovidos do seu “imperium”. Nestes termos, os sujeitos
da relação jurídica estão numa relação de igualdade ou paridade.
Vamos ver o exemplo a seguir: quando o Estado celebra um contrato de arrendamento com o
proprietário de um prédio para lá instalar um serviço, ele actua em pé de igualdade com o
proprietário do prédio, não exercendo, nessa relação, nenhuma função soberana. Estamos perante
uma relação de Direito Privado.
Pelo contrário, certas relações tributárias que se estabelecem entre os particulares e o Estado, e
em que este intervém com o seu poder soberano, dizem-se de Direito Público.
É evidente que estes dois ramos de Direito, o Direito Público e o Direito Privado, não constituem
dois compartimentos estanques, separados de forma absoluta. Pelo contrário, existem muitos
pontos de conexão entre eles.
93
4. RAMOS DO DIREITO PÚBLICO
A Constituição pode ser definida como a lei fundamental dum país, que fixa os grandes
princípios da organização política e da ordem jurídica em geral e os direitos e deveres
fundamentais dos cidadãos.
O nosso país tem uma história constitucional muito nova, pois, só apenas com a independência é
que tivemos a nossa primeira constituição. Ela sofreu várias alterações, mas só foi
definitivamente revogada em 1990, tendo vigorado até 20 de Janeiro com alterações resultantes
nomeadamente da aplicação do Acordo Geral de Paz, assinado em Roma em 1992, implantação
das autarquias em 1997 e por força da necessidade e para fazer face aos pleitos eleitorais de 1998
e 1999.
A partir de 21 de Janeiro de 2005, passou a vigora a nossa terceira constituição, aprovada pela
Assembleia da República, a 16 de Novembro de 2004.
94
4.2. DIREITO ADMINISTRATIVO
Exemplo: o Estado pode executar o património do devedor para realização dos créditos não
voluntariamente satisfeitos, sem necessidade de declaração judicial prévia do seu direito.
95
4.3. DIREITO FINANCEIRO
É constituído pelo conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade financeira do Estado.
O Estado para satisfazer as necessidades colectivas, desenvolve uma actividade financeira, tendo
por objectivo a obtenção de receitas e a realização de despesas.
O Direito Financeiro regula assim as formas de recolha, gestão e aplicação dos meios financeiros
do Estado. Esses meios financeiros, são obtidos através de impostos e taxas, receitas patrimoniais
e empréstimos públicos.
Incidência – é a definição geral e abstracta, feita pela lei, dos actos ou situações sujeitos a
impostos e das pessoas sobre as quais recai o dever de prestar.
Cobrança - é a fase última do imposto e consiste na operação administrativa que visa a entrada
dos impostos nos cofres do Estado.
É o conjunto de normas jurídicas que procuram qualificar determinados factos como crimes e
fixam os pressupostos da aplicação de sanções criminais correspondentes (penas e medidas de
segurança).
O Direito Criminal indica, não só, os diversos tipos de crimes, mas também as condições em que
existe culpa, bem como as modalidades da culpa (dolo ou negligência), as circunstâncias
96
agravantes atenuantes do crime, as condições e os termos em que pode ser decretada uma medida
de segurança, etc.
Como se referiu atrás, o critério, mais adequado para alguns autores, é o que define Direito
Privado, como um conjunto de normas que regulam as relações sociais que se estabelecem entre
os particulares ou entre os particulares e o Estado (ou outros entes públicos) desde que estes
intervenham em pé de igualdade com os particulares.
Direito Civil
97
5.1.2. DIREITO CIVIL
O Direito Civil, é o direito privado comum ou direito-regra, cujo campo de acção tende a
abranger todas as relações de Direito Privado. É o núcleo fundamental do Direito privado.
Daí que, em relação aos outros ramos do Direito privado, seja considerado um direito
subsidiário, isto é, sempre que surja um caso a resolver que não esteja previsto nesses ramos,
ter-se-á que recorrer às normas contidas no Direito Civil.
O título II, contém uma << teoria geral das relações jurídicas >> (a teoria geral do facto jurídico,
a das pessoas, a das coisas, e a do exercício de direitos e das provas.
Regula um tipo particular de relação jurídica, a que se chama obrigação, relação jurídica
obrigacional ou relação jurídicas de crédito.
98
A obrigação tanto pode resultar de um contrato como de um acto ilícito. O contrato é no entanto
por excelência a expressão da sua autonomia privado.
Também se designa por Direitos reais, cuja instituição central é a propriedade (mas regula
também o usufruto, uso e habitação, direito de superfície e servidão predial).
É assim designado, pelo facto de nos dois ramos que a seguir vamos discriminar o Estado agir
como ente público, na medida em que ele é que aprova o Código Comercial e a Lei do Trabalho
e age como ente privado, em pé de igualdade com os demais sujeitos, por exemplo quando
contrata trabalhadores a luz da Lei do Trabalho e pratica actos do comércio sob égide da lei
Comercial.
De acordo com o art. 1º do Código Comercial:<< A lei comercial regula a actividade dos
empresários comercias, bem como os actos considerados comerciais.>>
Aparentemente, a determinação do campo da lei comercial seria facilitada pelo confronto com o
conceito de comércio – actividade de mediação entre a produção e o consumo de bens.
99
No entanto, o conceito jurídico de comércio é muito mais extenso e guia-se pelos princípios da
Celeridade, Reforço do crédito, Boa fé, e Fim lucrativo da actividade comercial
B- CODIFICAÇÃO
1.GÉNESE DA CODIFICAÇÃO
O movimento , apesar de não ser muito antigo, pois data de pouco mais de um século, foi
conhecido desde a Antiguidade. A história do Direito Romano processa-se entre duas
codificações: a Lei das XII Tábuas e o Corpus Júris de Justiniano. Na Suméria existiram
codificações famosas. Até há bem pouco tempo, era tido o Código de Hamurabi como a mais
antiga codificação. Entretanto, em 1948, outro código mais antigo foi descoberto, o Código de
Ur-Namu.
100
Podemos dizer que, na civilização europeia, ressurge, no século XVIII, o movimento
codificador. Não se manifestou, a princípio, em códigos, mas em compilações, isto é, em reunião
de leis esparsas ou de costumes, só em1804 surge o primeiro código moderno: o de Napoleão
(Code Civil des Français ou Code Napoléon).
Que significa este movimento? Podemos dizer que significa a tendência para enfeixar em lei toda
a matéria jurídica, em regra, uma parte do direito, de modo a dar, nessa parte, unidade de
tratamento jurídico às relações jurídicas que dela brotam. Tal lei denomina-se Código. Mas,
codificação, como movimento jurídico, não é a feitura de um código. Muitos países que
pertencem ao sistema da Common Law têm alguns códigos. Significa sim a adesão ao direito
escrito, ao direito codificado ou legislado. Nesse caso, em códigos, estão os principais ramos do
direito.
101
O esforço medieval não se limitou simplesmente a aproveitar o evangelho jurídico de Roma, pois
o modificou para o adaptar às “novas condições que passou a reger”. Há, pois, “desviação do
direito romano medieval do histórico direito da Roma antiga”.
Tal movimento iniciou-se na Itália, em fins do século XII e princípios do século XIII, em
Bolonha, com Irnerius, fundador da Escola de Bolonha, auxiliado por “quatro doutores”:
Búlgarus, Martinus, Hugo e Jacobus. Compilaram o Direito Romano de Justiniano,
preocupando-se com a sua interpretação literal. Desse trabalho surgiram as “glosas”: Glosa
Ordinária ou Glosa Magna ao Corpus Júris, compilação de glosas, isto é, explicações (notas)
breves e comentários dos textos, dos romanistas da época, feitos nos rodapés dos manuscritos.
Tais glosas influíram no direito, porque os estatutos das cidades italianas foram redigidos
principalmente pelos graduados de Bolonha, que conciliaram as interpretações do direito romano
de seus mestres com os direitos locais. A aceitação desse direito romano foi facilitada pelo
desenvolvimento da actividade comercial que, requeria técnica jurídica refinada que os direitos
locais não podiam fornecer. Tal actividade utilizou-se mais das interpretações dos pós-glosadores
ou comentaristas, iniciada no século XII, com Accursius e ampliada por Bártolo, Cino de Pistóia
e Révigni, fundadores da Escola dos Dialécticos. Os comentaristas adaptaram o direito romano
às necessidades da época, conciliando-o com os direitos locais. No caso de dúvida ou de questão
complexa, era uso medieval solicitar parecer das universidades cujos professores eram
romanistas. Na Alemanha, o Direito Romano era exclusivamente fonte subsidiária, na falta de
leis ou de costume, a ele devia-se recorrer. Mas com o tempo, a perfeição técnica do direito
romano foi se impondo sobre o direito local, consuetudinário e fragmentário, passando a ser esse
direito, até 1900, o direito comum.
Eis aí, a recepção do Direito Romano que exerceu profunda influência na formação e na
evolução do direito privado ocidental e em consequência no Direito Moçambicano, por via do
Direito Português, por força da colonização.
102
2. CONCEITO DE CÓDIGO
No latim primitivo CAUDEX ou CODEX queria dizer tábua, prancha de madeira. Existe um
texto de Séneca em que se explica que por esse motivo é que se chamava códice às tábuas da lei
porque eram realmente escritas sobre tábuas de madeira.
O termo significava, portanto, o material em que se escrevia a lei, mas depois passou a designar a
própria lei .Independente do material em que estivesse escrita, chamamos código, por exemplo, à
grande laje de pedra em que Hamurabi mandou gravar, há 400 anos, as leis do seu império, e
chamamos igualmente códigos as antigas colecções de leis.
Mas a semelhança é apenas de palavras, sob o ponto de vista cultural, as antigas colecções de leis
e os modernos códigos são realidades completamente diferentes.
A colecção é uma simples reunião de materiais dispersos, agrupados com certa ordem, na
intenção de facilitar a consulta e o uso prático. O código não é isso. Pretende representar um
sistema homogéneo, unitário, racional, aspira a ser uma construção lógica completa, erigida sob
o alicerce de princípios que se supõem aplicáveis a toda a realidade que o direito deve
disciplinar.
103
Caro estudante, de uma forma simples podemos dizer que o Código é a reunião
num mesmo texto, segundo determinado critério sistemático e científico, de um conjunto de
normas referentes a um determinado ramo do Direito.
Deste modo podemos dizer que o objectivo tanto da codificação como da consolidação e da
compilação é o mesmo: unificação do direito. Mas, no processo histórico, a consolidação
antecede a codificação.
Vantagens da codificação:
104
Desvantagens da codificação:
Código Civil;
Código Penal;
Código Comercial;
Código do Notariado;
105
C- SISTEMAS JURÍDICOS
No mundo existem vários sistemas jurídicos, mas aqui vamos deter-nos nos mais conhecidos e
que mostram-se pertinentes para a nossa abordagem que são o sistema romano-germânico, o
common law e o sistema socialista. Antes de falar destes sistemas, deve-se primeiramente saber
o que é um sistema jurídico.
I.CONCEITO
Cada sistema jurídico tem, como sua base, um tipo de direito. Por exemplo, o sistema romano-
germânico é baseado no direito romano; o common law é baseado no direito inglês; e o sistema
socialista é baseado nas ideias marxistas de que a sociedade ideal é uma sociedade que vive
harmonicamente e em paz sem o Estado e sem o direito.
O sistema romano-germânico e o common law são os sistemas que ocupam a maior parte do
mundo. O sistema socialista foi forte somente até ao fim da URSS que se desfez e se tornou
capitalista. Actualmente, Cuba é o representante mais forte do socialismo e, por isso, sofre
graves problemas económicos.
Além destes três sistemas, que foram os mais disseminados, há também o direito mulçumano,
hindu, israelita, etc., fortemente ligados à religião, não havendo uma distinção certa do que é
direito e do que é religião.
106
2.SISTEMA ROMANO-GERMÂNICO
2.1.ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
O Direito Romano teve origem quando foi fundada Roma, em meados de 754 A.C., e
permaneceu até à morte do Imperador Justiniano, em 565 D.C. São, portanto, cerca de treze
séculos de evolução. É até hoje o mais estudado porque foi o mais completo e sistemático.Com o
passar do tempo, tornou-se um vasto campo de observação do direito. (José Cretella Júnior)
Antes da Lei das XII Tábuas, o direito era aplicado apenas aos cidadãos romanos e estava
intimamente ligado à religião, pois possuía características como formalismo, prática
ritualística, simbolismo e conservadorismo.
A Lei das XII Tábuas data de meados do século V A.C. e foi o primeiro texto legal a ser
publicado. Foi proposto no tribunal da plebe que o direito (as leis) fosse escrito para que não
fosse aplicado sem distinção e “abuso” pelos patrícios. Os plebeus lutaram durante oito anos
para que os patrícios aceitassem essa ideia e criassem tais tábuas, com leis baseadas nas leis
gregas de Sólon.
No século XI, juristas italianos ”descobriram” o “Corpus Juris Civilis” e a partir de então se
passou a fazer um estudo sistemático do direito romano. Surgiram diversas universidades em
várias partes da Europa, sendo a pioneira de Bolonha a que mais exerceu influência no
aparecimento de outras universidades. Esse estudo, entretanto, era puramente histórico, não tinha
107
força de lei nem aplicação prática e, portanto, não constituía de fato um sistema jurídico. Os
direitos positivos de cada território (direitos locais, com força de lei) começam a ser estudados
nas universidades somente no século XVIII, com grande influência do direito romano.
Actualmente, o direito romano não é aplicado em nenhuma jurisdição, mas seu estudo é
indispensável aos estudantes de direito de países de base romanista. A razão disto consiste em
que nenhuma outra legislação se equipara ao direito romano como instrumento de educação
jurídica, pois ele é o mais adequado para fazer compreender o fenómeno do direito e para formar
hábitos de raciocínio, necessários ao estudo de qualquer parte da ciência jurídica.
2.2. EXPANSÃO
Além disso, alguns países, mesmo não colonizados por outros cujo sistema é romanista,
adoptaram este sistema. Um exemplo disto é o Japão que adoptou, por imitação, o sistema
romano-germânico.
2.3.CARACTERÍSTICAS
108
normas jurídicas são gerais e, portanto, aplicadas por juízes em casos concretos. Percebe-se
então, imediatamente, a diferença entre este sistema e o sistema common law (anglo-saxónico),
cujos julgamentos de casos concretos baseiam-se na jurisprudência, isto é, em decisões judiciais
anteriores.
2.4. FONTES
Este sistema jurídico foi formado no século XII, na Inglaterra, pelas decisões jurídicas reais.
Porém, este sistema começou a ser “esboçado” no século XI, em 1066, com a invasão do duque
de Normandia, Guilherme, às terras inglesas.
3. I ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
A Inglaterra fez parte do Império Romano do século I ao V, mas a romanização não foi
muito extensa e não deixou vestígios nas suas instituições jurídicas posteriores. A partir do
século VI, em consequência das invasões anglo- saxónicas, redigiram-se na Inglaterra as leis
bárbaras, textos de direito consuetudinário, isto é, direito costumeiro. Até o século XII o costume
foi a única fonte de direito na Inglaterra.
109
pois tinha como base a jurisprudência, processos anteriores, e não o direito comum de cada povo
ou tribo, por estes serem muito particularizados.
Inicialmente, as cortes locais do rei julgavam somente casos excepcionais. O rei, porém,
percebeu que obteria muitas vantagens provenientes de cobrança de taxas e também de
“alargamento” do seu poder se dividisse as cortes locais em tribunais autónomos para julgar
casos específicos e atender a todos os súbditos (toda a população). Os tribunais autónomos foram
divididos em três: tribunal do tesouro (finanças e litígios fiscais); tribunal de queixas comuns
(processos entre particulares em relação à posse de terras); e tribunal do banco do rei (crimes
praticados contra a paz do reino).
Com isto, a corte dos reis (Curia Regis) passou a ser o centro administrativo e jurídico do novo
reino: qualquer pessoa podia requerer pela jurisdição do rei. Tal requerimento era feito a um
chanceler do rei, que o examinava e, se o considerasse importante o suficiente, enviava uma
ordem chamada “writs” a um xerife ou senhor nobre para que ordenasse o réu a dar satisfação
àquele que deu queixa. Entretanto, chegou uma época em que o chanceler emitia um writ a
qualquer um que pagasse para tal, sem examinar o caso. Isto fez com que os barões e nobres
lutassem contra tal atitude para evitar a expansão do poder do rei, isto é, da jurisdição real.
Assim, conseguiram a criação do estatuto de Westminster, que proibia o chanceler de criar novos
writs, podendo utilizar-se somente dos já existentes, inclusive em casos semelhantes.
O direito da Inglaterra desenvolveu-se até o século XIX baseado na lista de writs, que passaram a
constituir acções judiciais sob a forma de ordens do rei, e em cada caso concreto era necessário
aplicar o writ correspondente. Isto permanece até os dias atuais.
3.2.EXPANSÃO
Da mesma forma que o sistema romano-germânico, a expansão do common Law deu-se através
da colonização inglesa em diversos países, como: Estados Unidos, Canadá, Irlanda, País de
Gales, Austrália, Nova Zelândia, Jamaica (e outros países da América Central), África Central,
Índia, Birmânia, Malásia, etc. Os resultados, porém, foram diferenciados em cada lugar.
110
3.3. CARACTERÍSTICAS
Além disso, a Inglaterra continua a ser um país sem códigos nem constituições escritas. Não
possuem, como outros países, um texto reunindo o conjunto de regras do direito constitucional.
O seu direito constitucional baseia-se nos costumes e nos precedentes. Entretanto, a ideia de
uma codificação generalizada aparece desde o século XVI, mas aconteceu somente a
compilação das leis já existentes e uma espécie de código de vendas.
Nos Estados Unidos da América, o common Law é uma forma de unificar o direito no país, pois
cada estado possui sua própria constituição.. Não obstante, em contraposição ao sistema na
Inglaterra, nos Estados Unidos dá-se grande importância à constituição escrita (o que não existe
na Inglaterra) e às leis. Somente um Estado nos EUA, Luisiana, segue o sistema romano-
germânico.
O surgimento da “EQUITY”
No decorrer dos séculos XIV e XV, o common Law tornou-se mais técnico e incapaz de resolver
novos litígios causados pelo desenvolvimento económico e social, tendo que basear-se somente
aos “writs” já existentes. Os juízes dos tribunais, embora fossem nomeados pelo rei, haviam
adquirido certa independência destes, e o facto de não desejarem recorrer directamente ao rei, e
ao chanceler fez com que surgisse uma nova jurisdição e processo: o chanceler decidia em
111
equidade sem levar em consideração as regras nem as bases do common Law. Era inspirado pelo
direito canónico e o chanceler julgava segundo critérios do próprio direito romano.
Os reis da Inglaterra, no decorrer do século XVI, deram mais abrangência aos poderes da equity,
pois eram mais favoráveis ao absolutismo e as jurisdições do “Common Law” foram se tornando
cada vez mais arcaicas e obsoletas. No século XVII, passou a subsistir um sistema duplo de
direito: “Common Law “e “equity”, devido aos conflitos entre rei e parlamento.
Em 1873 e 1875 houve a fusão dessas duas jurisdições, e as regras da equity ficaram integradas
às do common Law.
São três as fontes do sistema common Law: a jurisprudência, o costume e a lei (em ordem de
importância).
3.4.1 A JURISPRUDÊNCIA
O common Law segue o princípio do “stare decisis”, isto é, o princípio de seguir regras
estabelecidas por precedentes judiciários; é um direito jurisprudencial e, portanto, a
jurisprudência é a principal fonte do direito.
A jurisprudência segue uma hierarquia como fonte do direito: as decisões tomadas pela Câmera
dos Lordes devem, obrigatoriamente ser seguidas, como precedentes para os tribunais; as
decisões adoptadas pelo Court of Appel, obrigam como precedentes, para as jurisdições
inferiores; e as decisões tomadas pelo High Court of Justice obrigam também as jurisdições
inferiores.
3.4.2 O COSTUME
112
3.4.3 A LEI
A lei tem um papel secundário na formação do direito inglês. A Inglaterra não tem uma
constituição escrita; as leis servem mais para acomodar situações novas, surgidas após a Segunda
Guerra Mundial,para disciplinar o crescimento urbano, a manutenção da previdência social, o
sistema de educação e de saúde.
4. O SISTEMA SOCIALISTA
O socialismo é um uma forma de governo que vem sendo pensada desde a época dos filósofos
antigos, que procuravam soluções para a desigualdade social. O ponto culminante do socialismo
acontece na Revolução Russa, em 1917. Está intimamente ligado ao comunismo, pois o sistema
socialista é a fase precedente e transitória para o comunismo, quando a sociedade se “prepara”
para viver uma forma de vida sem governo e nem estado onde tudo é de todos, não há
propriedade privada.
113
Segundo a concepção marxista do direito, este seria, necessariamente, injusto e deveria
desaparecer de uma sociedade ideal e sem classes, pois o direito permite a classe dominante
manter a posse dos bens e explorar a classe dominada. A única forma de parar a exploração de
uma classe social por outra era abolindo as classes sociais, através do fim da propriedade privada
e da disposição colectiva de todos os meios de produção.
114
4.1.4. O ESTADO SOCIALISTA E A PASSAGEM PARA O COMUNISMO
A guerra civil e a guerra exterior, entre 1917 e 1921, perturbaram a organização do novo regime
político na Rússia. Os dirigentes comunistas tentaram instaurar o comunismo através de medidas
radicais, como nacionalização das terras e indústrias, supressão do direito de sucessão e também
do antigo direito e dos antigos tribunais, e foi também promulgada uma nova constituição.
Entretanto, não foram medidas muito realistas, pois se aplicavam somente à Rússia, que era a
única neste processo até então.
Em 1921, como ainda restavam muitos problemas na Rússia, foi imposta uma concepção mais
realista com tendência a uma edificação progressiva do socialismo (fase transitória para o
comunismo), ao contrário do carácter repentino que tiveram as medidas iniciais. Criou-se,
provisoriamente, a N.E.P. (Nova Política Económica), que tinha muitos aspectos do capitalismo
e até mesmo adoptou a técnica capitalista.
Sob o ponto de vista económico, a N.E.P. foi um sucesso. As produções agrícolas e industriais
cresceram e o comércio foi dinamizado. Entretanto, gerou vantagens para certos grupos sociais, o
que contrariava o carácter socialista do Estado. Em 1926, abandonou-se a N.E.P. para se
proceder a reformas agrárias e industriais profundas no domínio económico, no sentido da
colectivização.
Em 1977 foi aprovada uma nova Constituição, e esta constatava que a ditadura do
proletariado havia desempenhado o seu papel histórico e que o Estado soviético havia se tornado
um Estado de todo o povo, e a sociedade soviética era referida como uma sociedade socialista
desenvolvida, pois era necessário passar por esta etapa para se chegar ao comunismo.
Neste ponto, após a II Guerra Mundial, vários países europeus já haviam aderido ao sistema
socialista russo, e tal união foi nomeada de URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Em razão da URSS se manter isolada economicamente da maior parte do mundo, a sua indústria
tornou-se atrasada. Antes, era um grande exportador de alimentos; depois, passou a ser
115
importador. Com o declínio da actividade industrial e agrícola, surgiram inúmeros problemas
sociais, principalmente o aumento do desemprego.
Em 1985, com a entrada de Mikhail Gorbatchev, a União Soviética passou por bruscas mudanças
políticas, económicas e sociais. Ciente dos problemas que o país passava, Gorbatchev propôs
dois planos: a “perestroika” (reestruturação) e a “glasnost” (transparência). A perestroika era um
conjunto de medidas que propunha modernizar e dinamizar a economia do país. Assim, o plano
autorizava a existência de empresas privadas, a entrada gradual de multinacionais e estimulava a
concorrência entre as empresas. Já a glasnost previa a diminuição da actuação do Estado na vida
do cidadão, ou seja, nas questões civis. Por meio da glasnost, foi dada liberdade de expressão, os
presos políticos foram soltos, etc.
Com essas profundas mudanças, tornou-se claro que a União Soviética estava chegando ao fim.
Temendo o quadro político que estava instalado na Rússia, as outras repúblicas começaram a
exigir autonomia. Em 1991, quase todos os países já eram independentes. O fim definitivo da
URSS foi oficializado em 21 de Dezembro de 1991, com a criação da Comunidade dos Estados
Independentes (CEI), organização supranacional formada por Rússia, Ucrânia, Bielo-Rússia,
Cazaquistão e Uzbequistão.
5.2. EXPANSÃO
Actualmente, o único país que se mantém firme sobre as bases socialistas é Cuba, mesmo
sofrendo por privações económicas devido à pressão de países capitalistas.
116
5. 3. CARACTERÍSTICAS
Num país de sistema socialista, as principais características encontradas são: estatização dos
meios de produção, isto é, não há propriedade privada; desenvolvimento social como objectivo,
pois o mais importante, num Estado socialista, é a igualdade entre os indivíduos, impedindo que
existam classes sociais; economia planificada estatal (centralizada), ou seja, não há espaço para
empresas privadas ou internacionais; redistribuição da renda: o trabalho é pago de acordo
com a quantidade e a qualidade, uma pessoa recebe de acordo com o que pode produzir e suas
necessidades.
Pela caracterização dos três sistemas, atrás descrito facilmente podemos enquadrar Moçambique
no sistema apropriado, identificar as influências a que Moçambique está sujeito pelo facto de
situar-se numa zona dominada por um sistema jurídico distinto do seu, no caso o Common.
Tarefas
Discuta as seguintes questões
117
4.Apresente a Cronologia da Codificação em Moçambique, tendo como referência os
Códigos arrolados no texto da nossa Unidade.
Auto-avaliação
1- Sobre os Ramos de Direito
2.Sobre a Codificação
a) Defina-a;
a) Defina-o;
b) Pelo facto de Moçambique ter sido a linha socialista durante os primeiros 15 anos de
Independência, podemos afirmar que o nosso Ordenamento Jurídico se enquadra no
Sistema Socialista? Fundamente.
118
Chave-de-correcção
Primeira questão
a) Fontes de Direito, são modos de formação e revelação das normas jurídicas. As fontes
imediatas são que têm força vinculativa própria, sendo portanto os verdadeiros modos de
produção do Direito. Ex: A Lei. As fontes mediatas, não tendo força vinculativa própria, são
contudo importantes pelo modo como influenciam o processo de formação e revelação da norma
jurídicas. Ex: O costume, jurisprudência e doutrina.
b) O ramo do Direito privado especial é assim designado, pelo facto de nos dois ramos que a
seguir se discriminam o Estado agir como ente público, na medida em que ele é que aprova o
Código Comercial e a Lei do Trabalho e age como ente privado, em pé de igualdade com os
demais sujeitos, por exemplo quando contrata trabalhadores a luz da Lei do Trabalho e pratica
actos do comércio sob égide da lei Comercial.
c)Direito Publico, disciplina as relações jurídicas que se estabelecem entre o Estado (ou outros
entes públicos) os particulares, intervindo o Estado numa posição de supremacia, isto é, como
entidade dotada de poder soberano << imperium>>;
d)As normas de Direito Privado, regulam as relações sociais entre particulares ou em que
intervenham o Estado (ou outros entes públicos) desprovidos do seu <<imperium>>.
Segunda Questão
a) Código é a reunião num mesmo texto, segundo determinado critério sistemático e científico,
de um conjunto de normas referentes a um determinado ramo do Direito.
119
pela sistematização científica dos vários preceitos, situar, mais facilmente, as normas no seu
contexto sistemático e detectar possíveis lacunas de regulamentação.
Terceira
a) Um sistema jurídico são conjuntos de regras, órgãos, doutrinas, ensinamentos leis, normas e
costumes que descrevem, organizam, e modificam nosso ordenamento jurídico;
b) Não, Moçambique apenas teve influência política, contudo manteve na essência o carácter
romano-germânico do seu ordenamento jurídico.
Resumo
Caro estudante, como vimos ao longo da unidade, podemos dizer que o Direito se divide em dois
grades ramos, o público e o privado, que por sua vez contemplam subdivisões, tudo com o
objectivo de tutelar melhor as relações jurídicas, por via do tratamento específico das situações
específicas.
Ainda mais percebemos que a Codificação, apesar das desvantagens e da resistência de algumas
áreas do Direito, se mostra de extrema importância, pois permite a unificação do Direito, através
da reunião, num mesmo texto, segundo determinado critério sistemático e científico, de um
conjunto de normas e referentes a um determinado ramo do Direito
Os sistemas jurídicos entendidos como conjuntos de regras, órgãos, doutrinas, ensinamentos leis,
normas e costumes que descrevem, organizam, e modificam um ordenamento jurídico não se
120
formaram num só dia, simplesmente, porque se achou necessário. Pelo contrário, todos têm uma
história de origem e desenvolvimento e levaram anos para chegarem ao nível de
desenvolvimento em que estão agora.
Ao longo da unidade, notamos, também que, embora os países colonizadores tenham exportado
as bases dos sistemas de vários outros países colonizados, nem todos permaneceram iguais às
suas origens. Os Estados Unidos, por exemplo, seguem um sistema common law que em muito
difere do que é aplicado na Inglaterra. Ou seja, os sistemas jurídicos desenvolveram-se de acordo
com as características e necessidades de sua sociedade e não são imutáveis, pois ainda hoje
diversas mudanças são feitas para que o direito se adapte às novas regras e costumes sociais de
cada geração.
BIBLIOGRAFIA
Ascensão, José de Oliveira, O Direito – Introdução e Teoria Geral. Almedina 1997.
Mendes, João Castro Mendes, Introdução ao Direito, Editora Pedro Ferreira, Lisboa. 1994.
Marques, José Dias, Introdução ao Estudo do Direito, Editora Danúbio, Lda., Lisboa, 1986.
Código Civil
121
Unidade Didáctica nº 4: Relação Jurídica
Introdução
Bem-vindo à Unidade IV, nesta você irá estudar sobre a Relação Jurídica.
Caro estudante, a vida em sociedade realiza-se através de uma multiplicidade de relações sociais
determinadas pela necessidade de vida em comum. Quando o Direito intervém para as regular,
elas transformam-se em relações jurídicas.
Deste modo podemos dizer que, a ordem jurídica se desenvolve numa complexa teia de relações
intersubjectivas, tuteladas pelo Direito, e que vamos analisar ao longo da unidade didáctica .
Para que você a acompanhe e consolide melhor esta unidade aconselhamos o uso do Código
Civil, preferencialmente o anotado.
Objectivos da unidade
Delimitar a noção de elementos da relação jurídica e saber identificar cada um dos elementos
num caso concreto;
122
definir os conceitos de sujeito, objecto, facto, garantia, personalidade, capacidade, prestação,
coisa;
identificar e caracterizar uma relação jurídica, nas suas diversas variantes;
distinguir a relação jurídica da situação jurídica;
justificar a preferência actual da doutrina pelo conceito de situação jurídica, no lugar do de
relação jurídica;
Desenvolvimento de conteúdos
Caro estudante, ao falarmos de relação jurídica, antes temos que falar das situações sociais, que
se revelam nas relações entre as pessoas, isto é, casos da vida real, e estes, conforme a
importância que têm ou não têm na vida da comunidade, podem ou não ter protecção jurídica.
Deste modo podemos dizer que , as situação jurídicas se dividem em dois grandes grupos
nomeadamente:
a) Situações sociais ajurídicas, as que que não têm protecção legal, não têm relevância para o
Direito;
b) Situações sociais jurídicas, as têm importância na vida das sociedades toena-se dignas de
proteção legal e por isso mesmo, estão tuteladas pelo Direito.
123
A. A RELAÇÃO JURÍDICA
1.NOÇÃO
Caro estudante, a seguir Vamos debruçar-nos sobre a Relação Jurídica pela sua importância para
a Teoria Geral do direito Civil e porque, em certo sentido, redunda uma Teoria Geral do direito
Subjectivo.
A Expressão relação jurídica pode ser tomada em dois sentidos, nomeadamente: Amplo e
Restrito ou técnico.
Caro estudante, esta noção é extremamente ampla e vaga, e apenas não estão incluídas neste
sentido as relações da vida social estranhas ao direito como a amizade, gratidão, etc.
Portanto, este último é o que nos interessa para o nosso estudo nesta unidade ..
124
2.ELEMENTOS DA RELAÇÄO JURIDICA
SUJEITOS da relação jurídica, são as pessoas entre as quais ela se estabelece. São os titulares
do direito subjectivo e das posições passivas correspondentes – dever jurídico ou sujeição.
O OBJECTO é aquilo sobre o que recai os poderes do titular do direito (por exemplo, coisas ou
prestações).
Esse efeito poderá ser o de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica.
125
Objecto – a casa
Garantia – a faculdade que Alberto e Bonifácio dispõem de recorrer ao tribunal para obrigar o
outro a cumprir a sua obrigação, no caso de recusa.
Com o exemplo acima você foi capaz de perceber e identificar melhor os conceitos, sujeito,
objecto, facto jurídico e garantia.
Como vimos anteriorimente , toda a relação jurídica existe entre sujeitos. Dentro do nexo ou
vínculo que une os sujeitos, podemos distinguir da seguinte forma:
Deste modo, podemos dizer que só existe um direito subjectivo quando o seu titular é livre de
exercer ou não, o que significa que o exercício do poder conferido por esse direito está
dependente da vontade do respectivo sujeito.
126
3. 1. OS SUJEITOS
Há que distinguir, como já referimos, o sujeito activo – titular do direito subjectivo – e o sujeito
passivo adstrito à vinculação (dever jurídico ou sujeição).Em qualquer dos lados da relação
jurídica, pode haver unicidade ou pluralidade de sujeitos. Estes podem ser pessoas singulares ou
colectivas consoante se trate de indivíduos ou organizações.Portanto, podemos dizer que o
sujeito de direito é necessariamente pessoa em sentido jurídico.
Como pessoas jurídicas que são, os sujeitos são dotados de personalidade jurídica, que é a
aptidão para ser titular de relações jurídicas, ou seja, de direito e vinculações.
Também o Direito Objectivo atribui personalidade jurídica a certas organizações que têm um
substrato social e uma individualidade própria tais como uma sociedade comercial, um partido
político ou um sindicato, para que possam ser titulares de relações jurídicas e para uma melhor
consecução dos fins sociais ou colectivos que se propõem.
Caro estudante, estes são exemplos de pessoas colectivas, os quais mencionamos anteriormente
Caro estudante, na história do Direito, são conhecidas situações em que a personalidade jurídica
era negada a certos seres humanos – os escravos – que eram tratados no Direito Romano como
coisas, isto é, como objecto de direito e não como sujeito destes.
Idêntica situação recaía sobre determinados pessoas autoras de crimes graves, a que
correspondiam também certas penas criminais graves, extintivas da personalidade jurídica.
127
O Direito moderno, dando expressão a uma exigência da natureza e de dignidade do homem,
orienta-se no sentido de reconhecer a personalidade jurídica a todos os homens, condição
indispensável a realização dos seus fins e interesses na vida social.
3.3.PERSONALIDADE JURÍDICA
Titularidade é a ligação efectiva entre o direito subjectivo e a pessoa em quem está investido.
A personalidade jurídica é inerente a todos os seres humanos, pois radica na sua natureza e
pertence-lhe por direito originário. Vamos ver alguns artigos do Código Civil a seguir.
128
(Termo da personalidade)
São verdadeiros direitos subjectivos que têm por objecto certas manifestações de personalidade
humana física, a sua honra, a sua liberdade física e psicológica, a sua imagem, o seu nome, a
intimidade da sua vida privada, etc.
não patrimoniais ou pessoais – porque não são susceptíveis de expressão pecuniária, embora a
violação desses direitos possa implicar uma reparação monetária.
Caro estudante para consolidar estes conteúdos leia o artigo 70 e seguintes do Código Civil.
Nos nossos dias, multiplicam-se as iniciativas em torno da defesa dos direitos do homem, tanto a
nível de Estado como de organizações privadas de renome internacional, como é o caso da <<
Amnistia Internacional >>, criada em 1961, á qual foi atribuído o Prémio Nobel da Paz em 1977.
129
Em Moçambique, temos a Liga de Defesa dos Direitos Humanos, que visa a defesa da dignidade
da pessoa humana e denunciar as violações que os direitos do homem sofrem ainda em grande
número de Estados contamporâneos.
As pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em
contrário; nisto consiste a sua capacidade jurídica.
Sendo assim, podemos dizer que a capacidade de gozo de direitos é, assim, o conteúdo
necessário da personalidade jurídica, já que esta compete a todas as pessoas e é, como sabemos,
a aptidão para ser sujeito de relações jurídicas.
Mais rigorosamente podemos dizer que a capacidade jurídica é a aptidão para ser titular de um
circulo maior ou menor de relações jurídicas.
Nota-se que o que está agora em causa não é já a aptidão para a titularidade, mas sim para o
exercício de direitos
130
“ Enquanto a capacidade jurídica é uma simples condição de gozo, uma posição estática, a
capacidade de agir denota uma actividade dinâmica, o poder de pôr em movimento os direitos,
de produzir transformações mediante actuação jurídica própria.” .
Efeitos da maioridade
Aquele que perfizer vinte e um anos de idade adquire plena capacidade de exercício de
direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.
Artigo 133º
Com efeito, pode suceder uma pessoa ser titular de direitos, isto é, ter capacidade de gozo e não
os poder exercer por lhe faltar a necessária idoneidade para actuar juridicamente, ou seja, a
necessidade capacidade de exercício de direito.
131
A incapacidade de exercício pode ser genérica ou especifica (consoante se refira aos actos
jurídicos em geral ou a alguns em especial), e pode ser suprida.
Deste modo, não podendo certas pessoas exercer os seus direitos, torna-se necessário recorrer a
certas formas legais de suprimento da incapacidade de exercício e que são.
Vejamos o exemplo: os pais quando agem pelos filhos menores; os tutores, na linguagem da
actual Lei de Famiília Moçambica, exercem o Poder Parental.
A assistência, a outra forma de suprimento da incapacidade, tem lugar quando a lei permite agir
o assistente.
Em regra, qualquer pessoa pode ser titular de quaisquer direitos o adstrita a quaisquer
vinculações, tal vimos no artigo 67º do Código Civil, nisso consiste a sua capacidade jurídica
(capacidade de gozo).
No entanto, esse mesmo preceito revela que podem existir excepções: << As pessoas podem ser
sujeitos de qualquer relações jurídicas, salvo disposição…>>
132
O menor, tendo como todas as pessoa singulares capacidade geral de gozo, sofre de certas
incapacidades concretas de gozo, do C.C., que lhes retira respectivamente a possibilidade de
poderem ser tutores ou testar. Na mesma situação se encontram os interditos
A incapacidade de gozo é insuprível, isto é, o incapaz não pode ser substituído na prática dos
actos jurídicos a que ela se refere, nem os pode praticar com autorização de outra entidade sob
pena de nulidade dos mesmos.
Caro estudante, as principais incapacidades de exercicio estabelecidas pelo Código Civil são:
- MENORIDADE,
- INTERDIÇÃO,
- INABILITAÇÃO
O interesse visado com o estabelecimento das incapacidades é determinado pela defesa dos
interesses do próprio incapaz
Menores
São menores as pessoas de um e outro sexo enquanto não perfizerem vinte e um anos de idade.
133
Artigo 123º do Código Civil
Apesar da incapacidade geral de exercicio de que sofrem, têm, porém, os menores algumas
capacidades concretas de exercicio, em conformidade com a ressalva inserta neste artigo.
134
b) INCAPACIDADE POR INTERDIÇÃO
1. Podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que por
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de
governar suas pessoas e bens.
2. As interdições são aplicáveis a maiores, mas podem ser requeridas e
decretadas dentro do ano anterior à maioridade, para produzirem os seus
efeitos a partir do dia em que o menor se torne maior.
Para alguém ser considerado interdito é necessário que a sua incapacidade seja declarada por
sentença judicial, no termo do processo especial que se abriu para esse fim. A partir daí é que
existirá a interdição e a consequente incapacidade de exercício de direito.
O interdito tem um regime jurídico semelhante ao menor, quer quanto ao valor dos actos
praticados, quer quanto aos meios de suprir a sua incapacidade.
A incapacidade por interdição só cessará se desaparecer o motivo natural que o motivo natural
que a originou. Todavia, para que esse efeito se verifique, é necessário que se requeira no
Tribunal <<o levantamento da interdição>> pelo interdito ou qualquer das pessoas com
legitimidade para o fazer, consoante o preceituado no artigo 151º.
135
c) INCAPACIDADE POR INABILITAÇÃO
Os motivos que determinam a inabilitação são os mesmos da interdição mas revestidos de menor
gravidade, a que se juntam ainda certos modos habituais de comportamento, como a
prodigalidade (39), o abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes.
Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora
de carácter permanente, não seja de tal modo grave que justifique a sua interdição, assim como
aqueles que pela sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu património.
A inabilitação resulta também de uma sentença jurídica proferida no termo de uma acção
interposta para esse fim.
Esta incapacidade é suprida pelo instituto da assistência, sendo designado por curador a pessoa
encarregada de a exercer.
3. 5. PESSOAS COLECTIVAS
3.5.1.PERSONALIDADE JURÍDICA
Acabámos de nos debruçar sobre a capacidade das pessoas singulars, mas, também, existem as
pessoas colectivas que, como já referimos, são as organizações destinadas à realização de
interesses comuns ou colectivos, às ordem jurídica atribui personalidade jurídica, sendo, pois,
susceptíveis de serem titulares de direitos e vinculações.
136
A esta categoria de pessoas pertencem o Estado, as recreativas, os partidos políticos, etc.
3.5.2.Capacidade Jurídica
Ao contrário do que acontece com as pessoas singulares, a capacidade de gozo está limitada aos
direitos e vinculações adequados à prossecução dos seus interesses, conforme o preceituado no
Código Civil.
Artigo 160º
Capacidade
Assim, relativamente à capacidade de gozo das pessoas colectivas impera o chamado principio
da especialidade, devido às limitações mencionadas.
137
Quanto à corrente de opinião que parece mais adequada juridicamente, considera aplicável às
pessoa colectivas o principio da capacidade genérica de exercício, pois a lei dota-se de órgão,
através dos quais elas actuam juridicamente, tal como as pessoas singular o fazem.
4. O OBJECTO
O Direito Subjectivo existe, tendo em vista a satisfação de interesses. Para isso, a Ordem Jurídica
põe à disposição da pessoa um certo bem . Esse bem é que constitui o objecto de direito
subjectivos em geral.
Vejamos o exemplo: Quando afirmo que tenho direito aos meus livros, enuncio um poder, um
direito. Os livros são assim o objecto imediato da relação de propriedade de que eu sou titular
activo.
138
OBJECTO MEDIATO: quando os poderes do titular activo incidem
indirectamente sobre o bem
Vejamos o exemplo a seguir: Quando digo que tenho direito à entrega de um livro que me é
devido, este constitui o objecto mediato do meu direito.
No exemplo anterior, o objectivo imediato seria a entrega do bem (livro). Deste modo se o
devedor alienar o respectivo livro, eu fico sem o direito sobre ele, embora possa exigir ao
devedor a correspondente indemnização.
Esta distinção entre objecto imediato e mediato, nem sempre se verifica, pois nos direitos reais
não há intermediário entre o titular de um direito e o bem. O proprietário está em contacto
Porém a distinção verifica-se nas obrigações (direitos de crédito) de prestação de coisa certa e
determinada. Nelas, o objecto imediato do direito do credor é a prestação do devedor – o acto da
entrega da coisa devida – e o objecto medito é a própria coisa.
Assim, entre o credor (ou o seu direito) e a coisa, intromete-se a pessoa do devedor, como vimos
no 2º exemplo.
4.2.1 PESSOAS: No Direito moderno, as pessoas só podem ser objecto da Relação Jurídica nos
denominados poderes-deveres ou poderes funcionais, que não são verdadeiros direitos
subjectivos.
139
Vejamos o exemplo: O poder parental e o poder tutelar.
Os direitos inseridos no poder paternal ou no poder tutelar, não conferem qualquer domínio
sobre a pessoa do filho ou do pupilo, no interesse dos pais ou do tutor. São meramente direitos,
que conferem poderes destinados a habilitarem os pais e os tutores no cumprimento dos deveres
que lhes são impostos por lei.
4.2.2. PRESTAÇÕES: Denomina-se prestação à conduta a que o devedor está obrigado. Por
exemplo, nos direitos de crédito, o objecto não é, rigorosamente, uma coisa, mas sim o
comportamento do devedor.
Noção
1. Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.
5.O FACTO JURÍDICO: é todo o facto da vida social que produz efeitos jurídicos,
constituindo, modificando ou extinguindo, relações jurídicas
140
5.1.1 Factos jurídicos voluntários ou actos jurídicos, são manifestações de vontade, de quem
o represente, com relevância jurídica.
* Actos jurídicos lícitos são aqueles que estão em conformidade com a Ordem Jurídica.
* Actos jurídicos ilícitos são os que contrariam a ordem jurídica e implicam uma sanção
para o seu autor.
* Negócios jurídicos, são os factos jurídicos voluntários, constituídos por uma ou mais
manifestações de vontade, destinadas a produzir intencionalmente efeitos jurídicos.
* Simples actos jurídicos, são factos jurídicos voluntários, cujos efeitos jurídicos,
embora eventualmente concordantes com a vontade dos seus autores, não são todavia
determinados pelo conteúdo desta vontade, mas directa e imperativamente pela lei.
Vejamos o exemplo: Com a criação de uma obra de arte adquirem-se direito de autor,
mesmo que não tenha sido essa a intenção do artista.
Dolosos, quando existe por parte do indivíduo o propósito de fazer mal, ou de prejudicar.
141
Vejamos o exemplo: o furto, injúrias, difamação.
Meramente culposos, quando o indivíduo não prevê o resultado – não há dolo – mas houve
imprudência ou negligência, que lhe conferem culpa (43)
Vejamos o exemplo: Acidente de viação provocado por condutor que não respeita o sinal
vermelho devido a distracção.
5.1.2 Factos jurídicos involuntários, são estranhos e independentes à vontade (factos naturais).
São puramente obra da natureza, embora possam verificar-se no próprio homem.
A terminar referir que para os direitos das partes na relação jurídica são salvaguardados e
protegidos pela Garantia, que é igualmente um dos elementos da Relação Jurídica.
Tarefas
CASO I
QUID IURIS?
142
CASO II
O avô do Manelinho, de 16 anos, deixou-lhe em herança duas casas e um Jaguar; sabendo disso,
o Manelinho foi festejar com os amigos, pagando as “shorts ” a todos, tendo ficado a saber
apenas no dia seguinte que o seu Pai repudiou a herança.
QUID IURIS?
CASO III
QUID IURIS?
CASO IV
Isaías, 16 anos, empregado de armazém, casou sem autorização dos pais e sem o respectivo
suprimento judicial, assinou um contrato de empreitada para obras numa casa de que era
proprietário, doou um terreno e comprou uma mobília de quarto. O seu Pai, que soube de
imediato destes factos, quer anular agora aquela doação, pois daqui a 5 meses Isaías faz 18 anos.
QUID IURIS?
CASO IV
Pepito, pelo seu habitual abuso de bebidas alcoólicas foi inabilitado judicialmente.
Antes da acção, comprou por uma autêntica “pechincha” uma quinta em Marracuene, que
acabou, após o registo da sentença, por vender. Fez, ainda, um testamento a deixar os demais
bens imóveis.
QUID IURIS?
143
Auto-avaliação
3. No direito moderno, seres vivos diversos do homem e seres inanimados podem ser sujeitos
de uma relação jurídica. Comente.
4. Em que circunstâncias as pessoas singulares podem ser objecto de uma relação jurídica?
Chave-de-correcção
Primeira Questão
A relação jurídica é a relação da vida social disciplinada pelo direito, mediante a atribuição a um
sujeito de um direito subjectivo e a imposição a outro de um dever juridico ou de uma sujeição e
a mesma é disciplina pelo Direito, que a protege.
Segunda Questão
Terceira Questão
144
Apenas os homens é que podem ser sujeitos das relações jurídicas, os outros seres vivos( plantas
e animais) e inanimados, apenas podem ser objecto das relações jurídica.
Quarta Questão
No Direito moderno as pessoas só podem ser objecto da Relação Jurídica nos denominados poderes-
deveres ou poderes funcionais, que não são verdadeiros direito subjectivos. Exemplo: O poder parental e
o poder tutelar.
Quinta Questão
Resumo:
Caro estudante, conforme o que dissemos ao logo da unidade, podemos dizer o conjunto de
norma jurídicas gerais, abstractas, criadas e impostas coactivamente pelo Estado, e que tem
em vista regulamentar a convivência social, numa sociedade em os seus actores se
relacionam e interagem, ocupando a figura de sujeito activo, quer a de sujeito passivo.
Por outro lado, os sujeitos, querem ver garantias para a materialização dos seus direitos e das
obrigações da sua contraparte, com intuito de assegurar o objecto da relação jurídica, que é o
objecto da relação.
Observamos que nem sempre os sujeitos tem a necessária capacidade jurídica, mas que
entretanto, a lei se encarregou de salvaguardar os direitos dessas pessoas, não só através das
formas de suprimento das incapacidades, mas também criou instrumentos que visam proteger
os cidadãos daquelas relações jurídicas nas quais se terão envolvido com incapazes ou
inabilitados, tudo em nome da segurança jurídica do cidadão e do desenvolvimento normal e
são das relações jurídicas.
145
Com esta Unidade finalizamos o estudo do nosso módulo, e julgamos ter fornecido subsídios
julgados pertinentes e importantes para a compreensão do Direito e que irão servir de
subsídio para a compreensão das disciplinas subsequentes do Curso.
BIBLIOGRAFIA
Ascensão, José de Oliveira, O Direito – Introdução e Teoria Geral. Almedina 1997.
Mendes, João Castro Mendes, Introdução ao Direito, Editora Pedro Ferreira, Lisboa. 1994.
Marques, José Dias, Introdução ao Estudo do Direito, Editora Danúbio, Lda., Lisboa, 1986.
PIRES DE LIMA, Fernando Andrade e outros, Noções Fundamentais de Direito Civil, Vol. I,
última edição, revista e ampliada (reimpressão), Coimbra editora, limitada, Coimbra, 1973
PIRES DE LIMA, Fernando Andrade e outros, Código Civil (Anotado) de 1966 - 4 Vols.
Código Civil
146