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Mestrado Profissional em Rede Nacional

FFC Marília

HISTÓRIA DA ÁFRICA: Renascença Africana e epistemicídio negro:


De Anastácia até Marielle Franco, mulheres negras e poder no Brasil.

Rosângela de Lima Vieira


Juliana Mirele Messias

Marília - SP

2022

¹ Professora Doutora em História, Pós – Doutora em Economia, Assistente Doutora no Programa de Pós – Graduação
UNESP - FFC/Marília.
² Professora de Educação Básica na Rede Pública de Ensino, Mestranda no ProfSócio em Rede Nacional no campus
UNESP - FFC/Marília.
RESUMO
Abordar história da África, de dentro e de fora do continente africano é um caminho
cheio de silenciamentos e violência de todo tipo, no Brasil tornou-se obrigatório o
ensino da cultura e conhecimentos de matizes africanas e indígenas há menos de duas
décadas. A história “recente” da África pró libertação e descolonização e a implantação
da Renascença Africana, movimento que busca a racionalização dos conhecimentos
africanos produzidos pelo próprio povo africano, tanto no continente africano, como nas
Américas e no Caribe, não passam de meio século, visto que as últimas colônias
portuguesas se tornaram “independentes” na década de 60 a 75 e em seguida guerras
civis que se arrastaram até este século XXI. O cenário sangrento e violento em torno da
História da África é uma marca que seus descentes carregam e que são encobertas e
silenciadas, a pesquisa para este trabalho foi no sentido de demonstrar através da
hermenêutica crítica a leitura que podemos fazer da vida e obra de duas mulheres negras
brasileiras e os motivos que levaram cada uma delas a lutarem por voz e direitos, isto só
foi possível com a retomada da história da África e seus reflexos na vida de Anastácia e
Marielle Franco, mulheres afro-brasileiras silenciadas e mortas.

Palavras-chave: África, Renascença, epistemicídio, gênero e poder.

ABSTRACT
Africa, from the inside and outside of the African continent is full of silencing and
violence of all kinds, at least it became mandatory to teach culture and knowledge of
hues and indigenous people two decades ago. The “Recent” of Africa itself Liberation
and Renewal of Colonization and Implantation of African Culture, a Movement that
Does Not Search for African Knowledge itself, as well as on the African Continent, as
an African People and in the Caribbean that the last Portuguese colonies became
“independent” in the 60's to 75's and then civil wars that dragged on in this 21st century.
The bloody and violent scenario around the history of Africa is a mark that their
descendants carry and that are covered up and silenced, the research for this work was
in the sense of demonstrating through critical hermeneutics the reading that we can
make of the life and work of two women. Brazilian black women and the reasons that
led each of them to fight for voice and rights, this was only possible with the resumption
of African history and its reflections on the lives of Anastácia and Marielle Franco,
silenced and dead Afro-Brazilian women.

Keywords: Africa, Renaissance, epistemicide, gender and power.


INTRODUÇÃO

O continente africano e uma metáfora da ideia de mãe terra, ou das mães pretas
americanas e o sentido de matriarcado que se contruiu em torno deste grande bloco de
terras no meio do mundo, onde a história ocidental começa. Segundo o professor José
Flávio Sombra Saraiva:
“ Os estudos arqueológicos e paleontológicos de Ifê, Nok
e do vale do Rift confirmaram a primazia africana na
gênese da humanidade. O estudo das clássicas práticas
agrícolas e da domesticação de animais, entre outros
processos espetaculares de redefinição do Egito antigo
como parte de uma civilização de origem africana, foram
fundamentais para o desenvolvimento da confiança
historiográfica que sedimenta hoje certo sentido de
futuro.”
Uma mãe é quem traz ao mundo a vida e quem dá as primeiras orientações aos
filhos, invertendo esta metáfora e focando na mulher negra, em específico a afro-
brasileira, percebemos que o sentido de mãe, ama, cuidadora, pájem ainda permanece,
porém o valor e o reconhecimento dos ensinamentos e todas as vidas trazidas ao mundo
por elas ainda não veio, no sentido de origens, como foi levantada pelos historiográfos
durante a Renascença Africana, desde Anastácia até Marielle Franco, mulheres negras
são subjugadas, caladas e eliminadas da história “oficial”, assim como o próprio
continente Africano que a um pouco mais de um século vem lutando para se firmar e
elevar -se como estado.
E mesmo com a tentativa de internacionalizar o continente Africano
(SARAIVA,2015) a partir do documento da Unesco em 1960 que pretendia uma
reformulação dos estereótipos a cerca do dia a dia africano, chamada a Renascença
Africana que tinha por meta lançar a ideia de África do ponto de vista africano. A
justificatva fica para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) que
comentou as razões da crise da antropologia moderna, visto que nas ciências sociais
europeias o conceito de que a África era bem mais complexa e diversa que a redução
antropológica realizada por levas de antropólogos e historiadores europeus desde o
século XIX já vinha sendo debatida.
Ao mesmo passo dessa busca por elevar a cultura africana e deixar de suprimir
essas mulheres da história é uma forma de minimizar os impactos de uma lógica de
dominação brutal, devastadora e violenta que refletem e reveberam no cotidiano de cada
mãe, preta, trabalhadora e mulher, é importante destacar a posição de gênero, pois dados
estatísticos e empiricos demonstram maior vulnerabilidade e exclusão social, no sentido
de acesso aos bens e seviços das instituições que promovem o bem estar social e a
cidadania, mais crítico fica quando analisamos a ocupação dessas mulheres em espaços
de poder e decisão.
Percebam que o continente africano, do ponto de vista existencial, assim como
as mulheres negras buscam suas origens e um horizonte para suas existências e tanto o
continente quanto as mulheres negras precisam contar suas própria história, ou seja, a
África só poderá ser vista e analisada quando puder apresentar-se sem máscaras – aqui
no sentido de velado – coação e/ou persuasão, que envolvem sem sombras de dúvidas
acesso aos espaços de poder e decisão.
O período da escravidão ancora a ancestralidade negra em um misto de
colonização, tortura, servidão, racismo, violência sexual e barbárie. Esta cicatriz que a
África carrega deve ser desvelada e de alguma forma, sejam elas racionais ou estéticas,
resgatar o que foi estilhaçado por todos os cantos do mundo.
Para afunilar um pouco mais essa discussão duas mulheres negras em diferentes
épocas foram objeto desta pesquisa, Anastácia, escrava que alguns dizem era filha de
uma família real Kimbundo, nascida em Angola, sequestrada e levada para a
Bahia e escravizada por uma família portuguesa. Após o retorno dessa família para
Portugal, ela teria sido vendida a um dono de uma plantação de cana-de-açúcar.
Outros alegam que ela teria sido uma princesa Nagô/Yorubá antes de ter sido
capturada por europeus traficantes de pessoas e trazida ao Brasil na condição
de escravizada. Seu nome africano é desconhecido (KILOMBA, 2019). Reza
algumas lendas que Anastácia era defensora dos cativos, impedida de falar, se
comunicava com seus pares pelo olhar. Admirada por seus devotos e admiradores
ganhou imagens e esculturas que sintetizam sua trajetória de vida ( DE SOUZA, 2007).
No centro do Rio de Janeiro há duas igrejas, a do Rosário e São Benedito dos
Homens Pretos que são precursoras da devoção anastaciana insurgida na década de 70
nas paróquias dessas igrejas como espaço de socialização e discussões, logo sua
imagem foi reproduzida muitas vezes e dissipada, com mais força na década de 80
quando alcançou os meios de comunicação, rádio e televisão. Missas e orações eram e
são realizadas em seu nome, porém a igraja católica impediu a celebração oficial em
nome da escrava Anastácia, justificando que não havia dados históricos que
comprovassem sua identidade.
A outra mulher negra representada aqui é Marielle Franco, Mulher, negra, mãe,
favelada, foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro nas eleições de 2016,
com 46.502 votos, mesmo pós um golpe de Estado contra uma mulher branca,
presidenta eleita no Brasil pela primeira vez na história. Assassinada em 2018, após sair
da “Casa das Pretas²” onde debateu questões relacionadas às mulheres negras, ela foi
atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço, típico de uma execução sumária.
A vida e obra dessas duas mulheres negras e a História da Àfrica estão marcadas
por ações de um sistema que calou, mutilou e fragmentou por séculos suas origens e
representações no mundo, a máscara de flandres usada por Anastácia era para causar
impacto entre os escravizados, era o símbolo do silenciamento, repressão e censura
(KILOMBA,2019).
Os cientistas sociais homens formularam teorias sobre o poder matriarcal
das mulheres negras para prover uma explicação não ordinária do papel
independente e decisivo da mulher negra dentro da estrutura da família negra.
(HOOKS, 2014 p.52), a teoria do matriarcado que do ponto de vista feminista, deu outra
cara à família negra, onde a mulher está em pé de igualdade com os homens no
provimento da casa, no entanto esta noção de matriarcado retira das mulheres direitos
que nem conquistaram e suas existência ainda continuam no ideário de servidão, ou
seja, da mulher trabalhadora que sustenta os filhos e é muito forte. Podemos fazer um
paralelo com a Renascença Africana, que envolve a construção principalmente de
dentro para fora da África, um descolonialismo onde os africanos sejam narradores de
suas histórias e não estudados como objetos de pesquisas, isto na tentativa de construir
teorias e conhecimentos advindos dos negros e organizados por eles.
O racismo, o desconhecimento e a falta de interesse em conhecer a história
do outro também podem ser consideradas formas de calar, de instaurar um senso de
surdez e de dominação, quando a vida do outro não interessa, significa simplesmente
que se quer manter distante da consciência aquilo que pode causar pertubação, como por
exemplo denúncias de abusos de toda a espécie feitas por humanos contra humanos ao
longo da história de 300 anos de escravidão, no século XX as conquistas de
independência, depois de muitas guerras, desinteligências, violência de toda espécie,
fome e epidemias, no século XXI a luta é para erguer-se no mundo, melhorar o padrão
de vida das pessoas, governança, economia e política. ( SOUZA,2015).
Esta foi uma questão para o cânone eurocentrista que refutavam qualquer
produção não ofical e de tradição oral, no entanto os pan-africanistas e os ativitas da
descolonização nas décadas de 60 e 70 refutaram veemente alguns escritos da tradição
como a hegeliana ( Friedrich Hegel 19770- 1831) que desconsideravam historicidade
sem escrita e traduções de narrativas de memórias orais, as críticas feitas até a década de
70 com a independência dos países africanos de língua portuguesa.
As lutas dos movimentos negros, feministas e a própria Renascença Africana
objetivaram o mesmo fim, elevar os conhecimentos e a cultura Africana a partir de suas
perspectivas de mundo e de existências, falar de epistemcídio é muito importante,
porque resgatar as tradições, as memórias, objetos, gravuras, diários, esculturas,
intelectuais e polítcos negros é uma forma de evitar máscaras de flandres e balas
encomedadas, mesmo que o risco de violência seja certo e iminente este deve ser o
norte de todo cientista social que se propõe a pesquisar, analisar, organizar e divulgar a
episteme negra e desta forma contribuir com a Renascença Africana, ideia que em si é a
reunião de conhecimentos da África para o mundo do ponto de vista do africano, aquele
que foi calado, torturado, assassinado, violentado em todas as esferas de sua existência,
esses são fatos históricos que devem ser recuperados e reparados, sem máscaras e sem
execuções.
No Brasil a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei 10.639,
de 9 de janeiro de 2003, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, porém após cinco anos é que de fato fica instituído
a obrigatoriedade do ensino das nossas matrizes culturais através da Lei número 11.645,
de 10 março de 2008.
DESENVOLVIMENTO

Esta pesquisa foi pensada para o ensino de ciências sociais e humanas, seja ele
na educação básica ou formação de professores, o material articula duas figuras
femininas históricas, a escrava Anastácia e Marielle Franco e a construção da ideia de
África que se pretendeu desenhar desde o fim do século XIX, com a valorização da
cultura e o resgate da identidade africana, durante o século XX, com as conquistas e o
processo de estabilização e formação dos “Estados” africanos e reflexões para este novo
século referentes a validação dos conhecimentos produzidos e a universalização da
cultura africana, seja de dentro da África ou fora, “no século XIX, ou no início do
século XX, emergiram os primeiros autores do renascimento africano. Postularam
correntes de pensamento acerca da cultura e da vida social e imaterial do continente dos
baobás”. (SARAIVA, 2015)
Nas primeiras décadas do século XX, ocorreu a crise do método aplicado às
pesquisas em ciências sociais nas associações e sociedades que se formavam, não
apenas na África, mas no mundo todo com o processo de industrialização. Lógico que
em cada espaço geográfico aconteceu de maneira e em tempo diferente, “uma das
primeiras proposições teóricas acerca do renascimento africano foi proposta por Edward
Blyden (1832-1912), há pouco mais de um século, por meio de seu projeto de
explicação da riqueza cosmopolita das culturas africanas”. (SARAIVA,2015) Blyden
tentou explicar o processo de acumulação de riquezas nas metrópoles partindo da
assimilação entre as culturas com enfoque nas bases religiosas, cristianismo e o
islamismo e a convivência de contrários, que marcaria as bases da formação dos estados
africanos, porém suas ideias deixavam de lado os matizes da cultura africana e a questão
racial deixada de lado.
As teorias de Blyden contribuíram para as diásporas americanas e
impulsionaram os movimentos de libertação, no entanto o autor “argumentou que as
construções culturais de fora do continente africano podem e devem ser acolhidas, mas
internalizadas com razão crítica”. (SARAIVA,2015)
A crítica parte das condições históricas materiais e afirma que a universalidade
que não é crítica não percebe as condições a partir das quais ela é gerada, partindo desta
forma de pesquisa e análise de dados que a crítica nos oferece como instrumento de
racionalização de conhecimentos buscou -se associar três perspectivas: 1.) Histórico -
sociais a partir de uma breve cronologia dos movimentos e percursos traçados pelos
pensadores teóricos e políticos da Renascença Africana, 2.) Culturais e religiosas com
foco dado às representações dada a ideia de África produzida por não africanos ligados
às raízes do Baobá, a noção de matriarcado e as filhas da África no Brasil, a escrava
Anastácia e Marielle Franco para aproximarmos a realidade de violência contra a
cultura e religiosidade africana que se estende para campo político – democrático, 3.)
Aspectos legais e econômicos, um panorama dos avanços e investimentos em ações
para a promover a justiça e dignidade humana às populações africanas dentro e fora da
África, bem como a mitigação de conflitos armados.
A racionalidade da crítica, foi necessária para que as análises descritivo-
compreensivas fossem reconhecidas, esta também foi uma das questões durante a
formulação da episteme africana nos séculos XIX e XX, no entanto como toda
materialidade criada pela humanidade está ligada à processos cognitivos e isto envolve
ideias e significados subjetivos, por isso a ideia de focar também nas duas figuras
femininas e interpretá-las a partir de reflexões sobre os três aspectos citados no
parágrafo anterior e suas trajetórias como afro-brasileiras, negras, mulheres e os
processos de anulação da voz e dos conhecimentos sobre a história da África.
O processo de anulação de vozes e conhecimentos de matizes africanas é
chamado de epistemicídio, que sob o olhar de (BOAVENTURA,1997) “o epistemicídio
se constituiu e se constitui em uma das ferramentas mais duradouras e eficazes de
dominação étnico-racial, de modo que pela negação do conhecimento do outro é que se
efetiva a legitimidade das formas de conhecimentos, do conhecimento produzido pelos
grupos dominados e, consequentemente, de seus membros enquanto sujeitos de
conhecimento”.
Aproximar autores que produziram conhecimentos, sejam eles como já foi
mencionado, de dentro e de fora da África, desde os primeiros passos para a sua
emancipação e descolonização e os reflexos de toda esta trajetória revolucionária até a
construção de uma identidade africana à consolidação de aparatos legais (estatais) para
a promoção da justiça social e reparação aos danos materiais e imateriais sofridos pelas
figuras femininas aqui postas em evidência foi possível através da hermenêutica crítica,
que possibilita aos cientistas sociais interpretar a realidade a partir da convergência de
vários pontos para argumentar e justificar a anulação do passado de escravidão,
comercialização e aniquilação dos povos africanos e os reflexos desse processo nas
vidas de mulheres silenciadas ou exterminadas da história em analogia à história da
África que deve ser narrada e socializada em todos os cantos do globo em que há a
presença do continente como fonte de desenvolvimento e processo “civilizatório”.
Essa interpretação empática e singular do outro possibilita ao ser humano
moderno ter todo o passado da humanidade presente em si: para além de todos os
limites de seu próprio tempo ele mira em direção às culturas do passado
(DILTHEY,1999).
Nesta pesquisa a partir da interpretação dos desfechos e enigmas em torno de
duas figuras femininas que foram silenciadas ao lutarem por justiça e igualdade, ambas
ligadas ao movimento de emancipação negra em épocas distintas, percebêssemos que a
História da África e a sua renascença estão entrelaçados à uma mesma questão: o
silenciamento e aniquilamento de um povo e de uma cultura que analisadas de forma
crítica devem ser reveladas e reparadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levar para a sala de aula questões ligadas a História da África vai mais além das
ideias por vezes cristalizadas sobre o continente e seu povo, dentro e de fora do dele,
desviar o foco da mídia, mesmo quando trazem notícias sobre conflitos, pestes, fome e
outras questões sociais enfretadas pelo continente é uma forma de epistemicídio, pois
ficar alheio aos fatos, mesmo que desagradáveis. Por isso que a pesquisa realizada neste
trabalho para dar suporte às temáticas relacionadas a História da África para o ensino
básico, além dos aspectos políticos, sociais, culturais, focar em pessoas, no caso aqui em
duas figuras históricas em diferentes épocas – Anastácia e Marielle - pode proporcionar
ao professor um ponto de partida para traçar um panorâma dos principais aspectos que
levam e levaram o silenciamento dessas mulheres e de um continente todo.
As ideias centrais que devemos ter conhecimento são: epistemicídio e
desenvolvimento econômico e político, cultura e mercado de trabalho, violência e
Estado, essas são noções básicas para a abordagem e discussão a respeito da
represetanção da mulher negra e do continente africano no Brasil e no mundo. O
processo de reconhecimento tanto do continente, quanto da mulher negra é praticamente
o mesmo, foi necessário evidenciar o passado de escravização, as conquistas, o
desenvolvimento humano e os desafios a serem enfrentados como os silenciamentos e
execuções.
Outra perspectiva dada a partir da leitura e interpretação do movimento de
racionalização dos conhecimentos africanos foi a não valorização das contribuições do
povo africano relativo ao desenvolvimento de um sistema mercantil internacional e que
na tentativa de elevar o continente africano à um patamar global são esquecidos, como
se a África para se tornar “civilizada” necessitasse dos modelos que a fragmentou e a
silenciou por séculos. Entende-se a necessidade da valorização da cultura e das ciências
advindas do continente, mas se para isto tanto o continente quanto seus descendentes
precisarem adequar-se aos padrões que os mutililou, serão silenciados e executados
mais uma vez, pois a distância entre as causas e a realidade atual desses filhos da África
são cicatrizes que devem ser revisitadas e ressarcidas.
REFERÊNCIAS

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BRASIL, M. E. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2003.
BRASIL, Lei. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Diário, 1996.
DE SOUZA, M. D. Escrava Anastácia e pretos-velhos. Imaginário, cotidiano e poder,
v. 3, p. 15, 2007.
DILTHEY, W. O surgimento da hermenêutica (1900). Numen, v. 2, n. 1, 1999.
FRANCO, M. UPP–A redução da favela a três letras: uma análise da política de
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FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos. Difusão Europeia do Livro. São
Paulo, 1972.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do espírito. 1992.
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KILOMBA, G. “Descolonizando o conhecimento”, Uma Palestra-Performance de
Grada Kilomba” Tradução: Jessica Oliveira.
_____________. A máscara. Caderno de Literatura em Tradução, v. 16, p. 171-180,
2016.
MARCONDES, M. M. Organizadora et al. Dossiê mulheres negras: retrato das
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Nº, L. E. I. 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Altera a Lei, n. 9.394, 2017.
SANTOS, B. de Sousa. A construção multicultural da igualdade e da diferença. 1999.
__________________. Uma concepção multicultural de direitos humanos. Lua Nova:
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SARAIVA, J. F. S. A África na rdem internacional do século XXI: mudanças
epidérmicas ou ensaios de autonomia decisória? Revista Brasileira de Política
Internacional, v. 51, p. 87-104, 2008.
STEIN, E. Dialética e hermenêutica. Síntese: Revista de Filosofia, v. 10, n. 29, 1983.
VISENTINI, P. F; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos
africanos. Editora Vozes Limitada, 2012.
XAVIER, G; FARIAS, J. B; DOS SANTOS GOMES, F. (Ed.). Mulheres negras no
Brasil escravista e do pós-emancipação. 2012.

LINK`S
Patricia Hill Collins
https://www.boitempoeditorial.com.br/autor/patricia-hill-collins-1608
Kilomba Grada
https://joaocamillopenna.files.wordpress.com/2018/05/kilomba-grada-ensinando-a-
transgredir.pdf

NOTAS
¹Marielle Franco é cria da favela da Maré. É socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em
Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação de
mestrado teve como tema: “UPP: a redução da favela a três letras”. Trabalhou em organizações
da sociedade civil, como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm).
Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo. Tem 39 anos e foi eleita Vereadora da
Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelo PSOL. Mulher, negra, mãe, favelada, Marielle Franco
foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com 46.502 votos.
Iniciou sua militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e
perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no
Complexo da Maré. Ao se tornar mãe aos 19 anos, de uma menina, Marielle também começou a
se constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater essa temática na periferia. As
questões do feminismo, da luta contra o racismo, bem como a defesa dos direitos humanos nas
favelas do país modulam o perfil de seu mandato e seus projetos em busca de um modelo de
cidade mais justo para todos e todas

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