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Especialização em Gestão Ambiental

Legislação Ambiental

Professor Alexander

Semana 03

5. Lei Federal nr 9.605/98 – Crimes Ambientais

A Lei Federal nr 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, a qual dispõe


sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências, é uma
das mais importantes leis ambientais do ordenamento jurídico
brasileiro.
Por esse motivo e, devido a necessidade de aprofundamento,
será objeto de um dos trabalhos a serem produzidos na disciplina de
Legislação Ambiental, conforme Plano de aula e demais documentos
correlatos.
Contendo oitenta e dois artigos, esse diploma legal possui
características mistas de lei materialmente e processualmente penais,
ao estabelecer cominação de penas e o tipo de ação e os trâmites
processuais, respectivamente, por exemplo; administrativa/executiva,
ao versar sobre as infrações administrativas; na classificação de José
Afonso da Silva (2006), normas de eficácia limitada, de caráter
programático, ao estabelecer, por exemplo, a cooperação internacional
por parte do Brasil, nos artigos 77 e 78; e, de caráter civil, como no
caso da possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica
para alcançar o ressarcimento de prejuízo causado (art. 4º).
Como regra, a Ação Penal será Pública Incondicionada, por força
não apenas do artigo 26 da lei em comento, mas também, dentre as
funções constitucionais do Ministério Público insculpida no artigo 129,
I, por se tratar de Direito Difuso, o que não frustra o Direito de Ação
do artigo 5º, LIX, da CRFB/88 (Ação Penal Privada subsidiária da
Pública).

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As responsabilizações penais, civis e administrativas podem ser


aplicadas às pessoas jurídicas, e aos seus responsáveis omissos e
sabedores previamente do ilícito cometido, nos limites da
responsabilidade e proporcionalmente à medida da culpabilidade,
ressalta-se a impossibilidade da restrição de liberdade de pessoa
jurídica. Caso a sentença condenatória incorra em tal restrição, vg,
será convertida em restritiva de direitos.
A Lei Federal nr 9.605/98, estabelece também os limites da
dosimetria da pena, ou seja, definindo os atenuantes, as causas de
diminuição de pena, os agravantes e as causas de aumento da pena.
Quanto aos crimes, são estabelecidos aqueles cometidos contra
a flora, a fauna, o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, a
administração ambiental, de poluição e outros crimes ambientais. São
estabelecidos também os trâmites relativos à apreensão e
recolhimento de produtos ou instrumentos utilizados no cometimento
da infração administrativa e/ou penal ambiental.
Por fim, importa ressaltar, a autorização legal para os órgãos
integrantes do SISNAMA, celebrarem Termos de Compromisso, a título
executivo extrajudicial, com pessoas físicas ou jurídicas, a fim de
corrigir atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, conforme
preconiza o caput do artigo 79-A e seus §§, ficando suspensas, em
relação aos fatos que deram causa à celebração do instrumento, a
aplicação de sanções administrativas contra a pessoa física ou jurídica
que o houver firmado.

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6. Lei Federal nr 12.334/2010 – Política Nacional de


Segurança de Barragens – PNSB.

A Lei Federal nr 12.334, com vigência dada em 20 de setembro


de 2010, estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens –
PNSB, destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à
disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos
industriais, cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança
de Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei no 9.433, de 8 de
janeiro de 1997, e do art. 4o da Lei no 9.984, de 17 de julho de 2000.
Talvez a maior aplicabilidade desta lei seja no território de Minas
Gerais, justamente pelo grande volume de barragens de rejeitos
minerários nesse espaço geográfico e, devido ao alto número de
incidentes e acidentes com barragens de rejeitos em território mineiro,
chegando a incrível média de uma ruptura a cada dois anos,
contabilizados desde a ruptura da barragem de Fernandinho, ocorrido
em 1986 (SILVA, 2017).
Diversas ações foram adotadas em tempos recentes, como por
exemplo a alteração do antigo Departamento Nacional de Produção
Mineral – DNPM, para o regime autárquico especial em formato de
agência reguladora, em específico, a Agência Nacional de Mineração –
ANM, em 2017.
Outrossim, muitos atos normativos e dispositivos legais foram
criados ou alterados, como mencionado, sobretudo, no Estado de
Minas Gerais, em razão aos recentes sinistros de rupturas de barragens
com grandes proporções, com destaque para a Barragem de Fundão,
no complexo Alegria, em Mariana/MG, ocorrido em novembro de 2015,
carreando grandes danos ambientais; e, a Barragem B1 da Mina do
Córrego do Feijão, no complexo Paraopeba em Brumadinho/MG

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ocorrida em janeiro de 2019, desta feita, além dos danos ambientais,


ceifando centenas de vidas humanas.
Dentre as normativas em comento, destacamos a Lei Estadual
nr 23.291, de 25 de fevereiro de 2019, que institui a politica estadual
de segurança de barragens. Tal lei havia recebido o nome, ainda na
fase de projeto, de “Mar de lama nunca mais!”, e vinda se arrastando
desde o pós-sinistro de Mariana/MG, sendo aprovada e sancionada com
muitas alterações um mês após o rompimento da barragem de rejeitos
em Brumadinho/MG.
Dentre as ações legisferantes federais e estaduais mitigadoras
de riscos e preventivas à ruptura de barragens foram estabelecidas
alterações à PNSB, com destaque daquela dada pela Lei Federal nr
14.066, de 30 de setembro de 2020, com alterações substanciais, e
por diversas normas estaduais, como pelos Decretos nr 47.739/2019,
47.866/2020, 48.078/2020, 48.140/2021, além da já mencionada lei
estadual 23.291/2019, entre outros.
A Lei Federal nr 12.334/2010 incluiu no ordenamento pátrio o
conceito de barragem, como sendo estruturas voltadas à acumulação
de água, disposição de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais.
Entretanto, são consideradas em separado, para todos os efeitos
legais, os barramentos de água em relação às barragens de rejeitos,
cabendo ao ato normativo do poder executivo, estabelecer as
diferenciações pontuais, essenciais e técnicas.
A referida lei define também, as características das barragens
rejeitos no que diz respeito à altura e à capacidade mínima, tipo de
resíduo, risco potencial de ruptura e categoria do dano potencial
associado, fundamentais para se estabelecer o nível de segurança em
que a barragem se encontra e ações possíveis em casos de ruptura do
paramento.

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Cabe ressaltar que a classificação de segurança da barragem de


rejeitos leva em consideração o risco de ruptura, observadas as
características e estado de conservação da estrutura, juntamente com
o dano potencial associado ao risco do eventual rompimento, ou seja,
quantifica os danos materiais, ambientais e humanos, a velocidade e
amplitude da onda, a distância da Zona de autossalvamento – ZAS e
da Zona de Segurança Secundária - ZSS3, entre outros, em projeções
nos casos de ruptura da barragem.
Essa classificação de segurança da barragem possui elementos
distintos de avaliação para fixar a classificação final, no que tange a
normativa federal, Resolução CNRH nr 143/2012, e a normativa
estadual em Minas Gerais, Deliberação Normativa COPAM nr 62/2002,
e, em caso de conflito aparente da norma administrativa, sendo
aplicável sempre a mais benéfica ao Meio Ambiente pelos princípios do
in dubio pro societate e do in dubio pro ambiente.
Dentre os instrumentos capitulados para a segurança de
barragens trazidos à baila pela PNSB, destacam-se o Plano de
Segurança de Barragens – PSB, mais especificado a partir do artigo 8º
e o Plano de Ação Emergencial – PAE, tendo um caráter especifico ao
tratar das barragens de rejeitos, sendo regulado pelo Plano de Ação
Emergencial de Barragens de Rejeitos – PAEBM, o qual é especificado
pela Resolução ANM nr 51, de 24 de dezembro de 2020.
O PSB estabelece os critérios e periodicidade das entregas dos
relatórios previstos, das fiscalizações, das regras operacionais, das
identificações gerais dos responsáveis, das revisões de segurança,
entre outros, previstos no artigo 8º.

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ZAS – são aqueles locais imediatamente atingidos pelos rejeitos provenientes da barragem rompida,
onde não é possível a chegada da equipe de resgate antes que os rejeitos atinjam a localidade, restando
às pessoas o chamado autossalvamento. Já a ZSS, são os locais que serão atingidos de forma mediata,
mas que é possível a chegada de apoio e resgate dos atingidos, antes da chegada da “lama”.

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Já o PAE, estabelece as ações a serem executadas pelo


empreendedor da barragem nos diversos casos de incidentes ou de
acidentes, além de identificar os agentes a serem notificados dessa
ocorrência e que atuarão nesses casos. Assim prevendo o artigo 12,

Art. 12. O PAE estabelecerá as ações a serem executadas pelo


empreendedor da barragem em caso de situação de
emergência, bem como identificará os agentes a serem
notificados dessa ocorrência, devendo contemplar, pelo
menos:
I - descrição das instalações da barragem e das possíveis
situações de emergência;
II - procedimentos para identificação e notificação de mau
funcionamento, de condições potenciais de ruptura da
barragem ou de outras ocorrências anormais
III - procedimentos preventivos e corretivos e ações de
resposta às situações emergenciais identificadas nos cenários
acidentais;
IV - programas de treinamento e divulgação para os
envolvidos e para as comunidades potencialmente afetadas,
com a realização de exercícios simulados periódicos; ;
V - atribuições e responsabilidades dos envolvidos e
fluxograma de acionamento;
VI - medidas específicas, em articulação com o poder público,
para resgatar atingidos, pessoas e animais, para mitigar
impactos ambientais, para assegurar o abastecimento de água
potável e para resgatar e salvaguardar o patrimônio cultural;
VII - dimensionamento dos recursos humanos e materiais
necessários para resposta ao pior cenário identificado;
VIII - delimitação da Zona de Autossalvamento (ZAS) e da
Zona de Segurança Secundária (ZSS), a partir do mapa de
inundação referido no inciso XI do caput do art. 8º desta Lei;
IX - levantamento cadastral e mapeamento atualizado da
população existente na ZAS, incluindo a identificação de
vulnerabilidades sociais;
X - sistema de monitoramento e controle de estabilidade da
barragem integrado aos procedimentos emergenciais;
XI - plano de comunicação, incluindo contatos dos
responsáveis pelo PAE no empreendimento, da prefeitura
municipal, dos órgãos de segurança pública e de proteção e
defesa civil, das unidades hospitalares mais próximas e das
demais entidades envolvidas;
XII - previsão de instalação de sistema sonoro ou de outra
solução tecnológica de maior eficácia em situação de alerta ou
emergência, com alcance definido pelo órgão fiscalizador;
XIII - planejamento de rotas de fuga e pontos de encontro,
com a respectiva sinalização. (BRASIL, 2010).

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Como mencionado, o PAEBM restringirá e assegurará com mais


efetividade as ações voltadas especificamente às estruturas de
barramentos de rejeitos.
Por fim, outro destaque se dá às inovações trazidas pela Lei
Federal nr 14.066/2020, já suso mencionada, em pelo menos dois
aspectos. O primeiro, no que tange as infrações, sanções e o dever de
reparação, adotando-se para tanto a teoria do risco integral, ou seja,
independendo de culpa, tendo por tanto, aperfeiçoado e agravado as
respectivas cominações de penas.
A segunda modificação, diz respeito a proibição de alteamentos
pelos métodos denominados á montante, além da obrigatoriedade de
descaracterização dos paramentos alteados por esse método até 25 de
fevereiro de 2022, podendo esse prazo ser prorrogado pelo órgão
competente integrante do SISNAMA, atendidos alguns critérios
específicos.

Literatura complementar Sugerida (livro): SILVA, Alexander, Sociedade de risco e as


barragens de rejeitos, 2017, Rio de Janeiro: Lumen Juris. 167p.

Literatura complementar Sugerida (artigo): SILVA, Alexander; BRAGA, Raquel L.M.S.,


Considerações basilares sobre o plano de ação emergencial – PAE e sobre a
metodologia DAM BREAK na análise de rupturas de barragens de rejeitos minerais,
2017, Curitiba:CONPEDI.
Em http://site.conpedi.org.br/publicacoes/t5ssa9m9/ldlvg3y6/DvuI3m3u8XSKkd0M.pdf

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