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Do Contrato Social
Do Contrato Social
O ponto inicial da maior parte dessas teorias é o exame da condição humana na ausência
de qualquer ordem social estruturada, normalmente chamada de "estado de natureza".
Nesse estado, as ações dos indivíduos estariam limitadas apenas por seu poder e sua
consciência. Desse ponto em comum, os proponentes das teorias do contrato social
tentam explicar, cada um a seu modo, como foi do interesse racional do indivíduo
abdicar da liberdade que possuiria no estado de natureza para obter os benefícios da
ordem política.
Thomas Hobbes
Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se
concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. O Estado não pode
estar sujeito às leis por ele criadas pois isso seria infringir sua soberania. Para ele, a
Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca,
que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas[2] e presidir
o culto. Neste sentido, critica a livre interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por,
de certa forma, enfraquecer o monarca. Sua filosofia política foi analisada pelo cientista
político Richard Tuck como uma resposta para os problemas que o método
cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta que só podemos
conhecer algo do mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele ("Só
existe o que meus sentidos percebem"). Esta filosofia é vista como uma tentativa de
embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões
em si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir
no sentido de preservar sua própria vida. A partir desse imperativo, Hobbes constrói
toda sua filosofia política.
Segundo Hobbes, o ser humano não nasce livre, pois somente podemos nos considerar
realmente livres quando somos capazes de avaliar as consequências, boas ou más, das
nossas ações.
Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros
assuntos, oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse
próprio. Foi contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a
obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último.
O primeiro filósofo moderno que articulou uma teoria contratualista detalhada foi
Thomas Hobbes (1588-1679). Na obra Leviatã, explicou os seus pontos de vista sobre
a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades.
Condições pré-contrato
Dadas essas características dos homens e o estado de natureza que eles se encontram
antes do estabelecimento do Estado, em que não há leis e todos são completamente
livres para fazerem o que quiserem, sendo os juízes dos seus próprios atos, iguais e
desejantes das mesmas coisas, surge, quase que de forma inevitável, a competição entre
esses indivíduos. Haja vista que não há recursos suficientes para todos e quando dois
corpos querem um mesmo fim, tendo a mesma capacidade, logo entrarão em choque.
Nesse sentido surge um clima de guerra de todos contra todos, estando-se nesta
condição todos são inimigos, tendo que se tenta antecipar o que o outro está tramando a
julgar que ele tem a intenção de atacar, se deve atacar antes para poder se defender. [5] A
antecipação é um dos meios mais seguros para se conservar e subjugar o maior número
de pessoas, até o necessário para não haver um poder suficientemente grande para
ameaçá-lo. Devido a essa competição e o desprezo que os homens têm uns aos outros no
estado natural, que Hobbes usa a famosa citação de “o homem é lobo do homem”. No
entanto, nessa situação é apenas um clima de guerra, pois a procura da conservação da
vida leva também ao medo de perder a vida, tentando assim se evitar ao máximo o
combate. Não estando todos efetivamente lutando a todo o momento uns contra os
outros, mas sempre se sentindo ameaçado pelo o outro e achando que será atacado, pois
não há nada que impeça que isso ocorra.
Contrato
Diante dessa situação surge a necessidade de algo que garanta que os outros não me
ataquem, além de garantir que os contratos feitos, assim como os direitos, sejam
garantidos. A questão do contrato surge devido ele ser uma transferência mútua de
direito, em que uma pessoa por meios de sinais transfere um direito que era dela para
outra pessoa. Hobbes tem uma concepção de que toda a sociedade se baseia em
contratos, de todas as espécies, pois para estabelecer uma troca se faz necessário ter um
contrato, assim como outras diversas situações é necessário uma transferência de
direitos. Os contratos são estabelecidos por sinais, podem ser expressos ou inferenciais.
Os expressos são palavras que indicam a transferência e compreendem aquilo que
significam, como abdico, dou, vendo, quero que isto seja teu, dei. Eles podem estar no
presente, passado ou futuro. Os sinais inferenciais são consequências dos gestos, ações,
do silêncio, da omissão de ações que indiquem a transferência. Os sinais expressos por
meio de palavras no futuro são intitulados como promessa, devido à ausência de
transferência automática de direito. Pois o indivíduo ao
dizer abdicarei, darei, entregarei, não está fazendo um contrato mútuo e sim um pacto.
Já que ele promete algo em troca do recebimento de algum direito. [6] Na condição de
simples natureza não há como estabelecer pactos. Visto que nessa situação nunca será
possível isso, já que ninguém irá beneficiar outro, uma vez que não tem a mínima
garantia de que a promessa será cumprida. E na mínima desconfiança se torna nulo o
pacto. Pois ao transferir um direito sem ganhar nada em troca e, estando no estado de
natureza, estaria abrindo mão do seu próprio meio de vida, de conservação. A
obrigatoriedade do pacto assim é quebrada, sendo necessário algum agente externo para
se estabelecer o pacto e garantias, isto é, o Estado. Para isso é necessário que cada um
abra mão de parte da sua total liberdade para poder haver algum poder que garanta a sua
própria vida, seus direitos e o cumprimento de contratos. [7]
O contrato social
Assim se faz necessário que haja o Estado e ele é estabelecido a partir de contratos entre
os próprios homens, em que eles abrem mão de parte de sua liberdade e transfere diretos
ao estado para ele poder garantir por meio da força, o cumprimento de outros contratos
e assim o fim do clima de guerra. O estado pactua com cada um dos homens e garante a
cada um que a sua parte do contrato seja cumprida, sendo assim o pacto é recíproco. No
Leviatã, Hobbes diz: ”Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de
homens concorda e pactua, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem
ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a
pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os
que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os
atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, tal como se fossem seus
próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos
dos restantes homens.”[8]
=== John Locke e o Segundo tratado sobre o g O modelo de Locke é, em sua estrutura,
semelhante ao de Hobbes, entretanto, os dois autores tiram conclusões completamente
diferentes no que concerne ao modo como nos submetemos a esse Estado Civil, nossa
função nele e como se dá o estabelecimento do contrato. Ambos iniciam seu
pensamento focando num estado de natureza, que, através do contrato social, vai se
tornar o estado civil.
É grande a diferença entre Hobbes e Locke no modo como esses três componentes são
entendidos. Para Locke, o estado de natureza não foi um período histórico, mas é uma
situação que pode existir independentemente do tempo. O estado de natureza dá se
quando uma comunidade se encontra sem uma autoridade superior ou relação de
submissão. Logo o Estado, para Locke, tem uma função muito diferente daquele que é
idealizado por Hobbes. Enquanto este verifica no Estado o único ente capaz de coibir a
natureza humana e dar coesão ao Estado sob a égide da figura absoluta, o Estado
lockeano é apenas o guardião que apenas centraliza as funções administrativas.
É nessa relação que vemos uma das principais diferenças no contrato social apresentado
por Hobbes e Locke. Diferente do estado absoluto de Hobbes, que deve ter em seu
governante a absoluta confiança e não questioná-lo jamais, para Locke essa relação
funciona de maneira distinta. Uma vez que a relação estado-indivíduo é baseada em
uma relação de consentimento e confiança, é totalmente possível que, se o governante
quebrar a confiança, agindo por má-fé ou não garantindo os direitos individuais, a
segurança jurídica e a propriedade privada, ou, ainda, não garantindo os direitos
naturais, que uma vez dados por Deus seria impossível alguém cerceá-los, o povo se
revolte e o destitua do cargo. É um pensamento inédito, já que na filosofia política
corrente à época jamais se poderia questionar o poder do governante, uma vez que teria
sido dado por Deus. É na justificativa de que, uma vez que o governante não respeite os
direitos naturais dados por Deus, era dever do povo questionar o poder e rebelar-se.
Passada a fase de estabelecimento do contrato, deve ser marcado pela distinção entre
executivo e legislativo, com predomínio do segundo e com a garantia que os direitos
naturais seriam preservados.[10][11]
No início, Jean-Jacques Rousseau questiona por que o homem vive em sociedade e por
que se priva de sua liberdade. Vê num rei e seu povo o senhor e seu escravo, pois o
interesse de um só homem será sempre o interesse privado. Os homens, para se
conservarem, se agregam e formam um conjunto de forças com objetivo único.
Rousseau diz que a liberdade é inerente à lei livremente aceita. "Seguir o impulso de
alguém é escravidão, mas obedecer uma lei auto-imposta é liberdade". Considera a
liberdade um direito e um dever ao mesmo tempo. A liberdade lhes pertence e renunciar
a ela é renunciar à própria qualidade de homem.
Quando o povo institui uma lei de alcance geral, forma-se uma relação. A matéria e a
vontade que fazem o estatuto são gerais, e a isso Rousseau chama lei. A República é
todo estado regido por leis. Mesmo a monarquia pode ser uma república. O povo
submetido às leis deve ser o autor delas. Mas o povo não sabe criar leis, é preciso um
legislador. Rousseau admite que é uma tarefa difícil encontrar um bom legislador. Um
legislador deve fazer as leis de acordo com a vontade do povo.
Rousseau reforça o contrato social através de sanções rigorosas que acreditava serem
necessárias para a manutenção da estabilidade política do Estado por ele preconizado.
Propõe a introdução de uma espécie de religião civil, ou profissão de fé cívica, a ser
obedecida pelos cidadãos que, depois de aceitarem-na, deveriam segui-la sob pena de
morte. Mas Rousseau também ficava em dúvida sobre até que ponto a pena de
morte seria válida, pois como era possível o homem saber se um criminoso não podia se
regenerar já que o estado sempre demonstrava fraqueza em alguns momentos. "Não
existe malvado que não possa servir de coisa alguma" pág:46
Os governantes, ou magistrados, não devem ser numerosos para não se enfraquecer sua
função, pois quanto mais atuam sobre si mesmos, menos dedicam-se ao todo. Na pessoa
do magistrado há três vontades diferentes: a do indivíduo, a vontade comum dos
magistrados e a vontade do povo, que é a principal.
Rousseau conclui seu "Contrato social" com um capítulo sobre religião. Para começar,
Rousseau é claramente hostil à religião como tal, mas tem sérias restrições contra pelo
menos três tipos de religião. Rousseau distingue a "religião do homem" que pode ser
hierarquizada ou individual, e a "religião do cidadão". A religião do homem
hierarquizada é organizada e multinacional. Não é incentivadora do patriotismo, mas
compete com o estado pela lealdade dos cidadãos. Este é o caso do Catolicismo, para
Rousseau.
Do ponto de vista do estado, a religião nacional ou religião civil é a preferível. Ele diz
que "ela reúne adoração divina a um amor da Lei, e que, em fazendo a pátria o objeto da
adoração do cidadão, ela ensina que o serviço do estado é o serviço do Deus tutelar". O
Estado não deveria estabelecer uma religião, mas deveria usar a lei para banir qualquer
religião que seja socialmente prejudicial. Para que fosse legal, uma religião teria que
limitar-se a ensinar. "A existência de uma divindade onipotente, inteligente, benevolente
que prevê e provê; uma vida após a morte; a felicidade do justo; a punição dos
pecadores; a sacralidade do contrato social e da lei". O fato de que o estado possa banir
a religião considerada social deriva do princípio da supremacia da vontade geral (que
existe antes da fundação do Estado) à vontade da maioria (que se manifesta depois de
constituído o Estado), ou seja, se todos querem o bem estar social, e se uma maioria
deseja uma religião que vai contra essa primeira vontade, essa maioria terá que ser
reprimida pelo governo.
Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os
homens, ao nascer, tinham direitos naturais — direito à vida, à liberdade e
à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos.
Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o
povo tinha o direito de se revoltar contra eles. A falha do Estado de Natureza levam à tal
invasão da propriedade e, devido a tal, cria-se um contrato social para que haja transição
do Estado de Natureza à Sociedade Política. As pessoas podiam contestar um governo
injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões. Locke ainda diz que se o governo
viola ou deixa de garantir o direito dos indivíduos à propriedade o povo tem o direito a
resistência ao governo tirano. O que define a tirania é o exercício do poder para além do
direito, visando o interesse e não o bem público ou comum. Frontispício de An Essay
concerning Human Understanding (1690).
Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, contrastando com a história trágica
da brutal repressão aos protestantes na França no século XVI e a própria
intolerância e zelo religioso radical de Calvino em Genebra, o nome de John Locke
está intimamente associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses
aprenderam a valorizar apenas na década de 1680, quase às portas do Iluminismo.
Como Voltaire afirmou, a tolerância é, para os franceses, um artigo de importação.
Bernard Cottret afirma: A tolerância é o produto de um espaço geográfico
específico, nomeadamente o noroeste da Europa. Ou seja: a Inglaterra e os Países
Baixos. E ela é, no final, em especial, a obra de um homem — John Locke — a
quem o século XVII dedica um culto permanente.[7]
Dentre os escritos políticos, a obra mais influente de Locke foi Dois Tratados sobre
o Governo (1689). O Primeiro Tratado é um ataque ao patriarcalismo, e o segundo
introduz uma teoria da sociedade política ou sociedade civil baseada nos direitos
naturais e no contrato social. Segundo Locke, todos são iguais, e a cada um deverá
ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este
fundamento, deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada, ao
declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer
indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele, ao acrescentar
seu trabalho aos recursos naturais. Este tratado também introduziu a chamada
"cláusula lockeana", que resume a teoria da propriedade-trabalho de John Locke: os
indivíduos têm direito de se apropriar da terra em que trabalham desde que isso não
cause prejuízo aos demais. O direito de se apropriar privadamente de parte da terra
comum a todos seria pois limitado pela consideração de que ainda houvesse
bastante [terra] igualmente boa e mais do que aqueles ainda não providos
pudessem usar.[8] Em outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente
apropriar-se dos recursos naturais mas também tem que considerar o bem comum.