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Do contrato social

livro de Jean-Jacques Rousseau, veja  Do contrato social.

Contrato social (ou contratualismo) indica uma classe de teorias que tentam explicar


os caminhos que levam as pessoas a formarem Estados e/ou manterem a ordem social.
Essa noção de contrato traz implícito que as pessoas abrem mão de certos direitos para
um governo ou outra autoridade a fim de obter as vantagens da ordem social. Nesse
prisma, o contrato social seria um acordo entre os membros da sociedade, pelo qual
reconhecem a autoridade, igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um
regime político ou de um governante.

O ponto inicial da maior parte dessas teorias é o exame da condição humana na ausência
de qualquer ordem social estruturada, normalmente chamada de "estado de natureza".
Nesse estado, as ações dos indivíduos estariam limitadas apenas por seu poder e sua
consciência. Desse ponto em comum, os proponentes das teorias do contrato social
tentam explicar, cada um a seu modo, como foi do interesse racional do indivíduo
abdicar da liberdade que possuiria no estado de natureza para obter os benefícios da
ordem política.

As teorias sobre o contrato social se difundiram entre os séculos XVI e XVIII[1] como


forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, portanto, das
obrigações políticas dos governados ou súditos. Thomas Hobbes (1651), John
Locke (1689) e Jean-Jacques Rousseau (1762) são os mais famosos filósofos do
contratualismo.

Teorias / Estado de natureza

Teóricos do contrato social, como Hobbes e Locke, postulavam um "estado de natureza"


original em que não haveria nenhuma autoridade política e argumentavam que era do
interesse de cada indivíduo entrar em acordo com os demais para estabelecer um
governo comum. Os termos desse acordo é que determinariam a forma e alcance do
governo estabelecido: absoluto, segundo Hobbes; limitado constitucionalmente,
segundo John Locke. Na concepção não absolutista do poder, considerava-se que, caso
o governo ultrapassasse os limites estipulados, o contrato estaria quebrado e os sujeitos
teriam o direito de se rebelar.
Recentemente, a tradição das teorias do contrato social ganhou nova força,
principalmente nas obras do filósofo político norte-americano John Rawls (1921-2002)
sobre as questões da justiça distributiva e nas dos teóricos das 'escolhas racionais
públicas' dos governantes e homens públicos, que discutem os limites da atividade do
Estado.

Thomas Hobbes

 (5 de abril de 1588 – 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico


político e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Na obra Leviatã,
explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de
um governo e de uma sociedade fortes. No estado natural, embora alguns homens
possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima
dos demais de forma a estar isento do medo de que outro homem lhe possa fazer mal.
Por isso, cada um de nós tem direito a tudo e, uma vez que todas as coisas são escassas,
existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto,
os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com
a guerra e, por isso, formam sociedades através de um contrato social.[1]

De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os


membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, de forma que a autoridade
possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja
um monarca ou uma assembleia (que pode, até mesmo, ser composta de todos, caso em
que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. A
teoria política do Leviatã mantém, no essencial, as ideias de suas duas obras
anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações
entre Igreja e Estado).

Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se
concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. O Estado não pode
estar sujeito às leis por ele criadas pois isso seria infringir sua soberania. Para ele, a
Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca,
que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas[2] e presidir
o culto. Neste sentido, critica a livre interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por,
de certa forma, enfraquecer o monarca. Sua filosofia política foi analisada pelo cientista
político Richard Tuck como uma resposta para os problemas que o método
cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta que só podemos
conhecer algo do mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele ("Só
existe o que meus sentidos percebem"). Esta filosofia é vista como uma tentativa de
embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões
em si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir
no sentido de preservar sua própria vida. A partir desse imperativo, Hobbes constrói
toda sua filosofia política.

Segundo Hobbes, o ser humano não nasce livre, pois somente podemos nos considerar
realmente livres quando somos capazes de avaliar as consequências, boas ou más, das
nossas ações. 

Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros
assuntos, oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse
próprio. Foi contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a
obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último.

Thomas Hobbes e o 'Leviatã' (1651)

O primeiro filósofo moderno que articulou uma teoria contratualista detalhada foi
Thomas Hobbes (1588-1679). Na obra Leviatã, explicou os seus pontos de vista sobre
a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades.

Condições pré-contrato

Thomas Hobbes no livro Leviatã (1651), tenta pensar de forma progressista a formação


da sociedade, desenvolvendo não um estudo histórico, nem uma hipótese realista, mas
um estudo teórico, uma espécie de experimento mental, da constituição do estado, a
partir dos seus próprios elementos. Ele usa uma concepção atomista, desenvolvendo um
pensamento a partir dos elementos mais básicos e singulares que constitui a sociedade e
o Estado, que ele dá o nome de Leviatã. Sendo o Leviatã um monstro, no sentido de
enorme e poderoso, tendo até vida própria. A questão da vida do Leviatã está associada
à concepção de vida como movimento, pois para Hobbes tudo que se move por conta
própria teria vida, podendo assim dizer que o Estado tem vida. [2] Os elementos básicos
que Hobbes usa para pensar uma sociedade antes mesmo de ela existir são os
indivíduos, os homens. Estes se encontram no estado de natureza, em que não existe o
Estado, não existe nenhuma jurisdição sobre nada, onde todos são iguais, no sentido de
que apesar de serem diferentes fisicamente e espiritualmente, quando se leva todo o
conjunto de possibilidades que um homem tem, não há tanta diferença assim, pois
quando um é mais forte que outro esse outro pode ser mais sagaz e articular meios para
matar o outro, por maquinação ou associação com outros. [3] Sendo assim todos tem
capacidade de conseguir as mesmas coisas. Além de serem iguais nas capacidades esses
indivíduos, seres isolados, são todos constituídos das mesmas características, devido a
uma natureza. Essa natureza os faz desejarem as mesmas coisas, já que tem as mesmas
paixões e principalmente tem o elemento pulsante de conservação de vida
(conatus). [4] Hobbes não constrói essas características da natureza humana apenas por
especulação, ele retira essa concepção por meio da observação do próprio homem, que
em sociedade ainda as expressam, apesar de não estarem mais no estado de natureza.

Dadas essas características dos homens e o estado de natureza que eles se encontram
antes do estabelecimento do Estado, em que não há leis e todos são completamente
livres para fazerem o que quiserem, sendo os juízes dos seus próprios atos, iguais e
desejantes das mesmas coisas, surge, quase que de forma inevitável, a competição entre
esses indivíduos. Haja vista que não há recursos suficientes para todos e quando dois
corpos querem um mesmo fim, tendo a mesma capacidade, logo entrarão em choque.
Nesse sentido surge um clima de guerra de todos contra todos, estando-se nesta
condição todos são inimigos, tendo que se tenta antecipar o que o outro está tramando a
julgar que ele tem a intenção de atacar, se deve atacar antes para poder se defender. [5] A
antecipação é um dos meios mais seguros para se conservar e subjugar o maior número
de pessoas, até o necessário para não haver um poder suficientemente grande para
ameaçá-lo. Devido a essa competição e o desprezo que os homens têm uns aos outros no
estado natural, que Hobbes usa a famosa citação de “o homem é lobo do homem”. No
entanto, nessa situação é apenas um clima de guerra, pois a procura da conservação da
vida leva também ao medo de perder a vida, tentando assim se evitar ao máximo o
combate. Não estando todos efetivamente lutando a todo o momento uns contra os
outros, mas sempre se sentindo ameaçado pelo o outro e achando que será atacado, pois
não há nada que impeça que isso ocorra.

Contrato

Diante dessa situação surge a necessidade de algo que garanta que os outros não me
ataquem, além de garantir que os contratos feitos, assim como os direitos, sejam
garantidos. A questão do contrato surge devido ele ser uma transferência mútua de
direito, em que uma pessoa por meios de sinais transfere um direito que era dela para
outra pessoa. Hobbes tem uma concepção de que toda a sociedade se baseia em
contratos, de todas as espécies, pois para estabelecer uma troca se faz necessário ter um
contrato, assim como outras diversas situações é necessário uma transferência de
direitos. Os contratos são estabelecidos por sinais, podem ser expressos ou inferenciais.
Os expressos são palavras que indicam a transferência e compreendem aquilo que
significam, como abdico, dou, vendo, quero que isto seja teu, dei. Eles podem estar no
presente, passado ou futuro. Os sinais inferenciais são consequências dos gestos, ações,
do silêncio, da omissão de ações que indiquem a transferência. Os sinais expressos por
meio de palavras no futuro são intitulados como promessa, devido à ausência de
transferência automática de direito. Pois o indivíduo ao
dizer abdicarei, darei, entregarei, não está fazendo um contrato mútuo e sim um pacto.
Já que ele promete algo em troca do recebimento de algum direito. [6] Na condição de
simples natureza não há como estabelecer pactos. Visto que nessa situação nunca será
possível isso, já que ninguém irá beneficiar outro, uma vez que não tem a mínima
garantia de que a promessa será cumprida. E na mínima desconfiança se torna nulo o
pacto. Pois ao transferir um direito sem ganhar nada em troca e, estando no estado de
natureza, estaria abrindo mão do seu próprio meio de vida, de conservação. A
obrigatoriedade do pacto assim é quebrada, sendo necessário algum agente externo para
se estabelecer o pacto e garantias, isto é, o Estado. Para isso é necessário que cada um
abra mão de parte da sua total liberdade para poder haver algum poder que garanta a sua
própria vida, seus direitos e o cumprimento de contratos. [7]

O contrato social

Assim se faz necessário que haja o Estado e ele é estabelecido a partir de contratos entre
os próprios homens, em que eles abrem mão de parte de sua liberdade e transfere diretos
ao estado para ele poder garantir por meio da força, o cumprimento de outros contratos
e assim o fim do clima de guerra. O estado pactua com cada um dos homens e garante a
cada um que a sua parte do contrato seja cumprida, sendo assim o pacto é recíproco. No
Leviatã, Hobbes diz: ”Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de
homens concorda e pactua, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem
ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a
pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os
que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os
atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, tal como se fossem seus
próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos
dos restantes homens.”[8]

=== John Locke e o Segundo tratado sobre o g O modelo de Locke é, em sua estrutura,
semelhante ao de Hobbes, entretanto, os dois autores tiram conclusões completamente
diferentes no que concerne ao modo como nos submetemos a esse Estado Civil, nossa
função nele e como se dá o estabelecimento do contrato. Ambos iniciam seu
pensamento focando num estado de natureza, que, através do contrato social, vai se
tornar o estado civil.

É grande a diferença entre Hobbes e Locke no modo como esses três componentes são
entendidos. Para Locke, o estado de natureza não foi um período histórico, mas é uma
situação que pode existir independentemente do tempo. O estado de natureza dá se
quando uma comunidade se encontra sem uma autoridade superior ou relação de
submissão. Logo o Estado, para Locke, tem uma função muito diferente daquele que é
idealizado por Hobbes. Enquanto este verifica no Estado o único ente capaz de coibir a
natureza humana e dar coesão ao Estado sob a égide da figura absoluta, o Estado
lockeano é apenas o guardião que apenas centraliza as funções administrativas.

O contrato social, para Locke, surge de duas características fundamentais: a confiança e


o consentimento. Para Locke, os indivíduos de uma comunidade política consentem a
uma administração com a função de centralizar o poder público. Uma vez que esse
consentimento é dado, cabe ao governante retribuir essa delegação de poderes dada
agindo de forma a garantir os direitos individuais, assegurar segurança jurídica,
assegurar o direito à propriedade privada ( vale ressaltar que para Locke, a propriedade
privada não é só, de fato, terra ou imóveis, mas tudo que é produzido com o seu trabalho
e esforço, ou do que é produzido pelas suas posses nesta mesma relação ) a esse
indivíduo, sendo efetivado para aprofundar ainda mais os direitos naturais, dados por
Deus, que o indivíduo já possuía no estado natural.[9]

É nessa relação que vemos uma das principais diferenças no contrato social apresentado
por Hobbes e Locke. Diferente do estado absoluto de Hobbes, que deve ter em seu
governante a absoluta confiança e não questioná-lo jamais, para Locke essa relação
funciona de maneira distinta. Uma vez que a relação estado-indivíduo é baseada em
uma relação de consentimento e confiança, é totalmente possível que, se o governante
quebrar a confiança, agindo por má-fé ou não garantindo os direitos individuais, a
segurança jurídica e a propriedade privada, ou, ainda, não garantindo os direitos
naturais, que uma vez dados por Deus seria impossível alguém cerceá-los, o povo se
revolte e o destitua do cargo. É um pensamento inédito, já que na filosofia política
corrente à época jamais se poderia questionar o poder do governante, uma vez que teria
sido dado por Deus. É na justificativa de que, uma vez que o governante não respeite os
direitos naturais dados por Deus, era dever do povo questionar o poder e rebelar-se.

Passada a fase de estabelecimento do contrato, deve ser marcado pela distinção entre
executivo e legislativo, com predomínio do segundo e com a garantia que os direitos
naturais seriam preservados.[10][11]

Rousseau e O Contrato Social (1762)

No início, Jean-Jacques Rousseau questiona por que o homem vive em sociedade e por
que se priva de sua liberdade. Vê num rei e seu povo o senhor e seu escravo, pois o
interesse de um só homem será sempre o interesse privado. Os homens, para se
conservarem, se agregam e formam um conjunto de forças com objetivo único.

No contrato social, os bens são protegidos e a pessoa, unindo-se às outras, obedece a si


mesma, conservando a liberdade. O pacto social pode ser definido quando "cada um de
nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral".

Rousseau diz que a liberdade é inerente à lei livremente aceita. "Seguir o impulso de
alguém é escravidão, mas obedecer uma lei auto-imposta é liberdade". Considera a
liberdade um direito e um dever ao mesmo tempo. A liberdade lhes pertence e renunciar
a ela é renunciar à própria qualidade de homem.

O "Contrato social", ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais, encara o


Estado como objeto de um contrato no qual os indivíduos não renunciam a seus direitos
naturais, mas ao contrário, entram em acordo para a proteção desses direitos, onde o
Estado é criado para preservar. O Estado é a unidade e, como tal, representa a vontade
geral, que não é o mesmo que a vontade de todos. Em Rousseau existem vários níveis
de vontade: a vontade geral, que se trata da vontade do corpo formado por toda a
comunidade política (por todos os cidadãos); a vontade particular de um indivíduo ou
de um grupo formado apenas por uma pequena parcela dos indivíduos da sociedade; e
a vontade de todos, que é a soma de todas as vontades particulares e que não deve ser
confundida com a vontade geral. A vontade geral, conforme dito, somente pode existir e
ser estabelecida por uma comunidade política legítima, dentro de uma República.

Quando o povo institui uma lei de alcance geral, forma-se uma relação. A matéria e a
vontade que fazem o estatuto são gerais, e a isso Rousseau chama lei. A República é
todo estado regido por leis. Mesmo a monarquia pode ser uma república. O povo
submetido às leis deve ser o autor delas. Mas o povo não sabe criar leis, é preciso um
legislador. Rousseau admite que é uma tarefa difícil encontrar um bom legislador. Um
legislador deve fazer as leis de acordo com a vontade do povo.

Rousseau reforça o contrato social através de sanções rigorosas que acreditava serem
necessárias para a manutenção da estabilidade política do Estado por ele preconizado.
Propõe a introdução de uma espécie de religião civil, ou profissão de fé cívica, a ser
obedecida pelos cidadãos que, depois de aceitarem-na, deveriam segui-la sob pena de
morte. Mas Rousseau também ficava em dúvida sobre até que ponto a pena de
morte seria válida, pois como era possível o homem saber se um criminoso não podia se
regenerar já que o estado sempre demonstrava fraqueza em alguns momentos. "Não
existe malvado que não possa servir de coisa alguma" pág:46

Os governantes, ou magistrados, não devem ser numerosos para não se enfraquecer sua
função, pois quanto mais atuam sobre si mesmos, menos dedicam-se ao todo. Na pessoa
do magistrado há três vontades diferentes: a do indivíduo, a vontade comum dos
magistrados e a vontade do povo, que é a principal.

Rousseau conclui seu "Contrato social" com um capítulo sobre religião. Para começar,
Rousseau é claramente hostil à religião como tal, mas tem sérias restrições contra pelo
menos três tipos de religião. Rousseau distingue a "religião do homem" que pode ser
hierarquizada ou individual, e a "religião do cidadão". A religião do homem
hierarquizada é organizada e multinacional. Não é incentivadora do patriotismo, mas
compete com o estado pela lealdade dos cidadãos. Este é o caso do Catolicismo, para
Rousseau.

Do ponto de vista do estado, a religião nacional ou religião civil é a preferível. Ele diz
que "ela reúne adoração divina a um amor da Lei, e que, em fazendo a pátria o objeto da
adoração do cidadão, ela ensina que o serviço do estado é o serviço do Deus tutelar". O
Estado não deveria estabelecer uma religião, mas deveria usar a lei para banir qualquer
religião que seja socialmente prejudicial. Para que fosse legal, uma religião teria que
limitar-se a ensinar. "A existência de uma divindade onipotente, inteligente, benevolente
que prevê e provê; uma vida após a morte; a felicidade do justo; a punição dos
pecadores; a sacralidade do contrato social e da lei". O fato de que o estado possa banir
a religião considerada social deriva do princípio da supremacia da vontade geral (que
existe antes da fundação do Estado) à vontade da maioria (que se manifesta depois de
constituído o Estado), ou seja, se todos querem o bem estar social, e se uma maioria
deseja uma religião que vai contra essa primeira vontade, essa maioria terá que ser
reprimida pelo governo.

John Locke (Wrington, 29 de agosto de 1632 – Harlow, 28 de outubro de 1704) foi


um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo",[1] sendo considerado o
principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato
social.[2]
Locke ficou conhecido como o fundador do empirismo, além de defender a liberdade e
a tolerância religiosa. Como filósofo, pregou a teoria da tábula rasa, segundo a qual a
mente humana era como uma folha em branco, que se preenchia apenas com a
experiência. Essa teoria é uma crítica à doutrina das ideias inatas de Platão, segundo a
qual princípios e noções são inerentes ao conhecimento humano e existem
independentemente da experiência.[3]
Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria
sobre a origem e a natureza do conhecimento.
Um dos objetivos de Locke é a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato
social e outras bases. Opondo-se a Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-
natureza, os homens não vivem de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida
pacífica explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres e iguais.
A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de governo consentido, pelos
governados, da autoridade constituída e o respeito ao direito natural do ser humano — à
vida, à liberdade e à propriedade. Influencia, portanto, as modernas revoluções
liberais: Revolução Inglesa, Revolução Americana e a fase inicial da Revolução
Francesa, oferecendo-lhes uma justificação da revolução e da forma do novo governo.
Locke costuma ser incluído entre os empiristas britânicos, ao lado de David
Hume e George Berkeley, principalmente por sua obra relativa a
questões epistemológicas. Em ciência política, costuma ser classificado na escola do
direito natural ou jusnaturalismo.[2]

Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os
homens, ao nascer, tinham direitos naturais — direito à vida, à liberdade e
à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos.
Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o
povo tinha o direito de se revoltar contra eles. A falha do Estado de Natureza levam à tal
invasão da propriedade e, devido a tal, cria-se um contrato social para que haja transição
do Estado de Natureza à Sociedade Política. As pessoas podiam contestar um governo
injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões. Locke ainda diz que se o governo
viola ou deixa de garantir o direito dos indivíduos à propriedade o povo tem o direito a
resistência ao governo tirano. O que define a tirania é o exercício do poder para além do
direito, visando o interesse e não o bem público ou comum. Frontispício de An Essay
concerning Human Understanding (1690).

Outra constante na obra de Locke é do papel dos poderes na organização do Estado,


sendo o legislativo o poder supremo, sobrepondo-se ao executivo e federativo. Assim,
há no Estado um poder limitado, pois quando esse órgão criado pelo consentimento do
povo falha no atendimento dos fins a que foram concebidos perdem a razão de ser,
dando aos cidadãos o direito de revolução. Locke apresenta ainda o trabalho como o
fundamento originário da propriedade, tendo o seu valor corrompido com a introdução
do ouro e do comércio, gerando a distribuição desproporcional das riquezas entre os
homens.

“o homem vive livre e em paz no seu estado de natureza”;

O contrato social, embora não se trate de um contrato físico histórico, como


acontece com qualquer contrato, consistiria na transferência de poder dos indivíduos
carecidos de proteção para um conjunto de instituições artificiais e avantajada de
meios para punir os que violam a obediência a essas mesmas instituições. De forma
generalizada, o contrato social é a relação entre o povo e seu governante.

Há alguns pontos de contato entre o pensamento lockiano e hobbesiano. Primeiro na


condição natural em que o homem vivia inicialmente e na sua passagem para
organização social através do contrato social. Porém, distingue-se por caracterizar
esse estado natural do homem como pacífico, sendo o homem nele plenamente
livre. Enquanto Hobbes coloca o medo da morte violenta como fonte da
organização dos homens, Locke impõe a defesa da propriedade como principal
fonte de formação do Estado. Esta propriedade já existia anteriormente à formação
do Estado.
Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro Tratado sobre o Governo
Civil, critica a tradição que afirmava o direito divino dos reis, declarando que a vida
política é uma invenção humana, completamente independente das questões divinas.
No Segundo Tratado sobre o Governo Civil, expõe sua teoria do Estado liberal e
a propriedade privada, onde ele caracteriza a propriedade privada como tudo a que
você atribui um valor e tenha conquistado por direito. É algo legítimo e todo o
indivíduo tem direito a tais conquistas, e assim como Locke sugeriu, o Estado teria
uma função primordial de proteger esses direitos.

Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, contrastando com a história trágica
da brutal repressão aos protestantes na França no século XVI e a própria
intolerância e zelo religioso radical de Calvino em Genebra, o nome de John Locke
está intimamente associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses
aprenderam a valorizar apenas na década de 1680, quase às portas do Iluminismo.
Como Voltaire afirmou, a tolerância é, para os franceses, um artigo de importação.
Bernard Cottret afirma: A tolerância é o produto de um espaço geográfico
específico, nomeadamente o noroeste da Europa. Ou seja: a Inglaterra e os Países
Baixos. E ela é, no final, em especial, a obra de um homem — John Locke — a
quem o século XVII dedica um culto permanente.[7]

Dentre os escritos políticos, a obra mais influente de Locke foi Dois Tratados sobre
o Governo (1689). O Primeiro Tratado é um ataque ao patriarcalismo, e o segundo
introduz uma teoria da sociedade política ou sociedade civil baseada nos direitos
naturais e no contrato social. Segundo Locke, todos são iguais, e a cada um deverá
ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este
fundamento, deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada, ao
declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer
indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele, ao acrescentar
seu trabalho aos recursos naturais. Este tratado também introduziu a chamada
"cláusula lockeana", que resume a teoria da propriedade-trabalho de John Locke: os
indivíduos têm direito de se apropriar da terra em que trabalham desde que isso não
cause prejuízo aos demais. O direito de se apropriar privadamente de parte da terra
comum a todos seria pois limitado pela consideração de que ainda houvesse
bastante [terra] igualmente boa e mais do que aqueles ainda não providos
pudessem usar.[8] Em outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente
apropriar-se dos recursos naturais mas também tem que considerar o bem comum.

No âmbito das Relações Internacionais, Locke aponta que estas fazem parte


do estado de natureza, mas isso não quer dizer que há uma falta de legalidade
(deveres e direitos) entre as comunidades políticas no cenário internacional. Sendo
assim, o poder de fazer guerra não é sem restrições, obedecendo às diretrizes da
política interna, que trata dos interesses locais dos cidadãos, quanto à Lei Natural,
caracterizada pela garantia da preservação da comunidade civil e da humani

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