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SOMBRAS - A JORNADA

INFERNAL

Um livro sobre aquilo


que você não quer ver
JEAN CARLOS
Sumário

Introdução ..................................................................................3

O que é a sombra .......................................................................8

Aspectos negativos da sombra .................................................11

Aspectos positivos da sombra ...................................................24

Programações de infância .........................................................31

Energia vital ................................................................................36

Inimigo arquetípico ....................................................................38

Projeção .......................................................................................41

A sombra da morte .....................................................................43

A sombra do que devo fazer ......................................................47

É a sombra que ri ........................................................................49

Projeção positiva e ilusão ..........................................................51

Yin Yang e sombra ......................................................................56

Libido e sombra ...........................................................................64


Introdução

Antes de começar a discorrer sobre a sombra, gostaria de pedir


licença aqui a todos os homens e mulheres da história e da
atualidade que abordam e abordaram o assunto. Esta obra foi
escrita com a intenção de contribuir para a evolução do Todo e,
consequentemente, de todos os irmãos e irmãs humanos que
habitam este lindo planeta chamado Terra. De maneira nenhuma
tenho a pretensão de me fazer superior a ninguém, assim como não
gostaria que os leitores me olhassem como alguém “evoluído”,
“santificado” ou “mestre”. Um dos objetivos desta obra é mostrar
que todos os humanos são irmãos no mais íntimo, que todos nós
compartilha pensamentos, sentimentos, comportamentos, desejos,
fantasias e muitas outras coisas reprimidas e/ou proibidas, que
aquilo que nós condenamos e julgamos nos outros está em nós
mesmos e exatamente por isso podemos sentir compaixão por
aqueles que julgamos “maus”. Eu desejo sinceramente que esta obra
possa aumentar um pouco a sua compaixão e amor pelas pessoas
que estão a sua volta, pela humanidade, pelo planeta Terra, pela
natureza e animais e por todo o Universo. Evidentemente que não
alcancei um estado elevado de amor, sou um humano cheio de
defeitos que está se esforçando para se conscientizar desses
aspectos, mas mesmo com toda a minha negatividade eu ainda sei
que tenho meu aspecto luz e que tenho algo para contribuir com o
mundo.

Este livro trata do assunto sombra e pretende trazer a luz as


consciências dos leitores. Quando digo luz, estou me referindo a
consciência, a conscientização. Não me refiro aqui a um estado de
bondade que a maioria de nós julga como “luz”. Luz neste livro
significa simplesmente conscientização, compreensão, olhar,
vislumbrar, reconhecer, decidir, escolher.
Durante muito tempo em minha vida, e até um pouco hoje, fui um
jovem tímido, retraído e de baixa energia vital, isto é, sentia
constantemente um tédio inexplicável, uma carência forte e um
sentimento de depressão. Hoje eu entendo o motivo de eu estar
dessa forma e esse será um dos temas abordados num dos
capítulos deste livro. Com o tempo fui percebendo aspectos em mim
mesmo que eu reprimia, seja porque eu mesmo não aceitava ou
porque era socialmente inaceitável, ou porque era inaceitável na
família. Foi difícil me conscientizar destes aspectos, mas ao mesmo
tempo que eu tomava consciência eu recebia um influxo de energia,
isto é, sentia mais vontade de viver, mais vontade de fazer as coisas,
mais coragem
e mais de tudo que é positivo. Hoje sou um homem muito mais feliz
e continuo esse processo de conscientização e quanto mais me
conscientizo, mais espontâneo me torno e mais enérgico. Este é o
principal objetivo deste livro, auxiliar o leitor a trazer luz àquilo que
está na sombra e, consequentemente, aumentar sua energia vital.

O ser humano é uma fonte de energia. E por energia digo


literalmente energia. Aqueles que possuem clarividência ou
conseguem sair do corpo sabem que cada ser-humano é um Sol,
brilha e essa fonte de brilho e luz são ondas de energia vivas e
pulsantes que emergem da Fonte Criadora no âmago de cada ser do
Universo. Porém, essa energia é administrada pela consciência do
indivíduo e principalmente por seu inconsciente. Por mais que a
Fonte Criadora, o Todo, sustente o ser com sua energia, o ser
simplesmente pode escolher impedir a manifestação desta energia
através de uma “casca”, “bloqueio” ou “couraça”, e este bloqueio deu-
se o nome de sombra. Portanto, se uma pessoa está com baixa
energia, baixa vontade de viver, baixa libido, isto significa que a casca
da sombra dela está grossa e está impedindo a energia que flui
diretamente do Vácuo Quântico de vir à tona na consciência e na
vida da pessoa. Porém, a energia do Todo é constante e pulsante e
não pode ser impedida, então esta sombra absorve esta energia,
toma vida própria e acaba se manifestando na pessoa quer ela
queira quer ela não queira. Essa manifestação ocorre
de várias formas: problemas, acidentes, doenças, atos falhos, surtos,
escassez, projeções, fantasias, guerras, brigas, relacionamentos
afetivos, casamento, ou seja, na vida inteira da pessoa. Portanto, eu
desejo aqui com este livro auxiliar o leitor a elaborar isso e a olhar
para dentro de si, para trazer a consciência esses aspectos e liberar
espaço para a energia divina manifestar dentro de si. Quando me
refiro a energia divina não estou falando de se transformar em santo
ou no “salvador da humanidade” porque esses aspectos também
são fantasias. Aquele que acha que a humanidade deve ser salva
está se sentindo maior que Deus, está se sentindo maior que os
outros humanos, está olhando os outros como inferiores e isto
também é sombra. Como manifestação divina me refiro a sua
felicidade aqui e agora dentro daquilo que você deseja, me refiro
aqui a você reconhecer que você faz parte da Criação e você tem o
seu lugar único no Todo.

Por que o símbolo deste livro é o gato preto?

Decidi escolher o símbolo do gato preto por dois motivos, porque


o gato representa magia e sensualidade, assim como representa
aquilo escuro dentro de nós, ou seja, aquilo que não queremos
olhar. Evidentemente o gato não representa somente isso, e a
simbologia e energia do gato, por mais que seja estudada, ainda terá
o seu mistério. Mas eu não escolhi o gato somente por esses
atributos, mas principalmente pelo atributo principal do carinho e
meditação. Os gatos são extremamente carinhosos, sensuais e
independentes, assim como a nossa sombra. Ao longo do livro você
entenderá o fator sensual da sombra, sua relação com a libido e
independência. Assim como a maioria das pessoas não tem
coragem de olhar a própria sombra, elas também criaram uma
superstição sobre os gatos pretos. Essa superstição é uma projeção
do medo da própria sombra e do reconhecimento de que a sombra
é como uma “magia negra” que traz “má sorte”. Na verdade, ao longo
do livro, o leitor entenderá que essa “má sorte”, na verdade, é a
manifestação externa da sombra justa-
mente porque ela não está sendo vista e está sendo negada.
Existem outros animais que também podem representar a sombra,
como o cavalo por exemplo, que representa o instinto libidinoso
impulsivo ou o cavalo negro que representa a paixão impulsiva. No
que tange a simbologia sobre a sombra o assunto é vasto e não se
limita somente aos animais. Eu escolhi aqui o gato preto por uma
questão de intuição misturada com o conhecimento que tenho.

Avisos iniciais

É importante deixar alguns avisos iniciais antes da leitura. Em


primeiro lugar, quando a análise da sombra for feita nas páginas
seguintes, é importante que o leitor saiba que os aspectos da
sombra nem sempre são para ser expressados externamente, mas
sim conscientizados internamente. A sombra é para ser
compreendida para que não domine a personalidade. Existe aqueles
que acreditam que aquilo que foi reprimido deve ser expressado de
forma liberal e desregrada e isso não é correto. Quando permitimos
expressar nosso lado sombrio de forma liberal e sem regras, na
verdade estamos jogando nossas qualidades positivas na sombra,
como por exemplo o bom senso. Então, aqueles que se revoltam
com a repressão e decidem por extravasar de forma desregrada, na
verdade estão tão desequilibrados quanto os reprimidos em
excesso. O objetivo do livro é conscientizar e não dar permissão
para comportamentos incorretos. Eu não me responsabilizo pelo
comportamento que qualquer pessoa venha a ter ao ler este livro e
não estou fazendo apologia a nada negativo. O objetivo aqui é
conscientizar.

O segundo aviso importante é que este livro reflete a minha visão


sobre a sombra. É importante que o leitor saiba que tudo o que está
escrito aqui passou pelo filtro da minha própria sombra, minhas
crenças, minha visão de mundo, meus traumas, minhas fantasias,
meus amores não correspondidos, meus amores correspondidos,
meus desejos, minhas projeções e tudo o mais que habita dentro de
minha consciência e exatamente por isso que o leitor não deve me
julgar como alguém superior. Porém, ao mesmo tempo, parto dos
princípios universais herméticos de que o que está acima é o que
está abaixo e de que todos somos uma única consciência, portanto
o que está dentro de mim também está fora. Nós estamos
interconectados e, por isso, mesmo que você tenha defeitos você
tem a contribuir com o Todo, mesmo que eu tenha defeitos, eu faço
parte da consciência do Todo e posso absorver e canalizar as
informações Dele através da minha consciência, exatamente como
os médiuns de psicografia fazem, entretanto a psicografia aqui não é
de um espírito (pelo menos não que eu saiba), mas sim das
informações que fluem do Todo através de mim e todos são capazes
de fazer isso, basta intencionar e agir, e quanto mais consciência da
sombra temos mais limpamos o canal de fluência das informações
do Todo.
O que é a sombra?

Quando se fala de sombra psicológica temos a tendência a


acreditar que é tudo de negativo que a pessoa possui dentro dela,
mas isto é somente metade da história. A sombra também é tudo de
positivo que a pessoa reprime ou nega em si mesmo. Quando se
analisa a própria sombra percebe-se que em última instância
nenhum conteúdo da sombra é negativo, mas só se tornou negativo
e hostil porque foi reprimido. Por exemplo, a raiva que sentimos e o
desejo de agredir fisicamente alguém é uma energia libidinosa de
força poder e movimento. Esta energia pode ser canalizada para o
trabalho, para abrir uma empresa, para a motivação e outras coisas.
A raiva não é uma energia negativa, mas se torna negativa quando é
reprimida. É natural e necessário que sintamos raiva quando vemos
algo de negativo no mundo, como por exemplo a pedofilia. É por
isso que as artes marciais são importantes para o desenvolvimento
das crianças porque ensina a elas a conhecer o lado guerreiro que
todos nós temos e a emprega-lo corretamente com consciência.
Mas se uma criança cresce sendo doutrinada a reprimir sua raiva,
essa raiva se torna hostil e se transforma num alter ego interior que
toma posse da consciência da pessoa quando determinados
gatilhos são acionados, o que popularmente é chamado de surtos.
Uma pessoa que reprime o próprio impulso guerreiro tende a ser
preguiçosa e depressiva. A raiva é o Arquétipo do deus Ares, o deus
da guerra, o deus da libido, o deus da ira. Portanto, quando a pessoa
joga a raiva para a sombra ela transforma aquilo numa entidade
independente que precisará irromper na personalidade da pessoa
de forma hostil e agressiva, porque a pessoa não deixa aquela
energia vir à tona de forma tranquila e consciente. A sombra se
manifesta de forma hostil e agressiva justamente porque a pessoa
está fazendo força para que aquele conteúdo não emerja. Como a
sombra é uma casca que impede a energia da libido do Todo fluir de
dentro para fora da pessoa, quando a sombra se manifesta
abruptamente, como um surto
por exemplo, a pessoa logo em seguida sente um alívio e se sente
mais energizada. Portanto, a sombra não é negativa, assim como
não é positiva, a sombra simplesmente é o que está oculto do
próprio ego,
aquilo que a pessoa não quer ver e conscientizar. Com isso não
estou dizendo aqui para o leitor sair surtando por aí, o surto é
somente uma reação abrupta da sombra porque a pessoa não se
conscientiza, portanto quando a conscientização é feita não há
necessidade de surtos. Desse modo, o leitor pode aqui perdoar a si
mesmo pelos surtos cometidos no passado. Você não é louco,
aquilo simplesmente foi um mecanismo necessário que sua psique
precisava para se equilibrar e evitar coisas piores na sua vida como
acidentes, doenças ou até a morte. Perdoe-se.

Dentro da sombra individual existem conteúdos pessoais e coletivos.


Uma pessoa naturalmente absorve a sombra coletivo porque
precisa se adequar a sociedade e cultura para sobreviver. Ao longo
do desenvolvimento o jovem precisa criar o que chamamos de
Persona para se adequar socialmente e isto é natural e necessário.
O problema é quando o ego se identifica com a persona e se torna
um robô social. A persona é o que popularmente chamamos de
“máscara social”, isto é, o nosso currículo. Sua profissão, diplomas,
imagem social e etc. Ao longo do desenvolvimento criamos de forma
inconsciente vários tipos de personas: o filho(a), o namorado(a), o
pai(mãe), o professor(a), o engenheiro(a), o médico(a), o
marido(esposa), o irmão(a), e assim por diante. Persona são as
identidades que assumimos para interagir com o externo. Porém,
muitas das vezes nos identificamos com algumas dessas personas
ou uma única de tal forma que absorvemos a sombra dessa própria
persona criada pela sociedade e por nós mesmos. Basta você
pensar o seguinte: o que eu preciso esconder de mim mesmo e dos
outros para ser uma esposa? O que eu preciso esconder de mim
mesmo e dos outros para ser um namorado?

Quando se fala de personas sociais a coisa é um pouco mais


complexa. A sombra das profissões, títulos e diplomas é tão
reprimida
que as pessoas sequer conseguem perceber que está ali. Por
exemplo, a sombra dos médicos são os tratamentos médicos
espirituais e holísticos que, para aqueles que vivenciam sabem que é
absolutamente real e eficiente, porém os médicos negam com todas
as forças que isso possa existir e, para se defender, divulgam
sutilmente que a medicina tradicional é a dona da saúde e da
doença e que quando um médico disser está dito, quando a OMS
disser está dito. Por isso é muito importante que você observe quais
são os preconceitos e aquilo que é negado pela sua profissão. O que
as autoridades da sua área dizem que não existe? O que as
autoridades da sua profissão dizem que não tem comprovação ou
que é charlatanismo? Muito disso que é negado é ouro puro. Não
estou dizendo aqui que não exista charlatão, mas sim que o ego
tende a generalizar. O que acontece muitas das vezes é que, o ego
pega um exemplo de charlatanismo numa das áreas que ele nega
que possa existir, ou seja, a sombra da persona, e generaliza para
toda aquela área com o intuito de justificar a própria negação da
realidade. Dessa forma, o ego cria um inimigo e fantasia com
possíveis ameaças futuras caso o “inimigo” não seja combatido. É o
que popularmente conhecemos como “bode expiatório”. Para
concluir, a sombra não é somente coisas negativas que reprimimos,
mas também coisas positivas que julgamos ser negativas, ou coisas
positivas que julgamos ser incapazes de manifestar através de uma
falsa humildade e santificação.
Aspectos negativos da sombra

Tendemos a achar que não temos aspectos negativos que


enxergamos em criminosos ou sociopatas, mas isto é um erro. O
sucesso dos filmes e séries policiais, de terror, de mortes e
catástrofes nos mostram que nós somos atraídos por esses
aspectos violentos e horríveis. É até um pouco estranho estudar a
psicologia dos sociopatas porque inevitavelmente começamos a nos
enxergar neles, começamos a perceber que não existe tanta
diferença entre eles e nós. A diferença é que os sociopatas se
deixaram identificar pela sombra, seja por uma escolha consciente
ou pela força das circunstâncias externas que eles não souberam
lidar. A mesma vontade de matar que os sociopatas possuem cada
ser humano na face da Terra também possui, porém ou estão
reprimindo e escondendo ou possuem aspectos luminosos para
compensar.

Tendemos a achar e acreditar que só existe um habitante em


nossas consciências, mas isso não é a realidade. A sombra é uma
energia viva, é um alter ego dentro da consciência do ser humano.
Todos os seres humanos possuem no mínimo dupla personalidade.
A diferença daqueles que manifestam a dupla personalidade de
forma mais ostensiva é que a sombra deles ganhou tanta energia e
força que irrompe do inconsciente e toma posse do ego. Nós somos
habitados por muitos. Arquétipos, Self, sombra, interferência de
outros egos e etc. A primeira coisa a entender sobre a sombra é que
ela, assim como tudo no Universo, é consciência viva, é literalmente
um ser vivo que está dentro de nós. A sombra não é simplesmente
um aspecto psicológico, mas sim uma “pessoa” que está dentro de
nós dotada de personalidade, vontade, pensamentos, sentimentos,
desejos e tudo o mais. Nós fazemos parte da consciência do Todo e,
portanto, somos co-criadores. Porém, a maioria de nós julga que
somente co-criamos externamente, isto é, co-criamos situações
externas e coisas externas, mas isso é somente uma metade da
moeda porque nós também co-criamos para dentro, internamente,
dentro da consciência. A sombra é uma co-criação nossa e como
tudo no Universo, dotada de consciência e viva. Com isso não estou
querendo aqui amedrontar o leitor, mas sim ajudar na
conscientização. A sombra está viva porque utiliza a vitalidade do
próprio ser que a criou. É por isso que quando uma pessoa surta,
isto é, é possuída pela própria sombra, vemos uma personalidade
totalmente diferente, como se estivesse havendo, e está havendo
mesmo, uma incorporação de uma entidade exterior. O semblante
da pessoa muda, o olhar muda, a voz, o comportamento e tudo o
mais, em outras palavras, é outra pessoa.

Os aspectos negativos de nós mesmos que tendemos a reprimir é


tudo aquilo considerado pelo ego como imoral, criminoso. Quando
me refiro a aspectos negativos, tenha em mente que essa expressão
é totalmente relativa a vários fatores como a época, a cultura, o
paradigma, as crenças e etc. Mas em geral, temos o consenso de
que assassinar, por exemplo, é algo negativo e criminoso, e é
mesmo. Porém, alguns aspectos são considerados negativos por
causa da cultura local ou familiar. Em alguns países a sexualidade da
mulher, infelizmente, ainda é considerado algo criminoso ou
pecaminoso. Neste país isso é considerado algo negativo, mas nós
sabemos que não é negativo, mas somente a naturalidade feminina.

Tendo considerado as variáveis exteriores sobre o julgamento do


que pode ser negativo ou não, iremos considerar e analisar aqui os
aspectos universalmente negativos: assassinato, opressão, violação.
Não farei aqui uma explicação detalhada sobre o assunto porque é
perigoso tocar nisso sem o devido cuidado. Basta que o leitor saiba
que esses impulsos existem dentro dele e que não significa
necessariamente que seja um assassino. A diferença entre um
bandido e quem não é bandido é o ato em si e para ser dono do
próprio comportamento é preciso reconhecer as vontades e
impulsos internos para que possamos ser donos desses impulsos e
vontades.
Existem outros aspectos que tendemos a reprimir como o ciúme,
a inveja, a gula, suicídio, vitimizações e outras mais. É importante
entender que grande parte desses sentimentos são resultados de
repressões. A gula, por exemplo, geralmente é a repressão da
vontade sexual que passa a “vazar” sob a forma de gula, ou pode ser
a repressão da raiva da própria mãe. O que o leitor deve entender é
que esses sentimentos não podem ser negados dentro de si, mas
aceitados e analisados. Aceite que você possui determinado ódio e
comece a investigar o motivo disso.

Para fazer uma análise dos aspectos negativos da sombra eu vou


recorrer a uma ferramenta que é o símbolo chamado Exu na
Umbanda. Antes de começar preciso dar um aviso: eu não sou
representante da Umbanda e tudo o que está dito aqui representa
única e exclusivamente a minha visão sobre o tema. Não irei
discorrer sobre todos os aspectos desse Arquétipo e de todas as
entidades que trabalham nessa energia, afinal eu sou humano e não
um Exu. Mas o que eu entendi até aqui é que essas entidades são
aquelas que, assim como Hermes na mitologia grega, podem atuar
na sombra (Hermes atua no mundo de Hades, o submundo). Não
estou afirmando aqui que as entidades dessa linha são sombrias ou
benevolentes, a minha opinião em relação a isso não importa no
momento, irei somente me utilizar do recurso dos pontos cantados
(músicas) dos Exus porque até onde eu sei, os Exus trabalham na
limpeza através da ativação das sombras nas pessoas. Não são
todos os pontos cantados que falam sobre a sombra, mas utilizarei
aqueles que servem a este fim. Esses pontos servem para as
pessoas ativarem essas energias dentro de si para que ela não seja
reprimida e domine a personalidade do encarnado. Os pontos
cantados que falam da sombra servem para conscientizar todas
essas energias e equilibrar a consciência daquele que ouve.
Analisarei alguns aqui que conheço nas próximas páginas.
1º ponto cantado
Exu ganhou um gado, mas não quis comer sozinho
Exu ganhou um gado, mas não quis comer sozinho
Ele chamou seus camaradas, pedaço por pedacinho
Ele chamou seus camaradas, pedaço por pedacinho
Aí chegou seu Lucifer
A Pombagira não é homem, ela é mulher

Neste ponto cantado é acionado um aspecto que é jogado na


sombra, o “carniceiro” ou a “carniceira”. O ser humano possui um
impulso de morte e destruição, assim como o impulso de dominar e
se alimentar de outros seres. Isso faz parte da natureza da terceira
dimensão, já que precisamos nos alimentar de plantas ou animais,
mas esse impulso quando não aceito pode ganhar força exagerada
e hostil através de comportamentos de “se alimentar” dos outros
através do poder e dominação como por exemplo a alimentação
carnívora exagerada (churrasco – o churrasco não tem um fim de
alimentação, mas sim de sentir prazer em devorar outro ser de
carne. Algumas pessoas inclusive comem tanta carne que chegam a
passar mal).

O leitor deve se atentar para o fato de que esse impulso está


diretamente relacionado ao prazer sexual. Uma pessoa comendo
carne está movida pelo mesmo instinto sexual, e é por isso que
algumas pessoas quando vão dizer que transou com alguém dizem:
“comi fulana(o)”. Não estou condenando aqui de forma alguma a
alimentação carnívora ou prática de sexo selvagem ou qualquer
coisa do tipo. Lembre-se que este livro tem o objetivo somente de
conscientizar, de trazer à tona. Depois de conscientizado deve-se
raciocinar e entender se existe algum exagero por parte desse
impulso e porque existe esse exagero. Se transformar num asceta
desprovido do prazer sexual é muito perigoso, é reprimir a energia
da vida. A energia vital se manifesta através do sexo. Quanto mais
asceta mais sombra.

O que é peculiar desse impulso é que ele é uma moeda de dois


lados. O mesmo prazer que as pessoas sentem quando “se
alimentam” dos outros elas também sentem quando “são comidas”.
Para entender melhor este aspecto basta que o leitor assista a série
na Netflix chamada “Bilions” e observe o personagem Chuck
Rhoades. Nesta série ele se entrega a uma fome insaciável por
devorar seu oponente, ou seja, ele se deixa dominar pela própria
sombra. Esta necessidade por devorar o oponente precisa ser
compensada para haver o equilíbrio psíquico e ele, durante a noite,
precisa praticar sexo masoquista, isto é, ser dominado, ser
devorado. O problema desta situação não está no poder em si, mas
no uso do poder através da própria sombra. O que o personagem
da série deveria se conscientizar é que tudo o que ele condena em
seu inimigo existe dentro dele, mas que ele justifica como algo bom
somente porque é um servidor público a serviço da “lei”. A profissão
dele dá a ilusão de que ele é do “bem” e por isso não consegue
enxergar a própria maldade em seus atos. Este comportamento
“devorador” pode acontecer em vários tipos de relacionamento e é
comum ocorrer nos relacionamentos afetivos e entre pais e filhos,
isto é, os pais “devorando” os filhos querendo que eles vivam aquilo
que eles não viveram ignorando as peculiaridades e a
individualidade dos filhos e filhas. Esse impulso de devorar o outro é
o que domina a personalidade dos assassinos. Conscientize-se do
carniceiro(a) que existe dentro de você e domine-o, e por dominar
me refiro a entrar em acordo e decidir quando manifestá-lo e
quando não manifestá-lo levando sempre em consideração o bem
estar de todos e a decisão de fazer escolhas que não prejudique
ninguém.
2º ponto cantado
Bravo senhor bravo
Seu Zé Pilintra chegou
Ele matou pai, matou mãe
Matou padrinho e madrinha
Matou um cego na estrada
E um aleijado na via

Nesta cantiga temos duas situações da sombra: ódio pela família e


projeção nos mais fracos. O ódio pela família é fácil de perceber em
nós mesmos. Ao contrário do que muitas religiões dizem, a família
não é nem nunca foi um mar de rosas. Eu costumo dizer que a
família é o relacionamento abusivo mais romantizado que existe. É
preciso estarmos atentos para este conceito e aceitar a raiva que
sentimos de algum membro da família porque essa raiva está
querendo dizer alguma coisa para nós. Toda família tem seus
segredos, mas esses segredos não são descartados do Universo.
Tudo é energia e todos esses segredos estão vivos e pulsantes na
consciência da família se manifestando em todos os membros. Em
alguns casos a sua raiva por determinado membro da família pode
ser um reflexo de algo mal resolvido nos antepassados que está
refletindo em você ou um reflexo da própria energia negativa desse
membro. É preciso tirar os parentes do pedestal da numinosidade e
enxerga-los como humanos com qualidades e defeitos. O problema
das religiões que colocam a família num pedestal iluminado e
endeusado é que passam a reprimir e ignorar todas as atrocidades
que podem e são feitas em nome de um grau de parentesco. Existe
um filme chamado Sybil que conta a história de uma moça com
personalidades múltiplas e o principal fator
que estava impedindo o processo de cura da moça era que ela não
aceitava que odiava a própria mãe. Era uma mulher religiosa que
santificava a imagem da mãe, mesmo que a mãe tenha violentado,
agredido e oprimido ela. A partir do momento em que Sybil admite
pra si mesma que odeia a mãe o processo de cura se inicia. Essa
não aceitação do ódio pela própria mãe impedia as dores dos
traumas que
ela tinha de vir à tona. O ódio e a dor são duas faces da mesma
moeda, se você não aceita o ódio você não consegue acessar a dor e
não consegue se curar. Aceitar o ódio não significa agir em função
dele, não significa agredir ninguém, mas somente tirar a visão
romântica e ilusória de que sua família é santa, seus pais são santos
e etc, em suma, é tirar o aspecto de autoridade que você associou a
eles sem desrespeitá-los. Assista o filme.

A segunda parte desta cantiga se refere a um aspecto muito


perigoso da sombra, a projeção nos mais fracos. A sombra é uma
energia que está reprimida e, portanto, se torna hostil e agressiva.
Essa energia quer sair e se manifestar e se a pessoa não deixa, a
energia toma um aspecto agressivo e se projeta para fora, porém ela
se projeta sempre naqueles que são considerados “mais fracos”, isto
é, mulheres, crianças, imigrantes, negros, animais, plantas e etc.
Quando digo “mais fraco” não estou falando literalmente, mas sim
aquilo que a pessoa e a sociedade consideram como mais fraco,
aquilo que está mais vulnerável, aquilo que está negado. Por
exemplo, os imigrantes em muitos países são menos protegidos
pelas leis do país e, portanto, são mais vulneráveis e é por isso que é
comum ver imigrantes sendo escravizados em trabalhos absurdos.
Aqueles que são “negados” pelo paradigma e pela cultura também
são considerados mais vulneráveis: negros, pobres, público LGBT,
mendigos, religiões de minoria, animais, plantas e etc. Existem
aqueles que são negados por alguma determinada persona, por
exemplo, os espiritualistas são negados pelo paradigma e persona
científico materialista. Em resumo, a sombra sempre identifica um
“bode expiatório” para despejar toda sua hostilidade e podridão, seja
essa hostilidade em forma de violência física ou em forma de
violência intelectual ou energética.
É importante deixar bem destacado aqui o problema das crianças.
As crianças são um dos seres mais vulneráveis que existem e
geralmente são aquelas que sofrem mais com a projeção das
sombras dos outros. Essa projeção pode acontecer dentro da
família, quando os pais descontam suas frustrações em cima dos
filhos, ou no âmbito escolar. Absolutamente TODOS nós temos
sombras e é preciso estar muito atentos e se perguntar sempre:
quem eu estou tentando agredir com minhas dores e frustrações? E
essa agressão não significa necessariamente uma agressão física.
Em muitos casos a agressão é sutil. Um pai que não conseguiu um
bom emprego pode sufocar o filho para que ele faça 3 cursos ao
mesmo tempo e consiga o que ele não conseguiu e, como resultado,
o filho fica doente com a rotina maçante. Os pais podem sufocar os
filhos com aquilo que eles acreditam que seja o “correto” forçando
os filhos a seguirem por um caminho que eles acreditam serem
positivo, dilacerando a individualidade da criança e impedindo que
ela expresse suas próprias escolhas. Os pais podem sufocar os
filhos quando praticam a chamada “alienação parental”. A alienação
parental é a prática de uma mãe persuadir o filho a ficar contra o pai
ou vice e versa. Os pais podem sufocar os filhos quando dizem
constantemente a eles: tudo o que estou sofrendo para conseguir é
para você. Neste caso os pais estão colocando uma culpa e
responsabilidade exacerbada em cima dos filhos. Para solucionar
isto basta que os pais entendam que os seus filhos são, na verdade,
filhos de Deus, do Todo, e que Ele colocou esta alma sob
responsabilidade desses pais e o compromisso que os pais têm é
com Deus. É impossível os filhos retribuírem o fato dos pais terem
dado a vida aos filhos, mas grande parte dos pais agem como se os
filhos tivessem que pagar com a própria vida, isto é, viver como os
pais gostariam que vivessem, ser uma “costela” dos pais. As crianças
são seres sagrados e divinos e devem ser educadas de forma livre e
estimulante. A individualidade da criança deve ser estimulada e elas
devem ser protegidas, tanto das violências externas da sociedade,
quanto das violências dentro da própria família.
3º ponto cantado
Foi você quem falou
Que eu não conhecia
o verdadeiro amor
Mas não é assim, a
história não é real
Eu amei não fui
amado e nunca mais amei igual
É que faca dá no
peito, é a dor da traição
Só quem ama é quem
sabe a perda de uma paixão
Atravessei sete
montanhas
Atravessei sete
calungas
Essa mulher vai ser
minha, nem que seja na macumba
Ela só não vai ser
minha se o Diabo não quiser
Pois eu deixo de ser
homem e ela de ser mulher
Amor é uma palavra
pra quem sabe dar valor

Neste ponto cantado é mencionado uma sombra bem comum na


humanidade, a paixão. Infelizmente a maioria das pessoas ainda
acreditam que a paixão é algo ruim devido aos traumas que
sofreram ou ao sistema de crenças materialista que insiste em
propagar que o ser humano é um pedaço de carne chamado
cérebro, reduzindo assim a paixão, o amor e todos os sentimentos
elevados a meras interações químicas e fisiológicas. Dessa forma,
dificilmente acha-se
uma pessoa que consegue ver e entender o aspecto sagrado da
paixão, e quando digo sagrado não me refiro a nada “santificado”.
Ainda hoje as pessoas têm medo de dizer que estão apaixonadas e,
quando dizem, é como se causasse um rebuliço em quem está em
volta. A paixão e o amor, ao contrário do que nos contam, não é
uma coisa possessiva e monogâmica. Se você analisar calmamente e
sem julgamentos, tabus ou preconceitos, verá que você se apaixona
por mais de uma pessoa e sente atração por mais de uma pessoa.

Existem pesquisas antropológicas em comunidades humanas de


centenas de milhares de pessoas onde a cultura não é monogâmica,
isto é, as pessoas naturalmente têm vários parceiros e curiosamente
os índices de violência nessas comunidades é ínfimo, quase zero.
Quase a totalidade dos humanos encarnados não tem coragem de
admitir para si mesmo que gostaria de ter vários parceiros e por isso
reprimem suas fantasias, amores e paixões, e essa repressão coloca
a paixão na sombra criando todo tipo de sentimento negativo como
ciúme, posse, apego, vingança e outros. Nos ensinaram que ter
vários parceiros é feio, errado, pecaminoso e até criminoso, mas a
verdade nua e crua é que a chamada “traição”, isto é, vários
parceiros, é a coisa mais comum que existe na face da Terra. Quem
é terapeuta sabe que a quantidade de amantes homens e mulheres
que existem é absurdamente alta, para não dizer “total”. O leitor, ao
ler estas palavras, pode estar sentindo coisas estranhas e mal estar
dentro de si, como alfinetadas na barriga ou no próprio peito
justamente porque essas palavras estão tocando naquilo que você
sempre soube que é verdade, mas que nunca conseguiu admitir
para si mesmo.

Não existe essa coisa chamada “fidelidade”, aceite isso e você


viverá mais tranquilo. O que existe são regras, tabus e preconceitos
que os humanos criaram em cima do assunto, mais especificamente
humanos que detinham um poder religioso e queriam se manter no
poder.
Esses tabus, regras e preconceitos foram criados por uma elite num
passado remoto justamente para manter os “escravos” fracos e sem
autoestima, afinal de contas não existe nada mais vigorante do que
uma relação sexual e a paixão. Eles criaram uma série de tabus e
regras para a manifestação da paixão e dessa forma, com a
repressão, as pessoas começaram a manifestar isso de forma
agressiva e impulsiva. Você, meu caro leitor, só não consegue
controlar a paixão porque está reprimindo-a. O dia que você aceitar
a paixão como ela é você não será mais escravo dela porque ela
deixará de ser hostil e passará a ser uma fonte de energia
inacreditavelmente poderosa, forte e alegre.

O ciúme que nós sentimos, na verdade, é uma manifestação hostil


da paixão reprimida. O Todo não se reprime e é muita tolice achar
que Ele criaria os seres humanos para ter uma única experiência
amorosa com uma única pessoa. Pense na criação do Todo, o
universo, que é o próprio Todo, com infinitas galáxias, planetas, sóis
e toda a variedade inacreditavelmente colossal. Repare que o Todo
poderia ter criado uma única galáxia, mas Ele não fez isso porque
ele gosta de abundância, extravagância, infinita variedade e
experiência. Uma das leis universais a qual conhecemos como
princípio Hermético nos diz que tudo que é acima é como em baixo,
portanto, se o Todo é extravagante e gosta de múltiplas experiências
ao mesmo tempo, nós também somos assim porque somos uma
manifestação do Todo. É por isso que você sente um impulso
interno de ter múltiplas experiências, parceiros e abundância e esse
impulso é bom e divino. Todos os grandes homens e mulheres da
História tinham uma sexualidade extravagante. Assista o filme de
Mozart cujo nome é “Amadeus”. Mozart era um homem que estava
sempre flertando e amando mulheres e justamente por isso a
energia criativa dele era maravilhosa, genial, Divina. Mozart permitia
que a energia divina da
abundância manifestasse nele mesmo e em sua vida. Ele ria, amava,
criava, corria, isto é, era alegre. O apego e ciúme só existe no
coração daqueles que são amargurados e extremamente
robotizados por crenças, tabus e preconceitos sobre a manifestação
natural e poligâmica da paixão. Não existe um ser humano
monogâmico na face da Terra, o que existe são humanos reprimidos
que inevitavelmente estão criando sombra e serão dominados por
ela caso permaneçam assim por muito tempo.

O verdadeiro pecado não é amar várias pessoas, o verdadeiro


pecado é a posse, é a crença de que uma pessoa é sua e te deve
“satisfação”, como se fosse seu brinquedo. O verdadeiro pecado é a
monogamia, o apego, a projeção de suas carências em cima do
outro, a exigência de que o outro deve satisfazer seus caprichos e
suas dores. Quase a totalidade dos casamentos (para não dizer
todos) dão errado, e todos nós tentamos achar explicações e
justificativas para fugir da verdade nua e crua de que o casamento
foi uma coisa criada pelos humanos e que não está de acordo com
as leis do Universo. Temos a doce ilusão de que o Todo criou uma
alma gêmea para cada um e essa visão romântica da vida é fonte de
dor e sofrimento. Não existe nenhuma alma gêmea. O que existem
são bilhões de homens e mulheres que poderiam ter ricas
experiências amorosas com muitas pessoas, mas que não fazem
isso por medo e tabu. Se cada relacionamento é um aprendizado,
imagine quanto uma pessoa pode evoluir e aprender se tiver
centenas, ou até milhares de parceiros durante uma encarnação.
Imagina o salto evolutivo deste espírito. A verdade nua e crua é que
o casamento não está de acordo com as leis do Universo e foi uma
espécie de “contrato” que os humanos inventaram para justificar a
posse do outro. Muitos se perguntam porque quase todos os
casamentos não dão certo e a resposta é simples: todo casamento
está fadado ao fracasso porque não está de acordo com as leis do
Universo. O casamento é a fonte de grande parte das neuroses e
doenças atuais, inclusive da prostituição. O dia que banimos o
casamento de nossa sociedade a prostituição e as escravas sexuais
sumirão junto.
Aspectos positivos da sombra

Ao longo de nossas vidas também jogamos na sombra aspectos


positivos e qualidades de nossa personalidade por uma série de
motivos. Um pai quando diz numa conversa durante um jantar que
arte não dá dinheiro, ele está estimulando os filhos que escutam a
jogar seus talentos artísticos na sombra, a reprimir. Todo ser
humano tem talentos artísticos e a arte está diretamente ligada a
criatividade e contato com o Todo. Ao longo de nosso
desenvolvimento fomos reprimindo várias facetas boas de nossa
personalidade para ficarmos adequados aos princípios familiares,
aos amigos, a sociedade ao paradigma vigente. Essas qualidades
ficam vivas no inconsciente pedindo manifestação. Quando uma
pessoa decide tomar um rumo profissional única e exclusivamente
pelo dinheiro, sem levar em conta seus talentos e paixões
profissionais, ela está jogando todo esse talento e paixões para a
sombra e consequentemente toda a alegria, prazer e energia vital
também. O resultado é um trabalho frustrante com estresse
constante até que a pessoa sucumba numa crise de ansiedade ou o
chamado “Burnout”.

Cabe aqui comentar uma das principais coisas que tendemos a


reprimir sem perceber: a espontaneidade. Justamente porque
vivemos numa sociedade voltada para o trabalho constante e
robotizado, tendemos a nos transformar em robôs e jogar toda a
espontaneidade na sombra. O medo da opinião dos outros e a
necessidade de fazer tudo perfeito também faz com que deixemos
de expressar quem somos. Muitas das vezes postergamos fazer algo
porque queremos que fique perfeito, queremos empregar múltiplas
técnicas visando um resultado idealizado sem levar em consideração
que dentro de nosso inconsciente existe a manifestação pura, divina
e perfeita. Deixar que essa manifestação se expresse é a verdadeira
técnica da perfeição. Com isso não estou dizendo para não
utilizarmos técnicas, mas sim para termos o objetivo final de sermos
espontâneos de modo que as técnicas nos ajudem e não nos
escravizem.

Pare por um momento e questione-se: Por que eu não estou


expressando meus talentos e ganhando dinheiro com isso? A
resposta para essa pergunta pode ser desconcertante. O que você
gostaria de fazer e por que não está fazendo? Atualmente a
sociedade avançou de tal forma que é totalmente possível fazer
muito dinheiro com absolutamente todos os talentos que existem.
Você pode, literalmente, ganhar dinheiro com qualquer coisa. Não
existe nenhum talento que tenha sido criado pelo Todo que seja
inútil ou difícil de manifestar. Deus não iria criar seus talentos e
vontades profissionais se ele não soubesse que você poderia ser
feliz e próspero com eles. Deus não é injusto e também não é
sádico. Deus é puro amor e prosperidade. Se Deus criou você com
determinados talentos e
vontades é porque ele sabe que você terá sucesso e é porque o
trabalho que você pode desenvolver é absolutamente necessário
para a sociedade. Você é absolutamente útil e necessário para o
desenvolvimento social. Não existe nenhuma peça inútil no grande
quebra-cabeça universal. Certa vez Nelson Mandela em um discurso
disse:

“Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso


medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas o que mais nos apavora. Nós nos
perguntamos: Quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e
fabuloso? Na verdade, quem é você para não ser tudo isso? Você é filho
do Universo. Você se fazer de pequeno não ajuda o mundo. Não há
iluminação em se encolher, para que os outros não se sintam inseguros
quando estão perto de você. Nascemos para manifestar a glória do
Universo que está dentro de nós. E conforme deixamos nossa própria luz
brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para
fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa
presença automaticamente liberta os outros"

Um dos maiores problemas de se reprimir os próprios talentos é


a escassez financeira. O dinheiro é uma energia, assim como tudo
no Universo. Essa energia é uma representação da troca energética
feita pelos humanos. Quando uma pessoa reprime seus talentos e
vontades profissionais, ela está automaticamente criando uma
barreira no fluxo de energia do Todo para ela mesma. Esta barreira
prejudica a força de atração da pessoa. Existe um versículo que diz
que Deus não se deixa vencer em generosidade. Quanto mais você
dá a ele mais ele retribui. Se você der cem ele retribui mil. Se
somarmos esse ensinamento com a parábola dos talentos
entenderemos facilmente o segredo da prosperidade. Basta que nós
não coloquemos impedimentos no fluxo de energia em nós mesmos
porque inevitavelmente expressar os nossos talentos significa dar
algo para o mundo, para Deus. Por exemplo, eu, Jean Carlos,
conforme escrevo essas palavras estou expressando meu talento da
escrita para Deus, estou dando algo ao mundo que está ajudando a
evolução das pessoas e a própria evolução do Todo, O Deus. É
inevitável que ele retribua isso em formas de benesses para a minha
pessoa. Se eu reprimisse meus talentos de escritor, jamais poderia
receber todas as
benesses inerentes a essa atividade e seria uma pessoa mais
rancorosa e insatisfeita. Posso não ser o melhor escritor do mundo,
mas isso não importa. O importante é a minha alegria e a ajuda que
estou fornecendo aos leitores e consequentemente as bênçãos que
recebo.
Neste caso, precisamos tocar numa crença limitante. A maioria
dos seres humanos encarnados acreditam que Deus só pode nos
abençoar com coisas etéreas e “luz” porque associam os bens
materiais e o dinheiro ao mal. É importante que o leitor tenha em
mente que o dinheiro e a matéria é sagrado e que Deus está
ansioso para prover isso a você. Quando pensamos que Deus vai
nos retribuir com dinheiro parece uma coisa ruim, pecaminosa e
uma heresia. Ora, como Deus poderia nos abençoar de outra forma
que não fosse através da própria existência? E a existência é tudo,
inclusive o dinheiro. Portanto, não há nada de errado em negociar
os seus talentos. Não caia no papo furado dos teólogos da pobreza
que insistem em dizer que dons dados por Deus não podem ser
negociados e associados ao dinheiro. A pergunta que fica é: se Deus
é tudo o que existe, há algum dom que não é divino? Se todos os
dons são divinos, então ninguém mais poderá cobrar por seus
serviços? Por exemplo, muitos consideram a mediunidade como um
dom divino e que nunca deve ser cobrado. Tratam a mediunidade
como se fosse mais importante e divina do que o engenheiro que
constrói uma casa. Tanto a mediunidade, quanto o dom de construir
casas são divinos, assim como o dinheiro é divino porque tudo é
Deus, tudo é o Todo.

Com isso não estou tirando aqui o mérito da caridade para com
aqueles que necessitam, mas somente tirando a crença de que
existe uma separação entre o dinheiro e a espiritualidade, ou uma
separação entre os prazeres da carne e do espírito. Tal separação
não existe e nunca existiu. Um médium não é mais sagrado que um
carpinteiro assim como o carpinteiro não é mais sagrado que o
médium. Ambos são sagrados e merecem ser ricos e prósperos.
Todos os humanos são filhos do Criador e herdaram a herança de
Deus. Não tenha medo de pedir sua herança a Deus porque você
tem esse direito, você é filho Dele. Peça ao Criador com vontade e fé,
peça
o que é seu por direito. Faça hoje mesmo uma oração honesta a
Deus dizendo: “Deus, eu quero a minha herança material, espiritual
e tudo o mais, eu aceito tudo o que eu tenho direito de ter”. É isso
que significa o que Jesus nos disse:

“Não temas, ó pequeno rebanho! Porque a vosso Pai agradou dar-vos o


reino.”

Faça bom uso de seus defeitos

Existem muitas qualidades em nós mesmos que, por forças


externas ou até internas, passamos a acreditar que são defeitos. Um
homem que gosta de caminhar e sente que sua mente funciona
melhor quando caminha pode ter sido levado a acreditar que isso
seja um defeito porque em seu ambiente de trabalho as pessoas
ficam grudadas numa cadeira. Alguém pode dizer para ele que ele
possui “hiperatividade”, mas em si isso não é um defeito. Um escritor
pode ficar horas e horas numa preguiça e vadiagem para precisar
ter a criatividade necessária. Uma pessoa pode ficar extremamente
bêbada e decidir cantar no Karaokê de uma festa e subitamente
descobrir que tem um talento fabuloso para o canto. Em suma, pare
para analisar tudo aquilo que você considera em si mesmo como
defeito e pergunte-se: isto realmente é um defeito? Será que a sua
preguiça não é uma forma de você ter um contato melhor consigo
mesmo de forma relaxada para ter ideias maravilhosas? Será que a
sua tendência a “libertinagem” não é uma coisa boa? É evidente que
não está sendo dito aqui que devemos ser um bando de
preguiçosos sem fazer nada na vida. O que está sendo dito aqui é
para que o leitor pare para refletir e pare de se condenar por seus
“defeitos”. Tire esse fardo pesado que você coloca e colocou em
suas costas. Seja mais leve. Todas as suas características formam
uma obra de arte
complexa e única no Universo. Você só é você por causa de suas
características. Lembre-se que a produtividade e criatividade fluem
do
Todo para a sua consciência sem que você precise fazer força; ou
você algum dia precisou fazer força para ter um insight ou uma
ideia? Algum dia você precisou utilizar infinitas técnicas para receber
uma ideia diretamente do Todo? Nós só precisamos fazer força para
fazer cocô, não para entrar em sintonia com o Todo. Sorria, seja leve.
Eu por exemplo, gosto de escrever de madrugada e quando passo a
noite escrevendo acabo dormindo o dia seguinte até tarde. Muitos
poderão dizer que isso é falta de disciplina, mas esse julgamento é
somente uma projeção da própria sombra da pessoa. Por que eu
escrevo de madrugada? Não me importa, é assim que a fluência
divina opera em mim.

Neste capítulo se encaixa a coisa mais reprimida de todos os


tempos, o amor. O amor é o maior tabu da humanidade, é o tabu
dos tabus. É quase um crime sentir compaixão por alguém que a
sociedade julgue que “não mereça”. E quando olhamos
sinceramente para a própria sombra passamos a sentir compaixão
pelo outro independente do erro que tenha cometido porque
entendemos que aquilo também está em nós. A compaixão por
aqueles que sofrem e por aqueles que fazem sofrer (que
futuramente irão sofrer consequências pela lei do karma) é
praticamente um “crime” social. Aquele que sente compaixão já é
visto com maus olhos. Mas aquele que sente compaixão é aquele
que justamente levou o autoconhecimento a sério e descobriu que
lá no fundo de si mesmo está o amor, que a energia, alegria e
prosperidade que ele tanto deseja está nesse amor que pulsa
internamente. E esse amor quer se expressar e é um amor por tudo,
pelo Todo. Evidentemente que isto não é fácil de se viver,
principalmente numa sociedade que é movida pelo julgamento e por
uma falsa moral hipócrita e por isso precisamos ter cuidado. É
esse amor, os outros inevitavelmente se sentirão incomodados e
podem até nos atacar. É preciso ter inteligência e muito
autoconhecimento. Existem aqueles que acreditam que esse amor é
um sentimento de “salvar a humanidade” e isto não é verdade. Este
sentimento de querer salvar os outros, na verdade, é sombra, é ego
inflado, é querer assumir a responsabilidade pelos erros de todos os
humanos, é querer carregar o mundo nas costas, é se julgar maior
que Deus. Existe uma enorme diferença entre “salvar a humanidade”
e “ajudar a humanidade”. É ajudar na medida de suas capacidades
com a consciência de que você não pode salvar o mundo porque
cada um é responsável por si mesmo apesar de estarmos todos
conectados. Reflita sobre o quanto você está reprimindo a
compaixão e o amor e entenda o motivo de estar fazendo isso. Pode
ser que você tenha sofrido traumas, pode ser que você acredite
numa visão de mundo pessimista, pode ser que você tenha um ego
do tamanho do Himalaia, enfim, alguma coisa tem aí dentro de você
que precisa ser vista, curada e mudada. Não precisa também se
culpar por você não conseguir amar como Jesus ama no momento,
tenha paciência consigo mesmo. O importante é você melhorar dia
após dia, passo a passo, gota a gota. Deixo aqui de presente um
ponto cantado da Umbanda de preto-velho que reflete essa
melhora progressiva:

“Levanta cedo criança que o velho quer caminhar


Levanta cedo criança que o velho quer caminhar
A caminhada é longa, ele caminha devagar
A caminhada é longa, ele caminha devagar
É devagar, é devagarinho
É devagar, é devagarinho
Quem caminha com fé nunca ficou no caminho
Quem caminha com velho nunca ficou no caminho”
Programações de infância

O que é chamado aqui de “programações de infância” são as


conclusões abstratas e filosóficas que nós tiramos de eventos da
infância. Existem níveis de raciocínio e existe um nível abstrato e
inconsciente de interpretação. É a interpretação simbólica de um
evento, situação. Lembre-se que na consciência universal e
consequentemente na nossa consciência, não existe divisão entre
passado, presente ou futuro, muito menos distância. A interpretação
simbólica que você incluiu em si mesmo quando tinha 5 anos de
idade, se não for mudada, continua atuando hoje e no futuro. Para
que o leitor entenda como funciona o processo, darei exemplo de
um cliente que tive:

Cliente 1 – Medo de evoluir para não perder a mãe

Certa vez, um jovem veio a minha procura para solucionar seus


problemas financeiros. Estava a muito tempo sem ter renda e
morava com a mãe. Sempre tinha dificuldades de conseguir dinheiro
e toda vez que começava um empreendimento, brigava com a mãe,
sentia ansiedade para sair de casa e isso fazia com que sabotasse o
trabalho que estava desenvolvendo. Através de uma regressão, o
rapaz descobriu que quando era criança e adolescente sua mãe
sentia ciúmes dele com outros membros da família quando saía de
casa e sempre que saía criava alguma situação para tentar trazê-lo
de volta. Fingia estar depressiva e dizia que ia se matar, fazendo com
que o jovem corresse para casa desesperadamente e encontrasse a
mãe tranquila assistindo TV. Sua mãe também criava brigas com a
família e ele voltava para casa para evitar mais confrontos e brigas.
Com o tempo, o jovem assimilou a seguinte programação: se eu sair
de casa,
minha mãe pode se matar ou me matar (sim, o inconsciente é meio
radical). Existia esta programação de fundo no inconsciente do rapaz
que sempre que ele tentava ganhar dinheiro algo externo acontecia
(geralmente brigas) para que ele sentisse ansiedade e atrapalhasse
o próprio projeto. É evidente que se o jovem ganhasse dinheiro ele
sairia de casa e por isso que a programação estava atuando, porém
a programação também atuava em outros fatores que pudesse fazê-
lo sair de casa como uma namorada. Através dessa conscientização
o jovem percebeu que sempre tinha pensamentos do tipo: “se eu
sair minha mãe pode se dar mal na vida, pode não saber se virar ou
perder coisas”. Esses pensamentos se misturavam com as crenças
sociais que nos são passadas sutilmente de que “devemos estar
sempre perto da família”. Através da ressignificação dessas crenças e
da conscientização desses fatos o jovem pode chegar na conclusão
de
que sua mãe era adulta e ela deveria se responsabilizar pela própria
vida e que ele era filho dela e não seu pai ou marido.

Eu poderia dar exemplos de outros clientes aqui, mas somente


esse é necessário para que o leitor entenda como funciona as
programações inconscientes e que elas interferem no externo
(aconteciam brigas quando o jovem colocava um projeto em
andamento que ele não iniciava) de forma aparentemente “mágica”.
Tudo que existe é consciência e essa consciência é una, interliga a
todos nós e altera a realidade “externa”. Na verdade não existe
nenhuma realidade externa. Imagine que você vai dormir e começa
a sonhar que está conversando com um amigo sentado(a) num sofá.
Você decide no sonho se levantar e andar até a cozinha e no
caminho chuta a beirada de um armário e acorda com o susto.
Quando você acorda descobre que você, o sofá, o amigo, o armário,
a cozinha, o ar que respirava e tudo o mais era a sua mente, mas
enquanto você estava inserido parecia que havia separação entre
você e o sofá, entre
você e o amigo, entre você e o armário. Você concorda que, neste
sonho, por você ser a mente do próprio sonho, tudo o que você
pensar e tiver dentro de sua consciência afeta todo o resto do
sonho assim como tudo o que o amigo pensar e tiver em sua
consciência também? Pois é exatamente assim que é nossa
realidade. Nós vivemos na consciência de Deus. Deus é uma mente
infinita e universal que está pensando em nós. Tudo que existe é a
mente Dele. Assim como no sonho, cada ser humano está utilizando
a mente de Deus para se manifestar e interfere em toda a mente
Dele, isto é, em toda a Existência. Toda a sua vida, seus amores,
trabalho, família, amigos, absolutamente tudo é uma única
consciência e essa consciência interage com a sua. É por isso que o
conteúdo do inconsciente do rapaz afetava o externo porque a
mente dele não está limitada ao cérebro, o cérebro é somente a
“interface” que canaliza a consciência de Deus num determinado
ponto do Universo. Você é uma manifestação da Consciência de
Deus num determinado ponto do Universo e você afeta todo o
Universo. É por isso que é tão importante olhar para dentro de si e
fazer as transformações internas porque o externa é somente um
resultado de como a consciência da pessoa, da família, da cidade, do
país e etc está “configurada”. Se você altera sua consciência e as
programações do seu inconsciente você altera toda consciência da
sua família, por exemplo. E quando digo consciência da família estou
dizendo literalmente passado, presente e
futuro. Fazer transformações positivas em si mesmo ajuda todos os
outros através do emaranhamento quântico. Mas como identificar
essas programações inconscientes? Vou dar a você algumas
técnicas.

Toda vez que você estiver diante de alguma situação que traga
sentimentos negativos a você, pergunte-se quais sentimentos
está sentindo no momento.
Em seguida liste esses sentimentos num papel e faça uma
meditação.
Quando estiver em estado meditativo de relaxamento pergunte-
se quando foi que você se sentiu daquela forma pela primeira
vez.
Assim que você fizer isso, deixe sua mente vagar em lembranças,
memórias ou imaginações e você irá perceber que rapidamente
chegará a alguma memória ou imaginação.
Não julgue se o que está na sua mente é memória ou
imaginação, apenas observe e após observar faça uma reflexão
sobre o que viu
Depois faça o mesmo processo com cada sentimento que você
listou

É importante deixar um aviso aqui. Cuidado para não cair no


limbo de ficar procurando programações negativas no seu
inconsciente eternamente sem trabalhar nem agir para conseguir o
que quer. Você deve fazer as duas coisas ao mesmo tempo. De nada
adianta ficar investigando a si mesmo deitado na rede “vendo a
banda passar”. Um outro aviso e importante: tenha a consciência de
que conforme você for fazendo as mudanças inevitavelmente o seu
externo irá mudar junto. Você pode ganhar coisas e pode perder. Na
maioria dos casos uma mudança significa perdas. Imagine que uma
mulher é casada com um homem e os dois estão acima do peso. A
mulher quer emagrecer e melhorar sua saúde, mas o homem não
quer. Fazendo uma investigação interna a mulher descobre que
possui um medo inconsciente de perder o casamento caso
emagreça, porque evidentemente ela irá ficar mais atraente e seu
marido não irá acompanhar e sentirá ciúmes, assim como se sentirá
deslocado e desconectado dela, ele sentirá como se estivesse sendo
“traído”. Quando a mulher toma consciência desse medo ela decide
emagrecer assim mesmo e é provável que ela perca o casamento
antes de ficar no peso ideal. Pode ser que a mudança seja brusca e
rápida. O leitor deve estar preparado para pagar o preço da
mudança. Toda mudança tem um preço!
Energia vital

Todo ser humano é um vórtice de energia que emerge do Todo.


Existe um canal direto com o Todo em cada ser humano e este canal
fornece energia vital para que a pessoa viva. Porém, esta energia
vital pode ser utilizada para várias coisas. Quando uma pessoa
reprime muitas coisas e sua sombra cresce, a consciência da pessoa
começa a gastar essa energia vital para manter a sombra reprimida.
Imagine que você está criando um cachorro infernal e ele está
filhote. Você precisa somente dar algum alimento e mantê-lo preso
numa casinha pequena. Entretanto, conforme o cachorro vai
crescendo ele precisa cada vez de mais comida e de uma casa
maior, e a comida que você dá a ele é a comida do seu almoço e do
seu jantar. Quanto mais ele cresce mais fome você sente e maior e
mais forte deve ser a casa porque o cachorro vai ficando cada vez
mais violento justamente porque está preso. Isto é uma analogia
para a sombra.

É por isso que quanto mais reprimida uma pessoa é mais ela
parece cansada. O leitor com certeza conhece alguém assim, seja
nas suas relações próximas ou na mídia. Esta dinâmica não tem
limite, isto é, a pessoa pode ficar desvitalizada ao ponto de
emagrecer, ficar doente, perder os cabelos, e quanto mais esse
processo se intensifica mais a pessoa vai ficando feia e má. Quanto
mais sombra mais feia a pessoa fica. Portanto é da mais alta
importância para a própria pessoa trabalhar a própria sombra. Caso
o leitor esteja sentindo tédio, depressão, falta de vitalidade, insônia
ou coisas do tipo, como se estivesse sempre cansado, saiba que isso
já é um sinal de que sua consciência está gastando uma quantidade
de energia vital grande para reprimir a sombra e que é preciso
começar a fazer as mudanças internas. Mas agradeça a si mesmo
por ter comprado este livro porque já estamos trabalhando isso aqui
Toda vez que se traz um conteúdo reprimido à tona, junto dele
vem uma energia vital enorme. Quanto mais a pessoa se
conscientiza da própria sombra mais jovial enérgica e poderosa ela
fica. Mais potente fica sua consciência que na prática significa mais
inteligência, mais percepção, mais capacidade de trabalho, mais
talentos, mais conexão com Deus, mais libido, mais tesão, mais tudo
de bom. Geralmente pessoas que tem dificuldades sexuais são
pessoas que estão com uma sombra grande, muito reprimidas. Já
tive caso de cliente com problema de ereção que bastou sugestionar
seu inconsciente a liberar o símbolo do homem primitivo de sua
sombra (o cliente era extremamente religioso e acreditava que o
certo era ser “santinho”) que seu problema de ereção foi resolvido. É
óbvio que este cliente não precisaria se transformar num
“troglodita”, mas que ele precisava assumir que existia essa
característica nele e que ele poderia usar esta energia, ao invés de
condenar o troglodita interno com suas crenças religiosas.
Inimigo arquetípico
O inimigo arquetípico é o receptáculo da sombra tanto pessoal
quanto coletiva. Inimigo arquetípico é literalmente o inimigo, aquele
que é considerado como o vilão, a personificação do mal. É óbvio
que bem e mal são relativos; um soldado cristão acredita que matar
é pecado até que ele se aliste para uma guerra no oriente médio e
tenha justificativas suficientes para dar um tiro de fuzil com mira a
laser nas costas de uma criança de 5 anos de idade que é
considerada "inimigo” (isso foi um caso real). Em última instância
bem e mal não existe, o que existe é a sombra que se projeta e cria
o caos externo. Mas os inimigos não existem somente nas sombras
coletivas, como no caso do soldado, eles também existem entre os
amigos, família, nas empresas e em tudo o mais. A “ovelha negra” da
família, por exemplo, é aquele que grande parte dos integrantes da
família projetam sua sombra e o consideraram inimigo, mesmo que
inconscientemente (é por isso que se chama ovelha negra – o
próprio nome já é a expressão da sombra). Mas a ovelha negra
sempre é aquela pessoa que dá o salto quântico de evolução na
família. É sempre a ovelha negra que tira a família da zona de
conforto e eleva o padrão. As “ovelhas negras” das famílias são, na
verdade, ovelhas de luz, são anjos que provocam o movimento de
evolução da família.

O importante aqui é o cuidado que o leitor deve ter porque


geralmente as pessoas tendem a querer “sacrificar” a ovelha negra
da família, ou dos amigos, ou da empresa, ou do que quer que seja.
É evidente que as pessoas não querem olhar para a própria sombra
e quando aparece alguém que as forçam a fazer isso elas tendem a
reagir de forma agressiva, mesmo que inconscientemente. Uma
coisa
comum que acontece nas famílias é uma sutil tentativa de afastar a
ovelha negra da família. O leitor não pode se dar ao luxo de esperar
que aqueles que projetam suas sombras irão ter compaixão porque
é um movimento agressivo inconsciente. Na política isso é muito
comum. Quando existe alguma desconfiança num determinado
grupo de que vão perder o poder, é comum que esse grupo
selecione algum membro para ser o “sacrificado”, o “bode
expiatório”, e essa dinâmica acontece em todos os lugares,
principalmente em empresas. A sombra sempre tende a se projetar
para fora e escolher um bode expiatório para ser sacrificado para
que o ego não precise olhar para dentro. Assim que o bode
expiatório é sacrificado o ego pode relaxar na ilusão de que o
“problema” foi “resolvido”, mas isso na verdade só cria mais energia
negativa e mais sombra.

Como se defender disso? É muito simples! A pessoa não precisa


se vingar, basta que ela faça uma oração sincera para o seu Deus
interior pedindo a justiça divina. Em alguns casos, é necessário que a
pessoa faça algum movimento brusco de defesa. Quando a projeção
da sombra chega a um nível alto é comum que as pessoas hajam
fisicamente para prejudicar o outro e esse outro deve se defender.
Não há nada de sagrado em deixar os outros te bater ou oprimir. O
tempo dos mártires da humanidade acabou. Uma mulher que é
atraente e recebe a projeção da sombra de homens numa empresa,
por exemplo, se for assediada tem o dever de se defender e até usar
a força se for preciso. Deus não te colocou no mundo para ser saco
de pancada de ninguém. O filme “Star Wars” é bem explicativo nessa
parte. Existem as pessoas do lado da luz que estão tentando libertar
os outros e impedir o domínio das trevas. Essas pessoas, quando
necessário, precisam usar armas para que não sejam mortos. Segue
abaixo uma citação do livro “Tao Te Ching”:
“O Homem Superior,
na residência, honra o esquerdo
Na utilização da
arma honra o direito
A arma é o
recipiente da desventura
Não é o recipiente
do Homem Superior
Seu uso é apenas
para o inevitável”

Em geral, na maioria dos casos, uma simples oração ao seu Deus


interior pedindo por justiça divina já é suficiente para solucionar
qualquer tipo de projeção de sombra contra você. Após fazer o
pedido desapegue do que possa acontecer a quem te agrediu e
deixe nas mãos do Todo.
Projeção

A projeção é uma das coisas mais comuns que existem e bem


simples de entender. Vou dar um exemplo pessoal:

“Quando eu morava com minha mãe, ela tinha duas tartarugas (me
refiro aqui as tartarugas terrestres, os jabutis) em seu quintal. Eu ia
de manhã no quintal, algumas vezes, ver as tartarugas e percebia
que elas estavam sem comida e ficava furioso com minha mãe. Esse
padrão se repetia até que num desses dias, num desses lapsos de
raiva comecei a falar em voz baixa comigo mesmo e soltei a seguinte
frase: ela sempre fez isso. Naquele instante tive uma epifania
quando percebi que havia falado o verbo no passado, eu havia dito
“fez” e não “faz”. Neste momento comecei a olhar para dentro e
reparei que eu estava me vendo na tartaruga. Quando eu era
criança algumas vezes minha mãe não queria fazer comida e
acabava escolhendo uma comida mais fácil para fazer e isto até é
normal porque ninguém é obrigado a gostar sempre de fazer
comida. Mas como eu era criança interpretei aquilo como “minha
mãe não quer me dar comida, não quer cuidar de mim, ela esquece
de mim”. Essa interpretação ficou flutuando no meu inconsciente
sem que eu deixasse emergir para a consciência, isto é, sem que eu
percebesse que a raiva era fruto de algo interno meu. No instante
em que percebi a frase dita por mim mesmo no passado, fui
pesquisar na internet como era a alimentação das tartarugas e fiquei
chocado. Descobri que as tartarugas comiam a cada dois dias ou dia
sim e dia não. Eu nunca havia pesquisado sobre a alimentação das
tartarugas e havia projetado o que estava dentro de mim nelas, ou
seja, eu estava me vendo naquela situação de infância nas
tartarugas. A projeção era tão forte que eu sequer percebia o hábito
alimentar das tartarugas e seus ciclos de sono que estavam bem na
minha cara!”
A projeção pode ser uma coisa simples, como no exemplo de uma
tartaruga, ou pode ser o fator de falência de uma empresa ou de
uma pessoa. Mas como perceber as próprias projeções? Em
primeiro lugar, defina uma pessoa que você considera como inimiga,
ou que te incomode muito. Liste tudo aquilo que te incomoda na
pessoa e comece a se perguntar seriamente o motivo de você se
sentir tão incomodado(a) com tais características. Nesse caso, é
óbvio que você não precisa ser um boneco que não se incomode
com atitudes maldosas dos outros, mas existem muitas atitudes que
você irá se surpreender em descobrir que não há absolutamente
sentido nenhum você se incomodar.

O mecanismo de projeção é muito comum nos relacionamentos


afetivos, para não dizer que é a lei. Geralmente num casal um é a
sombra do outro. A forma mais eficiente que eu conheço de
identificar as projeções é a observação da própria linguagem, seja
ela falada ou pensada. Esteja sempre atento ao diálogo que você faz
consigo mesmo. Outra forma eficiente de identificar a sombra é
através do humor, mas o humor é algo delicado porque também
pode refletir a sombra coletiva e não necessariamente a individual.
Muitas das vezes nós aceitamos rir de algo somente para estarmos
enturmados com amigos ou em grupos, mesmo sabendo que
aquela determinada piada não é legal. Neste caso a pessoa está
reprimindo sua capacidade de dizer não, está reprimindo sua
coragem de estar sozinho.
A sombra da morte
Acredito eu que as três coisas mais reprimidas no momento atual
da humanidade é o sexo, o Todo e a morte. A sombra da morte é
um daqueles fenômenos que é inacreditável estar acontecendo
ainda hoje. Suponhamos que numa determinada família, um
parente falece de repente e antes de ficar idoso. Imediatamente
todos na família entram em choque e pela força das circunstâncias
começam a organizar o que convencionou chamar de “enterro”.
Todos vão ao cemitério, fazem a famosa oração do descanso eterno,
enterram o corpo do parente e vão para as suas casas. Nos dias,
semanas ou até meses seguintes passam pelo “luto”. Na prática, o
luto basicamente é a luta entre o Ego e a Consciência (Eu superior)
da pessoa. De um lado existe a vontade do Eu Superior de entender
o que aconteceu com aquele parente e do outro lado existe o Ego
negando, empurrando com a barriga para que o tempo produza o
efeito do esquecimento. O esquecimento nada mais é do que a
repressão do fato para o inconsciente.

Para que o leitor possa sentir melhor a argumentação deste


momento do livro, imagine que numa família um membro é
sequestrado e ninguém sabe onde ele está. Imediatamente todos os
membros da família começam a investigar e usar todos os recursos
para saber onde foi parar o parente. Ora, essa deveria ser a mesma
atitude quando um parente morre. Todos deveriam se mobilizar
para fazer uma pesquisa sistemática para saber exatamente onde
que foi parar o parente, porque é evidente que ele foi para algum
lugar, se não qual seria o sentido de estar vivo? Todos os parentes
não deveriam descansar enquanto não fosse entendido
perfeitamente o que aconteceu com o parente e para onde ele foi.
Mas ao invés disso, as pessoas em geral enterram o corpo do
parente e vão visitar
sistematicamente o cemitério para jogar flores, conversar ou seja lá
o que for. O ato de enterrar o corpo de um parente é um reflexo
extremamente evidente do comportamento de fuga da realidade
que as pessoas têm. O enterro é simbólico e curioso. Por que não a
cremação? Por que não transformar o corpo da pessoa em adubo?
Por que não jogar no mar? Enterra-se a pessoa e coloca-se uma
lápide justamente para que o ego fuja do impulso interior de
investigar para onde o parente foi. O ego pensa: “vou lá visitar o
fulano no cemitério”. E assim a pessoa vai, visitar o cemitério e ficar
conversando com um pedaço de pedra, um monte de terra e um
monte de ossos secos.

Ao contrário do que os psicólogos dizem, o luto não é tão


saudável quanto parece. O luto, na verdade, é a expressão do
conflito interno que a pessoa está tendo entre “descobrir para onde
foi” e “não vou investigar porque tenho medo de a verdade ser
contra a minha religião”. Quando passa o luto, ao contrário do que
dizem, a energia que foi reprimida não some, mas vai para o
inconsciente como sombra. O resultado de toda essa repressão é o
fanatismo religioso, o medo da morte, a fuga da realidade, o apego a
ilusões e muito mais. Seria muito simples de se entender para onde
o parente foi. Basta que a pessoa entenda que o Universo é
multidimensional e que a pessoa quando morre somente troca de
dimensão e continua viva igualzinho era “aqui”.

Um dos resultados da repressão da morte é, por exemplo, a


ilusão do felizes para sempre dos casamentos. Todo casamento está
pautado nesta ilusão do felizes para sempre porque as pessoas
acreditam que se ficarem casadas a vida inteiro, após a morte
continuarão num limbo eterno de felicidade no céu tocando harpa
no meio das nuvens. Quando se descobre o que é a vida após a
morte,
que nada mais é do que uma troca de dimensão, essa ilusão do
felizes para sempre se desfaz totalmente e junto dela todas as
religiões tradicionais. Percebe que a ilusão do casamento está
atrelada a repressão da morte? Se você sabe que a vida é eterna e
ela continua em outras dimensões assim como aqui, com escolas,
trabalho, dia e noite, plantas, animais, pessoas, é óbvio que não
existe relacionamento eterno porque, inevitavelmente, uma hora
você enjoa do outro. Imagina passar quinhentos milhões de anos
casado com uma pessoa. Quem aguenta? Ninguém!

E aqui chegamos a outra ilusão decorrente da repressão da


morte, a ilusão de que as coisas não devem terminar. Quando um
empresário abre uma empresa, ele tem a doce ilusão de que a
empresa vai crescer eternamente e nunca vai falir. Quando uma
pessoa inicia um relacionamento, ela tem a doce ilusão do felizes
para sempre. A ilusão do felizes para sempre está entranhada em
toda a vida da pessoa e ela nem sequer percebe. Quando a pessoa
reprime e nega a morte física, seja para não perder a religião ou
porque é ateu, por decorrência ela é obrigada a reprimir todos os
fins de ciclo. Na prática, existe um medo de fundo no pensamento
da pessoa de que ela deve conseguir um relacionamento amoroso
que seja eterno e perfeito porque ela não tem tempo a perder, ela
vai morrer e ela não faz a menor ideia do que tem depois da morte.
Percebe a ligação? O empresário que abre uma empresa com o
pensamento de crescimento infinito é o felizes para sempre. O
investidor da bolsa de valores que investe achando que vai ganhar
sempre é a ilusão do felizes para sempre. O ditador que faz de tudo
para se manter no poder é a ilusão do felizes para sempre. Grande
parte dos problemas da humanidade seriam resolvidos como um
passe de mágica se as pessoas entendessem o que há após a
morte.
A repressão da morte é a repressão de uma lei universal, a lei do
ciclo, ou teoria do caos. A lei do ciclo e teoria do caos é uma lei que
diz que tudo no universo é cíclico, isto é, tem um começo, um meio e
um fim. Em outras palavras, nasce, vive e morre. Tudo é cíclico. Não
existe empresa eterna. Não existe relacionamento eterno. Não
existe felizes para sempre! Da próxima vez que o leitor for iniciar um
relacionamento lembre-se de que ele irá começar e irá terminar e
não há nada que você possa fazer em relação a isso, simplesmente
aceite. Até porque seria horripilante viver num Universo que a ilusão
do felizes para sempre fosse real. Graças a Deus que tudo é cíclico e
termina. Se os humanos aceitassem isso, entenderiam que não faz o
menor sentido se apegar a uma pessoa ou se apegar a qualquer
coisa porque, inevitavelmente, através da teoria do caos, o Universo
vai tirar aquilo de você. É por isso que todo casamento está fadado a
terminar e é por isso que a própria ideia de casamento é absurda,
ilógica e criminosa! O casamento é uma tentativa de se apossar do
outro através de um documento “legal” e isso é absolutamente
contra as leis do Todo, as leis de Deus. Estou dando ênfase na
questão do casamento porque se o leitor se desapegar dessa ilusão
e passar a aceitar o amor como um passarinho, que vai e vem,
praticamente metade do sofrimento será curado e evitado. E o leitor
não precisa ficar preocupado achando que vai ficar sem amor
porque tem passarinho de sobra no Universo. A providência divina é
farta e constante, e se você tiver um jardim bem cuidado, o Todo
envia mais de vinte passarinhos por dia, desde que você não tente
prender nenhum deles. A vida é eterna, mas os fatos não são
eternos, os fatos são cíclicos, as experiências são cíclicas.
A sombra do que devo fazer
Imagine que uma pessoa está trabalhando em sua empresa e seu
chefe lhe pede que faça um determinado serviço. A pessoa adia o
serviço conforme os dias vão passando, e conforme ela adia mais
culpada ela se sente e mais envergonhada ela se sente do chefe. Por
consequência, a pessoa acaba adiando fazer o serviço porque se ela
fizer terá de ver o chefe e terá de lidar com a situação de que adiou
o serviço, na prática a pessoa adia porque adiou porque tem
vergonha de ter adiado. Esse processo vai se acumulando e a
pessoa vai cada vez mais se sentindo envergonhada até que,
começa a evitar o chefe nos corredores da empresa, começa a
chegar um pouco atrasado para não encontrar com o chefe na
entrada, começa a sair para o almoço mais tarde para não encontrar
o chefe e chegar do almoço mais tarde também. Sem perceber, esta
pessoa entrou num círculo vicioso de adiar porque não quer
enfrentar as consequências de ter adiado e a coisa só vai piorando e
piorando. Num determinado dia, o chefe decide demiti-la. O leitor se
identificou com essa estória?

Agora, atente para o fato de que esse processo acontece dentro


de cada ser humano. A pessoa sabe que precisa fazer algo, ela adia
esse algo e começa a adiar porque adiou para não enfrentar a
vergonha de ter adiado da primeira vez. Então ela começa a sentir
vergonha de si mesma e para reprimir a vergonha decide “esquecer”.
Porém, nada pode ser esquecido, mas somente reprimido. Esse ato
que a pessoa deveria ter feito é uma energia que vai para a sombra
e cria o sentimento de culpa e vergonha. Quanto mais a pessoa adia
o que deve fazer mais culpa ela vai sentindo e acumulando até
chegar num momento em que entra em depressão. A depressão
nada mais é do que excesso de repressão. Essa culpa que a pessoa
sente por não fazer o que deve fazer suga sua vontade de viver e
Na maioria dos casos, a pessoa já ficou tanto tempo convivendo com
essa situação que nem percebe mais este processo óbvio que está
acontecendo dentro dela.

Mas isso tudo é tão simples de solucionar que chega a ser incrível
como a maioria não escolhe fazer isso. Deus é puro amor e tem
infinita misericórdia e está dentro de cada um de nós, portanto
quando a pessoa decide começar a fazer o que deve ser feito,
imediatamente toda essa culpa é dissolvida em questão de meses
ou até semanas e a pessoa volta a ser alegre. Basta começar a fazer
hoje o que deve ser feito e o que deve ser feito é o que seu coração
pede. O que deve ser feito não tem nada a ver com coisas externas,
seja religião, família, amigos, empresa ou o que quer que seja. O que
deve ser feito é o que o seu coração pede.
É a sombra que ri
Todos conhecemos aquilo que chamamos de “humor negro”, mas
não é somente no humor negro que a sombra se manifesta. O
humor é a porta de liberação da energia da sombra. O humor é
geralmente por onde a sombra se manifesta, mas ao contrário do
que alguns dizem, não é saudável censurar esse tipo de humor.
Quanto mais se censura as portas de liberação de energia da
sombra sem trabalha-la corretamente, mais a sombra se fortifica e
fica hostil. Em outras palavras, se proibíssemos o humor negro o
caos se instalaria na sociedade muito mais do que existe hoje, seria
o verdadeiro inferno na terra. A sombra é uma energia viva que
precisa se manifestar, se a pessoa permite essa manifestação na
consciência dela através do “olhar para dentro” essa energia pode se
integrar a consciência da pessoa. Manifestar a energia da sombra
não significa de modo algum, por exemplo, colocar em prática o ódio
que você sente, mas sim se conscientizar desse ódio e buscar
entender porque existe essa energia hostil dentro de você. Como
dito antes, o ódio é uma fuga da dor, uma defesa da dor. Todo ódio
é uma forma da pessoa fugir da responsabilidade de lidar
conscientemente com a dor que tem dentro de si, de aprender com
a dor e principalmente desapegar-se da dor. Por desapegar
entende-se desistir do desejo de que aquilo seja compensado ou
“justiçado”, de deixar nas mãos de Deus. O processo todo se resume
a confiar na providência divina e não julgar uma situação, fato,
evento ou o que quer que seja.

Aquele que não ri já está completamente dominado pela sombra.


É possível ver claramente o quanto uma pessoa está sombria pela
dificuldade que ela tem de ser natural, de fazer movimentos
naturais, de sorrir, de andar. Quanto mais “dura” é a pessoa, mais
sombria. Imagine o personagem Darth Vader da série Star Wars, um
personagem duro, com dificuldade de respirar, todo “maquinizado”,
dificuldade de falar e extremamente lunático. Quando uma pessoa
se reprime e se recusa a lidar com seu mundo interior numa
tentativa inútil de negar a si mesmo ela vai se tornando
gradativamente um Darth Vader, um robô ambulante esperando
alguém para despejar suas frustrações. Observe como uma pessoa
almoça e pergunte-se enquanto observa: esta pessoa é um robô
almoçando? Observe uma pessoa fazendo sexo e pergunte-se: esta
pessoa é um robô transando? Se uma pessoa faz constantemente
piadas sexuais significa que tem muito conteúdo sexual reprimido e
que existe uma necessidade enorme de carinho que está sendo
reprimida. É por isso que na sociedade atual qualquer piada de
cunho sexual faz uma plateia de duzentas pessoas cair na
gargalhada, justamente porque todas essas duzentas pessoas são
pessoas reprimidas sexualmente e fogem do afeto sexual como o
diabo corre da cruz. E isso e muito fácil de notar, basta que você
diga a uma pessoa que está apaixonada por ela e veja como, a partir
daquele momento, ela vai correr de você, e esse movimento de fuga
é simplesmente a fuga do amor, a fuga do carinho, a fuga da
sexualidade. Existem pessoas que trocam um encontro sexual para
ficar em casa dormindo, essas pessoas tem um comportamento
absurdamente inacreditável. Ora, se o sexo e o amor é uma coisa
maravilhosa e boa, por que a pessoa corre na hora que surge a
oportunidade? Corre porque está cheio de visão romântica da vida,
expectativas irreais e morre de medo do outro “decepcionar” as
expectativas. Em outras palavras, a própria pessoa cria suas ilusões
mentais e a própria pessoa morre de medo do outro não
corresponder a essas ilusões que o outro sequer sabe que existe. É
ou não é uma loucura?

Preste a atenção ao que você acha graça, mas nunca julgue ou


tente reprimir. Deixe que o humor seja uma forma de enxergar o
que há dentro de você sem julgamento e simplesmente se
conscientize e deixe passar.
Projeção positiva e ilusão
Quando há a repressão de qualquer característica da consciência
essa característica passa a ser projetada para “fora”. A pessoa passa
a manifestar essa projeção no exterior. Por manifestar entende-se
criar a realidade externa. A energia reprimida passa a se manifestar
externamente para que a pessoa possa integrar essa característica
em sua consciência. Por exemplo, se uma pessoa reprime a
coragem e está constantemente se comportando como covarde, ela
irá manifestar situações externas e personagens externos de
coragem, ela pode encontrar um parceiro(a) corajoso e admirar esta
qualidade do parceiro. Essa projeção cria uma admiração e
numinosidade (endeusamento). A pessoa constantemente está
“adorando” aquela figura que representa as qualidades que ela
mesma tem, mas não vivencia.

Do mesmo modo que podemos identificar o conteúdo da sombra


estudando as características das pessoas que odiamos ou de
alguma personalidade famosa que odiamos, também podemos
identificar o conteúdo da sombra estudando as características das
pessoas que amamos e admiramos ou de alguma personalidade
famosa que amamos ou admiramos. Do mesmo modo que o Ego
cria um inimigo externo para evitar olhar para si mesmo e identificar
aquelas características negativas em si mesmo, o Ego também cria
um admirador/amante externo para evitar olhar para si mesmo e
identificar aquelas características positivas em si mesmo para fugir
da responsabilidade de ser tudo o que ele pode ser de bom. Não há
nada
que mais aterrorize o Ego do que a própria luz que ele possui.

E quando se toma consciência daquilo de positivo que


reprimimos, nossa autoestima se multiplica. Geralmente é nas
dificuldades que a
pessoa descobre que é extremamente forte, é nas dificuldades que
a pessoa descobre que possui extrema resiliência, é nas dificuldades
que a pessoa descobre que é extremamente corajosa, é nas
dificuldades que a pessoa descobre que é extremamente amorosa,
é nas dificuldades que a pessoa descobre que é extremamente
criativa, porém não há necessidade de passar por dificuldades para
descobrir essas qualidades em si, basta admitir para si mesmo que
você pode ser tudo de bom e tudo de ruim, que tudo isso está aí
dentro, e então você pode escolher e ter liberdade para ser quem
quer ser.
Tendemos a julgar aquilo que consideramos bom e aquilo que
consideramos mau. Olhamos para uma pessoa paciente e dizemos
“isto é o bem”, e olhamos para uma pessoa impaciente e dizemos
“isto é o mau”. Contudo, todo julgamento de bem ou mal parte da
visão de mundo e crenças da própria pessoa ou de uma sociedade.
E praticamente todas as pessoas cometem o erro de negar e
reprimir aquilo que julgam como o mal. Um cristão pode sentir
vontade sexual e lutar contra essa vontade por considera-la mau,
mas essa energia não pode sumir, nada some no Universo. Tudo
aquilo que julgamos como mau nós tendemos a negar e reprimir e,
por isso, jogamos na sombra.

Na verdade o que existe é o Ego com sua visão de mundo e


sistema de crenças e tudo aquilo que não está de acordo com essa
visão de mundo o Ego nega e julga, isto é, reprime. Demos o
exemplo de um cristão e agora vamos dar o exemplo de um
materialista ateu. Ele olha para um fenômeno espiritual óbvio e
contundente e nega aquilo porque este fenômeno não está de
acordo com o que ele acredita. Podemos materializar um espírito na
frente de um ateu que ele ainda continuará negando e dizendo que
é “truque” ou “pseudociência”. Toda a energia psíquica e
características atreladas a espiritualidade passam a ir para a sombra
do ateu, isto é, a fé, o otimismo, a humildade, o relaxar e confiar na
existência. Não é possível reprimir a espiritualidade e ser otimista ao
mesmo tempo, é por isso que todo ateu é depressivo e pessimista
em algum grau. Mesmo quando a ciência prova a espiritualidade
através da Mecânica Quântica, por exemplo, o materialista continua
negando e começa a perseguir aqueles que estão divulgando esta
interpretação afirmando que são “pessoas perigosas”, sem perceber,
que ele próprio é a manifestação da depressão e do pessimismo,
que é justamente por causa da falsa crença no materialismo que
temos uma quantidade enorme de
suicídio atualmente na sociedade. É por isso que toda metodologia
materialista para tentar solucionar o problema do suicídio não
funciona e justamente só faz o problema aumentar ainda mais. É
como tentar apagar fogo com gasolina.

A humanidade ainda hoje não entendeu o que realmente é o


preconceito. Para usar o exemplo do ateu, vejo constantemente
pessoas com essa visão de mundo criticando os evangélicos por eles
serem preconceituosos e, ao mesmo tempo, os próprios ateus estão
chamando os espiritualistas de “pseudocientistas”. Os evangélicos
chamam de heresia e os ateus de pseudociência. Qual a diferença?

Essa visão de mundo do Ego é a gênese que o ego acredita, isto é,


como ele acredita que foi criado o Universo, a humanidade, o início
de tudo. A visão de mundo do Ego é respondida pelas perguntas:
“De onde eu vim?”, “O que estou fazendo aqui?” e “Para onde eu
vou?”. Toda psicoterapia poderia ser resumida na resposta para
essas três perguntas simples. Trocando as respostas para essas
perguntas troca-se tudo na realidade da vida da pessoa, tanto
internamente quanto externamente. Em outras palavras, não há
como fugir de como o Universo realmente é, isto é, não é possível
fugir da espiritualidade, mais cedo ou mais tarde a pessoa precisa
lidar com isso.

A solução que encontrei para solucionar o problema do


julgamento é abdicar dos extremos. Quando você valoriza o elogio,
você também valoriza a crítica. Quando você valoriza o bem, você
também valoriza o mau inconscientemente. Quando você valoriza o
belo, você valoriza o feio. Abdicando do julgamento sobre o que é
bom, sobre o que é o correto ou moral, abdicamos do mau
justamente. Não é possível dar atenção só para um lado da moeda,
não é possível fazer uma moeda com um lado só porque a moeda
tem necessariamente dois lados. Então é muito simples, jogue a
Algumas pessoas podem dizer que jogar a moeda fora significaria
ser apático a vida e isto não é verdade. Jogar a moeda fora significa
seguir o fluxo da vida, viver o presente. Jogar fora a sua moral (ou
falsa moral) e viver o presente com leveza. A consciência não julga,
ela simplesmente vive naturalmente. Quanto mais moralidade você
tiver, mais sombrio e maldoso será. A moralidade é o próprio mau.
Contudo, a falta de escrúpulo é a possessão da sombra reprimida e
não a integração. A proposta aqui é integração psíquica, isto é, trazer
os conteúdos à tona, aceita-los e usar essa energia para o seu
benefício (desde que não agrida ninguém) e para o benefício da
humanidade. Medite sobre o capítulo 60 do livro Tao Te Ching
abaixo:

“Governar um grande reino é como cozinhar um pequeno peixe


Atuando sob o céu através do Caminho
Seus demônios não são despertados
Não que seus demônios não sejam despertados
Seu despertar não fere o homem
Não apenas que seu despertar não fira o homem
O Homem Sagrado também não fere o homem
Sendo que os dois não se ferem
Assim suas Virtudes se unem e retornam”
Yin Yang e sombra
Atualmente estamos tomando consciência de que a energia
feminina, o Yin, foi reprimida e oprimida por séculos, mas essa
energia ainda não foi entendida em sua totalidade. Muitos
consideram a dualidade Yin Yang como simplesmente masculino e
feminino, mas não é somente isso.

Tudo no Universo é uma mistura de Yin Yang, na verdade essas


duas forças não são separadas. É o próprio campo eletromagnético,
atrai e emite ao mesmo tempo. Isto significa que o Universo é um
infinito campo de energia de troca, de vai e vem, de receber e dar. A
troca de energia é imprescindível e inevitável, assim como a própria
mudança que chamamos de morte.

O Universo é um infinito holograma mental, o próprio Todo, e


cada ser possui tudo do Todo dentro de si. A realidade mental do
Universo não possui tempo nem espaço, e justamente por não
possuir espaço ou tempo é possível que tudo do Todo esteja no que
a gente chama de a “parte do Todo”, isto é, cada ser, criatura e ponto
do Universo. Essa energia Yin Yang está presente em tudo e em
todos.

Dentro da comunidade espiritualista estamos trabalhando na


conscientização e na integração da energia Yin, que foi reprimida,
porém existe um detalhe muito importante e crucial que não está
sendo considerado. O ser humano é um polo de energia Yin Yang,
portanto emite e recebe ao mesmo tempo e isto está manifestado
na consciência da pessoa. O altruísmo (branco) é a manifestação da
energia Yang e o egoísmo (preto) é a manifestação da energia Yin. O
altruísmo (extroversão) nada mais é do que o foco da consciência
para o externo e isto não tem nada a ver com amor, isto tem a ver
energia saindo de dentro para fora. O egoísmo (introversão) nada
mais é do que o foco da consciência para o interno e isto não tem
nada a ver com maldade, isto tem a ver com a energia vindo de fora
para dentro. Esta dinâmica é muito bem representada na Umbanda
pelas polaridades Direita e Esquerda. A polaridade Direta são as
manifestações e arquétipos Yang, isto é, pretos-velhos, caboclos,
crianças. A polaridade Esquerda são as manifestações e arquétipos
Yin, isto é, Exus, Pombagiras, Exus Mirim. A polaridade da Direita
trabalha as características Yang de altruísmo, paciência, perdão,
caridade, ou seja, a energia saindo de dentro e indo para fora,
enquanto que a polaridade da Esquerda trabalha as características
Yin de egoísmo, sexo, dinheiro, negociação, persuasão e etc.

Dentro desse entendimento percebemos que os espiritualistas


atuais, por mais que tenham boas intenções de acabar com a
opressão contra a energia feminina Yin, estão fazendo a coisa ao
contrário. O que vemos na prática são todos os espiritualistas dando
uma ênfase exagerada ao altruísmo, paciência, perdão, caridade, ou
seja, na prática estão trabalhando somente com a energia Yang. E
isso é fácil de perceber porque as figuras de inspiração divina dos
espiritualistas em geral são em sua maioria homens (Jesus, Buda,
arcanjo Miguel, arcanjo metatron e etc.). Isso acontece devido a falta
de entendimento do que é a energia Yin, ou seja, a polaridade de
fora para dentro.

Ao longo da história humana tivemos a predominância de


religiões machistas e isso não aconteceu simplesmente porque a
elite dominante da época não gostava de mulheres. Tudo o que foi
feito foi com uma lógica de escravidão e essa lógica será explanada
aqui. Se você tem uma população totalmente orientada para a
energia Yang,
isto é, religiões predominantemente falando sobre caridade, nós
temos uma população apática que aceita trabalhar sem ganhar
nada, ou seja, dar a sua energia sem receber nada em troca. A
população está totalmente orientada para doar energia e não
receber porque estão focando somente no Yang. O resultado disso
é uma legião de escravos que aceitam passivamente trabalhar por
mil ou dois mil reais
por mês acreditando que isso é muito. E mesmo que você queira
dar dinheiro a mais para essas pessoas elas simplesmente não
aceitam porque tem a ideologia da caridade enraizada em suas
mentes de tal maneira que estão se autodestruindo sem perceber.
Assim como o altruísmo é sagrado o egoísmo também é sagrado.
Repita agora em voz alta: O egoísmo é sagrado!!! Tudo no Universo é
sagrado, inclusive o egoísmo!!

Esse desequilíbrio precisa cessar. A escravidão humana só vai


acabar quando esse desequilíbrio cessar, isto é, quando os
religiosos e espiritualistas pararem de condenar o egoísmo, o
ganhar dinheiro, o sexo e suas variações. Vemos hoje na
comunidade espiritualista todos falando do desenvolvimento dos
chakras superiores (frontal, coronário e cardíaco) e uma total
negligência para com os chakras inferiores, como se o ser humano
não os tivesse. Ora, se os chakras inferiores são ruins (e isso é dito
sutilmente como “os chakras inferiores são do ego” – aliás, a palavra
ego se tornou sinônimo de maldade) então por que as pessoas não
pegam um cerrote, cortam do umbigo para baixo e ficamos somente
com “as partes elevadas” do ser humano? Evoluir é como construir
um prédio em que cada dia ele aumenta, fica mais bonito e
poderoso, porém lá em baixo da terra estão as fundações. Querer
negar o ego, e por decorrência o egoísmo, é tentar construir um
prédio sem fundações.

Agora contarei ao leitor uma experiência pessoal. Eu sempre fui de


21 anos. Quando voltei tive uma experiência chocante com a minha
mentora espiritual (preta-velha), o ser mais amoroso que já conheci.
Fui conversar com ela e seguiu o diálogo abaixo:

- Por que suncê veio até mim? (preta-velha)


- Porque eu comecei a estudar na internet e descobri a
espiritualidade (eu)
- Não não, sunce veio até mim porque quer pirocado na
bucetado (preta-velha)
- É verdade – disse a ela rindo (eu)
- Desculpa fala palavrão (preta-velha)
- Tudo bem, não ligo (eu)

Naquele dia eu fiquei chocado por dois motivos. O primeiro é que


eu realmente estava reprimindo aquilo que eu verdadeiramente
queria, pirocado na bucetado. O segundo foi que nunca em hipótese
alguma eu poderia esperar que minha mentora espiritual, que é um
ser de um amor inacreditavelmente grande (você fica mole só de
chegar perto), falasse palavrão. Naquele dia eu comecei a refletir e
percebi que tudo o que consideramos “palavrão”, na verdade, são
palavras sexuais. Porra, caralho, buceta, puta, puto, cu, tudo isso é
sexo e se refere a partes sexuais do corpo. Em última instância
essas palavras não têm nada de negativo porque o sexo em si não é
negativo, somos nós com nossos tabus com o sexo que atribuímos
significação ofensiva e negativa em relação a essas palavras. Uma
pessoa chamar uma mulher de puta é uma ofensa ou um elogio?
Uma mulher puta pode ser uma mulher bem resolvida sexualmente
e isso vale para os homens também. Fomos nós que “sujamos”
aquilo de mais belo e sagrado que Deus nos deu, o sexo. Os
espiritualistas assimilaram todos os tabus sexuais e “demoníacos” da
igreja e isso é fácil de perceber, já que a maioria da comunidade
espiritualista acredita que mentor espiritual não fala palavrão, não
pode lidar com
dinheiro, não transa, se bobear deve correr uma crença de que os
anjos não têm pênis e as anjas não tem vagina... quanta tolice! Se
não tem amor e prazer nas dimensões superiores então eu vou ficar
por aqui mesmo. Mas no fundo eu sei que isso é tabu. Eu imagino as
dimensões superiores como puro luxo, prazer, liberdade, gozo,
amor e tudo de bom que nós temos aqui multiplicado por um
milhão. Imagina um orgasmo multiplicado por um milhão. Você
quer? Eu quero!

Se o leitor já passou pela experiência de praticar a caridade


incondicional entendeu que isso não funciona. Quando, por
exemplo, damos almoço gratuito para pessoas de rua que passam
fome e não pedimos nada em troca, essas pessoas tendem a
almoçar e depois somem e até ficam com raiva de quem deu o
almoço. A maioria das pessoas que passa por essa experiência cai
na falsa ilusão de que o mendigo está revoltado porque está na rua
ou porque é mal educado, sem sequer refletir de que o problema
está na pessoa e não no mendigo. Todos os seres que existem são
divinos e tem todo o poder do Todo dentro de si, portanto, quando
fazemos caridade incondicional estamos oprimindo este Deus
interior, estamos tratando o mendigo como miserável. Apesar da
aparência de miserável, o mendigo não é miserável, ele está nessa
situação porque está acreditando que é miserável. Quando se faz
caridade incondicional, a mensagem subliminar que está sendo
passada ao mendigo é a de que ele não tem nada para dar em troca
e que ele é inferior àquele que está fazendo a caridade. A
metamensagem é a de que quem está fazendo a caridade é
bonzinho e quem está recebendo a caridade é mauzinho. Então
qual a solução para isso, já que o mendigo evidentemente precisa
de uma ajuda? A solução é mostrar para ele que ele tem coisas a dar
ao mundo e a sociedade. É dar o almoço e em troca pedir para que
ele varra a varanda. Quando ele varrer irá perceber que ele sabe
varrer e que tem gente que
precisa de pessoas que sabem varrer, portanto ele pode ganhar
dinheiro! É uma outra abordagem, é uma abordagem que respeita o
Deus que está dentro do mendigo e esse Deus sabe varrer uma
varanda de forma divina e perfeita. Caridade incondicional não
funciona e nunca funcionará porque é falta de respeito com a
Divindade que habita dentro da pessoa. Caridade, em última
instância, é uma busca por salvação, uma busca por se livrar da
culpa e redimir os pecados. Quem ama verdadeiramente e
incondicionalmente ajuda o irmão a perceber que ele é forte,
poderoso, divino e tem muito a dar ao mundo e que o mundo está
precisando daquilo que só ele pode dar, nem que seja varrer uma
calçada, mas somente ele pode varrer a calçada do modo divino
como ele sabe fazer. Ninguém no mundo sabe pegar na vassoura da
mesma forma que aquela pessoa divina que está varrendo a calçada
sabe e isso é absolutamente necessário para a sociedade. E essa
falta de respeito com a divindade do mendigo vem da identificação
exagerada com a energia Yang, isto é, a falsa crença de que
devemos sempre dar, ser altruístas e nunca pedir nada em troca, a
hipócrita caridade. É por isso que nos países onde tem mais
incidência de igrejas que pregam a caridade são os países com
maior índice de pobreza. A caridade estanca a troca de energia
natural e necessária e isso é um crime hediondo. É preciso haver
equilíbrio entre dar e receber, entre Yin e Yang. É preciso que as
pessoas tenham a consciência de que os mendigos tem uma energia
Yin e Yang dentro de si e que, se você dá uma energia para ele (um
almoço) você necessariamente precisa dar a oportunidade ao
mendigo de retribuir (energia Yin) e dessa forma a energia do
mendigo se equilibra e aumenta a força fazendo com que ele atraia
mais situações favoráveis. Quando não damos a oportunidade do
mendigo retribuir estamos travando o campo eletromagnético do
mendigo, estamos deixando ele mais fraco.
Essa mesma dinâmica energética e metafísica acontece nos
relacionamentos. Relacionamentos afetivos é, como tudo na vida,
uma constante troca de energia/informação. Quando um dos
indivíduos do relacionamento começa a dar e não abre espaço para
a retribuição, está travando o campo de energia do outro e o outro
se sente incomodado. Toda dinâmica de traição parte desse
princípio. Se um dos indivíduos dá excessivamente e não abre
espaço para receber, o outro precisa dar também, e como o
indivíduo que dá constantemente não abre espaço para o
recebimento, o que está recebendo procura inconscientemente um
indivíduo externo para dar, um(a) amante. A “traição” é
simplesmente uma compensação energética do campo do
relacionamento afetivo. Quando o campo está polarizado
excessivamente para um lado, é preciso haver uma compensação do
outro lado para reaver o equilíbrio. Além disso, como no caso dos
mendigos, aquele que dá excessivamente se sente superior e está
ofendendo aquele que está recebendo, tratando o outro como
alguém carente que está o tempo inteiro precisando de “atenção”.
Não está sendo dito aqui que não devemos dar no relacionamento,
mas sim que deve ser uma constante troca, é preciso deixar o outro
dar também, é preciso dar espaço para o outro dar a você também.
Os conhecedores de constelação familiar já descobriram essa
dinâmica, sugiro que o leitor pesquise o assunto. Do mesmo modo
que quando fazemos caridade incondicional para o mendigo e ele se
sente inconscientemente ofendido porque tem sua divindade
oprimida, o indivíduo de um relacionamento afetivo que recebe
constantemente também se sente inconscientemente ofendido
porque está tendo sua divindade oprimida. É isto que significa a
famosa frase: “estou me sentindo sufocado com você”. E essa
atitude de caridade incondicional nos relacionamentos também
desequilibra o campo Yin Yang dos dois e faz com que o Universo
faça uma compensação energética por atração. O que os humanos
conhecem como traição nada mais é do que o Universo se
reequilibrando. Sendo assim, a maior parte de responsabilidade pela
traição é sempre do traído e nunca daquele que traiu. É uma
verdade dolorosa de se aceitar, mas é assim que funciona as
energias do Universo. A partir do momento que aceitamos isso
podemos ser mais felizes e evitar situações desagradáveis, basta
que a pessoa se adeque a o fluxo do Universo e suas leis. É dando
que se recebe, mas é preciso abrir espaço para receber. Se você só
dá e não permite que o Universo te dê também você está travando
o fluxo de energia do Universo e isso só pode resultar em desastre.
Libido e sombra

A libido é a energia básica do inconsciente assim como do próprio


Universo em si, a mente do Todo. Essa energia é o pano de fundo de
tudo e proporciona a coesão de todas as coisas para que haja a
realidade organizada da forma como conhecemos. Essa energia
também está presente em nossa consciência, já que nossa
consciência e a do Todo são a mesma coisa. Os conteúdos de nossa
consciência são interligados e interagem através da libido, do amor.
Portanto, todo o conteúdo da consciência está impregnado de libido
e amor. O que acontece é que tendemos a reprimir e lutar contra
determinados conteúdos para que não sintamos amor. Parece
estranho, mas uma pessoa que foi agredida reprime a dor da
agressão porque tem medo de começar a amar a pessoa. Pode
parecer um paradoxo, mas o inconsciente funciona dessa forma.
Todos aqueles que se agridem criam um laço libidinoso e passam a
se atrair mais fortemente, e isso é absolutamente lindo. Isso não é
uma questão de ser justo ou não porque Deus somente criou uma
única energia de pano de fundo, o amor, a libido. Por mais louco que
pareça, os sentimentos como raiva, ciúme, inveja, posse, tristeza,
simplesmente não existem. Todos esses sentimentos são a
polaridade da energia da libido que se inverte quando é reprimida.

Pare por um momento para refletir. Tudo o que você faz é


buscando o amor, absolutamente tudo e esse amor é o amor
libidinoso. Não caiamos na visão romântica da vida de que existe um
amor dissociado do amor libidinoso porque isso não é real. Freud
entendeu isso quando percebeu que existem ligações libidinosas no
inconsciente do ser humano em relação a seus parentes,
principalmente os mais próximos. Não estamos aqui justificando o
incesto, mas somente explicando o processo inconsciente da coisa.
Em última instância não
existe parente, pai, mãe, irmão, primo, tia, nada disso. Tudo isso são
fatos temporários da terceira dimensão. Fora da dimensão terceira
somos todos espíritos originados da Fonte Criadora, de Deus, e
todos esses espíritos estão interligados pela energia do amor
libidinoso. Porém, o espírito precisa "esquecer" dessa ligação para
encarnar aqui e aprender determinadas coisas que precisa aprender
na vivência da terceira dimensão.

Dentro da consciência do Todo, assim como na nossa, existe in-


formação/energia. A energia é o pano de fundo do amor libidinoso
que pode ser polarizada de várias formas e a in-formação é o código
relacionado. Por exemplo, se você quando criança recebeu
palmadas de seu pai por ter pego o dinheiro dele, você recebeu um
inprint de gravação na sua consciência, caso isso não tenha sido
limpo. No seu inconsciente existe uma programação que diz: pegar
dinheiro é igual a palmada, castigo, dor. Porém, quando essa in-
formação (esta palavra possui um hífen justamente porque significa
uma "formação interna", um código que dá o formato interno) vai
para o inconsciente, imediatamente ela recebe a energia da libido e
passa a ser: pegar dinheiro do papai é igual a dor que é igual a
atenção dele e atenção é igual a amor e prazer. Na vida prática da
pessoa isso pode se manifestar de várias formas. Ela pode sentir
uma necessidade de receber um castigo ou dor toda vez que ganha
dinheiro; ela pode inconscientemente não ganhar dinheiro para
depender de um homem para poder pegar o dinheiro dele e
receber o castigo e o amor; ela pode ter uma oportunidade de
ganhar dinheiro e perder o foco no trabalho por causa de algum
homem que está fazendo ela sofrer amorosamente; enfim, as
possibilidades desse processo são amplas. O importante é que o
leitor entenda que toda dor reprimida fica imediatamente associada
a libido, portanto é importantíssimo que o leitor comece a investigar
suas dores e comece a limpar sua mente e perdoar-se.
A libido é uma energia Universal, ela é a força de atração
Universal. Portanto, todo conteúdo gravado no inconsciente da
pessoa e consequentemente associado a libido começa a atrair uma
in-formação externa igual. A pessoa atrai situações com o mesmo
padrão de in-formação para que a energia seja gasta, se manifeste.
Se a pessoa faz as devidas conscientizações quando o fenômeno
externo acontece, ela dissipa essa in-formação negativa (caso seja
negativa) e fica somente a energia pura do amor libidinoso. É por
isso que muitas mulheres se apaixonam constantemente por
homens violentos, porque tem uma in-formação de violência
gravada no inconsciente daquela mulher e ela fica constantemente
atraindo essa in-formação. Na prática, bastaria que essa mulher se
conscientizasse de que o relacionamento é violento e começasse a
refletir, e no momento em que ela fizer isso ela irá perceber e
entender as in-formações internas que estão se manifestando.
Depois dessa conscientização, basta que ela se perdoe e solte a
situação, isto é, desapegue do relacionamento. Isso seria simples se
essas mulheres não ficassem constantemente negando essas in-
formações internas.

Todo conteúdo negativo que está reprimido na sombra irá se


manifestar externamente caso a pessoa não se conscientize. A
sombra força a conscientização através de eventos externos.
Sabendo-se disso, é mais fácil fazer essa conscientização por
vontade própria do que esperar as manifestações hostis externas,
não é?

"Se o louco persistisse na sua loucura, ele se tornaria sábio"


William Blake

Fim

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