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CONSTITUICAO DOS SISTEMAS ELETRICOS DE POTENCIA 1.1 INTRODUCAO Os sistemas elétricos de poténcia tém a fungio precipua de fornecer energia elétrica aos usuarios, grandes ou pequenos, com a qualidade ade- quada, no instante em que for solicitada. Isto é, 0 sistema tem as fungdes de produtor, transformando a energia de alguma natureza, por exemplo, tulica, mecdnica, térmica ou outra, em energia elétrica, ¢ de distribuidor, .cendo aos consumidores a quantidade de energia demandada, instante a inte. Em nao sendo possivel seu armazenamento, o sistema deve contar, como sera analisado a seguir, com capacidade de produgdo e transporte que atenda ao suprimento, num dado intervalo de tempo, da energia consumida e& méxima solicitacdo instantdnea de poténcia ativa, Deve-se, pois, dispor de sistemas de controle da produc&o de modo que a cada instante seja produ- zida a energia necesséria a atender & demanda e &s perdas na produgao e no transporte. Identificar-se-4, em tudo quanto se segue, 0s blocos de produgic. de energia por sua designagao corrente de “blocos de geragdo”, destaca-se a impropriedade do termo, de vez que, néo hé geragio de energia, mas sim, transformagdo entre fontes de energia diferentes. Aqui, no Brasil, face a0 grande potencial hidrico existente, predomina a produgo de energia elétrica pela transformagio de energia hidréulica em, elétrica, usinas hidroelétricas, e estando 03 centros de produgao, de modo+ geral, afastados dos centros de consumo, é imprescindivel a existéncia de ym elemento de interligacao entre ambos que esteja apto a transportar a enerBia demandada, Sendo o montante das poténcias em jogo relevante e as distancias a serem percorridas de certa monta, torna-se inexequvel o transporte dessa energia na tensdo de geragdo, Assim, no diagrama de blocos da fig. 1.1, sucede ao bloco de geracdo o de elevacdo da tensfo, no qual a tensao é elevada do valor com o qual foi gerada para o de transporte, “tensdo de transmissio”, O valor dessa tensao € estabelecido em funcdo da distancia a ser percorrida e do montante de energia a ser transportado. Por outro lado, em se chegando aos centros de consume, face a grande diversidade no montante de poténcia demandada pelos varios consumidores, varldvel desde a ordem de grandeza de centenas de MW até centenas de W, € inviével o suprimento de todos os usuarios na tenséo de transmissio. 1.1 — Introducao TT Assim, conforme apresentado na fig. 1.1 os sistemas elétricos de poténcia podem ser subdivididos nos trés grandes blocos: de converter alguma forma de energia em © Geragdo, que perfaz a fun energia elétrica; © ‘Transmissio, que é responsavel pelo transporte da energia elétrica dos centros de produg&o aos de consumo; * Distribuigio, que distribui a energia elétrica recebida do sistema de transmissao aos grandes, médios e pequenos consumidores. Os valores eficazes das tensdes, com fregiténcia de 60 Hz, utilizados no Brasil, que estdo fixados por decreto do Ministério de Minas e Energia, estdo apresentados na Tab. 1.1, onde se apresentam as éreas do sistema nas quais sao utilizadas. Apresenta-se também algumas tensdes nao padronizadas ainda em uso. No sistema de geragdo a tenstio nominal usual é 13,8 KV, encontrando-se, no entanto, tensdes desde 2,2 kV até a ordem de grandeza de 22 KV. Desta- ca-se ainda a existéncia de pequenas unidades de geracdo, que podem ser conectadas diretamente no sistema de distribuigSo. Na fig. 1.2apresenta-se um diagrama unifilar tipico de um sistema elétrico de poténcia, onde se destaca a existéncia de trés usinas, um conjunto de linhas de transmisséo, uma rede de subtransmissao, uma de distribuigao primaria € trés de distribuiggo secundaria, Observa-se que o sistema de transmissao opera, no caso geral, em malha, o de subtransmisséo opera radialmente, po- dendo, desde que se tomem cuidados especiais, operar em malha. O sistema de distribuigao priméria opera, geralmente, radial e o de distribuigo secundaria pode operar quer em malha, quer radialmente, Rane Mecood “1 ‘ “ransmisséo | 'Subiransmissdo, {Distbuigao primar Fig. 1.2 Diagrama unifilar de sistema elétrico de poténeia * Ponte: site www, taipugovbr . 02200,127 1 — Constituicao dos Sistemas Elétricos de Poténcia 1. 2- SISTEMA DE GERACAO Obtém-se energia elétrica, a partir da conversao de alguma outra forma de energia, utilizando-se maquinas elétricas rotativas, geradores sincronos ou alternadores, nas quais 0 conjugado mecanico é obtido através de um processo que, geralmente, utiliza turbinas hidréulicas ou a vapor. No caso de aprovei- tamento hidréulico o potencial disponivel é definido pela queda @’égua, altura de queda e vaz8o, podendo ter-se usinas desde algumas dezenas de MW até milhares de MW. Assim, a titulo de exemplo, a usina Henry Borden, na Serra do Mar, em. Sao Paulo, conta com poténcia instalada de 864 MW, ao passo que a Usina de Itaipu conta com poténcia instalada de 12.600 MW. Por outro lado, dentre as usinas térmicas, que se baseiam na conversio de calor em energia elé- trica, hé aquelas em que o vapor produzido numa caldeira, pela queima do combustivel, aciona uma turbina a vapor que fornece o conjugado motor ao altemador. Como combustivel dispoe-se, dentre outros, do 6leo combustivel, carvao, bagaco de cana, ou madeira, Nas centrais atomnicas, como € 0 caso da Usina de Angra dos Reis, o calor para a produco do vapor € obtido através, da fisséo nuclear. As usinas hidréulicas apresentam um tempo de construgio bastante jongo, com custo de investimento elevado, porém, seu custo operacional € extremamente baixo. Para melhor visualizagao do vulto das obras necessérias, cita-se, a titulo de exemplo, a usina de Itaipu!, que dispoe de 18 unidades geradoras, 9 operando em 60 Hz e 9 em 50 Hz, com tensao nominal de 18 kV 5% ~ 10%), poténcia nominal 823,6 MVA, para as unidades em 50 Hz, e 737,0 MVA, para as em 60 Hz, tendo cada unidade peso total de 3.343 t (50 Hz) ¢ 3.242 t (60Hz). Apresenta bacia hidrogréfica com area de drenagem de 820,000 km®, reservatério com area de 1.350 km’, extensdo de 170 km, cota méxima de 220 me volume de agua de 29 x 10°m*. Suas barragens principais elaterais, que sao construfdas em concreto; terra e enrocamento, apresentam uum comprimento total de 7.760 m, altura maxima de 196 me exigiram, em sua construg&o, volumes de 8.100 mé de concreto e 13,2 x 10®m® de terra e en- 0,38010,220 u 438 ee oaks 0: 5. Sea 1.2 — Sistema de Geragao 5 OO ———— rocamento. Seu vertedouro apresenta largura total de 390 m, comprimento total da calha mais a crista de 483 m, contando com 14 comportas de 20 X 21,34 m? e corn capacidade maxima de descarga de 62.200 m/s. Seus condutos forcados tém comprimento de 142 m e diémetro de 10,5 m que garantem descarga nominal de 690 m®/s. A entrada em operacao das primei- ras duas unidades geradoras deu-se em 1984, e completou-se a entrada em operagao das dezoito unidades em 1991 Por sua vez as usinas térmicas apresentam tempo de construgao e custo de investimento sensivelmente menores, apresentando, no entanto, custo operacional elevado, em virtude do custo do combusttvel. As primeiras situam-se, geograficamente, onde haja disponibilidade de gua com desnivel que permita a construgao, através de barragens, do reserva~ t6rio, exigindo, em geral, a construgao de sistema de transmissao. Destaca-se ainda como inconveniente o alagamento de areas férteis, perda de terrenos produtivos, e possiveis modificacées no clima da micro-regifio. As térmicas, por sua vez, também necessitam de 4gua, para a condensacéo do vapor, po- rém, em ordem de grandeza menor que a consumida pelas hidréuticas, o que permite maior grau de liberdade em sua localizacéo, podendo situar-se em maior proximidade dos centros de consumo. Tal fato se traduz pela reducas de investimentos no sisterna de transmissao. Apresentam como inconveniente aemissio, na natureza, de poluentes, residuos da combusto, e, conforme seu tipo, a utilizagéo de combustivel néo renovavel. De modo geral, sempre que haja disponibilidade de energia hidraulica a opcao de maior economicidade 2a das usinas hidrelétricas. Atualmente vao ganhando espaco as turbinas a g4s, que jé permitem a construgdo de unidades geradoras de até 500 MW. Outro aspecto assaz importante da geractio é representado pelo “uso muiltiplo”, isto é, 0 vapor produzido na caldeira, usualmente supersaturado, € utilizado para o acio- namento da turbina a vapor que produz eletricidade, e sua descarga libera -. vapor, a temperatura mais baixa, para aplicagées industriais e para, através de méquina térmica, produgo de frio. Este tipo de aplicago aumenta muito 0 rendimento de todo o proceso, chegando a viebilizar sua utilizagao em grandes indiistrias ou grandes centros de consumo. Salienta-se, ainda, a “cogeragdio”, em que indtistrias de grande porte gerama energia elétrica que necessitam e injetam 0 excedente na rede de distribuiggo. : — OBrasil, dive dispde de um dos maiores potenciais hidréulicos do mundo, - conta, basicamente, com quatro grandes bacias: Bacia Amaz6nica; we * Bacia do Sao Francisco; Bacia do Tocantins; Bacia do Parané; das quais a Ultima, por sua maior proximidade com os grandes centros de consumo, é a mais explorada. A bacia Amaz6nica esté praticamente inexplo- rada, 0 que é justificado por seu afastamento dos centros de consumo, que exigiria a construgao de sistema de transmisséio sobremodo caro. Além disso, ‘em se tratando de regio de relevo sensivelmente plano, seria necessério 0 alagamento de enormes dreas. 1. —Constituicao dos Sistemas Elétricos de Poténcia 1.3 SISTEMA DE TRANSMISSAO O sistema de transmissdo, que tem por fung4o precipua o transporte da energia elétrica dos centros de produgao aos de consumo, deve operar interligado. Tal interligagiio é exigida por varias razbes, dentre elas destacando-se a con- fiabilidade e a possibilidade de intercdmbio entre areas. A titulo de exemplo, destaca-se a existéncia de ciclos hidrol6gicos diferentes entre as regides de Sao Paulo, onde o perfodo das chuvas corresponde ao verao, e do Parana, onde tal perfodo concentra-se no inverno. Deste modo a operac4o interligada do sistema permite que, nos meses de ver&o Sao Paulo exporte energia para © Parand, e que no inverno importe energia do Parand. (O esgotamento das reservas hidricas, préximas aos centros de consumo, impos que fosse iniciada a exploracdo de fontes mais afastadas, exigindo 0 desenvolvimento de sistemas de transmissao de grande porte, envolvendo o transporte de grandes montantes de energia a grandes distancias. Este fato exigiu que as tensOes de transmissio fossem aumentadas, com grande esforco de desenvolvimento tecnolégico. Atualmente, no mundo, hé linhas operando em tensdes préximas @ 1,000 kV, Outra érea que ganhou grande impulso é a transmissao através de elos em corrente continua, atendidos por estado retificadora, do lado da usina, e inversora, do lado do centro de consumo, O Brasil apresenta-se dentre os pioneiros nessa tecnologia, tendo em operagao no sistema o elo em corrente continua de Itaipu, que é um dos maiores do mundo pela poténcia transportada e pela distancia percorrida. Opera com dois bipolos nas tensdes de + 600 KV e - 600 kV em relagao a terra, que cor- responde a tensdo entre linhas de 1.200 kV. Desenvolve-se desde Itaipu até Ibitina, SP, cobrindo uma distancia de 810 km e transportando uma poténcia de 6.000 MW. Para disténcias relativamente pequenas, que representam a maioria do sistema de transmissdo, as linhas so triffsicas e operam em tensao na faixa de 230 a 600 KV, percorrendo centenas de qilometros. Subestagbes, SEs, de transmisstio ocupam-se em realizar as interligacées e compatibilizar os varios niveis de tenséo. Exige-se elevada confiabilidade dos sistemas de transmissao, de vez. que so 0s responsaveis pelo atendimento dos grandes centros de consumo. Esse objetivo é atendido através de rigorosos critérios de projeto e de upesacao e da existéncia, obrigatéria, de capacidade de transmissdo ociosa e de interli- gages. Na fig. 1.3 apresentam-se as prinéipais linhas de transmissao e bacias hidrograficas brasileiras. . 1.4 SISTEMA DE DISTRIBUICAO 1.4.1 SISTEMA DE SUBTRANSMISSAO Este elo tem a fungéo de captar a energia em grosso das subestacdes de subtransmissio e transferi-la as SEs de distribuicao e aos consumidores, em tensdo de subtransmisséo, através de linhas trifasicas operando em tensdes usualmente, de 138 kV ou 69 KV ou, mais raramente, em 34,5 kV, com capaci- dade de transporte de algumas dezenas de MW por circuito, usualmente de 20 1.4 — Sistema de Distribuiggo 2.150 MW. Os consumidores em tensao de subtransmissio so representados, usualmente, por grandes instalagdes industriais, estagdes de tratamento e bombeamento de agua. sisterna de subtransmissao pode operar em configura¢do radial, com possibilidade de transferéncia de blocos de carga quando de contingéncias, Com cuidados especiais, no que se refere & protecao, pode também operar emi malha, Para elucidar este conceito, na fig.1.4 apresentam-se trechos da rede de transmissao, em 345 KV, eo fechamento de malha através da rede de subtransmissio, 138 kV, Na condicao normal, fig.1.4a, observa-se, inicialmente, a impossibilidade de controle da distribuicao do fluxo de poténcia na rede de subtransmissao, isto é, ter-se-4 sua distribuigéo em obediéncia as leis de Fig. 1.3 Bacias hidrogréficas brasileiras (Fonte: ‘www.0ns.0rg, br. a oe

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