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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

Práticas de oralidade e práticas letradas – Letras


Professores: Hérica Lima

Alunos(as): Camily Cristina Portela dos Santos


Data: 05/abril/2022

1ª Verificação da Aprendizagem – Práticas de oralidade e práticas letradas

Numa pesquisa realizada por Magalhães e Lacerda (2019) com 35 professores e professoras de várias
disciplinas do Ensino Fundamental e Médio participantes de um curso de extensão intitulado
“Letramentos e práticas escolares”, realizado pela da Universidade Federal de Juiz de Fora durante o
ano de 2017, foram feitas algumas perguntas aos docentes sobre oralidade. A primeira delas
solicitava aos professores que apresentassem sua compreensão acerca das “práticas de oralidade na
escola”. As respostas podem ser visualizadas abaixo em porcentagem:

Fonte: MAGALHÃES, Tânia Guedes; LACERDA, Ana Paula de Oliveira. Concepções e práticas de oralidade
na escola básica na perspectiva dos docentes. Periódico Horizontes – USF – Itatiba, SP – Brasil – 2019.

1. Considerando as leituras e discussões realizadas na nossa disciplina, analise as respostas dos


docentes, com foco sobretudo no que se refere ao tratamento das relações entre a fala e a
escrita, à abordagem ainda dicotômica das duas modalidades e à perspectiva do continuum.
Se possível, faça sua análise em 02 (duas) laudas.
Resposta 1º:

Na atual e vigente educação formalista do ensino da língua portuguesa é, de fato, comum o


olhar dicotômico entre a fala e a escrita, dado que a influência do didatismo estruturalista
somado com o grafocentrismo da sociedade refletem uma visão preconceituosa acerca das
características das duas modalidades. Em suma, segundo Koch (1997) a categorização da
FALA X ESCRITA mostra de forma gritante o prestígio social de uma das modalidades em
detrimento da outra, posto que, mesmo não sendo a modalidade de maior utilização no
cotidiano em comparação com a fala, a escrita é abordada sob o ponto de vista formal oposta
do âmbito oral, sendo assim, é considerada: explícita, condensada, planejada, completa,
elaborada, descontextualizada, rica em informação, densa lexicalmente e etc.

Por mais que ainda seja predominante essa adesão dicotômica (e arcaica) da relação fala-
escrita, há estudiosos como Marcushi (2007) que não aceitam tal primazia e afirmam que
“[...] não há razão alguma para desprestigiar a oralidade e supervalorizar a escrita.” Pois
“Ambas têm um papel importante a cumprir e não competem.” (p.15), ainda segundo o autor,
ambas as modalidades são consideras pares de um mesmo sistema – a língua. Sendo assim,
não são dois sistemas distinto, mas sim realizações de um mesma sistema linguístico, ou seja,
é incorreto afirmar que a escrita e a fala são fenômenos separados, ao contrário, devem ser
considerados indissociáveis pois estão num continuum de diferenças e semelhanças.

Essa relação intrínseca está presente no sistema linguístico por meio da gradação que faz o
uso dos inúmeros gêneros textuais presentes na língua, é possível ver essa relação – fala-
escrita – evidente através da realização de atividades que contemplem um contínuo de textos
orais e escritos, tais como: a oralização da escrita, retextualização, editoração e etc. Cabe
ressaltar também que as análises não precisam ser de apenas uma categoria de texto, posto
que as práticas sociais – letradas e orais – que englobam a ordem do continuum são diversas,
por exemplo, pode-se ser posto em questão desde os gêneros informais (como: carta(s),
conversação, telefonema, SMS(s) e etc) até os gêneros formais (como: e-mail(s), aula,
seminário, documento(s) e etc).

Em suma, a pesquisa realizada por Magalhães e Lacerda (2019) nos permite refletir o quanto
a supremacia da escrita e os estereótipos atribuídos a fala afetam e estigmatizam até mesmo a
perspectiva daqueles que tem como função perpetuar o ensino e a educação para futuros
cidadãos letrados, visto isso, é notável que o ensino da língua (como já mencionado) ainda se
dá do ponto de vista formal de aprendizagem, onde, infelizmente não há o equilíbrio das
modalidades devido ao grafocentrismo estrutural presente na sociedade.

Por isso, é imprescindível delimitar o real valor da língua e coloca-la em questão como
verdadeiramente se constitui, seja oral ou escrita, o papel da língua é intrinsecamente ligado
as organizações sociais presentes em uma determinada sociedade, posto isso, é importante
concluir que a fala e a escrita possuem valores empíricos iguais (embora não reconhecidos)
que se desenvolvem através de práticas sócio-culturais específicas as quais mesmo que se
realizem com diferentes recursos são concomitantemente frutos de um mesmo sistema
linguístico.
Em uma outra pesquisa, desta vez realizada por Carvalho (2016), a autora traz o relato de um
trabalho de retextualização realizado com estudantes do 7º ano de uma escola pública da cidade de
São Francisco do Maranhão:

Os alunos foram inicialmente provocados a eleger um acontecimento interessante na cidade,


para que fosse feita uma discussão em sala de aula. A construção de uma estrada foi o assunto
escolhido. Os alunos foram orientados pela pesquisadora a obter informações junto aos moradores
próximos à estrada e aos trabalhadores da obra sobre o acontecimento.

Levando em conta que toda produção de texto deve partir do texto para o texto, foi
apresentado à turma um texto motivador do gênero resumo de texto explicativo, intitulado
Construção de estrada, adaptado de slides extraídos de
http://home.furb.br/erwin/estradas/resumo_estradas.pdf, ocasião em que foi feita a leitura oral pela
professora-pesquisadora, leitura silenciosa pelos alunos, discussão coletiva e consulta ao dicionário.

Em seguida procedeu-se às gravações do relato oral de cada aluno em mídia de áudio. Os


textos orais foram posteriormente transcritos pela professora pesquisadora, com fidelidade ao que foi
oralizado, ou seja, foram evitadas inserções e qualquer tipo de eliminação, e retextualizados para a
modalidade escrita pelos alunos, em dois momentos: no primeiro, pelo autor do texto oral e, no
segundo momento, por outro aluno da turma, mantendo na escrita o gênero relato.

Para cada aluno, utilizamos uma ficha, na qual fizemos o registro (digitado) dos textos
transcritos, bem como dos textos escritos resultantes das retextualizações do oral para o escrito.

(...)

A escolha do gênero relato oral de informações sobre um acontecimento na própria


comunidade dos alunos, mantendo o mesmo gênero após retextualização para a modalidade escrita
(...) foi bastante significativa, uma vez que permitiu uma vivência concreta, antes não experimentada
pelos alunos, de trabalharem a linguagem oral, fazendo uso da própria fala e da fala de seus pares.
Na fase da escrita, verificamos, como já era previsto, maior interesse na retextualização do próprio
texto oral, do que na retextualização do texto do parceiro.

Fonte: CARVALHO, Isabel Maria Soares da Costa. Anais do V COGITE – Colóquio sobre Gêneros & Textos, 2016.
2. Novamente considerando as leituras e discussões realizadas na nossa disciplina, analise a
prática da docente no que se refere, entre outros aspectos, ao trabalho com a retextualização,
destacando os “pontos fortes” dessa prática e, se for o caso, outras ações que poderiam torná-
la mais significativa. Se possível, faça sua análise em 02 (duas) laudas.

Resposta 2º:

A retextualização se dá nos mais diversos contextos do nosso cotidiano seja anotar as


informações de um telefonema ou a produção oral de um seminário, são todos frutos desse
processo tão vívido e presente. Em geral existem várias possibilidades de retextualização nas
práticas sociais discursivas, dito isto, o conceito desse fenômeno se dá basicamente no
processo de repetição daquilo que foi dito por outro sujeito, isto é, segundo Marcushi “Toda vez
que repetimos ou relatamos o que alguém disse, até mesmo quando produzimos as supostas
citações ipsis verbis, estamos transformando, reformulando, recriando e modificando uma
fala em outra.” (2010. p. 48).

É importante ressaltar que o processo de retextualização se dá sempre mediante aos gêneros


textuais, dito isto, os mesmos detém de um papel essencial na aprimoração do letramento e
competências da oralidade, visto que, de acordo com Schneuwly (2004) o gênero é
considerado um megainstrumento das interações interpessoais, posto isso, essa afirmação
condiz com o fato de que inevitavelmente fazemos o uso dos diversos gêneros que circulam
na sociedade para poder estabelecer uma comunicação. Posto que os gêneros possuem um
papel fundamental no ensino da língua, se faz necessário por em pauta também a influência
do ensino formalista, dado que, os gêneros tradicionalmente vistos nas escolas são somente
de cânones literários, não sendo o bastante para abarcar a gama de gêneros existentes.

Na produção de uma retextualização o docente terá a oportunidade de aprimorar ao máximo


as competências cognitivas dos discente, pois, será possível realizar a análise desde
gramatical até a uma possível reflexão crítica acerca do assunto trazido, posto isso, na
atividade proposta por Carvalho os alunos tiveram o contato com a retextualização do gênero
“relato oral” aos quais foram trabalhados em dois momentos. A atividade estabeleceu um
primeiro contato dos alunos para estudarem a linguagem oral e suas especificidades, visto
que no processo, indubitavelmente, os mesmos perceberam as marcas características da
produção oral, tais como: repetições, prosódias, sotaque, expressões extralinguísticas e etc.

Além disso, através da passagem da oralidade para escrita é possível estabelecer propostas
didáticas imprescindíveis para o ensino da língua, dado que, por meio da análise linguística
dos textos sejam orais ou escritos, os alunos terão uma maior absorção do conteúdo e gênero
trabalhado em sala, uma vez que será aprimorada competências (escrita, oral, leitura)
essenciais para o desenvolvimento do letramento e oralidade.
Critérios de avaliação

Critérios Resultado Resultado


esperado alcançado

Análise teoricamente fundamentada das respostas dos docentes, 4,5


considerando aspectos como tratamento das relações entre a fala e a
escrita, abordagem ainda dicotômica das duas modalidades e
perspectiva do continuum

Análise teoricamente fundamentada da prática docente no que se refere, 4,5


dentre outros aspectos, ao trabalho com a retextualização, destacando os
“pontos fortes” dessa prática e, se for o caso, outras ações que poderiam
torná-la mais significativa

Articulação das ideias, argumentação e atendimento às normas de 1,0


escrita acadêmica

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