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Funções da linguagem
Diferentemente da função referencial ou denotativa, que preza pela objetividade, a principal particularidade
da função emotiva ou expressiva é o caráter subjetivo, ou seja, a linguagem cumprindo a função de
emitir opiniões, emoções, desejos, sentimentos, expressões individuais.
Estruturada com sequências na primeira pessoa do discurso, tem como representantes os artigos de
opinião, diários, cartas pessoais e poemas líricos, por exemplo. Assim, o ponto de vista de quem
fala/escreve é essencial no trabalho com a linguagem.
3. Função poética
Embora tenha como nome função poética, essa função da linguagem não é exclusiva dos poemas.
Quando a intenção discursiva é a de construir uma mensagem que valoriza o tipo em sua elaboração,
vemos a manifestação desse tipo de função.
Assim, a presença de figuras de linguagem, seja em textos poéticos, seja em textos em prosa, bem
como diferentes escolhas vocabulares, ou mesmo a própria estruturação textual em versos com a
presença de rimas demonstram a intencionalidade do trabalho com a mensagem.
Quem nunca entrou em um elevador e “jogou conversa fora” sobre como está o clima? Mesmo nos
mais despretensiosos momentos de fala, as funções da linguagem estão presentes. Ao desejar “Bom
dia!”, ou mesmo quando o professor, em sala de aula, pergunta “Entendeu?”, percebemos o desejo de que
a comunicação siga seu curso. Do “alô” ao “tchau”, do “bom dia” a “boa noite”, vemos que o ser humano é
realmente o ser que fala e que nossos laços sociais fortalecem-se diante da necessidade de nos
comunicarmos.
5. Função conativa ou apelativa
Podemos verificar a ocorrência desse tipo de função em textos de caráter publicitário, discursos políticos e
religiosos, e também em cartas argumentativas. Assim, quando o emissor (locutor) tenta influenciar o
receptor (interlocutor), certamente estamos diante da função conativa ou apelativa.
6. Função metalinguística
No entanto, podemos dizer que toda forma de explicação, com expressões como “ou seja”, “sendo assim”,
“por exemplo”, introduzem a manifestação dessa função da linguagem. Música que fala ou explica como se
fazer música, poemas que tratam do fazer poético, além de filmes que revelam como se fazer cinema
marcam a metalinguagem.
1) Leia.
“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou
lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
Cora Coralina
No texto, a função emotiva da linguagem pode ser identificada por meio da característica indicada
em:
b) emprego de formas verbais no pretérito, mantendo uma relação comparativa entre o eu passado e o eu
presente.
c) evidência do código reproduzido por meio dele próprio, esclarecendo o assunto principal.
d) mensagem centrada no emissor, deixando claros seus anseios e suas percepções sobre a própria vida.
2) Leia.
Diálogo de todo dia
— Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
— Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.
— Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.
— Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
— Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
— Estou respondendo.
— Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um
desconhecido?
— Bolas!
— Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe
responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez
por todas: com quem deseja falar?
Silêncio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo de todo dia. In: Para gostar de ler Júnior. v. 3. São Paulo: Ática,
2001. p. 21–22.
a) conativa, pois pretende-se saber com quem se fala e, por isso, o emissor se direciona ao receptor.
b) fática, pois a pergunta sobre quem fala inicia o diálogo ao abrir o canal de comunicação.
c) poética, pois ressai a intenção de construir uma narrativa humorística a partir de um jogo de linguagem.
d) fática, pois o autor vale-se de marcas de oralidade ao longo do diálogo, como “Ah, sim”, “engraçadinho”
e “bolas!”.
e) emotiva, pois emprega-se uma linguagem predominantemente figurativa, o que atribui ao texto um
caráter de intimidade.
3) Leia.
Soneto da fidelidade
Vinícius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
c) fática, pois são recorrentes marcas de interlocução que revelam o caráter dialógico do texto.
d) poética, pois a construção da mensagem tem como objetivo valorizar a estética textual associada ao
sentimentalismo do eu-lírico.
e) referencial, pois os verbos articulados na terceira pessoa permitem que o foco recaia sobre o contexto
de comunicação.
4) (Enem 2020)
Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela
primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse
nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha
imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invitation au Voyage, de Baudelaire.
Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de
fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por motivo da
doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!”.
Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois,
em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida
besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse
poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava,
não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma
cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada.
BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.
a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à criação poética.
b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de
Bandeira.
c) metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus
poemas.
d) poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira.
e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema.
5) Leia.
7) (Enem 2018)
Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente da
mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano. Evidencia-
se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário racista
apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a inferiorização
sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético aponta a
desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza e do
branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso midiático-
publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista construída e atuante
no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo, feito nos diversos espaços
sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética” que empodere os sujeitos
negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção de uma ética da diversidade.
Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade.
a) impessoalidade, na organização da objetividade das informações, como em “Este artigo tem por
finalidade” e “Evidencia-se”.
c) metaforização, relativa à construção dos sentidos figurados, como nas expressões “descolonização
estética” e “discurso midiático-publicitário”.
8) (Enem 2020)
As cartas de amor
com a língua.
Sopradas. Respiradas.
O esforço do pulmão
a letra tremendo
a gripe, o contágio.
Porque a saliva
acalma um machucado.
As cartas de amor
com os dentes.
a) influenciar o leitor em relação aos sentimentos provocados por uma carta de amor, por meio de opiniões
pessoais.
d) esclarecer como devem ser escritas as mensagens sentimentais nas cartas de amor.
1) Leia.
Contudo, a divergência está no fato de existirem pessoas que possuem um grau de escolaridade mais
elevado e com um poder aquisitivo maior que consideram um determinado modo de falar como o “correto”,
não levando em consideração essas variações que ocorrem na língua. Porém, o senso linguístico diz que
não há variação superior à outra, e isso acontece pelo “fato de no Brasil o português ser a língua da
imensa maioria da população não implica automaticamente que esse português seja um bloco compacto
coeso e homogêneo”. (BAGNO, 1999, p. 18)
Sobre o fragmento do texto de Marcos Bagno, podemos inferir, exceto:
a) A língua deve ser preservada e utilizada como um instrumento de opressão. Quem estudou mais define
os padrões linguísticos, analisando assim o que é correto e o que deve ser evitado na língua.
b) As variações linguísticas são próprias da língua e estão alicerçadas nas diversas intenções
comunicacionais.
c) A variedade linguística é um importante elemento de inclusão, além de instrumento de afirmação da
identidade de alguns grupos sociais.
d) O aprendizado da língua portuguesa não deve estar restrito ao ensino das regras.
e) Segundo Bagno, não podemos afirmar que exista um tipo de variante que possa ser considerada
superior à outra, já que todas possuem funções dentro de um determinado grupo social.
2) Leia.
É um mito a pretensa possibilidade de comunicação igualitária em todos os níveis. Isso é uma idealização.
Todas as línguas apresentam variantes: o inglês, o alemão, o francês etc. Também as línguas antigas
tinham variações. O português e outras línguas românicas provêm de uma variedade do latim, o chamado
latim vulgar, muito diferente do latim culto. Além disso, as línguas mudam. O português moderno é muito
distinto do português clássico. Se fôssemos aceitar a ideia de estaticidade das línguas, deveríamos dizer
que o português inteiro é um erro e, portanto, deveríamos voltar a falar latim. Ademais, se o português
provém do latim vulgar, poder-se-ia afirmar que ele está todo errado.
A variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em grupos: há os mais jovens e os
mais velhos, os que habitam numa região ou noutra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de
uma ou outra classe social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve para
marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para seus membros. Aprendemos a distinguir a
variação. Quando alguém começa a falar, sabemos se é do interior de São Paulo, gaúcho, carioca ou
português. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais jovens, que determinadas formas
se usam em situação informal, mas não em ocasiões formais. Saber uma língua é conhecer variedades.
Um bom falante é “poliglota” em sua própria língua. Saber português não é aprender regras que só existem
numa língua artificial usada pela escola.
As variantes não são feias ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou elegantes; são simplesmente
diferentes. Como as línguas são variáveis, elas mudam. “Nosso homem simples do campo” tem dificuldade
de comunicar-se nos diferentes níveis do português não por causa da variação e da mudança linguística,
mas porque lhe foi barrado o acesso à escola ou porque, neste país, se oferece um ensino de baixa
qualidade às classes trabalhadoras e porque não se lhes oferece a oportunidade de participar da vida
cultural das camadas dominantes da população.
FIORIN, José Luiz. In: Atas do I Congresso Nacional da Abralin, 2000. Excertos.
De acordo com o texto, ser “poliglota” em sua própria língua consiste em:
a) Compreender que as variantes linguísticas não são erradas ou certas, embora o homem simples do
campo tenha dificuldade de comunicar-se.
b) Conhecer as variantes de línguas como o inglês, o alemão e o francês, a fim de estabelecer uma
comunicação igualitária em todos os níveis.
c) Incluir os diferentes grupos de falantes na sociedade letrada e distinguir se são gaúchos, cariocas ou do
interior de São Paulo.
3) Leia.
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no
Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu.
Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de
regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia
fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma
solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou:
Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de
poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas.
Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais
das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar
com saudade: Ai morena, não me escreve/que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu
ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
4) Leia.
(UFRGS – RS) Considere as afirmações abaixo, sobre a construção de uma educação de qualidade.
I. Uma educação de qualidade deve, no que concerne à variação linguística, questionar as reações sociais
advindas da percepção da língua como fenômeno homogêneo.
II. O desafio, para uma educação de qualidade, está em preparar a escola para combater a discriminação
que tem origem nas diferenças entre as variedades linguísticas.
III. As variedades linguísticas próprias ao domínio da leitura, escrita e fala nos espaços públicos, que
devem ser ensinadas pela escola, são as que não sofreram variações sociais.
a) Apenas I.
b) Apenas lI.
c) Apenas I e lI.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
5) Leia.