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Revisão de Língua Portuguesa 3ª série

Funções da linguagem

As funções da linguagem estão relacionados com os estudos da linguagem e da comunicação. Alguns


estudiosos apontam a existência de, pelo menos, seis funções da Linguagem, cada uma ligada a um
diferente elemento da comunicação. Entender essas manifestações ajuda a interpretar textos com mais
eficiência e a compreender como os atos comunicativos organizam-se, podendo gerar mais eficácia no
momento de se falar ou de se escrever.
1. Função referencial ou denotativa
A função referencial ou denotativa é a função da informação. Presente em textos como artigos
científicos, textos didáticos, folhetos, manuais e textos enciclopédicos, enfatiza o referente, ou seja,
o assunto ou contexto em que aquele determinado texto está inserido. Em sua estrutura, predominam o
discurso na ordem direta e o foco na terceira pessoa com a utilização da objetividade.

Um gênero textual bastante representativo dessa função é a notícia, cuja intenção é a de informar os


leitores sobre fatos relevantes e recentes, e que, na maioria das vezes, constrói-se desprovida de opiniões
ou sequências linguísticas que pretendam levar ao convencimento.

2. Função emotiva ou expressiva

Diferentemente da função referencial ou denotativa, que preza pela objetividade, a principal particularidade
da função emotiva ou expressiva é o caráter subjetivo, ou seja, a linguagem cumprindo a função de
emitir opiniões, emoções, desejos, sentimentos, expressões individuais.

Estruturada com sequências na primeira pessoa do discurso, tem como representantes os artigos de
opinião, diários, cartas pessoais e poemas líricos, por exemplo. Assim, o ponto de vista de quem
fala/escreve é essencial no trabalho com a linguagem.

3. Função poética

Embora tenha como nome função poética, essa função da linguagem não é exclusiva dos poemas.
Quando a intenção discursiva é a de construir uma mensagem que valoriza o tipo em sua elaboração,
vemos a manifestação desse tipo de função.

Assim, a presença de figuras de linguagem, seja em textos poéticos, seja em textos em prosa, bem
como diferentes escolhas vocabulares, ou mesmo a própria estruturação textual em versos com a
presença de rimas demonstram a intencionalidade do trabalho com a mensagem.

4. Função fática ou de contato

Centrada no canal ou veículo de comunicação, a função fática ou de contato é aquela em que a


intencionalidade está na manutenção do ato comunicativo, ou seja, quando o emissor (locutor) busca
estratégias para manter a interação com o receptor (interlocutor).

Quem nunca entrou em um elevador e “jogou conversa fora” sobre como está o clima? Mesmo nos
mais despretensiosos momentos de fala, as funções da linguagem estão presentes. Ao desejar “Bom
dia!”, ou mesmo quando o professor, em sala de aula, pergunta “Entendeu?”, percebemos o desejo de que
a comunicação siga seu curso. Do “alô” ao “tchau”, do “bom dia” a “boa noite”, vemos que o ser humano é
realmente o ser que fala e que nossos laços sociais fortalecem-se diante da necessidade de nos
comunicarmos.
5. Função conativa ou apelativa

A função conativa ou apelativa é aquela em que a ênfase está no receptor da mensagem. Com a


intencionalidade de persuadir, convencer, vemos, estruturalmente, a presença de verbos no
modo imperativo, os quais têm intenção de indicar a forma como o outro deve agir.

Podemos verificar a ocorrência desse tipo de função em textos de caráter publicitário, discursos políticos e
religiosos, e também em cartas argumentativas. Assim, quando o emissor (locutor) tenta influenciar o
receptor (interlocutor), certamente estamos diante da função conativa ou apelativa.

6. Função metalinguística

A função metalinguística é a função da explicação. Geralmente, ouvimos dizer que a função


metalinguística é aquela em que o código explica o próprio código, ou seja, a linguagem explica a
própria linguagem, e então teríamos o dicionário como o principal representante dessa função.

No entanto, podemos dizer que toda forma de explicação, com expressões como “ou seja”, “sendo assim”,
“por exemplo”, introduzem a manifestação dessa função da linguagem. Música que fala ou explica como se
fazer música, poemas que tratam do fazer poético, além de filmes que revelam como se fazer cinema
marcam a metalinguagem.

1) Leia.

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou
lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”

Cora Coralina

No texto, a função emotiva da linguagem pode ser identificada por meio da característica indicada
em:

a) objetividade da informação transmitida, ausentando-se juízo de valor sobre o tema.

b) emprego de formas verbais no pretérito, mantendo uma relação comparativa entre o eu passado e o eu
presente.

c) evidência do código reproduzido por meio dele próprio, esclarecendo o assunto principal.

d) mensagem centrada no emissor, deixando claros seus anseios e suas percepções sobre a própria vida.

e) presença de marcas de interlocução, legitimando o canal de comunicação.

2) Leia.
Diálogo de todo dia

— Alô, quem fala?

— Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.

— Mas eu preciso saber com quem estou falando.


— E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.

— Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?

— Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.

— Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.

— Ah, sim. No aparelho não está ninguém.

— Como não está, se você está me respondendo?

— Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.

— Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho?

— Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.

— Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.

— Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.

— Se eu conhecesse não estava perguntando.

— Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei.

— Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.

— Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.

— Estou respondendo.

— Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?

— Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um
desconhecido?

— Bolas!

— Bolas digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe
responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez
por todas: com quem deseja falar?

Silêncio.

— Vamos, diga: com quem deseja falar?

— Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo de todo dia. In: Para gostar de ler Júnior. v. 3. São Paulo: Ática,
2001. p. 21–22.

Na crônica de Carlos Drummond de Andrade, a confusão entre os falantes é desencadeada por um


trecho em que predomina a função da linguagem:

a) conativa, pois pretende-se saber com quem se fala e, por isso, o emissor se direciona ao receptor.

b) fática, pois a pergunta sobre quem fala inicia o diálogo ao abrir o canal de comunicação.
c) poética, pois ressai a intenção de construir uma narrativa humorística a partir de um jogo de linguagem.

d) fática, pois o autor vale-se de marcas de oralidade ao longo do diálogo, como “Ah, sim”, “engraçadinho”
e “bolas!”.

e) emotiva, pois emprega-se uma linguagem predominantemente figurativa, o que atribui ao texto um
caráter de intimidade.

3) Leia.

Soneto da fidelidade
Vinícius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Disponível em: <https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/86563/>. Acesso em: 22 jul. 2021.

No texto de Vinícius de Moraes, o poeta emprega figuras de linguagem como um recurso de


subjetividade da mensagem. Considerando essa característica, a função da linguagem que
predomina nesse poema é:

a) emotiva, pois focaliza os sentimentos do emissor da mensagem e não depende de um planejamento


para a construção estrutural do texto.

b) conativa, pois direciona a mensagem ao receptor dela e busca tocá-lo sentimentalmente.

c) fática, pois são recorrentes marcas de interlocução que revelam o caráter dialógico do texto.

d) poética, pois a construção da mensagem tem como objetivo valorizar a estética textual associada ao
sentimentalismo do eu-lírico.

e) referencial, pois os verbos articulados na terceira pessoa permitem que o foco recaia sobre o contexto
de comunicação.

4) (Enem 2020)

Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela
primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse
nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha
imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invitation au Voyage, de Baudelaire.
Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de
fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por motivo da
doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!”.
Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois,
em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida
besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse
poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava,
não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências”, uma
cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada.
BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.

Os processos de interação comunicativa preveem a presença ativa de múltiplos elementos da


comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse fragmento, a função da
linguagem predominante é a:

a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à criação poética.

b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de
Bandeira.

c) metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus
poemas.

d) poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira.

e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema.

5) Leia.

A agência Loducca criou um anúncio comestível para


divulgar a pesquisa Dossiê Universo Jovem da MTV. A
proposta é ser um anúncio autossustentável, já que o tema
da pesquisa é sustentabilidade. 

Considerando suas finalidades comunicativas, pode-se


afirmar que o cartaz:

a) alcança os interlocutores a partir de uma estratégia


persuasiva centrada no modo verbal.
b) utiliza o código como uma forma de estimular o consumo
do produto divulgado na publicidade.
c) foca nas intenções do emissor da mensagem para
comunicar a importância da sustentabilidade.
d) emprega a linguagem conotativa para despertar o
interesse pelo assunto divulgado.
e) mantém o compromisso com o caráter informativo da
mensagem com objetividade na apresentação do tema.
6) Leia.
Nessa simulação de verbete de dicionário, não há a
predominância da função metalinguística da linguagem,
como seria de se esperar. Identificam-se elementos
que subvertem o gênero por meio da incorporação
marcante de características da função:

a) conativa, como em “(valeu, galera)!”.

b) referencial, como em “é festejar o próprio ser.”

c) poética, como em “é a felicidade fazendo visita.”

d) emotiva, como em “é quando eu esqueço o que não


importa.”

e) fática, como em “é o dia que recebo o maior número


de ligações no meu celular.”

7) (Enem 2018)

A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo

Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente da
mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano. Evidencia-
se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário racista
apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a inferiorização
sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético aponta a
desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza e do
branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso midiático-
publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista construída e atuante
no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo, feito nos diversos espaços
sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética” que empodere os sujeitos
negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção de uma ética da diversidade.
Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade.

SANT’ANA, J. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo. Dossiê:


trabalho e educação básica. Margens Interdisciplinar. Versão digital. Abaetetuba, n.16, jun. 2017
(adaptado).
O cumprimento da função referencial da linguagem é uma marca característica do gênero resumo
de artigo acadêmico. Na estrutura desse texto, essa função é estabelecida pela:

a) impessoalidade, na organização da objetividade das informações, como em “Este artigo tem por
finalidade” e “Evidencia-se”.

b) seleção lexical, no desenvolvimento sequencial do texto, como em “imaginário racista” e “estética do


negro”.

c) metaforização, relativa à construção dos sentidos figurados, como nas expressões “descolonização
estética” e “discurso midiático-publicitário”.

d) nominalização, produzida por meio de processos derivacionais na formação de palavras, como


“inferiorização” e “desvalorização”.
e) adjetivação, organizada para criar uma terminologia antirracista, como em “ética da diversidade” e
“descolonização estética”.

8) (Enem 2020)

As cartas de amor

deveriam ser fechadas

com a língua.

Beijadas antes de enviadas.

Sopradas. Respiradas.

O esforço do pulmão

capturado pelo envelope,

a letra tremendo

como uma pálpebra.

Não a cola isenta, neutra,

mas a espuma, a gentileza,

a gripe, o contágio.

Porque a saliva

acalma um machucado.

As cartas de amor

deveriam ser abertas

com os dentes.

CARPINEJAR, F. Como no céu. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2005.


No texto predomina a função poética da linguagem, pois ele registra uma visão imaginária e singularizada
de mundo, construída por meio do trabalho estético da linguagem. A função conativa também contribui
para esse trabalho na medida em que o enunciador procura

a) influenciar o leitor em relação aos sentimentos provocados por uma carta de amor, por meio de opiniões
pessoais.

b) definir com objetividade o sentimento amoroso e a importância das cartas de amor.

c) alertar para consequências perigosas advindas de mensagens amorosas.

d) esclarecer como devem ser escritas as mensagens sentimentais nas cartas de amor.

e) produzir uma visão ficcional do sentimento amoroso presente em cartas de amor.


VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

Quando falamos em variação linguística, analisamos os diferentes modos em que é possível


expressar-se em uma língua, levando-se em conta a escolha de palavras, a construção do enunciado e
até o tom da fala. A língua é a nossa expressão básica, e, por isso, ela muda de acordo com a cultura, a
região, a época, o contexto, as experiências e as necessidades do indivíduo e do grupo que se expressa.
Veja quantos fatores empregamos para adequar a nossa fala à situação e ao grupo em que nos
encontramos.
 Variações geográficas ou diatópicas: dizem respeito aos termos que diferem a cada região do
país, também conhecidos como regionalismos;

 Variações históricas: as palavras que mudaram a forma de escrita ou pronúncia conforme a


língua foi evoluindo, seja por costume ou por acordos ortográficos;

 Variações situacionais ou difásicas: estão relacionadas ao uso ou não da linguagem formal de


acordo com o contexto em que se está inserido, por exemplo, uma conversa entre amigos ou a fala
diante de um tribunal;

 Variações sociais ou diastráticas: são as gírias e termos comuns a determinados grupos, como,


por exemplo, o vocabulário jurídico.

1) Leia.
Contudo, a divergência está no fato de existirem pessoas que possuem um grau de escolaridade mais
elevado e com um poder aquisitivo maior que consideram um determinado modo de falar como o “correto”,
não levando em consideração essas variações que ocorrem na língua. Porém, o senso linguístico diz que
não há variação superior à outra, e isso acontece pelo “fato de no Brasil o português ser a língua da
imensa maioria da população não implica automaticamente que esse português seja um bloco compacto
coeso e homogêneo”. (BAGNO, 1999, p. 18)
Sobre o fragmento do texto de Marcos Bagno, podemos inferir, exceto:
a) A língua deve ser preservada e utilizada como um instrumento de opressão. Quem estudou mais define
os padrões linguísticos, analisando assim o que é correto e o que deve ser evitado na língua.
b) As variações linguísticas são próprias da língua e estão alicerçadas nas diversas intenções
comunicacionais.
c) A variedade linguística é um importante elemento de inclusão, além de instrumento de afirmação da
identidade de alguns grupos sociais.
d) O aprendizado da língua portuguesa não deve estar restrito ao ensino das regras.
e) Segundo Bagno, não podemos afirmar que exista um tipo de variante que possa ser considerada
superior à outra, já que todas possuem funções dentro de um determinado grupo social.

2) Leia.

É um mito a pretensa possibilidade de comunicação igualitária em todos os níveis. Isso é uma idealização.
Todas as línguas apresentam variantes: o inglês, o alemão, o francês etc. Também as línguas antigas
tinham variações. O português e outras línguas românicas provêm de uma variedade do latim, o chamado
latim vulgar, muito diferente do latim culto. Além disso, as línguas mudam. O português moderno é muito
distinto do português clássico. Se fôssemos aceitar a ideia de estaticidade das línguas, deveríamos dizer
que o português inteiro é um erro e, portanto, deveríamos voltar a falar latim. Ademais, se o português
provém do latim vulgar, poder-se-ia afirmar que ele está todo errado.

A variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em grupos: há os mais jovens e os
mais velhos, os que habitam numa região ou noutra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de
uma ou outra classe social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve para
marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para seus membros. Aprendemos a distinguir a
variação. Quando alguém começa a falar, sabemos se é do interior de São Paulo, gaúcho, carioca ou
português. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais jovens, que determinadas formas
se usam em situação informal, mas não em ocasiões formais. Saber uma língua é conhecer variedades.
Um bom falante é “poliglota” em sua própria língua. Saber português não é aprender regras que só existem
numa língua artificial usada pela escola.

As variantes não são feias ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou elegantes; são simplesmente
diferentes. Como as línguas são variáveis, elas mudam. “Nosso homem simples do campo” tem dificuldade
de comunicar-se nos diferentes níveis do português não por causa da variação e da mudança linguística,
mas porque lhe foi barrado o acesso à escola ou porque, neste país, se oferece um ensino de baixa
qualidade às classes trabalhadoras e porque não se lhes oferece a oportunidade de participar da vida
cultural das camadas dominantes da população.

FIORIN, José Luiz. In: Atas do I Congresso Nacional da Abralin, 2000. Excertos.

De acordo com o texto, ser “poliglota” em sua própria língua consiste em:

a) Compreender que as variantes linguísticas não são erradas ou certas, embora o homem simples do
campo tenha dificuldade de comunicar-se.

b) Conhecer as variantes de línguas como o inglês, o alemão e o francês, a fim de estabelecer uma
comunicação igualitária em todos os níveis.

c) Incluir os diferentes grupos de falantes na sociedade letrada e distinguir se são gaúchos, cariocas ou do
interior de São Paulo.

d) Reconhecer as variantes linguísticas do português e saber utilizar-se delas em situações distintas de


comunicação, sejam estas formais ou informais.

3) Leia.

Cabeludinho

Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no
Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu.
Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de
regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia
fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma
solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou:
Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de
poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas.
Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais
das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar
com saudade: Ai morena, não me escreve/que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu
ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.

BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.


No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre
os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”,
“disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca:

a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.

b) a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa.

c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.

d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.

e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.

4) Leia.

(UFRGS – RS) Considere as afirmações abaixo, sobre a construção de uma educação de qualidade.

I. Uma educação de qualidade deve, no que concerne à variação linguística, questionar as reações sociais
advindas da percepção da língua como fenômeno homogêneo.

II. O desafio, para uma educação de qualidade, está em preparar a escola para combater a discriminação
que tem origem nas diferenças entre as variedades linguísticas.

III. As variedades linguísticas próprias ao domínio da leitura, escrita e fala nos espaços públicos, que
devem ser ensinadas pela escola, são as que não sofreram variações sociais.

Segundo o texto, quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas lI.
c) Apenas I e lI.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

5) Leia.

A fala da mãe do menino, no último


quadrinho, revela o uso de uma variação
linguística conhecida como:

a) diatópica, isto é, própria de determinada


região do país.
b) diafásica, ou seja, estabelecida pelo
contexto comunicativo.
c) jargão, que é uma variante ligada à área
profissional em que atua o falante.
d) gíria, o equivalente a um linguajar
específico de determinados grupos sociais.
e) histórica, uma vez que é reveladora de
mudanças ocorridas ao longo do tempo.

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