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112-Texto Principal Do Trabalho (Obrigatório) - 213-1!10!20141108
112-Texto Principal Do Trabalho (Obrigatório) - 213-1!10!20141108
avaliação
Videoendoscopy of swallowing: Evaluation
protocol
Resumo Introdução
A deglutição é um processo fisiológico complexo, que interessa A deglutição é um processo fisiológico que envolve
múltiplas estruturas anatómicas da cavidade oral, faringe, múltiplas estruturas anatómicas da cavidade oral,
laringe e esófago. A disfagia é o sintoma relacionado com a faringe, laringe e esófago, coordenadas por um
dificuldade ou desconforto durante a progressão do bolo complexo controlo neuro-muscular.
alimentar da boca até ao estômago, sendo classificada em A disfagia é o sintoma relacionado com a dificuldade
disfagia orofaríngea e esofágica. A disfagia é frequentemente ou desconforto durante a progressão do bolo alimentar
subdiagnosticada condicionando malnutrição e desidratação da boca até ao estômago. Do ponto de vista anatómico,
e complicações respiratórias potencialmente muito graves. A a disfagia pode resultar de disfunção orofaríngea
videofluoroscopia tem sido considerada o “padrão-ouro” para ou esofágica e do ponto de vista patofisiológico de
a avaliação da deglutição. A videoendoscopia da deglutição alterações estruturais ou causas funcionais(1,2). A disfagia
constitui atualmente uma alternativa simples, disponível e é assim classificada em dois grandes grupos: disfagia
facilmente exequível, considerada por alguns autores o gold orofaríngea e disfagia esofágica(1).
standard para avaliação da disfagia orofaríngea. Para além de A disfagia orofaríngea caracteriza-se por um distúrbio
estabelecer o diagnóstico e orientar a abordagem terapêutica, da transferência do bolo alimentar da cavidade oral até
pode ser usada como meio de biofeedback em terapia. ao esófago, resultante de anormalidades dos músculos,
Os autores apresentam um protocolo de avaliação nervos ou estruturas da cavidade oral, faringe e
videoendoscopia da deglutição, evidenciando o seu papel esfíncter esofágico superior. A sintomatologia mais
e limites na abordagem diagnóstica destes pacientes, e frequentemente referida a esta fase é a dificuldade
estabelecem uma análise comparativa com outros métodos em iniciar a deglutição, engasgamento e sensação de
habitualmente utilizados, nomeadamente a videofluoroscopia. alimento retido na garganta.
A disfagia esofágica relaciona-se com a fase homónima
da deglutição e a sintomatologia é essencialmente
desconforto e dor torácica durante a deglutição e
regurgitação.
Os distúrbios da deglutição comprometem a sua
eficácia e a segurança. A ineficácia da deglutição
conduz progressivamente à desidratação e malnutrição,
enquanto que o comprometimento do mecanismo
Eugénia Castro protector da via aérea pode permitir a aspiração
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho laringo-traqueal, condicionando patologia respiratória
Luís Fonseca (desde moderado broncoespasmo até pneumonia da
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho aspiração, abcesso pulmonar, sepsis e morte)(4). Mais
José Pedro Matos de 30% dos doentes idosos com disfagia apresentam
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho aspiração - metade deles sem tosse; 45% resíduos
Teresa Bernardo orofaríngeos e 55% dos idosos disfágicos estão em risco
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho de malnutrição(5).
Agostinho P. Silva Define-se aspiração como a penetração de secreções
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho abaixo do nível das cordas vocais. Pode ser saliva,
Correspondência: secreções, refluxo ou material ingerido e é um
Eugénia Castro fenómeno natural. Aproximadamente 50% dos adultos
Serviço de Otorrinolaringologia
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho normais podem aspirar enquanto dormem. Se existir
Rua Conceição Fernandes - Vilar de Andorinho um mecanismo de limpeza da árvore traqueobrônquica
4430-502 VILA NOVA DE GAIA
Telefone: 22 786 51 0 preservado e defesas da mucosa intactas, pode tolerar-
se alguma aspiração fisiológica sem complicações.
Resultados:
O objectivo deste trabalho foi a apresentação da
metodologia do nosso protocolo de avaliação e a
divulgação entre nós de um processo ágil, simples e
sentado com a cabeça ligeiramente em flexão. O facilmente exequível do estudo da disfagia orofaríngea.
nasofaringolaringoscópio é introduzido pela narina A nossa casuística é ainda modesta para reflectir-mos
mais ampla, sem recurso a vasoconstritor ou anestésico sobre resultados, contudo, verificamos ter contribuindo
tópico. para uma avaliação eficaz da maioria dos doentes com
É documentada a mobilidade e encerramento labial, perturbação da deglutição.
mobilidade e sensibilidade da língua, encerramento Foi essencialmente observado o controlo oral relativo à
velofaríngeo, alterações estruturais e mobilidade contenção e propulsão (escape oral, atraso em relação
faringo-laríngea. No decorrer da avaliação endoscópica ao comando da deglutição), sensibilidade laríngea e os
são solicitadas as seguintes tarefas: deglutir “em seco”; reflexos protectores da tosse, a eficácia de propulsão
respiração tranquila, emissão de /e/ sustentado; salivar e alimentar (estase nas valéculas e seios
emissão de /i/, /i/, /i/ repetitivo; Sniff- /i/, Sniff- /i/, piriformes, resíduo alimentar após a deglutição), a
Sniff- /i/; tosse; manobra de Valsalva. A pesquisa da penetração laríngea e aspiração laringo-traqueal.
sensibilidade é efetuada através de pequenos toques Na maioria dos pacientes o exame foi bem tolerado e não
com a porção distal do nasofaringolaringoscópio na se registaram complicações associadas. Em alguns casos
epiglote, pregas ariepiglóticas e paredes faríngeas, foi descontinuado o exame por aspiração significativa e
observando o reflexo laríngeo adutor. procedeu-se, quando necessário, à toilette de conteúdo
Seguiu-se a avaliação videoendoscópica com recurso, aspirado a nível laringo-traqueal.
como referido, a bolos alimentares em quantidade e Os achados mais frequentemente observados foram,
consistência predefinida. Habitualmente foi iniciada por ordem decrescente de apresentação: estase
pela consistência pastosa fina embora as queixas nas valéculas e resíduos faríngeos após a ingestão
do paciente possam determinar a selecção das de consistência pastosa grossa, escape posterior
consistências. Os bolos de consistência pastosa fina e de líquidos e pastosos finos, penetração laríngea e
pastosa grossa foram fornecidos em colheres de 5ml. A aspiração laringo-traqueal.
consistência líquida foi fornecida em volumes de 5ml, Os autores apresentam, a título de exemplo, alguns
10ml e 15ml em colher, seringa e copo para o paciente casos clínicos para elucidar da utilidade e exequibilidade
beber. A consistência sólida foi fornecida directamente da videoendoscopia da deglutição:
na boca do indivíduo. Os volumes utilizados foram
os mínimos que desencadeavam aspiração laringo- Caso Clínico nº1:
traqueal. Sexo masculino, 47 anos, vítima de acidente com
Inicialmente foi solicitado ao paciente que mantivesse traumatismo crânioencefálico oito meses antes,
o conteúdo na boca até ordem de deglutição. Nesta disfonia persistente, sem queixas de disfagia ou
fase a ponta do nasofibroscópio encontrava-se na suspeita de aspiração. No exame otorrinolaringológico
porção distal do palato, com visão panorâmica faringo- complementado com uma laringoestroboscopia
laríngea. Foi avaliada a capacidade de contenção oral verificou-se uma estase salivar acentuada com deficiente
cuja ineficácia resulta em escape posterior. Seguiu-se clearance de secreções faríngeas e aparente aspiração
a ordem de deglutição com observação do inicio da das mesmas. A VED apresentada em sequência de
deglutição reflexa e movimentos da base da língua. Foi imagens evidenciou:
observada a sequencialmente a contração faríngea,
FIGURA 4
Atraso no inicio da deglutição após comando com escape posterior (imagem 4.1), retroflexão da epiglote incompleta durante a
deglutição (imagem 4.2), resíduos faríngeos abundantes com ineficácia do movimento propulsor faríngeo (imagem 4.3)
FIGURA 7
Resíduos alimentares nas paredes faríngeas e seios piriformes. Penetração laríngea.
FIGURA 8
Fibrina na região da aritenoidectomia no pós-operatório de aritenoidectomia medial direita (imagem 8.1). Progressão lenta do bolo
alimentar por hipomobilidade global oral e faríngea (imagem 8.2) e penetração laríngea (imagem 8.3)
FIGURA 9
Após sugessivos movimentos de deglutição clearance eficaz
sem resíduos ou aspiração.