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Lei n.

º 93/2021
Whistleblowing

JANEIRO 2022
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INTRODUÇÃO

A Lei n.º 93/2021, consagra o regime geral de proteção de denunciantes de in-


frações, através da transposição da “Diretiva de Whistleblowing”, aplicando-
-se ao sector público e privado, sujeitando as entidades/pessoas colectivas
obrigadas a construir, por um lado, canais de denúncia internos e, por outro
lado, a concretizar medidas específicas de confidencialidade, tratamento de
dados pessoais, conservação de denúncias e de proteção e apoio do whistle-
blower.
Este mecanismo, previsto num espectro mais largo de uma política de com-
pliance enquanto instrumento de mudança de paradigma de organização das
entidades obrigadas, insere-se numa preocupação com a prevenção e luta de
fenómenos de criminalidade económica. Pretendendo-se defender a essên-
cia da democracia e os seus princípios fundamentais, designadamente os
da igualdade, transparência, livre concorrência, imparcialidade, legalidade,
integridade e a justa redistribuição de riqueza.

1. Regime geral de proteção produtos e mercados financeiros e preven-


de denunciantes de infrações ção do branqueamento de capitais e do fi-
nanciamento do terrorismo; c) Segurança e
1.1 Objecto (Vide artigo 1.º) Com a aprovação conformidade dos produtos; d) Segurança
da Lei n.º 93/2021, é estabelecido o regi- dos transportes; e) Proteção do ambiente;
me geral de proteção de denunciantes de f) Proteção contra radiações e segurança
infrações, através da transposição da “D nuclear; g) Segurança dos alimentos para
iretiva de Whistleblowing” (Diretiva (UE) consumo humano e animal, saúde animal e
2019/1937) para a ordem jurídica interna, bem-estar ani mal; h) Saúde pública; i) De-
com incidência na proteção das pessoas fesa do consumidor; j) Proteção da privaci-
que denunciam violações do direito da dade e dos dados pessoais e segurança da
União. rede e dos sistemas de informação.

1.2 Âmbito de aplicação (Vide artigo 2.º) Este 1.3 Conteúdo da denúncia ou divulgação pú-
regime tem aplicação às seguintes denún- blica (Vide artigo 4.º) Estabelece-se como
cias: a) Contratação pública; b) Serviços, conteúdo da denúncia ou divulgação públi-

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Confiança cujo auxílio deva ser confidencial, incluindo


representantes sindicais ou representantes
Experiência dos trabalhadores; b) Terceiro que esteja
Partilha ligado ao denunciante, designadamente
colega de trabalho ou familiar, e possa ser
alvo de retaliação num contexto profissio-
nal; e c) Pessoas coletivas ou entidades
equiparadas que sejam detidas ou contro-
ladas pelo denunciante, para as quais o de-
nunciante trabalhe ou com as quais esteja
de alguma forma ligado num contexto pro-
fissional.

2 ca, as infrações cometidas, que estejam a 2. M  eios de denúncia


ser cometidas ou cujo cometimento se pos- e divulgação pública
sa razoavelmente prever, assim como tal,
tentativas de ocultação de tais infrações. 2.1 P  recedência entre os meios de denúncia
e divulgação pública (Vide artigo 7.º) Para
1.4 Denunciante (Vide artigo 5.º) Abrangidas efetuar a denúncia, a lei prevê a existência
pela proteção da presente lei e reveladas de:
como denunciantes, estão as pessoas sin-
gulares que denunciem ou divulguem pu- A) Canais internos;
blicamente uma infração com fundamento B) Canais externos (geridos pelas auto-
em informações obtidas no âmbito da sua ridades competentes); e
atividade profissional independentemen- C) Divulgação pública.
te da natureza da atividade e do setor em
que é exercida. O (n. 2.º) do presente artigo - O
 seu (n. 2.º) revela que o denunciante só
enumera como denunciantes os seguintes: pode recorrer a canais de denúncia externa
a) Os trabalhadores do setor privado, social quando:
ou público; b) Os prestadores de serviços,
contratantes, subcontratantes e fornece- a) Não exista canal de denúncia interna;
dores, bem como quaisquer pessoas que b) O canal de denúncia interna admita
atuem sob a sua supervisão e direção; c) apenas a apresentação de denúncias
Os titulares de participações sociais e as por trabalhadores, não o sendo o de-
pessoas pertencentes a órgãos de admi- nunciante;
nistração ou de gestão ou a órgãos fiscais c) 
Tenha motivos razoáveis para crer
ou de supervisão de pessoas coletivas, in- que a infração não pode ser eficaz-
cluindo membros não executivos; d) Volun- mente conhecida ou resolvida a nível
tários e estagiários, remunerados ou não interno ou que existe risco de retalia-
remunerados. ção;
d) Tenha inicialmente apresentado uma
1.5 Proteção (Vide artigo 6.º) De forma a bene- denúncia interna sem que lhe tenham
ficiar de proteção é imperioso que o denun- sido comunicadas as medidas previs-
ciante actue de boa-fé, e tenha fundamen- tas ou adotadas na sequência da de-
to sério para crer que as informações são núncia nos prazos previstos no artigo
verdadeiras, no momento da denúncia ou 11.º; ou e) A infração constitua crime
da divulgação pública. A presente lei ampli- ou contraordenação punível com coi-
fica a sua proteção no (n. 4.º) aos seguintes ma superior a 50 000 €.
casos: a) Pessoa singular que auxilie o de-
nunciante no procedimento de denúncia e - P  or sua vez, no (n. 3.º) estão expostas as
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A Lei n.º 93/2021, consagra o regime geral de proteção
de denunciantes de infrações, através da transposição
da “Diretiva de Whistleblowing”

condicionantes para o denunciante efectuar temas de mensagem de voz e, a pedido do


divulgação externa, nomeadamente: a) Tenha denunciante, em reunião presencial.
motivos razoáveis para crer que a infração
pode constituir um perigo iminente ou mani- 2.3 Denúncia Externa (Vide artigos 12.º, 13.º e
festo para o interesse público, que a infração 14.º) As autoridades com competência para
não pode ser eficazmente conhecida ou re- a prossecução das denúncias externas são
solvida pelas autoridades competentes, aten- as seguintes: a) O Ministério Público; b) Os
dendo às circunstâncias específicas do caso, órgãos de polícia criminal; c) O Banco de
ou que existe um risco de retaliação inclusi- Portugal; d) As autoridades administrativas
vamente em caso de denúncia externa; ou independentes; e) Os institutos públicos; f)
b) Tenha apresentado uma denúncia interna As inspeções-gerais e entidades equipara-
e uma denúncia externa, ou diretamente uma das e outros serviços centrais da adminis-
denúncia externa nos termos previstos na tração direta do Estado dotados de autono-
presente lei, sem que tenham sido adotadas mia administrativa; g) As autarquias locais; 3
medidas adequadas nos prazos previstos nos e h) As associações públicas.
artigos 11.º e 15.º.
-C
 om o propósito de garantir a exaustivida-
2.2 Denúncia Interna (Vide artigos 8.º, 9.º e de, a integridade e a confidencialidade da
10.º) Os canais internos de denúncia são denúncia, impedir o acesso de pessoas não
obrigatórios para as entidades do setor pri- autorizadas e permitir a sua conservação nos
vado e do setor público que empreguem 50 termos do (artigo 20.º), as autoridades com-
ou mais trabalhadores e ainda para as pes- petentes estabelecem canais de denúncia
soas coletivas que desenvolvam a sua ativi- externa, independentes e autónomos dos de-
dade nos domínios dos serviços, produtos e mais canais de comunicação.
mercados financeiros e prevenção do bran-
queamento de capitais e do financiamento - A  forma aplicada à denúncia externa assenta
do terrorismo (‘’entidades obrigadas’’). Fi- na apresentação de denúncias por escrito e
cam, porém, excluídas desta obrigação as ou verbalmente, anónimas ou com identifica-
autarquias locais que, não obstante empre- ção do denunciante. Acrescenta-se a possibi-
garem 50 ou mais trabalhadores, tenham lidade de essa mesma denúncia ser realiza-
menos de 10.000 habitantes. da, através de, denúncia verbal por telefone
ou através de outros sistemas de mensagem
-O
 s canais de denúncia interna têm de conter de voz e, a pedido do denunciante, em reu-
as seguintes características: a) têm de garan- nião presencial.
tir a apresentação e o seguimento seguros de
denúncias, a fim de garantir a exaustividade, - A  s denúncias, após decisão fundamentada
integridade e conservação da denúncia; b) das autoridades competentes, podem ser ar-
têm de assegurar a confidencialidade da iden- quivadas caso se verifiquem algum dos se-
tidade ou o anonimato dos denunciantes e a guintes casos:
confidencialidade da identidade de terceiros
mencionados na denúncia; e c) têm de impe- a) A infração denunciada é de gravidade
dir o acesso de pessoas não autorizadas. diminuta, insignificante ou manifesta-
mente irrelevante;
-A
 forma aplicada à denúncia interna possibili- b) A denúncia é repetida e não contém
ta a apresentação de denúncias, por escrito e novos elementos de facto ou de direi-
ou verbalmente, por trabalhadores, anónimas to que justifiquem um seguimento di-
ou com identificação do denunciante. No caso ferente do que foi dado relativamente
de ser aceitável a denúncia verbal, os canais à primeira denúncia; ou
de denúncia interna permitem a sua apresen- c) A denúncia é anónima e dela não se
tação por telefone ou através de outros sis- retiram indícios de infração.

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Confiança diciais ou administrativos referentes à denún-


cia.
Experiência
3.2 Medidas de Proteção (Vide artigos 21.º,
Partilha 22.º e 24.º) Quanto às medidas de proteção
do denunciante, a lei estabelece, entre ou-
tras, as seguintes garantias:

A) Proibição de retaliação contra o de-


nunciante, incluindo, para o efeito, a
inversão do ónus da prova e a pre-
sunção de que determinados atos,
como sejam alterações de condições
4 3. Disposições aplicáveis de trabalho ou a aplicação de uma
a denúncias internas e externas sanção disciplinar, quando praticados
até dois anos após a denúncia ou a
3.1 Confidencialidade, tratamento de dados divulgação pública, são motivados
e confidencialidade de denúncias (Vide pela denúncia ou divulgação pública.
artigos 18.ºe 19.º e 20.º) É de resguardar
a identidade do denunciante, bem como as B) Proteção jurídica nos termos gerais,
informações que, direta ou indiretamente, como a proteção para testemunhas
permitam deduzir a sua identidade, através em processo penal;
da confidencialidade e do acesso restricto
às pessoas responsáveis por receber ou C) 
Não aplicação de responsabilidade
dar seguimento a denúncias. Só é possí- disciplinar, civil, contraordenacional
vel revelar a identidade do denunciante no ou criminal nos casos de denúncia ou
decurso de obrigação legal ou de decisão divulgação pública de infrações feitas
judicial. de acordo com os requisitos impos-
tos pela lei.
-O
 tratamento de dados pessoais ao abrigo
da presente lei observa o disposto no Regu- 3.3 Contraordenações (Vide artigos 27.º até
lamento Geral sobre a Proteção de Dados, 29.º) A violação das regras suprarreferidas
aprovado pelo Regulamento (UE) 2016/679 constitui contraordenação, cujo procedi-
do Parlamento Europeu, que aprova as regras mento compete ao Mecanismo Nacional
relativas ao tratamento de dados pessoais Anticorrupção, e que podem variar nos se-
para efeitos de prevenção, deteção, investi- guintes termos:
gação ou repressão de infrações penais ou
de execução de sanções penais, sendo que, 3.3.1 Constituem contraordenações muito
os dados pessoais que não forem relevantes graves, puníveis com coimas de 1 000
para o tratamento da denúncia não são con- € a 25 000 € ou de 10 000 € a 250 000
servados, devendo ser imediatamente apaga- € consoante o agente seja uma pessoa
dos. singular ou coletiva, as seguintes:

-A
 s entidades obrigadas e as autoridades a) Impedir a apresentação ou o segui-
competentes responsáveis por receber e tra- mento de denúncia de acordo com o
tar denúncias ao abrigo da presente lei devem disposto no (artigo 7.º);
manter um registo das denúncias recebidas e b) Praticar atos retaliatórios, nos termos
conservá-las, pelo menos, durante o período do (artigo 21.º), contra as pessoas re-
de cinco anos e, independentemente desse feridas no (artigo 5.º) ou no (n.º 4 do
prazo, durante a pendência de processos ju- artigo 6.º);
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de denunciantes de infrações, através da transposição
da “Diretiva de Whistleblowing”

c) Não cumprir o dever de confidenciali- 11.º);


dade previsto no (artigo 18.º); g) A não comunicação ou a comunica-
d) Comunicar ou divulgar publicamente ção incompleta ou imprecisa ao de-
informações falsas. nunciante dos procedimentos para
apresentação de denúncias externas
3.3.2 C
 onstituem contraordenações graves, às autoridades competentes, nos ter-
puníveis com coimas de 500 € a 12 500 mos dos (artigos 12.º e 14.º), no prazo
€ ou de 1 000 € a 125 000 €, consoante previsto no (n.º 1 do artigo 11.º);
o agente seja uma pessoa singular ou h) A não comunicação ao denunciante
coletiva, as seguintes: do resultado da análise da denúncia,
se este a tiver requerido, no prazo
a) Não dispor de canal de denúncia in- previsto no (n.º 4 do artigo 11.º);
terno, nos termos previstos no (artigo i) Não dispor de canal de denúncia ex-
8.º) e nos (n.º 2 e 3 do artigo 9.º); terna, nos termos do (n.º 1 do artigo 5
b) Dispor de um canal de denúncia in- 13.º);
terno sem garantias de exaustivida- j) Dispor de um canal de denúncia exter-
de, integridade ou conservação de na que não seja independente e autó-
denúncias ou de confidencialidade da nomo, ou que não assegure a exausti-
identidade ou anonimato dos denun- vidade, integridade, confidencialidade
ciantes ou da identidade de terceiros ou conservação da denúncia, ou que
mencionados na denúncia, ou sem não impeça o acesso a pessoas não
regras que impeçam o acesso a pes- autorizadas, nos termos do (n.º 1 do
soas não autorizadas, nos termos do artigo 13.º);
(n.º 1 do artigo 9.º); k) Não designar funcionários responsá-
c) A receção ou seguimento de denún- veis pelo tratamento de denúncias,
cia em violação dos requisitos de in- nos termos do (n.º 2 do artigo 13.º);
dependência, imparcialidade e de au- l) Não ministrar formação aos funcioná-
sência de conflitos de interesse, nos rios responsáveis pelo tratamento de
termos previstos no (n.º 4 do artigo denúncias, nos termos do (n.º 3 do ar-
9.º); tigo 13.º);
d) Dispor de canal de denúncia interno m) Não analisar, a cada três anos, os
que não garanta a possibilidade de procedimentos para receção e segui-
denúncia a todos os trabalhadores, mento de denúncias, a fim de verifi-
não garanta a possibilidade de apre- car se são necessárias correções ou
sentar denúncia com identificação do se podem ser introduzidas melhorias,
denunciante ou anónima, ou que não nos termos do (n.º 4 do artigo 13.º);
garanta a apresentação da denúncia n) Não dispor de canal de denúncia ex-
por escrito, verbalmente ou de ambos terna que permita, em simultâneo, a
os modos, nos termos do (n.º 1 do ar- apresentação de denúncias por es-
tigo 10.º) e da primeira parte do (n.º 2 crito, verbalmente, com identificação
do artigo 10.º); do denunciante ou anónimas, nos
e) Recusar reunião presencial com o de- termos do (n.º 1 do artigo 14.º) e da
nunciante em caso de admissibilida- primeira parte do (n.º 2 do artigo 14.º);
de de denúncia verbal, nos termos da o) Recusar reunião presencial com o de-
parte final do (n.º 2 do artigo 10.º); nunciante, nos termos da parte final
f) A não notificação ao denunciante da do (n.º 2 do artigo 14.º);
receção da denúncia ou dos requisitos p) Não publicar os elementos referidos
para apresentação de denúncia exter- nas (alíneas a) a h) do artigo 16.º) em
na nos termos do (n.º 2 do artigo 7.º), secção separada, facilmente identifi-
no prazo previsto no (n.º 1 do artigo cável e acessível dos respetivos sí-

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Confiança r) 
Registar as denúncias através dos
meios previstos nos (n.º 3 e 5 do ar-
Experiência tigo 20.º), sem consentimento do de-
Partilha
nunciante;
s) Não permitir ao denunciante ver, retifi-
car ou aprovar a transcrição ou ata da
comunicação ou da reunião, nos ter-
mos previstos no (n.º 6 do artigo 20.º).

3.3.3 É
 necessário ressalvar que a tentativa
e negligência são puníveis, sendo os li-
mites máximos das coimas identificados
nos (n.º 2 e 4) reduzidos em metade.
6 tios na Internet;
q) Não registar ou não conservar a de- 3.4 Regime Subsidiário (Vide artigo 30.º) Em
núncia recebida pelo período mínimo tudo o que não esteja previsto na presente
de cinco anos ou durante a pendência lei, em matéria contraordenacional, aplica
de processos judiciais ou administra- -se o disposto no regime geral do ilícito de
tivos pertinentes à denúncia recebida, mera ordenação social, aprovado pelo De-
nos termos do (n.º 1 do artigo 20.º); creto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro.

Para mais esclarecimentos relativamente ao presente tema sugerimos os contactos

João Luz Soares João Alemão


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Departamento de Direito Penal & Compliance

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