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Arquivo de Resumo Dos Trabalhos
Arquivo de Resumo Dos Trabalhos
Resumo
A neuropsicologia tem avançado, nas últimas décadas, em termos de teorias, modelos e métodos
que possibilitam a obtenção de novas evidências, em busca de um maior entendimento dos diversos
processos cognitivos e de sua base biológica. As funções executivas tem sido alvo de muitas
pesquisas por corresponderem a um dos maiores desafios teóricos e metodológicos atuais.
Englobam diversas habilidades neurocognitivas essenciais para controlar o processamento da
informação e coordenar o comportamento orientado ao objetivo. Dependendo da participação no
processamento emocional, os componentes executivos podem ser “frios” ou “quentes”, cuja inter-
relação ainda não foi suficientemente compreendida. Este estudo visou a investigar a relação entre
tomada de decisão (componente “quente”), avaliado pelo Iowa Gambling Task (IGT), com outros
componentes executivos “frios” (flexibilidade cognitiva, memória de trabalho e controle inibitório),
em uma amostra de adultos após acidente vascular cerebral. Como hipótese, supõe-se que haveria
uma dissociação entre os escores do instrumento que avalia componentes “quentes” das funções
executivas e aqueles que avaliam as habilidades “frias”. Participaram adultos pós-acidente vascular
cerebral isquêmico. Os escores de desempenho foram correlacionados pelo coeficiente de
correlação de Pearson. Conforme hipótese inicial, de modo geral, não se observaram correlações
significativas entre as principais variáveis do IGT e dos outros instrumentos de funções executivas -
Teste Wisconsin de Classificação de Cartas Modificado (MWCST), Trail Making Test, Teste
Hayling e do Span auditivo de palavras em sentenças do NEUPSILIN. No entanto, evidenciou-se
uma associação entre o primeiro bloco do IGT e algumas variáveis do MWCST, do Teste Hayling e
do Span auditivo de palavras em sentenças do NEUPSILIN. Os achados vão ao encontro da maioria
dos estudos que buscaram correlacionar diferentes escores de instrumentos que mensuram
desempenho em tarefas de funções executivas e no IGT. Sugere-se que esta dissociação vai ao
encontro tanto da discussão sobre a multidimensionalidade do construto, como também da proposta
de categorizar os componentes em “quentes” e “frios”. Outra hipótese explicativa geral para a
ausência de correlações é que o IGT é considerado um paradigma mais ecológico do que os demais
instrumentos. Sugere-se para os próximos estudos a utilização de outro paradigma que também
avalie um componente executivo “quente”, na tentativa de melhor compreender as associações e
dissociações entre as próprias funções executivas quentes e destas com as frias.
FAPESP: 2011/01907-4
Palavras-chaves: Avaliação Neuropsicológica; Diagnóstico; Transtorno da matemática;
AVALIAÇÃO DE MODELO DE FRACIONAMENTO INIBITÓRIO EM POPULAÇÃO
ADULTA
Inibição pode ser definida como o ato cognitivo de impedir a ocorrência, em todo ou em parte, de
respostas dominantes, automáticas ou prepotentes. Pesquisas recentes indicam que o domínio
executivo da inibição pode ser fracionado em processos distintos e interdependentes. O objetivo
principal deste estudo é avaliar o modelo de fracionamento dos processos de inibição em população
de adultos a partir da proposta de fracionamento executivo e inibitório proposto por Fournier-
Vicente et al. (2008). Este modelo considera três fatores como representativos do controle
inibitório: Acesso à Memória de Longo Prazo e Inibição de Respostas Prepotentes (Fator 1),
Atenção Seletiva e Controle Inibitório de Estímulos Distratores (Fator 2) e Flexibilidade Cognitiva
e Alternância entre Sets Mentais (Fator 3). Para o Fator 1, foram utilizados os instrumentos:
Geração Aleatória de Números (RNG), Fluência Verbal Semântica (animais e frutas) e Teste
Hayling (TH); para o Fator 2: Teste de Stroop, Teste dos 5 Dígitos (5D) e Teste d2; e, para o Fator
3: Tarefa de Mais ou Menos (TMM), Teste das Trilhas (TMT) e índice de alternância do 5D.
Também foram utilizadas uma entrevista de dados demográficos e de condições de saúde, a escala
de traço de ansiedade IDATE-T e o Termo de Consentimento Livre e esclarecido. Os critérios de
exclusão para participação foram histórico neurológico, uso atual de medicação psicoativa, diabetes
e acometimento cardíaco grave. Este estudo piloto foi desenvolvido com 38 voluntários saudáveis,
de ambos os sexos, com média etária de 33,32 anos (± 15,95) e escolaridade média de 13 anos
(±2,63). Os resultados iniciais indicaram ausência de correlação entre os índices do Fator 1,
correlações significativas para as medidas do Fator 2 (Stroop e 5D r=0,73, p<0,01; Stroop e d2 r=-
0,51, p<0,01, 5D e d2 r=-0,56, p<0,01) e para duas medidas do Fator 3 (TMT e 5D r=0,72, p<0,01),
com exceção do índice do TMM. Alguns índices associaram-se significativamente com variáveis de
outros fatores. O Fator 2 foi o único a apresentar uma associação indicativa de sua estrutura. Os
dados preliminares indicaram uma reorganização diferente do controle inibitório do que o
estabelecido como hipótese e, portanto, não puderam corroborar o modelo estudado. No entanto,
investigações mais aprofundadas, com amostras maiores e mais representativas, precisam ser
conduzidas para verificar a consistência desse padrão, aumentar o poder de previsão e generalização
dos dados e possibilitar a análise da estrutura fatorial da inibição.
Fomento: CAPES
Ana Paula Cunha**, Camila Quintana Ribas*, Juliane Kristine Lima*, Angélica Molossi*, Ana
Paula Almeida de Pereira, Tony Tonous Tahan, Cristina Rodrigues da Cruz, Isac Bruck.
(Departamento de Psicologia, Laboratório de Neuropsicologia, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, PR)
Apenas no ano de 2011, foram diagnosticados no Brasil 493 novos casos da infecção do vírus HIV
(Vírus da Imunodeficiência Humana) entre crianças e adolescentes. Crianças infectadas podem
apresentar prejuízos cognitivos mais significativos que adultos, devido ao vírus acometer o sistema
nervoso central ainda em formação. A neuropsicologia pode contribuir para o enfrentamento desta
problemática, uma vez que identifica os potenciais e déficits cognitivos do paciente por meio das
informações coletadas pela avaliação neuropsicológica (AN), as quais têm grande relevância para o
planejamento do programa de reabilitação. A reabilitação neuropsicológica (RN) se caracteriza por
inserir estratégias que visem superar as dificuldades do próprio ambiente ou que estejam
relacionadas a limitações funcionais ocasionadas por lesões cerebrais. A RN busca promover ao
indivíduo maior autonomia e independência para que se integre ao seu cotidiano. Tendo isto em
vista, este trabalho buscou avaliar um programa de reabilitação neuropsicológica desenvolvido
junto a um paciente infectado pelo HIV, por transmissão vertical, através do método do estudo de
caso. O participante foi do sexo masculino, com idade de 9 anos e 9 meses, escolaridade de 4ª série,
e não necessitou do tratamento com medicamentos antirretrovirais. O plano de RN foi elaborado
com base na anamnese semi-estruturada, realizada com a responsável, e a partir dos resultados da
AN, realizada com a criança. A AN foi composta por instrumentos que possibilitaram analisar
aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais da criança. A RN também foi delineada a partir
das potencialidades observadas no indivíduo e objetivou fomentar as funções executivas e o
desenvolvimento de habilidades verbais, através do treino cognitivo em diferentes atividades que
incluíssem tanto as áreas de interesse como as necessidades da criança. O programa foi
desenvolvido em 32 sessões que ocorreram semanalmente, com duração de uma hora e aconteceram
na Clínica de Psicologia da UFPR. O plano de RN teve inicialmente como metas estimular a
atenção e o planejamento da ação. Posteriormente, buscou-se estimular a comunicação e a escrita, a
fazer síntese sobre o assunto, refletir sobre sua história, sua família, suas preferências e o desejo de
mudanças. E, por último visou desenvolver sua percepção sobre seu desempenho, houve a
devolutiva para os pais e fechamento das atividades. A estimulação cognitiva se deu principalmente
pela repetição das instruções no início das diferentes atividades e pelo uso de dicas verbais que
favorecessem a escolha correta no planejamento da ação e no processo de tomada de decisão. Após
a última sessão foi realizado novamente AN a fim de avaliar o desempenho da criança e analisar se
esta se beneficiou com o programa de RN. Seus resultados nesta AN mostraram-se estáveis em
tarefas executivas e apresentaram-se melhores naquelas que envolveram compreensão verbal e
atenção concentrada. Diante deste desempenho, pode-se sugerir que o programa de RN contribuiu
para minimizar as principais dificuldades cognitivas vivenciadas pelo paciente. No decorrer dos
atendimentos a criança começou espontaneamente a reproduzir dentro do espaço clínico mais
estratégias para atingir o objetivo em diferentes tarefas e relatou melhora na escola e mais facilidade
em escrever e compreender textos.
Marcos Vinícius Alexandrino Bovo de Loiola**, Mariana Richartz, Ana Paula Almeida de Pereira,
Sergio Antoniuk, Daniele Fajardo Nascimento
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Natalie Pereira**¹, Maila Holz*², Fabiola S. Casarin **3, Andressa Hermes Pereira*4, Renata
Pereira*5, Nicolle Zimmermann6 & Rochele Paz Fonseca7.
Maila Holz*¹, Natalie Pereira**², Andressa Hermes Pereira*³, Renata Pereira*, Nicolle
Zimmermann & Rochele Paz Fonseca⁴.
¹ Bolsista de iniciação científica CNPq/PIBIC do Programa de Pós-graduação em Psicologia (Cognição Humana) da PUCRS), ²
Mestranda bolsa CAPES/PROSUP do Programa de Pós-graduação em Psicologia (Cognição Humana) da PUCRS, ³ Bolsista de
iniciação científica FAPERGS do Programa de Pós-graduação em Psicologia (Cognição Humana) da PUCRS, 4 Psicóloga, mestre,
colaboradora e subcoordenadora da subequipe neuropsicologia do traumatismo cranioencefálico no Grupo de Neuropsicologia
Clínica e Experimental (GNCE) 5 Prof. Adjunta da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
(Cognição Humana), PUCRS, Coordenadora do GNCE, bolsista produtividade CNPq.
A tomada de decisão (TD) é uma função cognitiva complexa e multidimensional. Seu processo
envolve a escolha entre duas ou mais opções, bem como a análise preditiva das consequências
resultantes. A neuropsicologia tem avançado de forma marcante neste campo devido a implicações
práticas e imediatas sobre avaliação da capacidade mental e gerenciamento autônomo da própria
vida, o que levou a criação da expressão “neurociência da tomada de decisão”. Mesmo que ocorra
de forma saudável o envelhecimento acarreta em transformações fisiológicas do lóbulo frontal. Tais
mudanças afetam de forma mais acentuada a parte mais anterior do cérebro, o chamado córtex pré-
frontal. Os idosos também são requisitados a tomar diversas decisões importantes sobre suas vidas:
residência, ocupação, saúde, decisões financeiras, questões sobre aposentadoria, seleção de
cuidadores ou enfermeiros e sobre sua segurança pessoal. De maneira geral os estudos atuais
indicam que à medida que envelhecemos ocorrem perdas nas capacidades cognitivas que podem
interferir com o desempenho ideal de nossas atividades de vida diária, inclusive com a capacidade
de tomada de decisão. Nem sempre as escolhas melhores e mais vantajosas estão claras a primeira
vista. Idosos com frequência são vítimas de golpistas sendo o alvo predileto para propagandas
enganosas que tiram proveito da condição de vulnerabilidade biológica e psíquica, bem como das
habilidades decisórias que podem estar comprometidas nas pessoas de idade avançada. A
complexidade das escolhas quando se é idoso pode chegar a extremos como decisões que envolvem
a determinação da continuação ou não da própria vida como no caso da eutanásia. Um importante
fator da qualidade das decisões tomadas é a impulsividade. A previsão e o julgamento das possíveis
conseqüências decorrentes das escolhas são primordiais para a tomada de decisão vantajosa e
adaptativa. Escolhas precipitadas ou mal-planejadas podem trazer prejuízo e conseqüências por
vezes irreversíveis. O objetivo da pesquisa é: analisar a influência que a impulsividade cognitiva
tem na tomada de decisão em idosos saudáveis, em comparação com uma amostra de adultos jovens
saudáveis. Até o momento foram avaliados 29 participantes (n=29, 17 homens e 12 mulheres) com
média de idade M=60.87 anos e escolaridade média M=15.62. Os instumentos utilizados para a
pesquisa são: ficha de caracterização de dados demográficos; IGT-BR (Iowa Gambling Task)
considerado gold standard para avaliar tomada de decisão; BIS-11 (escala tipo likert de
Impusividade Barratt versão 11) e o Object Alternation task (OA) que é um instrumento sensível a
alterações de córtex orbitofrontal. Os resultados obtidos até o momento são: IGT-BR (M=5.72 net
escore), BIS-11 com escore médio da amostra de (M=57.97) e OA com escore médio de
(M=39.10). As conclusões até o momento são limitadas pelo tamanho da amostra e pela
necessidade de coleta dos dados de adultos jovens para um comparativo estatístico mais preciso e
robusto.
INTRODUÇÃO: Os testes para depressão no Brasil ainda consistem, na sua maioria, em traduções
e/ou adaptações de estudos desenvolvidos em outros países. A Escala Baptista de Depressão para
idosos (EBADEP-ID) é uma escala brasileira que utiliza critérios de classificação para transtorno
depressivo maior, segundo padrões internacionais, mas adaptados às características culturais
específicas em nosso meio. Ao final será uma versão da escala original para adultos de acordo com
o manual técnico da Escala Baptista de Depressão (versão adulto) EBADEP-A já editada e
aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia. OBJETIVO: Buscar evidencia de validade de
construto e validade convergente da escala para idosos e avaliar o índice de discriminação dos itens
da EBADEP-ID. METODOLOGIA: A amostra foi composta de 207 participantes idosos de centro
de convivência, asilos e hospitalizados. Foram aplicados os seguintes instrumentos: a) Ficha de
Caracterização – para coletar informações pessoais, variáveis sócios demográficas e estado geral de
saúde, b) Mini Exame do Estado Mental (MEEM) - para avaliar comprometimentos cognitivos, c)
Escala de Depressão Geriátrica (GDS) – escala adaptada e padronizada no Brasil, d) Escala Baptista
de Depressão para Idosos (EBADEP-ID) – instrumento autoaplicável, composto de 70 itens que
avaliam a sintomatologia depressiva (aspectos cognitivos, emocionais e sociais) com respostas
dicotômicas (sim/não). A análise estatística dos itens foi realizada mediante a correlação Ponto-
Bisserial da Teoria Clássica dos Testes (TCT) e da Teoria de Resposta ao Item (TRI) – Modelo de
Rasch, através do programa R. RESULTADOS: A idade dos participantes variou entre 58 e 90
anos, com média de 68 anos e desvio-padrão 7,34. O MEEM dos participantes obteve média de 25
pontos e desvio-padrão de 5,38. O GDS apresentou média de 4 pontos e desvio-padrão de 3,26.
EBADEP-IDS demonstrou bons índices de confiabilidade como o alfa de Cronbach de 0,92. A
correlação entre EBADEP-ID e a GDS obteve r = 0,76 com intervalo de confiança de 95% e o valor
P = < 0,001 demonstrando que existe uma correlação significativa entre as duas escalas. A
correlação ponto bisserial evidenciou que 24 itens apresentaram índices inferiores a 0,30, sugerindo
que podem ser suprimidos na elaboração de uma escala mais reduzida. CONCLUSÃO: A pesquisa
para o desenvolvimento da EBADEP-IDS está em sua fase inicial. Os resultados apresentados não
podem ser considerados conclusivos, pois a amostra utilizada é muito pequena. Espera-se que com
o aumento da amostra, além das análises realizadas, outras análises sobre as propriedades
psicométricas (validade de construto e divergente) possam contribuir para a elaboração de um
instrumento para depressão em idosos adaptado ao contexto Brasileiro.
1
Alunas do Grupo de Avaliação Neuropsicológica de Pacientes do Ambulatório de Neurologia do Hospital
de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), orientado pelo Prof.º Amer Cavalheiro Hamdan.
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA – UM ESTUDO DE CASO
Maria Geny Ribas Batista, Mestranda (Labneuro – Universidade Federal do Paraná / Curitiba/PR)
Ana Paula Almeida de Pereira, Profª Dra. (Labneuro- Universidade Federal do Paraná /
Curitiba/PR)
Este estudo retrata as contribuições da avaliação neuropsicológica para traçar o perfil cognitivo e
delinear possíveis intervenções terapêuticas ilustradas em um caso de queixa de dificuldades de
aprendizagem e ansiedade, principalmente para compreender o conteúdo de leituras. Tal queixa
ocorria juntamente à fobia social por parte do paciente. Participou do estudo um homem, com 32
anos de idade, que cursava pós-graduação stricto sensu na área tecnológica. O processo de
avaliação neuropsicológica ocorreu durante 5 (cinco) sessões em, em média, 50 minutos. Durante
essas sessões, os seguintes procedimentos foram realizados: anamnese, para coleta de dados da
história de vida pessoal, acadêmica, familiar e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem
e administração de testes e atividades neuropsicológicas. Foram avaliadas funções cognitivas, tais
como: atenção, linguagem, memória e funções executivas (flexibilidade cognitiva e controle
inibitório). Resultados dos testes da bateria WAIS III: Códigos (52 pontos brutos); Dígitos Spacial
(10 pontos brutos - ordem direta e 9 - ordem indireta); Fluência Verbal (FAR) - total: 35 palavras e
Fluência Verbal (Animais/Ações) - total: 23 palavras; Procurar Símbolos (30 pontos brutos),
Vocabulário (43 pontos brutos), Informação (18 pontos brutos), Compreensão (30 pontos brutos),
Sequência de Números e Letras (9 pontos brutos). Tanto no teste de Atenção (TEACO), no qual ele
fez 80 pontos, quanto no teste de trilhas coloridas, ele foi classificado com desempenho Médio
Inferior para sua idade/escolaridade. Também foram aplicados também alguns testes de linguagem
(oral e escrita) da bateria Neuropsilin, nos quais ele obteve o desempenho esperado para sua
idade/escolaridade. Discussão: Os resultados demonstram que embora o paciente apresente
desempenho médio inferior em testes que avaliam atenção, concentração, e controle inibitório,
quando comparada a sua performance em atividades que avaliam outras funções (linguagem e
escrita), este desempenho parece estar aquém de suas potencialidades. Este caso ilustra a
necessidade de se considerar os resultados do indivíduo não apenas comparando-o com o grupo
normativo, mas também analisando as potencialidades e dificuldades encontradas, ou seja, as
diferenças entre funções no próprio indivíduo.
Yanne Ribeiro Gonçalves **; Ana Paula Almeida de Pereira. Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, PR.
O menor A.J., de 7 anos, foi encaminhado pelo seu neuropediatra com a demanda de avaliação
diagnóstica. Na anamnese realizada com os pais, eles relataram que no nascimento A.J. teve
amarelão e foi necessário “banho de luz”. Posteriomente, aos 5 meses, teve meningite viral e passou
12 dias internado. Foram feitos exames de neuroimagem e nenhuma alteração foi encontrada. No
entanto, quando pequeno chorava muito e era agitado. Além disso recusava-se a comer. Teve
desenvolvimento motor normal, mas dificuldade no desenvolvimento da fala. Ao longo da infância,
os pais observaram um brincar atípico, pequenas dificuldades motoras, hipersensibilidade auditiva,
presença de auto e heteroagressividade e olhar “diferenciado”. Devido aos problemas de
comportamento a vida social da família é restrita. A.J. também estava tendo dificuldade de
acompanhar a escola. Em contato telefônico, a pedagoga relatou que ele estava “estacionado em
termos cognitivos”. Apesar de parecer prestar atenção nas aulas, não acompanhava o currículo.
Copiava o que era solicitado, mas não compreendia. Em relação ao comportamento mordia muito a
própria mão e não admitia que as pessoas encostassem nele. Segundo a pedagoga, convivia com as
crianças mas não tinha amizades. Foram realizadas quatro sessões com A.J., envolvendo aplicação
de testes padronizados, atividades planejadas e observação comportamental através de brincadeiras.
Foram utilizados testes padronizados como Código, Procurar símbolos e Bender. Em relação ao
aspecto cognitivo foi observada a percepção preservada, no entanto, A.J. apresentava dificuldade na
percepção de detalhes e diferenciação figura e fundo. Tal dificuldade perceptual reflete no
raciocínio lógico que apresentou-se concreto, atendo-se a funcionalidade. Nas provas Piagetianas
demonstrou desconhecimento a cerca de termos comparativos como maior/menor, mais/menos,
grande/pequeno, dificuldade que já havia sido relatada pelos pais. A linguagem, por sua vez, é auto
centrada, descritiva e focada no momento presente com algumas tentativas de falar sobre situações
do passado sob estimulação, mas ainda incoerente. Apresentava dificuldade também na
compreensão de ordens complexas. Na avaliação também foram observados aspectos importantes
em relação ao comportamento. O primeiro deles foi a presença de repertório restrito de interesses
(Museu Oscar Niemeyer, ônibus, mercado municipal), observada no discurso e nas brincadeiras. No
brincar, apresentava jogo simbólico mas dentro do seu repertório restrito, assim como no diálogo,
no qual não conseguia se manter na linha de raciocínio e retornava a seus interesses. Ainda em
relação ao comportamento foi observada estereotipia motora (flapping das mãos) em momentos de
excitação. No aspecto social A.J. apresentou contato ocular pobre e ausência de sorriso social. Foi
observado ainda dificuldade em compreender emoções alheias e pouco manejo em relação a elas.
Sua expressão facial e corporal também apresentou-se pobre. A partir da avaliação realizada
chegou-se a hipótese de comprometimento do desenvolvimento global com fortes indicadores do
quadro de autismo. Devido as necessidades educativas especiais observadas, foi recomendado
acompanhamento em escola especializada para fomentar o aprendizado individualizado dos
conteúdos acadêmicos adequados a idade. Foi recomendado também que profissionais das áreas da
psiquiatria pediátrica, terapia ocupacional e fonoaudiologia fossem consultados, assim como um
psicólogo para orientações referentes ao manejo do comportamento.
Tomada de decisão é definida, a nível conceitual, como o uso de informações que guiam o
comportamento humano ao longo de múltiplos cursos de ações possíveis, como se mover em uma
direção, ingerir algo ou não, ou decidir a favor de um determinado romance em detrimento de
outros. Essas escolhas determinam a maneira como o organismo trilha seu caminho no mundo, que
consequentemente o leva a um passo em direção ao sucesso ao encontrar desafios da vida. O
objetivo geral desse trabalho é estudar como as pessoas tornam-se aptas a realizar um certo tipo de
tomada de decisão em detrimento de outro, decisões verídicas ou adaptativas. E, como objetivos
específicos: estudar o desenvolvimento dos processos de tomada de decisão; identificar as
diferenças entre os sexos referente ao estilo de tomada de decisão; investigar se os estilos de tomada
de decisão podem ser influenciados pelo nível de escolaridade e, estudar a relação da memória de
trabalho e das funções executivas com a capacidade de tomada de decisão. A pesquisa justifica-se
pela tentativa de trazer novas contribuições para pesquisas na área de neuropsicologia das
diferenças individuais e de grupos, pois sabe-se que atualmente os testes neuropsicológicos e
psicológicos vem sendo utilizados como instrumentos para diagnóstico diferencial em variados
âmbitos. A princípio iriam participar dessa pesquisa adultos da cidade de Curitiba e região
metropolitana, com idades entre dezoito e quarenta anos, universitários e não universitários, a
participação era voluntária e a divulgação foi feita em universidade e instituições que oferecem
cursos pré-vestibulares. Os critérios de exclusão para participação na pesquisa foram: estudantes e
adultos com transtornos psiquiátricos ou doenças neurológicas. Os instrumentos utilizados foram:
questionário socioeconômico e cultural, tarefa de tendência cognitiva, teste de alternância de
objetos, teste dos dados, teste Stroop de cores e palavras, teste de atenção concentrada D2, subteste
Dígitos da Escala Weschler de Inteligência para adultos (WAIS), sequência de Número e Letras da
escala Wechsler de inteligência para adultos (WAIS- III), teste Matrizes Progressivas de Raven
Avançado. Para análise de dados utilizou-se testes de significância não paramétricos, por considerar
a amostra pequena e não considerar sua distribuição próxima ao normal. Participaram da pesquisa
32 sujeitos, sendo 16 do sexo feminino e 16 do sexo masculino, destes participantes 12 ainda não
haviam ingressado em curso superior e 20 frequentavam ensino superior. Não foram observadas
diferenças significativas entre os sexos, entretanto o nível de escolaridade mostrou-se influente no
desempenho das tarefas e no tipo de escolhas no âmbito da tomada de decisão realizada pelos
participantes. Também demonstrou importância considerável em tomada de decisão o bom
desempenho das funções executivas, como atenção concentrada, memória operacional, raciocínio
abstrato e aprendizado de regras. Todavia, ressalta-se a importância de estudar populações maiores
para maior fidedignidade dos resultados. Conclui-se que o estudo pode contribuir para o fomento do
estudo da tomada de decisão, e a ressaltar a importância do nível de escolaridade nas avaliações e a
influência das funções executivos em todos os nossos passos a caminho da socialização e escolhas
que somos forçados a realizar dia-a-dia.
Segundo os dados atualizados, em 2010, 34 milhões de pessoas vivem no mundo com HIV, destes
30.1 milhões são adultos e 3.4 milhões são crianças menores de 15 anos. Somente na América
Latina são aproximadamente 42.000 crianças vivem com a infecção e a cada ano 3.500 novas
infecções acontecem nessa população. Sabe-se que o vírus HIV pode comprometer as áreas
motoras, comportamental e cognitiva e em crianças esses comprometimentos podem ser ainda mais
significativos, pois a infecção acomete um cérebro imaturo, isto é, em desenvolvimento, podendo o
acometimento do sistema nervoso central (SNC). Atualmente, pacientes tratados precocemente com
esquemas combinados de medicamentos antirretrovirais mantêm-se clinicamente estáveis, dessa
maneira a avaliação neuropsicológica precoce de crianças soropositivas possibilita a identificação
de possíveis alterações nas funções cognitivas específicas e, posteriormente, pode guiar e
fundamentar a reabilitação neuropsicológica a fim de minimizar os danos causados pelo vírus no
sistema nervoso central. A reabilitação neuropsicológica se caracteriza por inserir estratégias que
visem superar as dificuldades impostas pelo contexto ou pelas próprias limitações funcionais
ocasionadas por lesões cerebrais, tendo em vista o desempenho do indivíduo em relação ao seu
contexto e promovendo maior autonomia e independência para se integrar ao seu cotidiano. Sendo
assim, este trabalho visa investigar a ocorrência de comprometimentos das funções executivas em
crianças com HIV e desenvolver um programa de intervenção de reabilitação neuropsicológica com
enfase nas funções executivas. O plano de intervenção foi desenvolvido junto a um paciente
infectado pelo HIV, através do método do estudo de caso. O participante foi do sexo feminino, com
idade de 9 anos, cursando o 4° ano, e faz uso da terapia antiretroviral.O programa de reabilitação
neurológica levou em consideração a infecção pelo HIV, pois diante das suas possíveis implicações
psicológicas e cognitivas, torna-se importante acompanhar o caso, oferecendo apoio psicológico ou
fomentando algumas habilidades e dificuldades cognitivas, foram também considferados para a
realização do plano a entrevista de anamnese semi-estruturada com a responsável, as dificuldades
cognitivas e emocionais encontradas na avaliação neuropsicológica.Cada atividade proposta no
plano de intervenção foi pensada e estudada para estimular uma função executiva comprometida
específica, objetivando trabalhar de forma mais eficiente e utilizando-se de estratégias. O trabalho
realizou-se através de atividades lúdicas em 20 sessões que ocorreram semanalmente e com duração
de cincoenta minutos. Após a última sessão foi realizado novamente avaliação neuropsicológica a
fim de avaliar a performance da criança e analisar se esta se beneficiou com o programa de
reabilitação neuropsicológica. Os resultados da paciente após a intervenção mostraram
consideráveis melhores nas funções executivas, evolução da memória visual e auditiva e aumento
do QI de execução. Sendo assim, diante dos resultados quantitativos e das informações colhidas da
responsável e da própria paciente pode-se sugerir que a estimulação cognitiva constituída através do
programa de reabilitação neuropsicológica contribuiu para minimizar as principais dificuldades
cognitivas e ajudaram a criança no seu desenvolvimento como um todo.
Charles Cotrena**, Caroline Oliveira Cardoso**, Laura Damiani Branco*, Nicolle Zimmermman,
Rodrigo Grassi Oliveira, Rochele Paz Fonseca
(Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Pontifícia Universidade Católica do RS – PUCRS,
Porto Alegre, RS)
Há um grande número de investigações na literatura acerca dos prejuízos nas funções executivas
(FE) “frias” – mais baseadas no raciocínio lógico - em pacientes acometidos por traumatismo
cranioencefálico (TCE). Contudo, este número sofre importante redução quando o déficit engloba o
processamento das FE “quentes” – mais ligadas a mediadores emocionais. Dentre os componentes
“quentes” mais estudados e discutidos na literatura, destaca-se o processo de tomada de decisão
(TD), sendo o Iowa Gambling Task (IGT) o instrumento mais utilizado na mensuração deste
componente. No que se refere ao processo de TD em pacientes pós-TCE, os achados ainda são
contraditórios. Alguns estudos evidenciam prejuízo claro de TD destes pacientes comparados a
controles saudáveis, enquanto outras investigações não encontraram diferenças significativas.
Entretanto é importante salientar que dentre estes estudos há limitações como a falha no controle de
variáveis sociodemográficas e clínicas, o que pode explicar essa variabilidade de resultados. Fatores
como a variabilidade do tempo pós-lesão, a caracterização psiquiátrica e variáveis como idade e
escolaridade são importantes na interpretacao dos dados obtidos nestas investigações. O objetivo do
presente estudo foi comparar o desempenho de pacientes pós-TCE e participantes sem TCE no
processo de TD mensurado pelo IGT. Além disso, buscou-se comparar o desempenho no IGT entre
pacientes com TCE leve e TCE de severo a moderado. A amostra foi composta por 110
participantes divididos em dois grupos, 55 pacientes pós-TCE (18 TCE com nível de severidade
leve, 37 grave) e 55 participantes saudáveis, emparelhados pelos fatores idade, escolaridade e sexo.
Foram realizadas análises descritivas e inferenciais com a utilização do teste t para amostras
independentes (variável cálculo total), ANOVA para medidas repetidas (cálculo por blocos), Qui-
Quadrado (comparação da distribuicao por deficits conforme ponto de corte, nível de severidade
pós-TCE, local de lesão). Foram encontradas diferenças significativas entre os grupos em relação às
variáveis cálculo total, cálculo por blocos, preferências pelos baralhos na tarefa e classificação do
desempenho geral segundo ponto de corte 0. Não houve impacto do nível de severidade pós-TCE
ou do local de lesão. O grupo clínico apresentou aprendizagem inferior através dos blocos do IGT
além de realizar maior número de seleções dos baralhos desvantajosos na tarefa em relação ao
grupo controle. De maneira geral, os resultados são corroborados pelo grupo de estudos com maior
controle metodológico em que foi evidenciado perfil deficitário de TD no IGT em pacientes pós-
TCE quando comparados a controles saudáveis. Os achados suportam tendência atual dos estudos
que vem se posicionando pela não exclusividade das áreas frontais como substrato neural do
processo de TD. Frente à heterogeneidade clínica do TCE e fatores associados como variáveis
psiquiátricas e sociodemográficas, mais estudos são necessários para melhor compreensão dos
processos neurais e cognitivos envolvidos na TD nestes pacientes.