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Anais - Broock, Parizzi e Freire 2021
Anais - Broock, Parizzi e Freire 2021
ISBN: 978-65-88804-11-7
APRESENTAÇÃO .............................................................................................................................. 6
EQUIPE ................................................................................................................................................... 8
CONVIDADOS ................................................................................................................................... 10
PROGRAMAÇÃO ............................................................................................................................ 11
PÔSTERES......................................................................................................................................... 356
A música como recurso facilitador do desenvolvimento da criança na primeira infância (Gislene Leite Soares)
................................................................................................................................................................. 357
Diálogos entre Musicoterapia e Musicalização Infantil: canções e suas diferentes funcionalidades (Késia
Pinheiro e Leyrick Sales) ............................................................................................................................. 365
Educação musical hospitalar: uma reflexão bibliográfica sobre o caso de Curitiba, Paraná (Vivian Madalozzo;
Ana Maria Farias e Gabrieli Laurido) ............................................................................................................ 372
Formação de professores de música para a primeira infância (Mariana Stocchero).................................... 377
Interfaces entre Musicoterapia e Educação Musical no desenvolvimento global na primeira infância (Leyrick
Sales; Késia Pinheiro e Marina Freire)........................................................................................................... 383
Musicoterapia no cuidado à criança em processo de internação hospitalar (Aline Magalhães; Rhairana Ferreira
e Marina Freire) .......................................................................................................................................... 390
Qual é o objetivo da música na infância? Pesquisas recentes versus respostas de estudantes de música e de
professores de arte (Vivian Madalozzo e Tiago Madalozzo) ......................................................................... 395
Respostas iniciais da aprendizagem musical de acordo com a perspectiva da Music Learning Theory de
Edwin Gordon (Luciana Castilho Razabone; Karina Cunha; Paula Said; Adriane Moret; Dagma Abramides; Natalia
Lopes) ....................................................................................................................................................... 404
Sugestões de tecnologia assistiva/ajudas técnicas para o ensino de músicas contidas em quatro livros
didáticos infantis a serem aplicadas às crianças cegas (Brasilena Trindade, Isabele da Silva, Raiana Araujo e
Thaynara Carvalho) ......................................................................................................................................409
APRESENTAÇÃO
Coordenação geral
Betânia Parizzi, Angelita Broock e Marina Freire
Coordenação Musicoterapia
Marina Freire e Renato Sampaio
Monitores
Aline Magalhães Leyrick Sales
Ana Cecília Ferreira Matheus Rodrigues
Bárbara Carvalho Natália Nunes
Dâmaris Braga Nathalia Carneiro
Edilson Silva Paula Gomes
Gabriel Formagio Silene Leão
Isaac Souza Stephanie Perdigão
Jéssica Martelli Victor Vinícius Medeiros
Julia Monteiro Vinícius Carlos Pereira
Kesia Pinheiro
Pareceristas
Palestrantes
Alda Oliveira (UFBA) Leda Maffiolleti (UFRGS)
Anacris Sampaio (Coleguium/BH) Liliana Botelho (UFSJ)
Angelita Broock (UFMG) Luisiana Passarini (Centro de Musicoterapia
Benezon Brasil)
Beatriz Ilari (University of Southern California)
Marina Freire (UFMG)
Betânia Parizzi (UFMG)
Marisa Fonterrada (UNESP)
Carla Reis (UFSJ)
Noemi Ansay (UNESPAR)
Cecília Di Prinzio (Universidad del Salvador)
Patrícia Santiago (UFMG)
Diana Santiago (UFBA)
Paulo Maria Rodrigues (Universidade de
Erika Parlato (Universidade de Paris)
Aveiro)
Gabriel Federico (CAMINO)
Renato Sampaio (UFMG)
Gleisson Oliveira (UFMG)
Ricardo Freire (UnB)
Helena Rodrigues (Universidade Nova de Lisboa)
Teca Alencar de Brito (USP)
Jorge Graça (Universidade de Aveiro)
Tiago Madalozzo (Unespar)
João Gabriel Marques Fonseca (UFMG)
Apresentações artísticas
Beatriz Myrrha (Belo Horizonte)
Cia de Música Teatral (Portugal)
Cia Pé de Moleque (Belo Horizonte)
Coralitos - Crianças do CMI (UFMG)
Grupo Bambulha (UFMG)
Grupo Serelepe (UFMG)
Carolina Veloso
Instituto de Criatividade e Desenvolvimento (ICD)
carolvfc@gmail.com
André Brandalise
Instituto de Criatividade e Desenvolvimento (ICD)
andre.brandalise@temple.edu
Resumo: o objetivo deste estudo foi o de oferecer uma síntese da literatura acerca das
intervenções musicais, realizadas por musicoterapeutas e por outros profissionais, com bebês,
de 2000 a 2019. Uma revisão sistemática da literatura foi conduzida e demonstrou haver
interesse de várias áreas do conhecimento acerca da utilização da música com bebês,
principalmente na condição de prematuros. As metodologias de pesquisa empregadas são
bastante variadas bem como os resultados alcançados. Os estudos demonstram que música faz
bem não somente ao bebê como também aos familiares e cuidadores facilitando a sucção, o
relaxamento, o sono, a diminuição de permanência no hospital para os prematuros, maior
frequência de amamentação e diminuição de estresse para os pais, entre outros objetivos.
Palavras-chave: Musicoterapia; Bebês; Revisão Sistemática.
Abstract: the aim of this review is to provide an evidence-based synthesis of the research
literature on music intervention, done by music therapists and other professionals, with babies,
from 2000 until 2019. The study has demonstrated that there is interest from several disciplines
in better understand the possible applications of music with this population. The applied
research methodologies are diverse and so are the results, promoting wellbeing not only for the
babies but for their families/caregivers, facilitating breastfeeding, relaxation, sleep, a quicker
discharge of premature babies from the hospital, more breast milk production and less parents
stress, among other goals.
Keywords: Music Therapy; Babies; Systematic Review.
Introdução
Já sabemos que música faz bem para bebês e para seus cuidadores, não somente quando
utilizada via gravações ou canto dos pais, mas também via sons do corpo e improvisações. Esta
afirmação foi resultado de um primeiro esforço acerca do tema que, entre os achados, detectou
que quando se pensa em música aplicada ao bebê há uma prevalência significativa de pesquisas
direcionadas ao bebê na condição de prematuro (BRANDALISE,2016).
O estudo demonstrou que, de acordo com Standley e Swedberg (2011), há uma
incidência crescente de nascimentos prematuros (nascimento que ocorre na trigésima sétima
semana de gravidez ou antes desse tempo) nos Estados Unidos o que faz aumentar o custo geral
médico e, consequentemente, maior interesse no entendimento e nos cuidados em relação a este
fenômeno. Porém, o mais grave é o fato de ser esta condição a maior causa de morte entre os
bebês. Além do mais, os indivíduos que sobrevivem, correm riscos de sequelas tais como
transtornos do desenvolvimento, perdas de visão e/ou audição e problemas no
neurodesenvolvimento.
Um dos principais objetivos, no cuidado com o bebê prematuro, é o de estimulá-lo a
adquirir habilidades para alimentar-se e ganhar peso. O ganho de peso é o que propicia que
receba alta hospitalar. Ao mesmo tempo, o nascimento prematuro de um bebê e os cuidados
que requer geram, em suas famílias, estresse. A música tem sido importante nesta dinâmica,
com os bebês e cuidadores.
Metodologia
Critérios de inclusão
Foram incluídos artigos escritos por musicoterapeutas e por outros profissionais que
mencionaram a utilização da música no trabalho com bebês e com familiares entre os anos de
2000 e 2019. Somente artigos relatando pesquisa foram incluídos.
Método de busca
A busca foi conduzida através do uso das bases de dados computadorizadas MEDLINE,
CINAHL e PsycInfo. Os descritores utilizados foram “Music therapy”, “music”, “infants” e
“newborns”.
Uma busca eletrônica também foi efetuada nos seguintes periódicos:
1. Journal of Music Therapy (AMTA, de 1964 até o presente momento)
Resultados
Esta revisão demonstrou que não somente o interesse pelo tema continua a existir como
tem aumentado. Na primeira revisão, proposta entre o período de 2000 a 2016, foram detectados
e analisados, 20 artigos. Nesta atualização, envolvendo os últimos 3 anos, inserimos e
analisamos 15 artigos. Ou seja, demonstramos que na primeira revisão houve uma média de
1,25 publicações de pesquisa por ano sobre o tema. Nos últimos 4 anos desta frequência
aumentou para 3,75, houve um aumento de 200% na frequência anual das publicações sobre a
música aplicada ao bebê. A tendência continua a ser a de estudos que envolvem várias áreas
do conhecimento, acerca do estudo e da aplicação da música com bebês, principalmente na
condição de prematuros. Incluindo os 20 estudos da primeira revisão (BRANDALISE, 2016),
foram analisadas o total de 35 pesquisas; realizadas por musicoterapeutas (09 estudos), por
educadores musicais (2 estudos), por médicos (3 estudos), por enfermeiros (3 estudos), pela
parceria entre enfermeiro e médico (5 estudos), pela parceria entre musicoterapeuta e
enfermeiro (1 estudo), pela parceria entre músico e médico (3 estudos), pela parceria entre
músico e enfermeiro (1 estudo), pela parceria entre medico e psicólogo (2 estudos), pela
parceria entre musicoterapeuta, psicólogo e enfermeiro (1 estudo), pela parceria entre
musicoterapeuta, psicólogo e médico (2 estudos), pela parceria entre musicoterapeuta,
enfermeiro e médico (1 estudo), pela parceria entre musicoterapeuta, médico e terapeuta
al., 2016; HALSBECK, 2014; WHIPPLE, 2008), redução da frequência e duração do choro
(ROBERTSON & DETMER, 2019; KEITH et al., 2009), ganho de peso (ETTENBERGER et
al., 2014; LOEWY et al., 2013; LUBETZKY et al., 2010; STANDLEY & SWEDBERG, 2011),
atuação como estruturas afetivas e cognitivas, maior vínculo e interação entre pais e bebês,
empoderamento da mãe através do relaxamento, da superação do constrangimento e do medo
de interagir com o bebê e do fortalecimento de suas competências maternas (ADDESSI, 2012;
PALAZZI et al., 2017; SHOEMARK, 2018), aumento na frequência da amamentação
(VIANNA et al., 2012), alteração no comportamento de sucção (LOEWY et al., 2013),
acolhimento às mães e bem estar dos pais (ETTENBERGER et al., 2014, 2017), diminuição da
percepção dos pais acerca do estresse (LOEWY et al., 2013; O’TOOLE et al.,
2017) desenvolvimento da musicalidade, aprendizado significativo entre pais e filhos e maior
valorização da canção de ninar cantada pela mãe para aumentar a conexão entre mãe-bebê
(HALSBECK, 2014; ROBERTSON & DETMER, 2019; SHOEMARK, 2018).
O design de pesquisa mais utilizado foi o Ensaio clínico randomizado (12 estudos) e
revisão da literatura (2 estudos). Também foram detectados repeated-measures croosover
design (4 estudos), survey (1 estudo), post hoc analysis (1 estudo), action research (1 estudo),
método misto (1 estudo), métodos mistos em musicoterapia (1 estudo), estudo de caso (1
estudo), ensaio clínico cruzado randomizado (1 estudo), estudo clínico qualitativo (1 estudo),
current controlled trials (1 estudo), estudo duplo-cego, randomizado e controlado (1 estudo),
two-centre randomized controlled trial with crossover design (1 estudo), estudo qualitativo (1
estudo), ensaio clínico randomizado e controlado (1 estudo), ensaio clínico cego randomizado
(1 estudo), crossover-interventional study (1 estudo) e estudo randomizado pós-teste somente
experimental/sem contato com o grupo de controle (1 estudo).
Discussão
Considerações Finais
Referências
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Cleiane Nunes
Universidade Federal da Bahia
cleiinsomewhere@gmail.com
Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir os resultados parciais de uma pesquisa
realizada de março a julho de 2019 nas turmas de musicalização infantil do projeto de extensão
da Universidade Federal da Bahia. O objetivo principal da pesquisa foi investigar a relação entre
o ambiente familiar e a preferência musical de 33 crianças de 0 a 4 anos. Os específicos foram:
catalogar o nome das canções escolhidas pelas crianças para cantar na aula de música, conhecer
o ambiente musical das crianças no convívio familiar e estabelecer possíveis relações entre as
canções apresentadas pelas crianças e o repertório ouvido em casa. Os dados foram coletados
através de revisão bibliográfica, diário de campo, questionários e gravação de vídeos. As aulas
aconteceram uma vez por semana, com duração de 50 minutos. Foram ministradas 32 aulas e
durante esse período foram catalogadas 138 canções. As mais cantadas e repetidas foram:
Alecrim, Borboletinha, Dona Aranha, O Sapo Não Lava o Pé, Cai cai balão e Sítio do Seu Lobato,
dentre outras. Quanto à performance das crianças ao apresentar as canções, algumas preferiram
cantar no colo do responsável enquanto outras, mais independentes, realizaram uma performance
solo. Algumas mostraram preferência em tocar instrumentos, seja como acompanhamento ao
canto ou substituindo-o. Algumas canções foram acompanhadas por movimento corporal ou
coreografia. Os resultados apontaram uma forte relação entre as músicas apresentadas pelos
alunos durante as aulas e o repertório vivenciado em casa.
Palavras-chave: Preferência Musical; Musicalização Infantil; Educação Musical.
Abstract: This article aims to present and discuss the results of a research conducted from
March to July (2019) in the early childhood music education classes of the Federal University
of Bahia extension project. The main goal of the research was to investigate the relationship
between the family environment and the musical preference of 33 children aged 0 to 4 years.
The secondary goals was to catalog the names of the songs chosen by the children to sing in the
music class, to know the musical environment of the children in the family life, and to establish
possible relationships between the songs presented by the children and the repertoire heard at
home. Data were collected through bibliographic research, field diary, questionnaires and video
recording. The classes took place once a week, lasting 50 minutes. 32 lessons were given and
during this period 138 songs were cataloged. The most sung and repeated were: Alecrim,
Borboletinha, Dona Aranha, O Sapo Não Lava o Pé, Cai cai balão and Sítio do Seu Lobato,
among others. As for the performance of the children when presenting the songs, some preferred
to sing in the lap of the responsible adult while others, more independent, performed a solo
performance. Some showed preference in playing instruments, either as accompaniment to
singing or replacing it. Some songs were accompanied by body movement or choreography.
The results showed a strong relationship between the songs presented by the students during
the classes and the repertoire lived at home.
Keywords: Musical Preference; Early Childhood Music Education; Music Education.
Introdução
Nos últimos anos, a preferência musical tem sido objeto de muito interesse na pesquisa
em Educação Musical. Vários estudos indicam que embora o nosso interesse pela música seja
inato, a preferência musical se forma desde a infância e sofre uma grande influência do contexto
sociocultural. Os pais geralmente buscam criar um ambiente rico de estímulos musicais,
selecionando músicas, vídeos e filmes infantis que passarão a fazer parte do repertório musical
da criança. Mais tarde, a escola também se constituirá em um outro espaço de escuta a que
estarão expostas.
Este estudo, de caráter qualitativo, examinou as preferências musicais de 33 crianças de
0 a 4 anos, do projeto de extensão Musicalização Infantil (EMUS/UFBA), durante o ano de
2019. Foram catalogadas as músicas apresentadas pelas crianças durante o momento de
performance individual, durante as aulas da musicalização. Para contextualizar e compreender
as preferências musicais, foi aplicado um questionário com os pais e/ou responsáveis. O mesmo
buscou mapear o ambiente musical familiar, os momentos de exposição à música, incluindo as
atividades culturais como shows, concertos e peças teatrais. Também buscamos conhecer a
relação da família com a música, a duração dos “acontecimentos musicais”, se os pais ou
familiares tocavam um instrumento ou se a criança possuía algum.
Nesse artigo vamos fazer um recorte da pesquisa, focando nos resultados relacionados
às canções escolhidas pelas crianças para compartilhar na sala de aula e as possíveis relações
com seu contexto musical familiar. Durante a performance procuramos analisar aspectos como
a linguagem corporal utilizada, a expressão facial, a desenvoltura, dentre outros. Esses
elementos podem indicar o grau de preferência da criança com relação à canção escolhida.
Pressupostos Teóricos
Nos primeiros meses a criança passa a interagir de forma mais direta com os sons à sua
volta. Reagem à música com movimentos corporais e/ou expressões vocais, imitando, testando
e improvisando melodias. No canto de bebês de até dois anos de idade raramente são utilizadas
palavras. Quanto à expressão corporal, de acordo com Parizzi (2006), os bebês “passam a
adequar seus movimentos ao pulso da música que estiver ouvindo” (p. 43). Isso explica a
“dança” dos bebês ao ouvir o responsável cantar uma música no momento da “música da
criança” nas aulas da musicalização. Segundo Gordon (2000, p. 307), ao longo do primeiro ano
de vida, os bebês “compensam a sua incapacidade de cantar e falar, escutando atentamente a
música e a fala”. Dessa forma, “quanto mais música uma criança ouvir até os dezoito meses
(...), melhor estará preparada para aprender a cantar”. Para isso, é importante que o ambiente
musical do bebê seja rico em estímulos sonoros e musicais.
De acordo com Parizzi (2006), entre os dois e três anos de idade, a criança “passa a fazer
tentativas de imitar canções que escuta em seu meio”. Repetições na melodia e no ritmo passam
a ser notadas, e “embora não exista ainda um centro tonal estável, às vezes certa coerência tonal
no âmbito de cada frase pode ser observada” (PARIZZI, 2006, p. 43). Essas e outras
características, como imprecisão melódica e variações de altura e duração, apareceram no canto
das crianças durante as aulas.
Também pudemos notar que as crianças da turma de 2 a 3 anos apresentavam uma maior
independência na hora de cantar, o que não ocorria nas turmas de 0 a 2 anos. Se antes elas
dependiam mais da voz do responsável enquanto referência, nesse novo estágio era possível
notar em primeiro plano da voz da criança, e não a de seu responsável.
A partir dos três anos, a criança é capaz de reproduzir canções inteiras de sua cultura.
Na turma de 3 a 4 anos, percebeu-se que a afinação das crianças ainda era imprecisa, e se
mantinha apenas por certos trechos da canção. De acordo com Sloboda (apud PARIZZI, 2006,
p. 44), a afinação precisa dos intervalos só ocorre mais tarde.
Outra característica dessa faixa etária é a canção imaginativa e os pot-pourris, nos quais
a criança mistura “partes de canções conhecidas, elaborando sua própria versão dessas canções”
(PARIZZI, 2006, p. 44). Em um vídeo do aluno D. O. (turma de 3 a 4 anos), gravado em sua
casa, pode-se perceber isso. Ele mistura trechos das canções “Atirei o Pau no Gato” e “Marcha
Soldado”, modificando um pouco suas letras, a fim de adequá-las à versão final de sua
“história”.
Segundo Ilari (2003), “do nascimento aos 10 anos de idade, o cérebro da criança está
em pleno desenvolvimento e apresenta as melhores condições de aprendizado, as chamadas
“janelas de oportunidades” (p. 14). Uma janela de oportunidade não é o único período possível
ao aprendizado, mas aquele em que a “estimulação e desenvolvimento se dão de forma mais
eficiente” (ILARI, 2003, p. 13). Desse modo, é importante que o ambiente familiar ofereça um
vasto repertório às crianças. Egermann (2018) sugere que
… os pais aproveitem cada oportunidades para passar tempo com seus filhos
e explorar o mundo da música juntos, enquanto as crianças ainda estão abertas
a músicas novas e desconhecidas (o que geralmente significa que tenham
menos de dez anos). Pode ser simplesmente colocando música de fundo
enquanto a criança está brincando, mas também pode ser usada como uma
atividade social dentro da família. Os pais podem tocar uma música em casa
e então conversar com os filhos sobre ela (ou seja, compartilhar como todos
na família experienciam a música e discutir por exemplo o porquê de isso
acontecer), ou eles podem levar os filhos para shows e eventos de música ao
vivo. que criam memórias especiais que são lembradas de maneira positiva
(EGERMANN, 2018, p. 4).
Gordon (2000), por sua vez, fala da importância de uma orientação informal em música,
na qual “as crianças são postas de todas as maneiras possíveis em contato com a música de sua
cultura e encorajadas a absorver essa música, juntamente com a inerente sintaxe baseada nessa
cultura” (p. 315). Nesse sentido, todos os pais da pesquisa afirmaram ter momentos musicais
com as crianças, cantando, ouvindo CDs, vendo DVDs também frequentando shows e
concertos.
É importante que a pesquisa e seleção do repertório realizada pelos pais e professores
não se restrinja à “música infantil”. A criança deve ser exposta a diversos gêneros musicais,
inclusive músicas de diferentes culturas, não só para que se amplie o ouvido musical em termos
de estruturas musicais e diferentes tipos de escalas, por exemplo, mas “as crianças podem ser
mais propensas a mostrar interesse nessas culturas e se informar sobre elas” (EGERMANN,
2018, p. 5). Sobre isso, Swanwick (2003) afirma que “somente quando provocados por
encontros com práticas culturais de outros lugares, prestamos atenção aos ‘sotaques’, inclusive
o nosso próprio” (p. 37).
Quanto à variedade e características do repertório, Gordon (2000) comenta que “as
gravações para adultos não são só adequadas, mas também recomendadas”, e “quanto mais
tonalidades, métricas e tempos as crianças conhecerem, melhor” (p. 317). Além disso, segundo
Procedimentos Metodológicos
Resultados
Nesse sentido, Egermann (2018), aponta a formação da identidade social como outra
influência na formação do gosto musical uma vez que “duas pessoas que têm um gosto musical
similar são mais propensas a se vincular uma com a outra, pois provavelmente compartilharão
valores humanos semelhantes” (BOER et al., 2011 apud EGERMANN, 2018, p. 2). Além disso,
há características que são associadas a certos gêneros de música, de forma que, ao demonstrar
certas preferências a pessoa também acaba demonstrando que compartilha dos valores e
conceitos socialmente implícitos a esses gêneros. Assim, “pode-se argumentar que as pessoas
ouvem gêneros musicais que expressam características com as quais mais se relacionam e se
alinham às identidades sociais comuns em seu grupo de pares.” (EGERMANN, 2018, p. 2).
O educador musical precisa compreender a influência que o meio exerce no
desenvolvimento musical da criança. Ao conhecer as preferências musicais do aluno o professor
estará adentrando no universo de suas relações sociais e familiares, com seus valores e crenças,
elementos que contribuem para a formação da identidade da criança.
Para que a aprendizagem significativa aconteça, a sala de aula não pode ignorar o que
acontece fora dela, pelo contrário, é preciso que a ação que nela ocorre tenha por ponto de
partida a preferência musical dos alunos e as expressões musicais e artísticas do contexto
sociocultural. Assim, estaremos os reconhecendo enquanto sujeitos sociais que “trazem consigo
um domínio de compreensão musical” e que possuem a necessidade de interagir socialmente
(SWANWICK, 2003, p. 67).
Conclusões e Recomendações
dentre as mudanças observadas na criança após o início das aulas de musicalização estão: maior
sociabilidade, curiosidade por outros instrumentos, mais interesse e atenção aos sons do
ambiente e dos objetos, mais balbucio de palavras que antes não expressavam, interesse em
aprender novas músicas e tocar um instrumento para apresentar na aula de música, maior prazer
em cantar, iniciativa em decorar letras das músicas, melhora da comunicação verbal e interesse
por ritmos e dança.
O repertório selecionado para as aulas de música deve ser escolhido de forma cuidadosa
pelos professores, pois ele é o coração do trabalho de musicalização. As canções devem
despertar o interesse e a imaginação da criança, serem musicalmente ricas (linha melódica e
harmonia interessantes), serem adequadas à faixa etária e ao conteúdo selecionado. As crianças
são naturalmente abertas a diferentes tipos de música. Os pais e professores devem se aproveitar
disso para apresentar uma grande variedade de gêneros e estilos musicais da cultura local,
nacional e também de outros países.
Os pais são aliados dos professores na construção da preferência musical na criança.
Sempre se mostram interessados em proporcionar aos seus pequenos as melhores condições de
aprendizagem e de oportunidades, dentro de suas possibilidades. Os professores devem cultivar
uma boa relação com os pais, pedindo e acolhendo sugestões de repertório. Devem também
promover um ambiente musical rico e diversificado nas aulas de música e compartilhar as
músicas utilizadas para que sejam apreciadas e trabalhadas em casa, prolongando assim a
experiência da aula de música para além do breve encontro semanal. Também é importante
divulgar e estimular o compartilhamento de eventos culturais, lançamentos de trabalhos
musicais de maneira geral, não apenas voltados ao público infantil.
Referências
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Hauke. Can parents influence children’s music preferences and positively shape their
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PARIZZI, Maria Betânia. O canto espontâneo da criança de zero a seis anos: dos balbucios às
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music preferences and positively shape their development?: 2018. Disponível em:
<http://www.egermann.net/wpcontent/ uploads/2018/11/Review_Egermann_Parents_
Influence.pdf>. Acesso em: 08/08/2019.
Amanda Valiengo
Universidade Federal de São João del Rei-UFSJ
amanda.valiengo@ufsj.edu.br
Sofia Leandro
UFSJ
sofialeandro@ufsj.edu.br
Inara Marchi
UFSJ
manbriart@gmail.com
Resumo: O presente texto refere-se ao relato de ações extensionistas realizadas em uma creche
no município de São João del Rei, MG. Tem como objetivo refletir acerca de situações
vivenciadas com música que contribuíram para organização do espaço em cinco turmas de
Educação Infantil, com crianças entre um ano e meio e quatro anos de idade, durante o ano de
2019. Como embasamento teórico, dialogamos com experiências relatadas sobre experiências
das escolas de Reggio Emilia, e a teoria histórico-cultural de Lev Vigotski. Por meio de
imagens, descrições e análise de algumas situações vivenciadas, embasadas no modelo
C(L)A(S)P de Keith Swanwick e em ideias de autores como França e Swanwick (2002) e
Schafer (2011), chega-se nas seguintes considerações parciais: a música foi mediadora para a
organização dos espaços – tanto quando a organização dos espaços permitiu a execução de
certas ações envolvendo música, como quando a experiência musical acabou auxiliando na
organização dos espaços.
Palavras-chave: Experiência Musical na Creche; Organização do Espaço; Programa de
Extensão CRIAÇÃO.
Abstract: This paper reports the actions of an extension group at a nursery in the city of São
João del-Rei, MG, Brazil. Our goal is to reflect about the situations experienced with music that
have contributed to space organizing in five classes of kindergarten, with one to four year old
kids, during 2019. As a theoretical basis we dialogue with experiences reported by Reggio
Emilia schools, and Lev Vigotski’s cultural-historical theory. Based in the C(L)A(S)P model
from Keith Swanwick and in the ideas of authors such as França and Swanwick (2002) and
Schafer (2011), we came to the following partial conclusions through images, descriptions and
thoughts about our experiences: music has been used as an intermediate for space organizing -
either when space organizing allowed music activities to happen, and when those activities
ended up helping in space organizing.
Keywords: Musical Experience in the Nursery; Space Organizing; Extension Program
CRIAÇÃO.
Seminário Internacional Desenvolvimento Humano na Primeira Infância:
Educação Musical e Musicoterapia
Escola de Música da UFMG - Belo Horizonte, 05 a 11 de abril de 2021
Anais - ISBN: 978-65-88804-11-7
39
Introdução
O Centro de Respeito às Infâncias e suas Aprendizagens em ação (CRIAÇÃO) é um
programa de extensão da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que surgiu com a
intenção de proporcionar às crianças na primeira infância experiências multissensoriais e
criativas, estimulando o contato com diferentes artes e inventando novas possibilidades de
viver. Durante o ano de 2019, o programa esteve atuante na Creche Celina Viegas, em São João
del-Rei (MG), uma creche filantrópica com 28 anos de história, que atende cerca de 65 crianças
até 4 anos. As intervenções procuram ser planejadas e executadas a partir da nossa observação
dos fazeres da criança.
Este programa tem um caráter multidisciplinar, integrando extensionistas dos campos
da Música, Teatro e Artes Aplicadas, sob a orientação de professoras da área da Pedagogia e
Música. O objetivo do coletivo é fazer com que a criança entre em contato direto com as
diversas manifestações artísticas e com o meio ambiente, através das vivências, explorações,
escutas, manuseios, observações, interações e criações. As atividades propostas pelos
integrantes do programa procuram favorecer as aprendizagens das crianças, respeitando e
valorizando os seus ritmos, instintos e ideias individuais.
Compreendendo o papel de todos os envolvidos no crescimento da criança, o programa
“CRIAÇÃO” também procura fortalecer os laços entre extensionistas, estagiários, professores,
técnicos e familiares. Por isso, para iniciar nossos diálogos com a escola, fizemos, durante o
mês de abril de 2019, um curso de formação com as professoras da Creche Celina Viegas. Além
de proporcionar experiências educacionais relacionadas às nossas áreas específicas, tivemos
então a oportunidade de conhecer nossas futuras parceiras de trabalho e fazer um primeiro
contato amistoso. As considerações aqui traçadas serão referentes às atuações já em aula, com
as crianças, entre os meses de maio e novembro do mesmo ano.
Entendemos a creche não apenas como um espaço dedicado aos cuidados e necessidades
básicas das crianças, mas principalmente como um espaço educacional em que elas são
estimuladas, por meio de atividades lúdicas, brincadeiras e jogos, experimentação, exploração
e descobertas. As práticas pedagógicas demandam planejamento das atividades, bem como a
organização do espaço onde as mesmas serão desenvolvidas. Como afirma Vigotski (2010, p.
448), “Sobre o professor recai um novo papel importante. Cabe-lhe tornar-se o organizador do
meio social, que é o único fator educativo”.
Nossas reflexões acerca da organização do espaço surgiram pelas próprias demandas
em direcionar melhor a atenção e energia das crianças para a brincadeira ou atividade que
estavam sendo propostas. Como não dispusemos de uma sala exclusiva para nossas atuações,
semanalmente adaptamos as salas de aula já montadas, e também outros espaços, como o
gramado, a varanda, a piscina de bolinhas, parquinho, entre outros, para alicerçar as atividades.
Nossas dificuldades estavam em dividir o curto espaço de tempo que tínhamos para as
intervenções entre a chegada, o estabelecimento de um primeiro contato, a locomoção das
crianças para os espaços onde seriam realizadas as atividades, a implementação das atividades,
e o regresso à sala. Ao organizar os espaços para as atividades artísticas, percebemos que essa
organização beneficiou o contato das crianças com a música e, em muitos momentos, a música
também auxiliou na organização tanto dos espaços como da rotina.
Barbosa e Horn (2001) propõem a organização das atividades na Educação Infantil em
um tempo e espaço estruturados pelos professores de maneira a atender as especificidades
infantis e, ao mesmo tempo, que permitam experiências múltiplas estimulando a criatividade,
experimentação e imaginação. Especialmente sobre o espaço, “compartilhamos da ideia de que
o espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento das crianças, na medida em que
ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e relacionais”
(BARBOSA; HORN, 2001, p.73).
A realidade da creche e as ações infantis nos impulsionaram a pensar na organização do
espaço e do tempo. Para tanto fomos nos alicerçando em ideias da teoria histórico-cultural
(VIGOTSKI, 2010; SINGULANI, 2017) e em experiências de Reggio Emilia (SCHWALL,
2012). Especialmente neste artigo serão descritas situações, a partir de imagens do programa
“CRIAÇÃO”, analisadas sob a ótica do modelo C(L)A(S)P de Keith Swanwick, fazendo
referências a ideias também de Schafer (2011).
Parlenda de abertura
e o final das atividades propostas pelos extensionistas. Utilizamos dois recursos que se
complementavam: um sinal sonoro que se destacava (como um sino ou um chocalho) e a
movimentação/aparição, na porta da sala de aula, dos bolsistas que iriam liderar a proposta.
Esses recursos eram acompanhados da seguinte parlenda:
O que é o que é?
Faz sentado ou de pé?
Quem será que vem lá?
Vão nos deixar entrar?
A entrada dos bolsistas na sala era demarcada não apenas pela parlenda, mas também
por uma canção:
Boa tarde, boa tarde!
Vamos lá brincar?
Quero ver esses sorrisos
Para começar!
Durante essa canção, eles tinham tempo para se instalar na sala, entrosar com as
professoras e as crianças, e até reunir os bebês menores que ainda não andavam. Ao mesmo
tempo, as crianças já estavam “em atividade”, uma vez que progressivamente começavam a
cantar e a bater palmas juntamente com os bolsistas. Para terminar, era cantada a mesma canção,
numa velocidade mais lenta, com a letra modificada:
Está na hora de acabar.
Foi tão bom estar aqui!
Logo, logo vou voltar.
Adeus, adeus e até lá!
Siga o Mestre
Como referimos na introdução, um dos objetivos do programa era fazer com que as
crianças tivessem mais contato com espaços da creche, alternativos à sala de aula. Por isso,
muitas atividades incluíram a locomoção das turmas para lugares como a varanda, vários pátios,
o gramado e o pomar. A música, utilizada no âmbito de uma dinâmica de “Mestre Mandou”,
serviu para guiar as crianças pelos espaços, organizando dessa forma o trajeto.
A Figura 1 ilustra o início da brincadeira “Siga o Mestre”, ainda em sala de aula, com
as duas turmas de crianças com idades mais baixas da creche, liderada por uma das
coordenadoras do programa. O chapéu vermelho foi utilizado para sinalizar quem era o
“Mestre”, cujas instruções as crianças deveriam seguir. A canção utilizou a melodia de “O
soldadinho de corda”, de Margarida Fonseca Santos (2005, p. 48-49), com a letra modificada:
Por meio desta brincadeira, o “Mestre” podia não somente guiar as crianças no trajeto
que deveriam percorrer, como mediar os níveis de energia. Por exemplo, se o grupo de crianças
estivesse se dispersando, o “Mestre” poderia instruí-las a sentar, andar devagar, dar a mão, etc.,
facilitando assim a locomoção coletiva.
Outra atividade envolvendo a música onde a organização espacial foi essencial foi um
circuito em que as crianças ouviram a história da Iara em um dos espaços da escola, pintaram
com tintas naturais em outro e por fim experimentaram e exploraram diferentes sons com a
água, como podemos ver a seguir.
Durante o ano, algumas apreciações musicais foram promovidas para um maior e mais
diversificado contato das crianças com a música. Entendemos que “a apreciação é uma forma
legítima e imprescindível de engajamento com a música” (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p.
12), e que “ouvir uma grande variedade de música alimenta o repertório de possibilidades
criativas sobre as quais os alunos podem agir criativamente” (FRANÇA; SWANWICK, 2002,
p. 13).
vez, as músicas apresentadas foram preparadas para envolver a participação das crianças da
creche.
Esta imagem retrata uma atividade na qual a música foi determinante para a organização
do espaço. A apresentação aconteceu no ambiente da lavanderia, e novamente havia a situação
palco/plateia, porém aqui mais flexível.
Primeiramente julgamos interessante ressaltar esta ressignificação do espaço por meio
da atividade musical. A lavanderia, que não é um lugar onde as crianças costumam ir na creche,
nesse dia foi convertida em lugar de música e de brincadeira, e pudemos ver como isso
repercutiu nas crianças com falas do tipo “o que é isso aqui? (apontando para um exaustor que
saía da cozinha)”, “olha, uma mangueira! A gente usa para lavar o chão”, entre outras.
Em relação à atividade em si, houve momentos em que a proposta era a apreciação,
então as crianças deviam permanecer como plateia, e outros momentos de brincadeira, em que
as crianças participavam mais ativamente como ouvintes e brincantes. Nesses momentos de
participação, as crianças da creche foram convidadas a brincar de Adoleta, e cantar e dançar,
por vezes associando alturas a gestos. Essa associação é considerada por autores como a
primeira representação lógica musical da criança:
Considerações finais
Com estes relatos e reflexões quisemos explorar possibilidades sobre o uso da música
atrelado especialmente à organização do espaço, mas também à rotina na creche. Nossa
perspectiva referente à finalidade da música na educação infantil vai ao encontro do pensamento
do professor Hans-Joachim Koellreutter, para quem “a música é, em primeiro lugar, uma
contribuição para o alargamento da consciência e para a modificação do homem e da sociedade”
(apud BRITO, 2001, p. 26), visando a “construção de novos paradigmas para a formação e o
exercício da cidadania de um ser humano íntegro e integrado - consigo, com o outro, com o
meio ambiente” (BRITO, 2001, p. 26).
Sobre a relação da música com a organização do espaço, o que pudemos perceber foi
que: a) atividades musicais podem auxiliar a criança a compreender seu lugar de atuação em
diferentes ambientes, ajudando no direcionamento e na gestão da atenção; b) uma organização
favorável do espaço, além de contribuir no bom desenrolar da atividade ou brincadeira, pode
também proporcionar à criança uma atuação mais autônoma e espontânea, necessitando de
menos intervenções diretas por parte dos adultos; c) o professor é o responsável pela
organização do espaço, podendo inclusive incluir a criança nessa organização, para que as
atividades de Técnica, Execução, Composição, Literatura e Apreciação sejam possíveis de
vivenciar.
Referências
BARBOSA, Maria Carmem Silveira Barbosa; HORN, Maria da Graça Souza. Organização do
espaço e do tempo na escola de Educação Infantil. In: CRAIDY, Maria; KAERCHER, Gládis
Elise da Silva. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
FREIRE, Ricardo José Dourado; FREIRE, Sandra Ferraz. Sinais musicais: o corpo como a
primeira representação da lógica musical pela criança. In: ILARI, Beatriz; BROOCK,
Angelita (org.). Música e Educação Infantil. Campinas: Papirus Editora, 2013. p. 99-122.
SCHWALL, Charles. O ambiente e os materiais do ateliê. In: GANDINI, Lella et al. O papel
do ateliê na educação infantil: a inspiração de Reggio Emilia. Porto Alegre: Penso, 2012. p.
31-47.
VIGOTSKI, Lev Semyonovich. Psicologia Pedagógica. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2010.
Resumo: A primeira infância representa o período da vida de uma pessoa em que ela mais se
desenvolve, em variados aspectos. Pesquisas ligadas à neurociência, educação e ensino de música
revelam a importância do seu envolvimento musical nessa etapa. Em adição, se essa pessoa apresenta
alguma deficiência, os conhecimentos básicos da educação musical especial e da musicoterapia
devem ser considerados por seu educador musical, em prol de mudanças significativas no processo
de ensino-aprendizagem. Este artigo objetiva apresentar um exemplo parcial do perfil da formação
dos estudantes do Curso de Música/Licenciatura da Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
referente às competências básicas imprescindíveis à sua futura atuação como educador musical na
educação infantil, envolvendo educandos com necessidades especiais. Seus objetivos específicos são:
apresentar leis, documentos e autores referentes à educação infantil e ao ensino de música; e sinalizar
as competências ligadas às disciplinas Educação Especial/Inclusiva e Musicoterapia, indispensáveis
aos educadores musicais nesse nível de escolaridade. Na metodologia, a abordagem qualitativa se
entrelaça com o procedimento de uma pesquisa de estudo de caso, cuja fundamentação teórica apoia-
se nas referências sobre educação, ensino de música, educação especial e musicoterapia. Sua
conclusão sinaliza: documentos internacional e nacional ligados à educação infantil; o ensino de
música nessa fase escolar, com variadas atividades musicais; as pessoas com necessidades
específicas; e os aspectos básicos da musicoterapia. Por fim, ele sugere que as duas disciplinas já
mencionadas possam fazer parte da Matriz Curricular de todos os Cursos de Música/Licenciatura do
nosso país.
Palavras-chave: Música na Educação Infantil; Formação Docente; Educação Especial e
Musicoterapia.
Abstract: Early childhood represents the period of a person's life when he or she develops the most
in various aspects. The research related to neuroscience, education, and music teaching reveals the
importance of musical involvement at this stage. Besides, if this person has any disability (visual,
auditory, physical, intellectual), basic knowledge of music education and music therapy should be
considered by your music educator, in order of significant changes in the teaching-learning process.
This paper aims to present a partial example of the training profile of students of the Music Degree
Course at the Federal University of Maranhão (UFMA), regarding the necessary skills essential for
their future performance as a music educator in early childhood education, involving students with
special needs. Its specific objectives are the presentation of laws, documents, and authors related to
early childhood education and music education; and signal the selected competencies for Special
Education and Music Therapy disciplines, indispensable to music educators at this level of education.
In the methodology, a qualitative approach interlaces with a case study research procedure, which
theoretical foundation supports itself in issues of education, music teaching, special education, and
music therapy. Its conclusion signals: international and national documents related to early childhood
education; teaching music in this school phase, with several musical activities; people with specific
needs; and the essential aspects of music therapy. Finally, this paper suggests that the two subjects
already mentioned can be part of the curriculum matrix of all Music Degree Courses in our country.
Keywords: Music in Early Childhood Education; Special Education; Music Therapy.
Introdução
da cidadania e qualificação para o trabalho [...]”. Mais adiante, o art. 70-A, III, defende “a
formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social
[...] para o desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à identificação de
evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança
e o adolescente.” (BRASIL, 1990).
Mais tarde, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB, No. 9.394/1996) solidifica os caminhos
da educação brasileira para o novo século. No art. 1º, §1º, essa Lei “disciplina a educação
escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias”,
devendo se vincular ao mundo do trabalho e à prática social (§2º). No seu art. 3º, o ensino será
ministrado baseado em treze princípios, entre eles:
Essa Lei (art. 21, I) estrutura a Educação Básica nos níveis de: educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio. A educação infantil corresponde a creches (até 3 anos de
idade) e pré-escolas (até 5 anos de idade) e sua finalidade é a de promover (art. 29) o
desenvolvimento integral da criança, “em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.” (BRASIL, 1996). Continuando, no art.
4º, III, é assegurado o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação [...]”.
Esse atendimento refere-se à educação especial, correspondente aos perfis de educandos ora
mencionados e à modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular
de ensino (art. 58). Neste artigo, haverá, se necessária, a oferta de: (§1º) “serviços de apoio
especializado na escola regular”; e (§2º) “atendimento educacional [...] feito em classes, escolas
ou serviços especializados”. A esses educandos, são assegurados, no art. 59, inúmeros direitos,
entre eles:
Por fim, a BNCC aponta dez competências gerais a serem desenvolvidas na educação
básica “[...] que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, uma formação humana integral que vise à construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva” (BRASIL, 2019, p. 25). Na educação infantil, esse documento sinaliza
direitos de aprendizagem e desenvolvimento (conviver, brincar, participar, explorar, expressar
e conhecer-se) e os campos de experiências (o eu, o outro e o nós, corpo, gestos e movimentos,
traços, sons, cores e formas, escuta, fala, pensamento e imaginação, espaços, tempos,
quantidades, relações e transformações). Assim, são considerados três níveis de
desenvolvimento, sejam eles: 0 a 1 ano e 6 meses; 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses; e 4
anos a 5 anos e 11 meses. Nesses contextos, a música aparece como linguagem integrada às
outras linguagens da área de arte (BRASIL, 2019, p. 26).
Em adição, apresentamos a Política Nacional da Educação Especial (BRASIL, 2020)
por contribuir também com o ensino de música. No seu Capítulo V – Art. 7º, referente aos
serviços e recursos da educação especial, sinaliza a disponibilidade de materiais didático-
pedagógicos adequados e acessíveis ao público-alvo desta Política, e enfatiza o acesso e
permanência dos estudantes com deficiência na Educação Básica. Da mesma
forma, sua presença também em escolas especializadas ou de apoio referente
às suas necessidades (BRASIL, 2020).
Considerações finais
Referências
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BRÉSCIA, V. L. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo,
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DELORS, J. et al. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para
o século XXI. Educação um tesouro a descobrir, 1996.
GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
ONU. Declaração Universal Dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris. 10 dez. 1948.
SWANWICK, Keith. Assessing musical quality in the National Curriculum. British journal of
music education, v. 14, n. 3, p. 205-215, 1997.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos. Plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Tailândia, 1990.
Abstract: The Suzuki Early Chidhood Education (SECE) is a music education program for
babies aged 0 to 3 years and pregnant women, based on the Suzuki Philosophy. Created by
Dorothy Jones and Sharon Jones between 1986 and 1993 under the direct guidance of Shinichi
Suzuki (1898-1998), the program has subsequently spread worldwide and recently arrived in
Brazil. This paper presents an experience report of two teachers after a year of implementing
the methodology at Ecos Centro Musical, a school located in a middle class neighborhood of
Belo Horizonte-MG. The objective is to report and discuss the challenges and benefits observed
in this period of experience with the methodology. The questions that guide this work are: What
is Suzuki Early Childhood Education and how has this methodology been disseminated and
implemented in Brazil? After a year of implementing this methodology in Belo Horizonte, what
are the challenges and benefits observed? To answer these questions, we present a brief history
of SECE, the philosophical principles on which it is based, its objectives, repertoire and
curriculum structure. As a theoretical framework, works by Suzuki (1981, 2008), peer-reviewed
articles, documents by the Suzuki Association of the Americas and the International Suzuki
Association and materials (website texts and training course handouts) produced by teachers
trainers were analyzed. It was observed that the program offers clarity and security to the
teacher, support and incentive for parents and boosts babies' musical, cognitive, motor,
emotional and social development.
Keywords: Music Education for Babies and Toddlers; Suzuki Method; Suzuki Early Childhood
Education.
Introdução
Revisão de Literatura
O SECE
O SECE está baseado nos princípios da Educação do Talento, ou Método Suzuki, como
é popularmente conhecido no Brasil. Criada por Shinichi Suzuki, a partir da década de 1930 no
Japão, esta metodologia se baseia na forma como as crianças aprendem sua língua materna.
Suzuki defende que o talento não é inato (SUZUKI 2008, 1981) e que todas as crianças têm
potencial para aprender desde que o ambiente ao redor da criança seja estimulante e a instrução
apropriada (ILARI, 2012, p.187).
Na definição de Dorothy Jones, o SECE é:
e incentivo aos bebês. Essa participação também tem como objetivo proporcionar aos pais a
imersão na metodologia, a compreensão dos objetivos do programa e desenvolvimento de um
senso de comunidade. Os pais são incentivados a repetirem em casa as atividades da aula,
ouvindo a gravação do repertório, cantando e interagindo com os bebês.
O foco dos professores está no domínio dos bebês de cada habilidade. O programa tem
um efeito cumulativo e devido ao seu sistema de repetições e acréscimo de novas habilidades
em pequenas camadas, a internalização de conceitos musicais acontece desde muito cedo,
proporcionando ao bebê um impacto futuro na aprendizagem.
As aulas acontecem com duas professoras em sala de aula, que se alternam e se apoiam
na realização das atividades. Esse trabalho em equipe oferece vantagens na criação de um
ambiente adequado, na manutenção da fluidez da aula, na suavidade de transições entre as
atividades, no suporte aos pais e na troca de ideias antes, durante e depois das aulas (HODGE;
CHEN; MCCALL, 2018, p. 13).
O espaço físico é planejado para que as crianças se sintam seguras e focadas. A
iluminação e temperatura da sala são controladas, o chão é coberto com um tapete
preferencialmente de cor única. A limpeza do ambiente e dos materiais utilizados é feita de
forma cuidadosa.
Os equipamentos utilizados nas aulas incluem: xilofone, metalofone, tambor de pirulito,
ovinhos, triângulo, xilindró, pau-de-chuva, bloco de madeira, aparelho de som, lenços
coloridos, cachorrinho de pelúcia, bola, cesta de livros e cadernos de anotações para os pais (cf.
FIGURA 1). A qualidade sonora é fator determinante na escolha dos instrumentos.
FIGURA 1- Instrumentos e materiais utilizados nas aulas do SECE (Fonte: acervo pessoal).
O currículo do SECE abrange um repertório fixo que é alternado entre duas semanas,
denominadas semana 1 e semana 2. Em cada semana são executadas cerca de 20 atividades
curtas que incluem canções, parlendas, uso de algumas gravações e leitura de histórias. O
repertório é em inglês, e está registrado no CD “Lullabies, Action Songs and Rhymes” (JONES,
1995). As atividades incluem brincadeiras de roda, jogos com as mãos, execução individual e
coletiva de instrumentos de percussão, danças com lenços e ovinhos.
Ao comparar o SECE com outras metodologias de educação musical para bebês
utilizadas na América do Norte, Gerry (2015, p. 18) diz que os pontos fortes do SECE incluem:
o registro de cada passo do desenvolvimento da criança de forma com que os pais se tornam
mais conscientes e engajados no processo de aprendizagem; o uso de música acústica de alta
qualidade e a ênfase na parceria entre pais, professores e bebês. Goodner (2017), destaca cinco
pontos que diferenciam o SECE de outros programas para bebês:
• maestria: desenvolver as habilidades passo a passo pela repetição.
• o desenvolvimento do caráter como um objetivo da aula.
• educação dos pais: orientações frequentes e observações das aulas escritas em diários.
• o poder da escuta do repertório em casa.
• as aulas do SECE têm uma sensação de foco e calma.
Professores interessados em oferecer aulas de música para bebês pelo SECE devem
participar de cursos de capacitação. A seguir discutiremos sobre esses cursos de capacitação e
como eles tem proporcionado a difusão da metodologia pelo Brasil.
Em Belo Horizonte, o primeiro programa SECE teve início em março de 2019 no Ecos
Centro Musical, escola especializada em música, localizada em um bairro de classe média.
Desde o início tivemos total apoio da instituição que, além de nos ajudar financeiramente na
capacitação, adquiriu todos os instrumentos e materiais necessários para as aulas, seguindo as
orientações do programa e nossas escolhas pessoais. Na escola já haviam turmas de
musicalização para bebês que seguiam outra abordagem metodológica e foram essas crianças
os primeiros alunos do programa. Antes de iniciarmos as aulas oferecemos uma palestra para
que pais e interessados pudessem conhecer o programa.
Começamos com uma turma aos sábados e ao longo do ano, devido à demanda crescente
de alunos, outras duas turmas foram criadas. Ao longo do ano de 2019, além das aulas semanais,
as crianças participaram também de uma apresentação no Teatro Raul Belém Machado, em
setembro, e duas aulas abertas, sendo uma em julho no Parque Ecológico Vencesli Firmino da
Silva e a outra em novembro oferecida como parte da programação do I Encontro Suzuki da
Escola de Música da UEMG.
Observamos que as turmas com idades mistas permitiram que crianças mais novas
aprendessem com as mais velhas e que crianças mais velhas desenvolvessem liderança e
aprendessem a ser cuidadosas com as mais novas. Isso facilitou na inclusão de crianças com
deficiências na turma e no respeito ao tempo de aprendizado de cada criança.
O nosso aluno mais novo tinha seis meses de idade ao ingressar no programa, mas a
maioria das crianças ingressaram com mais de um ano. Nesse período, as crianças que
completaram três anos de idade foram encaminhadas aos poucos às aulas de instrumento.
Observamos que as crianças que ingressaram no programa antes de completarem um ano se
adaptaram mais rapidamente à metodologia.
Por saber da força que o ambiente pode ter no desenvolvimento das crianças, nos
dedicamos a criar um ambiente calmo, alegre e sem pressões. Antes de entrarmos na sala,
incentivamos aos pais a se divertirem, cantarem e dançarem junto com as crianças e demos
orientação sobre como agir caso a criança não quisesse realizar alguma atividade ou começasse
a chorar. Observamos ainda que os pais que escutavam as músicas em casa com seus filhos
conheciam melhor o repertório e essa atitude fazia com que as crianças participassem de forma
mais efetiva em sala.
Vimos que as crianças imitam atitudes umas das outras, sejam boas ou ruins. Quando
um aluno ainda não havia se adaptado ao ambiente e agia de maneira inadequada, vimos que
algumas crianças acabavam por imitá-lo. Por outro lado, quando uma criança externalizava uma
habilidade desenvolvida, ela também era imitada. Por isso, em parceria com os pais,
conduzimos as crianças para que elas aprendessem a lidar de forma positiva com as situações
que surgiam individualmente e coletivamente.
Foi possível observar também que aquilo que as crianças aprendiam na aula se estendeu
para outros ambientes e que elas estavam aprendendo mesmo quando aparentemente não
estavam prestando atenção. Tivemos vários relatos de pais dizendo que a criança não
participava de alguma atividade na aula, mas que quando chegava em casa ela repetia
corretamente tudo o que tinha sido feito.
Sabendo que um dos lemas da Filosofia Suzuki é “caráter primeiro, habilidade depois”
(SUZUKI, 2008, p. 88) estimulamos as crianças para que desenvolvessem não só habilidades
musicais, mas também consciência social e autorregulação emocional. Ao longo das aulas
observamos o desenvolvimento das crianças com relação a saber aguardar a vez, a se alegrar
quando o outro executa algo bonito, a escutar quando o outro fala ou canta, a seguir comandos,
a cumprimentar e respeitar os colegas, a compartilhar e cuidar dos materiais utilizados nas
aulas.
Observamos que alguns pais de alunos estabeleceram laços de amizade entre si,
passando a interagir com outras crianças da turma e a comemorar juntos quando uma criança
conseguia fazer algo que ainda não fazia. Sentimos que quando os pais estão tranquilos e
confiantes as crianças participam das aulas de maneira mais alegre e fluida, por isso tentamos
manter sempre um bom relacionamento com eles e dar-lhes todo o suporte necessário.
Com relação à duração da aula ser de aproximadamente uma hora, observamos que isso
é possível e funciona bem graças ao entrosamento das professoras em sala, à forma como o
currículo é organizado e à forma como o ambiente é preparado. O ambiente calmo e controlado
favoreceu a fluidez da aula, e auxiliou no foco e na prontidão das crianças.
O fato de o repertório do SECE ser em inglês gera uma discussão entre os professores
brasileiros. Sabemos que nossa cultura é riquíssima e que o uso de repertório brasileiro no
programa fortaleceria o desenvolvimento da identidade cultural das crianças, além de facilitar
a participação dos pais. No entanto, a expressividade na interpretação das canções e parlendas
chama atenção dos bebês independentemente do idioma. Além disso, a linguagem verbal não é
o principal meio de comunicação entre as professoras e as crianças durante as aulas e sim a
gestualidade corporal e o olhar. Portanto, a questão do idioma não é determinante, mas pode
ser vista como uma vantagem ao desenvolvimento cognitivo das crianças por proporcionar que
elas tenham contato com uma segunda língua desde os primeiros meses de vida.
Considerações finais
Após um ano de implementação do SECE em Belo Horizonte, sentimos que ainda temos
muito a aprender tanto sobre a metodologia quanto sobre o processo de desenvolvimento dos
bebês. Por mais que estivéssemos apoiadas em uma metodologia com um currículo pré-
definido, vimos que as formas de realizar cada atividade são infinitas e que nenhuma aula é
totalmente previsível ou igual à outra. A energia, a sensibilidade e a criatividade do professor
continuam sendo fatores determinantes no sucesso das aulas para bebês.
Os benefícios observados superaram os desafios encontrados por nós nesse período de
trabalho com a metodologia. Pudemos acompanhar de perto o desenvolvimento e florescimento
da musicalidade de crianças bem novas e desfrutamos da alegria contagiante dos bebês ao longo
das aulas.
Com o SECE, vimos que o sucesso de uma aula de música para bebês vai além da
quantidade de repertório ou instrumentos utilizados e depende muito da segurança e energia do
professor na realização das atividades e da forma como ele interage com os bebês e com seus
pais. Manter a rotina proposta pelo programa nos ajudou a ter maior consciência dos objetivos
de cada atividade e direcionou nosso olhar para o processo de aprendizagem dos bebês. Por
mais que o repertório se repetisse a cada duas semanas, a realização das atividades era sempre
ajustada às necessidades da turma e às respostas das crianças no momento da aula. Vimos, por
meio de nossa experiência com o SECE, que não são só as crianças que desenvolvem maestria
por meio da repetição, nós professores também nos beneficiamos dela.
Por ser uma metodologia nova no Brasil, a demanda por pesquisas futuras inclui
observações sistemáticas do desenvolvimento musical das crianças inseridas no SECE e
possíveis efeitos da utilização de repertório brasileiro dentro do programa. Por enquanto,
ficamos com o desejo de que mais pessoas conheçam o programa e que os professores de música
possam ampliar seus saberes acerca das aulas para bebês através deste método.
Referências
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AND MEMORY. 2012. New York. Annals of the New York Academy of Sciences. New
York: New York Academy of Sciences. 2012. p. 129-138.
Rosa Barros
Instituto Federal de Goiás (IFG)
rosabarros1@gmail.com
Resumo: O presente trabalho trata de uma revisão bibliográfica sobre a iniciação infantil da
clarineta. O objetivo foi identificar qual a faixa etária inicial em que as crianças iniciam no
instrumento e saber se há instrumentos adaptados específicos para esse fim. A metodologia foi
de cunho qualitativo e contou com três etapas: 1) constituição da amostra de publicações; 2)
sistematização; 3) discussão e interpretação dos resultados. Como resultado, verificou-se que a
faixa etária predominante na iniciação da clarineta identificada foi de 9 anos de idade. No
entanto, foi possível observar esforços para promover a iniciação da clarineta na primeira
infância. A clarineta Eb, a flauta doce e a clarineta em C aparecem como possibilidade de
iniciação, bem como instrumentos adaptados. Foram identificados trabalhos que analisaram os
instrumentos saxonette e clarineo como possibilidade de iniciação à clarineta com crianças em
idade inferior a 9 anos.
Palavras-chave: Iniciação à Clarineta; Iniciação Musical Infantil, Instrumento Adaptado.
Abstract: This work is a bibliographic review about the initiation of the clarinet for children.
The objective was to identify the initial age group in which children start with the instrument
and to find out if there are specific adapted instruments for this purpose. The methodology was
of a qualitative nature and had three stages: 1) constitution of the sample of publications; 2)
systematization; 3) discussion and interpretation of results. As a result, it was found that the
predominant age group in the initiation of the clarinet was 9 years old. However, it was possible
to observe efforts to promote the initiation of the clarinet in early childhood. The Eb clarinet,
recorder and C clarinet appear as a possibility of initiation, as well as adapted instruments.
Studies were identified that analyzed the saxonette and clarineo as a possibility of initiation to
the clarinet with children under the age of 9 years.
Keywords: Clarinet, Children Initiation, Adapted Instrument.
Introdução
Metodologia
relacionados. Por fim, a terceira etapa relaciona a discussão e interpretação dos resultados, bem
como, as lacunas teóricas existentes na literatura de forma a permitir proposição de futuras
agendas de pesquisas direcionadas para a iniciação infantil da clarineta. A sistematização foi
organizada por ordem cronológica e pelas seguintes palavras-chave: iniciação infantil, clarineta
e crianças. Os idiomas pesquisados foram: português, inglês e espanhol.
Resultados e Discussão
Martins (2012) também descreve que historicamente é a partir do final do século XIX
que se começam a usar madeiras mais pesadas e que, portanto, surgem os primeiros relatos de
sobrecarga física nos clarinetistas. Sendo assim, a questão do peso não seria apenas uma questão
A iniciação não precisa de ser adiada por não ser possível segurar o
instrumento, usando somente o apoio da mão direita. Os dedos podem fechar
todos os orifícios, assim como os dedos mínimos podem alcançar as
respectivas chaves com facilidade. Em segundo lugar, o clarinéo “é
praticamente à prova de criança”. O corpo do instrumento é fabricado com
materiais resistentes, (ABS e Delrin) de alta durabilidade, podendo aguentar
temperaturas extremas. As sapatilhas são em borracha e à prova de água
(PINTO, 2014, p.16).
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei 13.257/2016, de 08 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a
primeira infância e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do
Adolescente, o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de
maio de 1943, a Lei no 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei no 12.662, de 5 de junho de
2012.
CAPITÃO, José Manuel Ribeiro. Iniciação ao clarinete: estudo de caso. 2017. Tese de
Doutorado. Católica Escola das Artes. Porto.
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MACHADO, David Joel Gomes. Saxonette: uma alternativa para a iniciação do clarinete?
2017. Tese de Doutorado. Escola Superior de Artes Aplicadas. Instituto Politécnico de
Castelo Branco. Castelo Branco.
MENDES, Karina Dal Sasso et al. Revisão integrativa: método de pesquisa para a
incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto and Contexto Enfermagem, v.
17, n. 4, p. 758, 2008.
Meiry Geraldo
mrauba@uol.com.br
Resumo: O presente estudo surge a partir da prática clínica adquirida através do atendimento
musicoterapêutico de diversos pacientes com autismo, onde o uso da música associada a
imagem tem se mostrado como um grande facilitador para a evolução destes pacientes. Nosso
objetivo é mostrar que ao fazer a junção da música e imagem, dentro do atendimento
musicoterapêutico, há um aumento de ganhos tanto no nível comunicativo como na interação
social desta população. Dentro da metodologia aplicada para averiguar os resultados utilizamos
a escala IMTAP. Desta forma, focamos na discussão e nos aspectos observados, visto que
resultados específicos, só poderiam ser avaliados caso a caso, principalmente devido à grande
variedade de características apresentadas dentro do espectro autista.
Palavras-chave: Autismo; Imagem; Musicoterapia.
Abstract: The present study arises from the clinical practice acquired through the music
therapy care of several patients with autism, where the music use associated with image has
been shown to be a great facilitator for the evolution of these patients. Our goal is to show when
you join music and image and music therapy service, there is an increase in gains at
communicative level and in the social interaction of this population. Within the methodology
applied to ascertain the results, we used the IMTAP scale. Thus, we focus on the discussion and
on the observed aspects, since specific results could only be assessed on a case-by-case basis,
mainly due to the wide variety of characteristics presented in the autistic spectrum.
Keywords: Autism; Image; Music Therapy.
Fundamentação
Objetivo
Emparelhamento Musical
Contar Histórias
Estudo de Caso
A Avaliação
mostrou muita irritação com o som do liquidificador, mas também se acalmou ao ouvir a música
da Xuxa: “Borboletinha” (dê seu repertório).
A música serviu de apoio e estimulação para atividades de sequência e também
comunicação a qual Helena demonstrou interesse. Um exemplo disso foi a atividade feita com
a música do Submarino Amarelo com emparelhamento e depois a sequência numérica de 1 à 6
onde falávamos o número (colocado em um painel).
Na música do coelhinho da Páscoa, dei o modelo dos “ovos” desenhando apenas uma
vez e Helena seguiu fazendo vários ovinhos. Gostou muito de desenhar no quadro branco.
Conclusão da Avaliação: Helena possui sensibilidade sonora gosta de atividades com
sequências e números. Na comunicação receptiva demonstra consciência do som versos
silêncio e identifica fonte sonora. Já na comunicação expressiva fala poucas palavras, dentre
elas cores e números. Gosta de desenhar. Teve resistência para entrar na sala de musicoterapia.
Consegue seguir instruções verbais envolvendo uma ação.
O Processo Musicoterapêutico
Na sessão seguinte, antes de Helena chegar, gravei no teclado a música das Cores. Então
iniciamos o mesmo processo de emparelhamento dos balões, colocando os mesmos no teclado...
Mostrei a ela que se ela apertasse um botão a música das cores iria tocar (sem que eu tocasse o
teclado). E foi dessa maneira que Helena foi se familiarizando com o instrumento.
Outra coisa que Helena gostava muito de fazer era desenhar. Então utilizamos o “contar
histórias” através das músicas junto com o grafismo.
Alguns dos desenhos feitos por Helena estão hoje no site da Galeria Aut – A Galeria de
Arte feita por Pessoas com Autismo.
.
FIGURA 10 – Caracol
FIGURA 11 – Joaninha
Este desenho foi feito enquanto Helena cantava a música: “Bruxa de Verruga” do Grupo
Pé de Sonho.
Este desenho foi feito enquanto Helena cantava a música: “Para Cima e Para Baixo” do
Grupo GUGUDADA.
FIGURA 14 – Beija-Flor
Gráfico 1 – Musicalidade
Gráfico 4 – Social
Nesta segunda avaliação, vemos que Helena tem explorado mais os instrumentos
musicais de percussão: tamborim, repique, puppazzetti (bicho apito), kalimba, afoxé e guizos.
Isto se reflete no gráfico da musicalização.
Considerações Finais
Referências:
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GOMES, Camila Graciella Santos. Ensino de leitura para pessoas com autismo. Curitiba:
Editora Appris, 2015.
Abstract: This article presents the partial results of an ongoing research that has the general
objective of describing how musical learning takes place in Early Childhood Education
(preschool), of an X school in the Federal District, through the Music Learning Theory (MLT),
by Edwin Gordon. Thus, it aims to map research on musical learning through MLT, in Early
Childhood Education, in Brazil, through the survey of publications of theses and dissertations
available in the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD) and in Catalog
of Theses and Dissertations (CAPES), allowing the elaboration of the state of knowledge on
the theme presented. In all, ten papers were selected from reading the abstracts and according
to the relationship with the proposed theme. The selected works were mapped and categorized
into Music in Early Childhood Education (Preschool), Music Learning through Music Learning
Theory (Edwin Gordon) and Music Learning Theory (Edwin Gordon) in Early Childhood
Education (Preschool). It is noteworthy that the selected productions dialogue and corroborate
with the research in progress, pointing out what has already been studied on the subject in the
country.
Keywords: Music Learnin; Early Childhood Education; Music Learning Theory.
Notas introdutórias
Sabe-se que a Educação Infantil, primeiro estágio da Educação Básica, é uma das mais
importantes etapas da formação da criança, pois é nesse segmento, que esse ser em
desenvolvimento começa a experimentar o mundo fora do núcleo familiar, faz novos amigos,
aprende a conviver com as diferenças, além de realizar várias descobertas em todas as áreas do
conhecimento. (BRASIL, 2017, p. 36)
Considerando o contexto abordado, as pré-escolas tornam-se de suma importância para
o desenvolvimento desses indivíduos, já que é nesse ambiente educacional que ocorrerão os
primeiros contatos do infante com o ambiente escolar e a educação formal. (BRASIL, 1996,
art.29)
De acordo a BNCC (BRASIL, 2017, p. 41), é necessário que as crianças se relacionem
com as mais diversas manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no
cotidiano das instituições escolares, porque é somente com esse tipo de convívio que esses seres
em formação poderão vivenciar diversas formas de expressão e linguagens.
Nessa conjuntura, destaca-se que a Música pode ser considerada como elemento
enriquecedor para o desenvolvimento da criança, uma vez que está presente em diversos
momentos da vida do ser humano desde a infância. (BRASIL, 1998, p. 45)
Contudo, a Música vem sendo utilizada na Educação Infantil com diversos objetivos,
muitos dos quais distantes dos temas específicos dessa linguagem. Nessa lógica, a Música perde
seu caráter expressivo, transformando-se em algo mecânico e estereotipado (BRASIL, 1998,
p.47; BRITO, 2003, p.51; ANDRIES, 2012, p.27).
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (BRASIL, 1998,
p. 47) também frisa que muitas instituições ainda encontram sérias dificuldades para integrar a
linguagem musical ao contexto educacional.
E foi em razão de todo o exposto, que comecei a questionar-me sobre as minhas
responsabilidades e o meu papel como professor de Música, da Educação Infantil, de uma
instituição privada, no DF. Perguntei-me a respeito de como poderia ajudar a escola no processo
de integração da linguagem musical ao contexto educacional.
Após análises de várias abordagens musicais (Suzuki, Dalcroze, Kodály, Willems,
Gordon), cheguei à conclusão de que a abordagem que melhor se enquadrava a realidade da
instituição em que atuo, é a Music Learning Theory, de Edwin Gordon, uma vez que entendi
que essa teoria apresenta informações e traz orientações claras quanto o desenvolvimento
musical da criança, facilitando a organização de possíveis propostas interventivas.
Assim sendo, a pesquisa em andamento trará, portanto, uma reflexão sobre a presença
da Música na Educação Infantil no Brasil, especificamente nas pré-escolas, realizada não
apenas como um momento recreativo, ou como um apoio musical para outras atividades, mas
como uma possibilidade de desenvolvimento das capacidades musicais das crianças, por meio
da aprendizagem musical pela MLT.
Por conseguinte, foi nesse contexto de insatisfação e questionamentos que nasceram as
questões que me motivaram a desenvolver a pesquisa em andamento, listadas a seguir: como
se dá aprendizagem musical, na Educação Infantil por meio da Music Learning Theory de
Edwin Gordon? Como as crianças se desenvolvem nesse novo contexto? Que tipo de música e
de que forma a música vem sendo trabalhada na Educação Infantil? De que forma a MLT
intensificaria as experiências musicais na Educação Infantil?
Mediante toda a explanação, justificou-se a relevância da realização da pesquisa
acadêmica em andamento que tem como objetivo principal descrever como se dá aprendizagem
musical, na Educação Infantil (pré-escola), de uma escola X, do Distrito Federal, por meio da
MLT.
Procedimentos metodológicos
Com o intuito de mapear as pesquisas sobre a aprendizagem musical por meio da MLT,
de Gordon, na Educação Infantil (pré-escola), no Brasil, finalidade deste artigo, foi realizado
um levantamento inicial nas publicações de teses e dissertações disponíveis na Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e no Catálogo de Teses e Dissertações
(CAPES). Essa pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, permitiu a elaboração do
estado do conhecimento sobre a temática apresentada.
Para o levantamento de dados e informações, foram estabelecidos critérios de seleção
de trabalhos com a ideia de identificar, organizar e demonstrar a relevância e a recorrência da
temática. Assim, foram selecionados somente os materiais que focassem a importância da MLT
no desenvolvimento das crianças presentes na primeira infância.
Destaca-se que a seleção do material foi feita a partir das informações contidas nos
títulos e resumos das obras e que, para esse primeiro diálogo com a literatura, foram
selecionados dez trabalhos acadêmicos, sendo quatro teses e seis dissertações.
Para realizar a busca dos trabalhos nas plataformas, foram usados descritores que se
relacionassem com o objeto de estudo da temática proposta.
• “Música” AND “Educação Infantil”
• “Música” AND “Pré-Escola”
• “Música” AND “Music Learning Theory”
• “Música” AND “Edwin Gordon”
Nota-se que os trabalhos selecionados para essa categoria têm em comum o tema a
Música na Educação Infantil (pré-escola), pois é nesse segmento educacional que a criança é
introduzida, obrigatoriamente, na vida escolar. Por isso, essa importante etapa de aprendizagem
carrega em si a responsabilidade de promover a formação integral do ser. Dessa maneira, essa
fase de aprendizado deve ser pautada no lúdico e deve ocorrer de forma natural e prazerosa.
Stavracas (2008) investiga o papel que a Música desempenha dentro das instituições de
Educação Infantil analisando os seguintes aspectos: a Música e a criança; a arte musical
presente nos currículos dos cursos de formação para o Magistério, Normal Superior e
Pedagogia; e os subsídios que os educadores recebem para atuar com esta área do
conhecimento. A pesquisa conclui que, apesar das correntes teóricas enfatizarem a importância
da Música na formação das crianças, e a despeito de resultados satisfatórios que se obtêm
quando a Música é introduzida no cotidiano das unidades pré-escolares, ela desempenha ainda
um papel vago e impreciso, pois depende mais da sensibilidade do profissional que atua na área
do que dos reais subsídios para que ela aconteça, uma vez que falta formação específica ao
educador de Educação Infantil para atuar na área musical.
Loureiro (2010) disserta sobre as práticas musicais nas escolas de Educação Infantil,
seus objetivos e contribuições no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças
pequenas. A relevância dessa tese está presente na revelação de elementos importantes que
viabilizam, por meio de uma reflexão mais profunda, um diálogo mais caloroso com as políticas
educacionais com a Educação Infantil e a aprendizagem musical. Demonstra a desarticulação
entre o falar sobre Música e o fazer musical, o que aponta para usos e funções inadequados da
prática pedagógico-musical, em desarmonia com a realidade da criança.
Já Falcão (2016) versa que muito se tem falado acerca da importância da Música para o
desenvolvimento cognitivo/linguístico e perceptivo. As crianças que vivenciam a Música desde
bem pequenas podem apresentar maiores possibilidades de desenvolver o processamento
auditivo por lidarem com aspectos essenciais para a compreensão dos fenômenos sonoros e
seus efeitos. Destaca a escassez de trabalhos neste campo, apesar de pesquisadores, em diversos
lugares do mundo, concordarem entre si acerca da importância da Música para o
desenvolvimento integral da criança, da importância do amadurecimento do processamento
auditivo através de estímulos apropriados e da indiscutível inter-relação entre as duas áreas.
Viana (2016) investiga a função da Música na Educação Infantil partindo das sugestões
presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e nos Referenciais
Curriculares Nacionais para Educação Infantil que propõem que a Música deve ser vivenciada
através da exploração, ludicidade, expressão, apreciação e criação, mostrando preocupação com
a musicalização do indivíduo e considerando a música como uma linguagem fundamental para
a formação infantil.
Oliveira (2016) mapeia a proposta metodológica com relação às diversas teorias
pedagógicas que um educador pode utilizar em sala de aula. Busca uma melhor compreensão
da abordagem metodológica utilizada por cada professor ou mesmo se ele está integrado a
alguma teoria pedagógica, bem como sua postura em sala de aula. A partir do olhar da
pesquisadora e do contexto da pesquisa, percebeu-se a necessidade de se desenvolver
conhecimentos à vida profissional dos educadores musicais, com consequente reflexo no
aprendizado musical de seus alunos.
Dessa forma, conclui-se que as pesquisas selecionadas nessa categoria oferecem
caminhos para se compreender qual a atual situação da Música na Educação Infantil (Pré-
escola) e necessidade da realização de novos estudos e propostas de intervenção nessa área.
Enfatiza-se ainda que a escolha destes autores se justifica por abordarem os mais variados
aspectos que permeiam o ensino da Música na Educação Infantil e instigarem a repensar a nossa
prática pedagógica, buscando soluções inovadoras que contribuam para um desenvolvimento
mais harmônico e integral da criança.
Percebe-se que os trabalhos selecionados para compor essa categoria têm em comum a
aprendizagem da Música por meio da MLT de Edwin Gordon. Desse modo, essas pesquisas
trazem como principal referencial teórico Edwin Gordon e a sua obra Music Learning Theory,
pois associam o processo da aprendizagem musical não apenas ao potencial inato, mas afirmam
que este processo está diretamente relacionado aos estímulos ambientais nos quais a criança é
exposta, ou seja, está vinculado ao seu contexto cultural. Isso quer dizer que, a criança nasce
com um determinado potencial musical que só se realizará plenamente na cultura, na
experiência com o ambiente.
Mariano (2015) discute a obra de Gordon, descrevendo a metodologia desenvolvida por
esse autor para a aprendizagem musical de recém-nascidos e crianças em idade pré-escolar.
Apresenta, entre outros, o conceito de audiação preparatória e de aptidão musical, afirmando
que a aprendizagem musical das crianças acontece por meio de processos similares àqueles
relacionados à aprendizagem da fala. Frisa a importância de se iniciar uma orientação musical
já na primeira infância, desde o nascimento. Ele afirma que, se os adultos dedicarem o tempo
necessário para o desenvolvimento musical das crianças pequenas, elas se sentirão confortáveis
com uma grande variedade de estilos musicais, e desenvolverão atitudes positivas que
persistirão por toda a vida.
Koga (2015) em sua pesquisa identifica o nível de aptidão musical e as diferenças na
superdotação para Música, nos alunos que frequentaram o Programa de Atenção a Alunos
Precoces com Comportamento de Superdotação, da Faculdade de Filosofia e Ciências -
UNESP, em 2013. Para a coleta de dados foram utilizados instrumentos específicos da área da
Educação Musical denominados Primary Measures of Music Audiation e Intermediate
Measures of Music Audiation de Edwin Gordon. Além de registros de áudio e vídeo os quais
possibilitaram a observação de nível de desempenho musical dos participantes.
Santos (2013) relata sobre o processo de desenvolvimento motor, vocal e intersocial da
criança ao final de cada ano letivo da Educação Infantil. Também investiga as características
musicais da comunicação entre o adulto e o bebê de zero a doze meses e suas implicações no
desenvolvimento da criança no primeiro ano de vida. Relata suas experiências com a MLT,
permitindo uma melhor compreensão dessa teoria.
Nesse sentido, as pesquisas selecionadas nessa categoria oferecem caminhos para a
aprendizagem da música por meio da MLT de Edwin Gordon, pois trazem relatos positivos do
uso prático dessa teoria nos mais diversos contextos, possibilitando a reflexão e a possibilidade
de elaboração de novas abordagens e propostas de intervenção nos processos de ensino
aprendizagem da Música para crianças.
Nota-se que os trabalhos selecionados para compor essa categoria têm em comum a
aplicação da Music Learning Theory (Edwin Gordon) na Educação Infantil, propiciando um
maior entendimento do uso dessa teoria no referido segmento.
Bava (2015) discorre sobre a MLT e afirma que assim como as crianças se familiarizam
e aprendem a combinar os padrões estruturais próprios da linguagem verbal, elas deveriam ser
estimuladas pelos professores a se familiarizarem com os padrões estruturais próprios da
música. Que isso deve ser proporcionado às crianças por meio da orientação estruturada
(planejada) por parte dos professores.
Tormin (2014) investiga como as professoras de creche de um Centro de Educação
Infantil (CEI) da cidade de São Paulo utilizavam a linguagem musical e a MLT de E. Gordon
junto aos bebês e se essas ações propiciam ou não aprendizagem e desenvolvimento musical
infantil. Observa a interação e a qualidade das atividades musicais ofertadas aos bebês. Ao final
do processo, conclui que a proposta de oferecer uma aprendizagem que conduza ao
desenvolvimento musical infantil, por meio da MLT também é possível de ser realizada em
creches públicas.
Com isso, depreende-se que as pesquisas selecionadas nessa categoria nos direcionam
sobre a melhor forma de utilizarmos a MLT na Educação Infantil - Pré-escola porque apontam
os caminhos a serem percorridos e as principais lacunas a serem preenchidas.
Considerações finais
Referências
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abordagem à criança e aos processos de ensino e aprendizagem em música a partir de
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Faculdade de Medicina da UFMG
alexeimcmachado@gmail.com
Anchieta, L.M.
Faculdade de Medicina da UFMG
lenima@terra.com.br
Parlato-Oliveira, E.M.
Faculdade de Medicina da UFMG e Université Paris VII
eparlato@hotmail.com
Abstract: INTRODUCTION: The fetus is constantly stimulated by the noises of his mother`s
body and by external noises segments. Babies naturally experience and are able to process
musical properties. OBJECTIVE: Analyze and correlate situations of the mother-baby dyad
interaction. METHODOLOGY: This is a study of the mother-baby dyad interaction
development from the gestational phase until the baby`s first year of life. Took part on this
study 50 dyads divided in two groups. One group is composed of mothers who had a prenatal
diagnosis of a structural alteration, and the other, the control group, by mothers who did not
have a prenatal diagnosis. The first step (the gestational phase) corresponds to the moment of
the dyad interaction (mother-baby) and the second step (the postnatal phase) corresponds to
nine minutes of video, three distinct moments of interaction (using an object/toy, with a music
sung by the mother and only with the maternal speech) that were analyzed and correlated. The
videos of the interactive moments were coded/analyzed using the Coding Interactive Behavior
(CIB is a system of global rating of the interaction between parents and children). RESULTS:
It was found a significant difference between the groups regarding the use of singing as a form
of communication with the baby still in the fetal stage. At six and nine months of age, there
were some domains with statistical significance between the groups. These domains with
statistically significant differences confer better quality to the study group dyads moments of
interaction.
Keywords: Mother-baby Interaction, Hearing Development, Baby`s Musical Experience.
Introdução
Objetivo
Metodologia
Participantes
Etapas
Local
O momento interativo da mãe com o bebê na fase fetal foi realizado no Instituto Jenny
de Andrade Faria do Hospital das Clínicas/UFMG, onde acontece o acompanhamento pré-
natal do referido hospital. O vídeo do momento interativo da mãe com o recém-nascido foi
realizado no ambiente hospitalar-HC/UFMG antes da alta ou no Babylab/FM-UFMG, após a
alta hospitalar. A mãe podia escolher o local onde se sentisse mais à vontade. A partir dos dois
meses de idade os agendamentos foram realizados no Babylab na Faculdade de
Medicina/UFMG.
Procedimentos
Resultados
O estudo foi dividido em duas etapas: Etapa 1, fase pré-natal e Etapa 2, fase pós-natal.
Na Etapa 1 os grupos, estudo e controle, apresentaram diferença significativa quanto às
escalas de ansiedade, de depressão e de ansiedade e depressão, sendo que os escores foram
atribuídos ao grupo estudo. Não houve diferença significativa entre os grupos quanto ao tipo de
representação materna. Houve diferença significativa entre os grupos para a análise da interação
na primeira etapa (pré-natal) para a variável música (canto). As mães do grupo estudo cantaram
mais para seus bebês.
FIGURA 1 – Momento interativo mãe-bebê (feto). Fonte: Arquivo pessoal/Tese de doutorado FMUFMG
(SOUZA, 2019).
Na situação interativa em que era solicitado à mãe cantar a música “parabéns a você”
foi possível observar que algumas mães seguravam com maior frequência as mãos do bebê para
realizar o gesto de bater palmas, centralizavam a cabeça do bebê para que ele pudesse ficar mais
atento aos seus gestos, erguia o bebê na cadeirinha, principalmente quando ele ficava mais
agitado e escorregava. Alguns bebês desde os dois meses de idade, diante das palmas da mãe,
movimentavam suas próprias mãos, frequentemente um movimento de batida em suas próprias
perninhas, dando a impressão de um tipo de palma mais condizente com suas condições motoras
nesta faixa etária. Como explica Piaget (1990): “[...] na aprendizagem da apreensão, a criança
passa a ser capaz de coordenar os movimentos de suas mãos com os da sua visão, ela adquire,
ao mesmo tempo, o poder
Gráfico de imitar
1 – Interação certos nos
mãe-bebê movimentos das emãos
grupos controle estudode
nooutrem, por assimilação
domínio cantiga aos 6
meses
destas às suas”.
Discussão
oferecido pela mãe, como jogar o cachorrinho várias vezes para a mãe apanhar e devolvê-lo.
Em idades mais precoces, durante a interação mediada pela música, muitas mães, seguravam
os bracinhos de seus bebês para que conseguissem bater palmas, assim que os bebês adquiriam
habilidade motora conseguiam bater palmas sozinhos com muito vigor e agilidade. Aos doze
meses de idade somente um bebê não bateu palmas durante a música “Parabéns a você” (vide
Protocolo de Triagem do Desenvolvimento Denver II – (Apêndice H). Freire e Parizzi em um
estudo sobre “as relações dos efeitos terapêuticos da Musicoterapia Improvisacional e o
desenvolvimento musical de crianças com autismo” constataram que o musicoterapeuta
espelha, sustenta, reforça, provoca ou complementa a expressão sonora da criança, sempre
visando envolvê-la no fazer musical coativo e estabelecer contato e comunicação (FREIRE &
PARIZZI, 2015).
A qualidade da interação da díade mãe-bebê foi analisada em três momentos diferentes:
livre (fala espontânea da mãe), objeto (a utilização de um objeto/brinquedo) e a catinga/música
(uma cantiga cantada pela mãe), dessa maneira pode-se observar e analisar as características
interativas em diferentes contextos de intermediação. Assim constatou-se diferença com
significância estatística de algumas variáveis em algumas situações específicas. A situação da
“música” favoreceu algumas características/variáveis como, por exemplo: maior aproximação
da mãe (contato físico/segurar os bracinhos do bebê para bater palmas), principalmente nos
primeiros meses e a imitação do bebê (movimentos com as mãos e palmas) durante todas as
etapas; incentivou a representação/imitação e o jogo simbólico (imitar gestos das
músicas/cantigas) com 9 e 12 meses de idade; entusiasmo da mãe; iniciativa do bebê; olhar e
atenção conjunta do bebê; presença de suporte da mãe; a intrusividade da mãe; e a fadiga do
bebê.
Observou-se em todos os momentos interativos que os recursos comunicativos do bebê
aconteceram de forma tão espontânea, sutil e em sintonia com a mãe que, muitas vezes, era
difícil diferenciar quem deu origem ao ato comunicativo. Ambos, mãe e bebê, se moldavam um
ao outro como uma dança em completa reciprocidade. A partir da rigorosa observação proposta
para a codificação do comportamento interativo (CIB), observou-se que nos momentos onde há
uma “ruptura” deste envolvimento sincrônico, há a presença de sinais que se relacionam com
características negativas que vão revelar a qualidade da interação.
Conclusão
Referências
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Raiana M. Araujo
raiana.m.araujo@gmail.com
Andrey Nagy
andreynagy@hotmail.com
Resumo: Alguns livros didáticos musicais contêm partituras de obras de variados estilos que
podem ser interpretadas por pessoas que adquiriram competências para representar a
linguagem musical mediante seus sinais gráficos — Musicografia “em negro”. Por outro lado,
se essas pessoas são cegas, elas podem realizar tal procedimento mediante a leitura musical
tátil — Musicografia Braille. Portanto, este artigo objetiva apresentar as recentes atividades
universitárias ligadas à Musicografia Braille no Curso de Música/Licenciatura da UFMA.
Seus objetivos específicos são: descrever os caminhos de estudo da Disciplina Introdução à
Musicografia Braille; elatar o processo das transcrições em Braille, no que se refere às
músicas de quatro livros didáticos infantis; e sinalizar seus exemplos de ajudas técnicas
aplicadas ao ensino de música. Sua metodologia é representada pela pesquisa de abordagem
qualitativa e pelo estudo de caso, quanto ao seu procedimento. A fundamentação apoia-se em
autores que versam sobre: educação musical; educação especial/deficiência visual;
musicografia braille; ajudas técnicas/tecnologia assistiva; entre outros. Como conclusão,
descreve-se o perfil da disciplina Musicografia Braille; apresenta-se o Software Musibraille
como importante ferramenta de trabalho na Musicografia Braille; e sinaliza-se a transcrição
de 113 músicas infantis e alguns exemplos de ajudas técnicas para o trabalho com essas
músicas. Por fim, este trabalho evidencia às Universidades interessadas a futura
disponibilidade da UFMA em conceder o acervo transcrito (on-line) e a descrição de alguns
modelos dos protótipos criados.
Palavras-chave: Musicografia Braille e Cegueira; Ajudas Técnicas; Educação Musical.
1
Todos os autores estão diretamente ligados à UFMA e/ou ao Grupo de Pesquisa Música na Educação e na
Saúde (UFMA/CNPq).
Abstract: Some musical textbooks include varied styles scores that can be interpreted by
people who have acquired skills to interpret a musical language using their graphic signs –
Braille Music "in black." However, if these people are blind, they can perform the procedure
using tactile music reading - Braille Music. Therefore, this paper aims to present the recent
university activities related to Braille Music in the Music Degree Course at UFMA (Federal
University of Maranhão). Its specific objectives are: Describe the ways of studying Braille
Music; Register the transcription process in Braille, without reference to songs from four
children's textbooks; and Flag the examples of technical aids applied to music education. Its
methodology is represented by the research of the qualitative approach and by the case study
regarding its procedure. The rationale is based on authors who deal with the themes: music
education; special education/visual impairment; braille music; technical aids/assistive
technology, among others. In conclusion, it is described the profile of the discipline Introduction
to Braille Musicography. Furthermore, Musibraille Software is presented as an essential work
tool at Braille Music, and a transcript of 113 children's songs and some examples of technical
aids for working with them are signaled. Finally, this work highlights to the interested
Universities the future availability of UFMA in provide the transcribed collection (online) and
a description of some prototype models created.
Keywords: Braille Musicography and Blindness; Technical Aids; Musical Education.
Introdução
Essa Disciplina pode ser ministrada durante as férias e/ou durante o semestre letivo
convencional, constando de quinze encontros de quatro horas cada, perfazendo um total de
sessenta (60) horas de atividades, sendo trabalhados os: conhecimentos teóricos, procedimentos
práticos e atitudes coerentes entre a teoria e prática. Nesse contexto, são necessários dois
ambientes: uma Sala de Aula para os encontros convencionais e um Laboratório de Música,
contendo computadores com acesso ilimitado à internet (de 10 a 20 estudantes por turma),
sendo destinado às práticas das transcrições das partituras em Braille. Ressaltamos que muitos
estudantes não possuem computadores, necessitando de um ambiente propício para a realização
de suas tarefas específicas, referentes às transcrições, mediante o uso do Software Musibraille
e também para as suas pesquisas sobre os temas afins.
Inicialmente, apresentamos os aportes legais no tocante à educação geral, especial e
inclusiva, dando maior ênfase às pessoas cegas. Depois, apresentamos a retrospectiva histórica
dessas pessoas, sinalizando seus aspectos – social, psicoevolutivo e educacional. Nesta etapa,
disponibilizamos as estatísticas atualizadas das pessoas com deficiência, com base na Cartilha
do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010 (IBGE) (BRASIL, 2012).
Em adição, apresentamos os perfis dos temas referentes à educação especial, para que todos
possam pesquisar, com o objetivo de ampliarem seus conhecimentos e ações futuras, referentes
ao ensino em condições comum, especial ou inclusiva. São elas: Orientação e Mobilidade,
Atividade da Vida Diária, Psicomobilidade, Audiodescrição e Tecnologia Assistiva (BRASIL,
2004, 2008). Em geral, apresentamos as referências básicas, seus conceitos, exercícios e
exemplos práticos, também adaptados ao ensino de música.
Em seguida, descrevemos, sucintamente, a biografia de Louis Braille e seu Sistema de
escrita e leitura. Nessa etapa, apresentamos os instrumentos necessários para a escrita em
Braille (reglete, punção e papel 40kg etc.) e realizamos exercícios elementares, com base em
pequenos parágrafos escritos “em negro”. Logo depois, apresentamos a Musicografia Braille
(MB), em paralelo com as práticas progressivas da escrita musical.
2
O Software Musibraille pode ser copiado e distribuído livre e gratuitamente. Seus autores são: Dolores Tomé,
José Antonio dos Santos Borges, Moacyr de Paula Rodrigues Moreno e Marcolino Nascimento. Disponível em:
http://intervox.nce.ufrj.br/musibraille/. Acesso em: 25 jan. 2020.
3
Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Art. 3º - Consideram-se (II) desenho universal a “concepção de
produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou
de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva” (BRASIL, 2015).
público interno. Após uma revisão de todo o material, o acervo transcrito ficará registrado no
site oficial da UFMA, à disposição dos interessados.4 Devido ao perfil pandêmico mundial que
estamos enfrentando com a proliferação da COVID-19, desde março de 2020, nossas atividades
ainda não foram concluídas in loco. Mas, logo que for possível realizar, novamente, a disciplina
MB, disponibilizaremos todo o acervo trabalhado pela turma.
4
As músicas transcritas em Braille durante a aplicação da Disciplina Musicografia Braille serão revisadas por
funcionários da DACES/UFMA. Em seguida, este acervo será disponibilizado no site da PROEN/UFMA, à
disposição da Diretoria de Acessibilidade – DACES.
Conclusão
Referências
BRASIL. Cartilha do Censo 2010. Pessoas com Deficiência. Brasília: SDH-PR/SNPD, 2012.
BRASIL. Lei no 13.146, de 6 de julho de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União. Brasília, 2015.
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Editora da UFRGS, 2009.
TOMË, Dolores. Introdução à musicografia Braille. São Paulo: Global, 2003. (Versões em
negro e em Braille).
Sofia Leandro
Universidade Federal de São João del Rei
sofialeandro@ufsj.edu.br
Resumo: Este trabalho descreve a adaptação de 4 jogos e brincadeiras, sendo 3 delas inspiradas
em brincadeiras tradicionais, para um projeto de ensino coletivo de violino, através de relatos
de experiência com alunos da turma de idades mais baixas – dos 3 aos 6 anos. A introdução
apresenta o projeto de extensão “Pequenos Grandes Violinistas”, desenvolvido no Curso de
Música da Universidade Federal de São João del Rei, e promove um breve diálogo entre a
importância da ludicidade e do brincar nas áreas da educação infantil e da educação musical.
Seguidamente, são descritos os jogos e brincadeiras utilizados no projeto, abordando as suas
regras, os seus objetivos e tecendo algumas observações acerca dos resultados alcançados. Nas
considerações finais são evidenciadas as vantagens da implementação das brincadeiras para
tornar o aprendizado mais divertido – auxiliando de forma indireta a abordagem e o
aprofundamento de alguns conteúdos trabalhados nas aulas – e para o fortalecimento de
vínculos entre os alunos e os professores.
Palavras-chave: Jogos e Brincadeiras Tradicionais; Ensino Coletivo de Violino; Projeto de
Extensão Pequenos Grandes Violinistas.
Abstract: This paper describes the adaptation of 4 games, 3 of them inspired by traditional
games, for a project of collective teaching of violin, through reports of experience with students
from a younger age group - from 3 to 6 years old. The introduction presents the extension
project “Pequenos Grandes Violinistas”, developed in the Music Course at the Federal
University of São João del Rei, and promotes a brief dialogue between the importance of
playfulness in the areas of early childhood education and music education. Then, the games
used in the project are described, addressing its rules, its objectives and making some
observations about the results achieved. The final considerations highlight the advantages of
implementing games to make learning more fun – indirectly helping to approach and deepen
some of the content worked on in class – and also to strengthen bonds between students and
teachers.
Keywords: Traditional Games; Collective Violin Teaching; Extension Project Pequenos
Grandes Violinistas.
Introdução
lúdico fora das nossas atividades pedagógicas, especialmente ao lidar com crianças na primeira
infância. A exploração do lúdico “facilita à aprendizagem do desenvolvimento pessoal, social
e cultural e colabora para uma boa saúde mental e física” (SALOMÃO et al., 2007, p. 4).
Brincadeiras associadas ao ensino do violino foram introduzidas no projeto de extensão
“Pequenos Grandes Violinistas”, da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ, MG),
como forma de tornar o aprendizado mais divertido e motivador.
O “Pequenos Grandes Violinistas” teve início em março de 2019, como ramificação do
programa de extensão “Educar Para Preservar”, vinculado ao Curso de Música da UFSJ. Atende
crianças de 3 a 12 anos, focando-se no ensino coletivo do violino. As inscrições acontecem em
fluxo contínuo, o que pressupõe uma constante adaptação das aulas para um modelo de ensino-
aprendizagem aplicável a um grupo heterogêneo. O projeto é coordenado por uma docente 1 e
contou, desde a sua implementação, com a atuação de sete discentes2 do curso como professores
monitores.
Durante o ano de 2019, os alunos foram divididos em três turmas, de acordo com a idade
e o contato prévio com o instrumento. A turma A era constituída pelas crianças dos 3 aos 6 anos
e a turma B por crianças dos 7 aos 11 anos. Os alunos destas duas turmas foram chamados
de principiantes, pois todos tiveram durante esse ano o primeiro contato com o violino. A turma
C incluiu crianças dos 8 aos 12 anos que já tinham feito a iniciação ao violino anteriormente,
mas ainda se encontravam em um nível baixo de aprendizagem, pelo que estes alunos foram
chamados de iniciantes.
Dá-se preferência à imitação como estratégia de ensino-aprendizagem, deixando para
mais tarde a leitura de partituras. Essa metodologia é inspirada na filosofia de Suzuki, que
acreditava que o aprendizado da linguagem musical devia se assemelhar à aprendizagem da
língua materna: ouvindo, observando e tentando reproduzir (ILARI, 2012, p. 200). Também
com base no método Suzuki, as famílias dos alunos foram convidadas a assistir às aulas e a
acompanhar os alunos no estudo em casa. Para esse efeito, foram sendo enviados, por correio
eletrônico, materiais de apoio, como gravações em áudio e em vídeo.
O repertório trabalhado no “Pequenos Grandes Violinistas” é repensado e redefinido
semana a semana em forma de arranjos, para poder ser apresentado por todas as turmas em
simultâneo nos concertos. Além da preocupação com a valorização das relações interpessoais
e da adequação de um material pedagógico passível de ser articulado com atividades lúdicas de
1
Primeira autora.
2
Incluindo a segunda autora.
Pais e educadores estão cada dia mais conscientes dos benefícios que as
brincadeiras tradicionais podem trazer para as crianças, já podemos encontrar
as atividades lúdicas inclusas no currículo de várias escolas, especialmente
nas escolas infantis. [...] Essas brincadeiras contribuem para o
desenvolvimento de habilidades psicomotoras, cognitivas e também para a
afetividade recíproca e a interação social, desenvolvendo laços de amizades
entre as crianças (JESUS, 2010, p. 5).
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. As atividades foram
desenvolvidas como descrito em seguida.
Quente ou Frio
Este jogo foi adaptado com o objetivo de trabalhar a noção de dinâmica. Um objeto
pequeno – uma resina ou uma espaleira – é selecionado para ser escondido por uma criança e
procurado por outra. Os alunos são convidados a escolher quem vai esconder (aluno A) e quem
vai procurar (aluno B).
O aluno B tem que tampar os olhos ou virar de costas para a sala – por exemplo, olhando
para uma parede. Entretanto, o aluno A vai esconder o objeto em algum lugar da sala, de forma
autônoma ou com outro professor ajudando. Até este ponto, cabe ressaltar que, apesar de apenas
dois alunos da turma estarem assumindo certo protagonismo, muitas vezes foram observadas
dinâmicas espontâneas de entreajuda, quando crianças mais velhas ou mais acostumadas com
o jogo auxiliaram os colegas a tampar os olhos ou a esconder o objeto.
Assim que o aluno A tiver escondido o objeto e voltar para junto da turma, um dos
professores começa a tocar no seu violino e o aluno B começa a procurar. O professor, com o
violino, irá tocar mais piano quando a criança estiver longe do objeto e mais forte quando ela
estiver perto do objeto. É necessário variar entre crescendo e decrescendo à medida que a
criança se aproxima e se afasta respectivamente. Nas aulas coletivas o jogo foi feito sempre
com o professor tocando violino, pelo fato de ter pouco tempo disponível para muitos alunos
numa turma. Porém, nas aulas extra, em que só participavam quatro crianças, foi possível
alternar entre o professor tocando sozinho, todos cantando uma melodia do repertório
trabalhado ou mesmo todos tocando um ritmo simples no violino.
De uma forma geral, os alunos responderam positivamente à brincadeira, sempre se
mostrando dispostos a participar assumindo qualquer um dos papéis: o que esconde, o que
procura, o que observa ou executa as dinâmicas. Aos alunos que apresentaram dificuldades em
achar o objeto, o professor ajudava de forma discreta, mas foi possível observar que a grande
maioria entendeu de maneira clara e simples quando estava se distanciando ou se aproximando
do objeto.
A associação entre o som mais forte ou mais piano com a proximidade do objeto
permitiu avaliar a percepção de intensidade, já que os alunos precisavam de distinguir as
dinâmicas para conseguirem achar o objeto. Simultaneamente, este jogo representou uma
oportunidade para repetir, de forma menos monótona, melodias e ritmos, fosse por via da
Estátua
Nesta brincadeira, o professor começa por escolher uma música, que no “Pequenos
Grandes Violinistas” foi normalmente associada ao repertório que estava sendo trabalhado.
Então, explica para as crianças que irá colocar uma música para tocar e que, quando a música
parar, elas têm que parar o que estiverem fazendo, assumindo a posição de “estátua”. Numa
primeira variação do jogo, todos devem falar ao mesmo tempo, enquanto a música toca, até
perceberem que ela parou – aí todos devem ficar em silêncio e em “estátua”. A segunda variação
é fazer o mesmo andando pela sala, em vez de falar. O último estágio da brincadeira é com o
violino. As crianças podem tocar livremente, improvisando, explorando sons e ruídos do
instrumento ou executando alguma música do repertório. Em todas as variações, a regra é parar
quando a música parar.
O professor deve interromper a música em momentos diferentes para ver se os alunos
estão atentos. Aos alunos que não pararem, o professor pode pedir para “pagar uma prenda”
relacionada ao conteúdo das aulas, como por exemplo tocar um ritmo, uma escala ou um trecho
de uma melodia.
Esta foi uma atividade com resultados rápidos: as crianças paravam quando
a música parava, até mesmo as mais novas, de 3 e 4 anos. Porém, nem todas as crianças, ao
parar depois da música, reagiam bem ao “pagamento da prenda”. Numa ocasião, uma menina
de 3 anos não quis cumprir a tarefa, escondendo-se atrás do pai. Esse acontecimento gerou uma
reflexão por parte do coletivo de professores e, em especial, da professora que liderou a aula –
que era também estagiária –, permitindo-lhe perceber que crianças tão pequenas podem não
estar dispostas a responder a desafios individuais, especialmente quando sugerem certa
exposição, preferindo participar em dinâmicas de grupo.
Espelho
Esta brincadeira serve para atrair a atenção da turma para o professor que lidera
determinada atividade, prevendo que as crianças têm que ficar de olho no professor e imitá-lo.
Tradicionalmente, o jogo do Espelho é feito com duas crianças posicionadas de frente uma para
a outra, tendo que se imitar como se uma fosse a imagem da outra refletida num espelho. Nas
aulas do projeto, uma das adaptações fundamentais é que os movimentos não são espelhados –
os alunos devem imitar o professor, mantendo as relações direita-direita, esquerda-esquerda.
Antes de qualquer atividade, o professor dá uma instrução sobre o que vai ser feito.
Como norma, as instruções são dadas enquanto todos estão em posição de descanso3. Ao iniciar
uma atividade com o violino, o professor sai da posição de descanso e passa para a posição de
tocar4, devendo ser imitado pelo grupo. O jogo do Espelho começa quando, ao invés de dar
início à atividade anunciada, o professor faz quaisquer movimentos para as crianças imitarem,
como colocar o arco na cabeça, voltar para posição de descanso, fazer uma vênia, girar sobre si
mesmo etc.
Neste jogo, é possível observar quais são as crianças menos concentradas, pois vão
demorar mais a reagir aos movimentos do líder. Ao mesmo tempo, os professores assistentes
têm a oportunidade de identificar e auxiliar os alunos que necessitam de mais ajuda para alternar
entre a posição de descanso e a de tocar. Este é mais um exemplo de atividade que permite
variar a dinâmica da aula, permitindo a repetição de conteúdos. Essa variação pode significar
também uma mudança no foco da criança, podendo servir para reunir o grupo em momentos de
dispersão.
Professor
3
A posição de descanso está descrita com ilustrações no livro The Suzuki Violinist: a guide for teachers and
parentes de William Starr (2000, p.52-53).
4
Postura própria para tocar violino.
o corpo do “aluno”, que deve deixar o “professor” fazer o seu trabalho sem continuar
atrapalhando.
Uma alternativa para situações em que menos professores do projeto se encontrem em
sala de aula é que eles mesmos façam o papel do “aluno”, sendo a turma inteira responsável por
sugerir correções. No “Pequenos Grandes Violinistas”, essa alternativa funcionou melhor nas
aulas extra dos alunos de 3 a 4 anos, pois além do adulto poder aumentar a extravagância dos
erros, o violino de tamanho maior torna mais visíveis detalhes que as crianças podem observar.
Esta era a brincadeira em que as crianças mais se divertiam, o que se comprovou por ser
a mais requisitada pelos alunos. Foi possível notar que eles sempre tinham êxito em criar os
erros, identificar os erros e mostrar a correção. Para os professores do projeto foi especialmente
importante para avaliar a capacidade de assimilação dos mais novos.
Considerações finais
Como tantos autores das áreas da educação infantil e da educação musical apontam,
brincar faz parte de todo o crescimento e desenvolvimento da criança. A implementação de
jogos e brincadeiras no “Pequenos Grandes Violinistas” tornou evidente a necessidade de um
aprendizado divertido aos olhos das crianças, não dispensando a abordagem de diversos
conteúdos trabalhados em paralelo. Esses conteúdos foram, na verdade, incorporados no ato de
brincar.
Para as crianças menores, as brincadeiras representaram um veículo de integração e
socialização tanto com alunos de idades próximas, como com alunos de outras turmas, muitas
vezes com diferenças etárias expressivas. E, é claro, também auxiliaram os professores a se
comunicar com elas.
Por fim, é de salientar a importância de a ludicidade como oportunidade para o professor
observar os seus alunos, de forma individual e coletiva, podendo assim aprofundar a reflexão
sobre as suas práticas e desenvolver continuamente as suas habilidades pedagógicas.
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Resumo: A aprendizagem do violino é uma atividade laboriosa, que requer atenção, paciência,
persistência e dedicação, tanto do estudante quanto do professor. Quando um violinista
desenvolve domínio de aspectos técnicos do instrumento, mediante uma boa instrução, ele
amplia suas possibilidades de expressão. A metodologia Suzuki explora o ensino da técnica de
mão direita separada da técnica de mão esquerda em algumas situações de aprendizagem. Para
investigar de que maneira cinco crianças, entre 4 e 8 anos de idade, estão entendendo e
internalizando a postura do violino e do arco, foi solicitado que elas gravassem um vídeo
ensinando a mãe ou o pai a segurar o violino e o arco. Os resultados mostraram que as crianças
focaram o ensino no posicionamento do arco e que, assim como a professora utiliza em sala de
aula, fizeram uso de metáforas para ensinar os pais sobre o posicionamento do arco. Além disso,
elas souberam identificar problemas posturais e de tensão excessiva nos dedos e nas mãos dos
pais no posicionamento do arco.
Palavras-chave: Violino; Técnica de Arco; Metodologia Suzuki; Crianças; Aprendizagem por
Reciprocidade.
Abstract: Learning the violin is a laborious activity, it requires attention, patience, persistence
and dedication, both from the learner and from the teacher. When a violinist manages to master
the technicalities of the instrument under good guidance, he boosts his chances of musical
expression. The Suzuki method developed distinct activities to teach right and left hand
techniques for a few situations of learning. To investigate how five children, between 4 and 8
years old, are understanding and internalizing the violin and bow posture, they were asked to
record a video teaching the mother or father to hold the violin and the bow. The results showed
that the children focused on teaching the positioning of the bow and that, like the teacher uses
it in the classroom, they used metaphors to teach parents about the positioning of the bow. In
addition, they were able to identify postural and tension problems in their parents' fingers and
hands when placing the bow.
Keywords: Violin; Bow Technique; Suzuki Method; Children; Reciprocity Learning.
Introdução
propõe a troca de papéis, quando a criança se torna o professor e o adulto, ou outra criança, se
torna o aprendiz. Sendo, desse modo, uma forma lúdica de observar o discurso de ensino da
criança e verificar quais os elementos fundamentais da sua própria aprendizagem.
A aprendizagem do violino é uma tarefa laboriosa, tratando-se de um instrumento
complexo, que requer atenção, paciência, persistência e dedicação, tanto do estudante quanto
do professor. Desenvolver a técnica instrumental é fundamental para que o violinista tenha uma
boa performance e seja expressivo (ROLLAND e MUTSCHLER, 2000). Para este fim,
questões posturais ligadas ao violino têm sido estudadas por pedagogos do violino
(GALAMIAN, 2013; FISCHER, 1997; FLESCH, 2000; ROLLAND e MUTSCHLER, 2000).
No início do aprendizado do violino, as técnicas de mão direita e esquerda devem ser ensinadas
separadamente, visto que a técnica de arco, ou técnica de mão direita, é considerada mais
complexa. Segundo De León (2019),
Para Galamian (2013), a técnica de mão direita pode provocar mais problemas ao
violinista do que a técnica de mão esquerda. Assim sendo, o professor de violino deve estar
atento ao violinista iniciante, observando se ele está com uma postura inadequada e com
movimentos de arco travados, não fluidos. Para trabalhar algo tão abstrato como a técnica de
arco, o professor pode usar ferramentas como o toque, o discurso orientado, metáforas, entre
outros.
Esse artigo traz o recorte de uma pesquisa de mestrado concluída que utilizou o estudo
de caso como metodologia de pesquisa (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). A coleta de dados, que
ocorreu entre setembro e dezembro de 2019, envolveu observações não-participante de aulas
individuais de sete crianças, com faixa etária entre 4 e 8 anos de idade, em uma escola que
utiliza a metodologia Suzuki. Este artigo apresenta a análise de vídeos de cinco sujeitos. Para
as gravações dos vídeos, foi proposto que as crianças1 ensinassem a mãe ou o pai que
acompanha as aulas individuais a segurar o violino e o arco.
1
Para proteção da identidade das crianças, os nomes são fictícios.
Vídeos produzidos
Por meio das gravações de vídeos realizadas pelas crianças e pelos pais, foi possível
observar a maneira como as crianças estão entendendo e internalizando a técnica violinística
trabalhada pela professora de violino em sala de aula. Para ilustrar a posição de cada dedo,
minimizar a tensão excessiva que pode estar presente nos dedos e na mão e para que as crianças
consigam compreender e internalizar a posição dos dedos no arco, durante as aulas individuais,
a professora de violino utiliza metáforas. As mesmas metáforas utilizadas pela professora de
violino foram encontradas nas gravações, tendo sido utilizadas pelas crianças durante a aula
com o adulto.
De acordo Vereza (2010), por muito tempo as metáforas foram entendidas e utilizadas
como meras figuras de linguagem, descaracterizando seu lócus central. Segundo a autora, a
metáfora
descreve como os dedos devem ser posicionados no arco. Isso pode ser visto na fala de Gabriela
ao ensinar sua mãe a como segurar o arco.
‒ Olá, eu sou a Gabriela e hoje eu vou ensinar a minha mãe como fazer a
“chaleira” e os “dedinhos redondos”.
[...]
‒ Agora a gente vai fazer os “dedinhos redondos” (Aula de Gabriela com a
mãe).
Do mesmo modo, para o dedo polegar a professora ressaltava que ele deve ficar
“redondo”/“curvado”/“enrolado” ao ser posicionado no arco. Se o polegar estiver reto ao ser
posicionado no talão do arco, com a articulação esticada, o punho ficará travado, dificultando
a movimentação do braço e do arco, podendo gerar problemas na técnica de arco e na produção
sonora (HAVAS, 1961; ROLLAND e MUTSCHLER, 2000). As crianças parecem ter
associado a palavra “enrolado” com o dedo, dando nome à posição do dedo de “enrolado”.
Para elucidar a curvatura do polegar direito no arco e para verificar se esse dedo está
“redondo”/“curvado”/“enrolado”, ou seja, em posição funcional, a professora faz uma
brincadeira com as crianças de empurrar a articulação do polegar, como se apertasse uma
campainha. Assim, essa articulação curva para dentro, esticando, e depois volta para a posição
inicial.
A metáfora utilizada pela professora para ilustrar a proximidade dos dedos médio e
anelar na parte de fora do talão do arco é “irmãos”, sendo esses dois dedos responsáveis por
auxiliar os dedos mínimo e indicador em suas funções (GERLE, 1991).
“Bailarina” ou “soldado” é uma metáfora utilizada para elucidar às crianças como o
dedo mínimo deve ser posicionado no arco, naturalmente “redondo”, ou seja, em posição
funcional, e com a ponta do dedo em cima da madeira (ROLLAND, 2000).
O dedo indicador é localizado na parte do couro que compõe o arco. Para as crianças,
ele fica deitado no arco porque, ao girar levemente o antebraço em direção à madeira (pronação)
para que o peso do braço seja transferido ao arco, a lateral desse dedo toca a madeira – sendo
posicionado abaixo da articulação do meio do dedo (ROLLAND e MUTSCHLER, 2000) –,
dando a sensação de que está “deitado”.
Nícolas começa mostrando ao pai qual a mão que ele deve segurar o arco
(direita). Em seguida, ele entrega o arco ao pai, que o segura com a palma da
mão fechada. A criança percebe que o pai não posicionou bem o arco, então
diz:
Para conferir se os dedos da mão direita das crianças estão esticados, a professora
observa a posição de cada um deles, além disso, ela toca em cada parte da mão e dos dedos,
sentindo se a musculatura está demasiadamente tensionada ou relaxada. Por meio das
gravações, foi possível perceber que as crianças conseguiram identificar quando os pais
tensionavam os dedos de forma excessiva, da mesma maneira que a professora faz com elas
durante as aulas. Nas transcrições a seguir, são apresentados trechos das aulas de Nícolas e de
Gabriela, quando eles percebem, por meio do toque, a tensão excessiva presente nos dedos dos
pais.
Além do toque, as crianças quase sempre perceberam quando a posição da mão direita
da mãe ou do pai estava inadequada, pois, algumas vezes, elas paravam e corrigiam quando os
dedos dos pais estavam “esticados”, fora do posicionamento funcional, como foi o caso de Bia.
Enquanto o pai repete as instruções da filha, ele vai posicionando cada dedo.
– Aí depois, você bota...
– Assim? Tá certo?
Interrompe o pai, procurando saber se a posição da mão no arco estava correta.
Ela pára, olha e diz:
– Não, tá errado. Porque ó, deixa eu te mostrar, ó. Ó, é assim. Fica assim...
Bia mostra ao pai depois de segurar o arco.
– Ah, entendi, peraí.
Ela entrega o arco ao pai e mostra com a mão vazia:
– Assim ó [diz Bia, mostrando ao pai a mão quase fechada, como se segurasse
uma bolinha] e não assim [mostra esticando os dedos, fora do posicionamento
funcional].
– Entendi, vê se tá certo agora, então o indicador, os “dois irmãos”...
– Nãao, erroou...
– Assim?
Pergunta o pai depois de colocar os dedos nos lugares outra vez.
– É. Aí depois bota o violino... (Aula de Bia com o pai).
o arco deveria ser segurado de uma maneira natural. Quando o braço está
descansando ao lado do corpo, os dedos relaxados estão quase em uma posição
perfeita para segurar o arco. A mão e os dedos são gentilmente curvados, como
se segurasse uma bola. Uma boa mão de arco não deve ser modificada
radicalmente dessa posição natural. Uma mão de arco correta é uma ação
trivial para um instrumentista experiente, mas estabelecê-la demanda grande
foco do professor e do estudante (ROLLAND e MUTSCHLER, 2000, p.80,
tradução nossa).2
Uma das ferramentas utilizadas para avaliar de que maneira as crianças participantes
desta pesquisa estavam compreendendo o posicionamento do violino e do arco, foi observar
como elas ensinariam uma terceira pessoa, no caso ou a mãe ou o pai, e as ações que mais lhes
chamariam a atenção durante a aula.
Por meio das gravações, foi possível perceber que as crianças utilizaram metáforas
similares às utilizadas pela professora para o posicionamento dos dedos no arco. Por meio das
metáforas, elas conseguiram internalizar o posicionamento dos dedos no arco e mediante estas
mesmas metáforas, conseguiram transmitir aos seus pais a maneira como eles deveriam segurar
o arco. Além disso, nas aulas com os pais, as crianças utilizaram as mesmas estratégias que a
professora utiliza com elas em aula, do toque e da observação.
Conclusão
2
No original: The bow should be held in a natural fashion. When the arm is resting at the side, the relaxed fingers
are in an almost perfect position for holding the bow. The hand and fingers are gently rounded, as if holding a ball.
The good bow hand does not deviate radically from this natural position. The correct bow hold is a reflex action
of the experienced player, but establishing it requires the undivided attention of the teacher and the beginner.
Por meio dos vídeos gerados pelas crianças, pôde ser observado de que maneira as
crianças estão entendendo e internalizando como segurar o arco e o violino. Um maior enfoque
por parte das crianças foi dado ao ensino e aprendizagem do arco, mas nem todas ensinaram
como segurar o violino. Talvez, esse acontecimento possa ser explicado devido à complexidade
do posicionamento dos dedos no arco em comparação com o posicionamento do violino
(GALAMIAN, 2013), e as crianças podem ter sentido necessidade de explicar mais sobre o
posicionamento do arco.
Por meio da análise dos vídeos, pôde ser verificado que as crianças utilizam estratégias
para ensinar o manejo do arco e averiguar como os pais estavam posicionando os dedos, com
os dedos “esticados” ou “curvados”, aplicando o tônus muscular necessário ou tensão
excessiva. Mediante a observação, na maior parte das vezes, as crianças conseguiam perceber
quando os dedos dos pais estavam “esticados” ou “curvados”, podendo corrigir através do
discurso orientado ou do toque. Já a questão da tensão excessiva foi identificada exclusivamente
por meio do toque, visto que a tensão muscular é algo menos perceptível aos olhos. Quando as
crianças tentavam manejar os dedos da mãe ou do pai e percebiam que a musculatura estava
demasiadamente tensionada, elas orientavam os pais, dizendo: “amolece um pouco” ou “deixa
mole”.
Como forma de ensinar a posição de cada dedo no arco, as crianças utilizaram metáforas
comuns, assim como a professora utiliza com elas durante as aulas. Isso pode indicar que as
metáforas são parte importante para a formação inicial do violinista (VERDE e FREIRE, 2018),
especialmente quando o assunto é a postura e o manejo do arco. De acordo com as gravações,
as crianças conseguem diferenciar quando os dedos estão “esticados” ou “curvados” e quando
estão excessivamente tensos e isso pode auxiliar na percepção delas em relação ao próprio
corpo.
A aprendizagem vem de fora para dentro, quando a professora ensina, e volta de dentro
para fora, quando a criança consegue perceber o próprio corpo (MILLER, 2002). O ato de
ensinar o adulto permite uma ação de reciprocidade quando a criança se torna o centro do
processo. Na aprendizagem por reciprocidade, a criança apresenta para as mães e pais a sua
representação de ensino. No triângulo de aprendizagem articulado entre criança, professor e
família – três pilares essenciais na metodologia Suzuki (SUZUKI, 2008) – a reciprocidade
acontece entre os participantes. Observa-se que, no processo de ensinar, a criança reproduz
modelos de interação da professora durante as aulas, da mãe/pai durante os estudos em casa, e
Referências
DE LEÓN, Cristiane Cabral. Baião n.1 de Oswaldo Franconi: ferramentas para construir
técnica de arco violinística. In: ANPPOM, 29., 2019, Pelotas. Anais. Pelotas: ANPPOM,
2019.
FISCHER, Simon. Basics: 300 exercises and practice routines for the violin. London: Peters
Edition, 1997.
FLESCH, Carl. The art of violin playing. Tradução de Eric Rosenblith. New York: Carl
Fischer, 2000. v.1.
GALAMIAN, Ivan. Principles of Violin Playing & Teaching. Mineola, NY: Dover
Publications, INC, 2013.
GERLE, Robert. The Art of Bowing Practice. London: Stainer & Bell, 1991.
HAVAS, Kató. A new approach to violin playing. London: Bosworth & CO. LTD, 1961.
ROLLAND, Paul. Basic Principles of Violin Playing. USA: Clara Rolland, 2000.
SUZUKI, Shinichi. Educação é Amor: o método clássico da educação do talento. 3.ed. Santa
Maria: Pallotti, 2008.
Dalila Silva
Universidade Federal de Minas Gerais
dalilamayara@yahoo.com.br
Betânia Parizzi
Universidade Federal de Minas Gerais
betaniaparizzi@hotmail.com
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi investigar as possíveis conexões entre o comportamento
dos adultos presentes nas aulas de música para bebês e o desenvolvimento musical dessas
crianças. Os principais referenciais teóricos utilizados foram as ideias de Edwin Gordon,
François Delalande, Parizzi, Stifft e Beyer sobre o desenvolvimento musical da criança nos
primeiros anos de vida, e os conceitos de “musicalidade comunicativa” (MALLOCH,
1999/2000) e de “parentalidade intuitiva” (PAPOUSEK, M., 1996), relacionados ao
desenvolvimento musical do bebê. Três turmas de bebês foram selecionadas e receberam doze
aulas de musicalização em dois contextos diferentes: duas turmas em escola de música
especializada, com aulas acompanhadas pelos pais, e uma turma em escola regular, com aulas
acompanhadas pela professora regente e uma auxiliar. As aulas foram filmadas e o
comportamento dos adultos presentes e o desenvolvimento musical dos bebês foram verificados
por um grupo de jurados independentes, composto por educadores musicais experientes. Os
comentários realizados pelos jurados foram submetidos à Análise de Conteúdo da qual
emergiram padrões que delinearam categorias que caracterizaram o comportamento dos adultos
e o desenvolvimento musical dos bebês participantes. Essas categorias embasaram as
correlações estabelecidas entre o comportamento dos adultos em sala de aula e o
desenvolvimento musical dos bebês. Os resultados apontam para uma estreita relação entre o
comportamento desses adultos e o desenvolvimento musical dos bebês, de modo que esse
desenvolvimento é potencializado pelo envolvimento e expressividade dos adultos presentes
nas aulas.
Palavras-chave: Aulas de música para bebês; Participação dos pais; Desenvolvimento musical.
Abstract: The objective of this research was to investigate the possible connections between
the behavior of adults during for babies’ music lessons and the musical development of these
children. The main framework was based on Edwin Gordon, François Delalande, Parizzi, Stifft
and Beyer's ideas about the child's musical development in the early years of life; and the
concepts of "communicative musicality" (MALLOCH, 1999/2000) and "intuitive parenting"
(PAPOUSEK, M., 1996), related to baby’s musical development. Three groups of babies were
selected and received twelve music lessons in two different contexts: two groups in a
specialized music school, with the participation of the parents in the classes, and a regular
school group, in which the classes were accompanied by the regular teacher and by an assistant.
The classes were filmed, and the behavior of the adults present in the classes and the musical
development of the babies were verified by a group of independent jurors, composed by
experienced musical educators. The jurors' comments were then submitted to a Content
Analysis from which emerged patterns that outlined categories that characterized adults’
behavior and the musical development of the participating infants. These categories served as
the basis for the correlations that were established between the adults’ behavior in music lessons
and the infants’ musical development. The results point to a close relationship between the
adults’ behavior and the musical development of infants, so that this development is enhanced
by the involvement and expressiveness of the adults present in the classes.
Keywords: Music lessons for babies; Parents’ participation; Musical development.
1. Introdução
Desde seu nascimento, a criança se mostra um ser ativo que possui diversas
competências, inclusive musicais. Para Sloboda (2008), é durante o primeiro ano de vida que o
bebê começa a evidenciar um início de consciência musical, distinguindo sons musicais de sons
não musicais. Como afirma Ilari (2009, p. 40), “a ciência já mostrou que bebês e crianças
pequenas são músicos competentes, que ouvem, memorizam, cantam, dançam, se divertem (e
também se aborrecem) com as músicas que aprendem com os adultos”. Suas capacidades devem
ser estimuladas, então, o mais cedo possível, respeitando-se os limites da criança.
Edwin Gordon (1927-2015), pesquisador da Psicologia da Educação Musical,
desenvolveu importantes estudos sobre a forma como a criança pequena aprende música. A
ênfase de sua Teoria de Aprendizagem Musical está em como a música é aprendida, e não em
como deve ser ensinada. Gordon (2008) desenvolveu sua teoria partindo da comparação entre
o aprendizado da música com o aprendizado da língua materna.
Conforme este autor, no período do nascimento até entre os 2 e 4 anos de idade, acontece
a fase da aculturação, em que as crianças são postas em contato com a música de sua cultura e,
assim, são capazes de fundamentar seus balbucios, cantos e movimentos nos sons musicais que
ouvem em seu ambiente (GORDON, 2008). É importante que os pais e os professores cantem
para os bebês, para que eles possam ampliar seu vocabulário básico de audição tonal e rítmica
e para que a música possa ocupar um importante lugar na vida da criança, assim como a
linguagem.
A pesquisa de Stifft e Beyer (2003) investigou e analisou a relação entre mãe e filho
durante as aulas de música. Stifft e Beyer (2003, p. 97) sintetizam as ações ocorridas entre mães
e bebês em quatro modos típicos de ação e interação.
Os resultados da investigação “A música e o desenvolvimento do bebê”, de Parizzi et
al. (2015) vão ao encontro do estudo de Stifft e Beyer (2003), confirmando os perfis de mães
apontados pelas autoras e a relação de seus comportamentos com o desenvolvimento musical
dos bebês durante as aulas de música. A pesquisa teve por objetivo investigar se a educação
musical pode acelerar o desenvolvimento de bebês nascidos muito prematuros, considerando-
se, principalmente, o desenvolvimento vocal e de interação social (PARIZZI et. al., 2015).
2. Metodologia
Esta pesquisa, com abordagem qualitativa, teve como objetivo investigar as possíveis
conexões entre o comportamento dos adultos presentes nas aulas de música para bebês e o
desenvolvimento musical dessas crianças. Foi realizada no CMI - Centro de Musicalização
Integrado da UFMG, escola especializada no ensino de música, e no Colégio Cristão Ebenézer1.
Para a implementação da pesquisa, duas turmas do CMI/UFMG foram selecionadas para
serem acompanhadas, chamadas aqui Turma A e Turma B. Cada turma era composta por 3
bebês de 6 a 18 meses de idade e contava com a presença de um dos pais nas aulas. No Colégio
1
O Colégio Cristão Ebenézer é uma escola regular particular de Educação Infantil e Ensino Fundamental,
localizada na cidade de Belo Horizonte - Minas Gerais.
Cristão Ebenézer, foi selecionada uma turma, com 6 bebês da mesma faixa etária - Turma C,
que, por tratar-se de uma escola regular, contava com a presença da professora regente e de
uma auxiliar.
A escolha dos alunos envolvidos obedeceu ao critério de nunca terem participado de
aulas de música, seja em escola regular, seja em escola especializada. Observamos também que
os pais dos bebês nunca tivessem participado de aulas de música com outros filhos.
As aulas ministradas pela professora (esta pesquisadora), às três turmas, tinham duração
de trinta minutos, organizadas em atividades que duravam entre cinco a sete minutos, de modo
que em cada aula eram realizadas até cinco atividades. Por meio de um planejamento
semelhante, buscamos oferecer aos bebês experiências musicais ricas e diversificadas. Os
principais conteúdos musicais trabalhados foram: timbre, duração (sons curtos e longos),
contraste entre som e silêncio, contrastes de intensidade e de andamento, caráter expressivo,
pulsação, compassos diversos, movimento sonoro, contrastes de altura, escala, arpejo, modos
maior e menor, modos gregos – dórico e mixolídio, canto espontâneo.
Os dados coletados para a pesquisa consistem em gravações audiovisuais das aulas de
música realizadas no CMI e no Colégio Cristão Ebenézer. Todas as aulas foram filmadas e, ao
final, cenas das aulas foram editadas conforme as “escolhas explícitas do pesquisador, a partir
das necessidades do seu estudo” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 216).
Colaboraram com essa pesquisa seis jurados amplamente qualificados e experientes em
Educação Musical, inclusive, na primeira infância. Eles foram igualmente distribuídos em dois
grupos: Grupo A (denominados jurados 1A, 2A e 3A) e Grupo B (denominados jurados 1B, 2B
e 3B). Cada jurado analisou quatro vídeos, com duração de, aproximadamente, quatro minutos
cada um, contendo cenas das aulas iniciais e finais das turmas. Os jurados do Grupo A
analisaram os vídeos da Turma A (CMI) e da Turma C (escola regular) e os jurados do Grupo
B analisaram os vídeos da Turma B (CMI) e da Turma C (escola regular).
Os vídeos foram analisados pelos jurados, empreendendo-se assim a Análise de Produto.
Os jurados foram orientados a analisar o desenvolvimento musical dos bebês e comentar as
relações dos adultos presentes nas aulas com os bebês e dos bebês com os adultos.
3. Resultados
Em relação ao desenvolvimento musical dos bebês, a partir dos padrões apontados pelos
jurados, quatro categorias emergiram:
1) Desenvolvimento rítmico, delineada pelos padrões: contraste de andamento, pulso
interno, interferência rítmica, regulação temporal, ostinato, senso de finalização;
2) Desenvolvimento vocal, delineada pelos padrões: balbucios, vocalizações;
3) Percepção e exploração sonora¸ delineada pelos padrões: escuta ativa, contraste de
som/silêncio, percepção de movimento sonoro, “esquema” para a música voltar, exploração
instrumental.
Ainda, as falas dos jurados acerca do desenvolvimento musical dos bebês conduziram a
duas categorias de perfis de alunos:
1) Participativo, delineado pelos padrões: engajamento, atenção, interações/diálogos,
imitação, participação ativa, exploração de fonte sonora, contato visual com professora de
música, movimentação corporal ativa;
2) Observador, delineado pelos padrões: predomínio da observação sobre
participação, atitude de atenção, pouca imitação, pouca exploração de fonte sonora, pouca
interação/diálogo, aluno expectador, introspecção, timidez.
A partir dos comentários dos jurados, foi possível constatar que os adultos que
participavam das aulas das Turmas A e B se enquadram em duas das categorias de
comportamento delineadas: “Participação efetiva” e “Participação não efetiva”. Não tivemos
nessas turmas nenhum adulto cujo comportamento se enquadra na categoria “Não
participação”. Foi possível constatar ainda que a professora de música se enquadra na categoria
de comportamento “Participação efetiva”.
Os adultos que participavam das aulas da Turma C (professora regente e auxiliar),
conforme os comentários dos jurados, se enquadravam na categoria de comportamento
delineada “Não participação”, em que predomina um comportamento mais passivo.
4. Conclusões
dos filhos. O comportamento dos pais durante as aulas pode influenciar positiva ou
negativamente este desenvolvimento, sendo que quanto mais o acompanhante exerce sua
“parentalidade intuitiva” utilizando recursos de sua “musicalidade comunicativa”, mais o bebê
tende a se desenvolver musicalmente e quanto menos envolvido o acompanhante se mostrar, é
menos provável que o bebê se desenvolva de forma expressiva.
É possível concluir também que a performance do Educador Musical durante as aulas
se mostra muito importante para a mediação da aprendizagem musical. Se o professor não se
enquadrar no perfil de comportamento “Participação efetiva”, não exercer vigorosamente sua
“parentalidade intuitiva”, se valendo ao máximo dos recursos da “musicalidade comunicativa”,
atuando com expressividade, entusiasmo, alegria e “exageros” de gestos e contrastes, não
moverá os pais a essa disposição, e, consequentemente, não provocará afetos no bebê que o
movam a esse envolvimento.
Acreditamos, no entanto, que o professor sozinho na mediação entre a música e os
bebês, sendo o único modelo a ser imitado musicalmente, não é suficiente para que os bebês se
desenvolvam em sua máxima plenitude.
Reforçamos aqui que os resultados desta pesquisa se referem à amostra estudada por
meio da metodologia utilizada neste trabalho. Em pesquisas futuras, poderemos ampliar a
amostra e a forma de coleta de dados.
Afirmamos a importância da educação musical orientada por um profissional desde os
primeiros meses de vida, pois essa educação tem caráter ímpar na formação musical do sujeito.
Mas para ser capaz de realizar um trabalho sério e consciente, que considere cada etapa do
desenvolvimento cognitivo do bebê, é necessário que o educador conheça as possibilidades
pedagógicas da educação musical para essa faixa etária e como acontece o desenvolvimento
musical da criança na primeira infância. Ressaltamos, então, a importância dos cursos de
Licenciatura em Música e dos Programas de Pós-Graduação em Educação Musical, e de que
esses cursos se mobilizem ainda mais em direção à abordagem desse tema tão relevante.
Esperamos que esse trabalho possa mover educadores musicais a uma reflexão crítica
acerca do desenvolvimento musical do bebê e de suas práticas em sala de aula e que, munidos
de conhecimento e referências acerca da importância da atuação de pais e professores durante
as aulas, possam refinar suas práticas e estimular os pais a serem modelos musicais mais
expressivos para seus filhos. Os pais nem sempre têm uma percepção clara da importância de
sua participação ativa nas aulas. É importante que o educador tente ajudá-los a compreender
essa importância e incentivá-los a superar suas limitações, a fim de que busquem essa interação
rica e essencial com seus filhos durante as aulas de música e durante a vida.
Referências
ILARI, Beatriz Senoi. Música na infância e na adolescência: um livro para pais, professores
e aficionados. Curitiba: Ibpex, 2009.
LAVILLE, Christian. DIONNE, Jean. A construção do saber. Porto Alegre: Artmed, 1999.
MALLOCH, Stephen N. Mothers and infants and communicative musicality. In: Musicae
Scientiae, Special Issue, 1999/2000.
PAPOUSEK, Hanus. Musicality in infancy research: biological and cultural origins of early
musicality. In: Deliége I.; Sloboda J. (Ed.) Musical beginnings. New York: Oxford University
Press, 1996, cap. 2, p. 38-55.
STIFFT, Kelly e BEYER, Esther. A relação mãe-filho no projeto “música para bebês: um
estudo sobre possíveis interferências no desenvolvimento musical dos bebês. Educação, v. 28,
n. 01, 2003.
Do som que nos compõe à motivação que nos transforma: uma experiência
de formação musical para educadores de infância em Portugal
Resumo: O trabalho apresenta reflexões sobre uma proposta de formação musical inicial para
educadores de infância. O trabalho foi desenvolvido em Portugal, com vistas a estreitar os
diálogos no campo da formação continuada entre Brasil e Portugal. O objetivo foi conhecer e
analisar o impacto de uma proposta de formação continuada realizada em contexto de trabalho
em uma creche em Lisboa, nas práticas musicais desenvolvidas pelas educadoras de infância.
Adotou-se a Investigação-ação para o encaminhamento do estudo. Como instrumentos de coleta
de dados, foram utilizados questionários abertos, gravações e filmagens. A formação teve
duração de 20 horas, divididas em 10 encontros, e foi realizada em contexto de trabalho.
Participaram do estudo inicialmente 8 professoras, finalizaram 7. Os resultados apontam para
uma transformação gradual e positiva do contexto no que se refere à realização mais assídua de
atividades musicais com os bebês. A vivência musical experimentada pelas educadoras durante
o curso possibilitou o despertar para uma maior compreensão sobre o seu próprio processo
musical e com isso para a relevância das atividades musicais para os bebês e para as crianças
pequenas, no que diz respeito ao desenvolvimento da sua musicalidade. Observou-se também
a conscientização sobre a importância de uma comunicação musical mais afetiva e focada nas
necessidades das crianças. Infere-se que esse modelo de formação se mostrou positivo,
sobretudo, porque ele considera as peculiaridades do contexto. Sugere-se, entretanto, um estudo
de acompanhamento longitudinal para a observação da continuidade dessas mudanças.
Palavras-chave: Formação de professores; Bebês; Teoria da Aprendizagem Musical.
Abstract: The work presents reflections on a proposal for initial musical training for early
childhood educators. The work was developed in Portugal, with a view to strengthening the
dialogues in the field of continuing education between Brazil and Portugal. The goal was to
learn and analyze the impact of a proposal for continuing education carried out in the context
of work in a daycare center in Lisbon, in the musical practices developed by early childhood
educators. Action-Research was adopted to conduct the study. As instruments for data
collection, open questionnaires, recordings and filming were used. The training lasted 20 hours,
divided into 10 meetings, and was carried out in a work context. Initially, 8 teachers participated
in the study, and 7 finished. The results point to a gradual and positive transformation of the
context with regards to the more assiduous performance of musical activities with babies. The
musical experience lived by the educators during the course made it possible to awaken them
to a greater understanding of their own musical process and thus to the relevance of musical
activities for babies and young children, with regards to the development of their musicality.
There was also awareness of the importance of a more affective musical communication and
focused on the children´s needs. It is inferred that this training model proved to be positive,
above all, because it considers the peculiarities of the context. However, a longitudinal follow-
up study is suggested to observe the continuity of these changes.
Keywords: Teacher training; Babies; Music Learning Theory.
Introdução
Este estudo teve por objetivo conhecer e analisar o impacto de um curso de formação
musical inicial, delineado a partir dos pressupostos da Teoria da Aprendizagem Musical, nas
práticas pedagógicas musicais de educadoras de infância de uma creche portuguesa, oferecida
como formação continuada e ministrada em contexto de trabalho. Dá seguimento a estudos
anteriores da investigadora, sobre o campo da formação continuada musical para professores
generalistas no contexto da creche (0 a 3 anos).
O interesse em estudar o contexto português está calcado em duas motivações iniciais,
a primeira delas ocorre pelo enfoque musical teórico, que tem sido base de pesquisas anteriores
dessa investigadora, a Teoria da Aprendizagem Musical de Edwin Gordon, já há muito utilizada
nesse país. A segunda motivação se dá pela ocorrência entre as ricas trocas entre Brasil e
Portugal no campo da educação infantil nos últimos anos (OLIVEIRA-FORMOSINHO;
KISHIMOTO, 2002; OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007;
OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2005; OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2018) fato que
desperta o interesse em conhecer melhor esse universo no que tange a música para a infância,
na tentativa de estabelecer diálogos e trocas, com vistas ao crescimento nesse campo para
ambos os países.
Embora até este momento o segmento de 0 a 3 anos ainda não esteja inserido como parte
da Educação básica Portuguesa, muitos documentos têm sido elaborados para a construção de
uma nova perspectiva educativa para essa faixa etária. Encontra-se, dentre eles, a
“Recomendação: A educação dos 0 aos 3 anos” (VASCONCELOS, 2011), publicado pelo CNE
(Conselho Nacional de Educação) de Portugal, que trata das perspectivas esperadas para a
educação dessa faixa etária, como por exemplo, a melhor qualificação profissional, melhorias
das condições de trabalho e uma maior compreensão dos direitos das crianças.
Destacam-se dentre essas recomendações algumas que estão alinhadas com a
proposição dessa investigação, são elas: nº 6: “Investir na qualidade dos serviços e elaborar
linhas pedagógicas” (p. 28), nº 7: “Elevar o nível de qualificação dos profissionais e das
condições de trabalho” (p.29), nº 8: “Apostar na formação contínua dos profissionais” (p.30),
e nº 11: “Alargar o ‘Direito à Palavra aos mais pequenos’” (p.31).
Nesse sentido é preciso refletir sobre a temática da formação. Destaca-se que a formação
de professores generalistas no Brasil e educadores de infância em Portugal, lócus estudados,
mostra-se ainda como um espaço aberto à investigações e reflexões (COUTINHO; TOMÁS,
2018), evidencia-se essa mesma necessidade em relação à formação musical desses mesmos
professores, como mostram estudos realizados em ambos os países, por exemplo Mariano
(2015), Mendes (2018) e Ferreira (2018).
Tão relevante quanto pensar sobre a formação do professor é refletir sobre a criança,
parte indissociável desse processo. Nessa investigação a criança é compreendida como
protagonista na construção do seu aprendizado, como mencionado na Recomendação nº 11
acima. Portanto, na elaboração, construção e encaminhamento da investigação, inúmeras
reflexões sobre a criança em foco foi realizada. É importante mencionar que a creche parceira
nesse processo adota a pedagogia em participação (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO,
2018), fato que contribuiu enormemente na condução da pesquisa.
Nos aspectos relativos à música, discute-se a contribuição da Teoria da Aprendizagem
Musical (TAM) para o desenvolvimento musical dos professores em formação, as facilidades
e as dificuldades vivenciadas durante o processo, os pontos fortes da formação, assim como o
alcance dessa formação nas atividades realizadas com as crianças.
Destacam-se também fatores que despertaram no educador de infância e auxiliares de
ensino o interesse e compromisso com o processo de aprendizagem musical dos bebês e das
crianças pequenas. Infere-se que a compreensão das minucias do processo e uma vivência
pessoal do seu próprio processo musical pode elevar essa percepção e promover um
investimento maior por parte desses educadores nessa área do conhecimento. Acredita-se que
o exercício reflexivo de auto investigação sobre os seus próprios processos de aprendizagem,
relacionais e musicais, vivenciados durante a formação musical inicial, contribuem para isso.
prevê no Art. 62, o requisito mínimo para a formação do educador de infância em nível
secundário, na modalidade magistério.
Compreende-se que, no contexto brasileiro, o objetivo da LDB 9394, à altura de 1996,
foi qualificar profissionais que atuavam nesse segmento, e essas adequações fizeram parte do
pacote das mudanças políticas, sociais e econômicas vividas na década de 90 (DECKER, 2017;
TRICHES, 2017). Muitos profissionais que estavam nas creches não tinham formação
adequada para desenvolverem atividades educativas. Um dos motivos para essa grande
defasagem foi que esse segmento da educação esteve por muitos anos vinculado à assistência
social, no Brasil, onde o foco restringia-se aos cuidados com a criança (KRAMER, 2006;
KUHLMANN JR, 2000).
Frisa-se que em Portugal a educação de 0 a 3 “ainda não aparece referida na Lei de
Bases do Sistema Educativo” (FORMOSINHO, 2018, p.17), entretanto a qualificação docente
em nível superior e as referências sobre a importância da qualificação docente, como as já
referidas “Recomendações” para a educação dos 0 aos 3 anos, amparam a valorização desse
profissional, ao menos a princípio, em termos acadêmicos.
A relevância da formação e melhor qualificação desses profissionais, dá-se, sobretudo,
porque essa faixa etária contempla peculiaridades que precisam ser cuidadas e, por isso,
compreende-se que esse é um fator contribuinte para a ampliação dos conhecimentos acerca da
infância.
No campo da atividade musical para bebês e crianças pequenas, sabe-se que essa prática
pode contribuir para o desenvolvimento da criança em vários aspectos, porque nesse momento
da vida humana há grande abertura para a absorção de elementos que compõem a música, como,
por exemplo, o tempo e alturas dos sons. Estudos mostram que o início da infância, sobretudo,
caracteriza-se como um período potencialmente favorável para o desenvolvimento da
musicalidade (GORDON, 2008; 2013; ILARI, 2002).
A música é uma capacidade humana que vai se desabrochar na cultura, ao partir do
pressuposto que somos seres sociais (VIGOTSKY, 2010). Nessa direção, muitas peculiaridades
do processo da aprendizagem musical necessitam ser aprendidas e vividas (GORDON,
CAMERON, 1991; GORDON, 2000; 2008; 2013).
decisões sobre a sua prática, ou seja, para conduzir o processo educativo a desenvolver com as
crianças” (SILVA, 2016, p.13), destacam a música como parte integrante das atividades a serem
realizadas no contexto da educação de infância. Esse documento é dirigido para as crianças a
partir dos 3 anos, entretanto, também tem sido recomendada a sua utilização nos contextos das
creches:
No Brasil, as orientações são dadas pela Resolução nº5 de 17 de dezembro de 2009, que
fixa as novas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (DCNEI), relativamente à
linguagem musical no inciso II do Art 9º, orienta que elas “favoreçam a imersão das crianças
nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de
expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical”.
Percebe-se que ao menos no que se refere à normas e leis, existe a prerrogativa para a
inserção da música nos contextos de aprendizagem para a infância, nomeadamente para as
crianças de 0 a 3 anos.
Metodologia
Procedimentos
Participantes
Instrumentos
Os dados coletados foram analisados pelo software MAXQDA. 12, desenvolvido para
a análise de dados qualitativos. Ele permite a categorização de um número elevado de dados
oriundos de fontes diversas.
Buscou-se compreender como e em que medida a intervenção realizada contribuiu para
o alargamento da perspectiva das professoras sobre a relevância de uma atividade musical
frequente e de qualidade para os bebês.
Destaca-se que o foco na história pessoal musical das educadoras foi um ponto de
partida e de interligação importante entre elas e a formação. Partiu-se do pressuposto que:
(...) para melhor entender o ser humano, é necessário considerar todo o sistema
bioecológico que envolve o indivíduo enquanto ele se desenvolve. Em seu
paradigma, Bronfenbrenner (2005) considera o desenvolvimento dependente
de quatro dimensões que interagem entre si, denominadas de “Modelo PPCT
– Processo, Pessoa, Contexto, Tempo (BENETTI et al, 2013, p. 92)
Percebe-se que no âmbito familiar elas viveram situações em que a música teve uma
presença marcante, assim como no âmbito social, entretanto no âmbito acadêmico esse número
se mostrou reduzido.
No âmbito das atividades realizadas na rotina, observa-se que em grande medida elas
estão vinculadas a objetivos não relacionados diretamente com aspectos musicais, e sugerem
uma proposta pedagógica musical em que não há, necessariamente, uma coerência entre as
ações realizadas. Ocorrem, em geral, nos momentos de entrada da criança na creche, ou nos
intervalos das atividades, não sendo contempladas como uma rotina no planejamento do
educador. Esses dados corroboram com outros estudos (FERREIRA, 2018; MARIANO, 2015;
MENDES, 2018)
Foram consideradas para essas análises questões do questionário aberto final, que
possibilitaram a compreensão da extensão do impacto dessa formação para o contexto. Dentre
elas estão as motivações para a adesão e envolvimento na formação. Os dados agrupados nos
indicadores presentes no Gráfico 3, mostram que a organização do curso e a forma como as
atividades foram alinhadas às necessidades do grupo são consideradas mais relevantes, em
seguida os aspectos afetivos, e, por fim, o despertar de uma consciência para o trabalho musical
com as crianças nessa faixa etária:
10
0
Organização do curso – Conscientização da Aspectos afetivos:
sistematização e adequação ao importância do trabalho Respeito, acolhimento,
contexto e público musical com bebês envolvimento
depoimentos, é possível reconhecer que elas ultrapassaram esses desafios, envolvendo-se nas
atividades. Os dados se aproximam dos observados em Mariano (2015).
As educadoras mencionaram que as expectativas com o curso foram alcançadas e foram
além. Todas afirmaram que estão mais preparadas para a realização de um planejamento
musical focado no desenvolvimento das crianças, como a E6 que diz que “Neste momento sinto-
me mais à vontade, e, acima de tudo, sinto que tenho mais conhecimento teórico de forma a
planear de forma mais consciente as sessões de música para o grupo”, demonstrando que o
curso proporcionou uma consciência sobre esses aspectos, processo facilitado pelo exercício
reflexivo sobre a sua prática (SHÖN, 1997).
Considerações finais
Compreender que o educador é uma pessoa complexa, onde estão presentes inúmeros
entrelaçamentos, permite ao formador contemplá-los nos processos de formação pedagógica.
Percebe-se que esse processo ultrapassa a transmissão de forma eficiente de um conteúdo
programático ou de uma mobilização momentânea de saberes, ele demanda a criação de raízes
profundas e amarras firmes em sua identidade, fruto de um contexto e da história pessoal como
observado e referenciado na revisão da literatura realizada.
Percebeu-se que a transformação do contexto requereu a conjunção de âmbitos que
ultrapassaram o conteúdo da formação, mas que estavam conectados entre si, como os aspectos
relativos ao respeito das peculiaridades do contexto no qual a formação ocorre na formatação
do curso; as singularidades do público-alvo para o qual a formação é pensada; os aspectos do
acolhimento e da valorização da história pessoal. Tais aspectos sugerem que esse processo
estruturante ocorre de forma tácita, como um holding para que os elementos técnicos da
formação se desenrolem.
O modelo proposto para a formação se mostrou positivo como proposta metodológica
destinada a formação musical à luz da TAM, para professores generalistas trabalhando com
crianças de 0 a 3 anos.
Referências
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. Lei n.º 46/86 (Lei de Bases do Sistema Educativo). Diário
da República n.º 237/1986, Série I de 1986-10-14. Disponível em:<
https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/222418/details/normal?p_p_auth=D688OvBC>
Acesso em: 2019-01-01.
BENETTI, Idonézia C.; VIEIRA, Mauro Luiz; CREPALDI, Maria A.; SCHNEIDER, Daniela
R. Fundamentos da Teoria Bioecológica de Urie Bronfenbrenner. Pensando Psicologia, n. 9,
p. 89-99, 2013.
COUTINHO, Angela S.; TOMÁS, Catarina. O lugar das crianças de 0 a 3 anos nas políticas
educacionais no Brasil e em Portugal. Laplage em Revista, Sorocaba, v. 4. n. 2, p. 123-132,
2018.
DECKER, Aline. A formação docente no projeto político do banco mundial (2000-2014). In:
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leituras a contrapelo. Araraquara, São Paulo: Junqueira e Marin, 2017. Disponível em: <
https://www.academia.edu/38303618/Forma%C3%A7%C3%A3o_de_professores_no_Brasil
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FORMOSINHO, João. A educação em creche: os desafios das pedagogias sem nome. In:
OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia, ARAÚJO, Sara B. (Orgs). Modelos pedagógicos para a
educação em creche. Porto: Porto Editora, 2018.
GORDON, E., & CAMERON, C. Guiding your child's music development. Chicago: GIA
Publications, 1991.
GORDON, Edwin. E. Music Learning Theory for Newborn and Young Children. Chicago:
GIA Publication, 2013.
SHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NOVOA, Antônio
(Coord). Os professores e sua formação. 3ª ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997
Resumen: Presenta los resultados parciales de una investigación doctoral. El estudio fue
realizado en una institución educativa pública de educación inicial ubicada en Lima
Metropolitana. A partir de la consideración de las canciones como discursos, revela la función
de ellas en una institución educativa pública de educación inicial. El análisis se inspira en la
concepción tridimensional del discurso (Fairclough, 1993) que incluye el análisis del texto, de
la práctica discursiva y de la práctica social. Se realizaron observaciones de jornadas completas,
entrevistas en profundidad a la directora y personal docente, un grupo focal con el personal
auxiliar, y el análisis de algunos documentos (Hojas de vida y fichas de matrícula). Los
resultados revelan el uso instrumental de las canciones en la práctica educativa cotidiana
llegando a constituirse como herramientas de control simbólico y como una forma enmascarada
de ejercer poder sobre los niños. De este modo, al cantar y compartir mensajes, se muestra cómo
las canciones constituyen discursos sociales que movilizan la dinámica de construcción
identitaria de las profesoras y los niños. Es en este juego que las identidades se van
construyendo socialmente en consonancia con las expectativas sociales.
Palabras clave: Canciones; Identidades; Educación Inicial.
Abstract: Presents the partial results of a doctoral research. The study was conducted at an
early childhood education center located in Metropolitan Lima. The study takes songs as
discourses, to reveal their role in an initial public education institution. The analysis is inspired
by the three-dimensional conception of discourse (Fairclough, 1993) which includes the
analysis of text, discursive practice and social practice. Full-day observations, in-depth
interviews with the principal and teaching staff, a focus group with auxiliary staff, and analysis
of some documents (life sheets and enrollment sheets) were made. The results reveal the
instrumental use of songs in everyday educational practice, becoming a symbolic control tool
and a masked way of wiping power over children. This shows how songs are social discourses
that mobilize the identity building dynamics of teachers and children by singing and sharing
messages. It is in this game that identities are built socially in line with social expectations.
Keywords: Songs; Identities; Early Childhood Education.
Introducción
En Perú gran parte de la actividad educativa en educación inicial emplea como principal
recurso metodológico las canciones. Docentes y niños llenan la jornada educativa de cantos y
melodías que se repiten día a día. Los mensajes revelan formas de pensar del imaginario social.
Interpelar estos sentidos naturalizados por la cultura tanto institucional como social, es el gran
propósito de este trabajo.
Por ello el estudio asume que los mensajes transmitidos como palabras cantadas
constituyen discursos, y como tales tienen un efecto en la forma como se construyen
socialmente las identidades de las docentes y de los niños. Son tres los objetivos que persigue
esta investigación: a) Analizar críticamente los textos y la práctica discursiva en torno a las
canciones entendidas como discursos contextuados en una institución educativa pública de
educación inicial; b) Analizar el papel de las canciones en la construcción social de identidades
de docentes y estudiantes en el caso estudiado, y c) Interpretar las relaciones entre las canciones,
los discursos institucionales y las diversas identidades a la luz de las demandas del sistema
macro social. En un primer momento se desarrollan los fundamentos teóricos que orientan el
trabajo los cuales justifican la necesidad de una lectura crítica de la realidad, así como la
consideración del niño como sujeto de derechos. Luego se describe el proceso metodológico
seguido y se presentan los resultados para concluir con unas reflexiones finales que dan cuenta
del impacto de la palabra cantada en la construcción de las identidades de las docentes y
estudiantes de educación inicial.
1 “El ser profesor/a se instituye en los discursos académicos, sociales, escolares, e históricos. El ser o “el querer
ser de una determinada manera” se constituye en la cultura” (traducción libre)
2
“El significado es aquello que dota de sentido nuestra propia identidad” (traducción libre).
Procedimientos metodológicos
Al tratarse de un estudio situado que toma como objeto de análisis las canciones que las
docentes y niños entonan a diario, el estudio incide en las relaciones y correspondencias entre
las canciones que se enseñan, la ideología docente, y su vinculación con la macroestructura.
Siguiendo a HAAS (2005), YIN (2009) y STAKE (1995) se utilizó un diseño cualitativo
que permitió describir en profundidad un fenómeno social en contextos reales. A la par
favoreció la interpelación de realidades. El estudio se funda en la concepción tridimensional
del discurso (FAIRCLOUGH,1993) que recoge tres tradiciones centrales en el análisis crítico
del discurso: el análisis textual y lingüístico; el análisis de la práctica discursiva desde el
paradigma interpretativo y microsociológico; en la última dimensión se realiza el análisis a
nivel macro sociológico a la luz de los conceptos de ideología, hegemonía y vinculación con el
poder.
La información se recogió a partir de observaciones de jornadas completas, las que se
extendieron hasta identificar patrones por saturación. Ello favoreció la comprensión del uso de
las canciones en contexto. Adicionalmente se realizaron entrevistas en profundidad a las
docentes y directora; y un grupo focal al personal auxiliar. Asimismo, se analizaron las 115
fichas de matrícula de los niños y las hojas de vida de todo el personal de la institución.
La investigación se desarrolló en una institución educativa pública de educación inicial
ubicada en el distrito de San Juan de Lurigancho, el distrito más populoso de la ciudad de Lima.
Se seleccionó una institución educativa “típica”.
Canción 44 Canción 43
La lechuza, la lechuza Yo tengo un elefante
Hace shh, hace shhh Que se llama Trompita
Todos calladitos, como la lechuza Que mus mueve las orejas
Que hace shh, que hace shhh llamando a su mamita
y su mamá le dice
¡Portate bien trompita!
Si no te voy a dar
Un tas tas en la colita
Canción 72 Canción 73
Marcha soldado Pasa, pasa,
cabeza de papel pasa el batallón
Si no marchas derecho Pom, pim, pom
De frente al cuartel Soy el soldadito
Lava tus manos que toca el tambor
con agua y con jabón
si no te las lavas
te vas al paredón
Canción 32 Canción 35
Palomita blanca, palomita azul Somos soldaditos
Llévame en tus alas a ver a Jesús del niño Jesús
- Sí mi niño bueno, yo te llevaré Aunque pequeñitos
Porque en tu clase Llevamos la cruz
¡Te has portado bien!!-
14. 100.
(Lunes) antes de almorzar Arroz con leche
Una niña fue a comprar Me quiero casar
Pero no pudo comprar Con una señorita
Porque tenía que (limpiar) De Portugal
Con esta sí,
Así (limpiaba), así, así… Con esta no,
Así (limpiaba) así, así Con esta señorita
Así (limpiaba) así, así Me caso yo
Así (limpiaba) que yo la vi3
3
Se van sustituyendo los días y las acciones: martes: saltar; miércoles: comprar; jueves: bañarse; viernes: bailar;
sábado: tejer; domingo: rezar.
Si bien los textos evidencian un discurso coherente, es reveladora la forma en que estos
discursos son afirmados en la interacción en el aula. Como ejemplo se muestra la interacción
posterior a la canción 57:
Docente Niños
¿Qué perdieron los ositos? ¡Sus baberos!!!
¿Perdieron qué? ¡SUS BABEROS!!!
Porque no ordenan ¿no? y ¿Qué dijo mamá
osa?... …Buscaba en los cajones
¡buscaba en los cajones!... ¡LE JALÓ DE LAS OREJAS!!!
¿Y papá oso?
Le jaló de las orejas (…) ¡SIIIIII¡
[Luego de preguntar acerca del orden
del aula empieza a cantar]
Todos sentaditos, Todos sentaditos,
todos sentaditos, Pa’ que se puedan ir
Si no están dormidos, si no están dormidos,
si no están dormidos, no se van a ir
De esta manera se pone en evidencia que el uso de las canciones es un acto intencionado
que tiene el claro propósito de modelar las conductas de los niños.
Así, día a día, los diversos discursos se articulan formando sentidos y construyendo
socialmente las identidades de las docentes y los estudiantes en un contexto social que
reproduce las mismas formas de interacción, por lo que los sentidos y contrasentidos de las
canciones se imbrican y potencian.
Reflexiones Finales
Referencias
FAIRCLOUGH, Norman. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press, 1993.
FOUCAULT, Michel. El discurso del poder. México D.F.: Folios Ediciones, 1983.
GULLCO, Julio. La canción infantil como genérico musical. México: IASPALM, 2002
HAAS, G. C. On the Case-Approaches to language and literacy research. USA: Teachers
Collegue, Columbia University, 2005
HEMSY, Violeta. La iniciación musical del niño. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1985.
MENDIVIL, Luzmila. Lo que los niños cantan, comunican y aprenden. Lima: Escuela de
Graduados, Pontificia Universidad Católica del Perú-Tesis (Maestría en Comunicaciones),
2007.
VAN DIJK, Teun. El estudio del discurso. En (VAN DIJK, Teun , El discurso como
estructura y proceso. Estudios del discurso: introducción multidisciplinaria (p. 21-65).
Barcelona: Gedisa S.A., 1997.
YIN, Robert. Case study research: designs and methods. London: Thousand Oaks CA: SAGE,
2009.
Regina Macêna
Instituto Langage
macenaregina@yahoo.com.br
Erika Parlato-Oliveira
Faculdade de Medicina da UFMG e Université Paris VII
eparlato@hotmail.com
Abstract: Some babies show signs of psychological distress and benefit from psychoanalytic
treatment. In this psychoanalysis clinic with babies, together with their parents, we propose to
think about the effects of musicality in this treatment process, based on the analyst's savoir-
faire. Musicality can be present in the sessions and through it psychic aspects can be inscribed:
subject, lack, voice and rhythm, presence-absence, desire. This text presents a clinical section
of the treatment of a baby of a few months with his parents and the effects of musicality, as
melody, voice and rhythm, for this baby and his mother. We seek to make a construction
between psychoanalysis and elements of musicality.
Keywords: Psycholoanalysis; Baby; Musicality.
Escutando com atenção essa sentença, “Quem canta seus males espanta”
(CERVANTES, 2012, l. 3450), podemos entender o quanto a música nos é apresentada como
terapêutica. A música, enquanto voz e ritmo, pode curar.
Estamos aqui diante de uma construção singular, que considera a clínica psicanalítica
de bebês e seus pais, uma clínica atual, em construção permanente. A cada descoberta sobre os
saberes do bebê, a cada caso clínico atendido, vemos nossa clínica em mutação constante,
nossos olhares se redirecionando. Consideramo-nos fazendo história diante de nossas apostas.
A música, que a muitos encanta, vem aqui fazer parceria neste desenvolvimento ao redor
do bebê. Como uma construção inacabada, não falamos do lugar das certezas, dos saberes
prévios, nem das teorias prontas ou das referências eficazes. Sustentamos o lugar do não-saber
e por isso mesmo podemos relançar nosso desejo de saber. Um saber faltoso, mas nem por isso
menos relevante ou rigoroso.
Pedimos licença aos teóricos da música para tentarmos fazer uma valsa.
Primeiro Movimento
Um bebê de poucos meses de idade, entre seus dois e quatro, mais precisamente, escapa
aos olhos da mãe insistentemente. Mama no peito, mas não se nutre do que vai para além do
seio, ou seja, do corpo, do olhar e da voz deste adulto a ele disponível. Sabemos a partir do
Protocolo-Olliac (2017), que este bebê sofre.
Este bebê precisa de ajuda devido a este sofrimento e nossa intervenção propõe escutá-
lo enquanto um sujeito e assim sendo, tomá-lo enquanto responsável por si, em conjunto com
seus cuidadores. Consideramos todos os bebês enquanto sujeitos, mesmo que ainda não tenham
proficiência no uso de uma língua. Como nos mostra Parlato-Oliveira em seu livro Saberes do
bebê (2019), ainda conhecemos uma porcentagem ínfima das competências do bebê,
considerando as capacidades que ele, de fato, possui. Desta forma, destacamos as capacidades
enquanto inumeráveis, por não sabermos sobre todas as competências de um bebê, intra útero
ou após o nascimento, por mais que as pesquisas sobre o tema estejam crescendo e se
modernizando, como nos demonstra Busnel (2019) através de seu trabalho de pesquisa com os
bebês apresentado em sua entrevista mais recente. Alguns autores, como nos lembram Carneiro
e Parizzi (2011), consideram que haveria uma disponibilidade inata entre bebês e seus pais para
se comunicarem, e que essa comunicação pode ser feita por gestos (motor ou sonoro) ou através
do corpo. É o que chamaríamos, segundo Parizzi (2011) descreve de “musicalidade
comunicativa”. Trevarthen (2019) descreve a intencionalidade comunicativa do bebê desde
muito cedo, com horas de vida extra-uterina, que nos aponta para a possibilidade do bebê de
além de responder às nossas propostas, nos provocar a partilhar com ele, como nos mostra o
trabalho de Nagy e Molnar (2004).
Contudo, nem todos os bebês utilizam desta ‘disponibilidade’ por questões psíquicas
próprias, mesmo diante da “parentalidade intuitiva” (2011) quando vemos neste adulto
responsável e disponível uma “habilidade (...) para proteger, alimentar, estimular e ensinar as
características de uma dada cultura (...)” (2011). É o que vemos neste caso, onde mesmo tendo
a possibilidade ‘inata’ e o investimento materno, o bebê se fecha para a relação.
Percebendo que a mãe se apresenta fragilizada pela recusa de contato de seu bebê, a
analista, neste momento, ‘empresta’ sua voz a ela e cantarola.
Parizzi (2011, p. 49) nos fala sobre a capacidade da música em “evocar estados
emocionais, de provocar reações motoras e alterações fisiológicas e de promover modificações
cognitivas”, ao que acrescentamos viabilizar modificações psíquicas. A analista, sabendo disso,
utiliza de elementos musicais para alcançar este bebê. Não são canções de ninar, aprendidas
durante a vida para esta função, com letra e entonação pré-determinadas. Muito além de
palavras articuladas, a analista produz uma melodia que envolve o bebê, ao utilizar de
“alterações de timbre, altura e contornos melódicos; mudanças de intensidade e de acentuação;
padrões temporais e rítmicos específicos” (CARNEIRO e PARIZZI, 2011).
Sabemos, enquanto psicanalistas, que as escolhas destas melodias não são aleatórias,
que o inconsciente se faz presente nestas escolhas: algo do savoir-faire do analista.
O bebê, mamando, olha a analista. Momento inaugural. A melodia criada pela analista
faz efeito de inscrição psíquica para este bebê. Somente à posteriori a analista o percebe desta
forma. Assim, esse momento surge para a analista enquanto um ‘ato analítico’. O ato analítico
se caracteriza por ser um ato realizado em análise e reconhecido a partir dos efeitos produzidos
no sujeito (bebê, criança ou adulto). Ao cantarolar, a analista não sabia do efeito de inscrição
realizado para este bebê, mas aposta nisto, a todo instante.
A voz da analista é calma e firme, passando pela “musicalidade intuitiva”. Não há
preocupação nela: não há letra certa, nem afinação esperada, não há angústia, nem outro que a
julgue. Há somente a aposta de que o bebê será capturado pela voz, pois sabe-se que a voz é
capaz de fazer isso e assim algo da dimensão da inscrição psíquica ocorra. Os estudos sobre a
música e sua relação com o desenvolvimento humano também dizem disso:
De repente, a voz cessa; desta vez para além do intervalo entre as presenças. O bebê
sabe disso, pois calcula facilmente o ritmo musical, uma vez em que são dotados de uma
“competência musical” aguçada em relação aos outros aspectos do desenvolvimento (PARIZZI,
2011). Ele conclui, então, que acabou a brincadeira musical.
O que eu posso fazer? deve pensar o bebê, pois um prazer havia sido despertado pela
melodia, através da voz-ritmo nesta musicalidade que não mais se faz presente.
Colocar no bebê uma intencionalidade de percepção, cognição, pensamento e intenção
é, para nós psicanalistas de bebês, considerá-lo um sujeito, uma vez que não há como utilizar
destes recursos se uma estruturação psíquica não se fizer presente.
Houve uma inscrição psíquica de uma percepção prazerosa, não atravessada pela
angústia. O bebê se pergunta, nos pergunta: ‘Onde está Isso’? A falta se faz notar.
O bebê decide, enquanto sujeito que é, querer novamente aquela relação prazerosa com
o outro disponível. Olha para a analista, abre e movimenta a boca: canta ainda sem sair a voz.
A analista, atenta, percebe o chamado vindo do bebê e faz da falta inscrita no psiquismo um
ponto de relançamento que chamamos desejo. A analista volta a cantar, encantada, pela
decisão do bebê de convocação.
Destas vivências prazerosas, o bebê armazenará memórias sonoras, mas também a
mímica facial do semelhante na relação e isso poderá ativar a vontade do bebê de se comunicar,
como nos diz Carneiro e Parizzi (2011). Desde muito cedo, o bebê é capaz de perceber e imitar
o semelhante (NAGY, 2013). Os bebês não são somente capazes de imitar o semelhante, mas
também de provocar o outro a retomar o movimento, o que consideramos ser um jogo
interelacional. Consideramos que este bebê ao abrir a boca e ao movimentá-la, mesmo sem
ainda sair a voz, faz este mecanismo de provocação.
A analista canta como antes, voz e ritmo, presença e ausência. O bebê se faz capturar na
sua dimensão desejosa: falta e desejo.
Um tempo decisivo foi inscrito neste movimento no qual o bebê decide provocar o outro
a partir da falta. Dizemos que o bebê deu uma volta completa no circuito pulsional. A
formulação inicial freudiana (FREUD, 1915) sobre a pulsão elege os objetos primordiais: seio,
fezes e falo. Lacan (1998) acrescenta, a esses, outros dois objetos pulsionais, a voz e o olhar.
Estudiosos atuais acrescentam, ainda, a esta série de objetos alguns outros como o tátil
(COUVERT, 2018). Tomando a pulsão invocante (voz), o circuito pulsional seria o bebê “ser
escutado, escutar, se fazer escutar” (VIVES, 2014). Aos polos passivo e ativo na posição do
bebê é necessário que o se fazer (LAZNIK, 2013, p. 29) se apresente: o bebê se fazer chamar,
se fazer ser visto, se fazer escutar, se fazer ser tocado etc. Somente a partir deste giro completo
através dos três tempos da pulsão (ativo, passivo, reflexivo) é que podemos dizer de um
fisgamento do sujeito.
O bebê, e todos nós que já fomos bebês e trazemos a falta enquanto uma marca de
inscrição psíquica, buscamos parte desta satisfação sem poder novamente alcançá-la de forma
idêntica, mas sempre podendo tentar alcançá-la, ou seja, relançar. Ninguém se banha no mesmo
rio, pois nem o rio é o mesmo, nem o homem é o mesmo homem, nos diz Heráclito.
Parafraseando-o, ‘nenhum prazer será o mesmo, pois nem a voz será a mesma, nem o sujeito
será o mesmo’, mas sempre poderemos tentar alcançar algum ponto de satisfação a partir desta
satisfação parcial.
Segundo movimento
A clínica psicanalítica com bebês e crianças pequenas nos mostra a relevância da música
na intervenção. Diante do bebê que sofre e nos mostra isso de várias formas - através do choro,
das alterações do sono, da alteração alimentar, dos modos de olhar, do arrancar os cabelos, da
não entrada na fala, entre outros, podemos entender que há um sofrimento.
A musicalidade na voz traz inúmeras dimensões psíquicas: a falta, a presença e a
ausência, o ritmo.
Quando pensamos na musicalidade e na sua relação com o tratamento psicanalítico de
bebês que apresentam sinais de sofrimento psíquico e seus pais, temos na intervenção um ponto
de presença e ausência. Existe um instante de Há e um de Não Há, como nos fala Didier-Weill
(2012,). A presença do som com ritmo para além do barulho inicial que habita o mundo, se vê
entrecortado pela ausência do som. Som e silêncio em um baile que faz com que somente exista
um diante do outro. “Não existiria som se não houvesse o silêncio; não haveria luz se não fosse
a escuridão (...)” (Lulu Santos & Nelson Motta).
É exatamente esse movimento de Há e de Não Há que possibilita que o silêncio
entrecorte o som fazendo-o presença e que essa presença possibilite que haja silêncio, diante
do instante de ausência do som. Diante desse movimento de presença e ausência surge a
expectativa de retorno, ou seja, do desejo da presença-ausência – o relançar.
A partir dessa presença-ausência em seu movimento ondulatório, estabelece-se um
ritmo, uma marcação. Os bebês têm capacidade de perceber os ritmos, suas mudanças e tão
logo, são aptos a movimentar o corpo, o colocam nestes ritmos a ele apresentados. Carneiro e
Parizzi (2011) nos dizem que os bebês executam movimentos de rosto, cabeça e membros
Terceiro movimento
Movimento Final
Referências
LAZNIK, M. C. A voz como primeiro objeto da pulsão oral. Estilos da Clínica: Revista sobre
a infância com problemas, ano 5, n. 8, IPUSP, São Paulo, p. 80-93, 2000.
MACÊNA, R. Para além do que se vê - O desejo do analista na clínica com autistas. In:
GRÎPHOS, Escola Freudiana de Belo Horizonte/iepsi. Belo Horizonte, n. 23, junho, 2010.
NAGY, E. & MOLNAR, P. Homo imitans or homo provocans? Human imprinting model of
neonatal imitation. Infant Behavior & Development, v. 27, n. 1, p. 53-63, 2004.
http://doi.org/10.1016/j.infbeh.2003.-6.004.
OLLIAC, B.; CRESPIN G.; LAZNIC M.C.; CHERIF IDRISSI EL GANOUI, O.;
SARRADET, J-L.; BAUDY, C. et al. Infant and dyadic assessment in early community-based
screening for autism spectrum disorder with the PREAUT grid. PLoS ONE, v. 12, n. 12, p.
e0188831, 2017.
PARLATO-OLIVEIRA, E; SZEJER, M (ORG). Marie Claire Busnel: uma vida dedicada aos
bebês. In: O bebê e os desafios da cultura. São Paulo: Instituto Langage, 2019, p. 13-28.
TREVARTHEN. C.; AITKEN, K. J & GRATIER, M. O bebê nosso professor. São Paulo:
Instituto Langage, 2019.
Abstract. The present work come to publicize actions related to teaching, research and
extension project that connects issues related to music, babies between zero and twenty-four
months and interdisciplinary dialogue with education and health professionals, promoting
professional training and articulating music education actions as a strategy of approach and
1
Coordenadora do Projeto.
2
Pedagoga e acadêmica da graduação em Educação Especial. Bolsista PROLICEN/UFSM.
3
Acadêmica da graduação em Fonoaudiologia. Bolsista FIEN/UFSM.
intervention with a group of babies, preterm and term, with and without psychic risk and / or
development, and their families. The music education proposal is inspired by the pedagogical-
musical perspective of Esther Beyer (2005), which proposed weekly musical meetings between
babies and their families, with duration of fifty minutes each, respecting a basic routine.
Methodologically, it is based on action-intervention between babies and their families,
indicating a promising path coupled with low cost. Considering these, among other factors, it
was noted that music education is adequate, as a way of reaching family members, as
investment in work easily incorporated by other professionals and the possibility of targeted
work in early childhood education institutions and attention to small children in health care
settings. The insertion of these babies and their families in interdisciplinary qualitative and
quantitative research has been shown to be potent for their development. Especially, the project
aims to legitimize the character of interdiscipline for the initial and continuing training of
teachers, aiming to bring together academics and professionals from different training areas,
who work with babies and very young children, in joint actions that bet on music education as
a form of intervention in a positive and effective time, with the advantage of not being
characterized, for the cases of babies at risk, as a traditional therapy, which, oftentimes, it does
not show family members' adherence.
Keywords. Music Education; Babies; Professional Training; Early Intervention.
Introdução
Metodologia
Resultados esperados
Considerações Finais
Referências
AMBRÓS, T., CORREA, A., OLIVEIRA, L. & SOUZA, A.P. A musicalização como
intervenção precoce junto a bebê com risco psíquico e seus familiares. Rev. Latinoam.
Psicopat. Fund., São Paulo, v. 20, n. 3, p. 560-578, 2017.
BEYER, Esther S. W. Cante, bebê, que eu estou ouvindo: do surgimento do balbucio musical.
In: BEYER, Esther Org. O som e a criatividade: dimensões da experiência musical. Santa
Maria: UFSM, 2005.
CORREA, M. J. Educar na Creche: Uma prática construída com bebês e para os bebês.
Editora Mediação Distribuidora e Livraria Ltda. Porto Alegre, RS. 2016.
LAZNIK, M. C. A hora e a vez do bebê. São Paulo, SP: Instituto Langage, 2013.
Tiago Madalozzo
Universidade Estadual do Paraná – campus de Curitiba II
tiago.madalozzo@unespar.edu.br
Resumo: Esta pesquisa trata da prática e da reflexão sobre a educação musical infantil em
cursos de formação inicial de professores em Curitiba (PR). O objetivo é compreender o lugar
ocupado pela educação infantil na Licenciatura em Música, considerando que parece haver um
descompasso entre formação, tema de interesse e campo de atuação dos estudantes. O estudo
se dá a) pela análise de dados sobre a educação infantil como campo de atuação de egressos em
cursos de Música no Paraná (GOMES, 2016), b) pela observação da presença de conteúdos e
práticas de educação musical infantil nos projetos pedagógicos dos seis cursos de Licenciatura
em Música oferecidos na cidade, e c) e por meio da investigação de temas emergentes em relatos
de estudantes sobre disciplinas de Educação Musical Infantil de que participaram nos anos de
2017 e de 2019. Ao final, reavalia-se o lugar da educação musical infantil na Licenciatura,
apontando-se a necessidade de que as discussões e práticas pedagógicas na educação infantil
sejam incluídas de forma mais evidente no currículo da formação de professores.
Palavras-chave: Educação Musical Infantil; Ensino Superior; Formação de Professores.
Abstract: This research focus on the practices and reflection on early childhood music
education on teacher training courses in Curitiba (Paraná). The study aims to discuss how early
childhood education takes place on these courses, considering that there seems to be an
imbalance between the student’s preparation, interests and professional activity. The study
provides (a) an analysis of the professional activity on early childhood education of graduates
in Music in the state of Paraná (GOMES, 2016), (b) an observation of the presence of content
and practices on early childhood education in the pedagogical projects of six Music
undergraduate courses offered in Curitiba, and (c) an investigation of the emerging themes in
the records of undergraduate students that took part in Early Childhood Music Education
subjects in 2017 and 2019. By the end, the text re-examines the way early childhood music
education appears on these teacher training courses, advocating the need of including discussion
and teaching practices in early childhood education in the curriculum, in a more evident way.
Keywords: Early Childhood Music Education; Higher Education; Teacher Training.
Introdução
1
Segundo a pesquisa realizadas no portal e-Mec (2020), há ainda o curso de Licenciatura em Música – Música
Popular Brasileira da Faculdade Cesumar (UniCesumar), com status de “não iniciado”.
trata do estudo da transição do jovem de um contexto educacional para o início de sua vida
ativa (trabalho/emprego). Gomes aponta que a inserção profissional é um tema com
perspectivas complexas que configuram um processo individual, institucional e
multidimensional (justamente pelas múltiplas articulações entre processos individuais e sociais,
influenciadas por uma diversidade de fatores)2 (GOMES, 2016, p. 68-84).
A autora investigou a população de 470 egressos de cursos de Licenciatura em Música
das IES públicas do Paraná formados entre 2009 e 20143, chegando a uma amostra de 215
participantes (GOMES, 2016, p. 86-89), via survey online, o que gerou uma série de dados em
diversas dimensões – do perfil sociodemográfico e dos motivos de escolha do curso, ao percurso
formativo e à inserção profissional dos egressos. Neste texto, elabora-se um cruzamento de
dados a partir das informações encontradas por Gomes, com foco na educação infantil.
Ao analisar o espaço de atuação dos futuros licenciandos antes de entrar no curso de
graduação, o maior percentual de distribuição nas diferentes etapas da educação básica (pública
e privada) é encontrado na educação infantil, com 8,00%4 dos estudantes (GOMES, 2016, p.
140). Na atuação durante o curso de graduação, a educação infantil é igualmente o maior
percentual de menções, com 13,92% dos licenciandos atuando na rede privada de educação
(sendo ainda 3,16% atuantes na rede pública) (GOMES, 2016, p. 145).
Na atuação profissional após a conclusão do curso, nenhum dos participantes respondeu
que trabalhava em escolas da rede pública com turmas de educação infantil; no entanto, um
percentual de 42,18% dos egressos informou que atuava na educação infantil em escolas
particulares (GOMES, 2016, p. 151). Trata-se de um percentual relevante não só de forma
absoluta, mas também relativa: analisando a atuação em outros níveis e locais (ensino
fundamental, ensino médio, atividades extracurriculares), se trata do espaço com o maior
número de menções pelos pesquisados, à frente mesmo dos anos iniciais do ensino fundamental
na rede privada.
Gomes (2016, p. 152) sugere duas interpretações para estes dados: a) de que há uma
escassez de concursos públicos municipais para atuação na educação infantil no estado, o que
2
Para Gomes (2016, p. 68-84), a inserção profissional é um processo individual em função da opção do indivíduo
pelo ingresso em um trabalho, ou o estabelecimento de um projeto profissional, em um rito de passagem para a
idade adulta; e é um processo institucional porque a entrada na vida profissional é um fenômeno estruturado
socialmente, dependente das políticas e estratégias do Estado ou da entidade empregadora.
3
As instituições com cursos vigentes eram a Universidade Estadual de Londrina, a Universidade Estadual de
Maringá, a Universidade Estadual do Paraná – campi de Curitiba I e II, a Universidade Estadual de Ponta Grossa
e a Universidade Federal do Paraná.
4
Em todos os dados da pesquisa de Gomes apresentados neste texto, cabe destacar que o total percentual dos
valores originais é maior do que 100%, pois os egressos podiam escolher mais de uma alternativa em suas respostas
(GOMES, 2016, p. 113).
faz com que o espaço seja ocupado por professores unidocentes ou professores pedagogos, e b)
de que há uma clara demanda pela contratação de professores de música para atuarem na
educação infantil na rede privada.
Por outro lado, cabe um terceiro questionamento: se há demanda por profissionais
formados em música para atuação na educação infantil; ou ainda, se o trabalho com a educação
musical infantil é um projeto profissional de uma parcela tão considerável de licenciados, de
que modo a formação nas IES em Curitiba5 dá conta de suprir os conhecimentos teóricos,
práticos, e mesmo motivar os estudantes para o trabalho neste nível?
5
Enquanto o trabalho de Gomes (2016) apresenta dados sobre a inserção profissional dos egressos nas IES
paranaenses a partir da amostra global de 215 participantes nas seis instituições, em publicação posterior Diedrich
e Gomes (2019) reanalisaram os mesmos dados, desta vez observando com foco no índice de satisfação
profissional dos egressos, e considerando cada uma das seis instituições de forma separada.
estudantes dos cursos de Música oferecem aulas para a comunidade, atendendo crianças a partir
dos 6 anos (PROJETO, 2018, p. 7-8). A disciplina “Estágio Curricular Supervisionado IV”
envolve a atuação dos estudantes junto às turmas de crianças do PIEM, e o curso oferece ainda
uma disciplina optativa de “Didática de Coral Infantil”.
Já curso da Unespar – campus de Curitiba II apresenta como perfil do egresso o
profissional apto a atuar como professor de música nos diversos níveis da educação básica e em
outros espaços de ensino da música, tendo como uma das três Ênfases de Formação a de
Musicalização, que inclui o preparo para atuação com a educação infantil, com duas disciplinas
obrigatórias: “Ensino da Música na Educação Básica III”, cuja ementa privilegia
exclusivamente a educação infantil, e “Estágio Supervisionado IV”, em que os estudantes que
optam pela Ênfase de Musicalização atuam na educação infantil (PROJETO, 2017, p. 10).
O curso da UFPR tem como perfil do egresso o profissional que atua na docência na
educação básica nos diferentes níveis de ensino, destacando-se enfoque dado ao estágio
supervisionado em “diferentes situações e espaços físicos da educação infantil e de espaços
educacional extraescolares”; ainda assim, não há menção à educação infantil em nenhuma das
disciplinas e ementas (UNIVERSIDADE, 2019, p. 5;32), ainda que em entrevista informal com
docentes do curso tenha sido mencionado que a educação infantil é um dos possíveis espaços
de atuação dos estudantes nas disciplinas de “Práticas Pedagógicas I e II”.
Por fim, o curso da Uninter tem como perfil de egresso o docente atuante na educação
básica, em escolas especializadas, associações e instituições que oferecem projetos de
musicalização, ensino de instrumento, grupos corais entre outros. O curso oferece as disciplinas
obrigatórias de “Musicalização Infantil” e de “Estágio Supervisionado – Educação Básica:
educação infantil”, além das disciplinas eletivas de “Educação Infantil: historicidade e políticas
públicas” e “Educação infantil: conteúdos, tendências e metodologias” (CENTRO, 2020, p. 1-
2).
É importante ponderar que a formação mínima exigida para o trabalho com a educação
infantil, segundo a Lei nº. 9.394/1996 em seus Artigos nº. 61 e 62, é a oferecida em nível médio
na modalidade normal. Entretanto, nestes mesmos artigos estabelece-se também a formação em
nível superior, em curso de Licenciatura, como indicada para a atuação na educação básica
(BRASIL, 1996). Por esta razão, se torna viável admitir que a licenciatura ofereça subsídios
para a formação inicial do profissional interessado na educação infantil.
Durante os anos letivos de 2017 e 2019, o autor ministrou duas edições da disciplina de
Educação Musical Infantil. Em 2017 a disciplina foi oferecida no curso da UFPR, e em 2019,
na Unespar – campus de Curitiba II. Nos dois casos, a disciplina era parte dos currículos
vigentes nos cursos, com ementas semelhantes: o estudo do desenvolvimento musical infantil
e de práticas musicais na educação infantil, incluindo carga horária para observação em campo6.
Nas duas edições, foram selecionadas quatro escolas de música que oferecem aulas de
musicalização infantil em Curitiba: Academia de Músicos, Alecrim Dourado Formação
Musical, Escola de Música Mozart.som e Ziriguidum Montessori e Música7. O intuito do
contato dos licenciandos com a realidade das escolas especializadas se deu pelo fato de que as
escolas são o campo de maior atuação após a formação inicial8. Cada estudante teve a
oportunidade de visitar diferentes turmas nas escolas, observando aspectos pedagógicos e
metodológicos do trabalho com música nas aulas.
Para orientar o trabalho, entre outras referências abordadas ao longo da disciplina,
destacam-se o texto de Manuel J. Sarmento sobre os quatro eixos estruturadores das culturas da
infância: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a reiteração (SARMENTO, 2004, p.
13-18). Os estudantes foram orientados a refletir sobre o modo como estes conceitos
influenciam na compreensão do desdobramento de atividades na musicalização infantil.
6
Em 2017 estabeleceu-se também uma parceria com o Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal
de Educação de Curitiba, possibilitando aos licenciandos a visita a unidades educacionais para observarem um
período de aulas com turmas na educação infantil, buscando pontuar momentos musicais na rotina das crianças.
Ainda assim, para esta pesquisa, os dados observados se concentram nas reflexões dos estudantes sobre suas visitas
apenas nas escolas de música, nos dois períodos.
7
Os nomes das escolas são apresentados sem o anonimato para enaltecer o trabalho de qualidade em educação
musical infantil que é realizado em cada um dos casos.
8
Da mesma forma como estes estudantes optaram por cursar as disciplinas optativas, o estudo de Gomes mostra
que um considerável percentual dos licenciados estudados havia tido contato com a educação infantil como campo
de atuação no estágio supervisionado: representou 37,20% dos espaços de atuação no estágio obrigatório (mesmo
que atrás do percentual de atuação nos ensinos fundamental e médio) e 18,18% da escolha dos licenciandos em
estágios voluntários (atrás dos espaços não-formais de ensino de música, mas à frente de todos os outros níveis da
educação básica (GOMES, 2016, p. 118-119). Sobre o estágio voluntário na educação infantil, cabe destacar que
na maioria dos casos os egressos dos cursos de Música não atuam nas disciplinas de música das escolas privadas,
mas sim em escolas especializadas em música, em projetos de musicalização infantil (ou seja, pode-se inferir que
o percentual de escolha por atuar na educação infantil seja ainda mais relevante).
Em segundo lugar, trabalhou-se com o texto de Cíntia Morato e Lilia Gonçalves (2008,
p. 126-127) sobre a observação da prática pedagógico-musical, em que as autoras argumentam
que conhecer uma realidade é “mais do que traduzir o visível”, envolvendo a consciência do
observador sobre as referências da sua própria perspectiva sociocultural, que seleciona seu olhar
e direciona sua ação. Assim, os estudantes foram orientados não só a refletir sobre o contexto
que observaram a partir de uma perspectiva das crianças (tendo como orientação os conceitos
de Sarmento), mas também analisando a proposta de cada escola em pesquisas nos documentos
norteadores e em conversas com os professores. Nos memoriais de observação, 28 estudantes
registraram apontamentos que, com consentimento individual de uso para esta pesquisa, foram
resgatados e analisados, na busca de problemáticas emergentes, que são cinco:
1 Ludicidade. Os estudantes mencionaram “descontração” e “diversão” como termos-
chave em sua percepção sobre a natureza do trabalho com música na educação infantil. Fica
clara a percepção dos estudantes de que a ludicidade é um meio para se chegar à aprendizagem,
como aparece nos depoimentos abaixo. No segundo, é evidente a reflexão do estudante sobre o
uso de objetos extramusicais servindo para concretizar o entendimento de conceitos musicais:
No final das duas aulas que eu pude observar (...), eu vi que muitos saíram
cantarolando ou reproduzindo alguma frase rítmica que foram (sic) utilizadas
nas aulas, de maneira orgânica (Relato do estudante D).
Discussão e implicações
A partir da análise das reflexões dos estudantes, ficam evidentes dois percursos
reflexivos sobre a educação musical infantil: por um lado, os temas da ludicidade (espécie de
“filosofia” da musicalização), da aprendizagem (o objetivo fim deste processo) e da
Referências
CURSO Licenciatura em Música. Matriz Curricular – Currículo Pleno. Resolução nº. 18/2016
– CEPE/Unespar. Matriz Curricular 2011, 2012, 2013 e 2014. Curitiba: Unespar, 2016.
Disponível em:
<http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/a_2018/SITE_ATUALIZACAO_EM_26ABRIL2
018/MATRIZ_CEPE_2016_LICENCIATURA_EM_MUSICA.pdf>. Acesso em: 14 fev.
2021.
EMENTAS 2019 – Licenciatura em Música – UFPR. Curitiba: UFPR, 2019. Disponível em:
<http://www.sacod.ufpr.br/portal/artes/wp-content/uploads/sites/8/2018/11/Ementas-2019-
Licenciatura-Musica.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2020.
MATRIZ 2020 – Música – Licenciatura – PUCPR. Curitiba: PUCPR, 2019. Disponível em:
<https://www.pucpr.br/wp-content/uploads/2018/07/musica_eca_matrizes-2020.pdf>. Acesso
em: 14 fev. 2021.
Abstract: The present paper is an experience report and aims to present reflections from the
practice of structuring and presenting the repertoire of stories sung and narrated to babies and
young children in the shows of Cia Pé de Moleque (Belo Horizonte - Minas Gerais) and the
applicability of this repertoire in musical education processes with early childhood audiences.
The narrative experience has been part of children's lives since intrauterine life, initially
constituting immersion in a sound universe that gradually qualifies with the development of
hearing. After birth, the child is inserted in a universe of narratives, usually of a musical pattern,
through lullaby. In a confluence of meanings, song, and narration, originating from the same
spoken word, they allow children to express themselves and relate to forms of symbolic
representation and, in a playful context, to play and exercise issues that pass through the
affective, sensory-motor, social fields, cognitive and psychic. In the sung stories, the literary
text and the musical support come to rely on the narrator's body, which in its performance
action, promotes an approximation of the baby and the small child with the literary and musical
aspects that, in a hybrid of languages might constitute an aesthetic conception and a pedagogical
resource directed to early childhood. This repertoire also has anthropological-cultural, aesthetic,
and affective relevance for early childhood, constituting the first experiences of the child's
musical and literary journey.
Keywords: Early childhood; Literature for babies; Children's Song
1. Introdução
padrões do canto no que se refere à entoação. Sobre esse padrão comunicativo, Parlato (2019)
o nomeia como “manhês” e afirma que ele
2. Desenvolvimento
A canção constitui um gênero de natureza híbrida, visto que possui uma parte melódica
e outra verbal (letra), ou como localiza Santaella (2005), é o cruzamento das linguagens sonoro-
verbais (orais).
A partir da concepção teórica de Tatit sobre a semiótica da canção, Ferraz nos elucida
sobre
Nesta perspectiva, Tatit (2006) não está negando os aspectos musicais da canção, e sim,
afirmando que a origem das melodias das canções é de natureza entoativa, visto que são
naturalmente sugeridas pelas inflexões espontâneas das entoações da fala. Posteriormente
recebem tratamento musical dos músicos e arranjadores.
Portanto, apesar do ponto de convergência existente na gênese das palavras falada e
cantada
Enquanto a voz que fala é efêmera, se interessando apenas pelo que é dito,
dando forma instantânea a um conteúdo abstrato a ser apreendido para em
seguida ser descartada; a voz que canta interessa-se pela maneira de dizer,
dando periodicidade e sentido próprio às inflexões caóticas das entoações
(FERRAZ, 2011, p.1)
Girardello (2011) é uma das autoras que se debruça na pesquisa da relação entre infância
e imaginação e, em seu artigo aponta o contato com a natureza, a arte, a narrativa, o tempo e a
mediação do adulto como elementos que favorecem o desenvolvimento da imaginação da
criança. A autora afirma ainda que “Uma educação da infância que enfatize a imaginação pode
contribuir para desmanchar o preconceito dualista que em nossa cultura ainda separa
radicalmente a razão da emoção, a sensibilidade do intelecto.” (GIRARDELLO, 2011, p. 13).
Ou seja, apartar imaginação e emoção dos processos racionais tem sido questionado, inclusive
para se propor práticas pedagógicas em diferentes campos de saber onde a imaginação faça
parte dos processos de construção do conhecimento.
Sobre as narrativas (contos de tradição oral e literários), a mesma autora aponta para
suas possibilidades simbólicas, metafóricas, que nutrem a experiência da construção do
imaginário infantil, possibilitando profundas experiências emocionais e ampliação de
conhecimento de mundo.
Recorrendo ao conceito de paisagem sonora de Schafer (2011) que convoca ao estudo
dos sons dos diferentes ambientes e do que eles representam dentro da historicidade de um
determinado contexto e do que evocam de experiências subjetivas ao ouvinte, é possível, pelo
mesmo raciocínio, supor que as narrativas literárias, de tradição oral, musicais podem ser o
ponto de partida para experiências profundas com os sons e seus elementos, visto que terão
como matriz uma base de conteúdo simbólico, apropriado em uma experiência de cunho
individual (subjetivo) e coletiva (no que se refere a cultura daquela narrativa). Portanto, para
além de possibilidades de sonorização e sonoplastia comumente usadas como recurso
pedagógico, as histórias possibilitam a construção de paisagens sonoras, deslocando a criança
do lugar de mero reprodutor de sons convencionais para criador, compositor, improvisador e
protagonista de sua própria experiência musicalizadora.
Desta forma, a partir de conceitos de infância e imaginação que considerem a atuação
protagonista da criança, torna-se um desafio pensar em ações educativas e pedagógicas não
escolarizadas, com vieses funcionalistas, cuja experiência e o processo não sejam considerados
elementos privilegiados da criança na sua construção de conhecimento de si mesma e de mundo.
Nesse sentido, a imaginação configura um espaço de liberdade para a criança construir suas
hipóteses e saberes e as narrativas fomentam esse processo.
repertório. Desta forma, para a mesma oficina temos repertórios diferentes estruturados a partir
de elementos diferentes. Na experiência relatada neste trabalho, o elemento que conduziu a
escolha do repertório foi o ar. Assim sendo, escolhemos histórias, canções e brincadeiras em
que de alguma forma este elemento estivesse presente. Uma das histórias escolhidas para
compor o repertório foi “O Sabiá e a Menina”, livro escrito pela psicanalista Beth Timponi,
ilustrado pelo artista Maurizio Manzo, publicado pela Editora Crivo em 2017. A história,
livremente inspirada na canção “Sabiá lá na Gaiola”, composição de Hervé Cordovil e Mário
Vieira, apresenta a história de uma menina que tinha um sabiá de estimação.
Este empreende uma fuga da gaiola onde está aprisionado. A história discorre sobre a
ambiguidade de sentimentos vivenciados pela menina e pelo Sabiá, a partir da relação que
ambos estabelecem entre si e com o espaço.
Com o passar dos anos, esta canção foi incorporada ao cancioneiro popular infantil,
possivelmente em função dos elementos de sua narrativa que conduzem a uma identificação
das crianças com a protagonista dessa história cantada.
Segue, abaixo, a letra da canção:
Sabiá lá na gaiola
( Hervé Cordovil, Mário Vieira)
Sabiá lá na gaiola
fez um buraquinho
Voou, voou, voou, voou
E a menina que gostava
Tanto do bichinho
Chorou, chorou, chorou, chorou
Sabiá lá na gaiola...
Esta canção apresenta a história de uma menina que tinha como animal de estimação
um sabiá, que, por sua vez, vivia preso em uma gaiola. Porém, o sabiá fugiu do seu cativeiro e
foi viver e cantar em um abacateiro. A menina, entristecida com a fuga do sabiá, chorou e o
chamou. Ele, por sua vez, a consola dizendo que voltaria. Um enredo simples, que apresenta
questões cruciais vivenciadas pelas crianças. A primeira delas é o estabelecimento de uma
relação afetiva de segurança, que se dá muitas vezes, com animais domésticos que fazem parte
3. Considerações Finais
As histórias cantadas, como a que foi analisada no presente trabalho, fazem parte das
primeiras experiências de bebês e crianças com a linguagem e constituem elemento de
fundamental importância para a sua inscrição em uma determinada cultura familiar e social.
São recursos de estreitamento de vínculo e transmissão de afeto muito potentes.
Determinadas canções, como a que foi objeto de análise do presente trabalho se
constituem como verdadeiras narrativas que apresentam abertura para a ficcionalidade, conflito,
elementos, portanto, de literaridade. Apresentam, portanto, convergência de linguagens
artísticas.
Os aspectos musicais não só agregam esteticamente como acentuam aspectos da
narrativa, bem como ofertam para o bebê e/ ou criança uma experiência estética de extrema
familiaridade, a partir das suas experiências primeiras com esse repertório, os “textos escritos
na pele” que constituem o alicerce de suas vivências literárias e musicais.
A aplicabilidade desse repertório, bem como de narrativas literárias e de tradição oral,
pode constituir um interessante recurso didático nas aulas de musicalização para bebês e
crianças pequenas, visto que as histórias aproximam as pessoas e promovem potentes conexões
na experiência musicalizadora, possibilitando ao bebê e a criança a construção e expressão de
seus saberes e ao educador a legitimação desse processo.
Referências
FERRAZ, I.B. Entoação, música popular e Vanguarda Paulista. Viso: Cadernos de Estética
Aplicada, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 1, 2011.
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TATIT, L. Todos entoam: ensaios, conversas e canções. São Paulo: Publifolha, 2007, p. 6-95.
Abstract: This paper presents a experience report that describes and discuss the Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes) Child Musicalization Course implementation, also
focusing on the planning and development of project activities. Those activities were carried
out within the Programa de Educação Tutorial’s (PET) scope, by the Grupo PET Artes Música.
The project, that started at the second semester of 2019, aims to develop musical habilities and
enable human formation in early childhood, giving the academic and general community the
opportunity of free musicalization classes for children from 02 to 06 years old, as well as
expanding the knowledge of participating academics. The course was developed through
training, planning, execution and evaluation of classes. All of these steps were based on
consolidated works in the area of Child Musicalization, as well as in the Pedagogies of
Contemporary Music Education, whose theoretical and methodological approaches could be
adapted to our context. As a result, we were able to state that the classes enabled the
development of musical skills, as well as the cognitive, motor and affective development of
children. The contact with this universe, still in graduation, contributed significantly to the
human and academic formation of the members of the Grupo PET. In addition, the course also
brought the university and the children's families closer together. It is concluded, therefore, that
the implementation of this project, a pioneer in the region, overcame all challenges, adding
satisfactory results for its participants, for the responsible team, for the university and for
society.
Keywords: Child Musicalization; Degree in Music; Service to the Community.
1. Introdução
das atividades, tendo em vista que um curso neste formato é um projeto pioneiro na
universidade e na região norte de Minas Gerais.
No Brasil, as aulas de musicalização para crianças de até seis anos de idade são
oferecidas em diversos contextos educacionais, tais como escolas da Educação Básica, escolas
especializadas de música, projetos sociais, dentre outros. Segundo Penna (1990, p. 19)
“musicalizar (-se) é tornar (-se) sensível à música, de modo que, internamente a pessoa reaja,
mova-se com ela”. A autora segue explicando que essa sensibilidade é adquirida consciente ou
inconscientemente por um processo, que consideramos ser o de musicalização (PENNA, 1990).
No universo infantil, o termo musicalização ilustra um processo que, para Brito (1998)
se configura em noções básicas de música, como métrica, ritmo, tonalidade e leitura, os quais
são trabalhados de forma lúdica através de jogos musicais, prática de pequenos grupos, canções
e exercícios com movimentos.
Reforçando a importância desse processo na formação da criança, Parizzi (2011)
ressalta que a música exerce grande influência sobre o ser humano, e que esta é capaz de influir
no âmbito emocional, no motor, no fisiológico e no cognitivo da pessoa, fato este que pode ser
nitidamente observado na relação de bebês e crianças com a música e a resposta destes ao
estímulo musical. A autora ainda discorre sobre a “musicalidade comunicativa”, que segundo
ela é inata e deve ser provocada para um desenvolvimento pleno da comunicação da criança
entre outros aspectos de seu desenvolvimento (PARIZZI, 2011).
No Brasil, trabalhos como os de Broock (2013), Ilari (2014), Ilari e Broock (2017)
Santigo, Broock e Carvalho (2011) ressaltam a importância das aulas de música nos primeiros
anos da infância e no que tange ao desenvolvimento da criança tanto em questões musicais
como extramusicais. Nesse sentido, as experiências em cursos de musicalização infantil
oferecidos em universidades brasileiras também têm sido compartilhadas em trabalhos
acadêmicos. Madalozzo e Madalozzo (2013, p. 171-173) discorrem, por exemplo, sobre o
planejamento e estrutura do curso de musicalização infantil da Universidade Federal da Paraíba
(UFPR), dando sempre importância a uma construção e atuação coletiva, interligando os
objetivos, conteúdos, procedimentos, atividades extras e avaliações durante o processo.
Em sua tese de doutorado, Angelita Broock (2013) analisa os projetos de musicalização
Infantil da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade de Brasília (UnB) e
ressalta a importância de projetos dessa natureza para a formação do professor de música, bem
como para o atendimento à sociedade e a conexão entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão
na universidade.
A partir da significativa experiência no âmbito do programa de musicalização infantil
da UnB, Ricardo Freire e Sandra Freire (2018) discutem sobre planejamento na educação
musical infantil. Os (as) autores (as) afirmam que para um bom planejamento é necessário
definir critérios relacionando-os sempre com as especificidades do público-alvo, de modo que
produza parâmetros claros e direcionados, preservando e promovendo a autonomia dos
professores, em meio a um processo integrado e educativo. Dessa forma, o bom funcionamento
das aulas só é alcançado quando o processo de aprendizagem de cada turma é respeitado e há
uma dinamicidade, liberdade na atuação, coerência de propósitos e recriação em
seus planejamentos.
Além das perspectivas desses (as) autores (as) sobre música na infância, o curso de
Musicalização Infantil da Unimontes apresenta abordagens teóricas e metodológicas baseadas
nas pedagogias em Educação Musical de Émile Jaques-Dalcroze, Zontán Kodaly, John Paynter,
as quais podem ser consultadas em Mateiro e Ilari (2012), de Raymond Murray Shafer (1992),
de Violeta Gainza (1988) e de Keith Swanwick (2003). É válido ressaltar que, conforme a
necessidade, as pedagogias destes (as) educadores (as) foram adaptadas para a realidade do
curso.
monitores (as) ocorria um revezamento para que as aulas também fossem ministradas em pares,
sendo que os outros dois integrantes ficavam de apoio, tocando um instrumento e
acompanhando as atividades junto às crianças.
A quantidade de três ou quatro monitores (as) em uma turma de 12 crianças era algo
que nos preocupava, mas a ideia do revezamento foi uma experiência enriquecedora, na qual
todos (as) tiveram a oportunidade de realizar o planejamento, executar as atividades e realizar
a avaliação da aula. Além disso, tínhamos sempre a possibilidade de um dos monitores
acompanhar com mais proximidade as crianças que demandavam mais atenção.
muitas vezes, mais de um parâmetro do som era desenvolvido de forma conjunta durante as
aulas, juntamente com os outros conteúdos propostos.
As aulas eram planejadas pelos (as) monitores (as) de cada turma, com a orientação da
coordenadora do projeto, durante as reuniões semanais. Este planejamento seguia o modelo de
plano de aula, o qual se iniciava com uma música de acolhida e, posteriormente uma atividade
de alongamento. Em seguida, executávamos uma música para a “limpeza dos ouvidos”1
utilizando de escalas musicais e logo após trabalhávamos atividades que explorassem os
conteúdos musicais especificados para determinada aula, sempre em concordância com os seus
objetivos. Para finalizar, havia um momento de relaxamento, em que as crianças se deitavam e
escutavam uma música, seguido por uma canção de despedida.
Baseado nas experiências de cursos de musicalização de outras universidades,
trabalhamos em torno de dez a doze atividades, para que a aula pudesse seguir com maior
fluidez e não ultrapassasse o tempo de 45 minutos para as turmas 1 (2 e 3 anos) e 2A e 2 B (3
e 4 anos) e 50 minutos para a turma 3 (5 e 6 anos).
O espaço onde o curso acontecia era o mesmo utilizado pela graduação. Por isso, toda
semana, as salas de aula eram adaptadas para receber as crianças. Retirávamos todas as cadeiras
e colocávamos os tapetes de EVA, para um maior conforto das crianças, organizávamos todos
os recursos didáticos que seriam utilizados e tínhamos o plano de aula impresso em mãos ou
escrito no quadro negro para maior segurança ao ministrar as aulas.
A primeira aula das quatro turmas contou com a participação dos responsáveis pelas
crianças, o que foi importante para criarmos laços com as famílias e apresentarmos um pouco
do trabalho que seria realizado ao longo do semestre. Nas aulas subsequentes os responsáveis
continuaram a participar efetivamente apenas na turma de crianças de dois a três anos. Nas
demais turmas, estes entregavam a criança na porta e esperavam o término das aulas. Em
algumas situações, eles permaneciam na sala até que a criança se sentisse segura.
O conteúdo, a metodologia, as músicas utilizadas, os recursos pedagógicos e as formas
de avaliação utilizadas nas aulas foram expostos na estrutura do plano de aula, para uma melhor
visualização e compreensão do que seria trabalhado. Vale ressaltar que o planejamento era
realizado por cada equipe de monitores (as) de forma independente, tendo a flexibilidade de
modificar o plano, ao sentirem o ritmo da turma, podendo fazer adaptações caso necessário.
1
Para Shafer, a limpeza de ouvido seria utilizar-se de exercícios que ajuda o aluno a se ouvir e selecionar os sons
do ambiente. Ativar os ouvidos a sons que não eram percebidos, trabalhando a percepção e sensibilização através
de exercícios de escutas diários (SHAFER, 1992).
Após cada aula, os (as) monitores (as) se reuniam para fazer uma avaliação geral do
planejamento e uma avaliação individual de cada criança da turma. A equipe elaborou um
relatório para o registro do desenvolvimento de cada uma delas. As observações eram discutidas
nas reuniões semanais, orientadas pela coordenadora do projeto e, a partir das conclusões
evidenciadas daquela aula, a equipe era direcionada a tomar decisões para possíveis adaptações
e/ou mudanças das aulas subsequentes. Durante essas reuniões, as experiências eram
compartilhadas e discutidas entre todo o grupo e sempre havia um retorno sobre o desempenho
pessoal de cada monitor (a) e também de cada turma.
O vínculo estabelecido com as famílias durante o semestre também foi essencial para o
bom desenvolvimento do curso. Nos momentos em que os responsáveis iam levar ou buscar as
crianças, os (as) monitores (as) apresentavam um retorno do aproveitamento da criança nas
aulas. A comunicação com estes responsáveis também era realizada através da internet, sendo
o e-mail o canal oficial, e tendo os grupos de WhatsApp como meios alternativos de mantê-los
informados sobre o curso.
Ao final do semestre realizamos uma aula aberta, cujo objetivo era compartilhar as
experiências vivenciadas durante as aulas e proporcionar um momento de interação com as
famílias.
Após uma avaliação do primeiro semestre de atividades, pudemos perceber que a
experiência dos (as) acadêmicos (as) no curso de Musicalização Infantil da Unimontes foi de
grande importância para a formação docente, especialmente no que diz respeito à atuação na
Educação Infantil. Através desta experiência, eles (as) adquiriram uma maior segurança para
fazer um planejamento bem embasado, para ministrar as aulas, superando a timidez,
melhorando a comunicação, a expressão corporal e absorvendo com mais profundidade o
conhecimento na área. É válido ressaltar que essas vivências preencheram uma lacuna no
processo formativo destes (as) estudantes, tendo em vista que o Estágio Supervisionado da
Licenciatura em Artes/Habilitação em Música da Unimontes nessa etapa de ensino prevê apenas
a observação, não dando a possibilidade, muitas vezes, de ministrarem aulas de música para
crianças.
Outro ponto importante que foi observado é que o curso de Musicalização Infantil,
oferecido de forma gratuita para crianças de dois a seis anos de idade e no modelo no qual é
apresentado, constitui-se como uma iniciativa pioneira em Montes Claros-MG e em toda a
região do norte de Minas Gerais. Além disso, através da realização de minicursos e oficinas
pela equipe do projeto essa iniciativa tem contribuído com a formação continuada com foco na
musicalização infantil.
Considerações finais
Referências
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criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.
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352p. (Série Educação Musical).
PENNA, Maura. Reavaliações e busca em musicalização. São Paulo: Edições Loyola, 1990.
PARIZZI, Maria Betânia. Reflexões sobre a educação musical na primeira infância. In:
SANTIAGO, Diana; BROOCK, Angelita; CARVALHO, Tiago. (Org.). Educação Musical
Infantil. 1 Ed. Salvador: PPGMUS UFBA, 2011, v. 1, p. 49-59.
Abstract: Considering the relationship between musical and language development, we present
a report of clinical practice, which combined strategies in Music Education and Speech Therapy
in the oral language clinic. The aim of the Music and Oral Language Project was to promote
musical experience and speech-language awareness, through the practice of singing and
musical activities. In addition, diversifying speech therapy, reducing the number of referrals to
the secondary sector and optimizing the professional's agenda. Collective, interdisciplinary and
free work provided speech therapy patients at the Basic Health Unit of Bairro Cabeceiras in
Nova Lima / MG, with musical awareness and linguistic development, in six structured
meetings. After this period, we found that the musical activities and songs enhanced the
children's musical abilities, enabled the auditory and articulatory training of the phonatory
system, as well as the development of the participants' speech-language awareness and
improvement of the clinical condition. Of these children, 80% showed improvement and 20%
regressed from two to a phonological disorder. This collective work provided the children who
participated in the project with an advance in their musical, linguistic, and socialization skills.
In the context of music education and public health, we hope to foster new experiments and
systematizations that can bring resources for interdisciplinary action to promote, prevent and
protect health.
Keywords: Music Education; Speech Therapy; Music and Oral Language.
Introdução
Metodologia
Liz, paciente de três anos de idade, apresentava alterações de linguagem, como troca de
fonemas / k / / t /. Outra questão era a dificuldade de interação entre a paciente e a fonoaudióloga
na avaliação terapêutica. Ciente do caso clínico, a educadora musical, que trabalha como técnica
de enfermagem no setor estabeleceu uma relação entre o desvio fonológico de Liz e a letra da
canção O tomate e o caqui. Sendo assim, sugeriu à fonoaudióloga uma vivência musical na
terapia. A fonoaudióloga relatou que utiliza canções em sua prática terapêutica, porém não
possuía vivência musical e não conhecia a canção sugerida.
Após aprender a canção e vivenciá-la no atendimento à Liz, a fonoaudióloga relatou que
foi bastante positiva esta experiência e que a mãe de Liz, comunicou que em casa, a criança,
não parou de cantar “O tomate e o caqui”. A partir disso, expôs o interesse em ampliar a
proposta a outras crianças que apresentavam desvios fonológicos e fonéticos, iniciando uma
intervenção conjunta que envolvesse canções e linguagem oral.
Além da educadora musical e da fonoaudióloga, participaram deste projeto duas
enfermeiras e duas Agentes Comunitárias de Saúde.
Os encontros, com duração de uma hora, aconteceram mensalmente. Estruturados em
quatro momentos. Introdução, onde foram realizadas canções de acolhida e revisão da canção
do encontro anterior. No segundo momento a fonoaudióloga realizava a instalação do fonema,
com atividades lúdicas. Posteriormente, as crianças vivenciavam a parte principal do encontro
e de automatização do fonema, a educadora musical apresentava uma nova canção, e conduzia
jogos e atividades relacionadas, concluindo com um momento de relaxamento e/ou fixação dos
fonemas e conteúdos musicais vivenciados.
O grupo iniciou com cinco pacientes, que passaram por avaliação fonoaudiológica para
identificação das alterações fonológicas e fonéticas. Por não se tratar de um grupo fechado,
outros pacientes foram encaminhados ao grupo, após avaliação.
A amostra, ainda que pequena, foi heterogenia no que se refere ao gênero, à idade e
alterações fonológicas e fonéticas. Apesar de não haver um consenso ou saber-se precisar a
idade em que ocorre a supressão dos desvios fonológicos, estudos apontam que o
desenvolvimento fonológico é parcialmente concluído aos cinco anos, podendo estender-se à
fase inicial de alfabetização, não excedendo os sete anos de idade (INDRUSIAK,
ROCKENBACH, 2012). Wertzner (2000) estudou a aquisição fonológica de crianças falantes
do português brasileiro e verificou que:
FIGURA 3 – Participantes
Das dezesseis crianças, quinze frequentam escolas municipais da rede pública de ensino
e apenas uma estuda em escola da rede privada. As crianças possuíam contato com a música no
ambiente familiar, através de rádio, televisão, celular, na igreja e em brincadeiras cantadas que
aprendem na escola. No entanto, não tinham vivência musical formal continuada na escola de
rede regular ou especializada em música. Esses dados foram obtidos em entrevistas não
estruturadas com pais e responsáveis pelas crianças, que no primeiro encontro participaram de
uma reunião, a fim de conhecerem os objetivos do projeto e assinatura do termo de
consentimento que permitia a participação da criança e o uso de imagem.
A escolha do repertório se deu a partir das alterações fonológicas e fonéticas
apresentadas pelos pacientes. Identificou-se a possibilidade de desenvolver um trabalho com
base em algumas canções do livro Maravilhamento (2018) idealizado por Carlos Nadalin,
mestre em educação; Fernando Capovilla, psicólogo, mestre em Psicologia da Aprendizagem e
do Desenvolvimento da UnB e consultor em neurociência da educação; Francisco Marques,
poeta, contador de histórias e arte-educador e Estevão Marques, músico, compositor, educador
musical, pesquisador e autor de livros que envolvem música, dança e literatura. Além da
exploração deste material e de outras canções, as atividades musicais foram planejadas pela
educadora musical, especificamente para alcançar o objetivo do grupo.
O registro e coleta de dados ocorreram mediante a filmagem dos encontros em tempo
integral, através de uma câmera fixa com captação sonora. O propósito deste método foi
observar comportamentos individuais e coletivos, resposta musical e fonoaudiológica dos
participantes. O aparelho celular dos envolvidos no projeto também foi uma ferramenta de
registro, fornecendo fotos e filmagens com duração média de dois a cinco minutos. Além disso,
os dados foram coletados em entrevistas realizadas com os pais, não estruturadas, depoimentos
V Apresentação do trem e
V Domínio Público:
os possíveis sons que ele
Pulsação. Versão Patinho Tuga.
tem.
V Andamento. Disponível em:
V e VI Cantar as canções
O trem Intensidade. https://www.youtube.co
realizando em fila o
maluco Movimento m/watch?v=r9DUytNM
2º Encontro: movimento do trem com
VI estruturado ROA
variações de andamento e
Fumaça (em roda e em VI Estevão Marques:
intensidade. Explorar o
Ivlelfl VII fila). Linha, agulha, costura:
espaço.
O Vento e a Movimento canção, brincadeira,
VII Momento de
brisa sonoro. leitura. 2017. Faixa 12
relaxamento, sentados em
(Refrão) Expressão VII Estevão Marques,
roda, com lenços nas mãos
corporal. Maravilhamento, 2018
realizar o movimento
Faixa 5.
sonoro da melodia.
VIII Aprender por imitação
a canção. O grupo dividido
em abelha e serpente cantar
a canção com a
movimentação corporal
VIII característica do animal VIII Estevão Marques,
Consciência
A Abelha e a representado. Maravilhamento, 2018.
3º Encontro: vocal. Forma.
Serpente IX Contar a história da Faixa 3.
lslelzl Percepção e
IX canção e brincar semelhante IX Lea Diamond
escuta ativa.
A Abelhinha a “cabra cega”. Escolha (GUIA, 2011, p. 112)
duas crianças, uma delas
reproduzirá o som da abelha
zzzz para que a outra de
olhos vedados a encontre no
espaço.
X Apresentar o tomate e o
caqui com figuras
impressas. Cantar a canção
repetidas vezes, com
ostinato rítmico em dupla X Grupo Triii.
batendo as mãos. Ensinar a Disponível em:
movimentação https://www.youtube.co
Ação
X correspondente m/watch?v=Hew4Cywa
Combinada.
O tomate e o gradativamente. PgE
4º Encontro: Ostinato
caqui XI Cantar lentamente a XI Kitty Driemeyer:
lkle ltl Adensamento
XI canção. Bater palmas no Conversa de Bicho,
e Rarefação.
Pipoca ritmo real. Simular que 2004. Disponível em:
Ritmo real.
cada criança é uma pipoca https://www.youtube.co
que vai estourando a m/watch?v=cEr8V7YaS
medida canção vai rU
terminando. Estimular a
reproduzir o som da pipoca.
Se possível fazer pipoca
com as crianças.
XII Dizer a parlenda
contando uma história.
XII
Repetir com alturas
Parlenda: O
5º Encontro: diferentes, para as crianças Arpejo XII Domínio Público
rato roeu a
cantarem. Memória. XIII Estevão Marques,
roupa do Rei
XIII Canção Maravilhamento, 2018.
/ r / e / rr / de Roma.
Introduzir o texto da canção acumulativa. Faixa 2
XIII
com uma história. Cantar
Monstrolino
para as crianças realizando
a movimentação e dançar.
Neste trecho do áudio é possível concluir que o aprendizado musical não deixou de
acontecer pelo fato da criança não participar de algumas atividades. Identifico três pontos
significativos, que apontam a eficácia da vivência realizada no segundo encontro: a) habilidades
de liderança e organização; b) desenvolvimento da linguagem e melhora clínica; c) a prática do
canto, expressão e memória musical.
Habilidades de liderança e organização são fundamentais para o músico no fazer
musical e peculiaridades de um “regente”. No áudio, Liz, organizou a fila para fazer o trem,
separou meninos e meninas, instruiu os pais e a irmã sobre a movimentação a ser feita, cantou
e incentivou a prática do canto. Nesta ação identifico outros processos cognitivos resultantes da
prática musical vivenciada e incentivada, no encontro como: imitação, assimilação, distinção
de gênero, ordem, coordenação e gerenciamento.
Percebemos a melhora clínica de Liz, quando foram pronunciadas corretamente as
palavras: “aqui” e “vuco vuco”. Considerando o desvio fonológico da paciente. Não sabemos
precisar o momento em que ela compreendeu estes sons e passou a executá-los corretamente,
mas a mãe afirma que foi após vivenciar a música “O Tomate e o caqui”. No áudio, ao cantar,
Liz apresentou qualidade vocal e precisão rítmica. Através da execução percebemos o potencial
da memória musical da criança. A canção foi aprendida de ouvido e memorizada: texto, frase
melódica e ritmo. Embora a realização melódica não atingisse as alturas de forma precisa,
percebemos um sentido no contorno melódico. Com isso afirmamos que ela assimilou,
processou, memorizou, reproduziu e ensinou o material musical vivenciado. Sobreira (2003, p.
65-67) afirma que o ambiente familiar pode ser responsável pelo tipo de memória musical, por
meio de eventos em que a criança e os pais têm a oportunidade de cantar, aprender novas
melodias e ouvir música com frequência. Liz desde a gestação está exposta a estes eventos, em
função da vivência musical de sua mãe.
Desde que iniciou sua fala, trocava algumas letras, muito tímida, pouco
socializava, ficava super-retraída na minha presença, quase não fazia
atividades quando eu estava perto, mas muito faladeira dentro de casa. Com
Resultados
Alan Merriam, de acordo com suas concepções, categorizou dez funções da música na
sociedade (MERRIAM, 1964 apud HUMMES, 2004). Identificamos que as funções de
expressão emocional e contribuição para integração da sociedade estiveram explicitas no
desenvolvimento dos pacientes durante o projeto. Evidenciamos isso a partir da mudança de
comportamento dos pacientes no atendimento terapêutico individual com a fonoaudióloga e na
participação ativa nos encontros.
Conclusão
Referências
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Monique Traverzim
Instituto de Artes da UNESP e UNIFACCAMP
monique.traverzim@unesp.br
Resumo: O presente artigo apresenta um Projeto de Pesquisa que tem por objetivo investigar
como o bebê se relaciona com a música, quais são os modos e as características do seu fazer
musical, na interação com o adulto, com outros bebês e com o ambiente de maneira a
experimentar e conhecer suas capacidades – de produzir sons e percebê-los. Esse trabalho tem
por fundamento a Teoria de Aprendizagem Musical de Edwin E. Gordon, os Métodos Ativos
em Educação Musical e a Psicologia da Música. A metodologia proposta é a investigação
qualitativa com Observação Participante. Serão desenvolvidos Encontros de musicalização para
a coleta de dados e estes serão interpretados e analisados por meio de sua categorização e
utilização da Escala de Bem-estar e Envolvimento de Ferre Laevers. Para a elaboração das
experiências com música, sonoridades e movimentos que os bebês irão vivenciar, será
respeitada a evolução psicológica da criança e seu desenvolvimento, fundamentando-se nas
teorias de Henri Wallon e Lev Semionovitch Vigotski. O locus da pesquisa será uma creche
municipal localizada na cidade de Jundiaí, SP. Haverá estagiários provenientes do Centro
Universitário Campo Limpo Paulista, que poderão se beneficiar, durante sua formação de
educadores musicais, com a oportunidade de acompanhar de perto a proposta e a ação dos
bebês. Espera-se que ao participar dos Encontros de musicalização, os bebês tenham a
oportunidade de construir seu próprio discurso musical, desenvolvendo seu potencial musical
e suas habilidades cognitivas, motoras, emocionais, afetivas e sociais, de modo que possam
sentir-se felizes ao se relacionarem com a música, os indivíduos e os artefatos de seu meio.
Palavras-chave: Música na Primeira Infância; Musicalização de Bebês; Aprendizagem
Musical.
Abstract: This article presents a Research Project that aims to investigate how the baby relates
to music, what are the modes and characteristics of his musical activity, in the interaction with
the adult, with other babies and with the environment in order to experience and know their
abilities - to produce sounds and perceive them. This work is based on the Theory of Music
Learning by Edwin E. Gordon, the Active Methods in Music Education and the Psychology of
Music. The proposed methodology is qualitative research with Participant Observation.
Musicalization meetings will be developed for data collection and these will be interpreted and
analyzed through their categorization and use of the Ferre Laevers Wellbeing and Involvement
Scale. For the elaboration of experiences with music, sounds and movements, which babies will
experience, the child's psychological evolution and development will be respected, based on
the theories of Henri Wallon and Lev Semionovitch Vigotski. The locus of the research will be
a municipal day care center located in the city of Jundiaí, SP. There will be interns from Centro
Universitário Campo Limpo Paulista, who will benefit, during their training as music educators,
with the opportunity to closely monitor the babies' proposal and action. It is expected that when
participating in the Musical Encounters, babies will have the opportunity to build their own
musical discourse, developing their musical potential and their cognitive, motor, emotional,
affective and social skills, so that they can feel happy when relate to music, individuals and
artifacts in their environment.
Keywords: Early Childhood Music; Musicalization of Babies; Musical Learning.
Introdução
vivências que proporcionarão ao bebê um fazer musical significativo. Para tanto, é necessário
esclarecer que a música é entendida como uma linguagem pré-reflexiva, acessível a qualquer
pessoa, como síntese do fazer, jogar e pensar, considerando que se aprende a falar, antes mesmo
de se aprender a gramática da língua (FONTERRADA, 1991, p. 128).
Neste contexto, o bebê estará em contato com seu próprio corpo, com o adulto, com
instrumentos musicais, com outros objetos e com o evento sonoro propriamente dito, em
consonância com a teoria da psicogênese, de Wallon, que afirma que o bebê se relaciona com
o meio por duas vias: o meio humano e o meio físico. “A psicogênese do homem está ligada a
dois tipos de condições, umas orgânicas, outras relativas ao meio de que a criança recebe os
motivos das suas reações” (WALLON, 1980, p. 59).
A partir do exposto, pretende-se mostrar de que maneira foi construído este Projeto de
Pesquisa, no qual se espera poder ajudar a esclarecer a relação da criança com a música e como
isso afeta o seu desenvolvimento integral – cognitivo, motor, afetivo, emocional e social.
O Projeto
O local para a realização das aulas de música foi escolhido pela aproximação da
Pesquisadora com a Diretora da EMEB, pois ambas atuam como docente na UNIFACCAMP,
e pelo interesse dessa Diretora em que a Pesquisa fosse realizada com “seus bebês”, o que foi
externado durante uma conversa informal. Além disso, o fato de a escola estar em uma região
próxima da localidade de moradia dos alunos estagiários.
Nas aulas de música com bebês, é importante a presença de um adulto, que pode ser a
mãe, o pai, um cuidador ou um parente, ou ainda, no caso da creche, o adulto que cuida, educa
e acompanha o desenvolvimento da criança durante o período letivo. Isso se dá pelo fato de as
características de maturação e desenvolvimento dos bebês gerarem necessidades e
possibilidades específicas para cada idade em que eles se encontram, tornando-se indispensável
o acompanhamento de adultos que os atendam individualmente.
Como Metodologia para a elaboração e desenvolvimento da Pesquisa, foi escolhida a
Investigação qualitativa de observação participante, pelo fato de suas características estarem de
acordo com a proposta de se estudar o desenvolvimento musical da criança, em relação ao
contexto em que ela está inserida. Destacam-se algumas das características desse tipo de
metodologia: na investigação qualitativa, os dados são coletados em seu ambiente natural e o
pesquisador é seu principal instrumento (BOGDAN e BIKLEN, 1994).
O investigador qualitativo frequenta os locais de estudo por se preocupar com o
contexto, e estar ciente de que independentemente da técnica utilizada na coleta de dados, “o
comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que ocorre”
(ibidem, p. 48); além de estar atento ao processo e não, simplesmente, aos resultados (ibidem).
De acordo com Richardson (2012), a observação revela-se indispensável em qualquer
processo de pesquisa científica, por possibilitar a união de várias técnicas de coletas de dados.
Para esta Pesquisa, optou-se por utilizar, além da observação participante, a entrevista e a
gravação de vídeos.
Na observação participante, o observador se coloca no mesmo nível e posição dos outros
elementos humanos que constituem o fenômeno a ser estudado, ao invés de se comportar como
espectador, dispondo de melhores condições para “compreender os hábitos, atitudes, interesses,
relações pessoais e características da vida diária da comunidade do que o observador não
participante” (Ibidem, p. 261).
A entrevista semiestruturada será utilizada com as professoras de classe e ADIs antes e
depois da participação nos Encontros de Musicalização, para saber sua percepção a respeito da
utilização da música no cotidiano da creche, bem como de seus usos e recursos para a
organização da rotina escolar e em sua relação com o bebê. Isso será feito, também, com os
alunos estagiários, acrescendo-se a questão a respeito das habilidades desenvolvidas, para
trabalhar música com os bebês.
receber apenas orientação musical informal, como preparação para o aprendizado formal
(RODRIGUES, 2000).
Compara-se essa transição àquela que se dá quando a criança vai à escola aprender a ler,
escrever e fazer operações matemáticas, após ter passado os primeiros anos de vida exercitando
esses saberes informalmente. Da mesma maneira que ela aprende a língua materna de maneira
intuitiva, nas relações com o meio circundante e os pais, faz-se necessária a preparação musical
da criança para o aprendizado das questões formais, como a leitura e a escrita musicais, além
de outros aspectos da musicalidade, a que, oportunamente, poderá ter acesso. “Por isso, Gordon
designa este período como uma fase de audiação preparatória” (Ibidem, p. 32).
Concomitantemente, a análise será feita por outro vetor, o da Psicologia, a partir da
concepção dialética de desenvolvimento de Henri Wallon e da teoria sociocultural de Lev
Semionovitch Vigotski (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010, p.198). Nestas duas teorias,
seus autores, colocam a aprendizagem em lugar de destaque, pois a vêm como mola propulsora
do desenvolvimento, proporcionando novos conhecimentos, além de um salto qualitativo no
potencial afetivo-cognitivo do indivíduo. Nessa acepção, o ensino e o educador têm papel
destacado como imprescindíveis para a evolução do sujeito e necessitam estar em constante
consonância com suas necessidades (BASTOS, 2014).
O desenvolvimento das práticas musicais, durante os Encontros de musicalização, terá
como base a filosofia dos métodos ativos (FONTERRADA, 2008) em educação musical que
surgiram no início do século XX e que colocam a criança em contato com a música como
experiência de vida.
Dentre os educadores musicais desse período, serão trabalhadas algumas propostas dos
compositores John Paynter e Murray Schafer em que se privilegia a criação e a escuta ativa, de
modo que o som passa a ser matéria-prima da música, a fim de ser explorada e transformada
(FONTERRADA, 2008).
Para nortear a ação da Pesquisadora ao conduzir os Encontros de musicalização, será
utilizado, também, o conceito de musicalidade comunicativa de Stephen Malloch e Colwyn
Trevarthen (2009). Trata-se de “um princípio de organização intrínseca e simpática de
movimentos e gestos (corporais e vocais) presentes na interação que se estabelece entre o bebê
e os que lhe estão próximos” (RODRIGUES et al., 2016, p. 24).
De acordo com os autores supracitados (2016), a comunicação humana é desenvolvida
a partir de bases de natureza musical que se estabelecem nas primeiras fases da vida do ser
humano. Portanto, a Pesquisadora pretende utilizar essa teoria na intenção de aperfeiçoar sua
comunicação com os pequenos e poder oferecer a eles um ambiente rico em músicas e sons
para usufruírem, em consonância com suas possibilidades, necessidades e interesses.
Espera-se que, ao participar dos Encontros de musicalização, os bebês possam se
relacionar plenamente com a música, eles próprios, na interação com outros bebês, adultos e
artefatos culturais de seu meio, construindo seu próprio discurso musical. Espera-se, também,
que desenvolvam seu potencial musical, de modo a afetar positivamente suas habilidades
cognitivas, motoras, emocionais, afetivas e sociais. Além disso, espera-se poder apresentar à
comunidade acadêmica e aos profissionais das escolas de educação básica, um conjunto de
experiências e materiais didático-pedagógicos acerca da musicalização de bebês, os quais
possam contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas e trabalhos com música na
primeira infância, como também, fortalecer e incrementar aqueles já existentes.
Referências
BASTOS, Alice Beatriz B. I. Wallon e Vygotsky: psicologia e educação. São Paulo: Edições
Loyola, 2014.
KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças. Cadernos
de Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Campinas: Autores Associados, n. 116, p.
41-59, julho, 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cp/n116/14398.pdf>. Acesso
em: 10 dez. 2018.
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos; FELSMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento
humano. Tradução de Carla F. M. Pinto Vercesi et all. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3.ed. 14.imp. São Paulo:
Atlas, 2012.
WALLON, Henri. Psicologia e educação da infância. Trad.: Ana Rabaça. Lisboa: Editorial
Estampa, 1980.
Resumo: O que está na base conceitual e filosófica da produção musical e artística dos
participantes do Movimiento de la Canción Infantil Latinoamericana y Caribeña, o MOCILyC?
Que temas devem ser tratados em programas de rádio para crianças? Que músicas oferecer a
elas? Neste relato, exponho programas de rádio dedicados ao público infantil, uma das
temáticas tratadas em minha tese de Doutorado a partir da qual reflito sobre o MOCILyC,
discutindo conceitos de infância, música e canção para criança.
Palavras-chave: Infância; Música para Crianças no Rádio; Canção Latino-americana e
Caribenha.
Abstract: What is in the conceptual and philosophical basis of the musical and artistic
production of those who take part in the Movimiento de la Canción Infantil Latinoamericana y
Caribeña, the MOCILyC? Which themes should appear in radio programs for children? What
music to offer them? In this work, I present radio programs made for children audience, which
is one of the subjects worked by me in my Doctorate thesis. From this subject, I examine the
MOCILyC, discussing the concepts of childhood, music and song for children.
Keywords: Childhood; Music for children on the radio; Latin-American and Caribbean song.
A Tese
Os programas de rádio
Os programas selecionados para meu estudo foram: @ Ton y Son, Con alma de niños e
Serelepe. @ Ton y Son: canciones para la infancia y alrededores é produzido e apresentado
por Julio Gullco. O programa, de aproximadamente 30 minutos, é transmitido pela Radio
Código CDMX – Radio Cultural en línea (Secretaría de Cultura del Gobierno del Distrito
Federal, Ciudad de México) – aos sábados, às 10h30 (hora local), somente pela Internet. Suas
emissões, após irem ao ar, são disponibilizadas, temporariamente, no site da rádio.
@ Ton y Son é produzido a partir de um determinado tema como: Bicicletas en
canciones; Febrero loco; Niñas en canciones; Nuestros muertitos; dentre outros; e tem duração
média de 25 minutos. Gullco tem, algumas vezes, um convidado como, por exemplo, um
compositor ou intérprete de canções dedicadas ao público infantil para as gravações de @ Ton
y Son, com quem estabelece diálogos sobre um assunto ou acerca das produções musicais desse
convidado.
Nas escutas de @ Ton y Son, deparei-me com o tema sobre a transposição da fronteira
entre México e Estados Unidos – De este lado del muro. Nesta emissão, Gullco sinaliza os
propósitos de Donald Trump, conversando com crianças que vivem ou já viveram essa realidade
e convida-as à audição de Gotitas de primavera – letra e música de Gabriel Sanvicente, do
grupo mexicano Son de la ciudad, atuante em vários eventos do MOCILyC. A canção é
interpretada por uma criança, referindo-se ao pai que parte para o outro lado do muro, a fim de
buscar uma vida melhor para a família. A criança, que tudo percebe e sente, sabe que a mãe
chora às escondidas.
Temáticas e tendências composicionais como essas demonstram um pensamento que
atualiza as reflexões de Benjamin: “[...] as crianças não constituem nenhuma comunidade
isolada, mas antes fazem parte do povo e da classe a que pertencem” (BENJAMIN, 2002, p.94).
Con alma de niños: una expedición al mundo infantil é um programa da Escuela
Musical Nueva Cultura, realizado e apresentado por Jorge Sossa e Clara Calderón, veiculado
por UN Radio – emissora da Universidad Nacional de Colombia – 98,5 FM (Bogotá). Com 60
minutos de duração, acontece aos sábados, às 7h30 (hora colombiana), podendo ser ouvido
também pela Internet, diretamente no horário ou a qualquer momento pelo site. Leva em
consideração as famílias, apresentando canções de integrantes do MOCILyC ou de outros
compositores e intérpretes que têm “[...] trabajos musicales respaldados en su calidad y
compromiso ético y estético” (CON ALMA de niños, 2014b).
Con alma de niños é concebido por meio de temáticas como: Adeus Miguel; Aventuras
desopilantes; Cantando en Guatemala; Los niños y sus derechos; Testimonios y canciones. Há
também emissões dedicadas a países e outras relativas aos eventos do MOCILyC. Os
apresentadores sempre mencionam o Movimento como uma iniciativa relevante para o
intercâmbio cultural, especialmente entre as nações latino-americanas e caribenhas,
promovendo a integração e divulgação da sua vasta e diversificada produção de canções.
Os relatos de Sossa, mencionados em Ramos (2018a), confirmam a importância dos
programas de rádio, no âmbito do Movimento, como contributos para o campo educacional e
para a divulgação do MOCILyC. No meu entender, Con alma de niños é realmente “uma
expedição”, uma viagem ao mundo infantil, apresentando canções que respeitam a sensibilidade
e a imaginação das crianças; é um verdadeiro acervo da música para a infância. Suas emissões
trazem informações e curiosidades, contextualmente, sobre o repertório apresentado, gêneros
musicais e regionalismos.
Serelepe: uma pitada de Música Infantil é coordenado por Eugênio Tadeu Pereira, e
transmitido, desde 2005, pela Rádio UFMG Educativa 104,5 FM (Belo Horizonte, Brasil). O
programa estreou com 7 minutos de duração, diariamente, pela manhã e à tarde, durante dois
anos. Passou por diferentes mudanças relativas ao formato, estabelecendo-se com cerca de 30
minutos, em dois blocos com um rápido intervalo, aos sábados e domingos, às 9h00, podendo
ser ouvido também pela Internet. Após as transmissões, determinadas emissões são
disponibilizadas na plataforma SoundCloud. Em 2020, não houve gravações no estúdio da
Rádio, devido à pandemia de Covid 19. Houve a experimentação de uma nova configuração de
programa, o rádiovídeo, que está sendo veiculado pelo canal do YouTube do Serelepe. Em 2021,
e até março de 2022, haverá uma retrospectiva dos programas já emitidos (PROJETO
SERELEPE EBA/UFMG, 2021). A atividade radiofônica está vinculada à disciplina Programa
de Rádio Serelepe, ministrada por Eugênio Tadeu, na Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG). Cada programa é, portanto, concebido em sala de aula
e gravado, normalmente, por uma dupla de alunos no estúdio da rádio.
Mediante temáticas discutidas na disciplina, emergem perguntas orientadoras para a
criação das produções radiofônicas:
Qual assunto abordar numa rádio para criança? De que forma abordar esse
assunto? O que uma criança entende do mundo em que vive? O que lhe é
próprio ouvir? O que oferecer à sua escuta? Como criar um universo infantil
dentro de um programa de rádio? (TADEU; ELLEN, 2014, p.193).
público infantil “[...] deve estar atenta a este caráter de formação mais amplo […]”. Alertam
para o fato de que “[...] as crianças tendem a gostar das músicas às quais têm acesso pela sua
família, pelos meios de comunicação (sobretudo a televisão) ou pelas influências de amigos”.
Muitas só têm a oportunidade de escutar a música que seus pais ou irmãos ouvem, “[...] uma
música feita por e para adultos; na maioria das vezes, de fácil consumo” (PEREIRA et al. 2010,
p.151).
A visão de universo infantil revelada pelo Serelepe condiz com o pensamento
benjaminiano: crianças como sujeitos participantes do contexto social e envolvidos na textura
cultural e histórica de seu tempo.
Considerações finais
Referências
ALMEIDA, Maria Berenice Simões de. Processos criativos no ensino de piano. 2014. 189 f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
@ TON Y SON; Código CDMX. Ciudad de México: Secretaría de Cultura del Gobierno del
Distrito Federal, 2020. Disponível em:
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BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. 2. ed. 2009 (1a
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Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/view/5519>.
Acesso em: 01 fev. 2020.
Resumo: Esta comunicação apresenta um trabalho que vem sendo realizado na Universidade
Federal de Pelotas e que tem como objetivo o desenvolvimento de ações pedagógicas em
educação musical. a partir da formação e ação de alunos do curso de Música – Modalidade
Licenciatura da UFPEL, voltados à infância. As ações ocorrem em projetos de extensão e
questionam as concepções que orientam as práticas em educação musical dos licenciados que
atuam na educação musical infantil bem como os processos de formação que possibilitem o
pensar sobre a atuação inclusiva. Destaca-se a educação inclusiva enquanto um princípio
educacional, cujo conceito fundamental defende a heterogeneidade na classe escolar ou neste
caso em aulas de musicalização infantil, como situação provocadora de interações entre
crianças com situações pessoais as mais diversas. É enfatizada a formação de um profissional
competente que tenha o domínio da teoria concomitante à reflexão prática com base na
experiência.
Palavras-chave: Música na Infância; Extensão; Educação Inclusiva.
Abstract: This communication presents a work that has been carried out at the University
Federal of Pelotas and which aims to develop pedagogical actions in music education. from the
training and action of students of the Music course - Modality Graduate of Music, aimed at
childhood. The actions take place in extension projects and question the conceptions that guide
the musical education practices of graduates who work in children's music education, as well
as the training processes that enable thinking about inclusive performance. Inclusive education
stands out as an educational principle, whose fundamental concept defends heterogeneity in the
school class or in this case in children's music classes, as a situation that provokes interactions
between children with the most diverse personal situations. Emphasis is given to the training of
a competent professional who has mastery of theory concomitant to practical reflection based
on experience.
Keywords: Childhood Music; Extension; Inclusive Education.
ferramenta de estudo, tornando o aprendizado tão efetivo que impacta o ambiente extensionista.
E essa vivência é proporcionada no contexto acadêmico a partir da troca de saberes entre
comunidade e universidade. Inclusive a maneira como cada uma recebe, retém e reproduz esses
estímulos. Percebemos que o entendimento de um mesmo elemento pode ser percebido de
diversas formas e que cada criança já traz elementos desse “vocabulário”. A partir disso, cabe
aos monitores perceberem e utilizarem esse vocabulário nas atividades propostas idealizando a
interação do conhecido com o inusitado. Entender as diversas formas que a criança reage aos
estímulos sonoros promove avanços na vivência musical.
Em relação ao aprendizado observamos que o aprendiz não é apenas a criança em seu
processo de musicalização, mas também dos pais e do monitor que está descobrindo como
acontece o processo de troca de conhecimento musical. Sabemos que não nascemos tábulas
rasas como afirma a teoria de John Locke, as crianças têm informações musicais que foram
adquiridas desde a gestação, a pulsação do coração da mãe, estímulos vocais dos pais e família,
tudo tem influência nesse material musical e a criança leva consigo pelo resto de sua vida. Já
nos primeiros meses de vida o bebê já consegue reconhecer contornos melódicos, mudanças
rítmicas e diferenciar consonância e dissonâncias. A exposição precoce à música além facilitar
a emergência do desenvolvimento musical, contribui para a construção de um cérebro
biologicamente mais conectado, fluido, emocionalmente competente e criativo (MUSZKAT,
2012 p. 69). Nossas aulas são planejadas nas reuniões dos projetos visando o envolvimento de
cada criança e a possibilidade de que as ideias abstratas dos conceitos musicais possam ser
trazidas para um plano de interação física e possibilitando entendimento.
elas se sentem mais seguras seguindo a um padrão. Abaixo destacamos as atividades realizadas
nas aulas:
1º momento - Saudação: a aula é iniciada com canções que inserem o nome de cada uma
das crianças nas músicas.
2º momento - Limpeza de ouvidos: com fim de separar as crianças das atividades
sonoras do cotidiano.
3º momento - Escala Musical: hora de cantar a escala com o acompanhamento
instrumental.
4º momento - Contorno Melódico: canções que evidenciam contornos melódicos
ascendentes e descendentes.
5º momento - Percussão e Cirandas Apresentação do Instrumento Musical: separamos
instrumentos da percussão infantil e instrumentos diferentes são apresentados, dançamos e
tocamos.
6º momento e 7º momentos - Relaxamento e Apreciação concentrada. Estes dois
momentos podem ocorrer juntos: relaxamento + apreciação. Busca-se guiar a atenção das
crianças para a apreciação de uma obra musical utilizamos também materiais de apoio como
lenços ou bolas plásticas.
Nos últimos momentos pedimos aos cuidadores para acalentar ou massagear as crianças
durante a audição da música de ninar.
8º momento - Canção de despedida: cantamos uma canção de despedida pois na próxima
semana nos encontraremos novamente.
A partir desse padrão de momentos estabelecemos quais canções iremos utilizar e
cantamos aquelas mesmas durante o semestre ou ano. Ocorrem mudanças ou inserção de outras
canções ou atividades a partir dos estudos e reuniões. Como participam nos projetos crianças
com TEA e outras deficiências, um dos recursos utilizados e que auxiliam na inclusão é a
História Social, conforme exemplo abaixo:
atividades estimuladoras proporciona o vínculo do bebê com seu cuidador (ILARI, 2006).
Durante seu processo de maturação, a música se insere em contextos como uma canção de
parabéns, o anúncio de um desenho animado, em eventos escolares, familiares e sociais etc. E
até mesmo como desenvolvimento integral nas atividades realizadas na escola ao guardar
brinquedos, na hora do lanche, da fila, entre outros. Mesmo em diferentes momentos a música
compõe e se consolida como um fator importante para o enriquecimento e desenvolvimento,
consolidando os bons e complexos momentos dessas histórias.
A música é um elemento que faz parte da vida da maioria das crianças e essa inserção
da música tem ocorrido de várias maneiras ao longo do tempo. O brincar esteve durante muito
tempo associado à música e as atividades de pular, correr e realizar movimentos. Essas
brincadeiras tradicionais apresentavam melodias faladas ou cantadas muitas vezes em formato
de cirandas. Foram brincadeiras que fizeram parte da infância permitindo a criança expressar
sua individualidade e interagir em grupo. Nos tempos atuais é mais difícil ver crianças
brincando na rua, em parquinhos ou até mesmo na escola. Em um mundo de tecnologia a
brincadeira ganhou outros significados e a interação com outras crianças é realizada muitas
vezes por meio de jogos eletrônicos e nem sempre pessoalmente (KISHIMOTO 2011). Assim
como o brincar está presente de outras maneiras na infância dos dias de hoje, a música também
se apresenta diversa no cotidiano da criança. Um exemplo disso é quando a música toca no
rádio do carro, nos meios utilizados atualmente como celular, nos serviços streaming de música
como youtube e spotify, nos desenhos animados, nos comércios, nos recreios das escolas, em
jogos eletrônicos ou ainda nos demais aparelhos eletrônicos que são disponibilizados às
crianças como forma de “entretenimento” mesmo na primeira infância.
Nesses processos de entretenimento das crianças, são popularizados uma série de
desenhos e músicas infantis utilizados como distração. Nos projetos de musicalização temos
intenção e um direcionamento diferente do envolvimento atual da música com a infância. Não
trabalhamos na intenção de entreter as crianças e repetir o conhecido, mas sim de estabelecer
uma relação concreta e abstrata (no que cabe à abstração) entre a criança e a música.
Se a música faz parte da construção humana e está presente no cotidiano das crianças
desde muito cedo, até antes do nascimento, partilhamos a premissa de que esta seja utilizada
como objetivos claros para com o desenvolvimento humano, social, cognitivo e musical das
crianças (MUSZKAT, 2012, p. 68).
Atualmente pensar em educação musical seja em qual contexto for também é pensar em
inclusão. A partir do ano de 1981, declarado o “Ano Internacional das Pessoas Deficientes”,
pela Organização das Nações Unidas – ONU, foram iniciadas diversas discussões a respeito da
inclusão das pessoas com deficiência nos diversos meios da sociedade, criando um novo
conceito em relação a inclusão, denominado “Paradigma de Suporte” (MEC, 2005). De acordo
com Louro (2012, p. 27),
Isso inclui, claro, o direito de ir à escola e fazer parte dela, ser parte da sociedade e ter
o direito de participar dela. Para Schambeck (2016), a partir dessas políticas de atendimento às
pessoas com deficiência no contexto educacional brasileiro, não se pode ignorar a realidade da
inclusão desses alunos no contexto da escola básica. E aqui destacamos a inclusão em outras
atividades como projetos de extensão, oficinas, escolas de música. Mas como formadores dos
futuros professores, precisamos ter consciência de que,
Fica claro que não basta o desejo de incluir alunos com deficiência em sala de aula, se
os professores que os receberão não tiverem o preparo necessário para atendê-los e devidamente
incluí-los em suas classes. Louro (2015) diz que no processo de inclusão, os principais fatores
a serem estudados são as pessoas e o modo como elas aprendem, seu desenvolvimento motor,
emocional e seus problemas de aprendizagem. Tudo isso sem esquecer é claro de estudar
música, metodologias, abordagens diferenciadas, estratégias pedagógicas e psicologia
cognitiva.
Os locais que possuem atendimentos propriamente inclusivos são poucos, por esse ser
um trabalho que necessita tempo e estudo. Nossos dois projetos trabalham com alunos autistas,
com Síndrome de Down, paralisia cerebral e típicos e partimos do pressuposto que são projetos
para crianças. A procura de pais com filhos autistas e a indicação de psicólogos, fonoaudiólogos
e outros terapeutas passamos a estruturar o trabalho na extensão a partir de algumas premissas:
educação musical, inclusão, autismo e deficiências. Assim, surgiu o Grupo de Estudos em
Educação Musical e Inclusão que passou a se dedicar ao estudo de pesquisas e trabalhos sobres
estas temáticas. Estas ações foram tomadas visto considerarmos que não bastaria apenas nosso
desejo de incluir alunos com deficiência em sala de aula, se nós professores ou ainda os futuros
professores/monitores não estivéssemos preparados para atendê-los e devidamente incluí-los
em suas aulas.
Os monitores dos projetos são todos voluntários, sendo em sua maioria alunos do Curso
de Música Licenciatura de diversos semestres, contando ainda com alunos dos Cursos de
Bacharelado em Música, Pedagogia, Licenciatura em Química, alunos do Mestrado em
Educação e ainda voluntários da comunidade. Todos precisam participar das reuniões e
treinamentos para assim atuarem e auxiliarem como apoio nas aulas. Os monitores são
responsáveis pela organização da sala de aula, limpeza, esterilização dos brinquedos e dos
instrumentos utilizados pelas crianças, recepção dos pais e cuidadores, apoio na entrega e troca
de materiais durante as atividades, e, é claro, aplicação das aulas e condução através de violão,
piano e instrumentos que tiverem domínio, bem como o desenvolvimento das atividades através
do canto.
Considerações Finais
Referências
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no primeiro ano de vida. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 7, p. 83-90, set. 2002.
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Horizonte, UFMG.
SCHAMBECK, Regina Fink. Inclusão de alunos com deficiência na sala de aula: tendências
de pesquisa e impactos na formação do professor de música. Revista da ABEM, Londrina, v.
24, n. 36, p. 23-35, jan/jun 2016.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1999.
Abstract: In the second semester of 2011, an agreement was signed between the Associação
Mineira de Reabilitação (AMR) and the Music Therapy Curse in the School of Music at
the Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Since then, the clinical care in Music
Therapy has started in that institution. The combination of these two institutions allows students
from clinical disciplines A and B and stages I and II, guided by the Program Director and Music
Therapist teacher Dr. Cybelle M. V. Loureiro, to practice directly with babies aged 0 to 3 years,
children and adolescents diagnosed with Cerebral Palsy, multiply physical disabilities and
neurological syndromes. Student participation includes: clinical care, collect of clinical data
through tests and applied footage; preparation of service plans; study seminars; data analysis
and treatment. In this work, we present the importance of the Early Stimulation Treatment
Service at AMR and the result of a case study in that service.
Keywords: Neurodevelopment; Early Stimulation; Music Therapy; AMR.
Introdução
etapas essenciais para sua formação bem como oferece atendimento musicoterapêutico aos
pacientes da referida instituição.
Os atendimentos clínicos musicoterapêuticos na AMR tiveram início no segundo
semestre de 2011 a partir de um convênio firmado com o Curso de Habilitação em
Musicoterapia da Escola da Música da UFMG. O projeto foi criado e coordenado pela
Professora Dra. Cybelle M. V. Loureiro e está firmado no Sistema de Extensão da Pró – Reitoria
de Extensão da UFMG. Visa estabelecer as condições indispensáveis para propiciar atividades
de Clínica Escola e também nos Estágios obrigatórios aos estudantes de Musicoterapia da
UFMG. Sob a orientação das professoras, Dra. Cybelle M. V. Loureiro e mais recentemente
Prof Dra. Verônica Magalhães Rosário, os alunos de Musicoterapia exercem até hoje suas
atividades nas disciplinas clínicas atuando diretamente no atendimento a bebês de 0 a 3 anos,
crianças de 4 anos a 10 anos e adolescentes em média de 11 a 17 anos.
A Musicoterapia na AMR
Estudo de caso
Uma criança que terá o nome fictício de SV com Paralisia Cerebral quadri espástica
nível II de acordo com a classificação da Função Motora Grossa (GMFcS) do sexo feminino de
um ano e onze meses, foi submetida aos atendimentos de Musicoterapia no mês de abril de
2016, numa frequência de 45 minutos por semana, durante o período de 12 sessões, porém a
criança teve muitas intercorrências durante as doze sessões comparecendo apenas em 5 sessões.
Foram realizadas uma entrevista com a mãe e uma avaliação do seu desenvolvimento através
do dois Protocolo de Musicoterapia desenvolvido para bebês entre 0 e 3 anos.
Crianças de 0 a 3 anos fazem parte do Serviço de Intervenção Precoce (SIP) da AMR.
Incluí equipe multidisciplinar de Fisioterapeuta, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional,
Psicólogo, Musicoterapia e Neurologia. O objetivo do SIP é dar ao bebê e seus familiares
atendimento precoce e atendimento longitudinal até a idade adolescente dessa criança. No
atendimento precoce mãe e filho tem atendimento específico e individual.
No nosso caso a principal queixa da mãe foi a dificuldade da criança em se separar dela
em várias situações sociais. A partir da avaliação musicoterapêutica e de acordo com os objetivos
já trabalhados nas outras terapias, alguns objetivos foram traçados especialmente para o
tratamento de musicoterapia de SV.
Objetivos Gerais
Metodologia
respostas, orientação do tempo, lugar e pessoa. A técnica TIMP tem como objetivo terapêutico a
execução dos movimentos através do ato de tocar um certo instrumento musical. A execução em
instrumentos musicais ajuda a exercitar as funções motoras finas e grossas, dando ênfase aos
movimentos funcionais de membros inferiores e superiores. A técnica PSE tem como principal
foco as atividades diárias, trabalhando os movimentos que funcionam organizados em padrões
repetitivos, facilitando assim as atividades de treinamento e aprendizagem. É uma estratégia onde
as músicas são criadas pelo terapeuta e dirigida para a percepção motora.
A coleta de dados referente ao desempenho da paciente foi realizada através de um
Protocolo do Nível de Participação que classifica de 0 a 5 a participação em cada atividade,
sendo utilizado os seguintes índices: 0 – Não Participa; 1 – Percebe, mas não participa; 2 –
Percebe, tenta participar, mas não consegue; 3 – Participa, mas não como o esperado; 4 –
Participa como o esperado; 5 – Participa e supera o esperado. O nível de participação de SV foi
coletado a cada final de sessão e plotado em um gráfico, comparando o desenvolvimento de
cada objetivo proposto no início dos atendimentos. Essa comparação foi realizada entre a
primeira e última sessão.
Resultados
No Gráfico 2 é possível observar o resultado da paciente durante cada uma das cinco
sessões realizadas. A esquerda do gráfico é referente ao nível de participação de SV nas sessões.
Na segunda sessão é possível perceber que houve uma piora em sua participação, mas isso
justifica-se pelo fato de SV ter se ausentado para realizar alguns procedimentos, o que fez com
que ela desacostumasse com os atendimentos e principalmente com os terapeutas. A partir da
terceira sessão observa-se uma linha crescente na participação de SV em cada sessão.
Discussão e Conclusão
No começo dos atendimentos SV só chorava e não ficava sem a mãe, houve uma
melhora no seu comportamento, pois ficou nas duas últimas sessões sem a mãe e não chorou.
Teve uma melhora na sua interação com os terapeutas, sorria para os mesmos e já ficava sozinha
nos atendimentos com os terapeutas. Em relação a primeira e última sessão, os valores dos
escores de acordo com os principais objetivos, tiveram uma alteração positiva, onde a criança
já conseguia principalmente permanecer na sessão sem a presença da mãe, o que auxiliou nos
demais objetivos. Foi possível observar que SV já aceitava o toque dos terapeutas e
acompanhava os instrumentos com os olhos, e quando cantava o seu nome procurava pela
terapeuta.
É necessário que o atendimento de Musicoterapia com SV tenha continuidade no SIP,
onde os objetivos sejam ainda trabalhar a vocalização, a atenção, estimular o ritmo motor dos
membros superiores direito e quando possível o controle postural utilizando o estabilizador
conforme orientação da fisioterapia.
Foi possível concluir que durante o estágio na instituição e realização dessa pesquisa a
Musicoterapia tem contribuído para um aumento de acordo com a coleta realizada através do
Protocolo do Nível de Participação nos exercícios, ficando entre 0 e 4 nas avaliações. Na coleta
mediante os construtos propostos para essa pesquisa pudemos observar que entre a primeira e
a última sessão de cada semestre, a soma das respostas adequadas as demandas em atividades
musicoterapêuticas mostraram-se significativas.
Foram realizados em média 1048 atendimentos a 50 participantes por ano. O aluno da
Musicoterapia Clínica A ou B é avaliado em cada atendimento. Seu desempenho musical e
como terapeuta são os critérios adotados. A apresentação para a equipe da instituição e o
relatório com os resultados obtidos no semestre são avaliados. O aluno no Estágio I ou Estágio
II é avaliado pela coordenadora do projeto e por um profissional da instituição. A realização de
pesquisas futuras para a Musicoterapia no SIP deveria ser intensificada.
Referências
BRAUN, Thenille; REBOUÇAS, José Thales; RANVAUD, Ronald. O ritmo e a sua relação
com som: a influência do contexto sensorial na precisão da percepção e produção de ritmo.
Opus, Revista da ANPPOM, v. 15, n. 2, 2009.
DAVIS, William B., GFELLER, Kate E.; THAUT, Michael. An Introduction to Music
Therapy Theory and Practice-Third Edition: The Music Therapy Treatment Process.
Silver Spring: Maryland, 2008.
WHEELER. Barbara L., SHULTIS, Carol L.; POLEN, Donna W. Clinical Training Guide for
the Student Music Therapist. Gilsum: Barcelona Publisher, 2005.
Abstract: Music Therapy and Speech Therapy have equivalences in the language clinic, such
as: favor the expression of the patient, presence of polysemic meanings and senses arising from
the relationship and the establishment of therapeutic objectives based on subjectivity and
listening to the patient's production. AIM: Present the existing equivalences between Speech
Therapy and Music Therapy. Specifically, we will try to report some aspects of the theoretical
framework of the clinic in Speech Therapy and Music Therapy; report clinical practice
combining strategies in the structuring of the subject. METHODOLOGY: It is an experience
report evidencing aspects related to the theory of Music Therapy and Speech Therapy, and
presentation of clippings of clinical practice. CONCLUSION: The combination of these
foundations in the language clinic facilitates the process of the individual to reveal himself in
verbal and / or musical language.
Keywords: Music Therapy; Speech Therapy; Clinic Language.
Introdução
As reflexões a seguir tem como base fundamental a minha prática clínica como
musicoterapeuta e fonoaudióloga atuando, principalmente, na clínica de linguagem com
crianças cujas idades variam entre 1 e 7 anos. Muitas crianças atendidas apresentam atraso de
linguagem e o principal objetivo é supor um falante onde não há e, para tanto, estabelece-se
uma interação capaz de interpretar os gestos (articulatórios, corporais, não verbais) como
possíveis de serem vinculados a um texto (musical e/ou verbal).
Nesta prática percebo algumas equivalências entre as áreas de Musicoterapia e
Fonoaudiologia, dentre elas: favorecer a expressão do paciente (circular no discurso
verbalizado ou cantado/tocado), observar a presença de significados polissêmicos e sentidos
advindos da relação, e estabelecer objetivos terapêuticos a partir da subjetividade e da escuta
da produção do paciente.
O objetivo principal deste estudo é apresentar as equivalências existentes entre
Musicoterapia e Fonoaudiologia na clínica de linguagem. Especificamente procurar-se-á relatar
alguns aspectos do referencial teórico da clínica em Musicoterapia e Fonoaudiologia; relatar
prática clínica conjugando estratégias em Musicoterapia e Fonoaudiologia na estruturação do
sujeito; promover reflexão acerca da utilização de estratégias musicoterapêuticas e
fonoaudiológicas na clínica de linguagem e contribuir para o avanço do estudo dos aspectos
relacionados à clínica de linguagem junto às áreas de Musicoterapia e Fonoaudiologia.
Metodologia
Referencial Teórico
Na minha prática clínica utilizo muito o recurso do paralelismo, que são orações que se
apresentam com a mesma estrutura sintática externa, que tenham relação de equivalência, por
semelhança ou por contraste, entre dois ou mais elementos. Em poesia, é o termo que designa
a correspondência rítmica, sintática e semântica entre estruturas frásicas (FREITAS; TÔRRES,
2015). O paralelismo auxilia a compreensão, permite a organização do discurso ao atualizar a
cena, promove a argumentação e interação, e propicia a monitoração de turno e ratificação do
papel de ouvinte e locutor. Ao elaborar uma estrutura paralelística possibilita-se ao paciente
situar-se em uma estrutura em que o terapeuta interpretará seu funcionamento. Tal
funcionamento linguístico poderá apresentar desvios, entretanto o aparente erro tem um porquê,
e cabe ao terapeuta visualizar a origem de tais substituições metafóricas e compreender o seu
funcionamento na produção da criança (FREITAS, 2009).
Discussão
Ao conceber a linguagem como sendo uma atividade cognitiva de ação sobre o mundo
e sobre o outro, acredito que tal definição possa ser aplicada à música que se faz presente na
musicoterapia, pois a criança diante do recurso musical tem a possibilidade de agir sobre o
mundo e sobre o outro (musicoterapeuta), manipulando tal objeto (música) de acordo com suas
possibilidades. Cabe ao musicoterapeuta dar forma e sentido (musical) às produções sonoras da
criança.
Tal como concebido por De Lemos, a efetivação dos sentidos se dá no diálogo. Este
fenômeno dialógico é recorrente durante as improvisações musicais concebidas no setting
musicoterápico mediante a interação que se estabelece entre terapeuta e a criança. No entanto,
ressalto que a efetivação da interação é de responsabilidade do terapeuta – seja o
musicoterapeuta e/ou o fonoaudiólogo – principalmente quando a criança apresenta alguma
alteração de linguagem.
Acredito que o fazer musical possibilita o indivíduo organizar sua experiência de
mundo, não somente na vertente musical, mas de uma forma ampla, permitindo a sua
constituição enquanto sujeito.
Durante o fazer musical há um mergulho nos sentidos possíveis cuja fonte de significado
está nos discursos: o paciente demonstra sua intenção e eu interpreto e acolho sua produção.
Todavia, a minha performance pode ser contrária em um outro momento com o mesmo cliente
porque o sentido é “intervalar”: não dá nem um nem outro significante, uma vez que é efeito
das relações que se estabelecem entre eles mesmos. A responsabilidade do clínico é grande ao
se posicionar dentro do jogo de relações de sentido para interpretar o que está opaco (verbal e
musical). Faz-se necessário, então, o terapeuta entender o discurso verbal e não–verbal como
relações de sentidos, pois a interpretação surge na/da interação, sendo esta a instância de
significações.
Durante os atendimentos procuro acolher um fragmento advindo do paciente, seja ele
verbal, musical ou motor, e, após a interação se efetivar, utilizo a minha musicalidade clínica
para dar suporte às interpretações que faço a partir da expressão do paciente. Assim, insiro uma
melodia, geralmente que se aproxima da emissão vocal do paciente, e canto acompanhada do
violão ou teclado para que o paciente apreenda a produção. Então, por meio da experiência de
improvisação, percebo a correspondência, ou não, do paciente, e vou fazendo os arranjos
necessários para se manter a interação e provocar a sua expressão, seja musical, verbal ou não
verbal.
Após estabelecer um discurso musical mediante uma melodia e ritmo simples, estruturo
frases na letra que vão se configurando em estrutura paralelística. Acredito que tal estratégia
captura a criança na/pela linguagem pois auxilia a compreensão da sua movimentação no
contexto, amplia o sentido vivenciado na estrutura sintática verbal/musical, permite a
organização do discurso porque atualiza a cena, promove a argumentação e, principalmente,
promove e concretiza a interação, facilitando a percepção e monitoração de turno e ratificação
do papel de ouvinte e locutor. A criança é realmente capturada por este fenômeno discursivo
(musical e verbal) e, no caso de atendimento a crianças pequenas, pode ser observada o
engajamento delas em se manterem na cena dialógica. Ao elaborar uma estrutura paralelística,
seja através de música improvisada ou não, estou possibilitando à criança situar-se em um
contexto em que vou interpretar o seu funcionamento linguístico/musical.
Para clarear trago um recorte de uma sessão. Entretanto, meu objetivo não é relatar o
caso clínico, mas, sim, a minha atuação em que integro meus saberes musicoterápicos e
fonoaudiológicos durante minha prática clínica com crianças com atraso de linguagem.
Uma criança de 2 anos e 6 meses estende os braços em minha direção, sendo essa ação
interpretada como função comunicativa de ser pega no meu colo. A criança, então, executa
outro gesto comunicativo – indica um objeto com o dedo indicador e fala “ti”, desta vez
sendo interpretado como querendo dois kabuletês que estavam em cima do armário. Neste
momento é possível visualizar que a criança já possui uma certa experiência de mundo ao saber
que tais instrumentos são guardados naquele local. Em seguida, é permitido à criança manipular
os instrumentos de acordo com sua possibilidade, enquanto canto uma canção aonde descrevo
os objetos manipulados por ela – aqui não considero a evidência da musicalidade clínica, pois
a canção é uma composição minha, referente ao instrumento. Então a criança pega um tambor
e começa a jogar e retirar os instrumentos dentro dele (tal ação denota a fase cognitiva em que
a criança se encontra, ou seja, sensório motora). A princípio eu simplesmente descrevo a cena
verbalmente, exagerando na prosódia vocal (que praticamente é um canto). Então, me aproprio
das “forças presentes” no momento – como nos diz Queiroz – e, de acordo com minha
musicalidade clínica, improviso uma canção em que tento adequar a estrutura musical à ação
motora da criança. Nesta etapa estou revestindo as suas produções motoras de sentido e
devolvendo-as em forma de estruturação linguística por meio da letra da música que vai
sustentando à ação da criança. Essa produção musical se converge para uma estrutura
paralelística e sincronizo meu canto com os movimentos da criança em colocar e retirar os
instrumentos de dentro do tambor. Apesar de a criança não evocar/cantar nenhum fragmento,
considero que a criança foi captada pelo fenômeno linguístico/musical, uma vez que houve a
interação (tal cena durou cerca de 12 minutos) e houve a ratificação do papel de ouvinte, uma
vez que a criança esperava a minha execução para poder agir de acordo com o que foi cantado,
além de solicitar minha ação por meio do contato visual, quando eu parava de tocar
propositadamente, para dar-lhe tempo para se expressar. Por meio dessa estratégia clínica,
acredito que a criança seja banhada pela linguagem (musical e verbal), é acolhida de acordo
com sua possibilidade discursiva e, ao ser interpretada em suas ações, por menores que sejam,
lhe é dado o status de comunicadora.
No caso descrito acima já se pode observar melhora na compreensão, por parte da
criança, para comandos verbais, bem como observa-se evolução na manipulação de objetos,
uma vez que, no início do tratamento, se restringia a pegar materiais, tais como baquetas e
canetas, limitando-se a “medir" seus tamanhos. Atualmente já apresenta manipulação de objetos
de forma convencional – toca tambores com as baquetas e desenha com as canetas – sem, no
entanto, demonstrar brincadeira simbólica. Aumentou, significativamente, suas vocalizações e
funções comunicativas não verbais, sendo que já manifesta algumas sequências fonéticas
associadas à gestos para expressar suas intenções comunicativas.
Fazer uma análise mais atenta e sob a luz da abordagem discursiva destacou aspectos
da minha prática clínica que outras teorias não satisfaziam minhas inquietações. A música com
letra repetitiva e pertinente ao contexto da criança convoca-lhe uma resposta complementar.
Esta estratégia permite evidenciar o funcionamento linguístico da criança, que é colocado em
circulação, e sua atenção aos aspectos mais elaborados da própria estrutura musical, dentre eles
percepção rítmica, melódica e harmônica.
Conclusão
Referências
ARANTES, Lúcia. O fonoaudiólogo, este aprendiz de feiticeiro. In: VITTO, Maria Francisca
Lier-de (Org.). Fonoaudiologia: no sentido da linguagem. 2. ed. São Paulo: Cortez Editora,
1997. p. 23-37.
FREITAS, Eliane Faleiro. Pra lá e pra cá nós vamos cantar: fonoaudiologia e musicoterapia
na clínica de linguagem. Monografia (Curso de especialização em Fonoaudiologia, área de
concentração Linguagem) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2009.
Jussara Fernandino
Universidade Federal de Minas Gerais
jussarafernandino@gmail.com
Resumo: O presente artigo tem como objetivo relatar a proposta de musicalização por meio do
canto em conjunto ofertada aos alunos do 1º ciclo (faixa etária entre cinco a oito anos) no Centro
Pedagógico da UFMG durante o segundo semestre de 2019, através do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Pelo meio do recurso GTD (Grupo de Trabalho
Diferenciado), no qual professores e bolsistas do Centro Pedagógico têm a oportunidade de
propor disciplinas de temáticas diversas, oferecemos aos alunos o “GTD Coral”. É essencial
ressaltar que essa proposta não diz respeito à formação de um coral formal e tradicional, mas
sim a musicalização infantil via canto coletivo. Ao longo destes cinco meses foram
desenvolvidas práticas com ênfase no cantar e suas relações com o movimento e os jogos e
brincadeiras, resultando na desinibição dos alunos frente à execução dos exercícios musicais
criativos, além da formação do senso coletivo livre para propostas e experimentações. Ademais,
essa experiência mostrou-se rica como trabalho de campo para os estudantes de licenciatura.
Este artigo explana a estrutura, planejamento e organização das aulas, os resultados e
considerações finais, além das conquistas e desafios vivenciados nesse período.
Palavras-chave: Musicalização Infantil; Canto Coletivo; Iniciação à Docência.
Abstract: The present article aims to relate a group singing experience offered to 1º cicle
students (ages of five to eight) at the Centro Pedagógico of UFMG during the second semester
of 2019, through “Institution of Teaching Iniciation Scholarships” (PIBID). Through GTD
(Differentiated Working Group) resourse, in which professors and collegers can offer to
students all kinds of classes, we offered a discipline named GTD Choir. It is essential to
emphasize that this proposal does not concern the formation of a formal and traditional choir;
instead, it aims at children's musicalization via collective singing. Throughout these five
months, practices of singing through moviment and plays were developed, which resulted in
the students' disinhibition regarding the execution of creative musical exercises, in addition to
the construction of a free collective sense for proposals and experiments. Furthermore, this
experience proved to be rich as fieldwork for undergraduate students. This article explains the
classe’s structure, their planning and organization, the results and final considerations,
describing conquers and challenges lived in that period.
Keywords: Music Education; Group Singing; Teaching Iniciation.
Introdução
A principal fonte musical que todos têm contato é o próprio corpo, nosso primeiro
instrumento. Por essa razão, o ato de cantar é a forma mais elementar da prática musical e
Sendo o foco do trabalho o canto coletivo, apresentamos aos alunos algumas práticas
iniciais do método Kodály, através do uso de canções e cânones combinados com o
manossolfa1, que é um aliado significativo da musicalização pelo canto:
O canto sem dúvida é o pilar do método Kodály, nada mais coerente, já que o
método foi fundamentado a partir dos princípios, a filosofia, com objetivos e
sob orientação de Kodály, e com eficácia comprovada, pois teve aceitação
muito positiva em vários países e se tornou referência na educação musical
(COSTA E SILVA, 2013, p. 15).
Também utilizamos como referência o livro Ouvir Cantar (SCHAFER, 2019) que
apresenta diversas atividades e jogos musicais voltados para a sensibilização da escuta.
Práticas como jogos ritmo-musicais, dramatização de canções, relação indivíduo-grupo,
execução de ostinatos acompanhando canções são ligadas às propostas de Carl Orff. E, quanto
à valorização do movimento e da expressividade corpórea, temos como base os princípios de
Jaques-Dalcroze. A contribuição destes princípios ao canto coral, assim é descrita por
Fernandes (2010):
1
Técnica de solfejo desenvolvida pelo compositor e educador musical húngaro Zoltán Kodály, que utiliza de
gestos com as mãos para representar as notas das escalas musicais.
No primeiro dia de aula perguntamos aos alunos o que eles entendiam por coral. As
respostas foram divertidas e curiosas: “é música de Natal”, “música que dói os ouvidos”,
“música de assombração”, e constantemente reproduziam um som em “O” como se estivessem
cantando uma ópera. Ao longo do semestre, os alunos puderam desconstruir suas ideias iniciais.
Dos desafios enfrentados durante esse período, destacamos três que se referem não
apenas aos alunos, mas a nós mesmos enquanto “professores de primeira viagem”. O primeiro
aspecto contempla justamente esse ponto: como transferir para os bolsistas o papel de
professores da classe? A presença do professor supervisor nas primeiras aulas do semestre
transmitia segurança, mas, por outro lado, confundia os alunos quanto à figura responsável pela
turma. Aos poucos ganhamos confiança para estar à frente como dirigentes da disciplina e, a
partir daí, os alunos assimilaram essa informação independentemente da presença do
supervisor. O segundo ponto refere-se à faixa etária: como estabelecer práticas adequadas à
faixa etária das crianças sem subestimá-las ou pressioná-las? Optamos por apresentar
dinâmicas, jogos, brincadeiras e repertórios com os quais as crianças pudessem se identificar,
evitando metas específicas de canto coral tais como a afinação perfeita e a realização de
harmonias mais complexas. Por fim, um desafio foi imprescindível para o objetivo que
buscamos alcançar ao longo do semestre: a desinibição dos alunos, uma vez que eles se
mostraram tímidos para cantar. Para isso, apostamos em atividades corporais de sensibilização
musical que exploram o movimento e as suas possibilidades criativas.
Em todas as aulas o canto era imprescindível, mas também propomos práticas em torno
do processo de musicalização, tais como atividades com emprego de instrumentos de percussão,
apreciação musical, exercícios de criação a partir do movimento, e execução simples de
partituras gráficas lúdicas.
Como mencionado anteriormente, as aulas foram organizadas segundo um ‘esquema’.
As práticas realizadas serão descritas a seguir.
Exercícios de respiração
A princípio, ficamos apreensivos com essa proposta por conta da faixa etária, mas os
alunos desenvolveram essa prática ao longo das aulas. Um dos exercícios realizados consiste
no controle da respiração em que inspiramos em quatro tempos e expiramos em contagem
progressiva, aumentando a duração da expiração. Realizamos um movimento de subir as mãos
juntas frente ao peito durante a inspiração e soltá-las expandindo os braços durante a expiração.
Além de preparar as crianças para cantar, esse exercício trabalha também a concentração e
atenção. Outro exercício trabalhado durante as aulas baseia-se em soltar o ar na forma das
consoantes S, F e X balançando os braços rentes ao corpo e, em seguida, cruzando-os frente ao
peito aumentando progressivamente a velocidade da expiração e dos movimentos. Essa
atividade se mostrou divertida para as crianças que, inclusive, relacionaram-na com a música
Trem de Ferro.
Vocalises
Por conta da faixa etária, procuramos realizar os vocalises com canções infantis curtas
como Três por dez e Lá vai o sol, e evitar os exercícios mais tradicionais, optando por uma
alternativa mais lúdica. Depois de introduzirmos as músicas, subíamos o tom progressivamente,
o que as crianças acompanhavam de forma natural. Foi através das canções dos vocalises que
praticamos noções de manossolfa, trabalhando as gesticulações da escala no âmbito de Dó a
Sol. A proposta dessa abordagem surgiu de forma espontânea durante a aula, aproveitando o
desenho melódico simples da canção “Três por dez”. Os alunos responderam muito bem à
proposta e se empolgaram com a atividade; inclusive, uma das alunas relatou que o uso do
manossolfa facilitou a execução das canções em cânone. Entusiasmaram-se também com o
papel do regente, quando dividimos a turma em duas vozes para cantar a canção Lá vai o sol e
alguns alunos lideraram a dinâmica.
Jogos/Brincadeiras Musicais
Repertório
Em relação ao repertório proposto para a turma, procuramos não executá-lo apenas por
meio do canto, mas também explorar as canções por meio de brincadeiras e de exercícios
corporais criativos. Uma das músicas marcantes do semestre foi “Canto do Povo de um Lugar”,
de Caetano Veloso. Propomos uma atividade que consistia na movimentação livre das crianças
com fitas coloridas enquanto a música era reproduzida no aparelho de som e, após isso, as
crianças elaboraram suas próprias dramatizações. Um grupo dividiu seus integrantes com fitas
amarelas e azuis, cores que simbolizavam o dia e a noite, conforme a letra da canção.
Resultados
2
Política racial segregacionista implantada na África do Sul em 1948.
3
’Nós’ é uma palavra que simboliza a comunidade, comunidade dos que vivem e a comunidade dos mortos vivos,
aqueles que morreram, mas continuam conosco.‘Marchar’ é uma ação que unifica a comunidade enquanto ela se
move física e espiritualmente para a mesma direção. É uma resposta física e cinestésica ao Espírito, não uma
concessão passiva. A ‘Luz de Deus’ tem diversos sentidos. Enquanto é um símbolo da criação e de Jesus Cristo,
‘a luz do mundo’ também é um refrão comum nas músicas de cura (ngoma) das regiões sul e central da África.
Enquanto marchamos podemos ver o caminho a nossa frente. O caminho é claro. Onde há luz, há esperança
(HAWN, C. MICHAEL, 1999, p. 24).
Considerações finais
Referências
COSTA E SILVA, Carlos Fagner. O aprendizado do solfejo pelo método Kodály. Trabalho de
Conclusão do Curso de Licenciatura UNIRIO, Rio de Janeiro, 2013.
Disponível em: <http://www.domain.adm.br/dem/licenciatura/monografia/carlossilva.pdf>.
Acesso em: 16 jan. 2019.
HAWN, C. Michael. Siyahamba, South African Freedom Song. The Chorister, p. 23-26, 1999.
SCHAFER, Murray. Ouvir Cantar. Tradução de Marisa Trench de Oliveira Fonterrada. São
Paulo: Editora UNESP, 2019.
Resumo: A primeira infância corresponde aos seis anos iniciais da vida de uma criança, período
em que ocorre intenso desenvolvimento integral. Segundo estudos científicos, é nessa época
que acontece grande parte das conexões entre os neurônios, portanto, é também propícia para a
realização de vivências musicais em vários contextos. Esta pesquisa objetiva apresentar uma
síntese dos artigos referentes à “Música na Educação Infantil”, oriundos das produções da
Revista da ABEM - Música na Educação Básica (MEB). Seus objetivos específicos são:
sinalizar documentos norteadores sobre educação, além de autores que defendem o ensino de
música na educação infantil; e pesquisar, na Revista MEB, as produções que versam sobre o
tema em foco. Ao final, ele responderá: Quantos artigos foram encontrados na Revista MEB e
quais os perfis das produções encontradas? Sua metodologia consiste em uma pesquisa de
abordagem qualitativa em consonância, quanto ao seu procedimento, com uma Revisão
Sistemática de Literatura. Entre os nove volumes da Revista MEB, foram encontrados 13
artigos que versam sobre o tema: quatro enfatizam o ensino de música ministrado por
pedagogos, e os demais destinam-se aos professores e estudantes especialistas em Música.
Quatro artigos falam sobre vivências musicais aplicadas a crianças de 0 a 3 anos de idade. Todos
eles defendem e apresentam a prática de atividades musicais variadas, segundo orientações
norteadoras educacionais e demais autores.
Palavras-chave: Educação Musical; Primeira Infância; Música e Ludicidade.
Abstract: Early childhood corresponds to the first six years of a child's life, a period in which
intense integral development occurs. According to scientific studies, it is during this period that
most of the connections between neurons occur; therefore, also conducive to the realization of
musical experiences in various contexts. Thus, this paper aims to present a synthesis of the
articles related to the theme, from all the productions of the Brazilian magazine "Música na
Educação Básica" (MEB). Its specific objectives are: to signal guiding documents on education,
in addition to authors who defend the teaching of music in early childhood education; and
research, in Revista MEB, the productions that deal with the theme in focus. In the end, the
article will answer: "How many papers were found in MEB?" and "what are the profiles of your
productions?" The methodology consists of a qualitative research in line with a Systematic
Literature Review, regarding its procedure. Among the nine volumes of Revista MEB, 13
articles were found which version on the theme: four emphasize the teaching of music taught
by pedagogues, and the others are aimed at teachers and students specialized in Music. Four
articles talk about musical experiences applied to children from 0 to 3 years old. All of them
defend and present the practice of varied musical activities, according to educational guidelines
and other authors.
Keywords: Music Education; Early Childhood; Music and Playfulness.
Introdução
A primeira infância corresponde aos seis primeiros anos de vida de uma criança, período
em que ocorre intenso desenvolvimento integral do ser humano. Segundo estudos científicos, é
nesse período que acontece grande parte das conexões entre os neurônios, portanto, também
propício para a realização de vivências musicais nos diferentes contextos educacionais (ILARI,
2003; 2005; SHONKOFF, 2011). Consequentemente, o ensino de música a ser aplicado a
crianças nessa faixa etária significa uma grande oportunidade de ampliar e fortalecer suas
conexões neurais.
Assim, objetivamos apresentar uma síntese dos artigos referentes à “Música na
Educação Infantil”, oriundos das produções da Revista Música na Educação Básica (MEB),
referentes a nove publicações, realizadas entre os anos de 2009 a 2019. Esta Revista contempla
uma das importantes produções da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM). Os
objetivos específicos que traçamos são: sinalizar documentos norteadores sobre educação, além
de autores que defendem o ensino de música na educação infantil; e pesquisar, na Revista MEB,
as produções que versam sobre o tema em foco. Ao final, responderemos: Quantos artigos
foram encontrados na Revista MEB que versão sobre música na educação infantil e quais os
perfis das suas produções?
Como justificativa, atendemos às demandas do nosso Grupo de Pesquisa Música na
Educação e na Saúde (UFMA-CNPq), o qual estuda os benefícios do ensino de música na
educação básica, entre outros temas. Em nosso Grupo de Pesquisa, há graduados e graduandos
do Curso de Música/Licenciatura que atuam na educação infantil. Além do mais, consideramos
imprescindível pesquisarmos os novos caminhos do ensino de música na infância. Optamos por
realizar uma metodologia que segue os passos da pesquisa qualitativa, quanto à sua abordagem,
em consonância com o procedimento no perfil de Revisão Sistemática de Literatura (RSL).
Segundo Paulilo, a abordagem qualitativa é empregada “[...] para a compreensão de fenômenos
caracterizados por um alto grau de complexidade interna”, pois “[...] trabalha com valores,
crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e adequa-se a aprofundar a complexidade
de fatos e processos particulares e específicos a indivíduos e grupos.” (PAULILO, 1999, p.
135). Quanto à RSL, Cordeiro e Oliveira (2007) compreendem ser uma averiguação científica
que tem como princípio agregar, considerar criticamente e guiar o resumo dos resultados de
uma pesquisa. Consequentemente, iremos pesquisar os artigos referentes ao tema, publicados
na Revista MEB, segundo os descritores – primeira infância, educação infantil, formação de
professores, música e ludicidade, e atividades musicais –, que serão pesquisados em
Título/Subtítulo e Resumo/Palavras-chave. Para tanto, consideraremos apenas as produções
referentes às crianças de zero a seis anos de idade.
Na fundamentação, apoiamo-nos na legislação e orientações da educação brasileira:
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB No.
9.394/96), Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI), Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) e Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) (BRASIL, 1990, 1996, 1998, 2010, 2018), além de autores que pesquisam sobre o
ensino de música e temas afins, como Bellochio e Figueiredo (2009), Brito (2009), Lima e
Stencel (2010), e Werle (2011).
Desenvolvimento
No Brasil, nesse mesmo ano, foi aprovado o ECA, o qual norteia a proteção integral das
crianças e dos adolescentes. Nesse documento, art. 2º, é considerada criança a pessoa que tem
“[...] até doze anos de idade incompletos”. Nas diretrizes da política de atendimento, art. 88, §
X, ressalta-se a importância da “realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento
infantil e sobre prevenção da violência” (BRASIL, 1990). Segundo a LDB nº 9.394/96, art. 29,
a Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, “tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. No art. 30, “a
educação infantil será oferecida em: I – creches [...], para crianças de até três anos de idade; e
II – pré-escolas, para crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.” (BRASIL, 1996).
Ainda na LDB, art. 2º, “a educação [...] tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”,
devendo ser ministrado com base em vários princípios (art. 3º), entre eles: “I - igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar
e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; [...]”. No art. 26, § 2º, evidencia-se a
obrigatoriedade do ensino da Arte na Educação Básica, sinalizando-se, no § 6º, que “as artes
visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular
Arte.” (BRASIL, 1996).
Após a criação dessa LDB, surgiram Referencial, Parâmetros, Diretrizes e Bases
educacionais, para nortearem os educadores quanto à implementação educacional dos novos
tempos. Nesse sentido, apontamos: o RCNEI, as DCNEI; e a BNCC. Segundo o RCNEI, “a
música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar
sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo
entre o som e o silêncio” (BRASIL, 1998, p. 45). Ela se faz “[...] presente em todas as culturas,
nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas,
políticas etc.” (BRASIL, 1998, p. 45). Consequentemente, a música também deve se fazer
presente desde o início da escolaridade da criança, como conhecimento exclusivo ou como
recurso/instrumento facilitador para outros conhecimentos.
O seu Volume 3 apresenta as orientações referentes ao ensino de Música, constando de:
Introdução; A Presença da Música na Educação Infantil: Ideias e Práticas Correntes; A Criança
e a Música; Objetivos; Conteúdos; Orientações Gerais para o Professor; Observação, Registro
e Avaliação Formativa; e Sugestões de Obras Musicais e Discografia (BRASIL, 1998, p. 9).
Portanto, a Música é reconhecida como linguagem e, consequentemente, como uma forma de
conhecimento, sendo imprescindível considerar sua prática em sala de aula, como “Produção,
Apreciação e Reflexão” (BRASIL, 1998, p. 48).
Outro documento de grande importância para a educação infantil refere-se às DCNEI,
as quais se articulam reunindo “[...] princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela
Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas
públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e
curriculares de Educação Infantil” (BRASIL, 2010, p. 11). Para as DCNEI, “as práticas
pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos
norteadores as interações e a brincadeira e garantir [...]” variadas experiências que
Por último, temos a BNCC, a qual norteia todas as etapas da educação básica. O ensino
de música na educação infantil não aparece explicitamente, cabendo ainda maiores discussões,
entretanto ela é contemplada no item Campo de Experiências “Traços, Sons, Cores e Formas”
(BRASIL, 2018, p. 26), temas possíveis de serem trabalhados no caminho da educação
musical.
Importante mencionarmos, ainda, as dez Missões da Sociedade Internacional de
Educação Musical (ISME). Em sua 1ª Missão, afirma-se que “[...] a educação musical inclui
tanto a educação em música como a educação por meio da música” e que (3ª Missão) “[...]
todos os educandos devem ter a oportunidade de expandir em conhecimento musical,
habilidades e apreciação musical [...].” (McCARTNEY, 2004 apud TRINDADE, 2008).
Muitos pesquisadores apontam que é na primeira infância que ocorre o maior
crescimento do cérebro (ILARI, 2003; 2005; SHONKOFF, 2011), assim como uma maior
conexão entre os neurônios, sendo um período de grandes sinapses, conforme apresentamos a
seguir (Figura 1).
Como demonstrado, de zero a seis anos de idade (primeira infância), ocorre o maior
desenvolvimento das: funções cognitivas superiores, linguagem e capacidades sensoriais.
Estudos da neurociência sustentam o argumento de que a música e a linguagem são duas formas
de comunicação humana por meio de sons que possuem diferenças e semelhanças de
processamento e de localização espacial no cérebro (MARIN; PERRY, 1999 apud ILARI,
2003). Assim sendo, é imprescindível oferecer às crianças atividades musicais que envolvam
conhecimentos, procedimentos e atitudes implícitas e explícitas à música, em conexão com um
currículo coerente e adaptável aos seus níveis escolares, necessidades e particularidades.
Metodologia
6 Minha voz, tua voz: falando e cantando na sala de aula. Cláudia R. Bellochio.
Sonorizando histórias e discutindo a educação musical na formação e nas práticas de
7
pedagogas. Kelly Werle.
Vol. 04 / N. 4 / 2012.
http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas_meb/index.php/meb/issue/view/10
8 Compartilhando um ambiente musical e afetivo com bebês. Juliane Raniro e Ilza Z. Leme Joly.
Considerações finais
Referências
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Educação Básica, Porto Alegre, n. 3, p. 8-27, 2011. Disponível em:
http://www.abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed3/pdfs/viviane_3.pdf. Acesso
em: 15 jan. 2021.
BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. Minha voz, tua voz: falando e cantando na sala de
aula. Revista Música na Educação Básica, Porto Alegre, n. 3, p.56-67, 2011. Disponível em:
http://www.abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed3/pdfs/artigo4_3.pdf. Acesso em:
13 jan. 2021.
BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro; FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Cai, cai balão…
Entre a formação e as práticas musicais em sala de aula: discutindo algumas questões com
professoras não especialistas em música. Revista Música na Educação Básica, Porto Alegre,
n. 1, p. 36-45, 2009. Disponível em:
http://www.abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed1/pdfs/3_cai,_cai_balao.pdf.
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Educação Básica, Porto Alegre, n. 1, p.11-22, 2009. Disponível em:
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RANIRO, Juliane; JOLY, Ilza Zenker Leme. Compartilhando um ambiente musical e afetivo
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SHONKOFF, J.P. Protecting brains, not simply stimulating minds. Science, [S.I.], v. 333, p.
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SILVA, Carlos Antônio Freitas da; CARVALHO, Valéria Lazaro de. Pedro e a festa na lagoa:
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UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos. Plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Tailândia, 1990. Fonte:
https://educador360.com/gestao/neurociencia-aprendizagem-primeira-infancia/
Resumo: Este trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que objetiva
descrever o processo de validação de um Protocolo de Musicoterapia na Avaliação de Bebês
Prematuros em resposta a estímulos sonoros multimodais. O propósito deste estudo é apresentar
o objeto de pesquisa em questão, abordando suas bases teóricas e os itens criados. Inclui o relato
das etapas pretendidas para o processo de validação. Busca-se demonstrar a confiabilidade
desse protocolo para utilização na prática clínica, auxiliando o profissional no planejamento do
processo terapêutico, promovendo a aplicação da Musicoterapia na Neonatologia de forma mais
assertiva e com bases em evidências científicas.
Palavras-chave: Musicoterapia; Protocolo de Avaliação; Bebê Prematuro.
Abstract: This work is a cutout of an ongoing master's research that aims to describe a process
of validation of a Music Therapy Protocol for Evaluating Premature Babies in response to sound
and multimodal stimuli. The purpose of this study is to present the research object in question,
addressing its theoretical bases and describing its items. In addition, the steps for the validation
process are portrayed. Seek to demonstrate the reliability of that protocol for use in clinical
practice, assisting the professional in planning the therapeutic process and promoting the
application of Music Therapy in Neonatology in a more assertive manner and bases on scientific
evidence.
Keywords: Music Therapy; Assessment Protocol; Premature Baby.
Introdução
Estímulos sensoriais, como sons, luzes e experiências táteis, podem auxiliar o bebê que
nasce a se adaptar ao ambiente fora do útero e estimular seu desenvolvimento de forma
saudável. Quando estes são aplicados a neonatos nascidos antes da 37ª semana, chamados
prematuros, a utilização deste tipo de estimulação precisa ser feita com cautela, pois o bebê
apresenta hipersensibilidade e maior fragilidade que um bebê nascido a termo, necessitando de
cuidado para que as intervenções sejam benéficas e não nocivas (STANDLEY, 1991;
STANDLEY, 2002). A Musicoterapia pode ser uma forte alternativa para a intervenção precoce
com esta população já que esta manipula elementos musicais para o desenvolvimento, a
reabilitação e a manutenção de diferentes aspectos do ser humano. Sua aplicação é feita por
profissional qualificado e habilitado para tal, necessitando de formação específica para sua
atuação (STANDLEY, 1991; FERREIRA; LOUREIRO, 2019).
Na prática clínica, o musicoterapeuta se utiliza de instrumentos de medida para avaliar o
processo musicoterapêutico de seus clientes. Estes testes auxiliam no planejamento e manejo mais
efetivo da intervenção para que a Musicoterapia atenda da melhor forma as demandas específicas
de cada pessoa. É muito importante que o teste tenha passado por algum processo de validação,
ainda que a validade de um instrumento de medida não o torne imutável e absoluto. A validação
apenas aponta a maior probabilidade de o protocolo de avaliação utilizado medir exatamente o
que se propõe, dando maior confiança para o profissional em sua utilização (GATTINO, 2010;
RAYMUNDO, 2009; ANDRÉ et al., 2017). Apesar de sua importância, esses pesquisadores
demonstraram que não há muitos protocolos de Musicoterapia validados no Brasil.
Sendo assim, o presente trabalho é de natureza descritiva e um recorte de uma pesquisa
de mestrado em andamento na Pós-graduação da Escola de Música da UFMG. A pesquisa busca
validar um protocolo de avaliação de bebês prematuros em resposta a estímulos sonoros. Este
instrumento de medida foi elaborado em 2012 no projeto “Pesquisa e Implementação da
Musicoterapia no Atendimento à Mãe e Bebê de Risco: Uma Parceria da Escola de Música da UFMG –
Curso Habilitação em Musicoterapia com o Hospital Sofia Feldman”. O presente artigo pretende
descrever este protocolo que é objeto desta pesquisa.
Desenvolvimento
2. Sono leve com movimentação ocular rápida e respiração irregular. Apresenta nível
de atividade baixo. Responde a estímulos com sobressaltos e movimentos de sucção podem
ocorrer neste estado.
Além destes, são pontuados que outros distúrbios podem ser associados com o
nascimento prematuro como paralisia cerebral, deficiência intelectual, retardo no crescimento,
problemas de visão e problemas comportamentais. É apontado a alta taxa de nascimentos
prematuros (taxa que apesar da diminuição ao longo das décadas, continua alta nos dias de hoje)
e também destacado a importância da intervenção precoce já em ambiente hospitalar e do
cuidado pré-natal. Seu estudo aponta a importância da estimulação e sugere algumas aplicações
da Musicoterapia para esta população, orientando a melhor forma de utilizar a música e seus
elementos para estimulação e pacificação do bebê prematuro.
O primeiro estudo realizado por Loureiro e equipe de bolsistas alunos da Musicoterapia
da UFMG, intitulado “O efeito da musicoterapia na alteração dos estados de alerta do
prematuro” (SILVEIRA et al., 2014) objetivou estudar a influência da música/musicoterapia na
alteração dos estados de alerta do recém-nascido pré-termo (RNPT). Apesar do protocolo já
estar sendo utilizado para avaliar os RNPT, neste estudo foram descritos apenas a parte em que
se avalia os 6 estados de consciência de Brazelton e comportamentos observados frente a alguns
estímulos sonoros em diferentes instrumentos.
Um outro estudo paralelamente realizado, título “Respostas Comportamentais do
Prematuro de Risco à Musicoterapia” (PEREIRA et al., 2014) focou na aceitação e
receptividade do bebê prematuro a diversos instrumentos musicais que são adaptados para o
trabalho de musicoterapia com esta população além da voz, violão e harpa celta. Sendo assim,
foi elaborado uma escala que coletava dados sobre a receptividade musical e comportamentos
fisiológicos de bebês prematuros de alto risco frente a diferentes estímulos sonoros, rítmicos e
em diferentes dinâmicas.
Um estudo de Iniciação Científica, “Musicoterapia e protocolo de avaliação no
atendimento à mãe e bebê de risco através de videogravações” realizado em 2017 pela aluna
Marina Reis buscou avaliar os resultados do protocolo elaborado por Loureiro e identificar
respostas comportamentais dos neonatos prematuros através de análise de vídeos coletados nos
atendimentos realizados em 2012 (FREITAS; LOUREIRO, 2018). Este trabalho recebeu O
Grande Prêmio Francisco Iglesias em Humanidades da XXVI Semana de Iniciação Científica
da UFMG em 2017 e também menção honrosa da 70ª Reunião anual da SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência) em 2018.
O Protocolo de Musicoterapia para Avaliação de Bebês Prematuros elaborado em 2012
é dividido em três partes:
Parte I: Dados de identificação do bebê; diagnóstico e observações espontâneas da mãe;
Referências
ANDRÉ, Aline Moreira; GOMES, Cristiano Mauro Assis; LOUREIRO, Cybelle Maria
Veiga. Equivalência de itens, semântica e operacional da versão brasileira da Escala Nordoff
Robbins de Comunicabilidade Musical. OPUS (Belo Horizonte online), v. 23, p. 197-2015,
2017.
BRAZELTON, Thomas Berry. 2nd ed. Neonatal behavioral assessment scale. England: The
lavenham press ltd, 1976.
PRECHTL, Heinz F. R.; BEINTEMA, O. The neurological examination of the full term
newborn infant. London: William Heineman. Clinics in Developmental Medicine, n. 12,
London, Heinemann, 1964.
PRECHTL, Heinz F. R. The behavioural states of the newborn infant (a review). Brain
Research, n. 76, p. 185-212, 1974.
RADOCY, R.E.; BOYLE, J.D. Psychological foundations of musical behavior. [s.l.]: Charles
C Thomas Publisher, 1988.
Abstract: The objective of this work is to report an experience obtained in the Early Intervention
Service (SIP) where treatment is performed with babies aged 0 to 3 years old diagnosed with
neurodevelopmental delay. This work is part of the partnership Project between Music Therapy (MT)
graduation program at the School of Music with Associação Mineira de Reabilitação (AMR), which
aims to provide clinical Music Therapy treatment in physical disabilities and other neurological
pathologies. The treatment is based on global development of those babies into age school envisioning
your inclusion in society. This Project provides to MT students essentials experience on clinical practice
and research for health care professionals. The methodology used is based on the Functional
Rehabilitation Model that uses Neurological Music Therapy techniques in sensory, motor, cognitive and
psychosocial rehabilitation (THAUT, 2008).Treatment in SIP is based on the Multimodal Model in
neonatology (STANDLEY, 1991).The case study carried out sought to demonstrate the effectiveness of
early intervention in a client with a view to its development over two years. Results achieved
demonstrate that early intervention can help the baby in his musical, cognitive, sensory, motor and
psychosocial developments, improving his quality of life.
Keywords: Music Therapy; Associação Mineira de Reabilitação; Early Stimulation.
Introdução
A Musicoterapia pode ser definida como a utilização da música e/ou seus elementos
(som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou
grupo, em um processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem,
mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de
alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas (FEDERAÇÃO
MUNDIAL DE MUSICOTERAPIA, 1996).
Musicoterapia é uma ciência que está voltada para o comportamento humano e é
baseada em métodos cientificamente validados. Na Musicoterapia, a música é utilizada como
elemento mediador de respostas não musicais, cognitivas, sensoriais, motoras e psicossociais
(THAUT, 2008). Deste modo, crianças e adolescentes com deficiência física podem se
beneficiar dos atendimentos musicoterapêuticos para melhorar sua condição de saúde.
A intervenção precoce tem por finalidade “capacitar a criança, por meio de apoio
fornecido aos genitores e/ou outros cuidadores, a estabelecer uma trajetória de desenvolvimento
que a preparará para ser bem-sucedida, a longo prazo” (DESSEN, SILVA, 2004, p. 154).
Metodologia
Trata-se de um relato de experiência que teve duração de dois anos. O processo teve
início em 2018 e se manteve até o final do ano de 2019. Inicialmente foi realizada uma
Avaliação Funcional Multimodal com uma paciente do sexo feminino, um ano de idade,
diagnosticada com Paralisia Cerebral Quadriplégica provocada por Microcefalia em
decorrência do Zika Vírus.
No decorrer dos dois anos de atendimento foram definidos diferentes objetivos para a
cliente de acordo com o seu estágio de desenvolvimento e evolução no tratamento. Em cada
ano foram realizadas 15 sessões semanais com duração de uma hora. Os instrumentos utilizados
foram: violão, chocalho, pandeiro, maraca, guizo e instrumentos Orff.
Resultados
Discussão
A partir dos resultados obtidos, foi possível notar que a estimulação precoce pode ajudar
os clientes no desenvolvimento de diversas funções, sejam elas motoras, visuais, ou funcionais
e em relação à melhoria da qualidade de vida.
Ao contrário do que se pensava antigamente, as células do sistema nervoso não são
imutáveis. Pelo contrário, elas possuem plasticidade. A neuroplasticidade (também conhecida
como plasticidade neuronal) refere-se à capacidade do sistema nervoso de sofrer modificações
e adaptações quando exposto a novas experiências (HAASE; LACERDA, 2004).
Nos primeiros anos de vida, a criança entra em contato com estímulos sensoriais
relacionados ao som e luz. Assim, inicia- se o período crítico sensorial. Em seguida, com a
Conclusão
Referências
THAUT, Michael. Rhythm, Music, and the Brain: Scientific Foundation and Clinical
Applications. New York and London: Routledge Taylor & Francis Group, 2008.
Abstract: This paper reports the experience of Musical Education for the development of
children and adolescents of the Sonoro Despertar Project, pointing out the contribution of
psychosocial and socio-educational interventions as a way to enhance fundamental skills and
competences for team musical work and social coexistence in general. Collective recorder
classes are the method used for music education, considered as a means for the construction of
identity and the integral formation of citizens of children and adolescents living in socially
vulnerable areas. Linked to the musicalization process, the socio-educational workshops
promote the development of personal and contextual awareness, and of interdependence as a
way of valuing community life and a culture of peace. The work developed by Sonoro Despertar
currently covers the age group from 7 to 18 years, and can be expanded and adapted for early
childhood in order to provide the early development of the gifts and qualities that every human
being brings with them from the very beginning of their existence.
Keywords: Musical Education; Socio-educational workshops; Human formation.
Introdução
A carência social e cultural domina alguns ambientes das grandes cidades brasileiras,
gerando condições de vida que ameaçam o crescimento sadio de crianças e adolescentes que
vivem em situação de vulnerabilidade social.
Sonoro Despertar nasceu no ano de 2000, na Paróquia São Marcos, que tem como
referência formativa e carismática um homem do século XVI-XVII, José de Calasanz,
apaixonado pela educação, Padroeiro das Escolas Populares do mundo. Atualmente, o trabalho
musical do Projeto é realizado em um Centro Cultural, construído com o esforço da
comunidade.
Sob a coordenação pedagógica de Celeste Alda Machado, os diversos grupos de crianças
e adolescentes que participaram do Sonoro Despertar ao longo de vinte anos foram iniciados na
flauta soprano e flauta contralto, posteriormente incorporando experiências com as flautas tenor
e baixo; finalmente, houve a formação da Orquestra de Flauta Doce.
Educar musicalmente é formar uma pessoa que possa tornar-se agente de mudança na
sociedade, além de transmitir os conceitos próprios da área musical. Os educadores que se
dedicam à Educação Musical em espaços não formais, onde geralmente se instalam os projetos
socioculturais, são peças importantes na construção do tecido social e desenvolvem papel
fundamental no processo de democratização do ensino da música.
O Sonoro Despertar, assim, trabalha no meio de uma rede social, com a colaboração da
família e da comunidade, pois só se pode educar bem uma criança desde uma mobilização
integrada. Música, família e comunidade representam um tripé que sustenta o contexto
educativo do Sonoro Despertar. As famílias participam ativamente já que dialogam sobre a
filosofia, objetivos, metas e alcance educativo do projeto e reconhecem a contribuição para o
bom desenvolvimento dos filhos.
Metodologia
coordenados por extensionistas de Psicologia, nos quais são tratados temas de seu interesse, de
modo a sustentar o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas ao saber
pensar, fazer e se relacionar no mundo.
A metodologia das oficinas pressupõe o trabalho com a consciência de si e de sua
inserção no mundo, de seus vínculos com a família, com o bairro e com os contextos
socioculturais mais amplos. Por meio de jogos, brincadeiras, narração de estórias e histórias,
esquetes, cinemas comentados e rodas de conversa, as oficinas promovem reflexões, valores e
posturas críticas comprometidas com o bem comum, levando em consideração o contexto
social, o ritmo das interações e aprendizagens, a co-construção de normas e regras de
funcionamento do grupo. Assim, a oficina é um espaço propício para o grupo construir seu
conhecimento, no seu próprio ritmo, ao mesmo tempo em que constrói identidade, autonomia,
interdependência, respeito, consciência moral, dentre outros processos subjetivos.
A combinação das oficinas de intervenção psicossocial com a metodologia da pedagogia
de projetos vem se mostrando produtiva no decorrer do trabalho no Sonoro Despertar, já que as
temáticas escolhidas permitem construir conhecimentos conceituais importantes, mas,
sobretudo, agenciam a possibilidade da co-construção ética e política de um saber fazer e um
saber agir no grupo e no mundo fora das oficinas. O planejamento de cada projeto do grupo
organiza, sistematiza, disciplina o desejo e a liberdade individual e coletivamente, favorecendo
a educação musical e humana.
FIGURA 2 – CMUC
Em julho de 2019, no “Recital de 20 anos” do projeto, crianças de sete a nove anos, com
apenas três meses de aulas coletivas no Sonoro Despertar, apresentaram-se ao lado dos flautistas
mais experientes. Estes primeiros passos no mundo da música, integrados desde pequenos numa
grande orquestra de crianças e adolescentes, criam sentimento de pertença, impulsionam o
desempenho e qualidade musical, além de fortalecer os vínculos afetivos com a música e com
o projeto.
Vinte anos de história trazem narrativas de muitos desafios superados, entre eles, a
sensibilização da comunidade local para a educação dos filhos e o apoio para dar vida ao espaço
educativo-musical no Sonoro Despertar; a construção do Centro Cultural, que garantiu espaço
físico adequado para as aulas e, principalmente, a conquista de apoios institucionais para a sua
sustentabilidade.
A sustentabilidade é desafio permanente, como em todo projeto sociocultural. Ganhar
esse apoio é resultado do empenho e trabalho diários, dos resultados musicais, da satisfação das
famílias que confiam seus filhos e filhas ao mesmo; é resultado da projeção que, dia a dia, se
consegue com investimento de pessoas e de meios adequados para suscitar em crianças e
adolescentes o desejo de crescer bem, dentro de um ambiente acolhedor como é o espaço
musical partilhado com muitos amigos.
Manter esse nível educativo é o objetivo principal do Sonoro Despertar; nele se
empenham recursos, coordenadores, famílias, estudantes extensionistas, voluntários e uma
comunidade mais sensibilizada pelo valor da educação.
Considerações Finais
Referências
CRUVINEL, Flavia Maria. Educação Musical e Transformação Social: uma experiência com
ensino coletivo de cordas. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: uma jornada interdisciplinar rumo ao
desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2001.
Introdução
fundamental inerente ao ser humano que é o desenvolvimento do gosto estético, o que amplia
sua visão de mundo.
As canções estão presentes na vida de todos, em todas as culturas e em todas as épocas.
Sendo assim, é uma língua universal que supera as barreiras do tempo e do espaço. Matos e
Santos (2005) mostram que antes mesmo de uma criança nascer ela já tem contatos com o som
dentro do útero da mãe, seja com a voz ou com o som que o corpo da mãe faz ao longo do dia.
E depois que a criança nasce, o cantar, o ouvir e o dançar passam a ser atividades frequentes na
vida.
A partir deste contexto, o objetivo geral desta pesquisa é identificar de que forma a
música pode ser um recurso facilitador da aprendizagem de crianças na primeira infância; e o
objetivo específico é apontar como a música pode promover o desenvolvimento cognitivo,
motor e socioafetivo da criança.
Metodologia
A constituição biológica da criança ao nascer não será lei única do seu futuro
destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas
aos sons, promovendo um contato com o mundo musical já existente dentro dela, isso
desenvolve sua percepção e identificação dos sons que estão a sua volta.
Na Figura 1, identificamos crianças com idade entre dez meses a dezoito meses.
Acompanhando o ritmo da música, segurando uma corda elástica que representa a rédea de um
cavalo, seguindo as ações propostas pela educadora.
Considerações Finais
Cada criança é um ser único. Devemos observá-las conscientes de que estão em uma
etapa de suas vidas na qual seu conhecimento e seus valores serão constituídos em uma
comunicação diária com o mundo, desenvolvendo-se cognitivamente e afetivamente. Os
estímulos que a música proporciona como: senso ritmo, melódico, formal, acuidade auditiva,
noções de ordenação no tempo e espaço, por exemplo, são necessários para uma melhor
aprendizagem e desenvolvimento, principalmente se forem explorados desde cedo.
A música no início de vida só tem a agregar e organizar na criança seus sentidos e
percepções, para que esta entenda, aos poucos, as dimensões do mundo inteirando-a com a vida
para que ela explore, construa, aprenda e internalize seus conhecimentos.
Identifica-se que a música contribui para o desenvolvimento cognitivo da criança e que
sua prática escolar sempre estará atrelada a uma perspectiva sensível do educador. A música
possui significados e representações no cotidiano das crianças e se utilizada de forma adequada
pode ser um agente facilitador do raciocínio e da aprendizagem.
Sobretudo podemos ressaltar então que a música tem uma função essencial no
desenvolvimento infantil. A criança que cresce com a música ao seu redor, conhecendo e
vivenciando vários estilos, de uma forma lúdica e prazerosa, tem mais chances de garantir a
plenitude de seu desenvolvimento.
Referências
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva.
São Paulo: Átomo, 2003.
BRITO, M.T.A, Música. In: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil.
Brasília: MEC/ SEF, volume 3, 1998.
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. 2ª ed. São Paulo: Peirópolis, 2003.
CARVALHO, G. B., Moreira, A. A., & Isaias, T.P. Impare educação e a metodologia
sensibile: a formação humanista por meio da educação musical. In: Anais do II Congresso
Internacional Uma nova pedagogia para a sociedade futura / protagonismo responsável, 0(0),
2017, p. 233-242.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; SANTOS, Wellington Tavares. Música na educação infantil.
In: III Congresso Nacional da Área de Educação - Episteme, 2005. Anais do... Curitiba:
PUCPR, 2005.
PAPALIA, Diane E; OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento humano. 7ª ed., Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000.
PIAGET, J., INHELDER. B. O desenvolvimento das qualidades físicas das crianças. Rio de
janeiro: Zahar Editores, 1971.
WEIGEL, Anna Maria Gonçalves. Brincando de música. Porto Alegre: Kuarup, 1988.
Resumo: O presente trabalho visa salientar a importância dos dois campos e seus possíveis
diálogos, como também refletir sobre a distinção de Musicalização e Musicoterapia através da
exemplificação de algumas atividades que permearam os dois universos, apontando benefícios
oferecidos por cada uma, quais os resultados esperados, objetivos traçados e claro, a
possibilidade de trabalhar em conjunto. Ainda que os dois campos utilizem a música como
principal ferramenta, seus objetivos e meios para chegar aos seus resultados esperados não
acontecem de igual forma. Foram selecionadas algumas canções que foram utilizadas por duas
alunas do curso de Musicoterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que
atuaram dentro das duas modalidades por aproximadamente um ano, com crianças de 6 meses
a 5 anos de idade.
Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Musicoterapia; Educação Musical.
Abstract: The present work aims to highlight the importance of two fields and their possible
dialogues, as well as to reflect on the distinction of Musicalization and Music Therapy, through
the exemplification of some activities that are allowed by two universes, the reproduction of
benefits offered by each one, which are the expected results, objectives set and of course, a
possibility to work together. Although the two fields use music as the main tool, their goals and
means to achieve their expected results do not occur in the same way. Some songs were selected
and used by two students of the Music Therapy course at the Federal University of Minas Gerais
(UFMG) who worked within two classes for approximately one year, with children from 6
months to 5 years old.
Keywords: Child Development; Music Therapy; Music Education.
1. Introdução
Segundo Louro (2006) apud Freire, Oliveira e Parizzi (2017), Educação Musical pode
ser conceituada como um conjunto de práticas pedagógicas que visam o desenvolvimento de
competências musicais, através de experiências como apreciação, performance e criação.
Segundo a União Brasileira de das Associações de Musicoterapia (2018), a Musicoterapia é
compreendida como:
Há certa dificuldade em distinguir esses dois campos, como, quando procurar uma
sessão musicoterapêutica ou uma aula de musicalização. Essa dúvida é compreensível,
considerando que a Musicoterapia é um campo em ascensão no Brasil e poucos conhecem seus
benefícios e forma de atuação. A Musicalização já atua há mais tempo, porém ainda existem
alguns tabus sobre ela, como a não compreensão de aulas que tem como proposta experimentar
música de diferentes formas, como por exemplo, sem utilização de instrumentos para se
aprender elementos musicais, utilizando somente o corpo.
Tendo esses questionamentos internos em cada campo, quando são apresentados à
clientes, podem ser interpretadas como a mesma proposta, sendo necessário esclarecimentos
sobre seus objetivos e processos.
Para RUUD (1990), os limites entre terapia e educação nem sempre estão claramente
definidos, mas pode-se simplificar que a Musicoterapia tem como foco “a modificação pessoal
do paciente em termos de um objetivo principal”, enquanto a Musicalização foca no
“desenvolvimento de competências musicais, considerada pois a música um fim em si mesmo”.
3. Fundamentos teóricos
Duração: 10 Minutos
Materiais Necessários:
• Ovinhos
• Guizos
Objetivo:
TABELA 2 – Comparativo de atividade
Educação Musical Musicoterapia
Procedimento:
• O terapeuta/professor entrega os instrumentos para cada criança.
• O terapeuta/professor utiliza seu instrumento de acompanhamento para conduzir a
canção de acordo com os comandos contidos na letra da canção.
• Esses comandos podem ser conduzidos com alteração de andamento e intensidade.
Como por exemplo: Chacoalha rapidão, Chacoalha devagar, Chacoalha fraquinho,
Chacoalha bem fortão.
Materiais Necessários:
• Tambor
• Pandeiro
Objetivo:
TABELA 3 – Comparativo de atividade
Educação Musical Musicoterapia
Procedimento:
• Depois da entrega dos instrumentos com todos assentados no chão ou em cadeiras, o
professor/terapeuta com seu instrumento de acompanhamento canta a canção.
• Cantar a canção que diz:
Pro tambor fazer um som
Ele tem que apanhar
Bate nele
Pro som se espalhar no ar
No violão, a gente, então,
Faz cosquinha na barriga
Pra que, logo,
Alguma coisa ele diga
Som de corda
De percussão
De africano
De português
Tudo isso deu nossa canção
E agora, com certeza, é a nossa vez
Objetivo:
TABELA 4 – Comparativo de atividade
Educação Musical Musicoterapia
Procedimento:
• Será utilizado o som para execução da música, para que a professora/terapeuta possa
tocar juntamente com as crianças.
• O terapeuta/professor entrega os instrumentos para cada criança.
• Instrução para tocar o instrumento ao som do “poc” contido na canção.
5. Considerações Finais
Referências
RUUD, E. Caminhos da musicoterapia. Trad. Vera Wrobel. São Paulo: Summus, 1990.
Gabrieli Laurido
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
gabrieli.laurido@gmail.com
Resumo: Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (Lei 9.394/96), toda criança tem direito
ao atendimento educacional durante o seu período de internação, mesmo que seu tratamento
seja hospitalar ou domiciliar. De fato, é possível identificar que alguns hospitais pediátricos
localizados na cidade de Curitiba-Paraná possuem “classes hospitalares”, em que as crianças
são atendidas por pessoas capacitadas. No entanto, identificou-se que a Música, apesar de ser
conteúdo obrigatório dentro da disciplina de Artes (LEI 13.278/2016), não é contemplada nas
classes hospitalares. Nesta pesquisa em andamento serão apresentados os levantamentos
preliminares realizados sobre os dados das classes hospitalares e a disponibilização das
atividades musicais nesse currículo, além dos dados que trazem a reflexão sobre a educação
musical não apenas como forma de desenvolvimento de competências e habilidades musicais,
mas também pela expressão e prática musical como fim, e não como meio (ILARI, 2007), o
que certamente pode contribuir com o sucesso do tratamento de saúde das crianças.
Palavras-chave: Educação Musical Hospitalar; Classes Hospitalares; Ensino de Música.
Abstract: According to Lei de Diretrizes e Bases (LAW 9.394/96), the educational service
during the hospital stay is a right of every child, even if the treatment is at home or hospital. In
fact, it is possible to identify that some pediatric hospitals at Curitiba, Paraná, have “hospital
classes”, where the kids are attended by specialized teachers. However, the content “Music”,
despite being mandatory at the Art Class (LAW 13.278/2016), has not been contemplated in
hospital classes. This project presents a survey and further data, reflecting on the music
education not only as a way of developing music skills, but also by the music practice and
expression as an end, not as a tool (ILARI, 2007), which can certainly contribute to children’s
health treatment.
Keywords: Hospital Music Education; Hospital Classes; Music Teaching.
Introdução
Este trabalho parte do questionamento sobre o direito da criança à educação hospitalar: ela
de fato acontece? E a música, enquanto conteúdo obrigatório na educação básica, está sendo
contemplada na classe hospitalar ou é apenas utilizada como ferramenta para outros fins?
Seminário Internacional Desenvolvimento Humano na Primeira Infância:
Educação Musical e Musicoterapia
Escola de Música da UFMG - Belo Horizonte, 05 a 11 de abril de 2021
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Partindo dessas questões, essa pesquisa tem como objetivo realizar um mapeamento dos
hospitais pediátricos da cidade de Curitiba, Paraná e região metropolitana, para verificar se os
mesmos: a) possuem brinquedotecas e quais são os instrumentos musicais disponíveis, b)
possuem classes hospitalares para atender crianças em longos períodos de internação e c) se
nessas classes hospitalares são ministradas aulas de Arte – Música.
A metodologia utilizada para este trabalho foi, até o presente momento, bibliográfica.
Como segunda etapa da pesquisa, terá início a coleta de dados. Neste trabalho, serão
apresentadas reflexões sobre a educação musical infantil e sua importância para o
desenvolvimento da criança, para fundamentar as conclusões preliminares apresentadas, que
trazem a discussão sobre a música como fim – e não como meio.
Metodologia
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro
de 1996.
ILARI, Beatriz. Música, identidade e relações humanas em um país mestiço: implicações para
a educação musical na América Latina. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 18, 35-44, out.
2007.
PROENÇA, Josiane; TORQUATO, Rosane. Musicalização: uma reflexão sobre sua utilização
pelos profissionais da educação infantil. In: Educere, XI, 2013. Curitiba. Anais do XI
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE. Curitiba: Editora Champagnat,
2013, p. 25422-25431.
Resumo: O presente projeto de pesquisa de doutorado, apresentado aqui como pôster, trata do
tema formação de professores de música com enfoque de atuação na educação musical infantil.
Considerando que a qualidade da Educação está intimamente relacionada com a qualidade da
formação profissional dos professores, acreditamos na importância em desenvolver no adulto
que se relaciona com crianças pequenas, o olhar crítico, humano e embasado no conhecimento
científico. A problemática no entorno da questão de quais saberes são necessários ao professor
de música da primeira infância é o ponto de partida para esta pesquisa que traz como objetivo
principal, investigar os saberes necessários para a atuação de professores de musicalização
infantil. Para tanto, pretende analisar tal formação sob a ótica de professores formadores
experientes na área, identificando possíveis saberes e caracterizando aspectos comuns e
significativos nas práticas pedagógicas de professores de musicalização infantil. Como
delineamento metodológico, optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa utilizando-se como
técnica de coleta de dados entrevistas, no intuito de produzir dados que contribuam com a
identificação de tais saberes, auxiliando na discussão de conceitos fundantes. Este projeto
encontra-se na fase de coleta de dados e almeja resultar em uma tese teoricamente consistente,
que contribua para a área de Educação Musical e fortaleça as ações de formação de professores
para atuarem com educação musical infantil.
Palavras chave: Formação de Professores; Musicalização Infantil; Primeira Infância.
Abstract: This doctoral research project, presented here as a poster, deals with the subject of
music teachers training with a focus on early child music education. Considering that the quality
of education is closely related to the quality of professional training of teachers, we believe in
the importance to develop in adults that relates to small children, the critical, human and based
on scientific knowledge. The problem surrounding the question of which knowledge is
necessary for the early childhood music teacher is the starting point for this research that brings
as its main objective, investigate knowledge necessary for the performance of children’s music
teachers. To this end, it intends to analyze such training from the perspective of experienced
teacher trainers in the field, identifying possible knowledge and characterizing common and
significant aspects in the pedagogical practices of teachers of early childhood music education.
As a methodological design, it was decided to conduct a qualitative research, using as data
collection technique interviews, in order to produce data that contribute to the identification of
such knowledge, assisting in the discussion of founding concepts. This project is in data
collection phase of research and aims to result in a theoretically consistent thesis, which
contributes to the area of Music Education and strengthens teacher training actions to act with
early childhood music education.
Keywords: Teacher Training; Music Education; Early Childhood.
‘Musicalização de bebês e Educação Musical infantil’ resultou em 14 teses defendidas até 2017
(PEREIRA; GILLANDERS, 2019). Utilizando-nos dos dados coletados e apresentados pelo
autor, pudemos constatar que na interface dessas duas grandes temáticas – formação de
professores e educação musical infantil - há poucas teses desenvolvidas.
Entre os trabalhos acadêmicos mais relevantes, temos a tese de doutorado de Débora
Nieri defendida no PPG/Mus Unesp em 2014, que realizou uma pesquisa bibliográfica
intitulada ‘A pesquisa brasileira em educação musical infantil: tendências teórico-
metodológicas e perspectivas’, trabalho este que levantou e analisou tanto o material acadêmico
produzido em diversas universidades, como os projetos desenvolvidos no âmbito das extensões
universitárias compreendidos no período entre 1996 a 2012. Já a tese de Angelita Vander
Broock Schultz (2013) ‘Formação de professores para a musicalização infantil: o papel da
extensão universitária’ propõe a temática formação de professores e investiga o papel da
extensão universitária nesse processo formativo. Sua pesquisa envolveu dois projetos de
extensão de duas universidades brasileiras distintas e disserta sobre as articulações pedagógicas
encontradas em tais contextos.
Em outro artigo, resultado de pesquisa de mestrado de Joana Lopes Pereira (2016),
podemos ver enquanto sujeito, o professor de música licenciado que atua na educação infantil.
A autora traz importantes considerações ao dar voz aos professores de música que trabalham
em tais contextos, destacando aspectos relacionados aos espaços/tempos da educação infantil e
ao modo como tais professores definem conteúdos e fazem escolhas pedagógicas.
Quando contextualizamos pesquisas sobre música na educação infantil grande parte
delas desenvolvem-se com professores pedagogos, generalistas, uma vez que é este o
profissional formado para tal segmento da educação básica; no entanto, o educador musical que
se identifica com esta faixa etária, pode desenvolver trabalhos de musicalização infantil em
escolas regulares de ensino privado, em escolas especializadas de música, em projetos do
terceiro setor e em alguns casos, em redes municipais de ensino que se abrem para o licenciado.
Demonstrando que é ainda um campo de atuação a ser discutido e explorado.
A pesquisa
Tal concepção nos faz considerar a entrevista este evento que é maior que uma técnica
de coleta de dados, mas antes, a oportunidade de produção de significados, de reflexões
conjuntas, resultados de uma negociação entre entrevistador e entrevistados (GARAY, 2002,
p.5 apud SILVEIRA, 2007, p. 133). A importância assumida no papel dos entrevistados reside,
no caso desta pesquisa, no know-how atribuído aos participantes escolhidos, notoriamente
referências na área de Educação Musical Infantil no Brasil, devido às suas longas trajetórias de
docência e pesquisa.
Segundo Arfuch (2001 apud SILVEIRA, 2007, p.137), “a solicitação do diálogo com o
entrevistador motiva o entrevistado a assumir maiores responsabilidades, a construir um
panorama que excede a vivência pessoal, para se tornar eco dos ares da época”. Neste sentido,
dialogar sobre saberes necessários aos professores de música na primeira infância, com
professores formadores de reconhecida experiência na formação docente, pode gerar um
conhecimento sobre esta formação específica, buscando “ressoar os ecos dos ares da época”,
tal qual mencionado por Arfuch na citação acima.
Discutir e aprofundar as questões sobre formação do educador musical infantil é
relevante socialmente e culturalmente, pois pode contribuir de forma significativa na maneira
com a qual os cursos de formação de professores (tanto a Licenciatura em Música quanto a
Pedagogia) tratam o fazer musical infantil, reverberando também nas esferas políticas, na
valorização do professor e resultando em proposições educativas e culturais de música para a
infância.
Referências
ARAÚJO, Rosane Cardoso de. Um estudo sobre os saberes que norteiam a prática
pedagógica de professores de piano. Tese (doutorado), Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Instituto de Artes, 2005.
ILARI, Beatriz. A community of practice in music teacher training: the case of Musicalização
Infantil. Research Studies in Music Education, v.32, n.1, p.43-60, jun. 2010.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 04ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2002.
Abstract: Music Education and Music Therapy are two processes that seek global development
and the achievement of possible goals in early childhood. The use of these two practices results
in different objectives. The present work aims, through the perspective of a music therapy
student, to describe the relationship between the objectives between Music Education and
Music Therapy in global development in early childhood. For this, an experience report with a
2-year-old child is presented, in 15 music classes at the Integrated Music Center (CMI) of the
Federal University of Minas Gerais (UFMG). It was possible to notice that music classes
influenced the child's global development, even though this is a secondary objective of Music
Education.
Keywords: Music Education; Music Therapy; Early Childhood; Development.
1. Introdução
A Educação Musical pode ser conceituada segundo Louro (2006 apud Freire, Oliveira
e Parizzi, 2017) como um conjunto de práticas pedagógicas que visam o desenvolvimento de
competências musicais, através de experiências como apreciação, performance e criação. A
partir dessa definição, pode-se perceber que a Educação Musical influencia fortemente no
desenvolvimento das crianças. Por meio dessa experiência musical, através de atividades
Seminário Internacional Desenvolvimento Humano na Primeira Infância:
Educação Musical e Musicoterapia
Escola de Música da UFMG - Belo Horizonte, 05 a 11 de abril de 2021
Anais - ISBN: 978-65-88804-11-7
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A partir desse conceito, pode-se perceber que a Musicoterapia é uma ferramenta que
utiliza a música como mediadora de ações e reações, e que privilegia em seus objetivos
primários parâmetros extramusicais. Dessa forma, os objetivos têm fins terapêuticos que
consequentemente podem contribuir para o desenvolvimento de competências musicais do
indivíduo que recebe o tratamento musicoterapêutico.
Há interfaces entre essas duas áreas, como há também peculiaridades que as distinguem.
Fundamentando-se em Freire et al (2017), apresenta-se no Quadro 1 os objetivos que conectam
essas áreas e também seus objetivos distintos.
2. Relato de Experiência
1
Relatos da primeira autora deste artigo
especializada. Nessa disciplina grandes pedagogos foram relacionados à prática, para ampliar
o conhecimento sobre este campo.
Émile Jaques-Dalcroze foi um dos teóricos apresentados na disciplina através de
atividades bem como uma busca pessoal para aperfeiçoar conhecimento segundo seu sistema
de educação musical denominado Rythmique (Rítmica), que consiste em compreender os
elementos musicais através do corpo estático ou em deslocamento para chegar à compreensão
e alcance da completa musicalidade (SOUZA, 2014). Segundo Mariani (2011) considera-se que
“as primeiras experiências musicais são de ordem motora” e nas aulas de musicalização o corpo
é livre para expressar a música.
O movimento corporal ao expressar a percepção do indivíduo aos elementos musicais
envolve relações a nível cognitivo, sensível e afetivo que desencadeiam o desenvolvimento da
atenção, memória, criação, motricidade e o fazer musical (SOUZA,2014, p.13).
Y é uma menina de 2 anos e no segundo semestre de 2019 iniciou seu primeiro contato
com a música nas aulas de musicalização, totalizando 15 aulas. Essa atividade foi o primeiro
contato social de Y com outras crianças. As aulas aconteciam uma vez na semana com uma
duração de 30 minutos.
As principais atividades realizadas foram para trabalhar parâmetros de altura, duração,
forma, caráter expressivo, timbre, automatismos, som e silêncio e outros como aquisição de
habilidades motoras, identificação das partes do corpo, dinâmica e performance. Os principais
instrumentos utilizados foram: caxixi, maracá, xilofone, reco-reco, clava, tambor e a voz
humana. Algumas das principais canções utilizadas foram: Canção de saudação, Chuva vai
chuva vem, A cobra não tem pé, Eu vou andar de trem, entre outras. Quando Y chegou para
iniciar o processo musicalizador apresentava-se tímida, com poucas palavras e pouco contato
visual e físico com os outros fora de seu convívio social. A criança sempre estava acompanhada
pelo pai, este participava de todo processo realizado nas aulas, do início ao fim, sendo uma
referência próxima para a criança, sendo bem participativo, disposto e mediador das relações
musicais que as atividades despertavam na aula.
Ao cultivar o processo musicalizador, Y foi se desenvolvendo globalmente em vários
aspectos: passou a chegar nas aulas com uma comunicação mais compreensível aos outros,
permitindo e também oferecendo abraço aos colegas e à professora; contato visual mais
evidente, a própria criança auxiliava a professora na entrega ou recolhimento dos instrumentos
e demonstrava como utilizá-los para as outras crianças; começou a interagir com as músicas,
cantando, dançando e correndo sincronizada pelo espaço, indicando também canções do seu
repertório como “Alecrim”. Os pais afirmaram que foi algo positivo, e ao final das aulas Y
demonstrou mudanças significativas em seu desenvolvimento global (como pode ser visto no
formulário em anexo).
3. Considerações finais
Referências
FREIRE, Marina Horta; OLIVEIRA, Gleisson do Carmo; PARIZZI, Maria Betânia. Música e
autismo: um relato de experiência entre a musicoterapia e a educação musical especial.
Revista Brasileira de Musicoterapia, Ano XIX, ed. especial, p. 85-90, 2017.
LEÓN, Rosalía Trejo; SOUZA, Jusamara. Questionário online e entrevista à distância como
recursos de pesquisa junto a egressos de pós-graduação em educação musical. Curitiba,
2016.
Anexo 1
O formulário a seguir foi criado com a finalidade de obter um retorno do pai da Y acerca
de como foram as aulas de musicalização em seu ponto de vista e de que forma a aulas
contribuíram para o desenvolvimento da Y.
Aline Magalhães
Universidade Federal de Minas Gerais
linemagssilva@gmail.com
Abstract: The present study presents the extension project of UFMG “Musicoterapia
Hospitalar: Olhares Empático” that occurs in the hospital of urgency and emergency João
XXIII, of the net FHEMIG of hospitals. The objective of the work is to report the experience
of a volunteer music therapist, an intern and music therapy undergraduate and supervisor of the
Music Therapy course at UFMG, in the care of music therapy for children aged 1 to 3 years in
the pediatrics (ICU) of the hospital, held in the year 2019. Through the report, one can see the
results achieved by music therapists, how this process of music therapy is given to the child in
the process of admission and the benefits of music therapy for these patients.
Keywords: Music Therapy; Hospital; Pediatrics.
Introdução:
cuidadores afetada pela internação (COSTA, 2017). A Musicoterapia, que atua nas mais
diversas possibilidades, pode auxiliar no processo de internação dessas crianças. Em hospitais,
o musicoterapeuta pode ter seu trabalho denominado de Musicoterapia em Medicina, o qual
proporciona vários benefícios aos pacientes. Como Musicoterapia, a União Brasileira das
Associações de Musicoterapia (UBAM) traz a seguinte definição:
O Projeto
Resultados
Conclusão
Com este projeto de extensão, e as experiências vividas nele, é possível observar que as
crianças atendidas têm melhoras clínicas, com feedbacks feitos por familiares e pessoas da
equipe hospitalar, mostrando a eficácia da Musicoterapia para essa população. Sendo a primeira
infância uma das principais fases do desenvolvimento, é muito importante a atenção e
humanização que os atendimentos de Musicoterapia oferecem à criança em um momento
delicado da vida. São observadas mudanças não só nos pacientes atendidos, mas também em
sua equipe de cuidadores, familiares, equipe hospitalar e pacientes vizinhos de leito que
participam das sessões indiretamente. É possível observar ainda pouca produção científica
sobre a primeira infância em hospitais, tendo muitas produções somente para neonatal, o que
aponta a necessidade de mais estudos e pesquisas sobre o assunto.
Referências
FERREIRA, Rhainara Lima C.; MAGALHÃES, Aline; DIONIZIO, Leticia Lima; FREIRE,
Marina Horta. Atendimento musicoterapêutico hospitalar breve nos cuidados progressivos. In:
Simpósio Brasileiro de Musicoterapia e Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia,
2018, Teresina/PI. Anais... Teresesina, UBAM, 2018.
MAGALHÃES, Aline; FREITAS, Marina Reis; FREIRE, Marina Horta. Projeto de Pesquisa
Musicoterapia Hospitalar Pediátrica. 2018. In: Simpósio Brasileiro de Musicoterapia e
Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia, 2018, Teresina/PI. Anais... Teresesina,
UBAM, 2018.
MILLECO Filho, Luis Antônio; BRANDÃO, Maria Regina E.; MILLECO, Ronaldo P. É
preciso cantar: Musicoterapia, canto e canções. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
Tiago Madalozzo
Universidade Estadual do Paraná – campus de Curitiba II
tiago.madalozzo@unespar.edu.br
Resumo: O tema desta investigação é a forma como as comunidades acadêmica e escolar têm
compreendido o objetivo da música na infância. Se por um lado alguns autores da área da
educação endossam a ideia de que a música é responsável pelo desenvolvimento de uma série
de objetivos extramusicais na vida da criança, estudos recentes (SALA; GOBET, 2020b) são
enfáticos ao afirmar que não há evidências científicas consistentes sobre isso. Deste modo, neste
texto discute-se o impacto dos dois argumentos na percepção de estudantes de música e
professores de arte sobre o motivo pelo qual a música está presente na infância na escola. Trata-
se de um estudo com coleta de dados de estudantes e professores participantes de cursos de
formação inicial e continuada no segundo semestre de 2019, chegando-se a um paradoxo entre
as considerações da pesquisa acadêmica e os relatos desta comunidade envolvida com o ensino
de música. Ao final, aponta-se a necessidade de atualização no conhecimento sobre o assunto
pelas comunidades acadêmica, escolar e geral, compreendendo o lugar da música na escola.
Palavras-chave: Música; Primeira Infância; Objetivo.
Abstract: This research aims to investigate the ways the academic and scholar communities
understand the purpose of music on childhood. If on one hand some authors endorse the idea
that music is responsible for developing a series of extramusical goals in early childhood, on
the other hand recent studies (SALA; GOBET, 2020b) emphatically affirm that there are no
scientific evidence on that. In this text we discuss the impact of both arguments on students’
and teachers’ perceptions on the purpose of music in school. We analyze students’ and teachers’
responses on workshops taught in 2019, that lead to a paradox between their considerations and
the academic research’s ones. By the end we point out the need of updating the knowledge on
this subject by the academic, scholar and general communities, understanding the importance
of music in school.
Keywords: Music; Early Childhood; Purpose.
Introdução
articulações das artes com outras habilidades cognitivas decorrentes do estudo musical;
pesquisadores, por sua vez, repetem o discurso de que, para além do ensino da música como
linguagem artística, ela é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento global
do indivíduo.
Nesta pesquisa, parte-se de uma análise de dados bibliográficos e do campo empírico,
unindo perspectivas teóricas como as discutidas em estudo recente de Giovanni Sala e Fernand
Gobet (2020a; 2020b), a registros escritos de estudantes de música e professores que atuam
com arte na escola, buscando responder ao questionamento: qual é o objetivo da educação
musical na infância?
A partir da revisão bibliográfica e da coleta de dados junto a participantes de cursos de
formação inicial e continuada oferecidas no segundo semestre de 2019, discute-se de que modo
os argumentos da comunidade acadêmica têm impactado na percepção dos estudantes e
professores sobre o motivo de a música estar presente na infância no contexto escolar.
A observação das nuvens revela as palavras utilizadas pelos participantes: aquelas com
tamanho maior foram mencionadas mais vezes em cada turma. Na etapa de observação dos
dados, foram compiladas as palavras em destaque nas nuvens: estes termos estão registrados na
Figura 10.
Referências
FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 7.ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SALA, Giovanni; GOBET, Fernand. Cognitive and academic benefits of music training with
children: A multilevel meta-analysis. PsyArXiv, p.1-28, jan. 2020a. Disponível em:
<https://psyarxiv.com/7s8wr/>. Acesso em: 14 fev. 2021.
SALA, Giovanni; GOBET, Fernand. Cognitive and academic benefits of music training with
children: A multilevel meta-analysis. Memory & Cognition, 48, p. 1429–1441, 2020b.
Disponível em: <https://doi.org/10.3758/s13421-020-01060-2>. Acesso em: 14 fev. 2021.
SUZIGAN, Geraldo de Oliveira; SUZIGAN, Maria Lúcia Cruz. Educação Musical: um fator
preponderante na construção do ser. São Paulo: CLR Balieiro, 1986.
Resumo: A música é uma das expressões artísticas mais antigas que o ser humano usa para se
manifestar. Além disso, é considerada um poderoso agente de estimulação emocional,
cognitiva, motora e intelectual, tornando-se assim, imprescindível para o seu desenvolvimento
global, e nos últimos anos, tem sido utilizada de diversas formas para melhorar as habilidades
cognitivas em crianças. A área da música que é responsável pelos processos de ensino e
aprendizagem é a Educação Musical, na qual grandes nomes como Émile Jacques-Dalcroze,
Carl Orff, Zóltan Kodaly e Edgar Willems foram responsáveis por transformar o cenário da
Educação Musical que tinha o foco no virtuosismo e no ensino do instrumento. Edwin Gordon
também é considerado um grande mestre no âmbito da Educação Musical e é autor da Music
Learning Theory – Teoria de Aprendizagem Musical, essa teoria transmite a música como
linguagem de forma estruturada e sequenciada, tendo como foco a aprendizagem e não o ensino.
Neste sentido, o objetivo desse relato de experiência é apontar e descrever algumas das
respostas iniciais da aprendizagem musical que fazem parte da fase da Aculturação e início da
fase da Imitação, bem como as quatro primeiras etapas descritas por Edwin Gordon,
respectivamente, de uma criança, que foram observadas durante as aulas de musicalização
infantil, na qual ela participou ao longo do segundo semestre de 2019. As aulas foram
ministradas por duas educadoras musicais na Escola Bravo Academia de Música, localizada em
Bauru – SP, com duração de 45 minutos, uma vez na semana, e tiveram como modelo de
aprendizagem a Music Learning Theory de Edwin Gordon.
Palavras-chave: Educação Musical; Aprendizagem Musical; Edwin Gordon.
Abstract: Music is one of the oldest artistic expressions that human beings use to manifest
themselves. In addition, it is considered a powerful agent of emotional, cognitive, motor and
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intellectual stimulation, thus becoming essential for its global development, and in recent years,
it has been used in several ways to improve cognitive skills in children. The area of music that
is responsible for the teaching and learning processes is Music Education, in which big names
like Émile Jacques-Dalcroze, Carl Orff, Zóltan Kodaly and Edgar Willems were responsible
for transforming the music education scene that was focused on virtuosity and teaching the
instrument. Edwin Gordon is also considered a great teacher in the scope of Music Education
and is the author of Music Learning Theory - Theory of Music Learning, this theory transmits
music as a language in a structured and sequenced way, focusing on learning and not teaching.
In this sense, the objective of this experience report is to point out and describe some of the
initial responses of musical learning that are part of the Aculturation phase and the beginning
of the Imitation phase, as well as the first four stages described by Edwin Gordon, respectively,
of a child , which were observed during the children's musicalization classes, in which she
participated throughout the second semester of 2019. The classes were taught by two musical
educators at Escola Bravo Academia de Música, located in Bauru - SP, lasting 45 minutes, once
a week, and they had Edwin Gordon's Music Learning Theory as their learning model.
Keywords: Music Education; Musical Learning; Edwin Gordon.
A música é uma das expressões artísticas mais antigas que o ser humano usa para se
manifestar. Além disso, é considerada um poderoso agente de estimulação emocional,
cognitiva, motora e intelectual, tornando-se assim, imprescindível para o seu desenvolvimento
global. De acordo com Gordon (2003) todo indivíduo possui uma aptidão musical inicial inata
e quanto mais cedo se beneficiar de um ambiente musical rico, mais cedo essa aptidão pode ser
potencializada, dessa forma, a aprendizagem musical, pode e deve ser iniciada antes ou desde
o nascimento da criança.
Estudos apontam que crianças expostas a ações pedagógicas musicais direcionadas, de
acordo com a Educação Musical têm melhora significativa da percepção dos elementos básicos
da música, como altura, intensidade, ritmo e timbre (CHEN ET AL, 2010; GFELLER ET AL,
2011; GFELLER, 2016; HSIAO E GFELLER, 2012; KOSANER, 2012). Nos últimos anos, a
música tem sido utilizada de diversas formas para melhorar as habilidades cognitivas em
crianças e inúmeras pesquisas mostram que ela pode ajudar a melhorar as competências
linguísticas, auditivas, comportamentais e motoras (DASTGHEIB ET AL, 2013).
A área da música que é responsável pelos processos de ensino e aprendizagem é a
Educação Musical, na qual grandes nomes como Émile Jacques-Dalcroze, Carl Orff, Zóltan
Kodaly e Edgar Willems foram responsáveis por transformar o cenário da educação musical
que tinha o foco no virtuosismo e no ensino do instrumento. Esses pedagogos musicais se
preocuparam em inserir a Música por meio da educação do
corpo, do movimento, da audição, antes do ensino do instrumento (CUNHA, 2019).
mês e início do sexto, a criança apresentou respostas da terceira etapa, nomeada Resposta com
Intenção, pois tentou reproduzir padrões rítmicos e usou a voz cantada para emitir a tônica e
realizou os movimentos propostos nas atividades melódicas e rítmicas. Ademais, foi observado
uma melhora nas competências motoras, comportamentais e maior vocalização / balbucios.
Dastgheib et al (2013) correlacionou à música com o desenvolvimento das habilidades
cognitivas de crianças e, conforme Freire (2005), Tormin (2015) e Lopes (2019) descrevem, a
Music Learning Theory é a única teoria musical existente que apresenta a música de forma
estrutura e sequenciada, sendo assim, é possível corroborar que as melhoras apresentadas pela
aluna tanto musicalmente quanto cognitivamente foram potencializadas através das aulas de
musicalização. Portanto, as aulas que seguem a perspectiva da Music Learning Theory, além de
serem musicalmente ricas e completas, tendo em vista que a criança é exposta a diversas
métricas e tonalidades, acabam contribuindo para outros aspectos do desenvolvimento
cognitivo, social, emocional e afetivo da criança, pois essa teoria permite o fazer musical ao
vivo, além da interação direcionada e individualizada, através de uma estrutura sequenciada e
coerente para o desenvolvimento da aquisição da linguagem musical e do desenvolvimento
global da criança.
Referências
CHEN, J.K.C., CHUANG, A.Y.C., MCMAHON, C., HSIEH, J.C., TUNG, T.H. & LI, L.P.H.
Music training improves pitch perception in prelingually deafened children with cochlear
implants. Pediatrics, 2010.p.793-800.
GFELLER, K., DRISCOLL, V., KEMWORTHY, M., & VAN, T. V. Music therapy for
preschool cochlear implant recipients. Music therapy perspectives. 2011., p.39-49.
KOSANER, J., KILINE, A., DENIZ, M. Developing a music programme for preschool
children with cochlear implants. Cochlear implants international, 2012, p.237-247.
LOPES, N. Como as crianças aprendem música. Panderolê, 2019. Disponível em: <
http://panderole.com/ebook-como-as-criancas-aprendem-musica/>. Acesso em 05/01/2010.
PEREZ, M., PUJOL, E. Jugando con la musica bebés. Madrid: IGEME, 2017.
REYNOLDS, A. et. al. Music Play: The Early Childhood Music Curriculum Guide for
ParentsTeachers and Caregivers. Chicago: GIA Piblications, 2000.
Raiana M. Araujo
raiana.m.araujo@gmail.com
Resumo: Este pôster objetiva apresentar sugestões de ajudas técnicas para o ensino de músicas
contidas em quatro livros didáticos infantis a serem aplicadas também às crianças cegas. Seus
objetivos específicos são: Descrever a disciplina Introdução à Musicografia Braille; Sinalizar
exemplos de partituras em Braille; Apresentar exemplos de recursos didáticos bi e
tridimensionais referentes às músicas dos livros sinalizados. Sua questão a ser respondida é:
Quais são os produtos referentes à tecnologia assistiva/ajudas técnicas possíveis de serem criados
e aplicados na educação musical inclusiva, envolvendo pessoas videntes e cegas, tendo como
base quatro livros didáticos? Sua metodologia trata-se de uma abordagem qualitativa, apoiada
no estudo de caso, quanto ao seu procedimento. Sua fundamentação aponta autores que versam
sobre: educação musical, educação especial e deficiência visual, Musicografia Braille e
tecnologia assistiva/ajudas técnicas. Durante o processo, são apresentados os principais tópicos
do Plano de Curso da disciplina optativa Introdução à Musicografia Braille, assim como
sinalizadas as três atividades universitárias (ensino, pesquisa e extensão), realizadas mediante a
transcrição em braille de quatro livros didáticos infantis.
Palavras-chave: Musicografia Braille e Cegueira; Ajudas Técnicas; Educação Musical.
Abstract: This poster aims to present suggestions for technical aids for teaching music
contained in four children's textbooks to be also applied to blind children. Its specific objectives
are: Describe the subject Introduction to Braille Musicography; Flag examples of Braille scores;
Present an example of two- and three-dimensional didactic resources referring to the songs in
the marked books. The question to be answered is: What are the products related to assistive
technology / technical aids possible to be created and applied in inclusive music education,
involving sighted and blind people, based on four textbooks? Its methodology is a qualitative
approach, supported by the case study regarding its procedure. Its foundation points out authors
who deal with: musical education, special education, and visual impairment, braille music, and
assistive technology / technical aids. During the process, the main topics of the Course Plan of
the optional subject Introduction to Braille Musicography; are presented, as well as the three
university activities (teaching, research, and extension), carried out through the transcription in
braille of four children's textbooks.
Keywords: Blindness and Braille Music; Technical Aids; Music Education.
Seminário Internacional Desenvolvimento Humano na Primeira Infância:
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Muitos livros didáticos que contêm partituras em negro (ou em tinta) de suas músicas
só podem ser apreciados por pessoas videntes que estudaram música. Mas, se essas partituras
se apresentam na Musicografia Braille, educadores e estudantes cegos podem ter acesso a elas
em igualdade de oportunidade. Da mesma forma, se, durante o estudo dessas músicas, o
educador apresenta materiais didáticos coerentes com os perfis desses educandos, suas
competências musicais (conhecimento, procedimento e atitude) serão mais bem apreendidas.
Neste Pôster, objetivamos apresentar sugestões de ajudas técnicas para o ensino de músicas
contidas em quatro livros didáticos infantis a serem aplicadas também às crianças cegas. Seus
objetivos específicos são: 1. Descrever a disciplina Introdução à Musicografia Braille; 2.
Sinalizar exemplos de partituras em Braille; e 3. Apresentar exemplos de recursos didáticos bi
e tridimensionais referentes às músicas dos livros sinalizados. Assim, sua questão pontual a ser
respondida é: Quais produtos, referentes à tecnologia assistiva/ajudas técnicas, oriundos de
quatro livros didáticos, são possíveis de serem criados e aplicados na educação musical
inclusiva, envolvendo estudantes videntes e cegos? No tocante à metodologia de pesquisa,
optamos por uma abordagem qualitativa, de natureza aplicada, apoiada no estudo de caso,
quanto ao seu procedimento. Esta pesquisa está sendo desenvolvida no Grupo de Pesquisa
“Música na Educação e na Saúde” (UFMA/CNPq). A pesquisa qualitativa se apresenta com o
perfil descritivo dos fatos e se preocupa “[...] com o aprofundamento da compreensão de um
grupo social, de uma organização, etc.” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 31). A natureza
aplicada parte de estudos e pesquisas anteriores para a aplicação prática. No tocante ao estudo
de caso, esse “[...] pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como
um programa, uma instituição, um sistema educativo [...]” (FONSECA, 2002, p. 33). Quanto à
sua fundamentação, apoiamo-nos em autores que versam sobre: educação musical (BRASIL,
1998, 2010, 2019; TRINDADE, 2008), educação especial e deficiência visual (BRASIL, 1988,
1996, 2015; MARTIN; BUENO, 2006; SMITH, 2008); Musicografia Braille (TOMÉ, 2003;
BRASIL, 2004), tecnologia assistiva/ajudas técnicas (BRASIL, 2009).
A disciplina Introdução à Musicografia Braille, de caráter optativa, consta de um Plano
de Curso que apresenta os seguintes tópicos: Apresentação, Justificativa, Competências,
Ementa, Objetivos Específicos (em consonância com seus respectivos Conteúdos, Abordagem
Didática/Técnicas e Ensino/Recursos), Avaliação, Referências, Apêndices e Anexos. Esta
disciplina refere-se à parte dos conhecimentos específicos da área de Educação Musical
Especial/Inclusiva do Curso de Música/Licenciatura da UFMA. Ela consta de quinze encontros
de quatro horas cada, perfazendo um total de 60 horas de aula a serem ministradas durante o
semestre letivo ou durante o período de férias, constando sempre de uma turma de até 20
estudantes. Esta disciplina já foi ministrada em vários semestres, desde o ano de 2016 até
2019.4. Sua justificativa está em consonância com as exigências legais da educação
contemporânea. Quanto às suas Competências, ela segue os caminhos dos quatro pilares da
educação do século XXI (DELORS et al., 1996) — aprender a conhecer, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser. São aspectos teóricos, práticos e sociais na promoção de
ações musicais mais coerentes para a construção do ser humano integral. Na Ementa da referida
disciplina, subtendem-se os demais objetivos, conteúdos, abordagens didáticas e avaliação a
serem seguidos. Portanto, temos oito tópicos básicos: 1. Legislação internacional e nacional das
pessoas com deficiências; 2. Retrospectiva histórica e aspectos sociais, psicoevolutivo e
educacional da pessoa cega ou com deficiência visual; 3. Biografia de Louis Braille, seu
Sistema e sua Musicografia; 4. Estudo e uso de Software (Musibraille e outros); 5. Técnicas de
ensino da Musicografia Braille; 6. Criação e adaptação de materiais didáticos no perfil da
Tecnologia Assistiva/Modelo Universal, para o ensino da Musicografia Braille na perspectiva
da Abordagem Musical CLATEC; 7. Atividades de ensino, pesquisa e extensão; e 8. Visitas
Técnicas (UFMA, 2019).
Durante a aplicação dos tópicos dessa Ementa, são apresentados os aportes legais da
educação geral, especial e inclusiva, focados nas pessoas cegas. Em seguida, a retrospectiva
histórica dessas pessoas e seus aspectos — social, psicoevolutivo e educacional. Depois, são
apresentados a biografia de Louis Braille, seu Sistema de escrita e leitura e os instrumentos de
trabalho (reglete, punção e papel 40kg etc.). Em paralelo, são realizados exercícios básicos
mediante o uso do Sistema Braille. Em seguida, são realizados, progressivamente, o trabalho
teórico-prático da Musicografia Braille, a qual é iniciada na escrita manual para, depois, na
escrita digital, mediante o uso do Software Musibraille (BORGES; TOMÉ, 2009). De forma
análoga, são criados e adaptados materiais didáticos, seguindo o perfil da Tecnologia
Assistiva/Ajudas Técnicas e, sempre que possível, obedecendo ao Modelo Universal (BRASIL,
2008). Esses materiais são aplicados no ensino da Musicografia Braille, envolvendo as
atividades de Construção de Instrumentos, Literatura, Apreciação, Técnica, Execução e
Criação, ou melhor, Abordagem Musical CLATEC (TRINDADE, 2008). Segundo a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146/2015, Art. 3º, II, consideram-
se “desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados
por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os
recursos de tecnologia assistiva”. E, quanto à (III) tecnologia assistiva/ajuda técnica, essa
mesma forma, sugerimos que, além de criação e aplicação de modelos físicos de partituras —
em negro, Braille e em negro/Braille —, possamos produzir fotos e textos descritivos, exemplos
táteis de objetos, jogos, cartões, instrumentos etc., todos considerados como tecnologia
assistiva/ajudas técnicas, na perspectiva do modelo universal. Na aplicação da disciplina em
foco, as três atividades universitárias se fizem presentes: na atividade de ensino, exercitamos
os conhecimentos básicos já consagrados; na atividade de pesquisa, investigamos sites, técnicas
e ferramentas básicas para o ensino de Musicografia Braille; e, na atividade de extensão, esses
materiais (músicas transcritas e ajudas técnicas/tecnologia assistida) estarão, brevemente, à
disposição do público interessado, no site da UFMA. Esta pesquisa evidencia às Universidades
interessadas a disponibilidade da UFMA em conceder, futuramente, o acervo das 113 músicas
transcritas em Braille (on-line) e a descrição dos modelos dos protótipos criados para o ensino
de música. Consideramos que ações como essas, em igualdade de abrangência, deverão ser
desenvolvidas para que possamos promover uma educação de qualidade para todos, à luz das
orientações contemporâneas.
Referências
GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009.
TOMË, Dolores. Introdução à musicografia Braille. São Paulo: Global, 2003. (Versões em
negro e em Braille).