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D É N È T E M T O U A M BO N A
imagem da «PA Nicolas Lo Calzo: Gerardo De Souza et la Mort sur la plage de Ouldah, Bénin, 2012.
Séries Agoudas - Cham. © Nicola Lo Calzo - Courtesy of Dominique Fiat
A máscara da morte simboliza o poder do senhor. Ela faz parte do bourian - "a burrinha do
Benin" - uma cerimónia familiar introduzida em Uidá no fim do século XVIII pelos descendentes
dos brasileiros que vieram da Bahia se instalar no oeste da África, tam bém chamados agudás. Em
Uidá, sede histórica da comunidade, as máscaras do bourian fazem reviver a relação de poder entre
senhores e escravos. Na verdade, dentro das próprias famílias coabitam descendentes de escravos e
de traficantes de escravos, ascendência livre e ascendência servil. A linha de fratura entre senhores
e escravos que marcava a sociedade brasileira se recriou na África. Ela perdura até hoje no interior
das famílias agudás, em que cada um conhece sua linhagem e não ousa transgredi-la, ciente de
que se exporia a uma reprovação familiar e social. Essa hierarquia familiar fica visível no bourian:
durante a cerimônia, as máscaras que representam os senhores são usadas exclusivamente pelos
descendentes de escravos, numa inversão de papéis conhecida de outros carnavais.
Nicola Lo Calzo
C O SM O PO ÉTIC A DO R E FÚ G IO 11
0 continuum d as re sistên c ia s
M EM ENTO
H ERO IC LAND65
Alfred Panou72
PÓ SL U D IO
NOTAS ^ _ _ _
1. “Anthropocène, Capitalocène, Plantationocène, Chthulucène.
Faire des parents”. [Trad. Frédéric Neyrat]. Revista Multitudes
n°65, 2016.
2. “Résurgence holocénique contre plantation anthropocénique”.
[Trad. Dominique Quessada], Revista M ultitudes n°72, 2018.
3. “O capitalismo contemporâneo pode ser definido como
capitalismo mundial integrado, pois tende a que nenhuma
atividade humana do planeta lhe escape. Pode se considerar que
ele já colonizou todas as áreas do planeta e que o essencial de
sua expressão concerne, agora, às novas atividades que pretende
sobrecodificar e controlar”. Felix Guattari. “ Le capitalisme
mondial intégré et la révolution moléculaire ”. Journées du
CINEL - Centre d’information sur les Nouveaux Espaces de
Liberté, 1981.
4. Naomi Klein. “Screen new deal”. Disponível em português
[Trad. Maurício Brum]: https://theintercept.com/2020/05/13/
coronavirus-governador-nova-york-bilionarios-vigilancia/.
5. Aproveito para agradecer aqui o artista, pesquisador e militante
Amilcar Packer (com a ajuda do Consulado da França em São
Paulo) pelo convite para participar da experiência “Laboratório
para Estruturas Flexíveis” que transcorreu de 23 a 28 de outubro
de 2017 na Casa do Povo. Ver A batalha do vivo: https://issuu.
com/grupocontrafile/docs/a_batalha_do_vivo. https://issuu.
com/grupocontrafile/docs/a_batalha_do_vivo
6. “jeter-aller”: literalmente, “jogar (fora)-ir” “descartar-ir”,
trocadilho com a expressão “laisser aller” (“deixar estar”, “deixar
rolar”), lema do liberalismo [N.T.].
7. A respeito da figura da “bruxa”, que encarna a mulher
insubmissa, detentora de saberes terapêuticos, e perpetua uma
relação espiritual com a terra e as memórias de resistências, ver
o trabalho notável de Silvia Federici: Calibã e a bruxa, trad.
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Maglore. http://www.queerdocumentaries.com/en/
documentaries/documentary/des-hommes-et-des-dieux.
40. Matéria sobre a maior comunidade quilombola brasileira, a
comunidade Kalunga, no interior de Goiás, publicada por Caio
de Freitas Paes em Autres Brésils, 26/07/2019: https://www.
autresbresils.net/Pour-faire-face-aux-menaces-le-plus-grand-
quilombo-du-pays-dresse-la-carte-de
41. Ver: https://mapa.taina.net.br/ , http://radio.taina.net.br/ ou
/ http://www.mocambos.net/tambor/pt/baobaxia.
42. Jean Fouchard. Les Marrons de la liberté. Porto Principe:
Henri Deschamps, 1988, p. 360.
43. Um dos termos genéricos que designa a África enquanto terra
dos ancestrais, relacionado de modo imaginário a uma origem
perdida, como “Angola” ou “Congo”.
44. Ver: Jean-Pierre Le Glaunec. L’A rmée indigène. La défaite de
Napoléon en H aïti. Montreal: Lux, 2014.
45. André Corten. Misère, religion et politique en H aïti.
Diabolisation et mal politique. Paris: Karthala, 2001, p. 62.
46. Edward P. Thompson. A Formação da Classe Operária Inglesa
-A força dos trabalhadores. [Trad. Denise Bottmann], São Paulo:
Paz e Terra, 1987, p.74-75.
47. Jacques Rancière. A Noite dos Proletários. Arquivos do sonho
operário. [Trad. Marilda Pedreira]. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988].
48. Nathan Watchel. La Vision des vaincus. Les indiens du Pérou
devant la conquête espagnole (1530-1570). Paris: Ed. Gallimard,
1999, p. 279.
49. Édouard Glissant. Le discours antillais. Paris: Ed. Gallimard,
1997, p.181.
50. Aline Helg. Plus jam ais esclaves ! De l ’insoumission à la
révolte, le grand récit d ’une émancipation (1492-1838). Paris: La
Découverte, 2016, p. 23.
51. Maryse Condé. Eu, Tituba, Bruxa negra de Salem. Ed. Rosa
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