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PROLETARIADO E SUJEITO REVOLUCIONÁRIO

Ivo Tonet e Sérgio Lessa

CAPÍTULO I – A GÊNESE DAS CLASSES SOCIAIS

1. Trabalho de Coleta e modo de produção primitivo


2. O trabalho alienado e as classes sociais

Salto ontológico: passagem para um novo patamar de intercâmbio com a natureza.

CAPÍTULO II – AS CLASSES SOCIAIS NA HISTÓRIA

Uma característica da classe dominante em todas as sociedades de classes é que ela é


numericamente pequena, pois só assim a riqueza pode se concentrar nas mãos de poucos. Por
isso, necessitam de auxiliares (soldados, policiais, burocracia, juízes, advogados, carcereiros,
juristas etc).

Entre a classe dominante e os que produzem riqueza, teremos uma camada de assalariados,
maior ou menor quantidade e importância, mas sempre presente. Esses auxiliares vivem da
expropriação da riqueza produzida pelos trabalhadores manuais, por isso fazem parte da
porção parasitária da sociedade.

No entanto, existe uma contradição entre classe dominante e seus auxiliares. Quanto menor
salário que recebem, maior riqueza com a classe dominante. Por isso se estabelece uma luta
entre auxiliares e a própria classe dominante pelo salário. No entanto, todos concordam no
fundamental: manter expropriação dos trabalhadores. Discordam, no entanto, do valor do
salário. Em todas sociedades encontramos duas classes fundamentais e, entre elas, uma
camada de assalariados que são auxiliares da classe dominante.

1. As classes sociais no escravismo e no feudalismo.

CAPÍTULO III – BURGUESES E PROLETÁRIOS

A passagem ao MPC é a passagem a uma nova forma de propriedade privada.


Desenvolvimento das forças produtivas permitiu uma propriedade privada desvinculada de
uma relação necessária com qualquer porção da natureza: o capital, que se expressa
imediatamente no dinheiro.

O capital auxilia na generalização das relações mercantis a toda a sociedade, e é também


expressão de um patamar mais elevado da produção que possibilidade grande quantidade de
produtos voltada ao mercado e não mais para o consumo imediato.

Período em que capital se generalizou à forma universal da propriedade privada, Marx


denomina de “A acumulação primitiva do capital” – do século 15 até o início do século 19.

A partir da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, humanidade conhece capitalismo e


capital exibe suas características, dentre elas (1) acumulação da propriedade privada quebra os
limites do passado: de mil passa-se a milhões, bilhões, trilhões, um processo infinito; (2)
enriquecimento dos indivíduos pode se dar tanto expropriando trabalhadores que
transformam a natureza (proletários) como também em outras atividades que não
transformam a natureza. Assim, uma parcela pode enriquecer sem ser necessariamente
proprietária de uma fábrica ou de uma fazenda, mas também de comércio, bancos e muitos
serviços. Isso torna a sociedade mais complexa e provoca a ilusão de que é possível produzir
riqueza sem ser por meio da transformação da natureza.

1. Um pouco de ciência econômica

A riqueza de toda sociedade é composta pelo acúmulo do que as gerações produzem ao longo
do tempo: estradas, fábricas, fazendas, prédios, cidades, portos, navios... na medida em que
são produzidos, aumentam riqueza total da sociedade.

“conteúdo material da riqueza social, qualquer que seja a forma social desta”. (Marx, 1983:46).

No MPC, a forma social dessa riqueza é o capital.

CAPÍTULO VI – O QUE É UMA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA?

1. A burguesia, a primeira classe revolucionária

Maior precisão sobre o termo revolução. Historicamente: humanidade, tal como conhecemos,
100 mil anos atrás. Primeiras sociedades de classes há 12 mil anos atrás. Primeira revolução,
Revolução Inglesa (1642-1649), pouco mais de 350 anos. A primeira grande Revolução que
teve um impacto sentido por toda a humanidade foi a Revolução Francesa (1789-1815), pouco
mais de 220 anos.

Nesse evento também houve uma classe revolucionária que pela primeira e única vez realizou
plenamente seu projeto: a burguesia. Ou seja, até hoje, a humanidade conheceu apenas duas
classes revolucionárias: burguesia e o proletariado. Dessas, apenas a burguesia foi capaz de
transformar revolucionariamente seu projeto.

Marx e Engels, mas também Lenin, Trotsky, Gramsci, Lukacs, Rosa Luxemburgo compreendiam
o comunismo como uma etapa mais próxima nos dias em que viveram. Não previram um
prolongado período de derrotas das tentativas revolucionárias. Hoje percebe-se de forma mais
evidente o stalinismo, a socialdemocracia, derrotas da primeira metade do século XX não
como antessala da transição do comunismo, mas prenúncio do mais extenso período histórico
sem revoluções dede a Revolução Francesa. Para Lessa, a última revolução que teve impactos
mundiais foi a Revolução Chinesa, que terminou em 1949.

Termo diversificado para “Revolução” – Marx denomina Revolução de 1848 com a mesma
palavra que emprega para denominar Revolução Francesa ou a revolução proletária por vir,
ainda que tratando de fenômenos sociais bastante distintos. Hoje, ainda mais diversificado.

Pal Singer, 2008 – revolução significa um movimento lento de transformação capilar de


sociedade, como a economia solidária.

Arcary, 2004 – levante mais duro ou mais sangrento, mesmo que não chegasse a alterar a
essência da sociedade.

Para outros, algo mais próximo da explosão de 1917.


Por fim, entendimento de revolução como a troca de classes no poder da sociedade, abrindo a
transição para um novo modo de produção.

2. Revoltas e revoluções

Primeira revolução: Revolução da Inglaterra (1642-49). Primeira revolução burguesa.


Vanguarda revolucionária – burguesia francesa em 1789 – maior e mais clássica de todas as
revoluções burguesas: revolução francesa. Essas duas experiências são essencialmente
diferentes de inúmeras revoltas dos explorados que precederam.

Desde que surgiu a exploração do homem pelo homem, as revoltas fazem parte da história.
Não apenas trabalhadores em geral, mas também mulheres, negros, não raras vezes se
revoltaram contra a exploração e contra patriarcalismo, no primeiro caso e racismo, no
segundo. Nenhuma poderia ser uma verdadeira revolução, porque o desenvolvimento das
forças produtivas ainda era baixo, de forma tal que o poder dessas pessoas fazerem história
era contrabalanceado pela interferência dos fenômenos naturais sobre a vida da sociedade.
Assim, indivíduos não tomavam consciência de que são os únicos senhores da sua história: não
havia consciência revolucionária. Deuses e forças naturais ainda pareciam responsáveis por
parte importantíssima dos destinos humanos.

Faltava mediação material, prática e ideológica para que seres humanos se propusessem a
tarefa gigantesca de alterar, pelas suas ações, essência do modo de produção.

A passagem ao capitalismo comercial, surgimento do mercado mundial e desenvolvimento das


manufaturas possibilitaram um tal desenvolvimento das forças produtivas que, pela primeira
vez, houve uma classe que possuía potência histórica imprescindível – que inclui consciência
desta potência – para propor e levar adiante tal transformação da sociedade.

Essa é a diferença essencial entre revoltas pré-capitalistas e revoluções burguesas. Nas


primeiras, não há condições para surgimento de uma classe revolucionária capaz de liderar
uma transição a um novo e superior modo de produção.

Nas revoluções Francesa e Inglesa, diferentes classes – e, dentro delas, diferentes setores e
agrupamentos – conheceram movimento pelo qual suas consciências foram se desenvolvendo
na medida em que as contradições objetivas também evoluíam, de tal forma que permitiu a
destruição do modo de produção feudal. Isso resultou também a libertação da opressão
absolutista feudal dos servos, pequenos artesão e comerciantes, profissionais liberais e, claro,
dos próprios burgueses.

“A burguesia pôde se converter em classe revolucionária também porque seu projeto histórico
era a emancipação da opressão feudal da enorme maioria da população de seu tempo. O
projeto histórico da burguesia pôde cumprir esse papel porque a própria burguesia ocupava
um lugar decisivo, central, na reprodução da sociedade de então. Ainda que politicamente a
França e a Inglaterra fossem dominadas pelas forças absolutistas, a economia estava nas mãos
da burguesia. O fundamental da riqueza de então tinha por mediação de sua realização a
burguesia. Embora fossem os servos e os artesãos que produzissem a maior parte da riqueza,
uma boa parte vinha também do comércio internacional e, até mesmo, dos saques de outros
povos. Foi essa inserção na reprodução da sociedade de seu tempo que possibilitou à
burguesia ter a força necessária para ser a portadora do projeto histórico de todas as outras
camadas e classes sociais em oposição ao absolutismo.”
As classes no poder até então tentaram adiar o embate final para vencer, mas isso foi
inevitável. Abertura da crise revolucionária é precedida de negociações por parte da facção
mais moderada da burguesia com rei e facção menos retrógrada da nobreza. Em ambos os
casos, crise começou sem que fosse planejado por nenhuma das forças em conflito.

Ao iniciar a revolução, em algumas décadas trabalho assalariado foi universalizado e capital


substituiu a propriedade feudal. Velha classe dominante, suas instituições e privilégios, foi
eliminada da história.

A revolução teve dois momentos fundamentais e inseparáveis: momento político (mudança


fundamental quanto ao poder político) e social (transformação essencial na forma do
trabalho).

CAPÍTULO VII – A REVOLUÇÃO PROLETÁRIA

1. O capitalismo não enterra a si próprio

Transições na revolução burguesa: Estado absolutista convertido em burguês, mas mantido.


Propriedade privada tinha que superar a propriedade privada feudal, mas propriedade privada
deveria permanecer. Família monogâmica aristocrática substituída pela família burguesa, mas
superação do patriarcalismo não podia ocorrer ainda. Assim, substituiu-se uma classe
dominante por outra, surgindo uma nova sociedade de classes, ao invés de uma superação.

As relações de produção capitalistas surgiram e se desenvolveram ainda sob modo de


produção feudal. Feudalismo e capitalismo conviveram por longos séculos.

A burguesia deu seus primeiros passos, expandindo seu poder econômico e político sob o
absolutismo, para só então tomar o poder.

Revolução proletária – abertura da transição ao modo de produção comunista. Reprodução da


sociedade terá uma forma inteiramente nova de intercâmbio material com a natureza.
Trabalho associado, “libre organização dos trabalhadores e associados”. As necessidades
humanas, e não mais a riqueza da classe dominante – irão dirigir a produção do conteúdo
material da riqueza social pela transformação da natureza nos meios de produção ou
subsistência.

De forma imprescindível, haverá controle livre, consciente, coletivo e universal dos produtores
sobre processo de produção e distribuição da riqueza. Assim, terá que deixar pra trás o
controle do trabalho manual pelo trabalho intelectual e toda hierarquia que necessariamente
acompanha o trabalho alienado.

Posto isso, a revolução proletária se difere e se torna mais complexa na medida em que não se
trata de uma passagem para novo patamar histórico da sociedade de classes, mas transição a
uma sociedade inteiramente nova.

“O mero desenvolvimento do capitalismo não conduzirá a nada mais do que ainda mais
capitalismo”.

Formas coletivas da propriedade privada, como fábricas ocupadas e cooperativas de


trabalhadores são rearranjos das relações de produção capitalistas. Trabalho continua
assalariado, produto continua sendo mercadoria, mercado é mediação com totalidade
essencial. Ainda que sejam frequentemente uma forma de resistência, não podem ser um
passo ao socialismo ou mesmo um socialismo em miniatura.
O capitalismo, assim, não destrói a si próprio. Pode destruir a humanidade, isso sim. Mas não
tem como conduzir “automaticamente” ao comunismo.

2. O capitalismo cria seu próprio coveiro

Em dois sentidos: gera uma classe revolucionária, o proletariado, e gera a possibilidade e


necessidade da revolução. Não destrói a si próprio naturalmente, mas desenvolve suas
próprias contradições.

A história das sociedades de classes: senhores de escravos e escravos, senhores feudais e


servos, burguesia e proletariado. Entre essas classes, auxiliares das classes dominantes, na
maioria das vezes, assalariados.

No capitalismo, cabe ao proletariado a produção de toda a riqueza social, “produção do


capital”, como diz Marx.

Assalariados: “na medida em que seus rendimentos têm sua origem na expropriação do
proletariado pela burguesia, seu horizonte histórico não vai além de reclamar que uma parcela
maior dessa riqueza seja a eles transferida por uma elevação dos seus salários. Não é difícil
perceber os limites dessa luta. Por mais que se ampliem os salários, a exploração do homem
pelo homem continuará sendo o fundamento da sociedade. A luta por melhores salários pode
conduzir, no seu absurdo limite máximo, a uma distribuição equitativa entre a burguesia e os
assalariados da riqueza expropriada do proletariado pelos capitalistas, mas não conduzirá
jamais ao fim da exploração do homem pelo homem.”

Proletariados: contradição com burguesia não se limita à luta por melhores salários (mesmo
que seja maior, continuarão sendo expropriados). A única forma de se emancipar da
exploração é se emancipar do domínio do capital.

Para isso, é necessário que o trabalho passe a produzir o que os humanos necessitam, e não
para produzir capital. O trabalho que produz valores de troca deve ser substituído pelo
trabalho que produz valores de uso – o necessário para a vida humana, e não mais para a
propriedade privada da burguesia, o capital.

Assim, a emancipação do proletariado é também a emancipação de toda a humanidade. O


interesse particular do proletariado, seu projeto histórico, coincide com a superação de toda a
ordem social baseada na exploração do homem pelo homem, mediada pelas classes sociais,
pelo Estado e pela família monogâmica.

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