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“Quando o trabalho é na casa do outro”

1. Dimensões do trabalho para Borges e Yamamoto (2004) – concreta, gerencial, sócio-econômica,


ideológica e simbólica

Concreta: referente a atividade em si e as condições materiais para sua execução: o fazer cotidiano, as
especificidades, finalidades, meio e condição que se realiza.

Simbólica: significado e sentido do trabalho para o trabalhador, implicações emocionais, efeitos pessoais, o
que ele mobiliza em termos subjetivos e efeitos pessoais que decorrem do envolvimento com o trabalho

Gerencial: maneira como se planeja, organiza e controla a atividade

Socioeconômica: referente a estrutura social em seus níveis econômico e jurídico-político.

Ideológica: valores associados que predominam na sociedade

2. (prévia – não é desse artigo) MARX: dimensão ontológica (inerente à espécie humana, homem
enquanto produtor de bens que garantam sua própria existência, produzindo conhecimentos e cultura
humana) e dimensão histórica (maneira como essa produção se organiza em cada momento histórico –
antiguidade: escravismo, feudalismo: servidão, capitalismo: assalariado)

Sobre isso:

Somente o trabalho tem como sua essência ontológica, um caráter claro intermediário entre homem
( sociedade) e natureza, tanto inorgânica (utensílio, matéria-prima, objeto de trabalho, etc.) como orgânica,
interrelação que pode até estar situada em pontos determinados da série a que nos referimos, mas antes de
mais nada assinala a passagem, no homem que trabalha, do ser meramente biológico ao ser social. (Marx
& Engels, 1974, p. 19).

MARX:
Assim, trabalho é, antes de tudo, atividade dirigida para satisfação das necessidades humanas. Na medida
em transforma o mundo “natural” com essas atividades, adequando-o conforme suas necessidades, o
homem também é transformado por essas atividades, adquirindo novas habilidades, modos de vida, inventa
outros desejos e possibilidades de transformação.

Trabalho diferente Atividade – existe planejamento prévio, elaboração de um projeto antes de concretizá-lo.
Projeto definido pela finalidade orienta o processo do trabalho, que pode ser variado bem como as utilidades
produzidas pelo trabalho.

Valor de uso
Para cada valor de uso é produzido um tipo de atividade e meios de trabalho adaptados à sua
especificidade. A qualidade e o conteúdo do trabalho estão ligados principalmente a esse valor.

A finalidade orienta tanto este processo de trabalho como a vontade do trabalhador, que necessita ser
colocada a seu serviço para possibilitar a materialização do resultado.

“No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do
trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural;
realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie
e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade” (MARX, 1985, p. 149-50).

Valor de troca
O trabalho produtivo, por ter como destino o mercado, é definido também pelo valor de troca. Isso porque é
necessário modificar o processo de trabalho para que haja valor de mercado e garantia de lucro na sua
comercialização como mercadoria. Assim, quantidade e tempo tornam-se elementos importantes para
definir o processo de trabalho quando se fala em valor de troca e possibilidades de lucro.
Trabalho Remunerado
Valor de uso e valor de troca possuem diferentes tipos de exigência (o primeiro referente a qualidade e
conteúdo – sendo conteúdo o tipo de material, atenção diferenciada etc - e o segundo a quantidade e
tempo), e ambos são determinantes para o trabalho remunerado, colocando um conflito para o trabalhador.
LEONTIEV p.17
Atividade:
- principal estudo de Leontiev
- parte de um motivo inicial (que considera ser alguma necessidade das pessoas – não há atividade sem
necessidade), e então passa por processos operacionais intermediários e a correção e enriquecimento a
partir dos resultados obtidos.
- regulado e orientado pelo objeto da necessidade, diferenciando-se pela forma, modo que realizam, tensão
emocional que provoca e características temporal e espacial.
- vinculada a condições sociais, dependendo então do lugar de cada homem na sociedade e das condições
que lhe atingem

“O homem encontra na sociedade não só as condições externas às quais pode acomodar sua atividade,
mas essas atividades também condicionam os motivos e fins da atividade e seus procedimentos e meios.”
(p. 20)

Ação:
- conceito utilizado para discutir a questão da atividade em sociedades mais complexas em que a satisfação
da necessidade não se dá de forma direta e imediata pela atividade.
- passos intermediários para alcançar a necessidade, podendo ser assumidos por diferentes pessoas. Isso
permite que o motivo final torne-se desconhecido para uma pessoa que executa apenas um dos passos
intermediários, pois esta é orientada para atingir, através da ação, fins parciais para atingir a necessidade
final. Assim, o interesse pessoal pode não coincidir com o motivo para atividade, que pode inclusive ser
desconhecido para essa pessoa.
- é composta por um aspecto intencional definido pela finalidade intermediária, mas também por um aspecto
operacional.

Aspecto operacional corresponde ao “como” e “em que condições” a ação se realiza

Significado social: motivos da atividade


Sentido pessoal: ação e os motivos individuais que levam a realizá-la
Sentido pessoal e significado social nem sempre caminham juntos: motivo do empregador e do trabalhador
pode ser conflitantes.
Assim, “um trabalho pode ser valorizado pelo trabalhador, mas desvalorizado socialmente, da mesma
maneira que é possível que um trabalho de alto valor social seja sem sentido pessoal para quem o realiza.”

CODO
3 dimensões de confronto do homem:
(1) com a natureza não humana: homem atuando com materiais para transformá-los em algo útil
(rotina, significado, importância social e o sentido do trabalho)
(2) com os outros homens (com a sociedade): trabalho se realiza em um contexto social específico e
não deve ser definido a partir de relações imediatas, mas a partir de uma análise de sua estrutura,
pois o trabalho está submetido às regras e ao modo de funcionamento da sociedade e também
como a sociedade define o trabalho e seu produto.
(3) consigo mesmo: ao submeter ao trabalho, o homem coloca em confronto o afeto e outras questões
subjetivas para submeter-se ao que é necessário para viabilizar a produção.
“é a partir desse confronto com a natureza, com a sociedade e consigo mesmo que Codo (2003) explica a
possibilidade de que o trabalho seja tanto fonte de realização quanto de sofriento. De realização quando
permite o controle e a construção de sentido e de sofrimento quando provoca a ruptura com a própria
subjetiivdade.”

ARENDT
Atividade pode ser classificada em três tipos, todos carregados de prazer e sofrimento:
Labor – mais básica e fundamental, trata-se da manutenção da vida e não é exclusiva do homem (embora
este tenha particularidades na forma de executar). O sofrimento do labor está no “esforço doloroso e
exaustivo da atividade que nunca termina”. O prazer está na “regeneração agradável que se segue à
exaustão dolorosa”
Trabalho – criação de objetos da natureza em produto. Prazer está em conseguir transformar um material
da natureza em produto para utilidade humana, dando sensação de segurança e confiança. Sofrimento
quando este produto nem sempre é apreciado no mercado.
Ação – “atividade que se exerce diretamente entre os homens sem mediação das coisas ou da matéria”.
Prazer relacionado ao desejo de auto-exibição e auto-revelerar-se. Sofrimento na exposição aos riscos, a
tensão entre a imprevisibilidade e possibilidade de fracasso.

ERGONOMIA
Tem como principal principio buscar formas do trabalho adaptar-se ao homem, e não ao contrário. Faz isso
partindo do trabalho concreto, cotidiano, atentando ao seu contexto sócio-econômico.

3. O sujeito no trabalho
“Dessa maneira, o trabalho pode ser fonte tanto de prazer, quando de sofrimento, de realização ou desgaste
e motivo de orgulho ou frustração. Isso porque, da mesma maneira que o trabalho exige novas habilidades
e estimula mudanças, também expõe limites, fraquezas e dificuldades.” (p. 35)

4. A desvalorização dos serviços domésticos


“Nos estudos sobre os serviços domésticos a exploração, a dupla jornada, o confinamento no mundo
privado, a vergonha, a injustiça são alguns dos temas colocados em discussão” (p.45)

“No estudo de Kofes, o ponto de vista de patroas e empregadas convergem no que diz respeito ao serviço
doméstico, que é visto pelas mulheres dos dois grupos como trabalho que escraviza e que tem pouco
retorno a oferecer para quem a ele se dedica” (p.46)
“Essa posição dos serviços doméstico remunerados entre o público e o privado tem consequencias para a
definição do seu valor concreto e simbólico. Kofes (2001), por exemplo, entende que a valorização dos
serviços domésticos fica sujeita às variações da força da necessidade particular de quem contrata, sendo
esses serviços tanto mais valorizados quanto mais necessários em um determinado momento. Dessa
maneira, as despesas com a empregada doméstica podem ser encaradas de maneiras muito diferentes
quando as pessoas precisam deixar a casa e os filhos pequenos sob a responsabilidade de alguém e
quando já não tem mais a mesma urgência por esses serviços. Além disso, Nunes (1993) considera que o
fato de não se tratar de uma empresa e não gerar lucro faz com que os custos dos empregados domésticos
sejam percebidos como um gasto e não como um investimento, sendo as disputas em torno do valor pago
pelo trabalho motivadas pelo desejo de economizar ou de garantir outras formas de consumo.” (p.51)

“Como disseram Camargo e Isidoro (1197, p.123) “basta ser mulher, saber fazer arroz, feijão e faxina para
abandonar a vassoura própria e abraçar a dos outros”. De acordo com Nunes (1993), a aprendizagem para
esse tipo de trabalho é considerada uma aprendizagem ´natural´ que acontece como parte de socialização
da mulher. Daí Melo (2000) falar da ocupação doméstica como o ´eterno lugar do feminino´, herança da
divisão social do trabalho que reserva às mulheres as tarefas diretamente ligadas à reprodução” (p.51)
 as maiores taxas, tanto de tentativa quanto de pensamento suicida, foram encontradas entre as
empregadas que moram com os patrões
“usando a terminologia derivada do pensamento marxista, os serviços domésticos fazem parte das
atividades ligadas à reprodução da força de trabalho e não à produção de mercadorias. A distinção entre
atividade de produção e de reprodução diz respeito ao valor de uso ou à função prática do resultado da
atividade.”
Produção – produção de coisas para o mercadoria
Reprodução – reprodução de pessoas na sociedades

5. A categoria profissional e as condições de trabalho

- 6 milhões de trabalhadores no serviço doméstico (IBGE, 2003)


- empregado doméstico: “aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à
pessoa ou à família, no âmbito residencial destas.”
 Classificação Brasileira de Ocupações (2002), quatro subcategorias dos empregados em serviços
domésticos: (1) serviços gerais, (2) diarista, (3) faxineiro, (4) arrumador. - diferenciado pelo tipo de
atividade e jornada de trabalho
 Mensalista tem direito a carteira assinada, diarista (subcategoria: faxineira, passadeira, serviços
gerais em limpeza e arrumação) não.
 94,3% ocupado por mulheres(IBGE, 2006)

p. 92

http://analgesi.co.cc/html/t12042.html
http://www.eumed.net/ce/2011a/cnl.htm

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