O Natal Oculto

1. Francisco:
Todos conhecemos e nos enternecemos com o Presépio, mas
será ele apenas uma representação do nascimento de um escolhido?
Devemos a autoria do Presépio, em sua forma atual, a São
Francisco de Assis, que, apesar de toda a sua conhecida e reconhecida
humildade, não vinha de família humilde. Francisco saiu da casa de
seu pai, rico comerciante, abdicando de um projeto de cavalaria, para
dedicar-se à vida monástica, fundando depois uma Ordem que levou à
renúncia material às últimas conseqüências.
Ocorre que Francisco, o Presépio e a própria Igreja encerram
uma simbologia esotérica que não aparece revelada a olhos profanos.
O que aparece é exotérico, para consumo externo, mas existem
símbolos ocultos que remetem a uma sabedoria muito mais antiga.
Para iniciar, seu nome real não era Francisco, mas Giovanni –
ou, para nós, João – sendo Francisco um apelido de origem francesa
(Francesco é Francês em italiano) posto pelo pai, ou pelas freqüentes
viagens à França e o gosto que Francisco tinha por esse país, ou por
homenagem à mãe, de sobrenome Bourlemont.
Como sabemos, a celebração do Natal é 25 de dezembro e em
27 é a de São João Evangelista. Esse S. João era conhecido como o
preferido, o amado do Cristo. Francisco tinha a fama de conversar
literalmente com Jesus, sendo – e ele mesmo insistia nisso –
considerado por sua Ordem superior ao próprio Papa, pois traria
expressa a vontade direta do Senhor. O Espiritismo afirma ser
Francisco uma reencarnação de São João Evangelista. (Francisco de
Assis – João Nunes Maia, pelo Espírito Miranez)
Francisco adotou como símbolo de sua Ordem o Tau, mais
conhecido pelos seus devotos como Cruz Franciscana.
Ocorre que o Tau é muito mais antigo do que o Cristianismo
e talvez do que o próprio Judaísmo. Aparece em cavernas pré-
históricas. Aparece nos objetos do faraó que inventou o monoteísmo e
trocou de nome de Amen-Hotep ("Amon está satisfeito”) para
Akhenaton ("o espírito atuante de Aton"). Aparece até na civilização
Maia. O Tau é um símbolo atávico, misterioso e vital que recorda
tempo e eternidade. A grande busca do humano querendo tocar
sempre o divino e este vindo expressar-se na condição humana.
Horizontalidade e verticalidade. As duas linhas: Céu e Terra. O Tau
tem também um significado bastante divulgado na Idade Média:
perfeição, meta, finalidade última, santo propósito, vitória, ponto de
equilíbrio entre forças contrárias. A sua linha vertical significa o
superior, o espiritual, o absoluto, o celeste. A sua linha horizontal
lembra a expansão da terra, o material, a carne. Está na Árvore da
Vida, como um dos caminhos, o 32º, de Malkut a Yesod.
O Irm.’. Nicola Aslan (in Grande Dicionário Enciclopédico
de Maçonaria e Simbologia) afirma que o Tau, entre os antigos, era
um símbolo sagrado e universal, tendo aparecido inicialmente entre os
fenícios (nota: tanto Hiram era rei da cidade-estado fenícia de Tiro,
quanto Hiram Abiff era um fenício de Tiro), representando as forças
naturais do Sol fecundador, da terra fertilizada e, consequentemente,
a vida universal.
Agora observe o Cântico ao Irmão Sol, ou Cântico das
Criaturas, de São Francisco:

Cântico ao Irmão Sol

Altíssimo, onipotente e bom Senhor, a ti subam os louvores, a glória e
a honra e todas as bênçãos!
A ti somente, Altíssimo, eles são devidos, e nenhum homem é sequer
digno de dizer teu nome.
Louvado sejas, Senhor meu, junto com todas tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão sol, que é o dia e nos dá a luz em teu
nome.
Pois ele é belo e radioso com grande esplendor, e é teu símbolo,
Altíssimo.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã lua e as estrelas, as quais
formaste claras, preciosas e belas.
Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão vento, e pelo ar, pelas nuvens
e o céu claro, e por todos os tempos, pelos quais dás às tuas criaturas
sustento.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã água, que é tão útil e humilde,
e preciosa e casta.
Louvado sejas, Senhor meu, pelo irmão fogo, por cujo meio a noite
alumias, ele que é formoso e alegre e robusto e forte.
Louvado sejas, Senhor meu, pela irmã, nossa mãe, a terra, que nos
sustenta e nos governa, e dá tantos frutos e coloridas flores, e também
as ervas.
Louvado sejas, Senhor meu, por aqueles que perdoam por amor a ti e
suportam enfermidades e atribulações.
Benditos aqueles que sustentam a paz, pois serão por ti, Altíssimo,
coroados.
Louvado sejas, Senhor meu, por nossa irmã, a morte corpórea, da
qual nenhum homem vivo pode fugir.
Pobres dos que morrem em pecado mortal! e benditos quem a morte
encontrar conformes à tua santíssima vontade, pois a segunda morte
não lhes fará mal.
Louvai todos vós e bendizei o meu Senhor, e dai-lhe graças, e o servi
com grande humildade!

Como vemos, ele coloca o Sol como símbolo de Deus. O

primeiro Deus único foi Aton, representado pelo Sol e cultuado por
Akhenaton, que usava um Tau. Nomeia claramente os Quatro
Elementos, evocando toda a natureza, inclusive a morte. No segundo
verso, declara inefável o nome de Deus. Um alquimista não teria
escrito melhor cântico!

2. O Presépio:
O Presépio já foi encontrado em representações anteriores,
mas, na forma atual, foi criado por São Francisco para uma celebração
natalina na cidade de Greccio, em 1223.
O Presépio todo encerra simbologias herméticas e
cabalísticas.
 “O homem pegou num pedaço de barro e,
paradigmaticamente, moldou-o à sua imagem e semelhança, deu-lhe
as cores da Vida, transmitiu-lhe um significado simbólico”. (Rui
Arimatéia).
Jesus Cristo é a manifestação carnal do Incriado. Material,
portanto, embora distinto.
Quando se trabalha com a Árvore da Vida, a Criação vem de
cima para baixo e temos duas colunas, sendo uma masculina e a outra
feminina. Quanto mais acima, mais espiritual; quanto mais abaixo,
mais material. O Caminho do Meio equilibra os opostos.
Temos no Presépio representações que remetem a tudo isso.
Temos uma Luz superior, engendrada pela Estrela-Guia, que reflete
Deus no homem, remetendo-nos ao aforisma hermético: “O que está
em cima é como o que está embaixo”1.
Temos o masculino e o feminino das colunas em São José e a
Virgem Maria.
Temos uma gruta onde nasce um novo e iluminado ser. Aqui
a mensagem é clara: a Luz espiritual iluminando o ser material.
Da mesma fonte acima:
“O Mistério aconteceu... há dois mil anos, em finais de
Dezembro2, despontava o Sol na obscuridade do signo zodiacal do
Capricórnio3 (de onde a Gruta, por analogia), nascendo no horizonte,
no seio da Constelação da Virgem e encontrando-se no alto do
firmamento a Constelação Orion com as três estrelas no centro - os
Reis Magos... Eis a encenação astronómica do Natal que deu origem
ao nascimento do Cristo Mítico, pois nos encontramos perante a
dramatização de um Mito(sic) Solar”.
Órion no zênite.
Na entrada do Or.’., temos Spica – da Constelação de
Virgem!

1
Esse aforisma é também Cabalístico, como podemos ver na página 93 de “Iniciação à Cabala – Tova Sender”:
“O mundo inferior foi feito à imagem do mundo superior. O inferior não é senão o reflexo do superior, para
que a unidade seja perfeita. (Rabi Shimon)”
2
Solstício de Inverno no Hemisfério Norte.
3
Meio-Dia no Templo
 Temos os Três Reis Magos recepcionando um recém-
chegado especial e que simbolizam Órion. Órion é a constelação dos
AApr.’..
Um presépio é um lugar para alimentação do gado, por isso a
manjedoura. Ao se refugiarem ali, as pessoas se nivelaram aos
animais, como integrantes do mesmo Universo. Temos o Cristo
colocado na manjedoura, que seria o lugar onde era servido o
alimento. O pão é a representação desse alimento. Símbolo da
fraternidade, a beneficência e a partilha das posses, o comedimento e
o alimento espiritual e físico. Trinta e Três anos mais tarde, Ele – pão
da manjedoura – se repartiria em sacrifício: “Tomando o pão e tendo
dado graças, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: Este é o meu
corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. (Lucas
22:19).
É o Grande Iniciado que se oferece em sacrifício e sacrifício
é a missão de todo o Iniciado. Essa é a verdadeira carga do Presépio e
simboliza não só a inocência e santidade do Deus-Menino, mas é um
dedo apontado para cada um de nós, cobrando que não fraquejemos na
caminhada em direção à verdadeira Luz. Foi para isso que nascemos
novamente, recolhidos em uma gruta. Para isso fomos escolhidos!
3. Conclusão:
Esta peça tem a intenção de diminuir e paganizar o Natal?
Muito pelo contrário! É uma reflexão sobre a mensagem que traz e
sobre a sabedoria que encerra, velada. Nada tem de contrário ao
Cristianismo, afinal, nós, cristãos, somos apenas um braço do
Judaísmo, hermético e cabalista. Somos uma seita que cresceu e
tornou-se uma grande Religião e nada mais natural que partilhemos
conhecimentos da nossa fonte comum. A parte esotérica de uma
religião não chega aos leigos.
Na página 8 do Caibalion – Três Iniciados, encontramos que
“Todos os preceitos fundamentais e básicos introduzidos nos ensinos
esotéricos de cada raça foram formulados por Hermes”, e que “os
estudantes de Religiões Comparadas compreenderão facilmente a
influência dos preceitos herméticos em qualquer religião merecedora
desse nome...”.
 Todas as grandes religiões, que compreendem em suas bases
o verdadeiro sentido do religare – religação do homem com Deus,
seguem princípios herméticos e/ou cabalísticos. A própria Cabala é
um caminho de Criação ou de Religação, dependendo do sentido que
se percorra a Árvore da Vida. Cada crença com seu norte, cada credo
com sua visão.
E, para aqueles que dizem que as trindades messiânicas se
repetem nas diferentes culturas, e por isso seriam apenas lendas, pode-
se perguntar se não seria essa a forma do G.’.A.’.D.’.U.’. agir quando
necessita, de tempos em tempos, realinhar nossos por vezes tão
malfadados rumos. Mudam as lendas, mudam as personagens, mas o
triângulo se repete.

FELIZ NATAL!!!

Ir.’. Hermeto Silva

Or.’. de Uruguaiana, 16 de dezembro de 2018, E.’.V.’.

Bibliografia:

https://www.franciscanos-rs.org.br/simbolos-franciscanos/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis

https://evoraoculta.blogspot.com/search?q=Presépio

Oswald Wirth – O Simbolismo Astrológico

Três Iniciados – O Caibalion

Tova Sender – Iniciação à Cabala

Luiz Fachin – Virtude e Verdade – Graus Simbólicos