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Fontes de Direito

Fontes de Direito consistem nos modos produção e revelação das normas jurídicas
ou do direito.
São também as formas através das quais o Direito é criado e dado a conhecer, ou
seja, evidência a maneira como é criada e se manifesta socialmente a norma
jurídica.

As fontes de direitos são várias designadamente: lei, costumes, jurisprudência,


Doutrina, e tratados e convenções internacionais.

Nas fontes acima referenciadas encontramos uma subdivisão:

Fontes imediatas ou directas, são as que têm força vinculativa própria, sendo,
portanto, os verdadeiros modos de produção do Direito. O legislador é
obrigado a recorrer às mesma quando pretende produzir leis.

O artigo 1 do Código Civil define como fontes imediatas do direito as leis e as


normas corporativas.

Fontes mediatas ou indirectas do direito — não tendo força vinculativa própria,


são, contudo, importantes pelo modo como influenciam o processo de formação e
revelação da norma jurídica.

a) Lei
Lei é toda a disposição genérica provinda ou emanada dos órgãos estaduais
competentes e que se impõem a todos os cidadãos.

1
b) Costumes
Costume é uma pratica reiterada que seguida com convicção de
obrigatoriedade, e transmite-se de geração em geração.
O costume como prática reiterada está subdividido em três espécies
designadamente:
Costume segundo a lei – o que não contraria a lei;
Costume praeter legem – o costume vai para alem da lei, mas sem violar a
norma jurídica que é a lei.
Costume contra lei – o costume não está em consonância com a lei.

A) Jurisprudências – são as decisões dos tribunais. Estas podem apresentar-se


sob a forma de sentenças ou acórdãos.
c) Doutrina – é pensamento dos doutrinários ou pensadores acerca dos
diversos assuntos.
d) Tratados e convicções internacionais – são fontes internacionais de direito
positivo, estas emanam das decisões tomadas internacionalmente, sendo
necessário para a vinculação do Estado a ratificação pela Assembleia da
Republica do aludido instrumento, conforme consagra o artigo 18 da C.R.M.

Acto normativo e o seu processo ( competência legislativa )

Acto normativo consiste numa manifestação jurídica que tem em vista a produção
de normas ou regras de actuação e aplicação generalizada no tempo e espaço.
Portanto, o acto normativo pode ser visto como sendo lei.

A lei é o processo mais vulgarizado na criação do Direito.

2
Leis são “todas as disposições genéricas e abstractas emanadas dos órgãos
estaduais competentes e que se impõem a todos os cidadãos”.

Pressupostos da lei:

 Uma autoridade competente

 Observância das formas previstas para essa actividade

 A introdução de um preceito genérico e abstracto (o conteúdo)

A distinção entre lei em sentido material e formal:

Formal é aquela que se reveste das formas destinadas, por excelência, ao


exercício da função legislativa do Estado: leis constitucionais, leis ordinárias e os
decretos-lei, exigindo que se revista das formalidades relativas a essa competência.

Material é todo o acto normativo proveniente de um órgão do Estado, ainda que


não esteja no exercício da função legislativa, desde que contenha uma verdadeira
regra jurídica (não obedece aos formalismos solenes ou feita por uma órgão sem
capacidade legislativa) – lei, decretos-lei, decretos, regulamentos, despachos;

Lei em sentido amplo — abrange qualquer norma jurídica (sentido material).

Lei em sentido restrito — compreende apenas os diplomas emanados no


exercício das competências legislativas (sentido formal).

O Processo de elaboração do acto normativo / uma Lei

Cada órgão dotado de competência legislativa tem o seu modo próprio de agir na
feitura das leis. Salientemos a actividade legislativa da AR e do Governo.

3
Inicia-se com a apresentação do texto, a qual pode ser efectuada pelas entidades
abaixo, por força do consagrado no n.º 1 do artigo 183º da CRM:

1. Iniciativa Legislativa
 Deputados
 Bancadas parlamentares
 Comissões da Assembleia da Republica
 Presidente da Republica
 Governo – vide alínea c) e d) do n.º 1 do artigo 204º CRM
2. Discussão
3. Votação
4. Aprovação
5. Promulgação ( é através deste acto que o PR atesta a solenidade de uma lei,
confirmando que o acto normativo reúne condições de ser aplicado, tendo
como suporte o plasmado no artigo 163 da CRM, para referir que no caso da
mesma lei violar certa norma ou por em causa certos princípios pode não
promulgar ) e,
6. Publicação (previsto no nº 1 parte final do artigo 163 da CRM, acto através
do qual dá-se a conhecer a sociedade da existência de Lei para posterior
aplicação na mesma, depois de observado o vactio legis, que é o lapso
temporal que é fixado pela própria lei para sua entrada em vigor depois de
conhecida pelos destinatários, sendo certo que pode estabelecer que entra em
vigor imediatamente, bem como não fazer referência tempo para o efeito,
obedecendo-se nesta circunstância o regime supletivo que é de 15 dias
depois da publicação, por força do consagrado no nº 1 da Lei nº 6/2003, de
18 de Abril).

4
NB: O ante-projecto de lei ou projecto de lei obedece em primeiro lugar a
discussão e votação na generalidade; votação na especialidade; e, por fim, uma
votação final global.

A seguir, o documento (Lei) é enviado para promulgação, seguindo-se a


publicação em Diário da República ou BR.

11. Hierarquia das Leis

Existem várias categorias de leis, logo é necessário estabelecer uma


ordenação/hierarquia. Desta hierarquia podemos concluir que as leis de hierarquia
inferir não podem contrariar as de ordem superior, tendo de se conformar com elas;
por outro lado, as de hierarquia igual ou superior podem contrariar as de ordem
igual ou inferior, dizendo-se que a lei mais recente revoga a mais antiga.

Por outro lado, a hierarquia das leis resulta da hierarquia das fontes. Assim, há que
distinguir: Leis ou normas constitucionais e Leis ou normas ordinárias.

Leis

Decretos-lei,

Decretos,

Regulamentos,

Despachos,

Posturas camarárias

Avisos

Circulares
5
11.Validade e vigência das leis

Início e Termo de Vigência

Início da Vigência
O legislador baseia-se rigidamente no pressuposto de que a lei é conhecida e nem
sequer admite o seu desconhecimento, conforme se pode depreender do plasmado
no artigo 5 e 6 todos do C.C.

Assim, a vigência da lei não depende do seu conhecimento efectivo, mas é


necessário torná-la conhecida, através da publicação.

A não publicação implica a ineficácia jurídica

Termo de vigência

Passado o tempo de vacatio legis, se este existir, a lei ficará, em princípio,


ilimitadamente em vigor, ou seja, o decurso do tempo não é razão suficiente para
que esta cesse.

Caducidade - pode resultar de uma cláusula expressa pelo legislador, contida na


própria lei, ou enquanto durar determinada situação; pode ainda resultar do
desaparecimento dos pressupostos de aplicação da lei.

ex: 1. A lei sobre a caça ao crocodilo cessa com o desaparecimento da espécie;

1. A lei que se destina a vigorar durante uma situação de guerra;

6
2. A lei que estabelece para cada Ana o preço do algodão, na altura da
campanha.

Revogação - resulta de uma nova manifestação de vontade do legislador, contrária


à anterior.

Quanto à sua forma pode ser:

Expressa: quando a nova lei declara que revoga uma determinada lei anterior

Tácita: quando resulta da incompatibilidade entre as normas da lei nova e da


anterior

Quanto à extensão pode ser:

Total: quando todas as disposições de uma lei são atingidas (ab-rogação)

Parcial: quando só algumas disposições da lei antiga são revogadas pela lei
nova (derrogação)

A caducidade distingue-se da revogação, porque resulta de uma nova lei, contendo


expressa ou implicitamente o afastamento da antiga, enquanto a caducidade se dá
independentemente de qualquer nova lei.

“A lei especial tem em conta situações particulares que não são valoradas pela
lei geral, presumindo o legislador que a mudança desta não afecte esse regime
particular” (Oliveira Ascensão)

Assim, a lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a intenção
inequívoca do legislador.
7
ex: 1.A revogação da lei geral sobre o turismo não afectará uma eventual lei
especial sobre o turismo no Tofo;

3. Uma lei sobre transportes não deverá, em princípio, revogar uma lei especial
sobre transportes ferroviários.

Desvalor do acto normativo

Invalidades jurídicas - Nulidade e anulabilidade, vide artigos 285 e seguintes do C.Civel.

Personalidade juridica

Personalidade jurídica consiste na aptidão para se ser titular de relações jurídicas,


ou seja, de direitos e obrigações; susceptibilidade de ser titular de direitos e
obrigações jurídicas.

A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida e


cessa/extingue-se com a morte do ser humano, ao abrigo do plasmado no n.º 1 do
artigo 66 e n.º 1 do 68 do C.C

Assim, a personalidade jurídica corresponde a uma exigência da natureza e da


própria dignidade do Homem, que deve ser reconhecida pelo direito objectivo, no
sentido de garantir a vida social pacífica e ordenada – indispensável para que cada
homem, nas suas relações com os outros, realize os seus fins e interesses.

Portanto, toda pessoa física ou singular passa a ser designado ou reconhecido como
tal desde o dia do seu nascimento, mesmo que instantes depois morra, sendo
considerado concepturo o que ainda não foi concebido pelos progenitores e
nascituro aquele que ser que está em gestação.

8
Capacidade juridica

A capacidade consiste na susceptibilidade de ser sujeito de qualquer relacao


juridica, conforme reza o artigo 67 do C.C. Esta subdivide-se em capacidade de
gozo ( adquire-se com o nascimento e com a personalidade jurídica) e de exercicio
(adquire-se com a maioridade/emacipação, vide artigo 130 e 132 e seguintes
ambos do C.C).

A capacidade juridica concretamente a de exercicio vai permitir que a pessoa possa


reger-se e dispor de bens, a de gozo qualquer individuo a tem desde o seu
nascimento com vida, passando a ter os direitos de personalidade consagrados no
artigo 70 e seguintes do C.Civil.

Pessoa Juridica

A designação pessoa não é só atribuida aos seres vivos ou pessoas singulares,


sendo também aplicada para os que surgem através de actos jurídicos, que traduz-
se no recnhecimento ou registo, conforme se pode depreender do plasmado no
artigo 158 do C.Civil para as associações e fundações e, para as sociedades
também como pessoas colectivas de Direito Privado, segundo o desposto no artigo
980 do C.Civil, conjugado com o artigo 86 do C.Comercial ( C.Com. ).

No ordenamento juridico mocambicano são reconhecidos como pessoas juridicas


Pequeno Empresário ( PE ), Empresário Individual ( EI ), as sociedades
unipessoais, em nome colectivo, de capital e industria, em comandita, por quotas e
anónimas, conforme reza o artigo 27 e seguintes do C.Com..

I. O DIREITO DE EMPRESAS
1. A EMPRESA

9
No Direito Positivo moçambicano até aqui não se encontra um conceito de empresas apesar do termo em
si constar de diversos diplomas legais vigentes, com destaque na legislação económica.

Segundo o ilustre Prof. Menezes Cordeiro: “A expressão “ empresa ” apresenta uma utilização
avassaladora, em diversos sectores normativos. A moderna legislação comercial, económica, fiscal, do
Trabalho e processual recorre a ela, de modo contínuo 1.

Também a linguagem corrente usa “ empresa ” em termos de grande amplitude. E fá-lo em detrimento de
outras locuções que vão mesmo caindo em desuso: trabalha-se para uma “ empresa ” e não para uma
sociedade ou as “ empresas ” instalaram-se no centro da Cidade, em vez de se dizer que os comerciantes
abrem, aí, os seus estabelecimentos2.

Entre nós na linguagem comum, se diz: “eu trabalho numa empresa x”, essa afirmação não leva em conta
a natureza jurídica da entidade com que se tem o vínculo contratual. Se sociedade comercial, cooperativa,
empresa em nome individual, organização (não) governamental estrangeira de tipo associativo ou não,
empresa pública. No extremo há até funcionários que dizem o mesmo.

Tentando ordenar este caudaloso uso, podemos adiantar que, quer perante numerosas leis, quer em face
da linguagem corrente, a expressão “ empresa ” traduz conforme o contexto:

- Um sujeito que actue e que, nessa qualidade, é susceptível de direitos e de obrigações; pense-se, por
exemplo, nos “ direitos ou deveres das empresas ”, na “política das empresas” ou nas “ preferências das
empresas ”;

- Um complexo de bens e direitos capazes de suportar a actuação de interessados; assim a “ compra de


uma empresa ”

- Uma actividade: levar a cabo uma “ empresa ”; esta última acepção tradicional, tende a cair em
manifesto desuso3.

1
V. MENEZES CORDEIRO,Manual de Direito Comercial, 2a Edição 2007, Almedina, p. 251.
2
Idem, p. 251.
3
Idem, p. 251.

10
Podemos deste modo, assacar três sentidos do termo empresa:

Sentido subjectivo, quando é vista como sujeito susceptível de direitos e obrigações.

Sentido patrimonial, complexo de bens que se concretiza no instituto do estabelecimento comercial.

Sentido económico, na medida em que traduza a ideia de geradora de rendimentos.

Devemos ainda adiantar que este uso alargado de “ empresa ” pode documentar-se noutros idiomas.
Todavia, ele é mais intenso na lingua portuguesa do que nas suas congéneres, sendo ainda flagrantes que
as nossas leis lhe têm dado uma cobertura sem paralelo. A questão tem vindo a complicar-se com o
recente surto de referências legais à figura do “ empresário”; aparentemente o titular de uma empresa. ” 4

O Direito de empresas está umbilical e historicamente ligado ao Direito comercial. Corresponde a


evolução ou redefinição em torno do conceito de empresa. Suas normas são no nosso entender,
heterogéneas embora autores existam que vêem homogeneidade no núcleo de normas e matérias que a
corporizam5.

A problemática do conceito de empresa é despoletada a luz da evolução do Direito Comercial e da


respectiva doutrina. A legislação Francesa Alemã e Italiana, desenvolveram um papel preponderante
nesse processo evolutivo. Na verdade, o que aconteceu foi uma marcha do individualismo (concepções
subjectivistas) que caracterizaram as primeiras etapas do Direito Comercial, para o institucionalismo,
(objectivismo) ou seja, o homem deixa de ser o centro da actividade comercial.

É graças a essa evolução que hoje em dia temos legislações que dedicam capitulos específicos sobre a
empresa, é o caso dos códigos civil brasileiro e italiano.

4
MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito Comercial, 2ª Edição, 2007, Almedina, pp, 251,252
5
V. PUPO CORREIRA, Direito Comercial, 12a Edição, revista e aumentada, EDIFORUM, Lisboa, 2011, p. 41.

11
Tratadistas do Direito Comercial, apontam para três fazes do processo evolutivo, primeiro periodo, do Séc
XII ao Séc XIII, denominado de periodo subjectivo corporativista ou periodo subjectivo do comerciante,
tem como núcleo do Direito Comercial a figura do comerciante matriculado na corporação.

O segundo periodo, compreendido entre o Séc XIII e o Séc XX, inicia-se com o Código do Comércio
Napoleonico de 1807 e tem como núcleo os actos de comércio.

O terceiro e actual periodo de evolução histórica do Direito Comercial, inicia-se com o Código Civil
Italiano de 1942 e tem como núcleo a empresa, compreendendo o Séc. XX até aos nossos dias.

Como se vê, é na terceira fase da evolução do Direito Comercial que aparece com destaque a figura de
Empresa através do Código Civil italiano de 1942, como reconhece o admirável Professor Menezes
Cordeiro ao dizer: “De todo o modo, o Código Civil italiano de 1942, representa o momento mais alto, no
Ocidente da teoria da empresa...”6

2. A TEÓRIA DA EMPRESA

A Teoria da Empresa (Teoria dos Perfis) esboçada por Alberto Asquini inspirada pelo referido Código
Civil italiano de 1942. Defrontando-se com o novo Código Civil, Asquini constatou a inexistência de um
conceito de empresa, e analisando o diploma legal chegou a conclusão que haveria uma diversidade de
perfís no conceito,7 para ele “ o conceito de empresa é o conceito de um fenómeno jurídico poliéndrico, o
qual tem sob o aspecto jurídico não um, mas diversos perfís em relação aos diversos elementos que alí
concorrem ” 8

6
MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito Comercial , 2ª Edição, 2007 Almedina, p268
7
Segundo artigo de Marlon Tomazette,( professor de Direito do UniCEUB e da Escola Superior de Advocacia do
Distrito Federal- Brasil, publicado na internet no site Jus Navigandi, com o título A teoria de empresa: o novo
Direito “ Comercial ”
8
Cfr ASQUINI, Alberto, ob, cit, Profile dell împresa. Revista de diritto commerciale, Vol XLI- Parte I p 1-20, 1943,
p1

12
O primeiro perfíl da empresa identificado por Asquini, foi o perfil subjectivo pelo qual a empresa se
identifica com o empresário9, cujo conceito é dado pelo artigo 2.084 do Código Civil italiano, concebendo
a empresa como uma pessoa.

Asquini também identifica na empresa um perfíl funcional, identificando a com a actividade empresarial,
a empresa seria aquela “ particular força em movimento que é a actividade empresarial dirigida a um
determinado escopo produtivo”10, neste caso a empresa representaria um conjunto de actos tendentes a
organizar os factores da produção para a distribuição ou produção de certos bens ou serviços.

Haveria ainda o perfíl objectivo ou patrimonial, que identificaria a empresa como o conjunto de bens
destinados ao exercício da actividade empresarial, distinto do património remanescente nas mãos da
empresa, vale dizer, a empresa seria um património afectado a uma finalidade específica 11

Por fim, haveria o perfíl corporativo, pelo qual a empresa seria a instituição que reune o empresário e seus
colaboradores, seria “ aquela especial organização de pessoas que é formada pelo empresário e por seus
prestadores de serviços, seus colaboradores (...) um núcleo social organizado em função de um fim
económico comum ”12 Este perfíl na verdade não encontra fundamento em todos, mas apenas em
ideologias populistas, demonstrando a influência da concepção facista na elaboração do Código Civil
italiano13

Para dar mais corpo a problemática do conceito de empresa, vamos apreciar mais um estudo de autor
europeu, recente sobre o conceito de empresa.

3. A EMPRESA COMO NOÇÃO QUADRO. Doutrina de Menezes Cordeiro

9
Idem , p 6
10
Idem, p 9
11
ASQUINI, Alberto, ob, cit, Profile dell împresa. Revista de diritto commerciale, Vol XLI- Parte I p 1-20, 1943, p
12
12
Idem, p 16 -17
13
Cfr, COELHO, Fábio Ulhoa, op. cit. Curso de Direito Comercial, Vol 1, p.19

13
Segundo Prof. Menezes Cordeiro, “ A comercialistica de diversos quadrantes aceita hoje que a empresa
não é nem uma pessoa colectiva, nem um mero conjunto de elementos materiais, podemos entende-la
como um conjunto concatenado de meios materiais e humanos, dotados de uma especial organização e
de uma direcção, de modo a desenvolver uma actividade segundo regras de racionalidade económica, os
seus elementos muito variáveis, poderiam assim agrupar-se:

- num elemento humano: ficam abrangidos quantos colaborem na empresa, desde trabalhadores aos
donos, passando por quadros, auxiliares e dirigentes; em concreto, isso poderá representar desde uma
única pessoa, a universos com milhares de intervenientes;

- Num elemento material: falamos de coisas corpóreas, móveis ou imóveis, seja qual for a fórmula do seu
aproveitamento e de bens incorpóreos: saber-fazer, licenças, marcas, insígnias, clientela, aviamento, e
inter-relações com terceiros, normalmente outras empresas.

- Numa organização: todos os elementos, humanos ou materiais, não estão meramente reunidos ou
justapostos; eles apresentam-se numa articulação consequente, que permite depois, desenvolver uma
actividade produtiva;

- Numa direcção: trata-se do factor aglutinador dos meios envolvidos e da própria organização; a empresa
é algo que funciona, o que só é pensável, mediante uma estrutura, que determine o contributo de cada
uma das parcelas envolvidas ”14

Embora recente, preferimos adoptar a construção doutrinária do Prof. Menezes Cordeiro, por se nos
afigurar mais clara e concisa. A teoria dos perfís de Alberto Asquini, tem o grande mérito de ter sido a
primeira reconhecida sistemática sobre a empresa, porém, ao que nos parece, não oferece brilho quando
cotejados os perfís subjectivo e corporativo que no fundo apresentam como substracto o elemento
humano que podia ser incorporado num só.

De qualquer modo, as duas teorias não são deveras incompatíveis, há mútua subsunção na maior parte dos
seus traços.

4. DIREITO DE EMPRESAS. Um Direito emergente e heterogêneo

14
Cfr, Menezes Cordeiro, Manual de DIREITO COMERCIAL, 2ª Edição, 2007, Almedina, pp, 280,282

14
Chegados a este ponto, ficamos com uma clara ideia de que o conceito de empresa não é de fácil fixação,
visto que apresenta diferentes sentidos, daí a ideia de conceito quadro proposta pelo Prof. Menezes
Cordeiro, tendo como grandes linhas da sua concretização as seguintes:

- A empresa sujeito e a empresa objecto;

- O Direito da Empresa;

- A empresa como sublinguagem comunicativa;

- A empresa como conceito geral concreto15

A empresa sujeita equivale ao conjunto de destinatários de normas comerciais: pessoas singulares,


colectivas e pessoas rudimentares. A empresa objecto reporta-se ao estabelecimento doptado de direcção
humana. Apenas a interpretação permitirá, caso a caso, determinar o preciso sentido em jogo, bem como
o seu alcance.16

O Direito das empresas, usado em sentido amplo, abrange o Direito das Sociedade e, ainda, todos os
sectores normativos que se aplicam às sociedades: Direito mobiliário, da concorrência, dos grupos, do
trabalho, fiscal, da economia e da propriedade industrial. Ingovernável, tal “ Direito ” constitui, todavia,
um ponto de encontro, e de síntese entre disciplinas condenadas a entender-se. Em sentido estrito, o
Direito das empresas, não tem consistência, mercê das dificuldades acima apontadas.” 17

A referência à empresa funciona- ou pode funcionar- como sublinguagem comunicativa. Ao falar em “


empresa ”, a lei os estudiosos e os operadores do Direito, podem ter em vista transmitir como que uma
mensagem subliminar destinada a enfatizar: a capacidade produtiva, a ideologia do mercado, ou a
prevalência das realidades económicas.18

15
Idem, p, 284
16
MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito Comercial, 2ª Edição, 2007, Almedina, p, 284
17
Idem, pp, 283 a 284
18
Idem, p, 284

15
A capacidade produtiva articula-se com a ideia de organização: um filão integrador da empresa, hoje
clássico, mas sempre útil.

Quanto a ideologia do mercado: uma linguagem empresarial dá um toque de modernidade. Nesse sentido,
ela acentua a propriedade privada, a lívre iniciativa e a contenção do Estado. Permite construções
vocabulares, a evitar. Mas é útil: toma lugar entre os elementos relevantes da interpretação,
designadamente na vertente teleológica, caso a caso se verificará se a mensagem sublimar tem alcance e
qual. A prevalência das realidades económicas recorda que as sociedades são, no fundo, uma forma
jurídica sobre a qual algo se pode obrigar. Faz-se como que um apelo ao substaracto e ao que ele
representa. 19

Finalmente, a empresa tem sido reconstruída com base na dialética hegeliana. Temos presente o

desenvolvemento de HERBERT WIEDEMANN, o qual intenta enquadrar os contrários que enformam a


empresa - indivíduo/sistema social; efectividade económica/efectividade social; estabilidade/dinâmica;
direcção/colaboradores e a direcção da organização social.

A matéria é inesgotável, reconhece o ilustre Prof. Menezes Cordeiro 20

O Direito de empresas será assim, um conjunto de normas jurídicas heterogêneas que regulam matérias
aplicaveis à empresa.

Conjunto de normas jurídicas porque do Direito, da ordem normativa jurídica, criadas pelo Estado.

Heterogêneas, porque essas normas vem de diversas especialidades do Direito, como se pode ver, as
normas do Direito do trabalho, são nítidamente distintas das do Direito fiscal e mesmo das da propriedade
industrial, contudo, elas corporizam o Direito de Empresas e estão no dizer do Prof. Menezes Cordeiro
condenadas a entender-se.

Que regulam matérias aplicáveis a empresa, na medida em que, o conteúdo de cada um desses sectores do
Direito objectivo, são relevantes, necessárias e imprescindíveis a empresa, a vida da empresa não pode
dissocia-se dessas normas.

19
Idem , pp, 284, 285
20
Menezes Cordeiro, Manual de DIREITO COMERCIAL, 2ª Edição, 2007, Almedina, p,285

16
No plano teórico, o Direito de empresas é o estudo dessas normas, ao passo que no plano prático, é o
conjunto de normas jurídicas heterogêneas aplicáveis a actividade empresarial.

O Direito de empresas é emergente, porque como vimos, é fruto da evolução histórica do Direito
Comercial, localizando-se na sua mais recente etapa, do Séc XX aos nossos dias, por isso, há quem lhe
chame de o “ novo ” Direito Comercial.

Heterogêneo, na medida em que as suas normas vem de diversas especialidades do Direito, especialidade
digamos, economicistas.

17

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