You are on page 1of 3

28/03/2019 A Criança e a Mídia - A criança na pauta

A Criança e a Mídia
Saúde, educação e violência: esses são os principais temas levantados pela mídia ao falar sobre a primeira infância – e geralmente o foco é no adulto, não na criança.
Precisamos de uma abordagem mais ampla sobre o pleno desenvolvimento infantil

A criança na pauta

Mudança de discurso

A criança na pauta
A sociedade ainda é muito adultocentrada (focada no adulto) e imediatista. Por isso, o factual é o que basicamente pauta a mídia, como a criança que caiu de uma sacada ou o
pai que esqueceu o filho na cadeirinha dentro do carro.

De forma geral, o tema mais abordado, tanto nos veículos impressos quanto na análise do total, em 2015, que também levou em consideração a cobertura online, é a saúde.
Tanto na pesquisa realizada pela Andi em 2010[91] quanto no levantamento mais recente, de 2015,[92] o tema aparece em primeiro lugar, em 23,2% das matérias (2010,
impressos) e 50,2% (2015, total, que incluiu a cobertura online).

Violência e educação também estão entre as temáticas mais abordadas em ambas as pesquisas, em 22,5% das matérias (2010, impressos) e 19,3% (2015, total, que incluiu a
cobertura online) e 25,8% (2010) e 12,6% (2015, total, que incluiu a cobertura online), respectivamente.

Em geral, as matérias analisadas apresentam, em maior parte, contexto negativo, com foco em acidentes, na precarização da educação e na má situação dos atendimentos de
saúde.[93] A criança quase nunca é ouvida.

Apesar disso, houve evolução considerável em relação a aspectos como a discussão de soluções. Em 2010, matérias com esse enfoque representavam 2,3% da amostra. Em
2015, o percentual subiu para 17%.

Informações que valem ser divulgadas

As matérias de saúde destacam as questões físicas do crescimento, mas poderiam apresentar outros dados sobre o desenvolvimento emocional e cognitivo. É importante
tratar a questão do desenvolvimento do cérebro e ressaltar que nutrição adequada, relacionamentos afetivos significativos, tempo e espaço para brincar e ambientes
seguros, saudáveis e estimulantes são fundamentais para o pleno desenvolvimento da criança (veja exemplos práticos em Mitos e verdades e Caminhos para facilitar
a comunicação).

https://www.primeirainfanciaempauta.org.br/a-crianca-e-a-midia-a-crianca-na-pauta.html 1/3
28/03/2019 A Criança e a Mídia - A criança na pauta
Apesar de a violência ser pauta frequente, ela recebe pouca atenção dos meios de comunicação no que diz respeito a seus impactos no desenvolvimento na primeira
infância. É importante descrever como a violência pode afetar negativamente o cérebro em desenvolvimento, com consequências ao longo da vida, interferindo na
aprendizagem, na saúde e no comportamento.

As pesquisas com foco na primeira infância revelam a importância de creches e pré-escolas para o desenvolvimento nesse período da vida. No entanto, a Educação
Infantil ainda recebe menos atenção do que os outros níveis de ensino na mídia.

Informação sem complicação

Para que as crianças não apareçam apenas de maneira decorativa nas matérias, procure dar o exemplo, ouvindo-as e citando-as, sempre que possível, nos assuntos que
lhes dizem respeito.[94]

Na hora de conversar com uma criança, reserve um tempo maior. Em geral, essa conversa costuma ser mais longa, pois é necessário entender melhor seu universo (veja
mais dicas de como ouvir as crianças em Caminhos para facilitar a comunicação).

Dados como idade, local de moradia, quem faz parte da família, onde estuda, brincadeiras favoritas, do que tem medo, o que a faz feliz e do que sente falta podem
ajudar a contextualizar melhor as suas respostas.

Não se limite a apenas divulgar os números e resultados das pesquisas ou intervenções. Interpretar esses dados e, sempre que possível, contextualizá-los torna a
informação mais interessante e facilita seu entendimento. Que outros atores, além do poder público, estão envolvidos na resolução desse problema? O que cabe a cada
um deles? O que já foi feito? O que ainda é preciso fazer? Há bons exemplos de iniciativas comunitárias? Que agendas devemos impulsionar em relação à primeira
infância? Questionamentos como esses podem ser úteis para ampliar a discussão.

Especialistas e agentes públicos e comunitários podem destacar seus trabalhos acadêmicos ou de intervenção em relação à primeira infância em palestras, entrevistas ou
mesmo em mensagens nos veículos ou redes sociais, ajudando a disseminar e a qualificar a cobertura.

As consultas a fontes diversas e qualificadas, como estudos científicos, análises estatísticas, especialistas reconhecidos em suas áreas de atuação e instituições voltadas à
garantia dos direitos da criança, dão mais consistência e credibilidade aos textos.

Procure ir além das abordagens estatísticas ou da cobertura de casos isolados. Há vários caminhos para ampliar a discussão sobre a primeira infância. Algumas
sugestões:

lembrar que há outras formas mais sutis de violência, como a negligência e as agressões verbais.

ir fundo nos fatores sociais que influenciam ou contribuem para o aumento dos índices de violência contra crianças.

vincular as causas a soluções preventivas.

explicar os mecanismos pelos quais a violência afeta diretamente o desenvolvimento das crianças.

levar ao conhecimento do público a legislação, como a Constituição Federal, o ECA e o Marco Legal da Primeira Infância, além de outros documentos
importantes, como a Convenção sobre os Direitos das Crianças.

acompanhar as políticas públicas, não apenas no momento de sua aprovação, mas de seu fomento, de sua elaboração em forma de projeto de lei, de sua
tramitação etc.

experimentar inverter as estatísticas.[95] Quando um ministro, por exemplo, orgulhosamente anuncia que 70% das crianças foram vacinadas contra a poliomielite,
cabe o questionamento: o que falta para atingir os 30% restantes?

divulgar as pesquisas que salientam as descobertas em relação à educação. Diversas áreas vêm estudando e dando imensas contribuições, como a Economia e a
Neurociência.

explicar que, além do pediatra, há outros profissionais envolvidos nos cuidados com a criança. Entre eles, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais,
assistentes sociais etc.

Ferramentas de comunicação e outras inspirações

Sugestões de imagens

Gráficos de barras permitem a visualização imediata de dados como desigualdades sociais. Esse recurso pode ser usado, por exemplo, para mostrar diferenças de
gênero e raça/etnia em relação ao acesso à educação ou à saúde.

https://www.primeirainfanciaempauta.org.br/a-crianca-e-a-midia-a-crianca-na-pauta.html 2/3
28/03/2019 A Criança e a Mídia - A criança na pauta
Nunca mostre crianças em situação vexatória ou constrangedora. Segundo o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “é dever de todos velar pela
dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.[96]

Evite recursos como tarjas nos olhos. Uma foto em movimento, embaçada ou com a criança de costas, por exemplo, não permite a identificação e também não
“criminaliza” as crianças.

Crédito: Léo Sanches

[91] Primeira infância na mídia. 2010. Base: Amostra total (11.761 notícias analisadas), em 53 jornais impressos de todas as regiões do país e quatro revistas de circulação nacional. Foram
considerados apenas os cinco temas principais mais frequentes nas matérias sobre primeira infância (Educação, Saúde, Direitos e Justiça, Violência e Cultura).

[92] FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL; EDELMAN INTELLIGENCE. Pesquisa primeira infância: análise da Cobertura Midiática em 2015. Base: 2.491 matérias lidas. 2016.

[93] Ibidem.

[94] Vale lembrar ainda que, segundo o Marco Legal da Primeira Infância, as políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância devem incluir sua participação na
definição das ações que lhe digam respeito (art. 4, II).

[95] SAYAGUES, M. In: LOONEY, M. Jornalistas de saúde oferecem dicas para reportagens sobre vacinas. ijnet, 26 mar. 2013. Disponível aqui. Acesso em: 01 out. 2017.

[96] BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
16/7/1990, p.13.563. Disponível aqui. Acesso em: 01 out. 2017.

https://www.primeirainfanciaempauta.org.br/a-crianca-e-a-midia-a-crianca-na-pauta.html 3/3

You might also like